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29/09/2022 FAMEG | Afya 1 Marcela Beltrão Glândulas Suprarrenais 1. Estudar a embriologia, histologia e morfofisiologia das suprarrenais; 2. Compreender quais substâncias são secretadas pelas suprarrenais e suas funções; 3. Entender como acontecem o funcionamento dos glicocorticoides no metabolismo (obesidade); 4. Conhecer sobre o eixo hipotálamo hipófise adrenal e sua importância no suporte imunológico; A glândula suprarrenal se desenvolve de dois componentes: uma porção mesodérmica, que forma o córtex e uma porção ectodérmica, que forma a medula. Durante a quinta semana do desenvolvimento, as células mesoteliais entre a raiz do mesentério e a gônada em desenvolvimento começam a proliferar e penetram o mesênquima subjacente. Nesse ponto, elas se diferenciam em grandes células acidófilas, que formam o córtex fetal, ou córtex primitivo, da glândula suprarrenal. Um pouco depois disso, uma segunda onda de células do mesotélio penetra o mesênquima e envolve a massa celular acidófila original. Essas células, menores que as da primeira onda, formam mais tarde o córtex definitivo da glândula. Essas são células que produzem esteroide e no segundo trimestre começam a secretar desidroepiandrosterona (DHEA), que é convertida em estrógeno pela placenta. Evidências sugerem que a produção de hormônio pelo córtex fetal é importante para a conservação da placenta e da gestação. Logo após o nascimento, o córtex fetal é regressa rapidamente, enquanto as células restantes se diferenciam em três camadas definitivas do córtex: a zona glomerulosa, a zona fasciculada e a zona reticular. O córtex secreta basicamente cortisol, aldosterona e andrógenos. Enquanto o córtex fetal está sendo formado, as células da crista neural invadem sua região medial, ondem ficam arranjadas em cordões e grupos para formar a medula da glândula. Os sinais que regulam a migração dessas células e sua especificação para a medula adrenal emanam da aorta dorsal, são chamadas de células cromafins. Essas células representam neurônios simpáticos pós-ganglionares modificados que são inervados por fibras simpáticas e, quando estimuladas, produzem epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina), que são liberadas diretamente na corrente sanguínea. Durante a vida embrionária, as células cromafins estão amplamente espalhadas por todo o embrião, mas, no adulto, o único grupo que persiste se encontra na medula suprarrenal. FIGURA 1: A. CÉLULAS DA CRISTA NEURAL PENETRANDO O CÓRTEX FETAL DA GLÂNDULA SUPRARRENAL. B. AS CÉLULAS DA CRISTA NEURAL FORMAM A MEDULA SUPRARRENAL E SE DIFERENCIAM EM CÉLULAS CROMAFINS. MAIS TARDE NO DESENVOLVIMENTO, O CÓRTEX DEFINITIVO CIRCUNDA QUASE COMPLETAMENTE A MEDULA. As glândulas adrenais são também chamadas de suprarrenais ficam localizadas nos polos superiores de cada rim e assim como os rins são órgãos retroperitoniais. São relativamente pequenas medindo em média de 4cm à 6cm de comprimento e de 1cm à 2cm de largura, pesa cercar de 10g em um indivíduo adulto, porém no feto pesa bem mais proporcionalmente pois tem uma atividade muito maior. A glândula direita tem um formato piramidal, de posição apical e possui relações anatômicas com o pilar direito do diafragma, com a veia cava inferior e com o fígado. A glândula esquerda tem um formato de meia lua, de posição medial e possui relações anatômicas com o pilar esquerdo do diafragma, com o baço e o estômago. As glândulas adrenais são irrigadas por três artérias, sendo elas, as artérias suprarrenais Objetivos Embriologia Anatomia 29/09/2022 FAMEG | Afya 2 Marcela Beltrão superiores, as artérias suprarrenais médias e as artérias suprarrenais inferiores. Enquanto a drenagem venosa é feita por uma única veia, a