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DELEGADO 
Direito Constitucional 
Prof. Alejandro Rayo 
 
 
 
SUMÁRIO 
Direitos e Garantias Fundamentais 6 
1. Teoria geral dos direitos fundamentais 6 
1.1. Introdução 6 
1.2. Fundamentalidade e conceito de direitos fundamentais 7 
1.3. Os quatro status de jellinek 8 
1.4. Evolução dos direitos fundamentais 9 
1.5. Características dos direitos e garantias fundamentais 12 
1.6. Dimensões subjetiva e objetiva dos direitos fundamentais 13 
1.7. Eficácia horizontal e vertical dos direitos fundamentais 14 
1.8. Titulares dos direitos fundamentais 14 
1.9. Aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais 15 
1.10. Cláusula de abertura material dos direitos fundamentais 16 
1.11. O estado de coisas inconstitucional 16 
1.12. Classificação dos direitos fundamentais 17 
2. Direitos e garantias individuais e coletivos 19 
2.1. Introdução 19 
2.2. Direito à vida 19 
 
 
3 
2.3. Direito à igualdade 21 
2.4. Direito à liberdade 25 
2.5. Direito à intimidade, vida privada, honra e imagem 30 
2.6. Direito à inviolabilidade domiciliar 31 
2.7. Direito ao sigilo de correspondência e comunicações 32 
2.8. Direito de propriedade 34 
2.9. Direito de petição e obtenção de certidões 35 
2.10. Princípio da inafastabilidade da jurisdição 36 
2.11. Direito à segurança jurídica 36 
2.12. Devido processo legal 37 
2.13. Contraditório e ampla defesa 38 
2.14. Garantia do juiz natural 40 
2.15. Garantia da vedação das provas ilícitas 40 
2.16. Garantia do processo no prazo razoável 40 
2.17. Garantia da vedação da prisão civil por dívida 41 
2.18. Direitos relativos ao direito penal e processual penal 42 
2.19. Direitos assegurados aos presos 44 
2.20. Garantia da defesa do consumidor 46 
2.21. Garantia da não extradição 46 
2.22. Publicidade dos atos processuais e dever de motivação das decisões 46 
2.23. Assistência jurídica integral e gratuita 47 
2.24. Direito à indenização em caso de erro judiciário 47 
2.25. Gratuidade das certidões de nascimento e de óbito 47 
3. Direitos sociais 48 
3.1. Introdução 48 
3.2. Direito à educação 49 
 
 
4 
3.3. Direito à saúde 51 
3.4. Direito à alimentação 52 
3.5. Direito à moradia 53 
3.6. Direito ao transporte 53 
3.7. Direito ao lazer 53 
3.8. Direito à segurança 53 
3.9. Direito à previdência social 54 
3.10. Proteção à maternidade e à infância 54 
3.11. Assistência aos desamparados 55 
3.12. Direitos sociais dos trabalhadores 56 
3.13. Efetividade dos direitos sociais 60 
3.14. Judicialização da saúde 61 
4. Direitos de nacionalidade 62 
4.1. Introdução 62 
4.2. Espécies de nacionalidade 62 
4.3 brasileiro nato 63 
4.4. Brasileiro naturalizado 65 
4.5. Distinções entre brasileiros natos e naturalizados 67 
4.6. Perda da nacionalidade 69 
5. Direitos políticos 70 
5.1. Introdução 70 
5.2. Direitos políticos positivos 70 
5.3. Direitos políticos negativos 74 
6. Partidos políticos 78 
6.1. Introdução 78 
6.2. Liberdade partidária 78 
 
 
5 
6.3. Autonomia partidária 78 
6.4. Fidelidade partidária 79 
7. Ações constitucionais (remédios constitucionais ou tutela constitucional das 
liberdades) 80 
7.1 habeas corpus 80 
7.2. Habeas data 86 
7.3. Mandado de segurança individual e coletivo 88 
7.4. Mandado de injunção 94 
7.5. Ação popular 98 
Em resumo... 101 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
Direitos e Garantias Fundamentais 
Prof. Alejandro Rayo 
 
 
1. Teoria geral dos direitos fundamentais 
 
1.1. Introdução 
 
Antes de iniciarmos o estudo a respeito dos direitos e deveres individuais e coletivos, 
importante estabelecermos algumas distinções entre os termos direitos fundamentais e direitos 
humanos, bem como entre direitos e garantias. 
Os direitos humanos são os direitos previstos em tratados e demais documentos 
internacionais, que obrigam o Estado a realizar prestações mínimas que assegurem a todos 
uma existência digna e, ainda que não incorporados ao ordenamento jurídico de um país, são 
capazes de influenciar o Direito Constitucional. Já os direitos fundamentais são direitos 
incorporados ao ordenamento jurídico de um país, normalmente direcionados à proteção da 
pessoa humana. 
Em relação a distinção entre direitos e garantias, mencionados no Título II da Constituição 
Federal, pode-se afirmar que direitos fundamentais são normas de conteúdo declaratório, 
como o direito à vida (art. 5º, caput), à liberdade religiosa (art. 5º, VI), à liberdade de locomoção 
(art.5º, XV) etc. 
As garantias fundamentais, por sua vez, são normas de conteúdo assecuratório, ou 
seja, instrumentos previstos na Constituição para garantir e assegurar os direitos previamente 
tutelados. Assim, enquanto a honra é um direito (art. 5º, X), a Constituição prevê a indenização 
por dano moral (art. 5º, V) a fim de assegurar e preservar esse direito. Ainda, podem ser citados 
como exemplos de garantias os remédios constitucionais, como o habeas corpus (art.5º, LXVIII), 
o qual é destinado a assegurar, preservar e tutelar o direito à liberdade de locomoção. 
 
 
7 
Os direitos e garantias fundamentais são um gênero, classificado pela Constituição 
Federal de 1988 em cinco importantes grupos: direitos e deveres individuais e coletivos; direitos 
sociais; direitos de nacionalidade; direitos políticos e partidos políticos. 
Outro assunto importante diz respeito a uma inovação da CF/88, a qual colocou os 
direitos fundamentais logo no início das suas disposições (no Título II). Isso demonstra com 
clareza que houve uma preocupação com essa temática, sendo nítida a opção da Constituição 
de ver o Estado como instrumento e o o ser humano como fim. 
Nessa mesma linha, verifica-se também a ampliação do catálogo de direitos 
fundamentais na CF/88, a qual reconhece um rol extenso de direitos fundamentais. Para além 
disso, adotou uma cláusula de abertura material dos direitos fundamentais no § 2º do art. 
5º, que afirma que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que 
a República Federativa do Brasil seja parte. Ainda, previu a aplicabilidade imediata dos direitos 
fundamentais, conforme o § 1º do art. 5º 
A importância que a CF/88 dá aos direitos fundamentais é tão grande que, em seu art. 60, 
§ 4º, alçou esses direitos a condição de cláusula pétrea. 
 
1.2. Fundamentalidade e conceito de direitos fundamentais 
 
Podemos pensar em direitos fundamentais em sentido formal e material. 
Em sentido estritamente formal, direitos fundamentais são aquelas posições jurídicas 
reconhecidas por decisão expressa do legislador constituinte. 
Mas para além desses, existem outros direitos fundamentais, conforme art. 5º, § 2º, da 
CF, que afirma: os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que 
a República Federativa do Brasil seja parte. 
Dessa maneira, haverá outros direitos fundamentais decorrentes: a) dos princípios 
adotados pela Constituição; b) dos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. 
 
 
8 
Como exemplo, podemos lembrar do princípio do duplo grau de jurisdição, que não é 
princípio explícito, mas decorre dos princípios do devido processo legal e da ampla defesa, 
previstos na CF/88. 
E como identificar como direitos fundamentais os direitos previstos fora do Título II da 
CF/88? Para tanto, necessário identificar a fundamentalidade do direito. O principal critério 
para a identificação desses outros direitos fundamentais é a dignidade da pessoa humana. 
É esse critério que justifica que se concebam como direitos fundamentais, por exemplo, a 
fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF/88) e o meio ambiente (art. 225, CF/88). 
Assim, no que se refere ao sentido material, entende-se que o critério identificador 
é a dignidade da pessoa humana, na medida em que osdireitos fundamentais devem ser 
concebidos como aquelas posições jurídicas essenciais que explicitam e concretizam o valor 
estruturante da dignidade. Em outras palavras, a dignidade da pessoa humana é o critério 
unificador dos direitos fundamentais, ao qual eles se reportam, em maior ou menor grau. Claro 
que esse critério não é absoluto, já que há direitos fundamentais reconhecido a pessoas jurídicas, 
por exemplo. 
Levando-se em conta o sentido formal e o material, pode-se chegar, com Dirley da Cunha 
Júnior, ao seguinte conceito: direitos fundamentais são todas aquelas posições jurídicas 
favoráveis às pessoas que explicitam, direta ou indiretamente, o princípio da dignidade da pessoa 
humana, que se encontram reconhecidos no texto da Constituição formal (fundamentalidade 
formal) ou que, por seu conteúdo e importância, são admitidas e equiparadas pela própria 
Constituição, aos direitos que esta formalmente reconhece, embora dela não façam parte 
(fundamentalidade material). 
 
