Prévia do material em texto
Geovana Sanches, TXXIV INTRODUÇÃO AO EXAME FÍSICO O exame físico deve ser realizado sempre pensando-se em ajudar o paciente, colocando em primeiro lugar os interesses dele. Algumas precações devem ser tomadas para a realização do exame físico: • As mãos devem ser lavadas antes e após o exame físico; • O uso de luvas deve ser estimulado na maioria dos pacientes, e é obrigatório quando o paciente apresentar lesões cutâneas, assim como ao exame da cavidade bucal; palpações de cavidades (oral, exame de toque) e em pacientes colonizados por germes multirresistentes. • O uso de jaleco é indispensável. Deve-se ressaltar a importância o uso de calçados fechados, com solado antiderrapante e de fácil limpeza. • O uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas, máscara, goro, propés, avental com mangas longas e máscara de proteção devem ocorrer quando houver possibilidade de contato com líquidos corporais (sangue e secreções). Dentre os pontos-chave para a realização do exame físico, está a organização de um local confortável, como uma sala de exame com temperatura agradável. Deve-se respeitar a privacidade do paciente na hora do exame, evitando interrupções; deve-se, ainda, cobri-lo com um avental ou lençol. Durante o exame físico, devemos prestar atenção nas expressões faciais do paciente, ou perguntar se está tudo bem pois podem ser reveladas fontes de dor e preocupações. Devemos sempre manter o paciente informado de cada passo do exame, deixando-o mais tranquilo. “Manter o paciente informado do que pretende fazer é a melhor maneira de ter sua cooperação”. O exame físico é dividido em duas etapas, sendo necessário a utilização dos sentidos- visão, olfato, tato e audição. O exame físico geral inclui os dados gerais do paciente; é uma visão do paciente como um todo. Somatoscopia ou ectoscopia é a denominação que se dá a avaliação global do paciente; deve ser craniocaudal. A outra etapa consiste no exame dos diferentes sistemas e aparelhos (exame específico). Para realização do exame físico, o médico deve colocar-se preferencialmente a DIREITA do paciente. Isso pois as técnicas são descritas com o médico inicialmente nessa posição. O paciente, por sua vez, pode estar em: • Decúbito dorsal (costas encostadas na maca) • Decúbito lateral (braço encostado na maca) • Decúbito ventral (tórax encostado na maca) As semiotécnicas no exame físico são inspeção, palpação, percussão e ausculta. Inspeção Utiliza-se o sentido da visão. Tem início quando o paciente entra no consultório ou quando entramos no quarto de hospital. Pode ser estática ou dinâmica. Devemos notar questões de higiene e aparência, como em pacientes com aparência de envelhecimento precoce. “Cometem-se mais erros por não olhar do que por não saber.” Palpação Utilizamos o tato. Pode-se utilizar uma das mãos, as duas mãos, polpas digitais, dorso da mão e dorso dos dedos, bi manual (uma mão auxiliando a outra). Percussão Utilizamos a audição e o tato. O dedo que golpeia é denominado plexor e o que é golpeado, plexímetro. Ausculta Faz-se ausculta dos pulmões, coração, vasos e abdome. O exame físico geral deve ser realizado em local adequado, com iluminação correta. Deve ser realizado pela INSPEÇÃO e PALPAÇÃO. O paciente Geovana Sanches, TXXIV deve ser examinado nas posições de decúbito, sentada, em pé e andando. Ele é realizado seguindo as seguintes etapas: 1) Avaliação do Estado Geral: É uma avaliação subjetiva, levando em consideração os dados exibidos pelo paciente, em conjunto com a experiência médica. “É o que aparenta o doente”. Classificação em: • Bom estado geral (BEG) • Regular estado geral (REG) • Mau estado geral (MEG) 2) Fácies É o conjunto de dados exibidos na face do paciente, incluindo os traços anatômicos e a expressão fisionômica. Classificação em: a. Atípica: não apresenta características peculiares de alguma doença. b. Típica: permite a suspeita ou diagnóstico de algumas entidades nosológicas. • Mixedematosa: rosto arredondado; nariz e lábios grossos; pele seca, espessada e com acentuação de seus sulcos; pálpebras infiltradas e enrugadas; supercílios escassos, cabelos secos e sem brilho; expressão de desanimo e apatia à HIPOTIREOIDISMO • Hipocrática: olhos fundos, parados, inexpressivos; nariz afilado, lábios adelgaçados; palidez cutânea e discreta cianose labial; batimentos de asa de nariz à AFECÇÕES GRAVES E ESTADOS AGÔNICOS • Renal: edema bilateral ao redor dos olhos (peripalpebral), principalmente matinal; palidez cutânea à DOENÇAS RENAIS DIFUSAS (SÍNDROME NEFRÓTICA) • Basedowiana: olhos salientes (exoftalmia) e brilhantes; expressão de vivacidade, espanto/ ansiedade; rosto magro; bócio àHIPERTIREOIDISMO • Acromegálica: saliência das arcadas supraorbitárias, maçãs do rosto, maxilar inferior, nariz, lábios e orelhas; os olhos permanecem pequenos à ACROMEGALIA (hiperprodução do GH) • Cushingóide: rosto arredondado; atenuação dos traços faciais; bochechas avermelhadas; acne à SÍNDROME DE CUSHING (causada pelo uso excessivo de corticoides ou hiperprodução do mesmo) • Miastênica: ptose palpebral bilateral; testa franzida e elevação cabeça -> MIOPATIAS / ACIDENTE CROTÁLICO (acidente com cascavéis) • Esclerodérmica: imobilidade facial; pele endurecida, adente aos planos profundos; Geovana Sanches, TXXIV repuxamento dos lábios; afinamento do nariz -> ESCLERODERMIA (doença reumatológica, de tecido conjuntivo) 3) Atitude e decúbito preferido Atitude é a posição atotada pelo paciente no leito ou fora dele, por comodidade, hábito ou com o objetivo de conseguir alívio para algum padecimento. Pode ser voluntária ou involuntária, sendo que a primeira preocupação do médico deve ser distinguir essas duas condições. a. Voluntárias: adotada por sua vontade. Inclui: • Ortopneica: sentado apoiando pés e mãos; caso esteja em decúbito, pede-se para levantar a maca e apoiar um travesseiro na região posterior do corpo. É típica da dispneia • Genupeitoral ou prece maometana: derrame pericárdico (causado, por exemplo, devido a pericardite, câncer de pulmão, doenças infecciosas, doenças metabólicas). • Cócoras: normalmente vista em crianças com cardiopatia congênita cianótica. Exemplo: Tetralogia de Fallout. Nessa posição, diminui-se o retorno venoso, melhorando a dispneia do paciente. • Parkinsonianas: doença de Parkinson. Posição assumida em busca do próprio eixo gravitacional para ter mobilidade menos desagradável. • Diferentes decúbitos b. Involuntárias: independem da vontade do paciente. • Atitude passiva: pacientes graves, que ficam na posição em que é colocado no leito. Geralmente associado à pacientes neurologicamente comprometidos. • Opistótono (opisthen= para trás; tônus= tensão): contratura lombar; apoia cabeça e calcanhares. Comum em casos de tétano e meningite. • Emprostótono: paciente forma uma concavidade voltada para diante. • Pleurotótono (pleurothen= de lado; tônus= tensão): curva lateralmente. Também encontrada no tétano, meningite grave, além da raiva. • Posição em gatilho: contratura dos músculos da nuca, tronco ligeiramente arqueado e perna fletida • Torcicolo • Mão pendula: descrita comumente nos casos de paralisia radial, por diversos motivos. 