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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Camila Cristina Ribeiro Luis
 Profa. Letícia Cunha de Andrade Oliveira
Colaboradores: Prof. Enzo Fiorelli Vasques
 Profa. Tânia Sandroni
História das Relações 
Internacionais
Professoras conteudistas: Camila Cristina Ribeiro Luis / 
Letícia Cunha de Andrade Oliveira
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L953h Luis, Camila Cristina Ribeiro.
História das Relações Internacionais / Camila Cristina Ribeiro 
Luis, Letícia Cunha de Andrade Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2020.
172 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Relações internacionais. 2. Sociedade. 3. Guerras. I. Luis, 
Camila Cristina Ribeiro. II. Oliveira, Letícia Cunha de Andrade. III. Título.
CDU 341.12
U508.96 – 20
Camila Cristina Ribeiro Luis
Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2007, na cidade de Franca, 
interior de São Paulo. Também pela Unesp, na capital paulista, por meio do programa interinstitucional San Tiago Dantas, é 
mestre e doutora (2018).
Desde a iniciação científica, suas pesquisas enquadram-se na área de paz, defesa e segurança internacional, interesse que 
surgiu ainda na graduação, quando queria entender as circunstâncias da formulação do projeto Zona de Paz e Cooperação do 
Atlântico Sul, proposto pelo Brasil à Organização das Nações Unidas (ONU) em 1986. No mestrado, continuou com os olhos fixos 
no mar e analisou a participação da Marinha do Brasil na política externa brasileira formulada para a fronteira atlântica. E, por 
fim, no doutorado, estudou a política de defesa do Brasil no Atlântico Sul.
Iniciou a carreira na docência em 2014 na Universidade Paulista (UNIP). Leciona no curso de Relações Internacionais 
e Ciências Econômicas desde 2017.
Letícia Cunha de Andrade Oliveira
Possui toda a formação em Relações Internacionais. Concluiu o bacharelado pela Pontifícia Universidade Católica 
de Goiás (PUC-GO) em 2011, o mestrado pela Universidade de Brasília (UnB), em 2013, e o doutorado pela Universidade de 
São Paulo (USP) em 2019.
Na graduação, analisou as propostas de reforma do Conselho de Segurança ONU. No mestrado, analisou o 
desempenho do Brasil no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs). E, no doutorado, analisou 
a implementação do Programa Mais Alimentos na África, mais especificamente em Moçambique.
Em 2017, começou a coordenar o curso de Relações Internacionais do campus de São José dos Campos da UNIP e 
continuou em sala de aula. Atualmente, contribui com a equipe de professores do curso de Relações Internacionais da 
UNIP na produção de material didático.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Aline Ricciardi
 Bruna Baldez
Sumário
História das Relações Internacionais
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................................... 11
1.1 Estudos europeus ................................................................................................................................. 13
1.2 Estudos americanos ............................................................................................................................. 16
2 A CONSTRUÇÃO DA “SOCIEDADE INTERNACIONAL EUROPEIA”: 
DE VESTFÁLIA A VIENA ...................................................................................................................................... 20
2.1 A Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestfália .......................................................................... 21
2.2 O Congresso de Viena e a sociedade internacional europeia............................................. 28
2.3 Expansão da sociedade internacional europeia ....................................................................... 34
3 O APOGEU DO SISTEMA INTERNACIONAL EUROPEU (1871-1914) ............................................. 38
3.1 Tendências na geopolítica europeia após 1871 ....................................................................... 39
3.2 Economia e relações internacionais ............................................................................................. 41
3.3 A diplomacia de Bismarck ................................................................................................................. 44
3.4 O despertar da bipolaridade na Europa ...................................................................................... 46
4 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ............................................................................................................... 49
4.1 O estopim da Primeira Guerra Mundial ...................................................................................... 50
4.2 O desenrolar do conflito .................................................................................................................... 53
4.3 A Paz de Versalhes ................................................................................................................................ 56
4.4 Discutindo as forças profundas que levaram à Primeira Guerra Mundial .................... 59
Unidade II
5 O PERÍODO ENTREGUERRAS (1919-1939) ............................................................................................ 70
5.1 A Liga das Nações ................................................................................................................................ 71
5.2 A Europa ................................................................................................................................................... 76
5.3 União Soviética, Japão e Estados Unidos ................................................................................... 78
5.4 América Latina, África e Ásia ........................................................................................................... 84
5.5 A retomada das hostilidades ........................................................................................................... 87
6 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945) .................................................................................... 93
6.1 A guerra civil europeia ....................................................................................................................... 95
6.2 Mundialização da Segunda Guerra Mundial ..........................................................................100
6.3 Surgimento de uma nova ordem internacional ....................................................................105
Unidade III
7 A GUERRA FRIA (1946-1989) ...................................................................................................................1197.1 Período “quente” da Guerra Fria ..................................................................................................119
7.2 Coexistência pacífica ........................................................................................................................124
7.3 Distensão ...............................................................................................................................................130
7.4 Nova Guerra Fria .................................................................................................................................134
8 O MUNDO GLOBALIZADO (1990-) .........................................................................................................138
8.1 Nova balança de poder ....................................................................................................................139
8.2 Novos problemas globais ................................................................................................................141
8.3 Novas formas de inserção internacional ..................................................................................146
8.4 Fenômenos recentes .........................................................................................................................151
7
APRESENTAÇÃO
O livro-texto que aqui se apresenta tem como objetivo auxiliar o estudante de Relações Internacionais 
em sua jornada de estudos sobre a história das relações internacionais, um assunto denso e rico que 
muito contribuirá não apenas para sua formação acadêmica, mas também para ampliar seus horizontes 
sobre o entendimento do mundo.
A história das relações internacionais tem como objeto de estudo a formação do sistema internacional 
contemporâneo, bem como sua evolução ao longo dos últimos séculos. Assim, discutiremos o contexto 
que resultou na formação do sistema de Estados europeu e da sociedade internacional europeia; sua 
expansão mundial no século XIX; as rupturas do século XX e a formação de uma sociedade mundial; 
e a transição da Guerra Fria para o sistema internacional contemporâneo, tudo isso a partir de uma 
perspectiva histórica, fundamentada em conceitos e elementos históricos.
No entanto, pode ocorrer a indagação: por que estudar história se estou cursando Relações 
Internacionais? Qual a importância do conhecimento histórico na formação do internacionalista, se 
geralmente lidamos com os fatos do mundo contemporâneo? De fato, tais perguntas perpassam nosso 
pensamento toda vez que nos deparamos com o estudo da história e são importantes guias para o 
desenvolvimento deste livro-texto.
Como nos explica o professor José Flávio Sombra Saraiva, o mundo atual é moldado pela evolução 
dos processos internacionais do passado, e, portanto, é importante o domínio do conteúdo histórico 
para uma análise mais acurada e crítica dos fenômenos do presente. Sobre esse assunto, Gonçalves 
(2007, p. 13) argumenta:
Devido à sua complexidade, o conhecimento dos problemas internacionais 
contemporâneos requer a análise histórica. Não basta compreender o 
funcionamento das instituições e a capacidade de codificação conceitual 
de certos aspectos da realidade. Para a produção do conhecimento, é 
indispensável acrescentar a esse trabalho intelectual de interpretação da 
realidade a articulação dos elementos ao longo do tempo.
É importante destacar que a história das relações internacionais não se resume ao simples estudo 
do material produzido pelas chancelarias ou da observação das ações da diplomacia e dos poderes 
políticos instituídos. Para além dessa abordagem, a disciplina procura esclarecer as configurações do 
atual cenário das relações internacionais por meio dos processos sociais que se iniciaram e evoluíram 
em passado recente, moldando o mundo que hoje observamos.
A esses processos históricos, Pierre Renouvin, considerado o fundador da história das relações 
internacionais, chamou de “forças profundas”, isto é, explicações e interpretações da evolução 
da vida internacional que não eram contempladas nos documentos disponíveis, necessitando, 
portanto, de um olhar desde uma perspectiva histórica.
8
Dessa forma, podemos afirmar que a história tem algo a nos dizer sobre a globalização e a integração 
econômica; as crises nacionalistas e a ascensão de governos conservadores em todo o mundo; o 
protecionismo econômico; os desafios ambientais; o peso da cultura nas relações internacionais, entre 
outros desafios com os quais se deparam nós, internacionalistas.
É a partir da perspectiva histórica que nos debruçaremos neste livro-texto para a análise da evolução 
do sistema internacional contemporâneo, com o propósito de conhecer as forças profundas que o 
tornaram tão complexo e desafiador na atualidade.
Bons estudos!
 Observação
Fazemos referência aos renomados autores Pierre Renouvin e José Flávio 
Sombra Saraiva. É importante saber que Pierre Renouvin é um historiador 
francês que organizou e fundamentou essa área de estudo quando lançou, 
em 1953, sua obra História das relações internacionais, tornando-se 
referência mundial.
José Flávio Sombra Saraiva é um especialista brasileiro em história das 
relações internacionais, sendo, portanto, uma referência nessa área de 
estudo no país. Por isso, ao longo do livro-texto, muito nos reportaremos a 
esses autores, entre outros.
INTRODUÇÃO
A configuração do sistema internacional contemporâneo teve início nos tratados firmados ao 
término da chamada Guerra dos Trintas Anos, um conflito que ocorreu no continente europeu na 
primeira metade do século XVII. O conjunto desses tratados ficou conhecido como Paz de Vestfália, como 
referência a uma região alemã onde se localizavam as cidades Osnabrück e Münster, em que foram negociados 
e assinados os acordos. E foi nos tratados que instituíram a Paz de Vestfália e que foram estabelecidos os 
pilares do moderno sistema de Estados que depois se tornaria mundial: soberania, territorialidade e 
não intervenção.
Desde a Paz de Vestfália, datada de 1648, até os dias atuais, muitas mudanças ocorreram no contexto 
internacional. O sistema de Estados, apesar de manter os princípios vestfalianos, vem alterando sua interpretação 
sobre eles conforme a evolução histórica da sociedade mundial. Abordaremos neste livro-texto o processo 
de formação e evolução do sistema internacional, de forma concisa, para a apoiar os estudos de história das 
relações internacionais.
Para tanto, apoiamo-nos na revisão da bibliografia já produzida por autores renomados indicada 
para o estudo desta disciplina, a qual será apresentada ao final do livro-texto. Não pretendemos esgotar 
completamente a produção bibliográfica, tampouco abordar todos os fatos históricos dos últimos quatro 
9
séculos; primeiro, por conta do limitado tempo e espaço que uma disciplina de 60 horas de carga horária 
impõe ao professor, e segundo porque, aqui, empregou-se a metodologia da relevância histórica.
Nesse sentido, analisaremos o contexto e os tratados que resultaram na Paz de Vestfália; a sociedade 
internacional europeia e o sistema de Estados; o Tratado de Viena e o Concerto Europeu; a expansão 
da sociedade europeia no século XIX; a ascensão alemã e o fim do equilíbrio europeu; a Primeira e a 
Segunda Guerra Mundial; a Guerra Fria em suas múltiplas fases; a globalização e a nova ordem mundial.
Vale destacar que sistema internacional e sociedade internacional, ambos objetos de estudo nesta 
disciplina, são conceitos diferentes. Conforme explica Hedley Bull (2002), um sistema internacional de 
Estados consiste em um contexto em que dois ou mais Estados mantêm contato suficiente entre si a 
ponto de considerar os impactos recíprocos em suas decisões. Porém, para que exista uma sociedade 
internacional, é necessário que os atores compartilhem regras e valores comuns. No decorrer deste 
livro-texto e nos estudos de história das relações internacionais, não nos limitaremos ao sistema 
internacional, mas também analisaremos a evoluçãodos valores, as regras e os interesses que os Estados 
e demais atores internacionais estabeleceram para a existência de uma sociedade internacional.
Não podemos nos esquecer ainda de abordar a própria formação da disciplina História das Relações 
Internacionais a partir das diferentes interpretações propostas por abordagens oriundas especialmente 
da Europa e da América, muito embora existam outras perspectivas de diferentes regiões do globo.
Alguns recursos utilizados ao longo do texto, como “Observação”, “Lembrete” e “Saiba mais”, vão 
conferir um tom mais didático a sua leitura e ajudá-lo a fixar o conteúdo de forma mais efetiva. Além 
disso, ao final de cada unidade, o “Resumo” e os “Exemplos de Aplicação”, resolvidos e comentados, vão 
ajudá-lo a retomar o conteúdo estudado antes de partir para a próxima parte ou na hora da revisão, 
tanto para a resolução dos questionários do ambiente virtual quanto para a avaliação presencial no seu 
polo de apoio presencial.
 Observação
Vestfália não é uma cidade específica, mas sim uma região da 
Alemanha entre os rios Reno e Weser, onde se encontram as cidades 
Dortmund, Münster, Bielefeld e Osnabrück. Atualmente, essa região está 
incluída no estado federal alemão de Renânia do Norte – Vestfália – e 
parte no estado da Baixa Saxônia. Vale destacar que os limites políticos 
e geográficos da Europa na época da Paz de Vestfália não eram os mesmos 
de hoje; portanto, não há correspondência integral da região de Vestfália 
do século XVII com o presente.
11
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Unidade I
1 A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Abordaremos a trajetória da história das relações internacionais enquanto uma subárea de estudos das 
relações internacionais, bem como sua contribuição por meio de diversos ângulos para a análise 
dos fenômenos contemporâneos, com foco, especialmente, nas contribuições europeias e americanas.
A história das relações internacionais cresceu em importância quando ocorreram as transformações 
observadas no cenário mundial entre as décadas de 1980 e 1990. O desmoronamento da União Soviética, 
o término da Guerra Fria e a emergência da globalização do capitalismo liberal foram fatos que levantaram 
questionamentos e crises sobre interpretações científicas na área das relações internacionais capazes de 
explicar o mundo recente (SARAIVA, 2007b).
Foi nesse contexto que os historiadores apontaram a necessidade de resgatar os estudos de história 
nas relações internacionais, despertando a atenção para a história das relações internacionais, que, 
durante as décadas anteriores, havia ficado em segundo plano. Os debates levantados nesse momento 
apontavam que, sem as contribuições da história, os fenômenos do presente eram incompreensíveis 
(GONÇALVES, 2007).
Também foi de grande contribuição para a mudança de perspectiva sobre a história a obra de 
Jean-Baptiste Duroselle, Todo Império perecerá: uma visão teórica das relações internacionais, no início 
da década de 1980, que se diferenciou da visão dos teóricos tradicionais das relações internacionais à 
época ao propor uma análise fundamentada na história da crise no Império Soviético num momento 
que ninguém falava ou sequer imaginava os fatos que estavam por vir (SARAIVA, 2007b).
No entanto, quando abordamos a história das relações internacionais, é importante lembrar que 
sua origem remete à história diplomática, área de estudos que se desenvolveu ao longo do século XIX. 
Conforme explica Gonçalves (2007), a história diplomática é a história das relações do Estado com outros 
povos, contada com base nos documentos oficiais do Estado, isto é, notas diplomáticas, memorandos, 
correspondências, tratados, convenções etc.
Nessa perspectiva, a contribuição da história nas relações internacionais se resumia na descrição das 
ações conduzidas pelos agentes oficias do Estado; em sua maioria, os diplomatas. Não havia nesse ramo 
de estudos a preocupação em problematizar o tema em análise, mas única e exclusivamente descrever 
os fatos relativos observados nos materiais das chancelarias.
12
Unidade I
 Observação
Empregamos a palavra “Estado” para nos referir a uma comunidade 
organizada politicamente em uma estrutura governamental autônoma e 
espacialmente determinada em um território. No senso comum, utiliza-se 
a palavra “país” como sinônimo de Estado, muito embora “país” se refira 
somente aos aspectos geográficos do Estado.
Foi após a Revolução Francesa, em 1789, que a história diplomática ganhou força e se tornou uma 
modalidade de estudos de história. O grande volume de material diplomático produzido a partir do 
Congresso de Viena em 1815 e a expansão do imperialismo europeu no mundo todo muito contribuíram 
para esse quadro. Os eventos da Primeira Guerra Mundial e a crise que a ela se seguiu até desembocar 
na Segunda Guerra Mundial aumentaram ainda mais o interesse nos estudos de história diplomática, 
que, nesse momento, chegou a seu apogeu. Porém, o desmoronamento da hegemonia europeia sobre o 
mundo nas décadas da Guerra Fria apontou a insuficiência dessa modalidade de história para explicar 
as grandes mudanças pelas quais o mundo passava.
 Observação
O termo “diplomacia” deriva do verbo grego diploun, cujo significado 
é dobrar. Daí o significado de “diploma”: documento oficial gravado em 
uma placa dupla de bronze. Diploma, portanto, na Roma Antiga, referia-se 
aos documentos oficiais produzidos pelo governo. Mais tarde, com o emprego 
de pessoas para arquivar e organizar tais documentos, o termo passou a 
designar os funcionários do Estado habilitados a informar às autoridades 
tudo aquilo considerado necessário a respeito dos outros povos. A partir da 
mesma origem, consolidou-se o significado de “diplomacia” como o modo 
de conduzir os assuntos do Estado com outros povos essencialmente por 
meios pacíficos (GONÇALVES, 2007).
Nesse contexto, coube a Pierre Renouvin o mérito de proceder à crítica da história diplomática, de 
forma a superar as produções historiográficas nos marcos das chancelarias e propor uma interpretação 
com base em outras perspectivas, as chamadas forças profundas, que impulsionavam as ações daqueles 
que conduziam as relações entre os Estados. A esse respeito, esclarece Gonçalves (2007, p. 22):
[...] Embora a História das Relações Internacionais não negligencie a 
importância da iniciativa dos Estados, requer a interpretação das influências 
geográficas, econômicas, culturais e ideológicas que condicionam a ação 
dos Estados em suas relações externas. Na expressão consagrada por Pierre 
Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle (1967), estas são as “forças profundas” 
que formam o quadro no interior do qual agem os “homens de Estado”. Isto 
13
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
é, são essas forças profundas que dão sentido às decisões tomadas pelos 
representantes oficiais do Estado nas relações que mantêm com as demais 
nações e organizações internacionais.
É, portanto, ao estudo das mais diversas influências do momento histórico sobre as decisões e ações 
das pessoas que estão à frente da política dos Estados que se dedica a história das relações internacionais. 
Essas influências podem ser de natureza diversificada, tais como ideológicas, econômicas, geográficas, 
sociais, culturais etc., e não podem ser analisadas somente a partir dos documentos produzidos 
nas chancelarias.
Por isso, a história das relações internacionais recorre às mais diversificadas fontes de pesquisa, 
tanto escritas, como jornais, cartas, panfletos, cartazes, livros, biografias; quanto orais, a fim de realizar 
a interpretação dos fatos em análise. Assim, é possível ter um panorama mais amplo para compreender 
os acontecimentos do presente nas relações internacionais.
É importante destacar que essa nova abordagem histórica que levou à superação da história 
diplomática não se restringiu aos estudiosos franceses já citados. Foi considerável a contribuição 
de outros autores europeus, como os ingleses, além de autores dos países americanos,sobretudo 
norte-americanos. São a essas produções que nos dedicamos, considerando que é sempre positivo 
diversificar nossas fontes de leitura e conhecer o máximo da bibliografia produzida pelo estudo em foco.
1.1 Estudos europeus
Nos estudos europeus de história das relações internacionais, destacam-se várias correntes, com 
proeminência das francesas, uma vez que, com o lançamento da obra de Pierre Renouvin, inaugurou-se 
toda uma tradição francesa na subárea. Aos oito volumes produzidos por Renouvin no início da década 
de 1950, seguiram-se obras de outros autores, como François Ganshof, Gaston Zeller, André Fugier 
e René Girault, que definitivamente firmaram a produção da escola francesa sobre a história das 
relações internacionais.
Pierre Renouvin, nascido em Paris em 1983, foi professor na Sorbonne entre 1933 e 1964. Tinha 
vivenciado e lutado na Primeira Guerra Mundial, em que perdeu o braço esquerdo e o uso da mão 
direita. Sobrevivente do conflito, Renouvin pertencia a uma geração de europeus que havia não apenas 
visto os horrores de duas guerras, mas também vivenciado a perda da importância relativa da Europa 
nas relações internacionais (SARAIVA, 2007b).
Como professor universitário, Renouvin estava insatisfeito com as interpretações propostas à época 
pela história diplomática para as causas das guerras, da paz e de todos os fatos que tumultuaram 
a sociedade europeia na primeira metade do século XX. A proposta da obra de Renouvin e de seus 
colegas franceses seria a construção de uma explicação que considerasse os variados aspectos da vida 
internacional, como as forças materiais e morais que influenciavam o mundo do seu tempo com os 
movimentos nacionais e a crise econômica.