veia suprarrenal esquerda que é originada da veia renal e a veia suprarrenal direita que é originada da veia cava inferior. Sua inervação ocorre através do plexo suprarrenal que é um plexo composto essencialmente por fibras simpáticas. FIGURA 2: LOCALIZAÇÃO ANATÔMICA DAS GLÂNDULAS SUPRARRENAIS. FIGURA 3: ESTRUTURA GERAL E CIRCULAÇÃO DE SANGUE NA GLÂNDULA ADRENAL. É uma glândula revestida por uma cápsula de tecido conjuntivo denso, dividida em córtex adrenal e medula adrenal. O córtex adrenal possui origem embriológica mesodérmica e é formada basicamente por células secretoras de hormônios esteroides (lipídios), muito ricas em retículo endoplasmático liso. É dividido em três zonas, sendo elas, a zona glomerulosa, zona fasciculada e zona reticulada. • A Zona Glomerulosa é a zona mais externa e mais fina, composta por células piramidais responsáveis pela produção de mineralocorticoides, onde temos como principal representante a aldosterona. • A Zona Fasciculada é a zona intermediária, composta por células poliédricas dispostas em cordões retos e regulares, responsáveis pela produção de glicocorticoides, que temos como principal representante o cortisol. São células bastante ricas em lipídeos. • A Zona Reticulada é a zona mais próxima da medula adrenal, composta também por células poliédricas, porém dispostas em cordões irregulares, responsáveis pela produção essencialmente dos hormônios androgênios. A medula adrenal possui origem embriológica neuroderma, logo são células neurais chamadas cromafins, que também são células poliédricas dispostas em cordões sustentados por fibras reticulares, responsáveis pela produção das catecolaminas (epinefrina e norepinefrina). FIGURA 4: CAMADAS HISTOLÓGICAS DA GLÂNDULA SUPRARRENAL. FIGURA 5: SECREÇÃO DE HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS PELAS DIFERENTES ZONAS DO CÓRTEX ADRENAL E SECREÇÃO DE CATECOLAMINAS PELA MEDULA. Histologia 29/09/2022 FAMEG | Afya 3 Marcela Beltrão A fina zona mais externa da adrenal, tem produção exclusiva de mineralocorticoides por não possuir a enzima CYP17. Produz o mineralocorticoide aldosterona que agirá principalmente nos túbulos renais, diretamente na regulação da água, do sódio e do potássio, mais especificamente reabsorvendo água e sódio e secretando potássio. É minimamente influenciada pelo ACTH e primariamente pelo sistema renina- angiotensina, pela concentração de K+ no plasma e pelo peptídeo natriurético atrial (ANP). No sangue, a aldosterona liga-se à albumina e à proteína ligadoras de corticosteroides com baixa afinidade; portanto, tem meia vida biológica curta, de cerca de 20 minutos. Quase toda aldosterona é inativa pelo fígado em uma passagem; é conjugada a um grupo glicuronida e excretada pelos rins. A aldosterona atua de forma muito semelhante ao cortisol: seu mecanismo primário de ação é mediado pela ligação a um receptor intracelular específico. FIGURA 6: VIAS DE SINALIZAÇÃO DA CÉLULA EPITELIAL RESPONSIVA À ALDOSTERONA. A ATIVAÇÃO DO RECEPTOR MINERALOCORTICOIDE (MR) PELA ALDOSTERONA PODE SER ANTAGONIZADA COM ESPIRONOLACTONA. A AMILORIDA É UM FÁRMACO QUE PODE SER USADO PARA BLOQUEAR AS PROTEÍNAS DO CANAL DE SÓDIO EPITELIAL (ENAC). É um sistema essencialmente de regulação renal. Quando temos uma redução da pressão arterial (hipotensão), temos uma má perfusão renal, pois temos menos sangue passando pelo glomérulo, consequentemente menos sódio e a mácula densa vai perceber essa relação, logo o rim vai perceber que a pressão arterial está baixa e precisa ser aumentada. Então, a mácula densa liberará um hormônio chamado de renina que agirá no fígado estimulando a liberação de angiotensina I que sofrerá ação da enzima conversora de angiotensina (ECA), produzida nos pulmões, convertendo angiotensina