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DIREITO TRIBUTÁRIO II Curso: DIREITO Professor(a): THIAGO DALSENTER Nome: MARCELA BORGES DE MACEDO, MATEUS LOSSE, WELLINGTON THADEU PRANTL RA: 2018101323, 2018101327, 2018100668 01º TRABALHO DE DIREITO TRIBUTÁRIO II 1) Expliquem em que consiste o critério/aspecto pessoal da hipótese da norma jurídica tributária, nas visões de Marçal Justen Filho e de Geraldo Ataliba. Há necessidade de um critério pessoal compor a hipótese da RMIT? Por quê? Para Marçal Justen Filho, o critério pessoal da hipótese da norma jurídica tributária consiste nas qualidades, condições, que deve, o sujeito envolvido na realização do fato, apresentar. Por outro lado, para Geraldo Ataliba, o aspecto pessoal consiste nas características que o sujeito deve apresentar para ocorrer a incidência tributária. Assim, para essa corrente, observa-se a importância do critério pessoal compor a RMIT diante do fornecimento de elementos particulares existentes: as características pessoais daqueles que compõem a relação serão observados no momento da incidência. Porém não há consenso para a presença do critério pessoal na hipótese da RMIT, visto que há o entendimento dos autores acima mencionados e, por outro lado, conforme visto em sala, pode-se entender que não há a necessidade de um critério pessoal compor a hipótese da Regra Matriz de Incidência Tributária (RMIT), uma vez que, para a sua efetivação, não observa-se o indivíduo e suas particularidades, mas tão somente os elementos objetivos da hipótese de incidência (critérios materiais, espaciais e temporais). 2) O que é base de cálculo? Explicar as três funções da base de cálculo. A base de cálculo comporta a noção do quantum está presente na primeira parte da análise da RMIT, qual seja a hipótese de incidência. Segundo Luís Eduardo Schoueri, podemos conceituar a base de cálculo como a “quantificação” da hipótese de incidência, ou seja: uma expressão da hipótese de forma “matemática”; em suas palavras: “O objeto da obrigação principal é o tributo. Seu cálculo faz-se a partir de dois elementos numéricos: a base de cálculo e a alíquota. A primeira, via de regra, pode ser encontrada como um desdobramento da hipótese de incidência; é a própria quantificação, em cada caso, do fato jurídico tributário ou, ainda, é o fato jurídico tributário, visto do ponto de vista numérico. Daí por que se chega a afirmar que a base de cálculo surge como aspecto quantitativo da hipótese de incidência. Uma vez identificada a base de cálculo, aplica-se a alíquota, que geralmente é expressa na forma de um percentual, chegando-se ao montante do tributo devido”1. 1 Schoueri, Luís Eduardo. Direito tributário – 11. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2022. pg. 601 DIREITO TRIBUTÁRIO II Curso: DIREITO Professor(a): THIAGO DALSENTER Nome: MARCELA BORGES DE MACEDO, MATEUS LOSSE, WELLINGTON THADEU PRANTL RA: 2018101323, 2018101327, 2018100668 Assim, a partir da leitura de Paulo de Barros Carvalho, observa-se que a base de cálculo apresenta três funções: mensuradora, objetiva e comparativa. A primeira delas, a função mensuradora, permite analisar as reais dimensões do fato tributável. A função objetiva, por sua vez, permite estabelecer qual o valor da dívida. Finalmente, a função comparativa permite a confirmação do critério material. Segundo a explicação de Schoueri2: Para Paulo de Barros Carvalho a base de cálculo é “aquela grandeza instituída na consequência das endonormas tributárias e que se destina, primordialmente, a dimensionar a intensidade do comportamento inserto no núcleo do fato jurídico e, como função paralela, confirmar o critério material da hipótese endonormativa”. Noutra oportunidade, pode o autor confirmar tais funções, além de acrescentar outra: “Essas reflexões nos conduzem a ver, na base calculada, três funções nitidamente distintas: a) medir as proporções reais do fato, ou função mensuradora; b) compor a específica determinação da dívida, ou função objetiva; e c) confirmar, infirmar ou afirmar o correto elemento material do antecedente normativo, ou função comparativa”. Presente, nas funções “mensuradora” e “comparativa”, encontra -se o inexorável vínculo que liga o “elemento material do antecedente normativo” à “base calculada”. Conclui-se, assim, que a base de cálculo representa a dimensão do critério material da hipótese com a função de medir a dimensão dos fatos, com a delimitação dos valores e confirmar o elemento utilizado no aspecto material. 