14
Unidade I
É nesse sentido que Renouvin propõe o conceito de “forças profundas”, que se refere ao conjunto 
de causalidades sobre as quais atuavam as pessoas responsáveis pela política externa dos Estados. Tais 
causalidades se relacionam aos processos econômicos e materiais, às ideologias correntes, aos elementos 
culturais, enfim, aos diversos fatores presentes na vida social das comunidades humanas. Conforme 
explica Canesin (2008, p. 131):
Estas “forças profundas” são de diversos tipos e Renouvin as enumera na 
primeira parte da obra “Introdução à História das Relações Internacionais” 
(1967) como: geográficas; demográficas; econômicas; da mentalidade coletiva; 
e correntes sentimentais. Sendo a primeira composta por atributos de posição 
e espaço que orientam a alocação dos agregados humanos. No segundo 
caso, discorre-se sobre o papel dos surtos demográficos e movimentos 
migratórios como constrangimentos do ambiente internacional. Quanto às 
forças econômicas, estas são divididas entre materiais e financeiras e entre 
conflitivas e cooperativas. No tocante à mentalidade coletiva, destaca-se o 
papel constitutivo de sentimento nacional. E, finalmente, dentre as correntes 
sentimentais, Renouvin dá ênfase aos movimentos nacionalistas e aos pacifistas.
Por trás de uma decisão de ministros ou chefes de Estado registrada em documentos oficiais, existe 
todo um processo de decisão em que tais fatores, de forma consciente ou não, são considerados. Daí a 
importância da história nas relações internacionais e da superação dos limites impostos pela história 
diplomática (SARAIVA, 2007b).
Jean-Baptiste Duroselle foi um dos mais importantes discípulos de Renouvin, deu continuidade ao 
esforço da disciplina, com novas publicações conjuntas, e ainda foi responsável pela difusão da escola 
francesa para outras partes do continente europeu e para o mundo. Sua maior contribuição veio com a 
obra, já mencionada, Todo Império perecerá, em que Duroselle enxergou a derrocada da União Soviética 
ainda no início dos anos de 1980. Dessa forma, Duroselle consolidou a escola francesa como a tradição 
mais longa da história das relações internacionais.
René Girault foi o terceiro expoente da escola francesa, que, junto com seus colegas Jacques Thobie 
e Robert Frank, produziu três volumes abordando a história das relações internacionais europeias entre 
o século XIX e XX. No presente, a escola francesa continua produzindo obras que analisam a evolução 
das relações internacionais de 1945 aos nossos dias (SARAIVA, 2007b).
Outra tradição relevante quando analisamos as produções europeias em história das relações 
internacionais é a contribuição dada pela escola britânica; porém, no Reino Unido, ficou mais conhecida 
como história internacional e teve como ponto de partida a chegada de Donald Watt na Escola de 
Londres de Economia e Política em 1954, responsável pela formação de talentos dedicados ao estudo. 
A Watt reuniram-se, entre 1959 e 1984, os historiadores e teóricos Herbert Butterfield, Martin Wigth, 
Hedley Bull, Adam Watson, entre outros (SARAIVA, 2007b).
Entre os temas abordados pela tradição britânica, destacam-se o estudo do Estado nas relações 
internacionais, a questão da ordem internacional, as biografias de personalidades consagradas na 
15
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
condução da política exterior europeia, as causas das guerras mundiais e seus impactos na sociedade 
e, ainda, as relações entre Reino Unido e Estados Unidos ao longo do século XX. Mais recentemente, na 
década de 1980, foi também tema de análise da corrente britânica o processo de integração europeia, 
com uma perspectiva mais crítica, apontando as fragilidades e os desafios da atual União Europeia.
No conjunto da produção acadêmica vinculada à escola britânica, é importante dar atenção especial 
à obra do diplomata e professor Adam Watson, que publicou, em 1981, Diplomacy: the dialogue between 
States (Diplomacia: o diálogo entre os Estados) e, em 1984, The expansion of international society 
(A expansão da sociedade internacional), em coautoria com Hedley Bull. Nessas obras, Watson e Bull 
desenvolvem uma análise de base histórica para a evolução do sistema internacional e da sociedade 
internacional, observando sistema e sociedade como conceitos diferenciados. Conforme esclarece 
Saraiva (2007b, p. 20):
[...] Watson discute a distinção entre um “sistema de Estados” e uma 
“sociedade internacional”. O primeiro, anteriormente discutido por Hedley 
Bull no seu The anarchycal society (A sociedade anárquica), foca a rede de 
pressões que levam Estados a considerarem outros Estados em seus cálculos e 
desígnios. A sociedade internacional vincula o sistema ao conjunto de regras 
comuns, instituições, padrões de conduta e valores que são compartilhados 
e acordados por Estados.
A tradição britânica, portanto, teve o mérito de aprofundar os estudos de história das relações 
internacionais a partir de um sistema de conceitos que possibilitam compreender as dinâmicas das 
relações internacionais para além de um mero sistema de ordenamento entre Estados. A percepção 
da existência de valores e padrões de conduta relativos à existência de uma sociedade internacional, 
inicialmente europeia e depois mundial, seria o grande diferencial proposto e abordado historicamente 
pela escola britânica.
Demais estudos de história das relações internacionais produzidos em âmbito europeu, menos 
volumosos, mas não menos importantes, foram desenvolvidos na Itália e na Suíça a partir da difusão da 
produção da escola francesa e britânica.
Na Itália, o nome mais proeminente na disciplina foi Mario Toscano, com estudos sobre a política 
exterior italiana ainda nos anos de 1950 e 1960. Atualmente, destacam-se os estudos de Ennio di Nolfo, 
da Universidade de Florença, Brunello Vigezzi, em Milão, e Fulvio D’Amoja. Na Suíça, destacam-se os 
estudos elaborados por Antoine Fleury, Daniel Bourgeois, Yves Collart, Marco Durrer, Verdina Grossi, 
entre outros, que abordam com consistência histórica os temas mais contemporâneos das relações 
internacionais (SARAIVA, 2007b).
Os estudos produzidos na Itália e Suíça apontam a consolidação de uma tradição histórica das 
relações internacionais nesses países. Entretanto, são ainda consideráveis outrasproduções conduzidas em 
âmbito europeu, ainda que em menor escala. A Bélgica, por exemplo, por meio de análises produzidas por 
Michel Dumoulin, J. Willequet e J. Stengers, entre outros, enfatizou a importância dos estudos históricos 
no contexto das relações internacionais belgas sobre a história diplomática.
16
Unidade I
Já na Alemanha, apesar da existência de trabalhos pontuais como o de Leopold von Ranke, não 
houve o desenvolvimento de uma escola de história das relações internacionais, como observado nos 
demais países europeus analisados. Observa-se, contudo, uma potencial expectativa de desenvolvimento 
de estudos alemães na disciplina a partir do esforço de algumas universidades do país, como a 
Universidade de Saarbrücken, realizados nas últimas décadas.
Por fim, cabe mencionar que existem outros estudos pontuais em história das relações internacionais 
na Espanha, em Portugal, na Suécia e na Rússia, com enfoques próprios. Contudo, a produção e os 
estudos nesses países ainda são considerados periféricos e insuficientes para conduzir a uma tradição 
como aquelas observadas na França, no Reino Unido, na Itália e na Suíça (SARAIVA, 2007b).
 Saiba mais
Neste tópico, mencionamos constantemente o autor referência 
na disciplina José Flávio Sombra Saraiva. Sugerimos, para maior 
aprofundamento em seus estudos, que leia o capítulo 1 da obra a seguir:
SARAIVA, J. F. S. História das relações internacionais: o objeto de estudo 
e a evolução do conhecimento. In: SARAIVA, J. F. S. (Org.). História das 
relações internacionais contemporâneas: da sociedade internacional do 
século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2007b.
1.2 Estudos americanos
Os estudos de história das relações internacionais na América concentram-se nos Estados Unidos 
e América do Norte e também no cone sul do continente, abarcando principalmente Argentina e 
Brasil. Em nosso país, Gonçalves (2007) destaca a contribuição de José Honório Rodrigues, historiador 
brasileiro que viveu entre 1913 e 1987, como decisiva para a formação de uma corrente de estudo 
específica no assunto.
Nos Estados Unidos, a predominância do desenvolvimento de uma teoria de relações internacionais 
a partir da área da ciência política dificultou a formação de uma escola de história das relações 
internacionais norte-americana. A esse respeito, Saraiva (2007b, p. 30) afirma:
Não há, assim, uma escola norte-americana de história das relações 
internacionais no sentido da francesa ou da britânica. O que existe é uma 
abordagem histórica das relações internacionais vinculada aos problemas 
postulados pelos cientistas políticos. Ao mesmo tempo, registra-se uma 
série de teorias e abordagens norte-americanas que seguem os grandes 
paradigmas de interpretação histórica dominantes em determinados 
momentos da vida internacional daquele país.
17
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Dizer que não há uma escola norte-americana de história das relações internacionais, mas apenas 
uma abordagem histórica em determinadas questões vivenciadas pelos Estados Unidos, significa 
que não houve entre os intelectuais norte-americanos preocupação em trabalhar especificamente a 
consolidação desse estudo naquele país.
No âmbito da história diplomática, é importante mencionar a obra de Samuel Bemis A diplomatic 
history of Unites States (Uma história diplomática dos Estados Unidos, em tradução livre), publicada 
em 1936. Em seu livro, Bemis analisou a história diplomática dos Estados Unidos por meio do material 
produzido por instituições norte-americanas e discorreu sobre o nacionalismo e conservadorismo dos 
estudos sociais desenvolvidos nos Estados Unidos daquele período (SARAIVA, 2007b).
Posteriormente, Thomas Baily e Charles Beard foram os responsáveis por renovarem os estudos em 
torno da história diplomática dos Estados Unidos. O primeiro discutiu a formulação da política exterior 
norte-americana por meio da opinião pública e de outros fatores internos, de forma a revisar a obra de 
Bemis. Por outro lado, Beard analisou concepções divergentes da política exterior dos Estados Unidos, 
fundamentando-as na industrialização versus a agricultura, ou seja, por meio de elementos econômicos.
Entretanto, nos anos que se seguiram à Guerra Fria, o enfoque dos estudos norte-americanos em 
relações internacionais não foi aprofundado. A preferência dos intelectuais norte-americanos recaiu sobre 
a preocupação com o expansionismo da União Soviética e a difusão do comunismo pelo mundo. Dessa 
forma, os Estados Unidos foram o berço de nascimento da teoria realista das relações internacionais, uma 
das mais aclamadas nos estudos da área.
 Observação
A teoria realista das relações internacionais, de maneira simplificada, é 
um instrumento de análise da realidade internacional em que predominam 
a centralidade e autonomia dos Estados, a escolha racional do chefe de 
Estado, o interesse nacional e a busca pelo poder, de forma a enfrentar os 
desafios de um sistema internacional em que prevalecem a desconfiança e 
a ausência de um governo central acima dos Estados.
Tendo como foco a participação decisiva dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, seguida 
por sua posição privilegiada nos anos da Guerra Fria, autores como Walter Lippmann, Hans Morgenthau 
e George Kennan publicaram trabalhos que consagraram o realismo como teoria predominante na 
análise das relações internacionais. Entre esses trabalhos, destaca-se a obra de Morgenthau, A política 
entre as nações, publicada em 1948, no início, portanto, da Guerra Fria. A obra tornou-se um clássico da 
área, sendo considerada o fundamento da teoria realista.
Mais recentemente houve algumas tentativas de retomar os estudos de história das relações 
internacionais nos Estados Unidos, porém essas produções seguem sendo irregulares. Assim, não 
podemos afirmar a existência de uma escola norte-americana na disciplina e nos limitamos apenas a 
18
Unidade I
dizer que existe somente uma aproximação entre historiadores e cientistas políticos em torno do tema 
recorrente da inserção internacional dos Estados Unidos (SARAIVA, 2007b).
Os estudos realizados a partir dos Estados Unidos disseminaram-se na América do Norte, influenciando 
as produções acadêmicas do México e Canadá. Por outro lado, as produções elaboradas a partir do cone 
sul americano, apesar da influência norte-americana, adotam uma perspectiva mais independente e, no 
caso do Brasil, aproximam-se mais da tradição francesa. Ademais, o tema do desenvolvimento é algo 
que perpassa os trabalhos de acadêmicos de ambos os países.
Na opinião de Saraiva (2007b, p. 35), são os países da América do Sul que possuem abordagens 
sistemáticas e consideráveis da história das relações internacionais:
O reconhecimento de ambos os países como protagonistas da moderna 
análise histórica culminou, na reunião plenária da Comissão de História das 
Relações Internacionais, em Montreal, em setembro de 1995, na aprovação 
da inclusão de um segundo nome latino-americano no seu Bureau. Ladeando 
Amado Luiz Cervo, o historiador argentino Mario Rapoport foi conduzido à 
condição de 12º membro do órgão.
Na Argentina, os estudos realizados em torno da disciplina têm como tema a inserção internacional 
argentina frente aos desafios contemporâneos. Também se destacam os estudos sobre a história da 
política exterior da Argentina, entre os quais cabe mencionar as obras de Guillermo Figari, Passado, 
presente e futuro da política exterior argentina; e José Paradiso, Debates e trajetórias da política exterior 
argentina, ambas publicadas em 1993. Além disso, na Argentina, foi criada, no início da década de 
1990, a Associação Argentina de História das Relações Internacionais, inicialmente presidida por Marco 
Rapoport (SARAIVA, 2007b).
No Brasil, o esforço no sentido de uma produção consistente nos marcos da história das relações 
internacionais coube a José Honório Rodrigues (1913-1987). Com o lançamento do livro Brasil e África: 
outro horizonte, em 1961, Rodrigues inauguroua disciplina História das Relações Internacionais no 
Brasil; até o momento, só havia História Diplomática. A importância dessa obra é assim resumida por 
Gonçalves (2007, p. 37):
A ruptura que a obra de Rodrigues promoveu, superando a História Diplomática 
pela inauguração da moderna História das Relações Internacionais, deveu-se 
a essa transparência política e, sobretudo, à maneira como tratou o 
passado das relações do Brasil com a África. O autor não visita esse passado 
para descobrir “tudo” o que compunha as relações entre as partes. Nem 
tampouco sua pesquisa ficou restrita aos documentos oficiais produzidos 
pela chancelaria. Sua atitude metodológica é outra: interpela o passado. 
Isto é, procura demonstrar aquilo que de alguma forma já se sabia, mas era 
negado pelo conhecimento histórico estabelecido.
19
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Em torno da nova perspectiva promovida por Rodrigues e aprofundada pelo contato com a produção 
francesa e britânica, delineou-se uma tradição brasileira de estudos históricos das relações internacionais 
a partir da Universidade de Brasília, que inaugurou o primeiro programa de pós-graduação da América 
do Sul na disciplina, em 1976, dentro do curso de História. Com base no programa, formou-se um grupo 
de estudiosos de história das relações internacionais, que reúne Amado Luiz Cervo, Sérgio Bath, Paulo 
Roberto de Almeida, Moniz Bandeira, Corcino Medeiro dos Santos, Clodoaldo Bueno, José Flávio Sombra 
Saraiva, entre outros (SARAIVA, 2007b).
Entre os estudos produzidos pelo chamado grupo de Brasília, destaca-se a preocupação com a 
inserção internacional do Brasil desde sua independência. A obra de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, 
História da política exterior do Brasil, lançada em 1992, analisa, com riqueza de detalhes e fontes, o 
percurso do Brasil nos desafios de inserção internacional desde o Império até os anos mais recentes da 
República. Também é importante mencionar a obra coletiva O desafio internacional: a política exterior 
do Brasil de 1930 aos nossos dias, publicada em 1994 (SARAIVA, 2007b).
Há ainda os estudos conduzidos para o entendimento de parcerias essenciais na compreensão das 
relações internacionais do Brasil. Ainda conforme Saraiva (2007b), merecem destaque os estudos de 
Moniz Bandeira sobre as relações do Brasil com os Estados Unidos, a Alemanha, a Argentina e a América 
Latina; de Amado Luiz Cervo, com a Itália; de José Flávio Sombra Saraiva, com a África; e de Francisco 
M. Doratioto, com o Paraguai.
 Saiba mais
Conheça a obra de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno. É de suma 
importância para o estudante ler esse clássico para maior aprofundamento 
nos estudos da história das relações internacionais do Brasil.
CERVO, A. L.; BUENO, C. História da política exterior do Brasil. 4. ed. 
Brasília: UnB, 1992.
Ainda é cedo para afirmarmos a existência de uma escola de história das relações internacionais 
brasileira tal como aquelas existentes na França e no Reino Unido, mas podemos dizer, sem dúvida, que 
há uma sólida tradição no Brasil a partir do grupo que se formou em Brasília. Entretanto, os esforços 
conduzidos pelo grupo de Brasília, ainda que consistentes e de longa data, seguem praticamente isolados 
no país, visto que existem poucos centros de pesquisa fora do círculo brasiliense.
Outros estudos vêm sendo desenvolvidos fora do eixo europeu e americano, muito embora ainda 
sejam rarefeitos. Na Finlândia e na Rússia, há grupos de estudos começando a desenvolver pesquisa em 
história das relações internacionais. Na Ásia e Oceania, Israel, a Universidade de Tel Aviv reúne alguns 
estudiosos. Japão e Austrália estão desenvolvendo perspectivas próprias por meio da Universidade de 
Sophia, da Organização das Nações Unidas (ONU), em Tóquio, e da Universidade de Sidney. Já na Índia, há 
um grupo de estudiosos na Universidade de Nova Déli inspirados na tradição britânica (SARAIVA, 2007b).
20
Unidade I
Por fim, na África, há estudos isolados produzidos nas cidades de Dakar, Pretória, Lagos e Cairo, cujo 
cerne das análises são a questão da dependência e a inserção internacional dos países do continente 
africano. Contudo, todos esses locais, com exceção da América e da Europa, ainda não se afirmaram 
como tradição nos estudos de história das relações internacionais, mas estão igualmente contribuindo 
para sua ampliação e difusão em todo o mundo.
2 A CONSTRUÇÃO DA “SOCIEDADE INTERNACIONAL EUROPEIA”: DE VESTFÁLIA 
A VIENA
A Europa, no início do século XVII (1601-1700), passava por um processo conflituoso entre o esforço 
para superação de costumes e instituições medievais e a ascensão de novos valores que posteriormente 
dariam lugar à sociedade internacional europeia consolidada no Congresso de Viena (1815), já no século 
XIX. Esse processo, contudo, seria lento e marcado por guerras de escala continental, conflitos religiosos, 
ascensão e quedas de potências e dinastias, consolidação do Estado-nacional, revolução cultural iniciada 
no Renascimento, Contrarreforma e tantos outros vaivéns observados durante dois séculos.
O século XVII, conforme aponta a historiografia europeia, teve início com a execução na Fogueira, 
em Roma, de Giordano Bruno, filósofo que anunciou a existência de universo infinito, e a expulsão do 
astrônomo Kepler pela Universidade de Graz. Em meio ao clima de intolerância, perseguição a cientistas, 
apreensão de livros, pestes, crise econômica e monetária, ocorreu a Guerra dos Trintas Anos (1618-1648), 
que intensificou o clima de catástrofe e desespero, além de destruição e mortandade generalizada. 
A guerra não foi apenas um conflito bélico, mas uma crise geral que marcou o início do período conhecido 
como uma época de estagnação e decadência (CARNEIRO, 2011).
A Guerra dos Trinta Anos teve início por questões religiosas, com a intensificação da rivalidade 
entre o imperador católico do Sacro Império Romano-Germânico e as cidades-Estados que haviam 
aderido ao protestantismo no norte do território da atual Alemanha, que se opunham ao seu controle 
(JESUS, 2010). Porém, a justificativa religiosa do conflito, que opunha rebeldes protestantes e defensores 
católicos da autoridade religiosa e política do imperador, tornou-se mais difusa durante a guerra, com 
a entrada da França, país católico, mas que apoiava os protestantes, uma vez que temia a expansão do 
domínio da família imperial Habsburgo na Europa.
 Saiba mais
Para conhecer com profundidade a política exterior francesa nesse 
período, leia o livro Testamento político escrito pelo primeiro-ministro 
francês à época da Guerra dos Trinta Anos, o Cardeal de Richelieu, 
considerado um dos maiores estadistas da França:
CARDEAL DUQUE DE RICHELIEU. Testamento político. Abel, [s.d.]. 
Disponível em: https://www.portalabel.org.br/images/pdfs/o-testamento-
politico.pdf. Acesso em: 30 jul. 2020.
21
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Ao fim da guerra, surgiu não apenas um novo equilíbrio de poder, mas também uma nova regra do 
jogo das relações internacionais fundamentada na Paz de Vestfália, que encerra a Guerra dos Trinta Anos. 