I em angiotensina II que fará vasoconstrição e estimulará a zona glomerulosa do córtex adrenal a produzir e liberar aldosterona, através da ativação no receptor celular de mineralocorticoide (MR). Logo, a aldosterona agirá nos túbulos renais estimulando a reabsorção de sódio e consequentemente água, aumentando o fluxo plasmáticoe restabelecendo a pressão arterial, e agirá também nas células principais do túbulo coletor que possui uma bomba secretora de potássio e hidrogênio. A zona fasciculada produz o hormônio glicocorticoide cortisol. Comporta por um tecido ativamente esteroidogênico composto de cordões retos de células grandes que têm citoplasma “espumoso” porque são cheias de gotículas de lipídeos que representam ésteres de colesterol armazenados. Tais células produzem algum colesterol de novo, mas, também importam o colesterol do sangue na forma de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL). O colesterol livre é, então, esterificado e armazenado nas gotículas de lipídeo. O colesterol armazenado é continuamente transformado em colesterol livre pela hidrolase de éster de colesterol, um processo que aumenta em resposta ao estímulo à síntese do cortisol. Na zona fasciculada, o colesterol é convertido, sequencialmente, em pregnenolona, progesterona, 17-hidroxiprogesterona, 11- desoxicortisol e cortisol. Zona Glomerulosa Sistema Renina Angiotensina Aldosterona Zona Fasciculada 29/09/2022 FAMEG | Afya 4 Marcela Beltrão FIGURA 7: PASSOS NA SÍNTESE DE MINERALOCORTICOIDES, GLICOCORTICOIDES E ANDROGÊNIOS. O cortisol é transportado pelo sangue predominantemente ligado à globulina ligadora de corticosteroide [CBG] (também conhecida como transcortina), que liga cerca de 90% do hormônio circulante e à albumina, que liga de 5% a 7%. O fígado é o sítio predominante de inativação do hormônio. Esse órgão inativa o cortisol e conjuga esteroides ativos e inativos com glicuronida ou sulfato, para que possam ser secretados mais rapidamente pelos rins. A meia vida do cortisol circulante é de cerca de 70 minutos. O cortisol é reversivelmente inativado pela conversão em cortisona. Possuímos duas enzimas responsáveis pela conversão de cortisol em cortisona e vice versa. Sendo elas, 11β - hidroxiesteroide desidrogenase tipo 1 (11β-HSD 1) que converte cortisona em cortisol e a 11β - hidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 (11β-HSD 2) que faz a conversão de cortisol em cortisona. O cortisol é um glicocorticoide que pode ter função de mineralocorticoide, logo a conversão em cortisona é importante para impedir a ação desse hormônio na função renal, então podemos observar a presença da 11β-HSD 2 principalmente nos rins. O cortisol atual em sua célula alvo em um receptor intracelular nuclear genômico acoplado a proteína chaperona. O cortisol tem uma ampla faixa de ação e é, frequentemente, caracterizado como “hormônio do estresse”. Em geral, o cortisol mantém os níveis de glicose sanguínea, as funções do SNC e as funções cardiovasculares durante o jejum, e aumenta os níveis de glicose no sangue durante episódios de estresse às despesas de proteína muscular. O cortisol protege o corpo contra efeitos de autolesões de respostas inflamatórias e imunes descontroladas. O cortisol também reparte a energia para enfrentar um estresse inibindo as funções reprodutoras. É um hormônio que agirá praticamente em todos os tecidos do nosso organismo, conhecido como hormônio do estresse, que adaptará nosso corpo a tanto o estresse físico quanto neurológico, fornecendo energia, oxigênio e nutrientes. • Aumenta a glicose sanguínea, reduzindo a captação de glicose celular através do receptor GLUT 4; • Estimula a gliconeogênese, formação de nova glicose através de outros substratos; • Promove proteólise; • Diminuição