4. Biótipo É o conjunto de características morfológicas do paciente, com a observação do panículo adiposo, tamanhos dos membros e sua relação proporcional, estatura e ângulo de Charpy. Geovana Sanches, TXXIV Devemos conhecer os biótipos devido as variações anatômicas e não confundir biótipo com altura. Classificação: a. Brevilíneo: • Pescoço curto e grosso • Tórax alargado e volumoso • Membros curtos, musculatura desenvolvida e panículo adiposo espesso • Tendência para baixa estatura • Ângulode Charpy > 90° • Exemplo: Sancho pança b. Longilíneo: • Pescoço longo e delgado • Tórax afilado e chato • Membros alongados com predomínio sobre o tronco • Ângulo de Charpy < 90° • Musculatura delgada e panículo adiposo pouco desenvolvido • Tendência a estatura elevada • Exemplo: Dom quixote c. Mediolíneo (Normolíneo) • Intermediário • Equilíbrio entre os membros e o corpo • Harmonia da musculatura e do panículo adiposo • Ângulo de Charpy de aproximadamente 90° 5. Sinais Vitais a. Temperatura: A temperatura do interior do corpo permanece quase constante, com uma variação de no máximo 0,6°C. Pequenas variações na temperatura normal são observadas de pessoa para pessoa e em uma mesma pessoa, em diferentes regiões do corpo. Os valores térmicos estão aumentados após refeições, exercícios físicos intensos, estados emocionais intensos, gravidez ou ovulação. A temperatura corporal é verificada por meio do termômetro clínico de mercúrio graduado em graus Celsius (°C), ou termômetro eletrônico. A mensuração da temperatura corporal pode apresentar variações de acordo com o local em que é registrada: axilar, oral, retal, timpânico, arterial pulmonar, esofágico, nasofaringiano e vesical. O local tradicional é o oco axilar. Para utilização correta é necessária a higiene da axila e do termômetro, evitando-se umidade no local. O termômetro deve ser conversado em álcool absoluto ou álcool iodado. • Temperatura axilar: 35,5 a 37°C, com média de 36 a 36,5°C. • Temperatura bucal: 36 a 37,4°C • Temperatura retal: 36 a 37,5°C Febre: temperatura corporal acima da faixa da normalidade. Pode ser causada por microrganismos, drogas, reações imunológicas, incapacidade de perda de calor, malignidade. Devem ser analisadas as seguintes características semiológicas da febre: início, intensidade (qual a temperatura máxima aferida), duração (paciente ingeriu medicamentos? Quantas vezes?), modo de evolução e término. Calafrios e rigidez: sensação subjetiva de calafrios, associados a tremores e batimento de dentes. Geralmente associada a febre alta. Hipotermia: mais incomum no Brasil pois não há um clima muito gelado; mais comum nos pacientes em condição em rua. O paciente apresenta-se pálido, com a pele fria e músculos rígidos. Com temperaturas abaixo de 27°C, há perda de consciência. b. Pressão arterial: Preparo do paciente 1. Explicar o procedimento ao paciente e deixá-lo em repouso de 3 a 5 minutos em ambiente calmo. Deve ser instruído a não conversar durante a medição. Possíveis dúvidas devem ser esclarecidas antes ou depois do procedimento. 2. Certificar-se de que o paciente NÃO: - Está com a bexiga cheia; - Praticou exercícios físicos há pelo menos 60 minutos; - Ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos; - Fumou nos 30 minutos anteriores. 3. Posicionamento: - O paciente deve estar sentado, com pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado. - O braço deve estar na altura do coração, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e as roupas não devem garrotear o membro. Geovana Sanches, TXXIV 4. Mediar a PA na posição de pé, após 3 minutos, nos diabéticos, idosos e em outras situações em que a hipotensão ortostática possa ser frequente ou suspeitada. Etapas para a realização da medição 1. Determinar a circunferência do braço no ponto médio entre acrômio e olécrano. 2. Selecionar o manguito do tamanho adequado ao braço. Circunferê ncia do braço (cm) Denomina ção do manguito Largur a do mangu ito (cm) Comprime nto da bolsa (cm) ≤ 6 Recém- nascido 3 6 6-15 Criança 5 15 16-21 Infantil 8 21 22-26 Adulto pequeno 10 24 27-34 Adulto 13 30 35-44 Adulto Grande 16 38 45-52 Coxa 20 42 3. Colocar o manguito, sem deixar folgas, 2 a 3 cm acima da fossa cubital. 4. Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial. 5. Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso radial. 6. Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a câmpanula ou o diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva. 7. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela palpação; 8. Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo). 9. Determinar a PAS pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação. 10. Determinar a PAD no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff). 11. Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa. 12. Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a PAD no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar os valores da PAS/PAD/zero. 13. Realizar pelo menos duas medições, com intervalo em torno de um minuto. Medições adicionais deverão ser realizadas se as duas primeiras forem muito diferentes. Caso julgue adequado, considere a média das medidas. 14. Medir a pressão em ambos os braços na primeira consulta e usar o valor do braço onde foi obtida a maior pressão como referência. 15. Informar o valor de PA obtido para o paciente. 16. Anotar os valores exatos sem “arredondamentos” e o braço em que a PA foi medida. Após a aferição da pressão arterial, classificaremos o paciente seguindo a tabela: Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHG) Normal ≤ 120 ≤ 80 Pré- hipertenso 121-139 81-89 HA estágio 1 140-159 90-99 HA estágio 2 160-179 100-109 HA estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Quando a PAS e a PAD situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação da pressão arterial. Considera-se hipertensão sistólica isolada se PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg, devendo a mesma ser classificada nos estágios 1,2 e 3. Hipotensão postural: queda de 20mmHg na pressão sistólica e/ou 10mmHg na diastólica quando há mudança de postura. Deve-se aferir o paciente deitado, sentado e em pé. Podemos suspeitar de hipotensão postural, por exemplo, quando o paciente apresenta histórico de síncope e queda. c. Frequência cardíaca: Para determinar a FC, utiliza-se o pulso radial e conta-se 1 minuto inteiro (caso o pulso seja regular, podemos contar 20 segundos e multiplicar por três). Em adultos, o número de batimentos por minuto varia de 60 a 100bpm, sendo que menos de 60 é denominado bradicardia e mais que 100, taquicardia d. Frequência respiratória: Para determinar a FR, também contamos 1 minuto, observando-se os movimentos inspiratórios. Não informamos o paciente que determinaremos a FR, pois isso o induz a controlar voluntariamente a respiração. Dica: após determinação da FC, ficamos mais 1 minuto em Geovana Sanches, TXXIV seu punho, mas focando o olhar no tórax, a fim de determinar a FR. • Taquipneia: FR ≥ 25 irm • Bradipneia: FR < 8 irm OBS: abaixo de 12 incursões respiratórias por minuto, dependendo da referência, já se considera bradipneia. MOVIMENTOS INVOLUNTÁRIOS A avaliação dos movimentos involuntários se dá desde o momento em que você encontra o paciente. É importante que o médico saiba diferenciar se aquele movimento é ou não involuntário. Os movimentos involuntários podem ser constantes ou esporádicos/crise. Deve-se avaliar: ritmo (ritmico ou arrítmico), manutenção (movimento é sustentado ou não?), duração (paroxístico ou não), atitude (em que momento ele aparece), velocidade (lento ou rápido), amplitude (amplo ou curto), momento (quando ele ocorre), força (intenso, brusco, suave) e supressibilidade (o quanto eu consigo suprimir voluntariamente esse movimento). São divididos em hipo e hipercinéticos. Movimentos hipocinéticos Caracterizados por uma quantidade reduzida de movimentos; presença de tremor de