Ao estabelecer o Estado como entidade política legítima, o conceito principal de soberania consolidou-se 
nas liberdades dadas às cidades-Estados alemãs em relação à interferência imperial.
Por isso, a Guerra dos Trinta Anos e a assinatura dos Tratados de Vestfália são consideradas o 
marco da construção da sociedade internacional europeia, uma vez que os interesses dos Estados se 
sobrepõem aos princípios religiosos medievais da soberania universal do papa, chefe da Igreja católica 
(CARNEIRO, 2011).
Além do princípio da soberania, foi instituído também o princípio da não intervenção. Embora 
o Sacro Império Romano-Germânico tenha continuado a existir até 1806 e os príncipes das 
cidades-Estados e principados alemães pudessem fazer alianças fora do Império, de forma a exercerem 
poder independente, nem os príncipes nem o imperador intervieram para resolver problemas no território 
de outro príncipe.Ademais, foram oferecidas garantias a novas unidades quanto à adesão ao sistema, desde que 
tivessem atributos como um governo viável, o controle do próprio território e a habilidade para fazer e 
honrar tratados. Com a expansão colonial no século XIX e a descolonização afro-asiática do século XX, 
o sistema de Vestfália adquiriu uma abrangência maior, chegando também a todas as regiões do 
planeta (JESUS, 2010).
2.1 A Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestfália
O cenário que desencadeou a Guerra dos Trinta Anos circunscreve os conflitos religiosos entre 
católicos e protestantes nos territórios da Europa central, hoje território da atual Alemanha, Áustria, 
República Tcheca e Hungria, mas à época integravam o Sacro Império Romano-Germânico, uma 
estrutura feudal com fronteiras pouco definidas, na qual se sobrepunham suseranias e soberanias em 
múltiplas entidades políticas.
O Sacro Império Romano-Germânico foi formado em 962, com a coroação do imperador Otto pelo 
papa João XII, e durou até 1806, quando foi dissolvido pela invasão de Napoleão. Sua criação pretendia 
reivindicar a sucessão de Carlos Magno e do antigo Império Romano do Ocidente, herança direta da 
civilização romana e cristã, fundamentada na Igreja Católica Romana. O Sacro Império, portanto, 
representava a unidade temporal dos católicos, enquanto o papado representava sua unidade espiritual 
(CARNEIRO, 2011).
Na estrutura política do Império, a sucessão do imperador não era hereditária, e sim eletiva. 
Abrangendo mais de mil unidades políticas divididas em cidades-Estados, principados, ducados, 
bispados e territórios eclesiásticos, o Sacro Império Romano-Germânico abrangia uma vasta região da 
Europa central, porém apenas sete príncipes eram eleitores do imperador: três desses príncipes eram 
eclesiásticos, os arcebispos de Colônia, Trèves e Mogúncia, e quatro eram eleitores leigos, o Rei da 
Boêmia, o duque da Saxônia, o margrave (equivalente ao título de marquês, na Europa ocidental) 
de Brandemburgo e o conde do Palatinado.
22
Unidade I
Figura 1 – Mapa do Sacro Império Romano-Germânico em 962
Esse frágil equilíbrio político do Império começou a se deteriorar após a Reforma promovida por 
Martinho Lutero em 1519. Lutero rebelou-se contra o imperador e o papa e conseguiu o apoio do 
poderoso duque da Saxônia, onde a Reforma teve profundo apelo. Seguiu-se uma série de conflitos 
entre católicos e os seguidores da religião reformada de Lutero, os quais passaram a ser chamados de 
“protestantes”, que só teve uma trégua com a assinatura de um tratado entre o imperador do Sacro 
Império, Carlos V, e os protestantes reunidos na Liga de Esmalcalda em 25 de setembro de 1555, na 
cidade de Augsburgo.
23
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Saiba mais
Assista ao filme:
LUTERO. Direção: Eric Till. Alemanha: Eikon Film, 2003. 121 min.
Com a Paz de Augsburgo, seguiu-se um período de tolerância religiosa. Pelo tratado, ficou estabelecido 
que cada príncipe ou governante teria liberdade de escolher sua religião, que, por consequência, 
estenderia-se aos seus súditos, porém permitindo a emigração dos descontentes. Entretanto, com a 
chegada do imperador Rodolfo II ao trono do Império em 1575, com sólida formação católica, acirraram-se 
novamente as rivalidades religiosas, que se agravaram com impasse de sucessão no Reino da Boêmia.
Os protestantes, reunidos na União Evangélica, defendiam que a coroa da Boêmia deveria ser entregue 
a Frederico V, eleitor do Palatinado e defensor da religião protestante, enquanto os católicos apoiaram a 
reivindicação de Fernando II, da casa dos Habsburgos, futuro imperador e católico fervoroso. Educado na 
Igreja católica e herdeiro da aliança entre os Habsburgos e o papado, Fernando II reprimiu violentamente 
os protestantes, destruiu templos e impôs o catolicismo como única religião a ser praticada do reino.
Revoltados com a atitude de Fernando II, os protestantes acusaram-no de romper com a tolerância 
religiosa estabelecida pela Paz de Augsburgo e reagiram prontamente no episódio que ficou conhecido 
como Defenestração de Praga: invadiram o palácio real e atiraram pela janela do segundo andar dois 
ministros e um secretário do rei. O episódio aconteceu em 23 de maio de 1618, data considerada como 
o início da longa Guerra dos Trintas Anos.
Figura 2 – Defenestração de Praga
24
Unidade I
A Guerra dos Trinta Anos foi um conflito que opôs não apenas regiões do Sacro Império 
Romano-Germânico, que queriam autonomia diante do poder imperial, e outras que sustentavam o 
Império e o papado; também envolveu diretamente os apoiadores católicos do imperador e da dinastia 
de Habsburgo, Espanha e Polônia contra uma coligação protestante composta pelos príncipes alemães, 
Países Baixos, Dinamarca, Suécia e a França católica. Dessa forma, conforme explica Carneiro (2011), o 
confronto tomou proporções internacionais:
O que era uma guerra civil do Império Germânico desdobrou-se no 
mais agudo conflito da Europa moderna devido à conjunção de diversas 
disputas: rivalidade franco-espanhola, luta holandesa contra a Espanha pela 
independência nacional, Reforma e Contrarreforma, que de forma paralela e 
depois conjugada se somaram para uma deflagração generalizada.
Para fins didáticos, esse longo conflito pode ser dividido em cinco fases: a primeira é a fase da Boêmia, 
de 1618 a 1621; a segunda é a fase do Palatinado; de 1621 a 1624; a terceira é a fase dinamarquesa, de 
1625 a 1630; a quarta é a fase sueca, de 1630 a 1634; e a quinta e última fase é a fase francesa, 
de 1634 a 1648. Em cada uma dessas fases, cada país enfrentou a coalização do Império com a Espanha 
e os Estados germânicos católicos (CARNEIRO, 2011).
Na fase boêmia, o imperador Fernando II, com apoio dos espanhóis, derrotou os protestantes na 
Batalha da Montanha Branca, e Frederico V, eleitor do Palatinado, foge para Haia, onde se refugia com 
sua corte. Na fase do Palatinado, ocorreu a ocupação dessa região pelas forças imperiais, e Fernando II 
acabou com todos os direitos antes gozados pelos protestantes. O Império saiu de tal modo fortalecido 
que amedrontou outros países protestantes europeus.
Assim, na terceira fase, a Dinamarca do rei Christian IV envolveu-se diretamente no conflito em apoio 
à Boêmia e ao Palatinado, marcando o início da dimensão internacional da guerra. O rei dinamarquês, 
no entanto, também é derrotado pela coligação do Império com a Espanha, o que fortaleceu ainda mais 
Fernando II e resultou na promulgação do Edito da Restituição, documento que anulava todos os títulos 
protestantes sobre as propriedades católicas expropriadas desde a Paz de Augsburgo.
A quarta fase da guerra é marcada pela entrada da Suécia, sob o reinado de Gustavo Adolfo, que temia 
o crescimento do poderio do Império. Apesar de algumas vitórias iniciais e de conquistas territoriais que 
se estenderam até a Baviera, o rei Gustavo Adolfo foi morto na Batalha de Lützen em 1632, e os suecos 
foram finalmente derrotados em 1634, na Batalha de Nördlingen. Em 1635, a ocupação sueca da Baviera 
havia acabado e, no mesmo ano, foi assinada a Paz de Praga, que efetivamente encerrou a participação 
dos príncipes protestantes na Guerra dos Trinta Anos, deixando a Suécia sozinha em território inimigo.
25
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 3 – A morte do Rei Gustavo Adolfo da Suécia em 1632
Na quinta e última fase, a França declarou guerra aos Habsburgos em 1935. A Paz de Praga alarmou 
sobremaneira os franceses, que viam o poderio imperial crescendo enquanto estavam cercados por duas 
monarquias dos Habsburgos, no Sacro Império Romano-Germânico e na Espanha. Portanto, a entrada da 
França na Guerra dos Trinta Anos, país católico em apoio aos protestantes, nada tinha a ver com questões 
religiosas, mas sim com o equilíbrio de poder europeu. Conforme esclarece Carneiro (2011, p. 180):
A intervenção de uma nação católica no lado protestante da guerra foi uma 
hábil decisão geopolítica da diplomacia francesa de Luís XIII,por meio de seu 
chanceler, Richelieu, e após 1643, Luís XIV e Mazarino. A França busca, por 
meio de negociações separadas com a Suécia, a Bavária e os Países Baixos, 
obter seus territórios ambicionados, especialmente a Alsácia, e conseguir a 
derrota da Espanha.
O cardeal de Richelieu orientava a política externa francesa de modo a torná-la uma grande potência 
na Europa em oposição aos domínios da casa dos Habsburgos, e, por isso, a França já estava apoiando 
indiretamente os esforços de suecos e dinamarqueses na guerra. A intervenção francesa foi decisiva 
para determinar a vitória dos protestantes e encerrar o conflito que se estendeu até 1648, quando os 
suecos conseguem tomar o Castelo de Praga na última batalha da Guerra dos Trinta Anos. Nesse mesmo 
ano, a Espanha, esgotada e passando por rebeliões internas, aceitou a derrota.
Os acordos que possibilitaram o término da guerra foram sendo negociados ao longo dos últimos três 
anos de conflito. As cidades Münster, de precedência católica, e Osnabrück, de precedência protestante, 
são declaradas zonas neutras para sediar as conferências de paz. As negociações demonstram-se um 
grande desafio para as potências europeias, visto que era necessária toda uma logística para abrigar, 
alimentar e manter o correio para todos os negociadores nas duas cidades das mais de cem unidades 
políticas envolvidas na Guerra dos Trinta Anos (ROMANO, 2012).
26
Unidade I
O resultado dessas conferências ficou conhecido como a Paz de Vestfália e reúne um conjunto de 
11 tratados. Por meio desses acordos, foi proclamada uma anistia geral, e os vencedores receberam 
concessões territoriais. A França ganhou a Alsácia, Verdun, Toul e Metz e estabeleceu suas fronteiras na 
margem oeste do Reno. A Suécia ganhou o controle do mar Báltico e dos estuários dos rios Elba, Oder 
e Weser, além dos territórios da Pomerânia ocidental. Reconheceu-se ainda a independência da Suíça e 
das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos (CARNEIRO, 2011).
Figura 4 – Mapa da Europa em 1648
No que concerne ao Sacro Império Romano-Germânico, também houve importantes mudanças 
com a Paz de Vestfália. A Paz de Augsburgo, que institui a liberdade religiosa, é reafirmada não apenas 
na Boêmia, mas em todo o Império. A Bavária ganhou territórios do Alto Palatinado e o direito de 
voto no Conselho Imperial dos Eleitores, que escolhia o imperador. Brandemburgo ganhou a Pomerânia 
oriental e outros territórios, que fundamentam o surgimento da Prússia. E, por fim, os diversos Estados 
alemães independentes alcançaram o direito de conduzir sua própria política externa, fortalecendo o 
princípio da soberania.
Nesse sentido, o Tratado de Vestfália é considerado o primeiro acordo internacional, uma vez que 
consagrou o exercício da soberania estatal por meio de garantias de não intervenção entre eles e separação 
entre as esferas da religião e da política. Vestfália, portanto, representa um esforço para a superação da 
ordem e do direito medievais, pelos quais cabia ao papa o papel de árbitro dos reis, sendo as funções do 
Estado secular subordinadas à Igreja (ROMANO, 2012).
Nessa visão de mundo, há uma clara hierarquia de comando: o papa concede o poder aos reis 
para governarem, e estes devem usá-lo conforme as regras ditadas pela Igreja. No Sacro Império 
27
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Romano-Germânico, a hierarquia descrita incluía ainda o imperador. Vestfália, contudo, estabeleceu 
a abolição da hierarquia eclesiástica e imperial, na medida em que impôs a igualdade jurídica entre os 
Estados e a rejeição da autoridade universal do papa. Isso significa que os Estados soberanos não mais 
reconhecem qualquer autoridade acima de si mesmos.
Em Vestfália, a hierarquia medieval é substituída pela anarquia do equilíbrio de poder e a razão 
de Estado. Ou seja, antes, as ações e decisões dos príncipes eram subordinadas ao imperador e, por 
conseguinte, eram regulamentadas pelo papado. Após os acordos de Vestfália, os Estados deixam de se 
sujeitar a normas morais externas a eles próprios e adotam um sistema de reciprocidade fundamentado 
no reconhecimento mútuo das múltiplas soberanias e no direito internacional moderno dos pactos e 
tratados internacionais (CARNEIRO, 2011).
Reinos
Império
Papa
Principados
França Espanha Suíça Holanda
Pactos de Lealdade 
Hierarquizados
Múltiplas Independências
Figura 5 – Sistema medieval x sistema moderno de Estados
Na ausência de um organismo internacional religioso ou jurídico superior aos Estados e entidades 
políticas para garantir o pacto e servir de árbitro entre os soberanos, como era o caso anterior da Igreja, 
a Paz de Vestfália é desenhada a partir de um equilíbrio fundamentado na amizade e vizinhança comum 
de cada parte. Trata-se, portanto, de uma obrigação social entre as entidades soberanas que se definem, 
ao mesmo tempo, como juízes e partes, com direitos e obrigações mútuas (ROMANO, 2012).
Além disso, podemos observar que os tratados de Vestfália estabeleceram a existência de um sistema 
fundado em preceitos racionais e seculares. A religião, seja católica ou protestante, continuaria tendo 
um peso considerável na vida social e política das sociedades da época; no entanto, não seria a fé 
religiosa que guiaria as escolhas e ações dos Estados no sistema internacional. Estes priorizariam seus 
próprios interesses baseados essencialmente na geopolítica e no equilíbrio de poder (CARVALHO, 2018).
Nesse sentido, Carneiro (2011, p. 185) resume a importância dos 11 tratados firmados em 
1648 afirmando que:
Toda a política moderna e contemporânea, baseada no reconhecimento 
da legitimidade dos Estados e na constituição de um conjunto político de 
nações que se reconhecem como parte de um sistema em que rege um 
direito internacional, deriva do modelo criado e formalizado a partir da 
Paz de Vestfália.
28
Unidade I
A Paz de Vestfália, portanto, pode ser considerada a formalização do nascimento do sistema europeu 
de Estados, que posteriormente definiu o modelo das comunidades nacionais no Ocidente. Porém, 
pesquisas como a de Diego Santos Vieira de Jesus (2010) questionam a profundidade das inovações 
creditadas aos acordos de Vestfália, além de argumentar no sentido de haver “brechas” nos princípios de 
autonomia e territorialidade que dificultam a manutenção da estabilidade do sistema.
Nas palavras dele:
O que Vestfália fez, em certa medida, foi consagrar uma ordem cooperativa 
legal de entidades autônomas não soberanas, o que indica que a soberania 
não é o único conceito ou forma possível de interpretar a interação entre 
atores autônomos.
Para Jesus, portanto, a ordem de Vestfália não foi em si uma inovação nas relações entre as 
comunidades políticas nos termos de soberania, mas apenas formalizou um padrão de relações entre 
os povos europeus já existentes à época da Guerra dos Trinta Anos. De qualquer forma, importa lembrar 
que Vestfália tornou-se um marco nos estudos de relações internacionais, uma vez que fundamentou 
uma cultura política compartilhada própria que determina a atual sociedade internacional.
2.2 O Congresso de Viena e a sociedade internacional europeia
A estrutura política arquitetada pela ordem Vestfália, isto é, das “múltiplas independências”, perdurou 
por um longo tempo, o que possibilitou tanto a realização das estratégias das grandes potências europeias 
quanto a sobrevivência dos Estados menores. Apesar da persistência de conflitos bélicos, a guerra foi um 
mecanismo eficiente para manutenção do equilíbrio de poder e, até a ascensão de Napoleão Bonaparte 
na França, não representou ameaça ao sistema de Estados europeu.
 Lembrete
Equilíbrio de poder é um conceito muito empregado no estudo das 
relações internacionais, sendo definido por Raymond Aron (2002) da 
seguinte forma: “a política de equilíbrio se reduz à manobra destinada a 
impedir que um Estado acumule forças superiores às de seus rivais coligados. 
Todo Estado, se quiser salvaguardar o equilíbrio, tomará posição contra o 
Estadoou a coalizão que pareça capaz de manter tal superioridade. Essa é 
uma regra geral válida para todos os sistemas internacionais”.
No período de 1648 a 1789, é possível observar mudanças significativas na geopolítica europeia. 
A França, sob a monarquia dos Bourbons, tornou-se a principal potência na Europa continental, 
enquanto o advento do poder hegemônico da Grã-Bretanha nos mares e no comércio internacional 
superou o poder marítimo holandês. Na Península Ibérica, a Espanha enfrenta um processo de longo 
declínio que culminou com a guerra de sucessão ao trono espanhol iniciada em 1701 e encerrada em 
1714 (MAGNOLI, 2012).
29
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Nesse conflito, a França de Luís XIV, por seu lado, apoiava a pretensão de Felipe d’Anjou, neto de 
Luís XIV; já a Grande Aliança, formada por Grã-Bretanha, Portugal, Prússia e Holanda, defendia que 
o trono espanhol fosse assumido por Carlos, do Sacro Império Romano-Germânico. Com a eleição de 
Carlos como imperador do Sacro Império, a Aliança perdeu força, uma vez que não interessava às 
potências europeias que Carlos acumulasse as duas coroas.
Assim, as negociações de paz tiveram início em 1713 na cidade holandesa de Utrecht e encerraram-se 
em 1715. Na Paz de Utrecht, a questão de sucessão ao trono espanhol foi solucionada em favor de 
Felipe d’Anjou, rei Felipe V da Espanha, e, além disso, foram confirmados os princípios de soberania, não 
intervenção, equilíbrio de poder, a prevalência do direito internacional e a retomada à guerra como último 
recurso. Como observa Amado Luiz Cervo (2007a, p. 43), entre os séculos XVII e XIX, foram consolidados 
os valores de uma sociedade internacional europeia conforme estabelecido na Paz de Vestfália:
A filosofia política de Vestfália fez avançar a sociedade internacional 
europeia em termos conceituais: a nova ordem era fruto na negociação, 
legitimava uma sociedade de Estados soberanos, enaltecia a associação 
e a aliança, mas não era ingênua a ponto de ignorar a hierarquia e 
hegemonia entre Estados e a mobilidade da balança de poder. O direito 
internacional modernizou-se. O jurista holandês Grotius deu aos europeus 
a convicção de que as relações internacionais haviam migrado para fora 
da anarquia maquiavélica quando os convenceu de que obedeciam a 
um conjunto de princípios, valores e regras aceitos e praticados pelos 
novos Estados-nação.
A estrutura pluripolar da ordem de Vestfália deu origem a uma nova configuração geopolítica 
na Europa que posteriormente abriria caminhos para as guerras napoleônicas. A Grã-Bretanha era a 
maior potência emergente no período e fundamentou sua ascensão em um poderoso poder naval para 
garantia de sua segurança no equilíbrio de poder com potências continentais. Na parte oriental, a 
Rússia também vinha praticando uma política de afirmação como potência emergente, enquanto no 
Ocidente a Espanha, enfraquecida pelos conflitos em que se envolvera desde o século XVII, declinava 
definitivamente. Na parte mais central do continente, França e Áustria mantinham seus status enquanto 
a Prússia almejava converter-se em polo de influência no espaço alemão (MAGNOLI, 2012).