das proteínas extra hepáticas; • Aumento das proteínas hepáticas; • Promove lipólise; Sobre o Sistema Cardiovascular • Aumenta a sensibilidade das catecolaminas • Aumenta débito e pressão sanguínea • Estimula a produção de eritropoietina (hormônio produzido nos rins que age na medula óssea estimulando a produção de hemácias) • Anemia (hipocortisolismo) x Policitemia (hipercortisolismo) Qualquer bloqueio nas enzimas que resulte na diminuição da síntese de cortisol aumenta, consequentemente, a secreção de ACTH e produz hiperplasia adrenal. A forma mais comum de hiperplasia adrenal congênita ocorre como resultado da deficiência da enzima 21-hidroxilase (CYP21). Estes indivíduos não podem produzir quantidades normais de cortisol, desoxicortisol, DOC, corticosterona ou aldosterona. A produção deficiente de cortisol e sua consequente elevação dos níveis de ACTH, estimulam a esteroidogênese aumentando a síntese de produtos que são produzidos anteriormente à enzima deficiente, bem como os produtos da zona reticular. Como estes últimos incluem os androgênios adrenais, um feto feminino será virilizado. Esses indivíduos não são capazes de produzir mineralocorticoides, aldosterona, DOC e corticosterona, têm dificuldade de reter sais e manter o volume extracelular. Consequentemente, tendem a ser hipotensos. Caso o bloqueio seja na próxima etapa, 11b-hidroxilase (CYP11B1), a DOC será formada e seus níveis se acumulam. Sendo a DOC atividade mineralocorticoide significante e se seus níveis se elevarem, estes indivíduos tenderão a reter sal e água e se tornarem hipertensos. 29/09/2022 FAMEG | Afya 5 Marcela Beltrão Sobre o Sistema Imune e Inflamatório • Inibe a produção de citocinas pró- inflamatórias; • Inibe a Fosfolipase A2 (enzima importante na produção de substâncias inflamatórias - leucotrienos, tromboxanos e prostaglandinas); • Estabiliza as membranas lisossomais (logo, não há protease que também promove inflamação tecidual); • Diminuição de linfócitos T e inibe a fagocitose, principalmente de neutrófilos; • Não afeta a produção de anticorpos; Sobre o Tecido Conjuntivo • Inibe a produção de fibroblastos (síntese de colágeno e elastina); • Inibe formação de colágeno; • Promove pele fina e equimoses (manchas roxas); Sobre o Tecido Ósseo • Aumenta a reabsorção óssea e inibem a formação; • Diminui a absorção intestinal de cálcio; • Diminui a reabsorção renal de cálcio; • Diminui a concentração sérica de cálcio na corrente sanguínea; • Estimula a liberação de paratormônio (aumento da reabsorção óssea - "tirar" cálcio do osso para o sangue); Logo, pacientes que fazem uso crônico de corticoides desenvolvem osteoporose. Sobre o Sistema Geniturinário • Diminui função do eixo reprodutor; • Ação direta e indireta sobre os rins; • Inibe secreção e ação do ADH (hormônio antidiurético); • Efeito mineralocorticoide (quando a enzima 11β-HSD 2 é saturada pelo excesso de cortisol); Sobre o Sistema Muscular • Proteólise; • Em excesso leva a fraqueza muscular; Sobre o Desenvolvimento Fetal • Desenvolvimento normal do SNC, retina, pele, trato gastrointestinal (TGI) e pulmões; • Maturação das células alveolares tipo II (permitir que o recém-nascido respire corretamente ao nascer); FIGURA 8: AÇÕES METABÓLICAS DO CORTISOL (INTEGRADAS COM AS DE CATECOLAMINAS E GLUCAGON) EM RESPOSTA AO ESTRESSE (PAINEL SUPERIOR) E CONTRASTADAS ÀS AÇÕES DO CORTISOL CRONICAMENTE ELEVADO (INTEGRADAS COM AS DA INSULINA) EM UM INDIVÍDUO SAUDÁVEL (PAINEL INFERIOR). A produção de cortisol pela zona fasciculada é regulada pelo eixo hipotálamo- hipófise-adrenal envolvendo o hormônio de liberação de Corticotropina (CRH), ACTH e cortisol. O hipotálamo e a hipófise estimulam a produção de cortisol que atua negativamente sobre o hipotálamo e a hipófise para manter seu ponto de equilíbrio. A forma neurogênica de estresse (ex. medo), tanto quanto a sistêmica (ex. hipoglicemia, hemorragia, citocinas) estimulam a liberação de CRH. O CRH está, também, sujeito a uma forte regulação rítmica diária do núcleo supra- quiasmático, fazendo com que o nível de cortisol aumente durante o final da madrugada e as primeiras horas da manhã e vá continuamente declinando durante o dia até o anoitecer. 