3) A taxa destinada ao FUNREJUS (Fundo de Reequipamento do Poder Judiciário) foi criada pela Lei nº 12.216/1998, do Estado do Paraná, e tem por finalidade suprir o Poder Judiciário Estadual com os recursos necessários para fazer frente a despesas com aquisição, construção, ampliação e reforma dos edifícios forenses e outros imóveis destinados ao Poder Judiciário, aquisição de equipamentos e material permanente, implementação dos serviços de informática da Justiça Estadual, dentre outros (art. 2º). Uma dessas fontes corresponde à taxa prevista no art. 3º, inciso VII, da Lei Estadual nº 12.216/1998, que, em sua redação original, assim estabelecia: "Art. 3º Constituem-se receitas do Fundo de Reequipamento do Poder Judiciário: (…) VII - 0,2% (zero vírgula dois por cento) sobre o valor do título do imóvel ou da obrigação nos atos praticados pelos cartórios de protestos de títulos, registros de imóveis títulos e documentos e tabelionatos, limitado ao teto 2 Schoueri, Luís Eduardo. Direito tributário – 11. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2022. pg. 616 DIREITO TRIBUTÁRIO II Curso: DIREITO Professor(a): THIAGO DALSENTER Nome: MARCELA BORGES DE MACEDO, MATEUS LOSSE, WELLINGTON THADEU PRANTL RA: 2018101323, 2018101327, 2018100668 máximo de recolhimento para o dobro do valor máximo das custas fixadas no Regimento de Custas, (...)". Em 29 de dezembro de 2014, sobreveio a Lei Estadual nº 18.415/2014, que, por meio do seu art. 1º, retirou o teto máximo para cobrança da "Taxa FUNREJUS", até então fixado no valor de R$ 1.822,88, passando o inciso VII do art. 3º, da Lei Estadual nº 12.216/1998, a ter a seguinte redação: "Art. 3º Constituem-se receitas do Fundo de Reequipamento do Poder Judiciário: (…) VII - 0,2% (zero vírgula dois por cento) sobre o valor do título do imóvel ou da obrigação nos atos praticados pelos cartórios de protesto de títulos, registros de imóveis e tabelionatos, observando-se ainda que: (...)". Diante do exposto, considerando os estudos realizados sobre a base de cálculo, especialmente, em relação às suas funções, analisem criticamente a alteração promovida pela Lei Estadual nº 18.415/2014 no art. 3º, VII, da Lei nº 12.216/1998, do Estado do Paraná. Considerando as três funções da base de cálculo (mensuradora, objetiva e comparativa), percebe-se que a alteração promovida pela Lei Estadual nº 18.415/2014 no art. 3º, VII, da Lei nº 12.216/1998, do Estado do Paraná, levou à insegurança legal sobre os limites da tributação. Em outros termos: a função da base de cálculo, de fornecer uma perspectiva dimensível sobre o critério quantitativo tributável, encontra-se prejudicado diante da falta de elementos que possibilitem mensurar, legalmente, os limites da proporção e especificar a dívida tributária. A respeito dessa “taxa judiciária”, Luís Eduardo Schoueri3 apresenta: Finalmente, deve ser mencionada a tendência jurisprudencial, que aponta para um claro sentido da expressão “base de cálculo própria de impostos”: é “própria” destes a base de cálculo que reflete a capacidade econômica do contribuinte (“o valor de uma coisa de esfera jurídica privada”); “própria” das taxas é aquela que mede a atuação estatal. Elucidativo o seguinte excerto de Moreira Alves, quando afirmou, acerca da taxa judiciária: O que é certo, porém, é que não pode taxa dessa natureza ultrapassar a equivalência razoável entre o custo real dos serviços e o montante a que 3 Schoueri, Luís Eduardo. Direito tributário – 11. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2022. pg. 610 DIREITO TRIBUTÁRIO II Curso: DIREITO Professor(a): THIAGODALSENTER Nome: MARCELA BORGES DE MACEDO, MATEUS LOSSE, WELLINGTON THADEU PRANTL RA: 2018101323, 2018101327, 2018100668 pode ser compelido o contribuinte a pagar, tendo em vista a base de cálculo estabelecida pela Lei estadual e o quantum da alíquota por esta fixado. Em sequência, afirma4: Embora se reconheça a dificuldade em encontrar quantificação razoável para a taxa judiciária, o STF admite que se tome por base de cálculo o valor da causa ou o valor da condenação. Alegadamente, serve a taxa judiciária “de contraprestação à atuação de órgãos da Justiça cujas despesas não sejam cobertas por custas e emolumentos”. Nesse sentido, o limite do valor da taxa seria “o custo da atividade do Estado dirigido àquele contribuinte”, de modo que se deve guardar “equivalência razoável entre o custo real dos serviços e o montante a que pode ser compelido o contribuinte a pagar, tendo em vista a base de cálculo estabelecida pela lei e o quantum da alíquota por esta fixado”. Não é demais ressaltar que não obstante seja esse o entendimento de nossa Corte Constitucional, causa estranheza que o valor da causa possa ser visto como aproximação razoável para o custo da atividade estatal. Assim, reconhece-se que a nova redação leva à omissão sobre o valor da taxa a ser cobrada: os limites ao “montante a que pode ser compelido o contribuinte a pagar” não estão presentes. 