No entanto, no final do século XVIII, a eclosão da Revolução Industrial e da Revolução Francesa 
levaria ao desabamento de toda a estrutura construída na Paz de Vestfália. Com a Revolução Industrial, 
ocorrida na Inglaterra entre as décadas de 1770 e 1780, o mundo material mudou substancialmente, 
abrindo espaço para o capitalismo industrial e uma nova classe dirigente, dinâmica, cujos ideais e valores 
moldariam não apenas a Europa, mas também o mundo a partir da expansão da sociedade europeia 
na segunda metade do século XIX. Por sua vez, a Revolução Francesa derrubou violentamente todos 
os resquícios da estrutura política medieval, substituindo a soberania real absolutista pela soberania 
popular (MONDAINI, 2011).
Entre 1792 e 1815, houve guerra ininterrupta em toda a Europa e em alguns locais do mundo, 
desencadeada pela força do ideário revolucionário francês. A França revolucionária adotou valores 
30
Unidade I
universais que não eram compatíveis com as monarquias absolutistas na Europa, desencadeando uma 
rápida reação dos Estados que defendiam os valores tradicionais. A contrarrevolução, no entanto, 
alimentou o imaginário de Napoleão Bonaparte em torno de um Império Francês e empregou o grande 
exército revolucionário como instrumento pelo qual a revolução projetou-se no cenário internacional, 
ameaçando não apenas um Estado ou uma coalizão, mas todo o sistema de Estados europeu 
(MAGNOLI, 2012).
Para melhor compreensão desse contexto, faz-se necessário entender os três momentos ou “eras” 
em que didaticamente se divide o curso da Revolução Francesa: a era das constituições (1789-1792); a 
era das antecipações (1792-1794); e a era das consolidações (1794-1815). Na primeira era, observa-se 
a tentativa de estabelecimento de uma monarquia constitucional, que resultará na elaboração da 
Constituição de 1791. O objetivo das principais lideranças era reformar o regime absolutista e instituir 
os direitos civis (MONDAINI, 2011).
Na segunda era, ocorreu a radicalização do processo, em que os jacobinos, grupo mais revolucionário, 
assumiram a liderança e lutaram pela eliminação de todos os resquícios de origem nobre ou burguesa. Foi 
a fase em que a guilhotina espalhou o terror em todo o território francês. Na última era, a fase política 
da Revolução teve o objetivo de consolidar as instituições burguesas na França, sendo o Exército, sob 
liderança de Napoleão Bonaparte, o principal instrumento de pacificação e unificação da nação francesa 
(MONDAINI, 2011).
Sob o comando de Napoleão, a França revolucionária anexou a Bélgica à margem esquerda do Reno, 
modificou os governos da Suíça e da Holanda, estabeleceu posições na Espanha e em regiões da Itália, 
enfim, tentou formar um Império continental. Em contrapartida, seis coalizações internacionais foram 
formadas para enfrentar o Exército Francês, lideradas pela Grã-Bretanha e compostas por Rússia, Áustria, 
Suécia e Prússia. No seu auge, em 1802, o Império de Napoleão estendia-se por parte considerável da 
Europa (MAGNOLI, 2012).
A partir de 1812, após inumeráveis vitórias, Bonaparte amargou uma imensa derrota na campanha 
da Rússia, seguida de outra derrota na campanha da França com o cerco de Paris pela sexta coalização. 
Após a capitulação de Paris em março de 1814, Napoleão renunciou e foi exilado pelos aliados na ilha 
de Elba. Em 1815, ainda tentou retornar ao trono francês, então ocupado por Luís XVIII, porém foi 
definitivamente derrotado na Batalha de Waterloo, na Bélgica, pelo general Wellington. Napoleão 
foi novamente exilado na ilha de Santa Helena, onde terminou seus dias (MONDAINI, 2011).
No decorrer desses anos de guerra, o mapa geopolítico da Europa foi redesenhado diversas 
vezes, e a mudança mais significativa do ponto de vista da geografia política foi a consolidação do 
Estado-nacional, com fronteiras bem delimitadas e instituições e leis unificadas sob uma só autoridade 
soberana. Além disso, a comunidade feudal consistia em uma propriedade de algum nobre, herdada pelos 
seus descendentes, mas agora deixa de ser propriedade da nobreza para ser nacional. O reconhecido 
historiador inglês Eric Hobsbawm (1974, p. 99) assim descreveu os impactos da Revolução Francesa em 
termos político-sociais:
31
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
“A Revolução Francesa”, observava De Bonald em 1796, “é um acontecimento 
único na história”. A frase é enganadora: ela foi um acontecimento universal. 
Nenhum país estava imune a ela. Os soldados franceses que guerrearam de 
Andaluzia a Moscou, do Báltico à Síria estenderam a universalidade de sua 
revolução mais eficazmente do que qualquer outra coisa. E as doutrinas 
e instituições que levaram consigo, mesmo sob o comando de Napoleão, 
desde a Espanha até a Ilíria, eram doutrinas universais, como os governos 
sabiam e como também os próprios povos logo viriama saber.
As guerras napoleônicas marcaram o fim das múltiplas independências da Paz de Vestfália, porque 
não foram apenas guerras interestatais, em que as unidades políticas se reconhecem como legítimas. 
A França revolucionária de Napoleão Bonaparte tinha pretensões imperiais, ou seja, almejava destruir 
a ordem internacional vigente para construir uma nova ordem que refletisse seus próprios valores. 
As guerras travadas por Bonaparte tinham, portanto, características imperiais com o objetivo de 
eliminação de inimigos e formação de uma unidade superior aos demais. Assim, as negociações de paz 
deveriam suprimir o agressor que buscava a hegemonia e restaurar a ordem (MAGNOLI, 2012).
Nesse sentido, as potências europeias, uma vez derrotado o Império Francês, reuniram-se no 
Congresso de Viena em 1815 na tentativa de reconstituir a ordem internacional europeia. Porém, 
decidiram que não mais convinha restabelecer o sistema das múltiplas independências diante 
da possibilidade de que isso implicasse o perigo de uma nova aventura imperial. Dessa forma, a 
sociedade internacional europeia evolui para um sistema de colaboração e controle pelas grandes 
potências (CERVO, 2007a).
O Congresso de Viena ocorreu oficialmente entre novembro de 1814 e junho de 1815 com o objetivo 
de reorganizar a ordem europeia após as guerras napoleônicas. No entanto, havia muitos outros 
interesses em jogo de cada uma das quatro grandes potências que derrotaram Napoleão Bonaparte: 
à Grã-Bretanha, interessava a edificação de uma ordem baseada no consenso e estabelecimento de 
quesitos de segurança que impedissem o surgimento de um Estado hegemônico na Europa; a Prússia 
almejava manter uma política de influência da região alemã e, para tanto, via a anexação do Reino da 
Saxônia como condição indispensável; por sua vez, a Rússia exigia a formação de um Estado polonês 
unificado, porém subordinado às prerrogativas de Moscou, e conflitava com os interesses da Prússia e 
Áustria; e a Áustria desejava não somente conter a expansão russa em território polonês, mas também 
tinha pretensões territoriais sobre o leste e sul da Europa.
As negociações, como descreve Demétrio Magnoli (2012), desenrolaram-se em diversas fases. 
A primeira fase, antes da abertura do Congresso, caracteriza-se pela discussão dos procedimentos da 
negociação, cujo resultado foi a manutenção das discussões territoriais somente entre as quatro grandes 
potências, excluindo a França restaurada e outros países que participaram das guerras napoleônicas, 
como Espanha e Suécia. Houve protestos por parte da França, porém, nessa fase, sem resultados.
32
Unidade I
Ainda no contexto das preliminares, iniciou-se em outubro de 1814 a segunda fase das negociações, 
na qual as grandes potências expuseram suas reivindicações territoriais e estudaram os possíveis 
cenários de compromisso. Nesse momento, ficou clara a dificuldade de estabelecer um equilíbrio geral 
na Europa sem que fosse resolvida a questão regional entre os Estados alemães. Para a Grã-Bretanha, 
um eixo de entendimento entre Prússia e Áustria com apoio dos ingleses seria ideal para equilibrar 
qualquer pretensão hegemônica da Rússia e França. Porém, devido ao fracasso das negociações entre as 
potências centrais, a França foi convidada a ingressar no núcleo das potências, dando início à terceira 
fase do Congresso de Viena (MAGNOLI, 2012).
Entre dezembro de 1814 e janeiro de 1815, desenrolou-se a terceira fase de negociações e foram os 
momentos mais tensos do Congresso. A Prússia, recuada pela entrada da França no círculo fechado das 
potências, impôs suas condições sobre territórios alemães e poloneses sob ameaça do recurso à força 
caso não fosse atendida. Os ânimos foram contidos após recuo da Rússia em suas pretensões sobre a 
Polônia, que abriu caminho para um entendimento geral.
Na quarta fase, ocorreu o processo de negociação final liderado pela Grã-Bretanha. O texto do 
tratado possibilitou à Rússia a formação do Estado polonês independente, porém descrito como um 
patrimônio hereditário da dinastia russa; a Prússia recebeu territórios a leste do Reno e parte do 
reino da Saxônia, além de outros territórios reivindicados; a Áustria perdeu poder no espaço alemão, 
mas, em contrapartida, obteve territórios ao sul da Europa; a Grã-Bretanha, em suas pretensões de 
segurança, conseguiu estabelecer o Reino da Holanda, abrangendo a Bélgica, que funcionaria como 
barreira às pretensões francesas na região; por fim, a França obteve a formação de uma Confederação 
dos Estados Alemães, de forma a dificultar a pretensão da Prússia e da Áustria de avançarem sobre a 
região (MAGNOLI, 2012).
O novo desenho do mapa europeu (figura adiante) beneficiou, sobretudo, a Grã-Bretanha, que 
alcançou todos os objetivos de segurança sem renunciar à prática de não intervir nos assuntos 
continentais, além de obter o desejado equilíbrio que possibilitou aos ingleses perseguirem sua política 
de expansão mundial. O isolamento britânico gerou protestos por parte das monarquias centrais, que 
reuniam Rússia, Áustria e Prússia, quando ocorreram revoltas liberais na Espanha, influenciadas pelos 
valores da Revolução Francesa.
O episódio levou as três monarquias a estabeleceram a Santa Aliança, fundamentada nos valores 
cristãos e absolutistas, de forma a afastar os ideários franceses. Diversos reis e príncipes aderiram 
ao documento da Santa Aliança, abalando a opinião liberal europeia. Diante disso, a Grã-Bretanha 
formulou a Quádrupla Aliança, composta também por França, Espanha e Portugal, com a finalidade 
de preservar a ordem edificada em Viena. Por esse mecanismo, ocorreriam conferências periódicas 
para sustentar o Concerto Europeu (MAGNOLI, 2012).
33
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 6 – A Europa após o Congresso de Viena, 1815
A partir de 1815, as cinco grandes potências europeias (Grã-Bretanha, Áustria, França, Prússia e 
Rússia) agiam como diretório, realizando intervenções coletivas para manutenção do equilíbrio e da 
ordem de Viena. O sistema das múltiplas independências e a razão de Estado foram substituídos pela 
hegemonia coletiva e pelo equilíbrio de poder entre os cinco grandes. Amado Cervo (2007a, p. 47) assim 
resume o novo contexto das relações internacionais que emergiu do Congresso de Viena:
A legitimidade desse sistema internacional, o Concerto Europeu, fundava-se nos 
benefícios que seus membros supunham derivarem de seu funcionamento: 
como os extremos – a potência singular independente ou a hegemonia singular 
absoluta – não podiam impor-se, a prática tornava o sistema legítimo ao erradicar 
os males dos extremos. O senso realista das concepções e práticas da política 
internacional do Concerto Europeu do século XIX pretendeu corrigir o sistema de 
igualdade jurídica dos Estados implementado no século XVII, porque este último 
revelou-se incapaz de evitar a dominação dos impérios. Foi além, ao indicar 
que os grandes devem atender a interesses de todos os Estados-membros da 
sociedade internacional.
34
Unidade I
O Concerto Europeu mostrou-se um mecanismo eficiente para manutenção da estabilidade europeia 
até a ascensão da Alemanha unificada. Por meio desse mecanismo de equilíbrio de poder, foi possível 
um longo período de paz que durou cerca de cem anos, com apenas conflitos esporádicos que não 
colocavam em risco o sistema de Estados europeu. Nesse período, a burguesia europeia e a ordem 
liberal capitalista atingiram seu auge e materializaram a força de expansão da sociedade europeia 
para todo o globo.
2.3 Expansão da sociedade internacional europeia
No decorrer do século XIX, a Europa mergulhou em duas ondas que conformariam o mundo 
contemporâneo: o nacionalismo e o liberalismo. As reivindicações do liberalismo econômico e democrático 
e do nacionalismo viriam a ser gradualmente realizadas nas décadas seguintes, resultando em um período no 
qual consagrou-se a soberania popular, e o mundo tornou-se capitalista (HOBSBAWM, 1974).
Na década de 1840, um novomovimento revolucionário abalou a França, espalhou-se por diversas 
cidades europeias e se generalizou em 1848, ficando conhecido como Primavera dos Povos. Iniciado 
após uma crise econômica na França, o levante popular derrubou a monarquia francesa de Luís Felipe, 
restaurada após o Congresso de Viena, dando origem a um novo período republicano. Luís Bonaparte, 
sobrinho de Napoleão Bonaparte, foi o primeiro presidente eleito, porém, em 1851, pouco antes de 
terminar seu mandato, Luís Bonaparte, por meio de um golpe de Estado, instaurou o Segundo Império, 
declarando-se imperador com o título de Napoleão III.
Em outros países europeus, também ocorreram diversas manifestações populares, que resultaram na 
abolição da servidão feudal na Áustria e na Hungria, no fim da monarquia absolutista na Dinamarca, no 
federalismo na Suíça, além de despertar o nacionalismo italiano e alemão, que resultou nas guerras de 
unificação em ambos os países, encerradas em 1870 e 1871, respectivamente. Por sua vez, a Rússia, sob 
alegação de proteção das minorias eslavas nos Bálcãs, tentou anexar a região da Crimeia, àquela época, 
parte do território do Império Otomano. Entretanto, com a intervenção de ingleses e franceses, a Rússia 
não atingiu seu objetivo.
A Guerra da Crimeia e as guerras de unificação da Itália e da Alemanha redesenharam o mapa da 
Europa e resultaram na formação de duas novas potências no quadro geopolítico europeu. Ainda assim, 
o sistema de equilíbrio europeu, que emergiu do Congresso de Viena exercido por meio da hegemonia 
coletiva das cinco grandes potências, tornou-se o centro do poder mundial a partir do qual ocorreu 
a expansão da sociedade europeia para todo o mundo durante o século XIX. O resultado do encontro 
da sociedade internacional europeia com as demais regiões do globo foi a construção de um sistema 
mundial, no qual os europeus determinaram as relações com os novos Estados (CERVO, 2007a).
35
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 7 – A Europa em 1871
Seja pela força, seja pela negociação de acordos, a Europa montou um efetivo esquema de 
dominação por todo o mundo. Aos novos Estados, era exigido que copiassem o modo de vida europeu 
em todas as áreas, incluindo a organização interna, o livre comércio externo e, sobretudo, os códigos 
e regras de conduta do Direito Internacional. Desse modo, conforme argumenta Amado Cervo (2007a, 
p. 48), a expansão europeia se deu em três dimensões: dominação estratégica, exploração econômica e 
imperialismo cultural. Em suas palavras:
O resto do mundo foi posto sob controle hegemônico do concerto dos 
europeus. A Revolução Industrial forneceu-lhes os meios, a sociedade 
internacional europeia, as regras, os princípios e os valores. A resistência 
era minguada. Os europeus iriam impor às sociedades menos complexas ou 
organizadas e também às grandes civilizações seu modo de fazer comércio e 
de explorar a terra e os recursos naturais, como também regras e instituições 
desenvolvidas na matriz do sistema. As reações aos mecanismos de 
dominação serviam para expandir regras e instituições, como efeito desejado 
ou odiado, pouco importava: honrar contratos e acordos e internacionais, 
garantir imunidades diplomáticas ou dos comerciantes, aceitar consulados.
36
Unidade I
A primeira grande região a ser integrada no processo de expansão da sociedade europeia de Estados 
soberanos foi a América. Uma vez superada a estrutura colonial, as jovens nações americanas foram 
aceitas como novos membros do sistema internacional organizado a partir da Europa. Para tanto, foi 
importante o apoio da França aos Estados Unidos, que, por motivos de estratégia, optou pelo lado 
norte-americano na Guerra de Independência desse país. Igualmente foi importante o reconhecimento 
da Grã-Bretanha à emancipação dos países latino-americanos, uma vez que permitiria a abertura de 
novos mercados aos produtos ingleses oriundos da Revolução Industrial. Criou-se, dessa forma, uma 
interdependência entre as economias latino-americana e europeia, que integrou a América Latina 
plenamente à economia internacional (CERVO, 2007a).
Nas décadas de 1850, o liberalismo econômico e comercial foi imposto aos imensos mercados da 
China e do Japão. O passo seguinte foi a integração da maior parte dos continentes africano e asiático 
ao capitalismo dos países centrais pelo instrumento do imperialismo. Na segunda metade do século XIX, 
ocorreu uma nova expansão colonialista europeia, após a expansão mercantilista do século XVI. Nessa 
segunda fase, a Europa empregou o discurso civilizatório para justificar o colonialismo promovido 
em direção à Ásia e à África. O “fardo do homem branco” era o compromisso ideológico de levar o 
desenvolvimento da sociedade industrial aos demais povos designados como menos avançados.
Inicialmente, o colonialismo europeu do século XIX foi feito sem um plano específico, com base 
apenas na expansão das forças do capitalismo industrial, na busca por matérias-primas e novos mercados. 
A colonização da Argélia pela França, por exemplo, iniciou-se pelas necessidades do livre comércio, que 
resultou na instalação de administração local pela conquista. Dessa forma, os europeus conquistaram os 
territórios da Ásia, África e Oceania, estabelecendo impérios coloniais em todo o mundo (CERVO, 2007a).
A estrada de ferro, o vapor e o telégrafo, frutos da segunda fase da Revolução Industrial, foram 
os meios empregados para expandir o espaço da moderna economia capitalista. Assim, a colonização 
foi um desdobramento do imperialismo industrial que marcou a expansão da sociedade internacional 
europeia na segunda metade do século XIX (HOBSBAWM, 1974).
O empreendimento colonial europeu chegou ao seu ápice na Conferência de Berlim, em 1884, 
quando as potências imperialistas dividiram entre si o continente africano, estabelecendo fronteiras 
artificiais conforme os interesses dos colonizadores. A corrida para a África teve início em 1876, quando 
a França empreendeu a colonização do interior da África ocidental a partir da costa de Senegal. A atitude 
francesa despertou oposição por parte de outras potências europeias, especialmente a Alemanha, que 
chegou tardiamente na corrida colonial.
Na Conferência de Berlim, em que participaram todas as potências europeias e os Estados Unidos, 
foi decidida a manutenção do livre comércio no espírito consensual do Concerto Europeu. Além disso, 
os participantes acordaram que as aquisições coloniais seriam reconhecidas por todos, desde que se 
procedesse a ocupação efetiva, aumentando a disputa colonial na África (DÖPCKE, 2007).
37
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 8 – A África em 1890
A expansão europeia, baseada no liberalismo econômico, também difundiu os valores da sociedade 
europeia: parâmetros econômicos e de produtividade, mentalidade e ciência, práticas políticas e padrões 
de organizações sociais. Esse conjunto de valores alcançou todos os continentes, seja pela dominação ou 
38
Unidade I
por meio de parcerias. Desse modo, a partir da Europa, formou-se um sistema internacional de alcance 
global (CERVO, 2007b).
3 O APOGEU DO SISTEMA INTERNACIONAL EUROPEU (1871-1914)
O Concerto Europeu foi o mecanismo regulador das relações internacionais predominante durante 
o século XIX. Com raízes na tradição anti-hegemônica e no equilíbrio de poder, baseava-se em normas 
e no consenso entre amigos. Sob a guarda desse sistema, a sociedade internacional europeia atingiu o seu 
ápice. Após as manifestações de inspiração na Revolução Francesa que se encerraram em 1848, o mundo 
burguês europeu empregou as forças da Revolução Industrial para expandir seus valores e padrões para 
todos os cantos do globo.
Foram décadas de prosperidade, de inovações técnico-científicas, de desenvolvimento das artes, de 
crescimento demográfico, de formação dos grandes impérios coloniais, de efervescência de novas ideias 
e ideologias. Do navio a vapor ao motor à combustão, do comunismo de Marx ao positivismo de Comte, 
dateoria do crescimento populacional em progressão geométrica de Malthus à teoria evolucionista 
de Darwin, do telégrafo ao telefone, do absolutismo ao constitucionalismo, da independência dos 
países americanos ao imperialismo europeu, do mercantilismo à moderna sociedade industrial, enfim, 
o longo século XIX, como se referiu o historiador Eric Hobsbawm, marcou a humanidade com rápidas 
transformações políticas, econômicas e sociais.