1.3. Os quatro status de jellinek 
 
Os direitos fundamentais exercem múltiplas funções no nosso ordenamento jurídico. 
Existe uma classificação clássica que bem exemplifica essa multifuncionalidade dos direitos 
fundamentais, que é a teoria dos quatro status de George Jellinek. 
 
 
9 
Segundo essa teoria, existem quatro espécies de situações jurídicas (status), que 
mostram a situação do indivíduo perante os direitos fundamentais, ora como sujeito de deveres, 
ora como titular de direitos. São quatro status: 
a) status passivo: o indivíduo está subordinado aos poderes estatais, sujeito a um 
conjunto de deveres (e não de direitos). O Estado tem o poder de vincular juridicamente o 
indivíduo por meio de ordens e proibições. Aqui não há nenhum direito ao indivíduo, mas, sim, 
obrigações, deveres 
b) status negativo (ou libertatis): o indivíduo possui uma esfera de liberdade imune à 
intervenção estatal. É um status que garante a não intromissão do Estado em determinadas 
matérias. São direitos de defesa em face do Estado. 
c) status positivo (ou civitatis): o indivíduo tem direito de exigir do Estado determinadas 
prestações positivas que possibilitem a satisfação de certas necessidades. É uma situação 
positiva. 
d) status ativo: o indivíduo possui o direito de participar ativamente da formação da 
vontade política estatal, como membro da comunidade política, por exemplo, por meio do voto. 
O sujeito desfruta de direitos políticos. 
 
1.4. Evolução dos direitos fundamentais 
 
Costuma-se classificar os direitos fundamentais em gerações (dimensões), uma vez que 
esses direitos não são estáticos, de modo que se ampliam e se aprofundam. Em outras palavras, 
os direitos fundamentais vão surgindo na medida que a sociedade evolui. O desenvolvimento da 
técnica, a transformação das condições econômicas e sociais, a ampliação de conhecimentos, 
a intensificação dos meio de comunicação causam alterações na organização da vida humana e 
das relações sociais, o que propicia o surgimento de novas carências e, como consequência, 
novas reivindicações. 
Vale transcrever o texto da juíza federal Raquel Domingues do Amaral, que bem demostra 
a evolução dos direitos fundamentais ao longo dos séculos e traz uma reflexão importante sobre 
as conquistas e perigos de retrocessos nessa temática: 
 
 
10 
 
Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens? 
Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de 
batalha, queimada em fogueiras! 
Quando abro a Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos 
em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho! 
Vejo cabeças rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das 
fogueiras! 
Ouço o grito enlouquecido dos empalados. 
Deparo-me com crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas 
das fábricas com os estômagos vazios! 
Sufoco-me nas chaminés dos Campos de concentração, expelindo cinzas humanas! 
Vejo africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros. 
Ouço o gemido das mulheres indígenas violentadas. 
Os direitos são feitos de fluido vital! 
Pra se fazer o direito mais elementar, a liberdade, 
gastou-se séculos e milhares de vidas foram tragadas, foram moídas na máquina de se 
fazer direitos, a revolução! 
Tu achavas que os direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e 
tribunais? 
Engana-te! O direito é feito com a carne do povo! 
Quando se revoga um direito, desperdiça-se milhares de vidas … 
Os governantes que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais de 
todos aqueles que morreram para se converterem em direitos! 
Quando se concretiza um direito, meus jovens, eterniza-se essas milhares vidas! 
Quando concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria 
existência! 
O direito e a arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum 
significado! 
 
Daí porque, no decorrer do tempo, vão surgindo novos direitos, que se juntam aos demais, 
formando uma gama de direitos fundamentais que convivem no tempo. 
 
a) Direitos fundamentais de 1ª dimensão 
São os direitos civis e políticos. Foram os primeiros direitos solenemente reconhecidos 
por meio das declarações dos séculos XVIII e das primeiras constituições escritas, como 
resultado do pensamento liberal-burguês da época. Estes direitos marcam a passagem de um 
Estado autoritário para um Estado de Direito, início do constitucionalismo moderno. 
Nos direitos de 1ª dimensão, o Estado tem o dever principal de não fazer, de não 
interferir na liberdade púbica do cidadão. São chamados, por isso, de direitos negativos. 
São direitos marcadamente individualistas, oponíveis ao Estado, como direitos de defesa. 
 
 
11 
Dentre os direitos civis, encontram-se o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à 
segurança; dentre os direitos políticos, encontram-se o direito de votar e de ser votado. 
 
b) Direitos fundamentais da 2ª dimensão 
O ser humano tende a ampliar a sua dimensão pessoal, de modo a necessitar de mais 
direitos fundamentais. Ou seja, os direitos de primeira dimensão deixam de ser suficientes, 
surgindo os de segunda dimensão. 
O fato histórico que inspira e impulsiona esses direitos de 2ª dimensão é a Revolução 
Industrial europeia, a partir do século XIX, com aprofundamento após a 1ª Guerra Mundial. 
O Estado, até então, era passivo no campo social e econômico, mas importantes 
transformações na sociedade alteram as necessidades dos indivíduos. Daí porque o Estado 
começa a atuar positivamente, em setores importantes da sociedade, como saúde, assistência 
social, educação, trabalho, transportes. 
Esses direitos de segunda dimensão dizem respeito aos direitos sociais, culturais e 
econômicos, correspondendo aos direitos de igualdade. 
Assim, ao contrário dos direitos de primeira dimensão, nos direitos de segunda dimensão 
o Estado tem o dever principal de fazer, de implementar políticas públicas a fim de concretizar 
as necessidades dos indivíduos. 
A primeira constituição que previu esses direitos foi a mexicana de 1918. Mas foi a 
Constituição da República de Weimar (Constituição Alemã) de 1919 que sistematizou e serviu 
de parâmetro para diversas outras constituições pelo mundo, que passaram a adotar esses 
direitos de segunda dimensão. 
 
c) Direitos fundamentais da 3ª dimensão 
Os direitos da 3ª dimensão são marcados pelo surgimento de novos problemas e 
preocupações mundiais, como a necessidade de preservação ambiental e as dificuldades para 
proteção dos consumidores. Assim, o ser humano é inserido em uma coletividade e passa a ter 
direitos de solidariedade (ou fraternidade). 
 
 
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Esses direitos ainda são recentes e se encontram em fase embrionária. 
Aqui há a proteção não do ser humano em sua individualidade, mas do homem em 
coletividade social, sendo, portanto, de titularidade coletiva ou difusa. Em poucaspalavras, 
os direitos de terceira dimensão são os direitos metaindividuais ou transindividuais, que 
pertencem a uma coletividade determinável ou indeterminável de pessoas. 
 
d) Direitos fundamentais da 4ª dimensão 
Há uma forte tendência doutrinária em se reconhecer a existência de uma 4ª dimensão, 
em que pesem não possuam consagração nas ordens jurídicas interna e internacional. 
Segundo Bonavides, esses direitos decorrem da globalização dos direitos fundamentais, 
destacando-se os direitos à democracia, à informação e ao pluralismo. 
Alguns autores colocam aqui também os direitos contra manipulações genéticas, o direito 
à mudança de sexo e os relacionados à biotecnologia. 
 
e) Direitos fundamentais da 5ª dimensão 
Alguns doutrinadores, como Bonavides, entendem que o direito à paz deva ser tratado 
em uma dimensão autônoma, como um direito indispensável ao progresso de todas as nações. 
 
1.5. Características dos direitos e garantias fundamentais 
 
As principais características dos direitos e garantias fundamentais citados pela doutrina 
são: 
a) Historicidade: os direitos decorrem de uma evolução histórica. Os direitos 
fundamentais emergem progressivamente das lutas que os serem humanos travam; 
b) Universalidade: abrangem todos os indivíduos, sem distinção; 
c) Limitabilidade ou relatividade: os direitos fundamentais não são absolutos, de modo 
que podem ser relativizados nos casos concretos em que exista conflito de interesses; 
d) Concorrência: os direitos fundamentais podem ser exercidos simultaneamente; 
 
 
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e) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se perdem, ou seja, o passar do 
tempo não retira a possibilidade de exercício, podendo ser invocados a qualquer 
momento; 
f) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia por parte do seu titular. O que 
pode ocorrer é o seu não exercício, mas nunca a sua renúncia. 
g) Inalienabilidade: os direitos fundamentais são indisponíveis e, portanto, não podem 
ser transferidos ou alienados; 
h) Proibição do retrocesso: Sendo os direitos fundamentais o resultado de um processo 
evolutivo, marcado por lutas e conquistas, uma vez reconhecidos, eles não podem ser 
suprimidos, abolidos ou enfraquecidos. 
 