29/09/2022 FAMEG | Afya 6 Marcela Beltrão FIGURA 9: MECANISMO DE REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE GLICOCORTICOIDES. ACTH, HORMÔNIOADRENOCORTICOTRÓFICO; FLC, FATOR LIBERADOR DE CORTICOTROPINA. A zona mais interna, a zona reticular, começa a aparecer após o nascimento, aos 5 anos de idade aproximadamente. O androgênio adrenal, especialmente o DHEAS, o principal produto da zona reticular, começa a ser detectável na circulação aos 6 anos de idade. Este início da produção de androgênio adrenal é chamado de adrenarca e contribui para o aparecimento de pelos axilares e púbicos na idade de 8 anos, aproximadamente. Os níveis de DHEAS continuam aumentando, atingem um máximo entre 20 e 30 anos e, depois, declinam progressivamente com o avançar da idade. Uma quantidade limitada de androgênio androstenediona é, também, produzida na zona reticular. Apesar de, normalmente, pequenas quantidades de androgênios potentes ou estrogênios serem produzidas pelo córtex adrenal humano, a maioria dos esteroides sexualmente ativos é produzida principalmente pela conversão periférica de DHEAS e androstenediona. O DHEAS pode ser convertido de volta em DHEA pelas sulfatases periféricas e DHEA e a androstenediona podem ser convertidas em androgênios ativos (testosterona, di- hidrotestosterona), perifericamente, em ambos os sexos. No sangue, o DHEA liga-se à albumina e a outras globulinas com baixa afinidade, assim é excretado eficientemente pelos rins. A meia vida do DHEA é de 15 a 30 minutos. Por sua vez, o DHEAS liga-se, com uma alta afinidade, à albumina e tem meia vida de 7 a 10 horas. Nos homens, a contribuição dos androgênios adrenais para os androgênios ativos é negligenciável. Em mulheres, entretanto, a adrenal contribui com cerca de 50% dos androgênios ativos circulantes, que são necessários para o crescimento dos pelos púbicos e axilares, e para a libido. O DHEAS é o hormônio circulante mais abundante em jovens adultos. Ele aumenta constantemente até os pivôs que ocorrem entre os 20 e 30 anos e, então, declina gradativamente. FIGURA 10: RESUMO DAS VIAS ESTEROIDOGÊNICAS PARA CADA UMA DAS TRÊS ZONAS DO CÓRTEX ADRENAL. AS REAÇÕES ENZIMÁTICAS ESTÃO CODIFICADAS POR CORES. SER, RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO LISO. O ACTH é o principal regulador da zona reticular. Ambos o DHEA e androstenediona ciclam no mesmo ritmo diurno do cortisol. Ademais, a zona reticular mostra as mesmas mudanças atróficas que a zona fasciculada em condições de pouco ou nenhum ACTH. Entretanto, outros fatores devem regular a função androgênica adrenal. A adrenarca ocorre em face dos níveis constantes de cortisol e ACTH, e o surgimento e declínio do DHEAS não está associado a um padrão similar de produção de cortisol ou ACTH. Entretanto, esses outros fatores, extra ou intra- adrenais, permanecem desconhecidos. Zona Reticular 29/09/2022 FAMEG | Afya 7 Marcela Beltrão As catecolaminas adrenomedulares são secretadas no sangue e atuam como hormônios. Cerca de 80% das células da medula adrenal secretam epinefrina e os 20% restantes secretam norepinefrina. Apesar de a epinefrina circulante ser totalmente derivada da medula adrenal, somente cerca de 30% da norepinefrina vem da medula. Os 70% restantes são liberados pelos terminais nervosos pós-ganglionares