Entretanto, no limiar do século XX, toda essa pujança terminaria em um dos maiores conflitos 
de grande potencial destrutivo da humanidade: a Primeira Guerra Mundial, em 1914. Quem viveu a 
segunda metade do século XIX não perceberia facilmente que as raízes dos quatro anos de guerra que 
abalaram a Europa e o mundo foram lançadas a partir de 1871, após a unificação italiana e alemã. Difícil 
entender como o apogeu da sociedade internacional europeia coincide com o início de seu colapso, e, 
mesmo décadas após o término da Primeira Guerra Mundial, a investigação sobre suas causas levantou 
grandes debates entre os estudiosos (HOBSBAWM, 1974).
De todos os modos, o período de 1871 a 1914 é caracterizado pelo apogeu da hegemonia global 
do sistema europeu no mundo, embasada na vantagem da industrialização. Contudo, ainda que as 
potências do Concerto Europeu fossem as mesmas depois de 1871, a balança de poder entre elas 
alterou-se significativamente após a unificação alemã comandada pela Prússia. Esse Estado era o mais 
fraco entre as cinco grandes potências, porém, com a formação do Império Alemão, elevou-se para uma 
posição de potencial hegemonia no continente (DÖPCKE, 2007).
Além dos ganhos territoriais, a Alemanha unificada investiu pesadamente na industrialização 
e na corrida colonial. E era a dinâmica da industrialização, diferenciada em cada Estado europeu, 
que determinava a sua posição relativa de poder no sistema de Estados. Assim, rapidamente, a 
Alemanha tornou-se uma grande potência na Europa central, atemorizando as demais potências do 
Concerto Europeu.
Analisaremos a dinâmica do equilíbrio europeu após 1871, considerando as transformações que 
resultaram no colapso da Ordem de Viena com a deflagração da Primeira Guerra Mundial em 1914. 
39
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Inicialmente, analisaremos o quadro geopolítico que emergiu na Europa após a conclusão das unificações 
italiana e alemã. Em seguida, vamos compreender o quadro econômico a partir do qual se processou o 
imperialismo e a hegemonia europeia no mundo.
Depois, abordaremos os movimentos da política externa alemã no período estudado: o primeiro se 
estende até 1871 a 1890, quando a geopolítica e diplomacia europeia foram determinadas pela política 
de alianças difundida pelo chanceler alemão Otto von Bismarck; o segundo período abrange desde a 
saída de Bismarck em 1890, que marcou o início de uma política externa alemã mais agressiva, até 
a deflagração geral da guerra no continente europeu em 1914 (DÖPCKE, 2007).
3.1 Tendências na geopolítica europeia após 1871
O contexto político europeu na segunda metade do século XIX foi delineado pelo resultado das 
guerras de unificação alemã. A Prússia, reino mais avançado no processo de industrialização no 
espaço germânico, liderou a centralização da Alemanha, dando origem ao Império Alemão. Durante o 
processo de unificação, a Prússia derrotou a Dinamarca na Guerra dos Dois Ducados e incorporou os 
ducados de Holstein e Schleswig ao norte. Em seguida, derrotou a Áustria na Guerra Austro-prussiana 
e anexou Estados germânicos ao sul.
Por fim, após um desentendimento com a França sobre a sucessão ao trono espanhol, a Prússia foi 
à guerra contra os franceses, derrotando-os em 1871. No tratado de paz, a Alemanha-Prússia impôs 
duras condições à França, pois queria enfraquecê-la. Além da anexação da região da Alsácia e da Lorena 
pela Prússia, a França foi obrigada a arcar com indenização de guerra e ainda foi humilhada com uma 
marcha triunfal alemã ao longo dos Campos Elíseos (VIDIGAL, 2011).
À fundação do Império Alemão após as guerras de unificação seguiu-se um processo de industrialização 
acelerada, que transformou a Alemanha em uma potência continental com potencial de hegemonia 
sobre a Europa (DÖPCKE, 2007). Seus atributos militares, econômicos e demográficos superavam em 
número e condições a França, maior potência continental até então. A meta da Alemanha unificada era 
igualar-se à Grã-Bretanha, uma grande potência marítima que construíra um Império além-mar a partir 
do equilíbrio europeu. O ano de 1871, portanto, deu início ao colapso da ordem de Viena. Conforme 
argumenta Vidigal (2011, p. 314):
A completa derrota da França, que culminou com o fim do Segundo 
Império Francês, criou novo equilíbrio de poder na Europa, com a Alemanha 
substituindo a França como potência hegemônica no continente europeu. 
É verdade que o equilíbrio era apenas aparente, já que o poder da 
Alemanha representava, definitivamente, o fim do sistema criado com o 
Congresso de Viena.
Entretanto, a Alemanha, sob orientação de uma política externa de equilíbrio comandada por 
Bismarck, não chegou a transformar esse potencial em uma prática política consistente. A política 
externa alemã, enquanto Bismarck foi chanceler, era guiada mais pela ideia de vulnerabilidade do Império 
Alemão frente às coalizões inimigas do que por uma lógica de exercício de poder como principal potência 
40
Unidade I
do continente europeu. Dessa forma, ainda que as condições econômicas e militares permitissem que 
a Alemanha exercesse maior predominância na Europa, a política externa cautelosa conduzida por 
Bismarck fez com que o equilíbrio do Concerto Europeu perdurasse até 1890. Porém, a partir dessa data, 
o Império Alemão passou a agir como uma potência mundial não satisfeita, atemorizando os demais 
países europeus (DÖPCKE, 2007).
Enquanto a Alemanha crescia em status e poder na Europa, a França, por sua vez, após a derrota 
na Guerra Franco-prussiana, perdeu seu potencial hegemônico. Mergulhada em problemas internos, a 
França não conseguiu acompanhar o rápido desenvolvimento industrial e militar dos alemães, o que 
tornou obsoleta sua estratégia geopolítica e seu exercício do equilíbrio de poder no Concerto Europeu.
Da mesma forma, a Áustria, dividida em uma monarquia dual congregando também a Hungria, 
via-se em vertiginoso declínio na segunda metade do século XIX. Tal fato acontecia devido à grande 
heterogeneidade étnica que compunha o Império Austro-húngaro que constantemente gerava 
instabilidades e conflitos internos. Além disso, a Áustria foi a única potência que ficou de fora da corrida 
colonialista e ainda se viu em atraso econômico frente à Alemanha.
A Rússia, após sua rápida expansão para leste até o Alaska, possuía uma imensa população, porém 
era um país economicamente agrário e atrasado no quesito industrialização. Sua política externa 
permanecia orientada para a expansão territorial, tanto a leste em territórios hoje chineses, quanto a 
oeste na região dos Bálcãs e partes do Império Otomano. Este, à medida que o século avançava, via-se 
cada vez mais enfraquecido e sofria lentamente um processo de desintegração, que criava pretexto para 
disputas territoriais entre a Rússia e Áustria.
A Itália unificada não chegou a gozar o status de grande potência no quadro geopolítico europeu devido 
ao seu atraso econômico e à insuficiência militar. Nas poucas vezes em que foi convidada a participar do 
processo decisório entre as grandes potências, era apenas por uma questão de cortesia (DÖPCKE, 2007). 
Dessa forma, olhando para o contexto geopolítico europeu após 1871, a Alemanha se sobressai de modo 
incontestável como grande potência continental, uma vez que o conceito de grande potência ainda estava 
atrelado à capacidade de fazer a guerra, que, naquele período, correspondia à força industrial de cada Estado.
Ainda no círculo europeu, porém fora do âmbito continental, a Grã-Bretanha vivia o auge de seu 
desenvolvimento econômico e industrial,possuía força militar, especialmente naval, de grande prestígio 
e havia formado um Império Colonial de grande extensão, no qual “o sol jamais se punha”. A Grã-Bretanha 
era a maior potência marítima da época, com presença naval em todos os mares do globo. Porém, sua 
política externa correspondia a uma orientação de não intervenção nos assuntos do continente, ao passo 
que se esforçava pela manutenção de seu grande Império ultramarino. Sem dúvida, a Grã-Bretanha era 
a única grande potência europeia capaz de fazer frente ao crescente poderio alemão, mas optava por 
manter seu “isolamento esplêndido” e direcionar sua política para fora do continente europeu.
Em escala mundial, embora o poderio europeu sobre o mundo fosse incontestável, já era notável 
a ascensão de outras potências fora do âmbito europeu. No continente americano, os Estados 
Unidos, após a Guerra de Secessão, atingiram a condição de primeira potência industrial do mundo, 
suplantando a Grã-Bretanha. Na Ásia, também o Japão praticava, em âmbito interno, uma política de 
41
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
transformação de uma economia agrária para um país industrializado e forte militarmente. Em âmbito 
externo, o Japão desafiou a hegemonia europeia e derrotou a Rússia na disputa pela Manchúria em 
1905, demonstrando sua pretensão ao status de grande potência (DÖPCKE, 2007).
A ascensão de novas grandes potências alheias ao Concerto Europeu tornava gradualmente esse 
mecanismo obsoleto no gerenciamento do sistema internacional. Da mesma forma, é ainda importante 
considerar outros elementos que influenciaram nas questões geopolíticas após 1871, isto é, as forças 
profundas que contribuíram para o esmorecimento do Concerto Europeu. A mais importante, no 
período que estamos estudando, foi o nacionalismo, habilmente manejado por instituições, partidos 
políticos e a mídia. 
Na primeira metade do século XIX, o nacionalismo associava-se à autodeterminação dos povos, à 
democracia e à soberania popular. Porém, já na segunda metade do século, o nacionalismo ganhou apelo 
à identidade e ao interesse nacional, ao patriotismo de massas, radical e integrista. Por conseguinte, essa 
nova onda de nacionalismo no continente europeu resultou no militarismo, ou seja, em uma crescente 
busca por meios bélicos que influenciou diretamente no processo decisório em política externa. Nos 
Bálcãs, esses nacionalismos foram responsáveis pelo aumento das tensões entre as potências da Europa 
oriental, isto é, a Áustria e a Rússia (DÖPCKE, 2007).
Todos esses fatores apontam uma imensa instabilidade no quadro geopolítico europeu na segunda 
metade do século XIX, e não foi possível encontrar soluções diplomáticas permanentes apenas em 
âmbito do Concerto Europeu. As crises que surgiam, uma após outra, foram solapando a ordem de Viena 
e empurrando as nações para a Primeira Guerra Mundial.
3.2 Economia e relações internacionais
No período entre 1871 e 1914, a economia capitalista industrial alcançou seu auge nos países 
desenvolvidos. O imperialismo do capital, ao qual Lenin chamou de “fase superior do capitalismo”, 
chegou a todos os recantos do planeta, transformando a economia internacional em uma única 
economia global. O liberalismo foi o slogan dessa fase, o que resultou em menos impedimentos para a 
movimentação de capital e ativos produtivos. As grandes potências econômicas, França, Grã-Bretanha, 
Alemanha e Estados Unidos, realizaram investimentos de grande volume no exterior (DÖPCKE, 2007).
Como consequência direta da mundialização da economia internacional, circunscreveu-se uma 
visível divisão internacional do trabalho, em que ficou patente a crescente diferença entre as economias 
industrializadas e exportadoras de capital, hoje, os chamados países desenvolvidos, e aquelas exportadoras 
de matérias-primas, os países em desenvolvimento. Nesse período, a expansão dos grandes impérios 
coloniais modelou o mundo econômico não só à época, como também deixou reflexos na atualidade. 
Hobsbawm (1988, p. 56), ao analisar a formação dos imensos impérios coloniais no final do século XIX, 
associa-os ao dinamismo da expansão da economia capitalista no mundo pós-Revolução Industrial:
Era muito provável que uma economia mundial cujo ritmo era determinado 
por seu núcleo capitalista desenvolvido ou em desenvolvimento se 
transformasse num mundo onde os “avançados” dominariam os “atrasados”; 
em suma, num mundo de império. [...] A supremacia econômica e militar dos 
42
Unidade I
países capitalistas há muito não era seriamente ameaçada, mas não houvera 
nenhuma tentativa sistemática de traduzi-la em conquista formal, anexação 
e administração entre o final do século XVIII e o último quartel do século XIX. 
Isto se deu entre 1880 e 1914, e a maior parte do mundo, à exceção da 
Europa e das Américas, foi formalmente dividida em territórios sob governo 
direto ou sob dominação política indireta de um ou outro Estado de um 
pequeno grupo: principalmente Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, 
Holanda, Bélgica, EUA e Japão.
Como observado por Hobsbawm (1988), Estados Unidos e Japão figuravam entre as grandes 
potências imperialistas, apesar da supremacia europeia. A Europa dominava a exportação de 
produtos industriais e capitais, bem como o comércio internacional. Cerca de dois terços de tudo 
que era exportado correspondia à produção europeia. Entre os Estados europeus, a Grã-Bretanha 
era o maior exportador de produtos industrializados, o maior exportador de capitais, de serviços 
financeiros e comerciais e de serviços de transportes. Londres tornou-se o centro financeiro mundial, 
por onde passavam todas as transações financeiras internacionais, e ditou o ritmo econômico do 
capitalismo industrial. A Grã-Bretanha se convertera na “oficina do mundo”, patrocinando a maior 
parte das inovações tecnológicas do período estudado.
Ainda que o domínio econômico europeu fosse incontestável, na virada do século, já era perceptível 
o surgimento de um novo polo industrial fora da Europa: os Estados Unidos. No início do século XX, 
os norte-americanos, após uma rápida industrialização, tornaram-se o líder industrial do mundo, 
suplantando a Grã-Bretanha. O crescimento econômico dos Estados Unidos, contudo, até 1913, era 
orientado para o mercado interno, sendo que sua participação no comércio internacional era de apenas 
10% do total mundial. O peso da participação norte-americana nas relações internacionais do período, 
por conseguinte, ainda era pouco expressivo (DÖPCKE, 2007).
Também no continente europeu, na virada do século, ocorreu uma redistribuição do poder 
econômico entre as potências, isto é, o relativo declínio da Grã-Bretanha no período de acentuada 
depressão na década de 1870 e o avanço determinado da Alemanha. Entre 1880 e 1913, a produção 
e exportação industriais alemãs passaram de menos da metade da inglesa para um nível ainda 
superior às da Grã-Bretanha. No mesmo período, países menores em torno do núcleo central da 
industrialização europeia avançavam no desenvolvimento industrial, como Rússia, Holanda, Bélgica 
e Hungria. Entretanto, a depressão, seguida de um rápido processo de industrialização, conduziu as 
economias europeias para um abismo protecionista, cujo resultado foi o aumento de rivalidades em 
que os ganhos de umas pareciam ameaçar as outras (HOBSBAWM, 1988).
Conforme explica Döpcke (2007, p. 88), esse quadro de rivalidades econômicas foi um dos fatores 
que resultaram na Primeira Guerra Mundial:
A partir da década de 1870, ganhou espaço a ideia de se tratar toda a economia 
nacional como conjunto produtivo digno de proteção e de incentivo pelo 
Estado. A competição econômica entre empresas, no mercado mundial, 
articulou-se crescentemente como competição entre interesses nacionais 
43
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
dos Estados-nação. Do ponto de vista da política exterior, isso causou a 
volta ao protecionismo, à guerra alfandegária, e ao emprego do poder 
político-estatal na defesa e na manutençãode esferas de influências externas.
Os antagonismos econômicos repercutiram nos interesses geopolíticos, o que contribuiu para o 
clima de tensão que resultaria no grande conflito de 1914. Hobsbawm (1988) ainda lembra que 
o protecionismo industrial, por outro lado, ajudou a ampliar a base industrial do mundo, uma vez 
que incentivou as indústrias nacionais a produzirem visando os mercados internos de seus países.
O mercado interno crescia substancialmente, com cada vez mais compradores de bens e serviços e 
cada vez menos dependentes das economias rurais. Tal cenário se deve, em grande medida, ao aumento 
da proporção da população que vivia em cidades, saltando de uma média de 19% em 1850 para 41% 
em 1910, nas regiões da Europa e dos Estados Unidos (HOBSBAWM, 1988). O crescimento de centros 
urbanos ampliava a demanda por bens de consumo manufaturados.
De forma geral, as características importantes da economia internacional no período estudado, que 
contribuem para a compreensão das forças profundas à época, foram resumidas por Hobsbawm (1988) 
em sete tópicos: 
• Ampliação da base geográfica do capitalismo, que ganhou dimensão global.
• Por conseguinte, a economia mundial tornou-se mais pluralistas do que antes, ou seja, a Grã-Bretanha 
deixava de ser o único polo industrial, na medida em que outros países europeus e também além 
da Europa, como os Estados Unidos, tornavam-se economias industriais. Esse processo ampliou a 
rivalidade entre os Estados, que competiam por mercados e matérias-primas. 
• No final do século XIX, ocorreu uma segunda Revolução Industrial, isto é, um novo avanço 
tecnológico que inaugurou a era do automóvel, do telefone, da energia elétrica, do avião.
• Ocorreu uma transformação na estrutura da empresa capitalista, com a formação de grandes 
conglomerados industriais e grandes empresas que aplicavam um método mais racional e 
científico no processo de produção, adotando uma rígida divisão de tarefas.
• Houve uma mudança significativa no mercado consumidor, que aumentou não só em número, 
devido ao crescimento populacional, como também em qualidade, uma vez que a demanda, antes 
centrada em bens de consumo de necessidade básica, alimentos e vestuário, ampliou-se para 
outros bens que promoviam maior comodidade à vida cotidiana, como o fogão a gás. 
• Ampliação acentuada do setor de serviços, tanto público quanto privado, tais como bancos e comércio. 
• Crescente convergência entre política e economia, cujo fortalecimento dos nacionalismos teve 
consequência direta nas questões geopolíticas da época.
44
Unidade I
3.3 A diplomacia de Bismarck
Após a unificação da Alemanha, ocorrida em 1871, a política internacional europeia foi habilmente 
manipulada pela diplomacia de Otto von Bismarck. Conhecido como “o chanceler de ferro”, Bismarck, 
nascido na Prússia em 1815, foi um diplomata e político alemão de grande destaque entre os estadistas 
do século XIX. Conservador e monarquista, Bismarck ocupou o cargo de primeiro-ministro do Reino da 
Prússia a partir de 1862 e empregou seu prestígio e habilidade junto ao rei da Prússia para conduzir o 
processo de unificação da Alemanha desde a Prússia, isolando a influência austríaca.
A unidade alemã foi forjada a partir de uma aliança entre junkers, isto é, nobres grandes proprietários 
de terras e a nascente burguesia industrial, cuja identidade pautou-se na retórica do nacionalismo 
alimentado pelas guerras externas. Na pintura a óleo de Anton von Werner, de 1885 (figura a seguir), 
é possível ver Bismarck ao centro, de roupas claras, na sagração de Guilherme I, rei da Prússia, como 
imperador da Alemanha, no Palácio de Versalhes em 18 de janeiro de 1871, data da fundação do Império 
Alemão. A posição de destaque de Bismarck na pintura é uma alegoria de seu poder e influência tanto 
na política interna quanto externa na corte alemã.
Figura 9 – Proclamação do Império Alemão
Uma vez formado o Império Alemão, Bismarck foi nomeado primeiro-ministro e ministro das relações 
exteriores da Alemanha. Como chanceler, seu objetivo principal era garantir a integridade do Império 
contra os vizinhos, temerosos da hegemonia alemã no continente e especialmente contra uma possível 
revanche francesa após a derrota e perda da Alsácia-Lorena para a Alemanha em 1871 (DÖPCKE, 2007).
Nesse sentido, a política exterior praticada por Bismarck tinha como principal característica a 
manutenção do status quo, isto é, da condição alcançada pela Alemanha no momento de formação 
do Império Alemão. Tal política conduzida pelo chanceler alemão implicava os seguintes tópicos: evitar 
o aumento do poderio alemão, de modo a não causar suspeitas ou medo demasiado entre as demais 
potências europeias; manter a paz na Europa Central; isolar a França, que poderia ameaçar a posição 
alemã caso esta se aliasse a outras potências; evitar participar da corrida colonial, para não se envolver 
em conflitos diretos com a França ou a Grã-Bretanha.