1.6. Dimensões subjetiva e objetiva dos direitos fundamentais 
 
Essa dupla dimensão ou dupla perspectiva dos direitos fundamentais significa que esses 
direitos devem ser verificados não apenas sob um viés de posições subjetivas do seu titular, mas 
também sob o enfoque da construção de situações jurídico-objetivas, que concorram para o 
atendimento das expectativas por ele fomentadas. 
Ou seja, os direitos fundamentais operam, para além da dimensão de garantia de posições 
jurídicas individuais, também como elementos objetivos fundamentais que sintetizam os valores 
básicos da sociedade democraticamente organizada e os expandem para toda a ordem jurídica. 
Ou seja, os direitos fundamentais são não somente garantias de defesa do indivíduo 
contra o abuso estatal, mas também como um conjunto de valores objetivos básicos e 
diretrizes da atuação positiva do Estado. 
Também decorre que os direitos fundamentais não devem ser vistos somente sob o 
ângulo do indivíduo perante o Estado, mas também sob o ângulo da comunidade na qual o 
indivíduo está inserido, de modo a serem possíveis imposições de restrições aos direitos 
subjetivos individuais ante os interesses superior da comunidade, como, por exemplo, o uso 
obrigatório do cinto de segurança. 
Importante consequência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais reside na 
eficácia dirigente que ela produz em relação aos órgãos do Estado. Com base nela, pode-se 
 
 
14 
sustentar que os direitos fundamentais impõem ao Estado o dever permanente de concretizá-
los. 
 
1.7. Eficácia horizontal e vertical dos direitos fundamentais 
 
O sujeito passivo dos direitos fundamentais, geralmente é o Estado, em razão de sua 
incidência de forma direta nas relações do Estado e do cidadão, chamada de eficácia vertical. 
Contudo, também se fala na chamada eficácia horizontal dos direitos fundamentais 
(também conhecida como eficácia privada dos direitos fundamentais), na qual há incidência e 
aplicação dos direitos fundamentais no âmbito das relações entre particulares. 
Quanto à eficácia horizontal dos direitos fundamentais, surgiram três correntes: 
a) teorias negativas: estas rejeitam a aplicação dos direitos fundamentais nas relações 
privadas; 
b) teoria da eficácia indireta ou mediata: aqui se defende a aplicação dos direitos 
fundamentais nas relações privadas, mas desde que haja prévia atuação do legislador 
infraconstitucional nesse sentido. Adotada na Alemanha. 
c) teoria da eficácia direta ou imediata: para esta teoria, os direitos fundamentais têm 
aplicação direta sobre as relações privadas, independente de prévia atuação legislativa. Adotada 
na Espanha, Itália, Portugal e Argentina. No Brasil, há uma tendência, inclusive do STF, na 
adoção desta teoria. 
 
1.8. Titulares dos direitos fundamentais 
 
A leitura do artigo 5º, caput, da CF/88 levaria a pensar que somente são titulares dos 
direitos os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Contudo, o Supremo Tribunal Federal, 
em nome do princípio da unidade da Constituição, entende que os estrangeiros não residentes, 
os apátridas e as pessoas jurídicas também são titulares de direitos fundamentais, em 
razão do princípio da universalidade. 
 
 
15 
Assim, quaisquer pessoas que estiverem no Brasil serão titulares de direitos 
fundamentais. 
Não obstante, haverá algumas distinções, constitucionalmente previstas, como, por 
exemplo, no art. 12, § 3º, da CF/88, que afirma que alguns cargos são privativos de brasileiro 
natos. 
 
1.9. Aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais 
 
Conforme dispõe o art. 5º, § 1º, da CF/88, as normas definidoras dos direitos e garantias 
fundamentais têm aplicação imediata. 
Na lição de José Afonso da Silva, ter aplicação imediata significa que as normas 
constitucionais são dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta incidência 
aos fatos, situações, condutas ou comportamentos que elas regulam. A regra é que as normas 
definidoras de direitos e garantias individuais (direitos de 1ª dimensão) sejam de aplicabilidade 
imediata. Mas, quando se estiver diante de normas acerca de direitos sociais, culturais e 
econômicos (direitos de 2ª dimensão), nem sempre o serão, ao menos não como os de primeira 
dimensão, na medida em que, muitas vezes, necessitam de providências ulteriores pelo Estado 
para que possam ser aplicadas. 
Mas importante notar que, mesmo nos direitos de 2ª dimensão, o § 1º do art. 5º gera uma 
importante consequência: caso o Poder Público não efetive o direito fundamental, o Poder 
Judiciário poderá ser invocado para garantir a sua aplicação. Ex: Súmula Vinculante 33: Aplicam-
se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre 
aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a 
edição de lei complementar específica. 
 
 
 
 
 
16 
1.10. Cláusula de abertura material dos direitos fundamentais 
 
Essa ideia de abertura material dos direitos fundamentais vem inicialmente, no art. 5º § 
2º, da CF/88, que afirma que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais 
em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
Dessa maneira, haverá outros direitos fundamentais, decorrentes: a) dos princípios 
adotados pela Constituição; b) dos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. 
Como consequência, esses direitos fundamentais decorrentes possuem o mesmo 
tratamento dos direitos fundamentais previstos no Título II da Constituição Federal de 1988. 
Complementando essa ideia, a Emenda Constitucional nº 45/04 acrescentouao art. 5º da 
CF/88 o § 3º, que assevera: os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que 
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos 
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
Diante disso, se um tratado internacional que verse sobre os direitos humanos é 
aprovado conforme o trâmite de emenda constitucional, esse tratado passa a ter status 
constitucionalidade. 
E quanto aos tratados sobre direitos humanos aprovados anteriormente a EC nº 45/04, 
qual status possuem? A doutrina sustentava que esses tratados, diante do art. 5º, § 2º, da 
CF/88, tinham status constitucional. No entanto, o STF trilhou outro caminho: reconheceu a 
supralegalidade dos tratados internacionais que versem sobre direitos humanos e que foram 
incorporados ao nosso ordenamento em momento anterior a EC nº 45/04. Esse é o caso do 
Pacto de São José da Costa Rica, ratificado pelo Brasil em 1992. 
 
1.11. O estado de coisas inconstitucional 
 
O Estado de Coisas Inconstitucional (ECI) tem lugar quando há a constatação de 
violações generalizadas, contínuas e sistemáticas de direitos fundamentais e tem como 
 
 
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objetivo a construção de soluções estruturais, dialógicas e pactuadas, voltadas à superação do 
quadro de violação massiva dos direitos fundamentais. 
Tem origem nas decisões da Corte Constitucional Colombiana, que reconheceu o ECI 
pela primeira vez em 1997. 
No Brasil, em 2015, foi deferida medida cautelar na ADPF 347/DF, a qual reconheceu 
que há um Estado de Coisas Inconstitucional no sistema penitenciário brasileiro, diante 
das graves, generalizadas e sistemáticas violações aos direitos fundamentais da população 
carcerária. Foi determinado que: 
a) juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 
7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, realizem audiências de custódia, 
viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 
horas, contados do momento da prisão; e 
b) a União que libere o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização 
com a finalidade para a qual foi criado, abstendo-se de realizar novos contingenciamentos 
 
1.12. Classificação dos direitos fundamentais 
 
Uma classificação que pode ser utilizada e que já foi analisada, divide os direitos 
fundamentais de acordo com a sua dimensão (geração). 
Outra classificação é a dos status de Jellinek também já vista. 
Ainda os direitos fundamentais podem ser classificados de acordo com o seu conteúdo 
(ou modo de proteção). Segundo essa classificação, os direitos fundamentais podem ser: a) 
direitos de defesa; b) direitos a prestações; c) direitos de participação. 
a) Direitos de defesa: nos direitos de defesa, o Estado tem um dever de abstenção, um 
dever de não interferência. Objetivam a limitação da ação do Estado. Destinam-se a evitar 
ingerência do Estado sobre os bens protegidos, como liberdade e propriedade. Na nossa ordem 
jurídica, esses direitos de defesa estão contidos, em grande medida, no art. 5º da Constituição 
Federal. Correspondem aos direitos de primeira dimensão e ao status negativo de Jellinek. 
 
 
18 
b) Direitos de prestações: são direitos que exigem uma ação do Estado. Os Poderes 
Públicos devem assumir comportamento ativo na sociedade. O traço característico dos 
direitos a prestação está em que se referem a uma exigência de prestação positiva. Há duas 
modalidades de direitos de prestações ou direitos prestacionais: b.1) direitos a prestações 
materiais; b.2) direitos a prestação jurídica. 
b.1) direitos a prestações materiais (ou direitos prestacionais em sentido estrito): 
decorrem do Estado Social de Direito, que estabelece como objetivos da República 
erradicar a pobreza e a marginalização (art. 3º, III, CF/88), como também construir 
uma sociedade justa (art. 3º, I, CF/88), reduzindo as desigualdades sociais e 
regionais (art. 3o, III, CF/88). São exemplos de direitos de prestação material os 
direitos sociais previstos no art. 6o da Constituição Federal (saúde, educação, 
moradia, alimentação, transpor-te etc.). 
b.2) direitos a prestação jurídica: consistem na exigência do Estado de emitir 
normas jurídicas determinadas pelo texto constitucional, como, por exemplo, o art. 
5º, XXXII, da Constituição Federal, que afirma que o Estado promoverá, na forma 
da lei, a defesa do consumidor. 
 
c) direitos de participação: consistem nos direitos orientados a garantir a participação 
dos cidadãos na vontade do país por meio dos direitos políticos. Corresponde ao status 
ativo de Jellinek. 
Por fim, possível adotar a classificação conforme previsto na Constituição Federal de 
1988, que, no Título reservado aos Direitos Fundamentais (Título II), faz a divisão da seguinte 
forma: a) direitos e deveres individuais e coletivos; b) direitos sociais; c) direito de 
nacionalidade; d) direitos políticos; e) partidos políticos, os quais serão visto 
individualmente, a partir de agora. 
 