repouso, bradicinesia, rigidez plástica, anormalidade postural. Há diferenciação de sinais acessórios na DPI. • Parkinsonismo: ocorre normalmentede forma secundária, ao uso de alguma medicação, caráter hereditário, etc. • Doença de Parkinson Idiopática (DPI): face em máscara (inexpressiva), fala monótona e hipofônica (voz baixinha); marcha em bloco (petit-pass; paços curtos); congelamento da marcha (freezing; geralmente ocorre quando os pacientes veem algum obstáculo, o paciente trava e tem dificuldades em se movimentar novamente); festinação (aceleramento da marcha para frente); disfagia; braços sempre colados no corpo; tremor em “contar moedas”. Movimentos hipercinéticos Quando há quantidade maior de movimentos. Podem ser característicos de uma síndrome ou doença específica, auxiliando muito no diagnóstico. Tremores: movimentos alternantes, mais ou menos rápidos, rítmicos, regulares de pequena ou média amplitude. Normalmente acomete membros, principalmente superiores. Entre os movimentos involuntários, são os mais prevalentes. • Tremor de repouso: presentes no repouso e desaparecem com movimentos e com o sono. Mais evidente nas mãos, como no Parkinsonismo. Técnica: pedir para o paciente estender os braços, analisando-se suas mãos. • Tremor de atitude ou postura: regular, não muito grosseiro. Ocorre quando colocamos o paciente em determinadas posturas. Pode ser acentuado pelas emoções à Tremor familiar (tremor essencial). • Tremor de ação ou intenção: surge ou agrava no movimento. Comum em Doenças cerebelares e na esclerose múltipla. Técnica: pedir que o paciente pegue um copo de água da mesa e leve à boca. Movimentos coreicos: movimentos breves, rápidos, desordenados, de ocorrência inesperada, irregulares e arrítmicos, multiformes e sem finalidade. É como se fosse uma dança. A Coreia de Sydenham é adquirida e característica de pacientes com febre reumática, estando associada a um prognóstico pior; Coreia de Huntington têm caráter hereditário. Movimentos atetósicos (Atetose): são lentos e estereotipados, lembrando os movimentos reptiformes ou os movimentos dos tentáculos do polvo. Está associado às extremidades (membros). Comum em Lesões de núcleos da base- Kernicterus (ocorre quando há acúmulo de bilirrubina no recém-nascido, a qual passa pela BBB e se acumula nos núcleos da base). Balismo: abruptos, violentos, de grande amplitude, rápidos. Assemelham-se a arremessos ou chutes, e geralmente são limitados a uma metade do corpo (hemibalismo). Comum em Lesões extrapiramidais. Mioclonias: contrações musculares breves, bruscos, rítmicos ou arrítmicos, localizadas ou difusas que acometem um músculo ou grupo muscular, semelhante a “sacudidas”, “choque”, “abalos”. Trata-se de uma descarga neuronal. Ocorre em diversas situações, como na epilepsia de pequeno mal. Geovana Sanches, TXXIV Asterix (flapping): movimentos rápidos, amplitude variada, que ocorrem principalmente nos segmentos distais (mãos e pés). Pode ocorrer normalmente ou a partir de uma manobra: paciente estende os braços e superestende as mãos, formando um ângulo de 90° com o antebraço. Assemelha-se ao bater de asas ou movimento de tocar piano. Comum na Encefalopatia hepática ou urêmica. Tiques: movimentos breves, repetitivos, irregulares, estereotipados, relacionados a determinados grupos musculares. São suprimidos pela vontade e podem piorar com estresse e ansiedade. Em crianças, denomina-se Síndrome de Tourette. Podem ser motores, como piscadelas, caretas ou vocais, como limpar a garganta ou repetir a última palavra do interlocutor. Convulsões: movimentos musculares súbitos e incoordenados, involuntários e paroxísticos. São generalizadas ou em segmentos do corpo. As convulsões podendo ser tônicas (há um enrijecimento da região em que ocorre a convulsão, estando relacionado as articulações); clônicas (ocorre em movimentos de contração e relaxamento muscular) ou tônico-clônicas (tem enrijecimento da articulação, com contração e relaxamento muscular). Ocorrem na Epilepsia, tétano, hipoglicemia, meningites, episódios febris em crianças. Tetania: crises exclusivamente tônicas, quase sempre localizadas nas mãos e pés. Aparecem com ou sem manobras. Manobra: aferir a PA do paciente; faz-se uma média da PAS e PAD; infla-se o manguito novamente no valor da média, deixando inflamo por 10 minutos, analisando a seguir o movimento. Paciente tende a contrair a mão, o que é denominado Sinal de Trousseau. Ocorre normalmente em Hipocalcemias (como na retirada total de tireoide e paratireoides) e alcalose respiratória. Fasciculações: contrações breves, arrítmicas, limitadas a um feixe muscular. Comum em Neuropatias periféricas. CONSCIÊNCIA Segundo Rosenfeld (1929), a consciência “É uma atividade integradora dos fenômenos psíquicos, é o todo momentâneo que possibilita que se torne conhecimento da realidade naquele instante”. Trata-se da capacidade neurológica de captar o ambiente e se orientar de forma adequada. É o processo de coordenação e síntese da atividade psíquica. O nível de consciência refere-se a percepção do individuo consigo mesmo e com o meio ambiente em que vive, como ele se relaciona. Expressa o grau de alerta comportamental do indivíduo, ou seja, o quão lucido o paciente se apresenta. A consciência pode ter variações qualitativas ou quantitativas. Variações qualitativas Variação do campo de consciência. Implicam em uma modificação da qualidade (propriedade) do conteúdo da consciência. Uma parte do campo da consciência é preservada. Característico de Síndromes confusionais. Estados crepusculares: conservação da atividade motora coordenada. Podem surgir de modo súbito e, da mesma forma, desaparecer. Ocorrem atos explosivos violentos e episódios de descontrole emocionais. Ocorrência em: enfermidades tóxicas e infecciosas (por exemplo, encefalite); esquizofrenia; quadros de embriaguez, focando-se na síndrome de Korsakoff (baseada em característica neurológicas e no exame laboratorial, com deficiência de tiamina). Confusão mental: percepções reais e irreais da consciência; aparecem as alucinações ou ilusões. Delirium: desorientação espaço-temporal, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade, distúrbios psicomotores e, em alguns casos, alucinações (preponderantemente visuais). É muito comum, principalmente em paciente idoso ou em sepse (em decorrência do quadro infeccioso). Não confundir com delírio. Variações quantitativas Variação do nível de consciência. Lucidez ou Vigil: paciente lucido, sabe onde ele está e quem ele é. Geovana Sanches, TXXIV Sonolência: paciente se apresenta sonolento em relação ao meio ambiente, porém tem conteúdo organizado. Paciente dá respostas coerentes, mas caso parem se de fazer indagações, o paciente dorme. Obnubilação ou Turvação da Consciência : além de sonolento, o paciente também se apresenta desorientado. Ao fazermos perguntas, paciente não sabe onde está. Torpor: há diminuição da lucidez associado a conteúdo anormal. Paciente não responde nada com coerência. Coma: ausência de qualquer indício de consciência. Escala de Glasgow A escala de coma de Glasgow (ECG) é utilizada como medida clínica objetiva da gravidade da lesão cerebral em pacientes, incluindo os poli traumatizados. São avaliados três quesitos: 1) Abertura ocular: - Espontâneo= 4 - Com estímulo verbal= 3 - Com estímulo doloroso= 2 • Pressão no supercílio por exemplo - Sem resposta= 1 2) Resposta Motora: - Obedece= 6 - Localiza= 5 - Retirada= 4 - Resposta flexora- sinal de decorticação = 3 - Resposta extensora- sinal de descerebração = 2 - Sem resposta= 1 3) Resposta verbal: - Orientado=5 - Confuso= 4 - Palavras inapropriadas= 3 - Sons incompreensíveis= 2 - Sem resposta = 1 São somadas as pontuações de cada escala. Em caso de traumatismo cranioencefálico (TCE), temos que: se a soma dos resultados ficar entre 13 e 15, o trauma é considerado leve; entre 9 e 12, moderado e entre 3 e 8,é grave. Em escalas a partir de 7, o paciente tem uma deterioração do risco de consciência, podendo inclusive correr risco de bronco- aspiração. A partir desse valor, então, os pacientes devem ser entubados para proteção de via aérea. ATENÇÃO Refere-se a capacidade de concentrar atividade psíquica sobre o estímulo solicitado. Está associada a consciência. Classificação: 1. Atenção espontânea (involuntária): estado vigilância. Há graus de hiper ou hipovigilância. Exemplo: resposta a um estímulo sonoro. Em hipovigilância, o paciente não se vira ao estímulo; já em hipervigilância, um pequeno estímulo gera uma resposta exacerbada. 