45
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Considerando a primeira estratégia da diplomacia de Bismarck, o chanceler alemão deixou de lado o 
potencial de investimento em uma política de poder com o objetivo de convencer a Europa de que o Império 
Alemão era uma potência satisfeita com sua condição militar e territorial no centro do continente 
europeu. Bismarck entendia que o desinteresse por qualquer tipo de aumento de poder, naquele 
momento entendido como expansão territorial, evitaria a constituição de coligações ou alianças contra 
a Alemanha. Com vistas a alcançar as duas próximas metas, Bismarck investiu em um sistema de alianças 
formais de caráter permanente, conhecido como “sistemas de Bismarck”, que, no início do século XX, 
colocaria um ponto final ao esquema de coordenação mútua entre as potências do Concerto Europeu, 
resultando em bipolaridade (DÖPCKE, 2007).
Para manter a paz no centro da Europa, Bismarck articulou o Tratado dos Três Imperadores em 
1872, reunindo a Rússia e a Áustria-Hungria, além da Alemanha. Em comum, todos esses Estados 
caracterizavam-se pela adoção de um sistema político de monarquias conservadoras, pouco adeptas ao 
liberalismo britânico. Porém, a tarefa de conciliar os interesses russos e austríacos na região do Bálcãs 
necessitou de um grande esforço por parte do habilidoso chanceler alemão.
A Rússia tinha interesse em expandir sua influência pelo território europeu do Império Otomano 
em regiões onde predominava a etnia eslava, atual Sérvia. Esses grupos haviam se revoltado contra o 
imperador turco, acirrando as tensões nacionalistas que ameaçavam desintegrar o Império Otomano, 
especialmente em sua porção europeia. Partes desse território eram também pretendidas pela 
Áustria-Hungria, colocando as monarquias austríaca e russa em rota de colisão. Diante desse dilema, 
Bismarck optou pela neutralidade, atitude que indignou a Rússia, pois esta exigiu uma incontestável 
posição da Alemanha a seu favor.
Nesse contexto de acirramento de tensões, a Aliança dos Três Imperadores acabou sendo deixada 
de lado; contudo, Bismarck insistia em evitar uma guerra entre as principais potências da Europa 
Central. Uma vez fracassada a iniciativa de agrupá-las em uma única aliança, Bismarck optou por 
fechar acordos individuais e secretos de forma a neutralizar as tensões. Em 1879, celebrou o Tratado 
da Dupla Aliança com a Áustria-Hungria, que, posteriormente, em 1882, incluiria a Itália, dando 
origem à Tríplice Aliança. Tal acordo, de caráter defensivo, previa ajuda mútua em caso de guerra.
A Rússia, em 1881, demonstrou interesse em retornar ao Tratado dos Três Imperadores, recebendo, 
por conseguinte, apoio da Alemanha, que mediou as áreas de influência nos Bálcãs entre Rússia e 
Áustria-Hungria. Entretanto, uma crise iniciada na Bulgária em 1885, devido à sucessão dinástica, opôs 
novamente russos e austríacos, levando a crer que uma guerra entre os dois Estados seria inevitável. 
Bismarck, contudo, para dissuadir a Rússia e manter a paz na Europa Central, colocou-se a favorda 
Áustria-Hungria, expondo o acordo da Tríplice Aliança. A Rússia, frustrada, afastou-se do Tratado dos 
Três Imperadores, que foi encerrado definitivamente.
Na tentativa de manter a Rússia sobre o radar alemão, Bismarck firmou com o Império Russo 
um acordo secreto chamado de Tratado de Resseguro, em 1887, que previa neutralidade recíproca 
em caso de uma guerra. Por outro lado, no mesmo ano, o chanceler alemão procurou fechar acordos 
no Mediterrâneo, incluindo a Grã-Bretanha, a Áustria-Hungria e a Itália, com o objetivo de conter o 
46
Unidade I
expansionismo russo nos Bálcãs. Conforme observa Döpcke (2007), esse sistema de alianças de Bismarck 
tornou-se muito complicado e contraditório, insustentável em longo prazo.
O jogo diplomático realizado por Bismarck obteve sucesso quanto ao objetivo de manter a paz na Europa 
Central até sua saída da chancelaria alemã, em 1890. O sistema de alianças também foi um instrumento 
útil para atingir o terceiro objetivo listado: isolar a França. Ocupada em sua expansão colonial, a França 
estava em constante atrito diplomático com a Grã-Bretanha e a Rússia, devido à corrida colonialista, e se 
viu completamente cercada pelas alianças alemãs, que também alcançaram a Espanha, a Romênia e 
a Turquia. O isolamento francês só seria superado pela aproximação com a Rússia, após esta romper com a 
Alemanha devido ao impasse com a Áustria-Hungria.
Por fim, o quarto objetivo, não participar da corrida colonial empreendida pelas demais potências 
europeias, estava estritamente relacionado com o processo de consolidação interna do Império Alemão. 
Na visão de Bismarck, a afirmação da Alemanha como potência absoluta da Europa Central era o 
centro de sua política externa, de forma a concretizar objetivos internos de manter a estabilidade entre 
proprietários rurais e a nascente burguesia. Nesse contexto, a aventura de uma corrida colonial, além 
de incorrer no risco de atrair a formação de uma coligação de Estados liberais contra a Alemanha 
conservadora, poderia também incorrer em desentendimentos internos.
Importa concluir que Bismarck, enquanto grande estadista alemão, foi um homem de seu tempo, 
influenciado pela sua origem, junker, e pelas condições sociopolíticas e econômicas da Alemanha no 
século XIX. Seu gênio apurado para as negociações diplomáticas conseguiu manter a paz e o consenso 
construídos no Congresso de Viena. A política do chanceler alemão em longo prazo, contudo, não foi 
suficiente para amenizar as consequências da posição hegemônica que o Império Alemão ocupava na 
Europa, nem foi capaz de superar o remorso francês gerado ao fim da Guerra Franco-prussiana. À medida 
que o século XX caminhava para a segunda década, o sistema de alianças de Bismarck mergulhava as 
potências europeias em um dilema de segurança que resultou na Primeira Guerra Mundial.
3.4 O despertar da bipolaridade na Europa
Após 1890, uma série de fatores modificou a intricada geopolítica europeia construída por Bismarck, 
aproximando, a cada momento, o conflito mundial de 1914. Um dos fatos de maior destaque foi a saída 
do Bismarck do ministério das relações exteriores alemão. No processo de sucessão imperial, Guilherme I 
 foi sucedido por seu filho, Frederico III, em março de 1888. Porém, Frederico sofria de câncer e ficou no 
trono por apenas três meses e morreu, deixando o caminho livre para ascensão de seu filho, Guilherme II. 
O novo imperador ficou conhecido por seu gênio impetuoso, militarista e nacionalista e, sobretudo, pela 
dificuldade de lidar com a política externa. Sob seu reinado, teve início um novo processo de inserção 
internacional do Império Alemão, que passava de potência continental europeia para uma potência com 
aspirações mundiais.
Essa nova fase da diplomacia alemã subestimou o jogo político de alianças antes tão bem desenvolvido 
com toda a cautela por Bismarck. Para os dirigentes da nova política externa do Império Alemão, não 
era possível a formação de uma aliança entre Rússia e França devido às marcantes diferenças de regime 
político e ideologias (Império absolutista russo em contraponto à democracia liberal francesa). Por isso, o 
47
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
imperador Guilherme II priorizou a parceria estratégica com a Áustria-Hungria, cuja aliança possibilitaria 
a construção de uma linha férrea que ligaria Berlim à Bagdá, no Oriente Médio, desgostando os russos por 
causa da disputa territorial nos Bálcãs com a Áustria-Hungria. Para a Alemanha, a ferrovia inauguraria 
uma nova rota para a expansão dos mercados externos e matérias-primas, entendidos como essenciais 
ao desenvolvimento econômico alemão.
Além disso, a Alemanha não deu continuidade ao Tratado do Resseguro com a Rússia e empenhou-se 
ainda em uma disputa comercial com Moscou. Tal circunstância criou a brecha perfeita muito esperada 
pela França para superar seu isolamento diplomático imposto por Bismarck desde 1871. Após várias 
negociações realizadas entre 1891 e 1894, a França finalmente concluiu uma aliança com a Rússia, 
de caráter defensivo, que previa ajuda militar mútua em caso de um dos parceiros ser atacado pela 
Áustria-Hungria ou pela Alemanha. A aproximação entre França e Rússia conseguiu quebrar a hegemonia 
alemã, restabelecendo temporariamente o equilíbrio no continente europeu (DÖPCKE, 2007).
O entendimento formal franco-russo, contudo, atemorizou o Império Alemão, pois criava um 
quadro estratégico complicado, com possibilidade de guerra em duas frentes. A Alemanha, diante 
desse intricado jogo geopolítico, tentou retomar a aproximação com a Rússia, porém não obteve êxito, 
voltando-se então para a Grã-Bretanha. Os britânicos, por sua vez, desde a Guerra da Crimeia, haviam se 
afastado da política continental europeia para se dedicarem exclusivamente à formação de seu Império 
além-mar, o que resultou em conflitos de interesse com franceses e russos. Com isso em mente, os 
dirigentes da política externa alemã acreditaram que seria fácil construir um entendimento com a 
Grã-Bretanha, aproveitando o antagonismo britânico em relação à França e à Rússia na corrida colonial.
A princípio, a aproximação com a Grã-Bretanha obteve bons resultados, uma vez que a Alemanha 
obteve o apoio britânico no continente europeu em troca de concessões coloniais. Entretanto, houve 
desentendimentos quanto a interesses no Oriente Médio e na África, esfriando a relação entre as duas 
potências. Ademais, a chamada Weltpolitik, isto é, a política mundial alemã, criou pânico entre os 
britânicos, pois previa a formação de uma grande Marinha de Guerra que deveria igualar-se em poderio 
à Marinha Britânica. A Grã-Bretanha considerou o programa de construção naval alemão uma ameaça 
aos seus interesses e a sua segurança territorial e respondeu com novos e pesados investimentos em 
armamento, aproximando-se diplomaticamente da Rússia e da França.
 Observação
O termo alemão Weltpolitik refere-se à política externa de alcance 
global praticada pela Alemanha após a ascensão de Guilherme II ao trono 
do Império. Conforme explica Döpcke (2007), por meio dessa nova política 
externa, a Alemanha passou a reivindicar igualdade em escala mundial, 
tais como outras grandes potências à época. A ideia central dessa política 
era que nenhuma outra potência poderia decidir qualquer assunto em 
termos de política mundial, em qualquer lugar do mundo, sem antes 
consultar a Alemanha. Porém, além do discurso de ambição global, a nova 
política externa alemã não tinha nenhum objetivo ou meta concreta de 
realização da Weltpolitik.
48
Unidade I
A Weltpolitik da Alemanha resultou no fim da política externa britânica de distanciamento do 
continente europeu. Com a França, a Grã-Bretanha concluiu um acordo, a Entente Cordiale, em 1904, 
para acertarem desentendimentos coloniais na África e na Ásia; e com a Rússia, foi acertado um acordo, 
em 1907, também com a intenção de resolver problemas de disputas coloniais. A Alemanha, contudo, 
entendeu esses pactos como dirigidoscontra si, aumentando as tensões no continente europeu.
O clima de desconfiança associado à mobilização militar, às crises coloniais na África e às disputas 
territoriais nos Bálcãs resultou na formalização dos entendimentos entre Grã-Bretanha e França e 
Grã-Bretanha e Rússia, formando uma única aliança, a Tríplice Entente. Desde então, o sistema multipolar 
e consensual do Concerto Europeu de 1815 foi substituído por duas alianças antagônicas que agregavam 
as maiores potências europeias, dando origem a um sistema bipolar, isto é, à formação de dois polos de 
poder rivais. Portanto, a partir de 1907, os futuros adversários da Primeira Guerra Mundial estavam em 
dois blocos opostos: a Tríplice Aliança, que reunia, desde 1882, Alemanha, Itália e Áustria-Hungria; e a 
Tríplice Entente, formada por Rússia, Grã-Bretanha e França (DÖPCKE, 2007).
As duas alianças antagônicas formavam dois eixos no continente europeu, conforme pode ser 
observado na figura a seguir.
Figura 10 – Alianças militares em 1914: Tríplice Entente x Tríplice Aliança
49
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Essas crises e tensões entre as grandes potências, polarizadas em duas alianças, se agravaram 
dramaticamente depois de 1911 e, apesar das tentativas de entendimentos pontuais, levaram o 
continente europeu em uma espiral dramática de conflitos que culminou na Primeira Guerra Mundial.
4 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Na manhã do dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo, capital da província da Bósnia, o estudante 
bósnio Gavrilo Princip assassinou a tiros o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono 
austro-húngaro, e também sua esposa, Sofia. O incidente inflamaria os ânimos já acirrados em toda a 
Europa, resultando em um dos mais longos e mortais conflitos da humanidade, que marcou o início do 
“breve século XX”, nas palavras de Hobsbawm (1995).
Desde 1815, não havia acontecido uma grande guerra, ou seja, uma guerra que envolvesse todas as 
grandes potências, ou ao menos a maioria delas. Houve apenas uma breve guerra, a Guerra da Crimeia, 
entre 1855-1856, em que combateram três potências: Rússia de um lado e França e Grã-Bretanha de 
outro. Não havia guerras mundiais antes de 1914, tanto que, inicialmente, esse conflito bélico ficou 
conhecido como “a Grande Guerra”, e foi nessa guerra que se envolveram todas as potências europeias, 
além de tropas com soldados das colônias de ultramar. Canadenses, australianos, neozelandeses, indianos, 
chineses, entre outros lutaram ao lado de suas metrópoles (HOBSBAWM, 1995).
Na mentalidade dos líderes políticos e generais, e também da população em geral, até 1914, as guerras 
duravam poucos meses, ou mesmo semanas. Ninguém esperava que o conflito que ficou conhecido 
como Primeira Guerra Mundial duraria quatro longos anos. Em 1914, os europeus partiram alegremente 
para o front, soldados eram aplaudidos nas ruas, seguros de que, em breve, dentro de poucos meses, 
retornariam para comemorar a vitória da causa de sua pátria (ARARIPE, 2011).
A Primeira Guerra Mundial foi uma guerra total. Não apenas soldados foram para o front, mas 
toda a sociedade foi mobilizada. Por meio de propagandas patrióticas, indústrias, hospitais, mulheres, 
desenvolvimentos tecnológicos, toda a economia foi voltada para o esforço de guerra. Foi também a 
primeira guerra em que foram empregados aeronaves e submarinos, dando às operações bélicas uma 
nova dimensão estratégica em longo alcance, nas profundidas oceânicas e no espaço aéreo. O gás 
venenoso também foi empregado em campos de batalha, onde se revelou cruel, barbado e ineficaz, 
resultando em repulsa geral como arma de guerra, prescrito na Convenção de Genebra de 1925. De fato, 
não mais viria a ser empregado na Segunda Guerra Mundial.
As consequências da Primeira Guerra Mundial repercutiram durante todo o século XX. O mapa 
mundial foi alterado radicalmente. Os grandes Impérios desapareceram – Alemão, Austro-húngaro, 
Russo, Turco –, uma revolução socialista aconteceu na Rússia, o nazifascismo chegou ao poder na 
Alemanha e na Itália, os Estados Unidos tornaram-se a maior potência global, genocídios e holocausto 
horrorizaram a humanidade, seguidos pelos termos da guerra nuclear e pela destruição total na Guerra 
Fria. Esta foi a última guerra dos nacionalismos do século XIX e inaugurou a era das guerras e dos 
conflitos mundiais e ideológicos do século XX. Conforme conclui Luiz de Alencar Araripe (2011, p. 319), 
“a Grande Guerra foi a mãe das guerras do século XX”. E o mais importante: a Primeira Guerra Mundial 
50
Unidade I
colapsou completamente o sistema europeu de Estados lançado no Congresso de Viena em 1815 e deu 
origem a um sistema global, regulamentado por instituições multilaterais mundiais.
4.1 O estopim da Primeira Guerra Mundial
A Península Balcânica era o barril de pólvora europeu desde que o Império Otomano entrou em 
franca decadência, em meados do século XIX. Composta por diversas etnias, a região era fragmentada 
em diversas identidades nacionais e, além disso, no início do século XX, disputada entre duas grandes 
potências, Rússia e Áustria-Hungria, e uma potência regional, a Sérvia. Esta tinha como propósito 
político reunir todos os povos de origem eslava na Península Balcânica em um único Estado, a Grande 
Sérvia ou a Iugoslávia, que significa “Eslavos do Sul”.
 Observação
A Península Balcânica é uma região no sudeste do continente europeu 
em que predomina uma cadeia montanhosa chamada de Bálcãs. Localizada 
entre o mar Mediterrâneo, a Europa e a Ásia, a região é habitada por povos 
de diversas origens, sendo, portanto, etnicamente muito fragmentada. 
Atualmente a Península Balcânica compreende os seguintes países: Croácia, 
Sérvia, Eslovênia, Albânia, Bulgária, Montenegro, Bósnia-Herzegovina, 
Grécia e a parte europeia da Turquia.
O Império Austro-húngaro, contudo, frustrou os planos da Sérvia ao anexar, em 1908, a Bósnia e 
Herzegovina, província do Império Otomano composta por eslavos, croatas e bósnios, ao seu território. 
A anexação atiçou o nacionalismo sérvio, muito embora não tivesse capacidade bélica para se opor a uma 
grande potência como a Áustria-Hungria. No entanto, a Sérvia tinha apoio da Rússia, que neutralizava e 
acuava o avanço austro-húngaro na região.
A iniciativa do Império Austro-húngaro de absorver parte da Península Balcânica contrariava as 
disposições do Tratado de Berlim, de 1878, que reconhecia a posse da região pelo Império Otomano, e 
serviu para acirrar o nacionalismo sérvio dentro e fora das fronteiras da Bósnia, estimulado pelo apoio 
do Império Russo e de seu czar, Nicolau II (NETTO et al., 2014). Além disso, Francisco Ferdinando, futuro 
sucessor do imperador austríaco Francisco José, tinha um perfil mais liberal, cujos planos de governo 
incluíam o objetivo de conceder maior autonomia às províncias eslavas do Império. Isso desagradava a 
Sérvia, que ainda almejava incorporar a Bósnia em seu território, formando a Grande Sérvia.
Foi nesse contexto de exaltação nacionalista que surgiram movimentos como a Mão Negra, 
considerada uma organização terrorista, da qual participava Gavrilo Princip, um jovem estudante 
de 19 anos. Desde a anexação da Bósnia, houve diversas tentativas de assassinato de autoridades 
austro-húngaras na Croácia e na Bósnia, realizadas por sérvios súditos do Império Austro-húngaro, 
porém sem sucesso. A Mão Negra vinha planejando um novo atentado desde o final de 1913 e, a partir 
de março de 1914, decidiu que o alvo seria o arquiduque Francisco Ferdinando.
51
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O arquiduque havia conseguido permissão do imperador Francisco José para acompanhar manobras 
militares do Exército Imperial em Sarajevo. Francisco Ferdinando era casado com a Condessa Sofia, de 
origem tcheca, considerada uma cidadã comum na corte dos Habsburgos. O casamento aconteceu a 
contragosto do velho imperador, e Sofia não podia acompanhar o marido em qualquer evento público, 
exceto em função militar. Assim, visitar Sarajevo com o objetivode assistir às manobras anuais do 
Exército era uma das raras ocasiões em que Sofia se apresentava em público com Francisco Ferdinando 
(STEVENSON, 2016).
Apesar da alta probabilidade de que ocorresse um atentado contra o herdeiro do Império, pouco 
foi feito para garantir a segurança da comitiva em visita oficial de Estado. No dia 28 de junho, pela 
manhã, Francisco Ferdinando e sua comitiva partiram para Sarajevo e foram recebidos pelo governador 
da Bósnia, Oskar Potiorek. A agenda oficial do dia previa o compromisso de inspeção das tropas em um 
quartel. De lá, a comitiva seguiu para a câmara municipal da cidade, porém, no trajeto, os integrantes 
da Mão Negra tentaram um ataque à bomba, que passou pelo carro onde estava o arquiduque e, por 
pouco, não o atingiu.
Após a recepção na câmara municipal, a comitiva alterou a agenda oficial e seguiu para o 
Hospital de Sarajevo em atenção aos feridos no atentado. No caminho para o hospital, Gavrilo Princip 
aproveitou a oportunidade para disparar os tiros que mataram o arquiduque e sua esposa, próximo 
da Ponte Latina. Todos os envolvidos no atentado foram detidos e julgados. Porém, as autoridades 
austro-húngaras levantaram a suspeita de que o movimento Mão Negra teria tido o apoio secreto do 
governo sérvio. Uma vez iniciada a investigação, a Áustria-Hungria conseguiu junto ao Império Alemão 
apoio incondicional em caso de retaliação à Sérvia, que deveria ser rápida e eficaz, para confrontar as 
demais potências (DÖPCKE, 2007).