 
 
 
19 
2. Direitos e garantias individuais e coletivos 
 
2.1. Introdução 
 
Os direitos individuais, objeto do presente tópico, estão principalmente previstos no art. 5º 
da CF/88. No entanto, como já visto, os direitos individuais e coletivos não se restinguem ao 
artigo 5º da CF/88, podendo ser encontrados ao longo do texto constitucional, expressos e 
decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição, ou, ainda, decorrentes dos 
tratados e outros documentos internacionais celebrados pelo Brasil. 
Esses direitos são os de primeira dimensão, os direitos civis e políticos, que são 
direitos de defesa, direitos negativos. 
Os direitos individuais visam à defesa de uma autonomia pessoal no âmbito da qual o 
indivíduo possa desenvolver as suas potencialidades e gozar de sua liberdade sem 
interferência indevida do Estado e do particular. 
O art. 5º traz um extenso rol de direitos, nos seus 78 incisos, o que demonstra a 
preocupação da CF/88 com a temática. Dispõe o art. 5º, caput, que todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade. A partir daí segue o extenso rol de direitos individuais e coletivos. 
 
2.2. Direito à vida 
 
O direito à vida abrange o direito de continuar vivo ou direito de não ser morto, bem como 
o direito de ter uma vida digna. Em razão do primeiro desdobramento, encontramos a proibição 
da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, inciso XIX, da 
CF (art. 5º, XLVII, da CF/88). Quanto ao segundo desdobramento, o Estado tem o dever 
constitucional de proporcionar a todos um mínimo existencial de uma vida digna, bem como é 
proibido qualquer tratamento indigno, como tortura, penas de caráter perpétuo, cruéis etc. 
 
 
20 
A Constituição Federal não determina a partir de qual momento a vida é tutelada. No 
entanto, no julgamento da ADI 3.510, foi declarada a constitucionalidade do art. 5º da Lei 
11.105/05, firmando-se o entendimento no sentido de que as pesquisas com células-tronco 
embrionárias não violam o direito à vida. 
Na decisão da ADPF 54, que discutia a constitucionalidade do aborto de fetos 
anencefálicos, o Supremo Tribunal Federal entendeu ser constitucional a interrupção da gravidez 
do feto anencéfalo sob o argumento de que inexistindo cérebro, o direito a vida não deve 
preponderar, e, portanto, obrigar que a mulher a continuar uma gravidez sabedora de que seu 
filho não sobreviverá viola a dignidade da pessoa humana da mãe. 
 
QUESTÃO DE CONCURSO PARA DELEGADO 
 
Analise a seguinte situação hipotética: Maria, casada, mãe de dois filhos, teve a terceira gestação 
aos quarenta e quatro anos. Quando estava na 13ª semana da gestação, descobriuque o feto 
era anencéfalo e, com 100% de certeza, não teria perspectiva de sobrevida. Imediatamente, 
Maria pensou em fazer um aborto, mas não tinha certeza se poderia em razão do direito 
fundamental à vida, previsto na Constituição Federal Brasileira. Após conversar com o médico, 
Maria acredita que poderá fazer o aborto, mediante comprovação por laudo médico da condição 
do feto, em razão de o Supremo Tribunal Federal já ter decidido sobre a matéria, entendendo 
favoravelmente ao aborto em algumas situações. Nesse caso, no que tange ao direito 
fundamental à vida previsto no artigo 5º da Constituição Federal, é correto afirmar que 
A) por ser um direito fundamental, é absoluto, mas, nesse caso, diante da inexistência de 
perspectiva de sobrevida do feto, não há o que se falar em proteção do direito à vida. 
B) por ser um direito fundamental, é absoluto e, na verdade, Maria não poderá fazer o aborto, 
mesmo com o laudo médico. 
C) apesar de ser um direito fundamental, não é absoluto e, nesse caso, foi relativizado, dentre 
outros, pelos princípios da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana, em prol da 
proteção da mãe. 
D) apesar de ser um direito fundamental, não é absoluto e sequer é considerado em uma 
situação como a apresentada no enunciado. 
 
 
21 
E) por ser um direito fundamental, não é absoluto, mas o princípio da dignidade da pessoa 
humana, considerado nesse caso pelo STF na proteção da mãe, está acima de qualquer 
outro direito fundamental. 
 
 
2.3. Direito à igualdade 
 
O artigo 5º, caput, da CF/88 consagra serem todos iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza. Segundo a doutrina, a igualdade deve ser observada não apenas sob o 
aspecto formal, mas também material. 
A igualdade formal consiste em dar a todos idêntico tratamento, não importando a cor, a 
origem, a nacionalidade, o gênero ou a situação financeira. A igualdade material, por sua vez, 
decorre da interpretação sistemática de vários dispositivos constitucionais e consiste em tratar-
se de modo desigual os desiguais, pois não há como reduzir as desigualdades sociais quando 
todos são tratados de forma idêntica. 
Preocupou-se tanto a CF/88 com esse tema que, em vários momentos, trouxe previsões 
nesse sentido: 
• Art. 3º, inciso IV: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação. 
• Art. 5º, inciso I: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição; 
Resposta e comentário 
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22 
• Art. 5º, inciso XLI: a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e 
liberdades fundamentais; 
• Art. 5º, inciso XLII: a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, 
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; 
• Art. 7º, inciso XXX: proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de 
critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; 
• Art. 7º, inciso XXXI: proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual 
ou entre os profissionais respectivos; 
• Art. 7º, inciso XXXII: proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores 
de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na condição de 
aprendiz ; 
• Art. 7º, inciso XXXIV: igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo 
empregatício permanente e o trabalhador avulso 
 
Para concretizar a igualdade material, o Poder Público tem em suas mãos as ações 
afirmativas, que são medidas especiais para assegurar o desenvolvimento e proteção de certos 
grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos direitos e 
das liberdades fundamentais. São discriminações positivas que tem objetivo de corrigir 
desigualdades. Como exemplo, pode-se citar as cotas raciais, que inclusive, foram 
reconhecidas como constitucionais pelo STF na ADPF 186: 
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ATOS QUE 
INSTITUÍRAM SISTEMA DE RESERVA DE VAGAS COM BASE EM CRITÉRIO ÉTNICO-
RACIAL (COTAS) NO PROCESSO DE SELEÇÃO PARA INGRESSO EM INSTITUIÇÃO 
PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 1º, CAPUT, III, 3º, 
IV, 4º, VIII, 5º, I, II XXXIII, XLI, LIV, 37, CAPUT, 205, 206, CAPUT, I, 207, CAPUT, E 208, 
V, TODOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. I – Não 
contraria - ao contrário, prestigia – o princípio da igualdade material, previsto no caput do 
art. 5º da Carta da República, a possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de 
cunho universalista, que abrangem um número indeterminados de indivíduos, mediante 
ações de natureza estrutural, seja de ações afirmativas, que atingem grupos sociais 
determinados, de maneira pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo 
limitado, de modo a permitir-lhes a superação de desigualdades decorrentes de situações 
históricas particulares. II – O modelo constitucional brasileiro incorporou diversos 
mecanismos institucionais para corrigir as distorções resultantes de uma aplicação 
puramente formal do princípio da igualdade. III – Esta Corte, em diversos precedentes, 
assentou a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa. IV – Medidas que buscam 
reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de desigualdade que caracteriza as 
relações étnico-raciais e sociais em nosso País, não podem ser examinadas apenas sob 
a ótica de sua compatibilidade com determinados preceitos constitucionais, isoladamente 
considerados, ou a partir da eventual vantagem de certos critérios sobre outros, devendo, 
ao revés, ser analisadas à luz do arcabouço principiológico sobre o qual se assenta o 
próprio Estado brasileiro. V - Metodologia de seleção diferenciada pode perfeitamente 
 