simpáticos e se difundem no sistema vascular. Esse tecido não é um tecido essencial a vida, pois os neurotransmissores do sistema nervoso autônomo promovem os mesmos efeitos das catecolaminas. Tirosina >>> Di-hidroxifenilalanina (DOPA) >>> Dopamina >>> Norepinefrina >>> Epinefrina. Pelo fato de a medula adrenal ser diretamente inervada pelo sistema nervoso autônomo, a resposta adrenomedular é muito rápida. Em muitos casos, a resposta adrenomedular, que é primariamente de epinefrina, é coordenada com a atividade simpática, como determinada pela liberação de norepinefrina pelos neurônios pós-ganglionares simpáticos. Entretanto, alguns estímulos produzem uma resposta adrenomedular mais forte que a da terminação nervosa simpática e vice- versa. Um exemplo informativo dos principais papéis fisiológicos de catecolaminas é a resposta simpático-adrenal ao exercício. O exercício é similar à resposta “luta ou fuga”, mas sem o elemento subjetivo de medo, e envolve maior resposta adrenomedular do que uma resposta nervosa simpática. Tem como objetivo geral responder à demanda energética aumentada dos músculos cardíaco e esquelético, enquanto é mantido um suprimento suficiente de oxigênio e glicose para o cérebro. Ações fisiológicas principais da epinefrina: 1. O fluxo sanguíneo aumentado para os músculos é obtido pela ação integrada da norepinefrina e epinefrina sobre o coração, veias e linfáticos, e nas arteríolas não musculares e musculares. 2. A epinefrina promove a glicogenólise no músculo. O músculo em exercício pode, também, utilizar os ácidos graxos livres (FFAs), e a epinefrina e a norepinefrina promovem a lipólise no tecido adiposo. A epinefrina aumenta a glicose no sangue pelo aumento da glicogenólise e gliconeogênese hepática. A promoção de lipólise em tecido adiposo é, também, coordenada com o aumento da cetogênese hepática, induzido pela epinefrina. As catecolaminas estimulam a secreção de glucagon e inibem a secreção de insulina. A produção eficiente de ATP durante o exercício regular também requer uma eficiente troca de gases com suprimento adequado de oxigênio para o músculo em exercício. As catecolaminas promovem isso pelo relaxamento da musculatura lisa bronquiolar. 3. As catecolaminas diminuem a demanda de energia pela musculatura lisa visceral. Em geral, diminui a motilidade geral dos músculos lisos nos tratos gastrointestinais (GI) e urinário, e, assim, conservando energia onde ela não é necessária. FIGURA 11: ESTÍMULOS QUE AUMENTAM A SECREÇÃO DE CATECOLAMINAS. Medula Suprarrenal A doença de Addison é uma insuficiência adrenal primária, geralmente com deficiência de mineralocorticoides e glicocorticoides. Na América do Norte e na Europa, a causa mais prevalente da doença de Addison é a destruição autoimune do córtex adrenal. Devido à deficiência de cortisol, a secreção de ACTH aumenta. Níveis elevados de ACTH podem competir pelo MC1R em melanócitos e causar aumento na pigmentação da pele, particularmente em rugas, cicatrizes e gengivas. A perda de mineralocorticoides resulta na contração do volume extracelular, que resulta em hi- povolemia 29/09/2022 FAMEG | Afya 8 Marcela Beltrão FIGURA 12: UMA PESSOA COM SÍNDROME DE CUSHING ANTES (ESQUERDA) E DEPOIS (DIREITA) DA ADRENALECTOMIA SUBTOTAL. FIGURA 13: SÍNDROME ADRENOGENITAL EM UM MENINO DE 4 ANOS DE IDADE. • LANGMAN. Embriologia Médica. 13º edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2016. • JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, José. Histologia básica texto e atlas. 13º edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2017. • HALL, J.E.; GUYTON, A.C. Tratado de Fisiologia Médica. 13º edição. Rio de Janeiro: Elsevier Editora ltda, 2017. • BERNE, Robert M.; LEVY, Matthew N. Fisiologia. 