2. Atenção voluntária (ativa): tenacidade. É a capacidade de se realizar uma atividade proposta. O paciente tenaz consegue realizar atividade proposta. Em estado de hipotenacidade, o paciente perde a atenção ao realizar a atividade. Já na hipertenacidade, faz movimentos bruscos, com traços de ansiedade para realização da atividade. 3. Atividade mental/ pensamentos: avalia a concentração do paciente, podendo estar prejudicada, presente ou ausente. ORIENTAÇÃO Refere-se a como o paciente se vê no ambiente e o que está ao seu redor. Classificada em: 1. Autopsíquica: A si próprio 2. Alopsíquica: tempo e espaço. Dentro disso, pode ocorrer uma dissociação, quando o paciente está orientado apenas no tempo ou espaço. O paciente pode apresentar-se completamente desorientado ou apenas em uma das duas formas. MEMÓRIA Característica em que conseguimos reter/guardar fatos. Para tal, as funções cognitivas precisam estar preservadas. Geralmente avaliada quando há suspeita de algum componente demencial. É dividida em: 1. Memória imediata: que cobre os últimos 5 minutos. 2. Memória recente: engloba os últimos dias e horas. 3. Memória remota: desde os primeiros anos de vida. Em casos de demência, normalmente inicia-se pela perda de memória imediata, progredimento para perda de memória recente e, nos casos mais graves, perda da memória remota. Geovana Sanches, TXXIV FALA E LINGUAGEM É a maneira como a pessoa se comunica, verbal ou não verbal. A função da linguagem está localizada no hemisfério cerebral dominante, sendo que na imensa maioria dos indivíduos (mais de 90%) é o hemisfério cerebral esquerdo. A elaboração da palavra falada tem sua origem na área do hemisfério dominante que se encontra no extremo posterior da circunvolução frontal inferior, também conhecida como área de Broca. A área responsável pela compreensão e interpretação simbólica da linguagem é a área de Wernicke. Quando alguma dessas áreas sofre lesão, há manifestação de distúrbios de fala. Disfasia Perturbação na elaboração cortical da fala, que pode ser sensorial ou de expressão motora. > Afasia motora ou de expressão / Broca: Há dificuldade de variável intensidade para expressar-se pela fala ou escrita e, habitualmente, associa-se hemiparesia ou hemiplegia direita (é contralateral). Possui perfeito entendimento da palavra, porém paciente tende a usar um número restrito de palavras e, nessa situação, tende a pronunciá-las de maneira titubeante e às vezes repetitivamente (perseveração). Existem formas menos severas de disfasia, intitulada afasia nominal ou amnésica, onde o paciente apesar de incapaz para identificar as pessoas ou objetos a sua volta, demonstra estar plenamente consciente da sua natureza e significado. > Afasia sensorial ou receptiva / Wernicke: Dificuldade para apreciar o significado simbólico das palavras, sejam elas faladas ou escritas. É o paciente, por exemplo, que não entende uma música ou um poema, pois não compreendem o significado simbólico das palavras utilizadas. Podem apresentar Amusia (falta de sensibilidade às artes, de qualidades ou aptidões artísticas) e Jargonofasia (paciente cria palavras novas para tentar expressar o que quer). > Afasia de condução ou de sintaxe (Goldstein): Trata-se de um tipo de afasia em que a maior dificuldade é a repetição de palavras. Embora consiga ler e falar razoavelmente, o paciente não é capaz de repetir frases que lhe são ditas. > Afasia global / mista: Nesta situação, tanto a produção da fala quanto a compreensão das palavras escritas ou faladas encontram-se seriamente comprometidas. Há lesão tanto na área de Wernicke como na de Broca. Pacientes com este tipo de disfasia são os únicos que poderiam ser definidos como realmente afásicos. Sintomas que poderão estar associados às disfasias • Disgrafia/Agrafia: perda da capacidade de escrever, pode estar relacionado a afasia de Broca; • Acalculia: incapacidade para realizar cálculos básicos, podendo estar relacionada a afasia de Wernicke; • Dislexia/Alexia: dificuldade na aquisição da leitura; • Desorientação direita-esquerda: não conseguem discernir lados do corpo. Distúrbios de linguagem não disfásicos > Ecolalia: Repetição do que as pessoas dizem, sem evidência de entendimento do que foi mencionado e com perda da fala espontânea. > Dislalia: Omissões ou substituições errôneas de consoantes. É a típica conversa do personagem Cebolinha. > Disartria: Articulação inapropriada das palavras, podendo decorrer de alterações dos músculos da fonação, incoordenação cerebral, hipertonia ou perda de controle piramidal (paralisia pseudobulbar). Caracterizado pela fala do bêbado. Dependendo da razão, pode-se resolver com fonoaudiologia. > Disfonia ou afonia: alteração do timbre da voz, podendo haver a perda total. Principalmente nos distúrbios dos órgãos responsáveis pela fonação. > Anartria: Total incapacidade de pronunciar as palavras. HIDRATAÇÃO Hidratação é o equilíbrio entre a ingesta e perda de líquidos. Qualquer alteração nesses dois aspectos, ou seja, quando há um desbalanceamento entre a oferta e a perda, desencadeia-se a desidratação. • Oferta: baixa ingesta ou acesso a água. A falta de oferta é importante em recém- nascidos cujas mães não são devidamente orientadas, crianças e para idosos, os quais geralmente não ingerem água em quantidade suficiente. • Perdas: TGI (vômitos e diarreia); urinárias (poliúria); infecciosas (febre); pele (sudorese). Essas causas são mais Geovana Sanches, TXXIV comumente relacionadas aos quadros de desidratação. O paciente encontra-se normalmente hidratado quando a oferta de líquidos e eletrólitos está de acordo com as necessidades do organismo e não há perdas extras (sem reposição adequada). No estado de hidratação normal, para pessoas de cor branca, a pele é rósea com boa elasticidade, as mucosas são úmidas, não há comprometimento do estado geral e o enchimento capilar é normal (até 2s ou, no idoso, até no máximo 3s). A desidratação é a diminuição de água e eletrólitos totais do organismo. Na anamnese, é importante que se investigue a causa da desidratação, relacionando-a a oferta ou a perda. O paciente normalmente relata: sensação de sede, olíguria ou anúria e boca seca (xerostomia). Ao exame físico, observam-se: • Taquicardia: aumento da frequência cardíaca. O paciente desidratado perde líquido e a pressão intravascular diminui. Ativa-se um mecanismo de defesa do organismo, com aumento de FC para manter a volemia adequada para os órgãos. • Sinais de hipotensão postural à sinal inicial. • Tempo de enchimento capilar: aumentado nos estados de depleção volumétrica • Pressão arterial: queda nos estados hipovolêmicos acentuados • Oligúria • Estado geral comprometido: quando o paciente está desidratado, o estado geral pele é pelo menos REG. Em desidratações graves, é possível que ele esteja MEG. • Pele seca • Alteração abrupta de peso (muito importante para crianças) Todas essas alterações são possíveis sinais de desidratação, mas não significa que esse seja o único quadro possível. Avaliação da hidratação 1. Mucosa ocular: Avaliação da umidade ocular (quando estáúmido, observa-se o brilho), presença de lágrima (muito importante na criança, pois mesmo chorando pode não produzir lágrimas) e a presença de líquido na parte interna da pálpebra inferior. Em desidratações de moderada a grave, as células ficam desidratadas e o olho fica encovado, o que é denominado Encolhimento ocular. Caso não haja uma reposição volêmica rápida na criança, ela pode vir a óbito. 