 
23 
levar em consideração critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a assegurar 
que a comunidade acadêmica e a própria sociedade sejam beneficiadas pelo pluralismo 
de ideias, de resto, um dos fundamentos do Estado brasileiro, conforme dispõe o art. 1º, 
V, da Constituição. VI - Justiça social, hoje, mais do que simplesmente redistribuir riquezas 
criadas pelo esforço coletivo, significa distinguir, reconhecer e incorporar à sociedade mais 
ampla valores culturais diversificados, muitas vezes considerados inferiores àqueles 
reputados dominantes. VII – No entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na 
discriminação reversa apenas são legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à 
persistência, no tempo, do quadro de exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, 
tais políticas poderiam converter-se benesses permanentes, instituídas em prol de 
determinado grupo social, mas em detrimento da coletividade como um todo, situação – é 
escusado dizer – incompatível com o espírito de qualquer Constituição que se pretenda 
democrática, devendo, outrossim, respeitar a proporcionalidade entre os meios 
empregados e os fins perseguidos. VIII – Arguição de descumprimento de preceito 
fundamental julgada improcedente. (ADPF 186, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, 
Tribunal Pleno, julgado em 26/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-205 DIVULG 17-
10-2014 PUBLIC 20-10-2014 RTJ VOL-00230-01 PP-00009) 
 
É possível a limitação de idade em concursos públicos? O STF entende que, se há previsão 
em lei e há justificação em razão da natureza e das atribuições do cargo a ser provido, é possível. 
Nesse sentido: 
 
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 
ESTADO DE SERGIPE. CONCURSO PÚBLICO. POLICIAL MILITAR. FIXAÇÃO DE 
IDADE LIMITE EM EDITAL. IMPOSSIBILIDADE. PREVISÃO EM LEI POSTERIOR. 
APLICAÇÃO RETROATIVA. DESCABIMENTO. PRECEDENTES. 1. O Supremo 
Tribunal Federal possui a orientação pacífica de que é legítima a limitação de idade 
máxima para a inscrição em concurso público, desde que instituída por lei e 
justificada pela natureza do cargoa ser provido. 2. Segundo o firme entendimento 
desta Corte, os requisitos para a inscrição em concurso público devem ser aferidos com 
base na legislação vigente à época de realização do certame. 3. Agravo regimental a que 
se nega provimento. (RE 595893 AgR, Relator(a): TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, 
julgado em 10/06/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 27-06-2014 
PUBLIC 01-07-2014) 
 
É possível a limitação de altura em concursos públicos? O entendimento é semelhante, ou 
seja, o limite de altura somente pode ocorrer se há justificação com base na natureza das 
atribuições a serem exercidas. 
 
CONCURSO PÚBLICO – ALTURA – LIMITE – ATRIBUIÇÕES – NATUREZA – 
CORRELAÇÃO LÓGICA – INEXISTÊNCIA. As limitações impostas ao acesso a cargos 
públicos somente são legítimas se justificadas pela natureza das atribuições a 
serem exercidas. (RE 595455 AgR, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, 
 
 
24 
julgado em 25/08/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 09-09-2015 
PUBLIC 10-09-2015) 
 
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. 
CONCURSO PÚBLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DE DELEGADO DE POLÍCIA. 
ALTURA MÍNIMA. REQUISITO. RAZOABILIDADE DA EXIGÊNCIA. 1. Razoabilidade da 
exigência de altura mínima para ingresso na carreira de delegado de polícia, dada a 
natureza do cargo a ser exercido. Violação ao princípio da isonomia. Inexistência. 
Recurso extraordinário não conhecido. (RE 140889, Relator(a): MARCO AURÉLIO, 
Relator(a) p/ Acórdão: MAURÍCIO CORRÊA, Segunda Turma, julgado em 30/05/2000, DJ 
15-12-2000 PP-00104 EMENT VOL-02016-04 PP-00771) 
 
CONCURSO PÚBLICO - FATOR ALTURA. Caso a caso, há de perquirir-se a sintonia 
da exigência, no que implica fator de tratamento diferenciado com a função a ser 
exercida. No âmbito da polícia, ao contrário do que ocorre com o agente em si, não se 
tem como constitucional a exigência de altura mínima, considerados homens e 
mulheres, de um metro e sessenta para a habilitação ao cargo de escrivão, cuja 
natureza é estritamente escriturária, muito embora de nível elevado. (RE 150455, 
Relator(a): MARCO AURÉLIO, Segunda Turma, julgado em 15/12/1998, DJ 07-05-1999 
PP-00012 EMENT VOL-01949-02 PP-00420) 
 
Sobre a homofobia e transfobia, o Plenário do Supremo Tribunal Federal entendeu que 
houve omissão inconstitucional do Congresso Nacional por não editar lei que criminalize esses 
atos. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 e no Mandado de Injunção 
(MI) 4733 reconheceu-se a mora do Congresso Nacional para incriminar atos atentatórios a 
direitos fundamentais dos integrantes da comunidade LGBT. O Plenário aprovou a tese proposta 
pelo relator da ADO, ministro Celso de Mello, formulada em três pontos. 
• até que o Congresso Nacional edite lei específica, as condutas homofóbicas e 
transfóbicas, reais ou supostas, se enquadram nos crimes previstos na Lei 7.716/2018 
e, no caso de homicídio doloso, constitui circunstância que o qualifica, por configurar 
motivo torpe. 
• a repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe o exercício 
da liberdade religiosa, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio. 
• o conceito de racismo ultrapassa aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos e 
alcança a negação da dignidade e da humanidade de grupos vulneráveis. 
 
 
 
25 
2.4. Direito à liberdade 
 
É o direito que investe o ser humano de um poder de autodeterminação, de determinar-
se conforme a sua própria consciência. Engloba várias espécies de liberdade: 
a) Liberdade de ação; 
b) Liberdade de locomoção; 
c) Liberdade de opinião ou pensamento; 
d) Liberdade de expressão de atividade intelectual, artística, científica ou de 
comunicação 
e) Liberdade de informação 
f) Liberdade de consciência, crença e culto 
g) Liberdade de reunião 
h) Liberdade de associação 
i) Liberdade de opção profissional 
 
a) Liberdade de ação: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei (art. 5º, II, CF/88). É a liberdade matriz, a base das demais. 
Deve-se entender por lei todas as modalidades previstas no art. 59 da CF/88: emendas à 
Constituição; leis complementares; leis ordinárias; leis delegadas; medidas provisórias; decretos 
legislativos; e resoluções. 
 
b) Liberdade de locomoção: Nos termos do art. 5º, XV, da CF/88, é livre a locomoção 
no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, 
permanecer ou dele sair com seus bens. 
Contudo, este direito poderá ser restringido, por exemplo, durante o estado de sítio (139 
da CF/88). 
 
 
26 
A fim de assegurar o exercício do direito de locomoção, a Constituição prevê a garantia 
do habeas corpus (art. 5º, LXVIII, da CF/88). 
 
c) Liberdade de manifestação de pensamento: A Constituição protege o direito de 
manifestação do pensamento, contudo, é vedado o anonimato (art. 5º, IV e V, CF/88). 
Por ser vedado o anonimato, não se mostra possível o deferimento de medidas como 
busca e apreensão em residência ou interceptação telefônica com base em denúncia anônima. 
Ainda, a Constituição prevê o direito de indenização por dano material, moral ou à imagem, 
bem como assegura o direito de resposta, proporcional ao agravo. 
No julgamento ADI 4815, o STF entendeu que não é exigível o consentimento da 
pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais. Resultou dito 
pelo STF: Autorização prévia para biografia constitui censura prévia particular. O recolhimento 
de obras é censura judicial, a substituir a administrativa. O risco é próprio do viver. Erros 
corrigem-se segundo o direito, não se coartando liberdades conquistadas. Assim, a ação direta 
foi julgada procedente, para dar interpretação conforme a Constituição aos arts. 20 e 21 do 
Código Civil, sem redução de texto, para, em consonância com os direitos fundamentais à 
liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação artística, produção científica, declarar 
inexigível autorização de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou 
audiovisuais, sendo também desnecessária autorização de pessoas retratadas como 
coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes). 
 
d) Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação: De 
acordo com o art. 5º, IX, da CF, é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e 
de comunicação, independentemente de censura ou licença. 
Contudo, se durante as manifestações acima expostas, houver violação da intimidade, 
vida privada, honra e imagem de pessoas, será assegurado o direito a indenização pelo dano 
material ou moral decorrente da violação (art. 5.º, X). 
Cumpre lembrar que o STF, na ADPF 130, declarou não recepcionada pela CF/88 todo 
o conjunto de dispositivos da Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa). 
 