6º edição. Rio de Janeiro: Elsevier Editora ltda, 2009. • TORTORA, Gerard e DERRICKSON, Bryan. Princípios da Anatomia e Fisiologia. 14º edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan ltda, 2016. extracelular, que resulta em hipovolemia e, portanto, na queda da pressão sanguínea. Como a perda de cortisol reduz a resposta vasopressória às catecolaminas, a resistência vascular periférica diminui, facilitando o desenvolvimento de hipotensão arterial. Indivíduos com a doença de Addison também estão sujeitos a hipoglicemia quando estressados ou fatigados, e pode ocorrer intoxicação hídrica se for ingerida água em excesso. Devido ao fato de o cortisol ser importante na função muscular, também ocorre fraqueza muscular na deficiência de cortisol. A perda de cortisol resulta em anemia, diminuição da motilidade e secreção do trato GI, e redução da absorção de ferro e vitamina B12. O apetite diminui com a deficiência de cortisol, e esta redução de apetite aliada à disfunçãodo trato GI predispõe os indivíduos adissonianos à perda de peso. Esses pacientes frequentemente apresentam distúrbios de humor e comporta- mento, e são suscetíveis à depressão. O excesso de hormônio adrenocortical é denominado síndrome de Cushing. O uso farmacológico de corticosteroides exógenos é, até o momento, a causa mais comum da síndrome de Cushing. A segunda causa mais prevalente são tumores secretores de ACTH. A forma da síndrome de Cushing causada por um adenoma pituitário funcional é denominada doença de Cushing. A quarta causa mais comum de síndrome de Cushing é o hipercortisolismo primário, resultante de um tumor funcionante adrenal. Se a doença é primária ou é um resultado de tratamento com corticosteroide, a secreção de ACTH será suprimida e o aumento da pigmentação da pele não ocorre. Entretanto, se a hipersecreção da adrenal é resultado de um tumor não pituitário, secretor de ACTH, os níveis de ACTH, algumas vezes, elevam-se o suficiente para aumentar a pigmentação da pele. A secreção aumentada de cortisol causa ganho de peso, com uma distribuição de gordura centrípeta característica e uma “corcova de búfalo”. A face parece ser mais redonda (deposição de gordura) e as bochechas podem ser avermelhadas, em parte devido à policitemia. Os membros serão finos, devido à perda de músculo esquelético (do aumento da proteólise) e a fraqueza muscular é evidente (da proteólise muscular e da hipocaliemia). A fraqueza dos músculos proximais é evidente, assim, o paciente pode ter dificuldade em subir escadas ou de se levantar de uma posição sentada. O acúmulo de gordura abdominal, associado à atrofia dos músculos abdominais e ao afinamento da pele resulta em um abdômen grande e protuberante. Ocorrem estrias abdominais púrpura como resultado do dano à pele pela proteólise prolongada, do aumento da gordura intra-abdominal e da perda do tônus muscular abdominal. A fragilidade capilar ocorre por causa do dano ao tecido conjuntivo de dos capilares. Os pacientes apresentam sinais de osteoporose e cicatrização deficiente de feridas. Apresenta, também, distúrbios metabólicos que incluem intolerância à glicose, hiperglicemia e resistência à insulina (Fig. 42-11). O hipercortisolismo prolongado pode levar à manifestação de diabetes melito. Devido à supressão do sistema imune, causada pelos glicocorticoides, os pacientes são mais suscetíveis à infecção. A atividade mineralocorticoide dos glicocorticoides e o possível aumento da secreção de aldosterona produzem retenção salina e, consequentemente, de água que resultam em hipertensão. A secreção excessiva de androgênio em mulheres pode produzir hirsutismo, padrão masculino de calvície e aumento do clitóris (síndrome adrenogenital). Referências
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