2. Mucosa oral: Quando úmida, aparenta estar brilhante, característica essa que deve ser observada. Além disso, analisa-se a presença de saliva Para examinar a mucosa oral, devemos pedir que o paciente abra a boca, para que observemos se há produção de saliva. Quando a língua se apresenta rugosa, é sinal de desidratação 3. Turgor cutâneo: O turgor refere-se a elasticidade da pele. Para sua análise, utilizamos a manobra da pinça: puxa-se a pele e o subcutâneo do paciente e, em seguida, a solta. Em peles hidratadas, quando soltamos, ela volta ao normal rapidamente. Já numa pele desidratada, o turgor é perdido e a pele apresenta uma pequena elevação, demorando para retornar ao estado normal. Para pacientes idosos, devemos lembrar que há perda de turgor cutâneo normalmente, apresentando-se como uma pele ressecada e com hidratação diminuída. Nessa faixa etária, não devemos avaliar as áreas expostas ao sol (mão, braço, perna), sendo algumas opções para avaliação a pele da região peitoral ou a face na região frontal. 4. Alteração das fontanelas: especialmente para lactentes nos quais, além da perda de peso acentuada, há abaulamento da fontanela (mais afundada). Desidratação Os sinais físicos aparecem geralmente em casos de desidratação moderada a grave. • Pele seca, com elasticidade e turgor diminuídos • Mucosas secas • Olhos afundados (enoftalmia) e hipotônicos • Fontanelas deprimidas no caso de crianças • Estado geral comprometido • Excitação psíquica ou abatimento (devido a diminuição da hidratação nos neurônios e liberação excessiva de NT) • Oligúria Não devemos esperar que esses sinais se apresentem em pacientes com casos mais leves. Neles, é mais comum vermos a diminuição da saliva, brilho diminuído dos olhos e diminuição de líquido na pálpebra inferior. Geovana Sanches, TXXIV Um outro fator importante para se observar é quanto a coloração da urina. A urina com coloração amarelada a laranja (urina concentrada, com pouca água) é um sinal de desidratação. Nesses casos, o paciente pode sentir um odor característico, o qual é normal da urina, mas que quando ela está diluída em água, torna-se mais leve. Classificação da desidratação A desidratação pode ser classificada segundo dois aspectos: intensidade e osmolaridade. A classificação de acordo com a intensidade se baseia na perda de peso e é normalmente utilizada para crianças: • Leve ou de 1º grau: perda de peso de até 5% • Moderada ou de 2º grau: perda de peso de 5 a 10% • Grave ou de 3º grau: perda de peso acima de 10% De acordo com essa classificação, é possível que se calcule o quanto de reposição volêmica deverá ser feita. No adulto, a perda de peso é um sinal indireto pois ele só perde peso quando a desidratação já está de moderada a grave. Para se classificar a desidratação quanto à osmolaridade, torna-se como elemento-guia o nível sanguíneo de sódio: • Isotônica: quando o sódio está nos limites normais (130-150 mEq/l) • Hipotônica: quando o sódio está baixo (< 130 mEq/l) • Hipertônica: quando o sódio está acima dos limites normais (> 150 mEq/l). Quanto a boca seca, devemos ter cuidado. Pacientes internados as vezes respiram pela boca e o ar faz com que haja um certo ressecamento. Por isso, sempre devemos avaliar a mucosa oral, embaixo da língua, etc. A intensidade de desidratação pode ser registrada utilizando-se cruzes, sendo que uma significa levemente desidratado e quatro, gravemente desidratado: +, ++, +++, ++++. COLORAÇÃO A avaliação da coloração se dá a partir das colorações da pele e da mucosa dos pacientes. As alterações mais frequentes são: palidez, pletora (eritrose), cianose periférica, cianose central, icterícia e pigmentação. PALIDEZ É o desaparecimento da cor rósea da pele à pele pálida. Para essa avaliação, devemos tomar cuidado com a etnia do paciente (pardos e negros), tendo em vista essa alteração é mais visível em pacientes brancos. Outro cuidado é quanto ao local de avaliação, pois é necessária uma iluminação adequada para análise da coloração da pele do paciente. A palidez é comum nos casos de anemia, com perda da coloração rósea da pele. Esse sinal não é confiável em casos de frio ou choque, pois em ambos os casos há vasoconstrição, podendo ocasionar a palidez. Classificação A palidez pode ser classificada como corado ou descorado e em cruzes: +, ++, +++ ou ++++. Palidez generalizada: é observada em toda a pele do corpo. Pode indicar: 1. Vasoconstrição generalizada: por estímulos neurogênicos ou hormonais, como emoções fortes, choque, lipotímia. 2. Diminuição das hemácias, em casos de anemia Palidez localizada ou segmentar: ocorre em áreas restritas ao segmento e indica o comprometimento da vascularização à isquemia. Deve-se fazer comparação de ambos os lados. Avaliação da palidez Conjuntiva palpebral Geovana Sanches, TXXIV Atenção para pacientes negros e pardos, pois não é tão evidente. Deve-se olhar a palma das mãos. Cavidade oral e lábios Avaliada na inspeção, há descoloração de mucosa e pele, sendo a pele menos rósea e lábio descorado. Palma das mãos e pés Pode-se fazer uma comparação com a palma da mão do avaliador. Tempo de enchimento capilar Faz-se uma pressão na ponta do dedo do paciente por alguns segundos (Digitopressão por 4 segundos). No enchimento capilar normal, a vascularização preenche o dedo rapidamente (até 2 segundos). Quando o tempo de enchimento capilar é aumentado, pode indicar depleção de volume, podendo ser proveniente da desidratação. PLETORA (ERITROSE) Trata-se de um exagero na coloração rósea da pele: face corada de aspecto vermelho ou azulado. É proveniente de um aumento na quantidade de sangue na rede venosa cutânea (ou por vasodilatação ou por aumento naquele local) que desaparece com a vitropressão. Pode ser: 1. Generalizada ou localizada (facial, palmar) 2. Permanente ou passageira CIANOSE É a coloração azulada ou purpúrica da pele ou mucosas em consequência do aumento de hemoglobina desoxigenada (insaturada -> HB + CO2). A hemoglobina desoxigenada atinge valores maiores que 4 g/ dl e cai hemoglobina oxigenada (< 5 g/dl). Há aumento da redução de hemoglobina (desoxigenação) do sangue arterial nos capilares. Ou que impede a oxigenação do sangue venoso. Comum em doenças cardíacas (shunts direita e esquerda), pulmonares e hematológicas. Tipos de cianose Periférica Extremidades cianosadas com coloração da língua normal. Relacionada a estase sanguínea (extração mais acentuada de O2 pelo sangue periférico). Pode ocorrer Síndrome de Raynaud. Central Queda da saturação de O2 excessivamente na hemoglobina (hipoxemia arterial → pode se refletir nas extremidades). É avaliada pela cavidade oral: lábios, língua e mucosas com alteração de coloração. Comum pelo comprometimento