 
27 
e) Liberdade de informação: É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado 
o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional. Trata-se do direito de informar e 
de ser informado (art. 5º, XIV). 
Ainda, o art. 5º, XXXIII, estatui que todos têm direito a receber dos órgãos públicos 
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, ressalvadas aquelas 
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 
Esse último inciso veio regulamentado pela Lei nº 12.527/11, estabelecendo os 
procedimentos destinados a assegurar o direito fundamental de acesso à informação. 
Essa mesma lei, em seu art. 23, afirma que, na forma prevista na Constituição, são 
consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado e, portanto, passíveis de 
classificação as informações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam: I - pôr em risco a 
defesa e a soberania nacionais ou a integridade do território nacional; II - prejudicar ou pôr em 
risco a condução de negociações ou as relaçõesinternacionais do País, ou as que tenham sido 
fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados e organismos internacionais; III - pôr em risco 
a vida, a segurança ou a saúde da população; IV - oferecer elevado risco à estabilidade 
financeira, econômica ou monetária do País; V - prejudicar ou causar risco a planos ou operações 
estratégicos das Forças Armadas; VI - prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e 
desenvolvimento científico ou tecnológico, assim como a sistemas, bens, instalações ou áreas 
de interesse estratégico nacional; VII - pôr em risco a segurança de instituições ou de altas 
autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares; ou VIII - comprometer atividades de 
inteligência, bem como de investigação ou fiscalização em andamento, relacionadas com a 
prevenção ou repressão de infrações. 
Tais informações em poder dos órgãos e entidades públicas, observado o seu teor e em 
razão de sua imprescindibilidade à segurança da sociedade ou do Estado, poderão ser 
classificadas como ultrassecreta, secreta ou reservada (art. 24, caput, da Lei nº 12.527/11). Os 
prazos máximos de restrição de acesso à informação, conforme a classificação prevista no caput, 
vigoram a partir da data de sua produção e são os seguintes: I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) 
anos; II - secreta: 15 (quinze) anos; e III - reservada: 5 (cinco) anos (art. 24, § 1º, da Lei nº 
12.527/11). As informações que puderem colocar em risco a segurança do Presidente e Vice-
Presidente da República e respectivos cônjuges e filhos(as) serão classificadas como reservadas 
 
 
28 
e ficarão sob sigilo até o término do mandato em exercício ou do último mandato, em caso de 
reeleição (art. 24, § 2º, da Lei nº 12.527/11). 
 
f) Liberdade de consciência, crença e culto: A Constituição assegura a inviolabilidade 
da liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos 
e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias (art. 5º, VI, da 
CF/88). 
Nota-se que entre liberdade de consciência e de crença há diferença, na medida em que 
liberdade de consciência pode orientar no sentido de não ter crença nenhuma. Ainda, liberdade 
de consciência pode resultar na adesão de determinados valores morais e espirituais que não 
se confundam com religião. Em outras palavras, liberdade de consciência está ligado a ideia 
de convicção política, filosófica ideológica, enquanto que a liberdade de crença envolve o 
direito de escolha de religião e de mudar de religião. 
A Constituição protege todas as crenças e separa o Estado da Igreja, de modo que temos 
um Estado laico, não confessional. Nesse sentido o art. 19, inciso I, da CF/88, que assevera 
que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos 
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou 
seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a 
colaboração de interesse público. 
Importante decisão do STF sobre a temática: Tema 386 da Repercussão Geral - 
Realização de etapas de concurso público em datas e locais diferentes dos previstos em edital 
por motivos de crença religiosa do candidato – Tese fixada: Nos termos do artigo 5º, VIII, da 
Constituição Federal é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários 
distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo de 
crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade 
entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que 
deverá decidir de maneira fundamentada. 
Ainda, é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades 
civis e militares de internação coletiva (art. 5º, VII, da CF/88). 
 
 
29 
Na mesma toada, ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de 
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos 
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei (art. 5º, VIII, da CF/88). É a 
chamada escusa de consciência. 
 
g) Liberdade de reunião: O art. 5º, XVI, da CF/88 garante que todos podem reunir-se 
pacificamente, sem armas, em locais públicos, independentemente de autorização, desde que 
não frustrem outra reunião anteriormente convocada no mesmo local, sendo apenas exigido 
aviso prévio à autoridade competente. 
O direito e reunião poderá ser restringido na vigência de estado de defesa (art. 136, §1º, 
I, “a”) e a liberdade de reunião poderá ser suspensa durante o estado de sítio (art. 139, IV). 
 
h) Liberdade de associação: A liberdade de associação é o direito que assiste às 
pessoas de se unirem, de forma estável e duradoura, em torno de um interesse comum. 
A liberdade de associação é plena, desde que para fins lícitos, sendo vedada a associação 
de caráter paramilitar (art. 5º, XVII, da CF/88). 
A liberdade de associação também garante o direito de não se associar. Ninguém poderá 
ser compelido a associar-se ou mesmo a permanecer associado (art. 5º, XX, da CF/88). 
A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de 
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento (art. 5º, XVIII, da 
CF/88). 
Na forma do inciso XIX do art. 5º, as associações só poderão ser compulsoriamente 
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro 
caso, o trânsito em julgado; 
 Por fim, cumpre notar que as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, 
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente (art. 5º, XXI, da 
CF/88). Porém, deve-se atentar que, se for caso de mandado de segurança coletivo impetrado 
 
 
30 
por entidade de classe em favor dos seus associados, não há necessidade de autorização 
destes, conforme Súmula 629 do STF. 
 
i) Liberdade de profissão: O art. 5º, XIII, da CF/88 assegura a liberdade do exercício de 
qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei 
estabelecer. 
Trata-se de norma constitucional de eficácia contida, podendo a legislação 
infraconstitucional limitar o seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pleno exercício 
da profissão, como, por exemplo, a exigência de aprovação no exame de ordem para inscrição 
junto à OAB como advogado. 
 
2.5. Direito à intimidade, vida privada, honra e imagem 
 
 Conforme art. 5º, X, da CF/88, são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente 
de sua violação. 
Direito à intimidade significa que a vida secreta ou exclusiva do indivíduo pode ser 
reservada somente para si, sem repercussão social, na família, no trabalho ou no seio das 
amizades. É o direito à proteção dos segredos mais escondidos do indivíduo, como sua vida 
amorosa, a opção sexual, as suas convicções. É desdobramento do direito à intimidade a 
inviolabilidade do domicílio e da correspondência. 
Direito à vida privada é o direito do resguardo de sua vida perante o trabalho, a 
família, os amigos. Difere do direito à intimidade, pois aquilo que é íntimo é mais secreto do que 
aquilo que é privado. O que é privado não diz respeito somente ao indivíduo, mas à sua família, 
aos seus amigos, ao seu trabalho. Exemplo: repórter que divulga algum fato atinente à relação 
familiar entre os pais e os filhos viola o direito à vida privada; o pai que devassa o diário de sua 
filha viola a intimidade dela. 
Direito à honra é o direito à consideração social, ao bom nome e à boa fama e, ainda, 
ao sentimento íntimo, ou seja, consciência da própria dignidade pessoal. Assim, o direito à 
 
 
31 
honra visa a tutelar todo esse conjunto de atributos concernentes à reputaçãoe ao bom nome 
da pessoa. É dado tanta importância ao direito à honra que o Código Penal prevê três crimes 
para protegê-lo (delito de calúnia, art. 138 do CP, delito de difamação, art. 139 do CP, e delito 
de injúria, art. 140 do CP). 
Direito à imagem é a representação de alguma coisa ou pessoa pelo desenho, pintura, 
fotografia ou outro meio de caracterização de seus atributos físicos. O direito à imagem tem o 
objetivo de resguardar esses aspectos físicos da pessoa, impedindo a sua divulgação. 
 
2.6. Direito à inviolabilidade domiciliar 
 
De acordo com o art. 5º, XI, a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo 
penetrar sem o consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou 
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. 
Assim, sem o consentimento do morador só pode nela penetrar: 
• Por determinação judicial: somente durante o dia; 
• Em caso de flagrante delito, desastre, ou para prestar socorro: poderá penetrar 
sem consentimento do morador, durante o dia ou à noite, sem necessidade de 
determinação judicial. 
 
E o que é dia para fins de interpretação da regra Constitucional? Boa parte da doutrina 
adota o critério físico-astronômico, ou seja, inicia-se com a aurora e termina com o crepúsculo. 
Mas outra parte da doutrina prefere um critério mais objetivo, que dê maior segurança, indicando 
que dia é o que vai das 6 às 18 horas. Importante destacar que este horário é o momento em 
que se deve iniciar a medida, e não o horário de conclusão. 
Ainda, para fins de interpretação da norma, o que deve ser entendido por casa? De acordo 
com a jurisprudência, casa envolve a residência da pessoa, com ou sem ânimo definitivo, o 
quarto de hotel ou motel ocupado, qualquer aposento ocupado de habitação coletiva, o trailer e 
o barco, caso sirva de morada, e o local de trabalho reservado. 
 
 
 
32 
2.7. Direito ao sigilo de correspondência e comunicações 
 
Nos termo do art. 5º, XII, é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações 
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, 
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução 
processual penal. 
Destacamos alguns pontos específicos das formas de sigilo: 
• Sigilo de correspondência é o sigilo da troca de mensagens por carta ou outro meio 
similar; 
• Sigilo das comunicações telegráficas é o sigilo da comunicação escrita, transmitida à 
distância por telégrafos; 
• Sigilo das comunicações de dados é o sigilo sobre o conjunto de informações pessoais 
transmitidas por qualquer meio que não seja o telefone; 
• Sigilo das comunicações telefônicas é o sigilo das comunicações realizadas por 
telefone. 
 