4) Determinada pessoa física adquiriu de outra uma papelaria, estipulando-se, no contrato de compra e venda do estabelecimento, que o vendedor assumia plena responsabilidade por eventuais débitos fiscais anteriores à operação, ainda que apurados posteriormente. Três anos depois da operação, a Fiscalização Tributária Estadual lavrou auto de infração contra o adquirente do estabelecimento, por débitos do ICMS relativos à venda de mercadorias efetuadas em anos anteriores à aquisição da papelaria. Defendeu-se o autuado, dizendo não ser responsável pelo imposto reclamado, visto que o vendedor, antigo dono, assumira tal responsabilidade. Sabendo-se que o antigo proprietário, à época, aposentou-se cessando sua atividade empresarial, analise se há responsabilidade tributária do adquirente da papelaria, bem como os efeitos do contrato firmado entre o vendedor e o comprador do negócio. No presente caso, não há responsabilidade do alienante, de modo que o débito apurado deverá ser quitado pelo adquirente, na forma do art. 133, I, do CTN, in verbis: Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento 4 Schoueri, Luís Eduardo. Direito tributário – 11. ed. – São Paulo : SaraivaJur, 2022. pg. 612 DIREITO TRIBUTÁRIO II Curso: DIREITO Professor(a): THIAGO DALSENTER Nome: MARCELA BORGES DE MACEDO, MATEUS LOSSE, WELLINGTON THADEU PRANTL RA: 2018101323, 2018101327, 2018100668 comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; Ainda, no que tange à assunção de responsabilidade pelo alienante, esta não será oponível à Fazenda Pública, por expressa determinação do art. 123 do CTN: Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes. Não é outro o entendimento da jurisprudência: TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ICMS. MASSA FALIDA. MULTA FISCAL E JUROS DE MORA.1. LEGITIMIDADE PASSIVA DA MASSA FALIDA PARA RESPONDER PELOS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS E ENCARGOS LEGAIS DURANTE O PERÍODO DE ARRENDAMENTO DO ESTABELECIMENTO.CONVENÇÃO PARTICULAR INOPONÍVEL À FAZENDA PÚBLICA COM O INTUITO DE MODIFICAR O SUJEITO PASSIVO DA OBRIGAÇÃO (CTN, ART. 123).PRELIMINAR REJEITADA. [...] (TJPR - 2ª C.Cível - ACR - 1284687-2 - Campina Grande do Sul - Rel.: DESEMBARGADOR LAURO LAERTES DE OLIVEIRA - Unânime - J. 29.09.2015 - destacamos) Assim, pela previsão legal e entendimento jurisprudencial, conclui-se que o adquirente assume a responsabilidade pelas questões tributárias e, mesmo diante da previsão contratual realizada, não poderá “indicar” o antigo proprietário como o responsável para a sua quitação; assume, assim, a obrigação de pagá-las integralmente, visto, inclusive, que o “vendedor” não prosseguiu com a exploração do comércio. 5) João e Pedro pretendem celebrar contrato de compra e venda de bem imóvel. Contudo, para consumarem o negócio, constituem previamente a pessoa jurídica ABC Ltda. formada por eles apenas, tendo por objetivo única e exclusivamente não fazer incidir o ITBI sobre a operação, com amparo no art. 156, § 2º, I, da CRFB, que prevê hipótese de imunidade da referida exação sobre o imóvel utilizado na integralização do capital social. Nesse sentido, João, originalmente proprietário alienante do bem, integraliza suas quotas na forma do imóvel, e Pedro completa o capital social da empresa depositando o montante correspondente ao valor do bem objeto da alienação. Após pouco mais de um DIREITO TRIBUTÁRIO II Curso: DIREITO Professor(a): THIAGO DALSENTER Nome: MARCELA BORGES DE MACEDO, MATEUS LOSSE, WELLINGTON THADEU PRANTL RA: 2018101323, 2018101327, 2018100668 mês, João e Pedro dissolvem a sociedade e, como consequência, João recebe sua parcela do capital em dinheiro, ao passo que Pedro recebe o seu quinhão na forma do imóvel. Diante disso, analisem a conduta adotada pelos particulares e respondam se, e como, poderia a Fazenda Municipal satisfazer seu crédito com relação à situação apresentada, uma vez descoberta a real intenção dos dois agentes. A prática adotada por João e Pedro é popularmente conhecida como Operação Casa e Separa, que é uma forma de planejamento tributário, ou seja, é um conjunto de sistemas legais que visam diminuir o pagamento de tributos. No caso em tela, para satisfazer seu crédito, o fisco poderá tomar por base o art. 116, p. único do CTN, que dispõe: Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus efeitos: I – tratando-se de situação de fato, desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; II – tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos do direito aplicável. Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. O art. 149, VII, por sua vez, estabelece o seguinte: Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: [...] VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; Verifica-se, deste modo, que a Fazenda Municipal poderá desfazer o negócio entabulado por João e Pedro e fazer incidir o ITBI, visto que o intuito do planejamento tributário adotado (Operação Casa e Separa) era mascarar o real objetivo: a compra e venda do imóvel.
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