da função respiratória (doenças pulmonares) ou shunt entre câmaras direita e esquerda do coração. Sempre que há cianose central, há cianose periférica. Classificação • Intensidade: +/ +4 (leve, moderada e intensa). • Generalizada (doença sistêmica) ou localizada ICTERÍCIA É a coloração amarelada da pele e mucosas, devido ao acúmulo de bilirrubina. Varia de amarelo claro a esverdeado. O fígado ocupa um papel central no metabolismo da bilirrubina, sendo responsável por sua captação, conjugação e excreção. Também pode ser causada por doenças hematológicas. Classificação• +/ +4 • Geralmente, se o paciente percebe, a classificação já é ++ Avaliação A esclera é área mais sensível para a pesquisa da icterícia. Progride para a face, pescoço, tronco e membros (sequência para avaliação); da mesma forma, desaparece primeiro nas extremidades, tronco, pescoço, face, e por fim, esclera. Deve ser diferenciado de carotenemia (coloração amarelo-alaranjada devido ao acúmulo de β-caroteno), a qual poupa as escleras. As principais causas de icterícia são: hepatite infecciosa; hepatopatia alcoólica ou por Geovana Sanches, TXXIV medicamentos; doenças hematológicas que levam a hemólise intensa; leptospirose. PIGMENTAÇÃO • Queimadura do sol; • Acúmulo de chumbo: cinza-chumbo; • Argiría: cinza-prateada; • Colestase crônica - pontos de pressão; • Síndrome de Nelson; • Doença de Addison (Insuficiência adrenal); • Albinismo LESÕES ELEMENTARES E DO TECIDO SUBCUTÂNEO Anatomia da pele A pele representa 15% do peso corpóreo e é dividida em camadas: 1. Epiderme ou camada externa: camada de proteção e que auxilia ao mantimento da temperatura. As células da epiderme descamam com o tempo, sendo substituídas por células novas. 2. Derme ou córion: presença de glândulas e pilificação. 3. Hipoderme (tecido celular subcutâneo). Exame físico dermatológico Para realizar o exame físico dermatológico, é essencial que estejamos em um local bem iluminado. É necessário que expliquemos ao paciente a necessidade da retirada de toda a roupa, tendo em vista que todo o corpo deve ser analisado. Esse exame relaciona-se a identificação do paciente, tendo em vista que certas patologias são mais frequentes em determinadas etnias, sexo, profissões e exposições. Inspeção: deve abranger todo o tegumento, inclusive cabelos, unhas e mucosas. A localização, topografia e distribuição da lesão são essenciais para o seu diagnóstico. Palpação: verificar se há lesões sólidas, alteração de espessura, umidade, volume ou consistência da pele. Observar a elasticidade, mobilidade e turgor da pele. Digitopressão ou Vitopressão: pressiona-se a lesão com os dedos ou com vidro (específico para o exame), provocando isquemia local. Isso permite distinguir o eritema da púrpura ou de outras manchas vermelhas. Compressão: avalia a presença de edemas. Pele Umidade É avaliada através da inspeção e da palpação. Pode estar normal, seca, sudoreica. Algumas situações em que há alterações do tipo pele seca são em idosos, nos quais a pele mais seca é decorrente da diminuição da hidratação. Na esclerodermia, há um espessamento da pele, acompanhado de secura e alteração da textura (apresenta-se mais grossa). No câncer de mama, pode-se encontrar pele com característica de casca de laranja. Outras situações: mixedema, avitaminose A, DRC e desidratação. As peles sudoreicas, por sua vez, podem ser encontradas em situações de febre, ansiedade, hipertireoidismo e neoplasia. Na menopausa, são decorrentes das ondas de calor. Textura Quanto a textura, a pele pode se apresentar: 1. Normal 2. Fina ou lisa: encontrada principalmente em bebês e idosos. Apresenta-se também no hipertireoidismo e em áreas recentemente edemaciadas. 3. Áspera: comum em pacientes que trabalham em atividades rudes e em afecções como mixedema e dermatopatias crônicas. 4. Enrugada: geralmente relacionada a idade avançada, mas pode estar relacionada a algumas doenças. Comum, ainda, após emagrecimento rápido, ou quando se elimina o edema. Espessura A espessura da pele é analisada através do pinçamento de dobra cutânea, usando-se o polegar e o indicador. Deve-se analisar apenas epiderme + derme, tendo cuidado para não alcançar o tecido celular subcutâneo. Costuma-se utilizar para o exame o dorso da mão ou porção ínfero-posterior da perna. O reconhecimento de alterações da espessura depende do aprendizado prático e componente subjetivo. A pele pode estar normal ou: 1. Atrófica: translucidez que possibilita a visualização da rede venosa superficial. Comum em idosos, prematuros e algumas dermatoses. 2. Hipertrófica ou espessa: comum em indivíduos que trabalham expostos ao sol e na esclerodermia. Geovana Sanches, TXXIV Elasticidade e Mobilidade A elasticidade é a propriedade do tegumento cutâneo de se estender quando tracionado. Para sua avaliação, pinça-se a prega cutânea e, em seguida a tração, solta-a. A pele pode-se apresentar normal ou: 1. Hiperelástica: pele semelhante à borracha. Um exemplo é a Síndrome de Ehlers- Danlos, a qual é uma doença autoimune, com excesso de colágeno IV; a pele se estica muito além do normal. 2. Hipoelástica: pele, ao ser tracionada, volta vagarosamente à posição primitiva. A mobilidade, por sua vez, é a capacidade da pele de se movimentar sobre planos profundos subjacentes. Para pesquisa da mobilidade, pousa- se a palma da mão sobre uma superfície e movimenta a mão para os lados, fazendo-a deslizar sobre estruturas subjacentes (ossos, articulações, tendões). A mobilidade se encontra reduzida ou ausenta em: processo cicatricial, esclerodermia, elefantíase e infiltrações neoplásicas. Sensibilidade: 1. Dolorosa: hipoalgia ou analgesia x hiperestesia. Pesquisa através do toque à pele com a ponta de uma agulha, de preferência em um local onde o paciente não veja o estímulo. A analgesia é comum em pacientes com hanseníase. 2. Tátil: fricciona-se o local com algodão. O paciente pode apresentar anestesia ou hipoestesia. 3. Térmica: pesquisa através de dois tubos de ensaio, um com água quente e outro com água fria. LESÕES ELEMENTARES As modificações do tegumento cutâneo podem ocorrer por diversos motivos, como em processos inflamatórios, degenerativos, circulatórios, metabólicos, neoplásicos ou por defeito de formação. Alteração da cor Mácula ou mancha são lesões circunscritas de coloração diferente da pele, no mesmo plano e sem alteração de superfície. Identificamos isso através da inspeção e palpação: deslizamento das polpas digitais dos dedos indicador, médio e anular sobre a área alterada e suas adjacências – verificar elevação da pele e eventuais alterações da superfície. Manchas pigmentares Lesão hipocrômica ou acrômica: alterações do pigmento melânico, com diminuição ou ausência de melanina. Comum no vitiligo, pitiríase alba, hanseníase ou congênitas, como albinismo. Lesão hipercrômica: há aumento do pigmento melânico. Comum no melasma (visto principalmente em gestantes, relacionado a questão hormonal), pelagra (doença nutricional, devido a deficiência de niacina), eritema fixo medicamentoso (em geral, não desaparecem) e melanose senil. Pigmentação externa: ocorre devido a substâncias aplicadas topicamente, que produzem manchas do cinza ao preto. Exemplos: alcatrões, antralina, nitrato de prata e permanganato de potássio. Manchas vasculares Decorrentes de transtornos na microcirculação. São diferentes das manchas hemorrágicas, pois desaparecem após compressão (digitopressão, vitropressão ou puntipressão). Dividem-se em: 1. Telangiectasias: dilatações dos vasos terminais (arteríolas, vênulas e capilares). Comuns nas pernas das mulheres, onde se denominam varículas ou microvarizes. Apresentam-se também no tórax de idosos. 