Apesar do referido inciso XII dar, em uma interpretação literal, a entender que somente 
poderia ocorrer a quebra do sigilo de dados e das comunicações telefônicas, como não há 
direitos absolutos, o entendimento é no sentido de que é possível a quebra de qualquer sigilo 
previsto em tal direito fundamental. 
Para que ocorra a quebra do sigilo telefônico, é necessário: 
• ordem judicial (hipótese de cláusula de reserva de jurisdição) 
• nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer 
• para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. 
 
A lei que regulamentou esse inciso do art. 5º foi a Lei 9.296/96, que, em seu art. 2º, 
estabeleceu os requisitos para tanto: 
• houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; 
• a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis; 
• infração penal punida com pena reclusão. 
 
 
33 
Gravação de conversa telefônica por um dos interlocutores precisa de autorização 
judicial? Sim, desde que não haja causa legal específica de sigilo nem reserva de conversação. 
Nesse sentido: 
 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. 
DENÚNCIA ANÔNIMA. DILIGÊNCIAS PRELIMINARES. GRAVAÇÃO AMBIENTAL POR 
INTERLOCUTOR. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. DESNECESSIDADE. VOLUNTARIEDADE 
E ESPONTANEIDADE. DISTINÇÃO. REVOLVIMENTO FÁTICO PROBATÓRIO. 
INVIABILIDADE. 1. A denúncia anônima pode servir de base válida à investigação e à 
persecução criminal, desde que precedida por diligências tendentes a averiguar os fatos 
nela noticiados antes da instauração do inquérito policial. Precedentes. 2. No caso 
concreto, a investigação foi precedida por diligências empreendidas com o fim de apurar 
a fidedignidade das informações apócrifas, cumprindo as balizas definidas pela Suprema 
Corte no Habeas Corpus nº 109.598, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 
26.4.2016. 3. No Recurso Extraordinário com Repercussão Geral nº 583.937 a Corte 
firmou a tese de que: “É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada 
por um dos interlocutores sem conhecimento do outro”, guiada pela premissa de 
que “quem revela conversa da qual foi partícipe, como emissor ou receptor, não 
intercepta, apenas dispõe do que também é seu e, portanto, não subtrai, como se 
fora terceiro, o sigilo à comunicação (...)”. 4. A espontaneidade do interlocutor 
responsável pela gravação ambiental não é requisito de validade do aludido meio de prova, 
sendo a atuação voluntária (mas não necessariamente espontânea) do agente suficiente 
para garantir sua integridade. Precedentes. 5. Agravo regimental conhecido e não provido. 
(HC 141157 AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 29/11/2019, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-274 DIVULG 10-12-2019 PUBLIC 11-12-2019) 
 
Habeas corpus. Trancamento de ação penal. investigação criminal realizada pelo 
Ministério Público. Excepcionalidade do caso. Possibilidade. gravação clandestina 
(gravação de conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento do outro). 
Licitude da prova. Precedentes. ordem denegada. 1. Possibilidade de investigação do 
Ministério Público. Excepcionalidade do caso. O poder de investigar do Ministério Público 
não pode ser exercido de forma ampla e irrestrita, sem qualquer controle, sob pena de 
agredir, inevitavelmente, direitos fundamentais. A atividade de investigação, seja ela 
exercida pela Polícia ou pelo Ministério Público, merece, por sua própria natureza, 
vigilância e controle. O tema comporta e reclama disciplina legal, para que a ação do 
Estado não resulte prejudicada e não prejudique a defesa dos direitos fundamentais. A 
atuação deve ser subsidiária e em hipóteses específicas. No caso concreto, restou 
configurada situação excepcional a justificar a atuação do MP: crime de tráfico de 
influência praticado por vereador. 2. Gravação clandestina (Gravação de conversa 
telefônica por um interlocutor sem o conhecimento do outro). Licitude da prova. Por 
mais relevantes e graves que sejam os fatos apurados, provas obtidas sem a 
observância das garantias previstas na ordem constitucional ou em contrariedade 
ao disposto em normas de procedimento não podem ser admitidas no processo; 
uma vez juntadas, devem ser excluídas. O presente caso versa sobre a gravação de 
conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento de outro, isto é, a 
denominada “gravação telefônica” ou “gravação clandestina”. Entendimento do 
STF no sentido da licitude da prova, desde que não haja causa legal específica de 
sigilo nem reserva de conversação. Repercussão geral da matéria (RE 583.397/RJ). 3. 
Ordem denegada. 
(HC 91613, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 15/05/2012, 
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 14-09-2012 PUBLIC 17-09-2012 RTJ VOL-
00224-01 PP-00392) 
 
 
 
34 
A jurisprudência do STF entende que os sigilos bancário e fiscal também são direitos 
fundamentais, mas protegidos pelo direito à privacidade previsto no inciso X do art. 5º da CF/88. 
 
2.8. Direito de propriedade 
 
Segundo o art. 5º, inciso XXII, da CF/88, é garantido o direito de propriedade. Mas esse 
direito é complementado pelo inciso XXIII do mesmo artigo: a propriedade atenderá a sua função 
social.Essa ideia é complementada pelos arts. 182, § 2º, e 186 da CF. 
Por não ser um direito absoluto, a propriedade poderá ser desapropriada, nas 
seguintes hipóteses: 
• Por necessidade ou utilidade pública (art. 5º, inciso XXIV, CF/88): deve haver um 
causa expropiandi ligada a necessidade, utilidade pública ou interesse social. Neste 
caso, existe o direito a prévia e justa indenização em dinheiro. Deve ser respeito o 
processo expropriatório previsto na legislação infraconstitucional; 
• Desapropriação-sanção (art. 184 da CF/88): ocorre no caso de descumprimento da 
função social da propriedade. Tem como finalidade a reforma agrária. Nesse caso, 
o pagamento se dará com os títulos de dívida pública ou agrária. Nessa hipótese 
não podem ser desapropriadas a pequena e média propriedade rural, bem como a 
propriedade produtiva (art. 185, I e II, CF/88). 
 
Ainda, a propriedade pode ser confiscada, mediante decisão judicial, no caso de serem 
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou exploração de trabalho escravo na 
forma da lei. Será a propriedade expropriada e destinada à reforma agrária e a programas de 
habitação popular, sem nenhuma indenização ao proprietário (art. 243 da CF/88). 
Por fim, a Constituição revê que a propriedade poderá ser restringida através do direito 
de requisição concedido ao Poder Público. Os pressupostos para o exercício do direito de 
requisição são o perigo público eminente, decretação pela autoridade competente, finalidade de 
uso e indenização posterior, no caso de prejuízo (art. 5º, XXV, CF/88). 
Cumpre lembrar, sobre o tema propriedade, que a pequena propriedade rural, assim 
definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento 
 
 
35 
de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o 
seu desenvolvimento (art. 5º, XXVI, CF/88) 
Ainda sobre o tema propriedade, deve-se atentar para os seguintes incisos do art. 5º da 
CF/88: 
• XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou 
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; 
• XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: 
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da 
imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; 
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou 
de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações 
sindicais e associativas; 
• XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para 
sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, 
aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social 
e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; 
• XXX - é garantido o direito de herança; 
• XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei 
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja 
mais favorável a lei pessoal do "de cujus"; 
 
2.9. Direito de petição e obtenção de certidões 
 
A Constituição assegura a todos, independente do pagamento de taxas, o direito de 
petição aos Poderes Púbicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder, bem 
como a obtenção de certidões em repartições públicas para defesa de direitos e esclarecimento 
de situações de interesse pessoal (art. 5º, XXXIV, CF/88). 
 
 
 
 
 
36 
2.10. Princípio da inafastabilidade da jurisdição 
 
O princípio da inafastabilidade da jurisdição está estabelecido no art. 5º, XXXV, da CF/88 
que dispõe a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. 
Como consequência, é proibido qualquer lei ou ato que limite o acesso ao Judiciário. Daí 
porque a lei não pode condicionar o ingresso em juízo à prévia exaustão das vias administrativas. 
No entanto, importa notar que o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina 
e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada 
em lei. A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do 
processo, para proferir decisão final (art. 217, §§ 1º e 2º, CF/88). 
No sentido da inafastabilidade da jurisdição foi editada a Súmula 667 do STF: Viola a 
garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor 
da causa. 
 