Em 23 de julho, a Áustria-Hungria apresentou um ultimato de 48 horas à Sérvia, alegando que o 
atentado fora engendrado em Belgrado, capital sérvia, com o apoio de funcionários e oficiais do governo 
sérvio. O documento também exigia que a Sérvia denunciasse todos os movimentos separatistas e 
banisse todas as propagandas hostis ao Império Austro-húngaro e ainda cooperasse no inquérito judicial 
do atentado. Incrivelmente, a Sérvia aceitou todas as exigências, mas recuou quanto à exigência de 
participação austro-húngara no inquérito em território sérvio, pois feria a constituição e as leis vigentes 
no país. Em consequência dessa resposta, a Áustria-Hungria aproveitou o ensejo para declarar guerra à 
Sérvia em 28 de julho de 1914 (STEVENSON, 2016). Estava começando a Primeira Guerra Mundial.
Nos dias que se seguiram, o sistema de alianças foi acionado, resultando em uma avalanche de declarações 
de guerra. A Rússia e a Áustria-Hungria decretaram estado de mobilização geral em 30 de julho. Preocupado 
com a dimensão que a guerra regional austro-sérvio tomaria, o imperador alemão Guilherme II enviou 
um ultimato à Rússia para que voltasse atrás, e outro à França para que declarasse neutralidade em caso 
de envolvimento russo. Ignorando o ultimato, a Rússia mobilizou-se em apoio à Sérvia. No dia seguinte, 
1º de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia. A França, aliada da Rússia na Tríplice Entente, aprontou-se 
para o conflito, também ignorando o ultimato alemão (ARARIPE, 2011).
52
Unidade I
Por conseguinte, a Alemanha declarou guerra à França em 3 de agosto e deu um ultimato à Bélgica 
para conceder livre passagem ao Exército Alemão em direção à fronteira francesa. O governo belga, 
contudo, negou o pedido, alegando neutralidade, e a Bélgica acabou sendo invadida pelos alemães 
no dia 4 de agosto. A violação da neutralidade belga fez com que os britânicos declarassem guerra à 
Alemanha. Em uma semana, à exceção da Itália, todas as potências que compunham a Tríplice Entente 
e a Tríplice Aliança estavam oficialmente em guerra (NETTO et al., 2014).
 Saiba mais
Assista ao documentário:
PRIMEIRA Guerra Mundial: o fim de uma era. Direção: Don Horan. 
Estados Unidos: History Channel, 1997. 93 min.
Para além da intricada situação na Península Balcânica, que envolvia diretamente interesses 
austro-húngaros e sérvios na região, diversos outros motivos impulsionaram as demais grandes potências 
a se engajarem tão rápida e prontamente na guerra. A França, em 1914, ansiava pela revanche e pela 
restituição da Alsácia-Lorena, perdida na humilhante derrota de 1871 (ARARIPE, 2011).
 Lembrete
A região da Alsácia-Lorena era um território francês localizado na 
fronteira com a Alemanha e havia sido anexada pelos alemães ao final das 
guerras de unificação do Império Alemão, em 1871.
Para a Grã-Bretanha, o equilíbrio de poder no continente europeu era o mecanismo que permitia 
aos britânicos centrarem esforços na construção de seu Império Colonial, sendo igualmente importante 
a neutralidade da Holanda e da Bélgica para a segurança territorial britânica. A ascensão da Alemanha 
unificada, e ainda com pretensão de se tornar uma grande potência industrial e naval, rompia com 
a política do equilíbrio de poder, causando preocupação à Grã-Bretanha. A invasão da Bélgica pelos 
alemães foi a gota d’água para os britânicos, que, pela lógica da segurança, viram-se obrigados a se 
engajarem na guerra.
A Rússia, desde a derrota na Guerra Russo-japonesa de 1904-1905, havia perdido prestígio 
internacional de grande potência e ainda sofrido com uma tentativa de levante revolucionário 
internamente. Dessa forma, o engajamento do czar Nicolau II na causa externa de apoio aos eslavos e 
a demonstração da capacidade de defender interesses russos eram uma forma de conseguir consenso 
e apoio em sua política interna.
53
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Quanto à Alemanha imperial, além da aliança com a Áustria-Hungria, outros dois fatores são 
igualmente importantes para compreensão de suas motivações para o engajamento na guerra: 
a personalidade de seu imperador Guilherme II e a crise das alianças em torno no Império Alemão. 
Guilherme II conduzia uma política de potência não satisfeita, almejando um lugar ao sol para a 
Alemanha e, para tanto, influenciado pelas teorias do poder naval como fonte do poderio das grandes 
potências, engajou-se na construção de uma grande Marinha de Guerra. Além disso, a formação da 
Tríplice Entente fez com que a Alemanha se sentisse cercada como em elo de ferro, empurrada para a 
defensiva. Há ainda que se considerar, em termos de política interna, as forças sociais em oposição ao 
Império que incentivaram Guilherme II a se engajar no conflito bélico como forma de desviar o foco da 
população dos problemas internos (DÖPCKE, 2007).
A Itália, apesar de integrar a Tríplice Aliança, inicialmente, optou pela neutralidade, alegando que 
a aliança era defensiva, e a Alemanha e a Áustria-Hungria eram agressoras. Contudo, em 1915, com a 
promessa britânica e francesa de conseguir territórios austríacos ao norte, a Itália entra na guerra ao 
lado da Tríplice Entente. Além da Itália, ao lado da Entente, juntaram-se Japão, Portugal e Romênia; e, 
ao lado das potências aliadas, somaram-se o Império Otomano e a Bulgária.
4.2 O desenrolar do conflito
A Primeira Guerra Mundial alastrou-se por 28 países, entre eles, o Brasil, e desenrolou-se em seis 
frentes terrestres, além de operações navais e aéreas. As duas principais frentes terrestres foram a frente 
ocidental, que se estendeu ao longo da fronteira francesa e abarcou a Bélgica, a Suíça e o Mar do Norte; 
e a fronteira oriental, que abrangia os territórios alemães a leste, a Polônia e a Rússia. Outras frentes de 
batalha se estenderam nos Bálcãs, Oriente Médio e Império Otomano (ARARIPE, 2011).
De forma geral, a guerra pode ser dividida em duas fases: a primeira fase ocorreu entre agosto e 
novembro de 1914 e caracterizou-se pela chamada guerra de movimento, isto é, rápida mobilização 
das forças militares para tomada de posição no cenário de guerra; já a segunda fase compreende todo 
o período entre 1915 e 1918, abarcando a chamada guerra de posição e as batalhas finais. Nesta fase, 
os Exércitos dos países beligerantes permaneceram grande parte do conflito em trincheiras, isto é, 
valas abertas no chão, sem avançar no terreno, esperando movimento do inimigo. Este, porém, via-se 
igualmente impossibilitado de avançar.
Na perspectiva do Império Alemão,a aliança entre a França e a Rússia criava uma condição muito 
complicada de guerra em duas frentes. Para lidar com tal situação, os generais alemães elaboraram o 
chamado Plano de Schlieffen, considerado como a única forma de alcançar a vitória em caso de guerra 
contra russos e franceses ao mesmo tempo. Pelo plano, a Rússia demoraria para mobilizar suas tropas e, 
por isso, a Alemanha deveria inicialmente concentrar suas forças em uma rápida e eficaz batalha contra 
a França por meio do território belga. Uma vez imposta a derrota à França, os alemães partiriam para a 
batalha na frente oriental.
54
Unidade I
Figura 11 – O Plano Schlieffen
A ofensiva alemã encontrou uma acirrada resistência por parte da Bélgica e foi paralisada na Batalha 
do Marne, ocorrida às margens do rio Marne, na França, em setembro de 1914. Nessa batalha, a França 
impôs uma estrondosa derrota à Alemanha com o auxílio de tropas britânicas, obrigando as forças 
alemães a estancarem, e, dessa forma, a linha de batalha da frente ocidental foi solidificada do Canal 
da Mancha, até a Suíça, em finais de 1914. Nenhum dos lados conseguia romper a linha de frente, 
estabelecendo um impasse. Iniciou-se, a partir desse momento, a guerra de posição. A Primeira Guerra 
Mundial também foi a primeira guerra de trincheiras.
A guerra de posição foi travada nas trincheiras, isto é, grandes valas abertas no terreno, com várias 
passagens para movimento das tropas. Nessas valas, havia local para descanso e para recuperação dos 
feridos, posto de vigia avançado e arame farpado na vala que terminava o front em direção à “terra de 
ninguém”. Do outro lado, localizavam-se as trincheiras inimigas. Não bastasse os horrores da guerra que 
pesavam sobre as mentes de todos, os soldados ainda conviviam com a dura realidade das trincheiras: 
chuva, lama, neve e frio glacial, excrementos, ratos e infestações de insetos, que provocavam epidemias, 
como disenteria, tifo, doenças de pele e infecções das mais variadas. Aos sofrimentos físicos, somava-se 
o estresse psicológico infringido pelo longo tempo que os soldados se viam obrigados a permanecer na 
guerra de posição (NETTO et al., 2014).
55
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 12 – Soldados em trincheiras
O relato mais frequente entre os soldados era a sensação de perda da condição humana. A seguir, o 
relato do soldado francês Henri Fauconnier em carta à sua noiva em 17 de fevereiro de 1917 nos dá uma 
ideia da condição psicológica na guerra (NETTO et al., 2014): “É assustador depender tanto do meio em 
que estamos. Mady, não é com um ser humano que você se casará [...]. Às vezes eu sou um monstro, às 
vezes uma planta, às vezes um mineral. Nunca um ser humano”.
A estratégia da guerra de posição tinha como objetivo levar o inimigo à exaustão e à derrota, porém 
o resultado foi a paralisia do conflito. Dessa forma, a alternativa a partir de 1915 foi a intensificação do 
desenvolvimento de novas tecnologias bélicas para impor baixas em massa nos campos inimigos como 
forma de romper o impasse. Assim, os bombardeios foram intensificados, tanques foram desenvolvidos e 
armas químicas, especialmente o gás letal, foram amplamente empregadas, tornando a Primeira Guerra 
Mundial o conflito bélico interestatal mais mortal, até então, com a soma de 17 milhões de mortos 
(NETTO et al., 2014).
Na frente oriental, predominou a guerra de movimento, sendo que a Rússia surpreendeu pela rapidez 
com que mobilizou suas forças, impondo algumas derrotas aos alemães e austro-húngaros. Porém, as 
dificuldades internas russas, somadas às derrotas que se sucederam nas batalhas seguintes, resultaram 
na deflagração da Revolução Russa, em outubro de 1917. O principal objetivo do governo revolucionário 
russo que se instalou em Moscou era tirar a Rússia da guerra. Para tanto, em 15 de dezembro daquele 
mesmo ano, russos e alemães concluíram um cessar-fogo por meio do pacto de paz, o Tratado de 
Brest-Litovsk (DÖPCKE, 2007).
No mar, os alemães, em fevereiro de 1917, decretaram guerra submarina irrestrita, atingindo 
propositadamente navios mercantes norte-americanos carregados de suprimentos com destino à 
Grã-Bretanha e à França. O fato provocou a entrada dos Estados Unidos no conflito em abril daquele 
ano ao lado da Tríplice Entente, rompendo o impasse a favor de seus aliados. A partir de setembro de 
1918, países aliados alemães renderam-se e pediram um cessar-fogo. Após uma revolução em Berlim, 
56
Unidade I
Guilherme II abdicou, e a república foi proclamada na Alemanha. Finalmente, em 11 de novembro, a 
Alemanha aceita as condições, e um armistício é assinado (DÖPCKE, 2011; ARARIPE, 2011).
4.3 A Paz de Versalhes
A participação dos Estados Unidos na guerra acelerou o seu fim e impôs novos rumos para a paz 
que começou a ser negociada entre Rússia e Alemanha em 1917. Uma vez no conflito, o visionário 
presidente norte-americano à época, Thomas Woodrow Wilson, rascunhou uma proposta de paz 
idealista, diferente da cultura europeia de relações internacionais, a chamada Paz dos Catorze Pontos.
Enquanto os europeus entendiam a guerra como uma prática do exercício da política em que a paz 
é a imposição da vontade do vencedor ao vencido, os norte-americanos, a partir de uma concepção 
moralista do mundo, viam a guerra como um mal a ser extirpado por meio de mecanismos multilaterais 
de propagação da democracia. Dessa forma, a proposta de Wilson para a paz estaria presente nas 
negociações, porém raramente os “catorze pontos” seriam observados (ARARIPE, 2012).
Em síntese, a Paz dos Catorze Pontos (ARARIPE, 2012, p. 2014-2015) propunha os seguintes tópicos 
para as negociações de paz:
1. Fim das negociações e acordos secretos;
2. Liberdade absoluta de navegação dos mares;
3. Supressão de barreiras econômicas no comércio internacional;
4. Redução de armamentos nacionais a níveis apenas para defesa;
5. Redefinição das questões coloniais, considerando os interesses das 
populações em jogo;
6. Evacuação do território russo;
7. Evacuação e restauração da Bélgica;
8. Devolução da Alsácia-Lorena à França;
9. Estabelecimento das fronteiras italianas a partir do princípio da nacionalidade;
10. Autodeterminação dos povos da Áustria-Hungria;
11. Livre acesso ao mar à Sérvia;
12. Autodeterminação aos povos do antigo Império Otomano;
57
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
13. Formação da Polônia;
14. Formação de uma organização geral das nações para garantia da paz 
(Liga ou Sociedade das Nações).
Em linhas gerais, observa-se que a proposta do presidente norte-americano tinha como cerne: uma 
“paz sem vencedores”, na qual se reconstituía a condição geopolítica anterior à guerra; impunha-se a 
liberdade de comércio como uma estratégia para minimizar conflitos; proclamava-se a liberdade dos 
mares e a autodeterminação dos povos conforme o princípio das nacionalidades; e, por fim, substituía 
o mecanismo de equilíbrio de poder por uma instituição multilateral de segurança coletiva como 
instrumento de regulamentação das relações internacionais.
Entretanto, os aliados europeus receberam a proposta de paz dos norte-americanos sem muito 
entusiasmo. A Grã-Bretanha entendia que, apesar de falho, o equilíbrio de poder ainda era a melhor 
maneira de administrar o sistema de Estados. Além disso, a questão colonial tinha um grande peso sobre 
sua política externa para dar brecha a qualquer ação nacionalista. Já a França esperava ansiosamente 
pelo momento de impor revanche sobre a Alemanha após a humilhação sofrida em 1871. Esse 
sentimento só aumentava ao longo dos quatro longos anos de ferrenha luta nas trincheiras contra 
a invasão alemã. Os franceses jamais aceitariam qualquer tratado de paz que não fosse humilhante 
para a Alemanha (ARARIPE, 2012).
Foi nesse contexto de hostilidades que se iniciaram os trabalhos da Conferência de Paris, no Palácio 
de Versalhes, em Paris, em 18 de janeiro de 1919, com a presença de delegados de 25 países. Durante 
as negociações, contudo, predominou a opiniãodos chamados “Quatro Grandes”, isto é, França, 
Grã-Bretanha, Itália e Estados Unidos. Por isso, no processo de paz da Primeira Guerra Mundial, 
diferentemente do que aconteceu no Congresso de Viena em 1815, os perdedores não tiveram vez. Além 
disso, vários pontos, como a divisão dos territórios do Império Otomano, já haviam sido deliberados 
anteriormente e partilhados entre França e Grã-Bretanha.
Ainda assim, as negociações se arrastaram por seis meses, e somente em 28 de junho de 1919 o 
acordo de paz foi finalmente assinado pela Alemanha vencida e indignada com as condições do tratado. 
Na prática, o acordo de paz não foi um acordo acertado entre as partes antes em guerra, mas sim uma 
imposição de paz à Alemanha por meio da continuidade dos termos do armistício de novembro de 1918.
Pelo acordo, que entrou para o histórico com o título de Tratado de Versalhes, a Alemanha foi 
declarada culpada pela guerra e, por conseguinte, encarregada de arcar com todos os ônus do conflito. 
Várias outras questões foram impostas pelo Tratado, que podem ser divididas em questões territoriais, 
militares e financeiras. No que concerne ao primeiro tópico, todas as possessões coloniais da Alemanha 
passaram para franceses e ingleses, e as fronteiras alemãs foram redefinidas: Alsácia-Lorena voltaram 
para a França, os cantões de Eupen e Malmedy passaram para a Bélgica e, a leste, parte do território 
alemão deu origem à Polônia. O Império Austro-húngaro também foi desintegrado, porém qualquer 
tentativa de união entre Alemanha e Áustria foi proibida (ARARIPE, 2012).
58
Unidade I
Figura 13 – Mapa da Europa antes e depois do Tratado de Versalhes
Sobre as questões militares, o Tratado impunha que a Alemanha limitasse seu Exército a cem mil 
homens, e a Marinha a apenas 15 mil homens. Canhões de longo alcance, aviões e tanques foram 
proibidos. Além disso, a região da margem oriental do rio Reno deveria permanecer desmilitarizada por 
um período de 15 anos. Em termos econômicos, além das indenizações de guerra pagas em parcelas 
anuais, as minas de carvão da região do Sarre seriam exploradas pela França por um período de 15 anos. 
Em suma, conforme argumenta Hobsbawm (1995, p. 33), “impôs-se à Alemanha uma paz punitiva, 
justificada pelo argumento de que o Estado era o único responsável pela guerra e todas as suas 
consequências (a cláusula da ‘culpa de guerra’), para mantê-la permanentemente enfraquecida”.
Dos Catorze Pontos do presidente Wilson, o único ponto que realmente foi implementado foi a 
criação da Liga ou Sociedade das Nações, por insistência do mandatário norte-americano. A Liga das 
Nações foi de fato estabelecida pelo Tratado de Versalhes nos anos seguintes, porém seu potencial 
de eficácia foi diminuído pela ausência dos Estados Unidos, cujo senado não deu o aval necessário 
para participação da potência norte-americana. Enquanto mecanismo para prevenir novas guerras de 
alcance mundial, a Liga das Nações mostrou-se falha diante da Segunda Guerra Mundial.
O Tratado de Versalhes, de forma geral, é considerado por alguns analistas como o embrião da 
Segunda Guerra Mundial. Hobsbawm (1995, p. 34), por exemplo, afirma que o acordo firmado em Paris 
“estava condenado desde o início e, portanto, outra guerra era praticamente certa”. De acordo com o 
historiador, a certeza de um novo conflito bélico em pouco tempo se dava pelo fato de que “qualquer 
pequena chance que tivesse a paz foi torpedeada pela recusa das potências vitoriosas a reintegrar as 
vencidas” na reconstrução da paz.
59
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
4.4 Discutindo as forças profundas que levaram à Primeira Guerra Mundial
Discutir as forças profundas que levaram à Primeira Guerra Mundial é tarefa complexa, que já muitos 
renomados historiadores têm tentado realizar desde 1918. Como já foi analisado, o Tratado de Versalhes 
colocou toda a culpa da responsabilidade da guerra no Império Alemão. Essa versão, baseada de forma 
geral na historiografia francesa, entende que a Alemanha poderia ter evitado a guerra se não tivesse 
dado o aval à Áustria-Hungria para castigar a Sérvia. A literatura alemã, contudo, procurou contestar 
essa versão e, desde então, ocorreu uma verdadeira batalha historiográfica para encontrar o “culpado” 
pela catástrofe de 1914 (DÖPCKE, 2007).
Eric Hobsbawn (1988), contudo, propõe uma interpretação diferente, retomando a argumentação 
de Renouvin. Para ele, nenhuma das grandes potências à época queria uma guerra, fosse ela restrita 
ou generalizada. Todas as crises antes de 1914 foram habilmente contornadas por meio da negociação. 
Por que, então, todas as nações anularam a paz em julho de 1914? Sigamos o argumento de 
Hobsbawm (1988, p. 272):
Descobrir as origens da Primeira Guerra Mundial não equivale a descobrir 
“o agressor”. Ele repousa na natureza de uma situação internacional em 
processo de deterioração progressiva, que escapava cada vez mais ao 
controle dos governos. Gradualmente a Europa foi se dividindo em dois 
blocos opostos de grandes nações. Tais blocos, fora de uma guerra, eram 
novos em si mesmos e derivavam, essencialmente, do surgimento no 
cenário europeu de um Império Alemão unificado, constituído entre 1864 
e 1871 por meio da diplomacia e da guerra, à custa dos outros, e procurava 
se proteger contra seu principal perdedor, a França, através de alianças em 
tempos de paz, que geraram contra-alianças. As alianças, em si, embora 
implicassem a possibilidade da guerra, não a tornavam nem certa nem 
mesmo provável. Assim, o chanceler alemão Bismarck, que foi o campeão 
do jogo de xadrez diplomático multilateral por quase trinta anos após 1871, 
dedicou-se com exclusividade e com sucesso à manutenção da paz entre 
as nações. Um sistema de blocos de nações só se tornou um perigo para 
a paz quando as alianças opostas se consolidaram como permanentes, 
mas especialmente quando as disputas entre eles se transformaram em 
confrontos inadministráveis.