2. Manchas eritematosa: decorre da vasodilatação e tem coloração rósea ou vermelho. Apresenta tamanhos variados, podendo ser esparsa ou confluente. É difusa, mas geralmente observamos no dorso e nos membros. Exemplos: sarampo, rubéola, varicela, escarlatina, alergias ou septicemias. Manchas hemorrágicas Não desaparecem pela compressão, pois há sangue extravasado. Causados por traumatismos, alterações capilares e discrasias sanguíneas (quadros nos quais o sangue não se coagula de maneira adequada). As manchas hemorrágicas são divididas de acordo com as formas e tamanhos: 1. Petéquias: lesões puntiformes,com até 1cm de diâmetro. 2. Víbices: são como petéquias alinhadas; formam linhas. 3. Equimoses: lesões maiores, que se apresentam como placas com mais que 1cm de diâmetro. Essas lesões têm alteração de coloração Geovana Sanches, TXXIV de acordo com o tempo: até 48h é avermelhada, como machas eritematosas; de 48h a 96h, arroxeadas; do 5º ao 6º dia, azuladas; do 7º ao 8º dia, amareladas; e após o 9º a 11º dias, a pele volta à coloração normal. Caso o extravasamento sanguíneo for suficiente para produzir elevação da pele, é designado hematoma. Elevações edematosas São edemas na derme ou hipoderme . Enquadra-se a lesão urticária ou tipo urticária, que corresponde a formações sólidas, uniformes, com formato variável (arredondados, ovalares ou irregulares). Em geral são eritematosas, quase sempre pruriginosas, resultando de edema dérmico circunscrito. Devido ao prurido, podem-se causar escoriações. Formações sólidas Pápulas: elevação sólida da pele, pequena (até 1cm), superficial e bem delimitada. Podem ser puntiformes, maiores, planas ou acuminadas, isoladas ou coalescentes, cor normal da pele, rósea, castanha ou arroxeada. Exemplos: picadas de insetos, verruga, acne, hanseníase Esclerose tuberosa ou complexo esclerose tuberosa (TSC): doença genética rara, multi- sistêmica, que causa tumores benignos que crescem no cérebro e em outros órgãos vitais, como rins, coração, olhos, pulmões e pele. Tubérculos: apresentam-se como elevações sólidas, circunscritas, maiores que 1cm, situadas na derme. A consistência pode ser mole ou firme. A pele circunjacente tem coloração normal, ou pode estar eritematosa, acastanhada ou amarelada. Geralmente, desenvolvem cicatrizes. Exemplos: sífilis, tuberculose, hanseníase, sarcoidose, tumores. Nódulos, nodosidade e goma: localizados na hipoderme, mais perceptíveis na palpação e com limites geralmente imprecisos. Podem ser isoladas, agrupadas ou coalescentes; dolorosas ou não. A diferenciação entre nódulos e nodosidade é geralmente difícil, mas há grandes diferenças com a goma. 1. Nódulos: pequeno tamanho (ervilha) 2. Nodosidades: são nódulos maiores ou agrupados. Exemplos de nódulos ou nodosidades: furúnculo, eritema nodoso, hanseníase, sífilis (nódulos que geralmente viram gomas), cisticercose. 3. Gomas: nodosidades que tendem ao amolecimento e ulceração, com eliminação de substância semissólida. Exemplos: furúnculo, eritema nodoso, hanseníase, sífilis (não há dor) e cisticercose. Vegetações: lesão sólida, saliente, lobulares, filiformes ou em couve-flor, com consistência amolecida e agrupadas em maior ou menos quantidade. Exemplos: verrugas, sífilis, leishmaniose, blastomicose, tuberculse, granuloma venéreo, neoplasias e condiloma acuminado (visto em casos de HPV). Quando a camada córnea é mais espessa, a lesão apresenta consistência endurecida à verrucosidade. Exemplos: verrugas vulgares e cromomicose. Coleções líquidas Vesícula: elevação circunscrita da pele, contendo líquido em seu interior. Tem até 1cm. Exemplos: varicela, herpes zoster (é transmissível), queimaduras (de 2º grau), eczema. A diferença fundamental entre pápula e vesícula é que a primeira é uma lesão sólida, enquanto essa é constituída por coleção líquida. Bolha: elevação da pele, contendo substância líquida em seu interior. Diferencia-se da vesícula pelo tamanho, sendo que a bolha tem diâmetro superior a 1cm. As bolhas podem ter conteúdo claro, turvo amarelado (purulento) ou vermelho-escuro (hemorrágica). Exemplos: queimaduras, pênfigo, piodermites, alergias medicamentosas. Pústula: vesícula ou bolha com conteúdo purulento. Exemplos: varicela (geralmente com infecção secundária), herpes zóster, queimaduras, piodermites, acne pustulosa. Abcessos: coleções purulentas proeminentes e de proporções variáveis. Os abcessos podem ser palpados e apresentam sinais flogísticos. Quando flutuantes (superfície gelatinosa), estão em ponto de drenagem. Comum em: furunculose, hidradenite, blastomicose e abcesso tuberculoso. Alterações da espessura Queratose (ou ceratose): modificação da espessura da pele em consequência do Geovana Sanches, TXXIV espessamento da camada córnea. A pele se torna mais consistente e inelástica. Exemplo mais comum é o calo, queratodermia palmoplantar, ictiose e a queratose senil, a qual aparece com a idade. Espessamento ou infiltração: aumento da consistência e da espessura da pele que se mantém depressível, com menor evidência de sulcos. O exemplo mais sugestivo é a hanseníase virchowiana. Liquenificação: espessamento da pele com acentuação de estrias (sulcos cutâneos). A pele circulante, em geral, tem cor castanho-escuro. Resultante em um quadriculado em rede como se a pele estivesse sendo vista através de uma lupa. É encontrado nos eczemas liquenificados ou área sujeita a coçaduras constantes. Atrofias: adelgaçamento da pele, fina, lisa, translúcida e pregueada. Podem ser fisiológicas, atrofia senil ou provocadas por agentes físicos ou mecânicos (estrias atróficas, radiodermite). Outras coleções líquidas são a esclerose e os edemas. Perdas e reparações teciduais Lesões provocadas por eliminação ou destruição patológicas e de reparações dos tecidos cutâneos. Escama: lâminas epidérmicas secas que tendem a se desprender. Se apresentarem o aspecto de farelo, são denominadas furfuráceas e, quando em tiras, laminares ou foliáceas. Exemplos: caspa, pitiríase versicolor, psoríase e queimadura solar. Erosão ou exulceracão: desaparecimento da parte superficial da pele e que atinge apenas a epiderme; ao se regenerarem, não deixam cicatrizes. Pode ser traumática ou não traumática, secundárias à ruptura de vesículas, bolhas e pústulas. Exemplos: bolhas que se rompem, algumas queimaduras. Úlcera: perda delimitada das estruturas que constituem a pele, atingindo a derme. Sempre há uma cicatriz após a resolução da lesão. Exemplos: lesões após remoção de cânceres de pele, úlcera crônica, lesões malignas de pele. Fissuras ou rágades: perda de substância linear, superficial ou profunda. Comprometem a epiderme e a derme, e situam-se mais frequentemente no fundo de dobras cutâneas ou ao redor de orifícios naturais. Escara: porção do tecido cutâneo necrosado, resultante de pressão isolada ou combinada com fricção e/ou cisalhamento. A área modificada torna-se insensível e de cor escura. O tamanho é variável e ocorre principalmente em idosos e imobilizados. Em pacientes imonibilizados, não há irrigação adequada, com necrose no local. Para prevenir, a principal ação é a mobilidade: não deixar que o paciente fique mais que 2h na mesma posição. Cicatriz: resultam de traumatismos ou lesão cutânea, que evolui para a cura. É uma formação fibrosa, rica em colágeno, saliente, de consistência firme. Podem ser róseo-claras, avermelhadas ou mais escura que a pele ao redor. A cicatriz pode ser hipertrófica ou em queloide, as quais são cicatrizações inadequadas. A hipertrófica, apesar de ter saliência, não ultrapassa os limites da lesão. Já o queloide, pode doer e não respeita os limites da lesão. FÂNEROS Cabelos e pelos Ao analisar os cabelos e pelos, devemos observar: 1. Alterações de distribuição e quantidade: a distribuição deve ser uniforme e a quantidade varia de um indivíduo para o outro; com o avançar da idade, os cabelos tornam-se mais escassos. Caso haja áreas sem pelos, denomina-se alopecia, a qual pode ser constitucional ou estar relacionada à doenças: lúpus; queimadura; quimioterapia; radioterapia; depilação à laser. Outra alteração comum é a calvície, a qual pode ser parcial ou total. Verificar a presença de hipertricose (aumento exagerado de pelos terminais, sexuais ou não; pode ser congênita ou adquirida, difusa ou localizada) ou hirsutismo (aumento exagerado de pelos sexuais masculinas na mulher; pode ser constitucional,idiopático ou androgênico). 