2.11. Direito à segurança jurídica 
 
O art. 5º, caput, da CF/88 prevê a segurança jurídica como direito fundamental, como 
forma de proteção da garantia da certeza e da estabilidade das relações ou situações 
jurídicas e a proteção à confiança. 
Encerra a ideia de que as relações ou situações jurídicas constituídas com base em uma 
lei perdurarão ainda que posteriormente seja revogada tal lei. 
Isso impõe também aos poderes públicos o respeito à estabilidade das relações jurídicas. 
Manifesta-se a segurança jurídica por meio das seguintes garantias: direito adquirido, 
ato jurídico perfeito e coisa julgada, conforme art. 5º, XXXVI, da CF/88: estabelece que, como 
regra, a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. 
Direito adquirido é aquele que já foi incorporado ao patrimônio da pessoa e, 
portanto, já pode ser exercido. Em outras palavras, quando cumpridas as condições 
necessárias para o seu exercício, incorpora-se definitivamente ao patrimônio de seu titular, que 
ainda não o exerceu, mas que poderá usufruí-lo a qualquer tempo, ainda que posteriormente 
extinto ou agravadas as bases normativas de sua constituição. Ex: um servidor, em um dado 
momento, satisfaz as condições jurídicas exigidas para o exercício de sua aposentadoria 
 
 
37 
voluntária, mas decide, neste momento, não se aposentar. Ele tem o direito adquirido de se 
aposentar, mesmo que venha lei nova posterior que altere os requisitos para a aposentadoria. 
O ato jurídico perfeito é o ato já realizado e consumado de acordo com o sistema 
jurídico vigente ao tempo em que efetivou. É aquele em que já se consumou de acordo com 
a lei vigente à época. O ato jurídico perfeito, assim, consagra o princípio da segurança jurídica 
porque preserva as situações devidamente constituídas na vigência da lei anterior, porquanto a 
lei nova só projeta seus efeitos para o futuro, como regra. Difere do direito adquirido porque este 
resulta diretamente da lei, enquanto aquele decorre diretamente da vontade de quem o originou, 
estando apenas assentada na lei. 
A coisa julgada é a imutabilidade das decisões judiciais transitadas em julgado. É a 
garantia que torna inquestionável, imutável, irreversível uma decisão judicial contra a qual não 
caiba mais recurso. 
 
2.12. Devido processo legal 
 
A Constituição assegura que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o 
devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF/88). 
O devido processo legal pode se manifestar de duas formas: devido processo legal formal 
ou procedimental e devido processo legal material ou substantivo. 
O devido processo legal formal se preocupa em exigir um processo como formalidade 
necessária para imposição de penas. 
O devido processo legal material impõe a justiça e razoabilidade das decisões restritivas 
a direitos. Assim, não basta a garantia da regular instauração formal do processo para assegurar 
direitos e liberdades fundamentais, pois vê como indispensável que as decisões a serem 
tomadas nesse processo primem pelo sentimento de justiça, de equilíbrio, de adequação, de 
necessidade e proporcionalidade em face do fim que se deseja proteger. 
Segundo o STF, decorre do devido processo legal o princípio do duplo grau de jurisdição. 
 
 
 
38 
2.13. Contraditório e ampla defesa 
 
Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados ocontraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/88). 
Contraditório é a ciência bilateral dos atos e a possibilidade de confrontá-los. Dizendo de 
outra forma: contraditório = informação + possibilidade de reação. Ou seja, de cada ato 
processual, ambas as partes devem ter ciência e chance de se manifestar. Note-se que se fala 
em possibilidade de reação e não em obrigatoriedade, de modo que, se a parte não quiser, não 
precisa reagir. 
A doutrina moderna vem acrescentando ao contraditório a paridade de armas, como 
forma de garantir a igualdade material (tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma 
desigual, na medida das suas desigualdades). Essa missão de igualar os desiguais é dada ao 
juiz no curso do processo, de modo que, verificando que uma das partes está em condição 
desigual, aja de forma a compensar essa desigualdade. 
Em poucas palavras, a possibilidade de reação deve ser efetiva, não meramente formal. 
Ampla defesa significa uma defesa extensa, abundante, abrangente. Esta ligada ao 
contraditório, mas com este não se confunde. A ampla defesa, especialmente falando em 
processo penal, se subdivide em 
a) direito de presença: direito de estar presente em todos os atos do processo; 
b) direito de audiência: direito de ser ouvido pelo juiz. Geralmente ocorre no interrogatório; 
c) direito de postular pessoalmente: réu tem direito de recorrer pessoalmente no processo 
penal (art. 577 do CPP) e de ajuizar habeas corpus ou revisão criminal (art. 623 do CPP). 
Importante notar que a ampla defesa somente será respeitada se houver um prazo 
suficiente para que haja seu exercício, conforme art. 8ª, 2, c, da CADH: 
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência 
enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem 
direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: 
(...) 
c. concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de 
sua defesa; 
 
 
39 
 
QUESTÃO DE CONCURSO PARA DELEGADO 
 
Maria, advogada de João, compareceu à Delegacia de Polícia da Circunscrição XX, e requereu 
vista do Inquérito Policial nº 123, no qual seu cliente figurava como um dos investigados. O 
requerimento foi negado pelo delegado de polícia sob o argumento de que a investigação dizia 
respeito a uma perigosa organização criminosa, o que levou à decretação do sigilo, para que 
fosse assegurado o êxito das investigações. 
A decisão está: 
A) incorreta, pois deveria ser assegurado o direito de acesso aos elementos já documentados, 
associados ao direito de defesa; 
B) correta, pois, no caso concreto, a ponderação dos valores envolvidos conduz à 
preponderância do interesse público; 
C) correta, desde que a decretação do sigilo tenha sido devidamente fundamentada; 
D) incorreta, pois o sigilo do inquérito policial é incompatível com o princípio republicano; 
E) incorreta, pois o sigilo do inquérito policial não é oponível a nenhum advogado. 
 
 
 
 
 
Resposta e comentário 
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40 
2.14. Garantia do juiz natural 
 
Essa garantia é vista no art. 5º, em dois incisos: XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de 
exceção; e LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. 
Esses incisos trazem, assim, a vedação dos tribunais de exceção e o direito de ser julgado 
por um juiz competente predeterminado por lei. 
Esse princípio está intimamente vinculado com a imparcialidade, na medida em que se 
garante que o juiz vai ser imparcial quando há regras predeterminadas de quem julgará 
determinada pessoa. 
Assim, não é possível, em razão dessa garantia, a escolha de magistrado para julgar 
determinado caso e nem a exclusão de um magistrado competente. As regras sobre competência 
devem ser claras, precisas e estabelecidas previamente. 
 
2.15. Garantia da vedação das provas ilícitas 
 
Conforme a CF/88, no seu art. 5º, inciso LVI, são inadmissíveis as provas obtidas por 
meios ilícitos. Cuida-se de uma garantia instituída para proteger o indivíduo da prepotência dos 
poderes responsáveis para a repressão, tolhendo-lhes a possibilidade de produzir provas ilícitas 
e clandestinas ou forjar elementos probatórios. 
 
2.16. Garantia do processo no prazo razoável 
 
Adveio com a EC 45/04, que acrescentou o inciso LXXVIII ao art. 5º da CF/88: a todos, no 
âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios 
que garantam a celeridade de sua tramitação. 
Já havia previsão na art. 8.1 da Convenção Americana dos Direitos Humanos (CADH): 
Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, 
por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, 
 
 
41 
na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus 
direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. 
Basicamente significa que um processo deve chegar ao seu fim sem dilações 
indevidas. 
Mas também extrai-se dessa garantia que um processo que não tenha duração razoável 
deve levar ao desencarceramento do réu que se encontre cautelarmente preso. 
Nesse sentido o art. 7.5 da CADH: (...) toda pessoa presa, detida ou retida deve ser 
conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer 
funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em 
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a 
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 
Assim, caso alguém esteja preso por um tempo excessivo, essa prisão tornou-se ilegal e, 
como consequência, deve ser relaxada, na forma do art. 5.º, LXV, da CF: a prisão ilegal será 
imediatamente relaxada pela autoridade judiciária. 
Importante referir que no Brasil vige a “doutrina do não prazo”, isto é, não há no 
ordenamento jurídico previsão legal acerca de qual período de tempo é considerado razoável 
para durar o processo. 
 
2.17. Garantia da vedação da prisão civil por dívida 
 
A CF/88 veda a prisão por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário 
e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel (art. 5º, LXVII, CF/88). 
No entanto, o STF entende que não é mais possível a prisão do depositário infiel, na 
medida em que, conforme decidiu, o Pacto de São José da Costa Rica tem status supralegal, e 
este pacto, em seu art. 7º, parágrafo 7º, proíbe a prisão civil, salvo no caso do devedor de 
alimentos. 
 
 
 
42 
2.18. Direitos relativos ao direito penal e processual penal 
 
a) Garantia da legalidade ou da reserva legal. Conforme art. 5º, inciso XXXIX, da CF/88, 
não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 
b) Garantia da irretroatividade da lei penal mais severa. Conforme art. 5º, inciso XL, 
da CF/88: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. 
c) Garantia da presunção de inocência. A presunção de inocência está prevista no art. 
5.º, LVII, da CF, que diz: ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória. Alguns preferem chamar esse princípio de presunção de não 
culpabilidade, pela forma em que foi escrito o dispositivo constitucional. 
Breve histórico sobre a aplicação dessa garantia no Supremo Tribunal Federal: 
Até 2009, o STF entendia que poderia haver a prisão em decorrência de condenação em 
segunda instância, ou seja, cumprimento de pena (provisório) antes do trânsito em julgado; 
Em 2009, no julgamento do HC 84.078, o STF alterou seu entendimento e passou a 
entender que somente após o trânsito em julgado o indivíduo poderia começar a cumprir pena; 
Em fevereiro de 2016, no julgamento do Habeas Corpus 126.292, o Plenário, por sete 
votos a quatro, decidiu que a possibilidade de

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