Como pode ser observado no trecho, a situação das relações internacionais começou a se desestabilizar 
muito antes de 1914, isto é, desde 1871. Com o processo da unificação da Alemanha fundamentada 
na guerra e rivalidade com a França, iniciou-se um dilema de segurança que só se agravou com a 
formação das alianças. O dilema da segurança descreve um estado de relações interestatais em que 
predominam a tensão e o medo de forma generalizada, em que qualquer mudança, ação ou mesmo 
somente uma pretensão na condição e posicionamento de um (ganhos militares ou alianças militares, 
melhoria econômica, expansão territorial etc.) é compreendida como uma ameaça pelo outro. Foi nesse 
dilema que as potências europeias caíram, a começar pela própria Alemanha.
60
Unidade I
Contudo, Hobsbawm lembra que o jogo das alianças, por si só, não poderia desencadear a guerra 
de tão amplas dimensões. Porém, ele destaca três fatores que tornaram essa situação uma bomba-
relógio: a situação do fluxo internacional, desestabilizado por novos problemas e ambições mútuas entre 
as nações; a lógica do planejamento militar conjunto, que congelou os blocos que se confrontavam, 
tornando-os permanentes; e a integração de uma quinta grande nação, a Grã-Bretanha, a um dos blocos, 
a Tríplice Entente.
Com o surgimento de uma economia industrial capitalista de amplitude mundial, a arena de embate 
dos interesses das grandes potências tornou-se maior e muito mais complexa. Isso não significa que 
a expansão colonial e imperialista tenha sido responsável pela guerra, porém o desenvolvimento do 
capitalismo em concorrência global, associado ao sentimento nacionalista, facilitou o surgimento de um 
clima de rivalidade entre as nações.
Além disso, novos países industrializados almejavam a condição de potência econômica global, 
como o Japão e a Alemanha, criando uma situação na qual o poder político representado pelos governos 
associava-se às forças econômicas. Do ponto de vista dos capitalistas, o apoio político tornou-se 
importante para impedir que a concorrênciaestrangeira atrapalhasse os negócios nacionais e era 
igualmente importante em regiões do mundo onde empresas de diversas nacionalidades competiam 
umas com as outras (HOBSBAWM, 1988). A associação entre capital e política projetou a ambição das 
potências para níveis explosivos no início do século XX.
Da mesma forma que o poder político apoiava o poder econômico nas conquistas por recursos e 
mercados internacionais, o Estado aproveitava o crescimento econômico para ampliar seus recursos 
militares. O planejamento militar proposto pela Alemanha, em conjunto com sua ambição de tornar-se 
uma potência global, levou seus dirigentes a investirem em uma Marinha de Guerra de amplas dimensões 
com base no Mar do Norte, praticamente de frente à Marinha da Grã-Bretanha, a maior potência naval 
à época. Tal medida gerou assombro entre os britânicos, que, rapidamente, associaram-se à França e à 
Rússia na Tríplice Entente, tornando fixas as alianças que antes eram flexíveis.
Por fim, ainda é importante mencionar a influência da política interna na política externa. Desde 
1905, quando uma agitação de cunho socialista desafiou a integridade da monarquia russa, porém sem 
sucesso, a força da opinião pública, seja favorável ou não, foi um fator decisivo na formulação da política 
externa. O avanço dos trabalhadores e a mobilização dos partidários da social-democracia fizeram com 
que as elites dirigentes procurassem desviar a atenção da opinião pública para causas externas, que 
provocavam o sentimento nacional e, assim, contribuíam para a unidade da nação e, consequentemente, 
desmotivavam ações de grupos. Em resumo, crises internas e internacionais fundiram-se nos últimos 
anos antes de 1914 (HOBSBAWM, 1988).
Todos esses fatores mencionados convergiram para a catástrofe da guerra, como grandes tonéis de 
combustíveis altamente inflamáveis estocados em um armazém com pólvora. Qualquer faísca provocaria 
uma explosão incontrolável. Assim Hobsbawm (1988, p. 282) conclui os eventos que atearam fogo na Europa 
naquele verão de 1914: “Em 1914, qualquer incidente, por mais aleatório que fosse – até a ação de um 
terrorista estudantil ineficaz num canto perdido do continente – podia levar a esse confronto, se alguma 
nação isolada, presa ao sistema de bloco e contrabloco, escolhesse levá-lo a sério”. A Áustria-Hungria resolveu 
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HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
levar a sério a ação de Gavrilo Princip, e a Alemanha a apoiou, acionando o sistema de alianças. Assim a guerra 
começou, mesmo que ninguém realmente desejasse que ela acontecesse.
Exemplo de aplicação
Exemplo 1 
Acerca da Paz de Vestfália, analise as afirmativas:
I – A Paz de Vestfália engloba um conjunto de tratados firmados entre os Estados europeus ao fim 
das Guerras Napoleônicas.
II – A partir da Paz de Vestfália, o Sacro Império Romano-Germânico deixou de existir.
III – A Paz de Vestfália é um marco nos estudos de história das relações internacionais, pois instituiu 
os princípios do moderno sistema de Estados, isto é, soberania e não intervenção.
IV – Em Vestfália, a hierarquia medieval é substituída pela anarquia do equilíbrio de poder e a 
razão de Estado.
Está correto o que se afirma em:
A) I e II, somente.
B) III e IV, somente.
C) II e III, somente.
D) II e IV, somente.
E) I e III, somente.
Resposta correta: alternativa B.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a Paz de Vestfália designa um conjunto de tratados firmados entre os Estados europeus 
após a Guerra dos Trinta Anos, não após as Guerras Napoleônicas.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o Sacro Império Romano-Germânico continuou a existir após a Guerra dos 
Trinta Anos, porém não mais com a mesma autoridade sobre os principados alemães. Sua extinção 
ocorreu apenas em 1806.
62
Unidade I
III – Afirmativa correta.
Justificativa: pelos tratados que estabeleceram a Paz de Vestfália, instituíram-se os princípios básicos 
que formaram a sociedade internacional europeia: soberania, isto é, autodeterminação governamental 
com exclusividade do monopólio da violência sobre determinado território e população; e não intervenção 
em assuntos internos de outros Estados.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: na organização da sociedade medieval, existia uma rígida hierarquia de lealdades, sendo 
o papa e depois o imperador as figuras mais altas da hierarquia. Com a Paz de Vestfália, os Estados, 
antes regiões sob o controle de reis e príncipes obedientes ao imperador e ao papa, determinam-se 
independentes, soberanos e iguais entre si, substituindo a hierarquia medieval pela anarquia, que 
predomina no sistema de Estados Moderno.
Exemplo 2 
Leia com atenção os trechos a seguir:
“O Dilema da Segurança – A maioria dos estudantes de Relações Internacionais já ouviu falar do 
‘Dilema de Segurança’, elaborado pelo acadêmico germano-americano John Herz nos anos 1950 e que é 
usado por alguns teóricos – principalmente de vertente realista – para explicar corridas armamentistas 
como a que ocorreu entre Estados Unidos e União Soviética na Guerra Fria.
A ideia por trás do conceito é relativamente simples: Estados são responsáveis por sua própria 
segurança e, em um sistema anárquico como o das relações internacionais, onde sempre se corre risco 
iminente de ataque, eles procuram mais e mais poder bélico. O problema é que, ao fazer isso, eles fazem 
com que os outros Estados se sintam inseguros e, consequentemente, procurem se armar.
Com todos sempre se preparando para o pior, o sistema entra em um círculo vicioso, onde as 
perspectivas de uma guerra só crescem. Ou seja, ao buscar segurança, os Estados acabam por aumentar 
sua insegurança” (QUERO, [s.d.]).
“Da paz à guerra – Nenhuma das grandes nações teria dado o golpe de misericórdia na paz, nem 
mesmo em 1914, se não estivesse convencida de que seus ferimentos já eram mortais.
Portanto, descobrir as origens da Primeira Guerra Mundial não equivale a descobrir ‘o agressor’. 
Ele repousa na natureza de uma situação internacional em processo de deterioração progressiva, que 
escapava cada vez mais ao controle dos governos. Gradualmente a Europa foi se dividindo em dois blocos 
opostos de grandes nações. Tais blocos, fora de uma guerra, eram novos em si mesmos e derivavam, 
essencialmente, do surgimento no cenário europeu de um Império Alemão unificado, constituído entre 
1864 e 1871 por meio da diplomacia e da guerra, às custas dos outros (cf. A Era do Capital, cap. 4), e 
procurava se proteger contra seu principal perdedor, a França, através de alianças em tempos de paz, 
que geraram contra-alianças. As alianças, em si, embora implicassem a possibilidade da guerra, não a 
63
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
tornavam nem certa nem mesmo provável. Assim, o chanceler alemão Bismarck, que foi o campeão do 
jogo de xadrez diplomático multilateral por quase trinta anos após 1871, dedicou-se com exclusividade 
e sucesso à manutenção da paz entre as nações. Um sistema de blocos de nações só se tornou um 
perigo para a paz quando as alianças opostas se consolidaram como permanentes, mas especialmente 
quando as disputas entre eles se transformaram em confrontos inadministráveis. Isto aconteceria no 
novo século. A pergunta crucial é: por quê?” (HOBSBAWM, 1988, p. 272-273).
Sobre a associação entre o conceito “dilema da segurança” e a Primeira Guerra Mundial, assinale a 
alternativa correta:
A) Não é possível associar o conceito “dilema da segurança” com a Primeira Guerra Mundial porque 
não houve guerras, nem tampouco alianças militares permanentes na Europa entre 1815 e 1914.
B) As causas da Primeira Guerra Mundial devem ser atribuídas à disputa colonial capitalista, e, 
portanto, o conceito de “dilema de segurança” não se aplica para compreensão desse conflito.
C) O conceito “dilema da segurança” é um conceito adequado para análise da Primeira Guerra 
Mundial porque descreve o contexto de desconfiança geral em que mergulharam todas as grandes 
potências da época, incluindoEstados Unidos e Japão.
D) O conceito “dilema da segurança” associa-se satisfatoriamente à situação vivenciada pelas 
potências europeias gradualmente estabelecida após a unificação do Império Alemão ocorrida em 
1871, que deu origem ao jogo das alianças e desembocou, em 1914, na Primeira Guerra Mundial.
E) O conceito “dilema da segurança” descreve a situação da Europa nas décadas anteriores a 1914 
porque se observa desconfiança generalizada e corrida armamentista entre as potências europeias, 
à exceção apenas da Grã-Bretanha.
Resposta correta: alternativa D.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: aconteceram guerras na Europa durante o período de 1815 e 1914, tais como a Guerra 
da Crimeia, e ainda se formaram diversas alianças: Aliança dos Três Imperadores, Dupla Aliança, Tríplice 
Aliança, Entente Cordiale. Todas essas situações foram gradualmente contribuindo para o dilema da 
segurança que se generalizou na Europa após 1871.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: as disputas coloniais imperialistas acirraram as tensões entre os europeus, porém estas 
se davam especialmente entre França, Grã-Bretanha e Rússia, que se aliaram na Tríplice Entente. Portanto, 
as disputas coloniais não são suficientes para compreensão das causas da Primeira Guerra Mundial.
64
Unidade I
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: o dilema da segurança instalou-se na Europa entre as potências europeias, não incluindo 
Estados Unidos e Japão, muito embora tais Estados viessem a participar da Primeira Guerra Mundial.
D) Alternativa correta.
Justificativa: a unificação da Alemanha em 1871, à custa de guerras externas e da anexação da 
Alsácia-Lorena da França, gerou desequilíbrio de poder na Europa em favor da hegemonia do Império 
Alemão. Tal situação gerou desconfianças e sentimento de revanche na França e, posteriormente, deu 
início à formação de alianças e corrida armamentista, que, ao fim, ocasionou a Primeira Guerra Mundial.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Grã-Bretanha sentiu-se ameaçada pelo investimento alemão em uma grande Marinha 
de Guerra em mesmo nível que a Marinha Britânica, fazendo com que a Grã-Bretanha se juntasse à 
França e à Rússia na Tríplice Entente.
 Resumo
Analisamos a formação do sistema internacional de Estados nas 
circunstâncias vivenciadas pela Europa ao fim da Guerra dos Trinta Anos, bem 
como a expansão da sociedade internacional europeia para todo o globo, 
em seu apogeu, até o momento histórico do início de seu desmoronamento 
na Primeira Guerra Mundial. Foram também objeto de análise as principais 
escolas com tradição nos estudos de história das relações internacionais, 
isto é, a europeia e a americana.
Nesse sentido, inicialmente foi feita uma breve abordagem das tradições 
historiográficas na área, apontando os principais métodos de análise tanto 
nas escolas europeias quanto nas americanas. Vimos que, mesmo na tradição 
europeia, há significativa diferença entre as abordagens francesa e britânica: 
o foco da escola francesa se dá nos aspectos das forças e demandas sociais, 
ao passo que a britânica opta pelo estudo da sociedade de Estados. Vimos 
também que nos Estados Unidos não se formou uma escola de história das 
relações internacionais, porém, nas Américas, destacam-se os esforços de 
intelectuais do Brasil e da Argentina na área.
Tratamos dos fatores históricos que possibilitaram a formação do 
sistema de Estados, sob os fundamentos da Paz de Vestfália, que colocou 
fim à Guerra dos Trinta Anos. Nesse contexto, firmaram-se alguns 
princípios básicos para regulamentação da sociedade internacional 
65
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
europeia após o banimento da intervenção do papa: soberania e não 
intervenção. A organização do Estado moderno fundamentou-se no 
monopólio da força em determinado território e na não intervenção em 
assuntos alheios. A razão de Estado guiou a lógica dessa sociedade até 
as Guerras Napoleônicas, quando foi substituída pela hegemonia coletiva 
do Concerto Europeu estabelecido em 1815 no Congresso de Viena.
Foi abordado o auge da expansão da sociedade internacional europeia, 
seguido das principais mudanças econômicas, sociais e geopolíticas que 
ocorreram ao longo do século XIX. Vimos que a formação do Império 
Alemão Unificado alterou o equilíbrio de poder na Europa, resultando em 
uma hábil diplomacia de alianças formulada pelo chanceler alemão, Otto 
von Bismarck, para manter o sistema. Tal política, porém, não foi duradoura, 
pois a busca da Alemanha por uma condição de potência global introduziu 
o dilema de segurança entra as potências, levando a crises no sistema de 
alianças e na emergência da bipolaridade.
Por fim, vimos que a bipolaridade das alianças acabou desencadeando 
a Primeira Guerra Mundial em 1914, que estourou após o assassinato 
do herdeiro do trono da Áustria-Hungria por um estudante nacionalista 
bósnio em Sarajevo. O longo conflito bélico, inicialmente restrito às 
potências europeias, ganhou dimensão mundial com a participação de 
outras nações, sobretudo os Estados Unidos, que decidiu a vitória pela 
Grã-Bretanha e França. Vimos ainda que diversos fatores tornaram a 
ocorrência da guerra muito provável, porém não inevitável, muito embora 
nenhuma das potências envolvidas desejasse a guerra.
 Exercícios
Questão 1. Observe a ilustração:
Figura 14 
Disponível em: http://www.polyp.org.uk/cartoons/weath/polyp_cartoon_Africa.jpg. Acesso em: 8 out. 2010.
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Unidade I
Com base na figura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas:
I – A imagem ilustra a exploração das riquezas do continente africano pelos países europeus e 
pelos Estados Unidos.
II – O continente africano foi dividido entre as potências europeias imperialistas na 
Conferência de Berlim.
III – A formação dos impérios coloniais no final do século XIX é associada ao dinamismo da expansão 
da economia capitalista no mundo após a Revolução Industrial.
É correto o que se afirma em:
A) I, II e III.
B) II e III, apenas.
C) I e II, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, apenas.
Resposta correta: alternativa A.
Análise da questão
Justificativa: na ilustração, as riquezas naturais da África foram transferidas para a Europa e para os 
Estados Unidos. O continente foi alvo de partilha na corrida imperialista do final do século XIX. As potências 
europeias, na lógica do capitalismo industrial, buscavam matérias-primas e riquezas nas colônias.
Questão 2. Leia o trecho do romance Nada de novo no front, de Erich Maria Remarque, e a charge. 
O livro narra as vivências de um soldado alemão nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
“Recebemos ordens de avançar e fazer trincheiras na linha de frente. Quando chegam os caminhões, 
subimos neles. É uma noite morna, e o crepúsculo parece um toldo, sob cuja proteção nos sentimos bem. 
Ele nos une; até o avarento Tjaden me dá um cigarro e o acende.
Estamos de pé, lado a lado, ninguém pode sentar-se. Também não estamos acostumados a nos 
sentar. Até que enfim vemos Müller de bom humor! Está com as botas novas.
Os motores dão a partida, os caminhões rolam ruidosamente. As estradas estão gastas e cheias de 
buracos. É proibido acender as luzes, e os solavancos quase nos derrubam do caminhão. Mas isso não 
67
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
nos inquieta. Que pode acontecer? Um braço quebrado é sempre melhor do que uma bala na barriga, e 
muitos desejam justamente uma oportunidade como essa para ir para casa.
Ao nosso lado, em fila comprida, desdobram-se as colunas de munição. Têm pressa, e ultrapassam-
nos sempre. Atiramos-lhes piadas, às quais respondem. Surge um muro, pertencente a uma casa que 
fica fora da estrada.
[...]
Os caminhões estão camuflados com ramos de árvores, para não serem vistos pelos aviões; é como 
se fosse uma festa de primavera. Estes caramanchões pareceriam alegres e tranquilos, se não fossem 
habitados por canhões.
O ar está saturado com a fumaça dos canhões e com o nevoeiro. Sente-se o gosto amargo depólvora na língua. Os tiros estouram, fazendo estremecer nosso caminhão; o eco rola fragorosamente. 
Tudo estremece. Nossas feições alteram-se, insensivelmente. Não vamos, na verdade, até a primeira 
linha, somente até as trincheiras, mas em cada rosto pode-se ler: “Aqui fica o front, estamos nos seus 
domínios”. Isto não é ainda o medo. Quem já esteve tantas vezes na linha de frente, como nós, não se 
deixa abalar. Só os jovens recrutas estão impressionados. Kat ensina-lhes:
– Aquele foi um 30,5. Vocês podem distingui-lo pela detonação: ouviram o disparo, daqui a pouco 
escutarão o seu impacto.
Mas o som abafado da explosão não chega até aqui. Perde-se no burburinho da frente. Kat apura o 
ouvido e declara:
– Esta noite vai haver barulho.
Ficamos todos escutando. O front está agitado. Kropp diz:
– Os Tommies já estão atirando.
Ouvem-se nitidamente as detonações. São as baterias inglesas, à direita do nosso setor. Estão 
começando uma hora antes do normal. Do nosso lado, sempre se começa pontualmente às dez horas.
– Que estão pensando! – exclama Müller. – Seus relógios estarão adiantados?
– Vai haver barulho, estou dizendo a vocês; sinto-o nos ossos ― declara Kat, enterrando a cabeça 
entre os ombros.
Bem perto de nós, soam três detonações” (REMARQUE, 2005, p. 31).
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Unidade I
Figura 15 
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/721068590314406615/. Acesso em: 1 abr. 2020.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas:
I – O objetivo da charge é mostrar que os soldados da linha de frente sofrem os danos físicos 
da guerra enquanto os superiores recebem as glórias. Os riscos a que se submetem os soldados nas 
trincheiras também aparecem no trecho do relato do romance de Remarque.
II – O grau de destruição humano e material da Primeira Guerra Mundial foi inédito à época, e o 
conflito foi um marco no pensamento das relações entre os povos.
III – Os conflitos entre os Exércitos da Primeira Guerra aconteciam nas trincheiras, que eram grandes 
valas abertas no terreno, com várias passagens para movimento das tropas. Nelas, havia local para 
descanso e para recuperação dos feridos, posto de vigia avançado e arame farpado, que demarcava o front.
É correto o que se afirma em:
A) I e II, apenas.
B) II e III, apenas.
C) I e III, apenas.
69
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
D) I, apenas.
E) I, II e III.
Resposta correta: alternativa E.
Análise da questão
Justificativa: o trecho do romance descreve a ida dos soldados para abrir trincheiras. A charge mostra 
os soldados voltando feridos ou mortos enquanto os superiores ganham medalhas. A Primeira Guerra 
foi essencialmente disputada em trincheiras e teve proporções nunca vistas antes. O conflito alterou as 
relações internacionais.

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