2. Tipo de implantação: varia de acordo com o sexo. Nas mulheres, há implantação mais baixa, com a linha de implantação característica. Já nos homens, é mais alta e existem “entradas” laterais, as quais se acentuam com a idade. 3. Espessura, coloração, brilho e consistência A coloração varia com etnia e fatores genéticos. As modificações podem ser artificias ou por enfermidades, como por desnutrição proteica grave (cabelos se tornam ruivos). Os cabelos podem perder o brilho e se tornar quebradiços e secos em casos de mixedema e estados carenciais. Geovana Sanches, TXXIV 4. Queda: axilares e pubianos. As condições mais frequentemente causadoras da queda de pelos são desnutrição, hepatopatias crônicas, colagenoses, quimioterapia e certas dermatoses. Unhas Quando ao exame das unhas, deve-se observar: Forma ou configuração; Tipo de implantação; Espessura e superfície; Consistência; Brilho; Coloração. A unha normal apresenta ângulo menor que 160º, superfície lisa, brilhante, róseo- avermelhada, com espessura e consistência firmes. As alterações de forma estão principalmente relacionadas à estados carenciais, onicomicoses, nefropatias crônicas, psoríase e em pessoas que lidam com substâncias cáusticas (pedreiros, lavadeiras). Unhas distróficas: unha espessada, rugosas e formado irregular. Frequentes em pessoas que trabalham descalças, sujeitas a repetidos traumatismos, em portadores de isquemia crônica dos membros inferiores ou onicomicose. Leuconíquias: manchas brancas na unha, não necessariamente relacionadas à doenças. Coloníquia ou unha em colher: estado distrófico no qual a placa ungueal se torna fina e desenvolve depressão. Associada a anemia ferropriva grave. Tipos especiais de unhas 1. Unha em “vidro de relógio”: a implantação da unha forma angulação maior que 160º e a unha se torna convexa em todos os sentidos, lembrando o vidro de um relógio. Pode ser observada em pessoas hígidas da raça negra. Fazem parte do hipocratismo digital. Causas: cardiopatias congênitas, bronquiectasia. 2. Linhas de Beau: são sulcos transversais à lúnula. Causadas por doenças renais e hepáticas. 3. Faixas de Mee: faixas transversais brancas. Causadas por doença sistêmica aguda e intoxicação por arsênico. 4. Unhas de Plummer: unhas parcialmente descoladas do leito ungueal. Causada pelo hipertireoidismo. 5. Unhas de Lindsay: a porção proximal da unha é esbranquiçada e a distal, avermelhada ou rósea. Causa: insuficiência renal crônica com uremia. 6. Unhas de Terry: faixa esbranquiçada a 1 a 2mm da borda distal da unha. Causada por hipoalbuminemia. EDEMA Edema é quando há excesso de líquido no 3° espaço ou espaço intersticial ou células. Distribuição de água corporal: intracelular; intravascular; espaço intersticial e extracelular. A maior parte da água corporal está no espaço intracelular, mas qualquer alteração nas pressões desses compartimentos pode gerar o edema. O edema pode ocorrer em qualquer sítio do organismo, de maneira localizada ou generalizada (anasarca). Dependendo do lugar do edema é possível inferir uma possível patologia que está levando ao quadro. FISIOLOGIA: DINÂMICA CAPILAR Os capilares são os vasos onde ocorrem as trocas gasosas. Eles são constituídos por endotélio, sobre a membrana basal e não possuem camada de músculo liso; não há inervação simpática. A dinâmica capilar consiste na permuta de fluidos entre o plasma sanguíneo e o líquido intersticial, o que é controlado a partir das forças de Starling. A pressão hidrostática do plasma (pressão capilar) é a força que o sangue exerce sobre a parede do vaso. Trata-se de uma força para fora e é representada por PC. A pressão coloidosmótica do plasma é a força de atração da água dada pelas proteínas plasmáticas que não conseguem extravasar do capilar. É uma força para dentro, representada por Pp. A pressão coloidosmótica do líquido intersticial é a força de atração da água dada pelas proteínas plasmáticas que acidentalmente extravasaram do capilar. É uma força para fora, representada por Pli. Essas proteínas que extravasaram são posteriormente retiradas do líquido intersticial através do sistema linfático. A pressão do líquido intersticial é a pressão negativa causada a partir da sucção pelos vasos linfáticos. Geovana Sanches, TXXIV Assim, temos três forças para fora e apenas uma para dentro. Caso essa única força diminua, teremos extravasamento de plasma para o líquido intersticial, caracterizando o edema. PRINCIPAIS FATORES QUE PARTICIPAM DA FISIOPATOLOGIA DO EDEMA As causas do edema, geralmente, são multifatoriais, ou seja, mais de um desses fatores está interferindo na formação do edema. • Diminuição da pressão osmótica das proteínas: pode ocorrer quando o paciente apresenta hipoproteinemia, como em pacientes com desnutrição crônica. • Obstrução dos vasos linfáticos: dificuldade da vascularização do vaso linfático, levando ao edema localizado. • Retenção de sódio: o sódio atrai a água para o local onde ele se encontra. • Alteração da permeabilidade capilar: a água escapa para o espaço extravascular, com acúmulo de líquido no interstício. INVESTIGAÇÃO Anamnese Paciente relata um “inchaço”. Devemos questionar a localização, duração e evolução do edema. A associação com outros sintomas pode nos direcionar para as possíveis causas do edema. Exame Físico Avaliação do edema, com a localização, intensidade, extensão, consistência, temperatura da pele (comparado ao outro lado), sensibilidade (dor, hiperalgesia, analgesia), alterações adjacentes ao edema (em edemas localizados) e elasticidade. CAUSAS • Síndrome nefrótica: perda crônica de proteína (baixa proteína intravascular, com diminuição da pressão intravascular); • Insuficiência Cardíaca; • Cirrose hepática; • Desnutrição proteica; • Obesidade; • Hipotiroidismo; • Edema alérgico ou edema vasogênico: ocorre devido a alteração da permeabilidade capilar; geralmente pode ser localizado, pois atinge algum membro. AVALIAÇÃO DO EDEMA Os dados semiológicos do edema são constituídos pelos objetivos na anamnese, em conjunto com os analisados no exame físico. Todos devem estar descritos no prontuário. Localização O edema pode ser localizado ou generalizado/ sistêmico (anasarca). Quando localizado, pode estar, por exemplo em: membros inferiores, face, região pré- sacral e sacral (comum em pacientes acamados, devido a localização do paciente ou desnutridos crônicos). Um sinal muito importante do edema é a pele brilhante (ocorre devido ao afinamento da pele, ocasionado pelo acúmulo de líquido) ou a vermelhidão. Intensidade A intensidade do edema é analisada através da digitopressão na área edemaciada, ou seja, compressão firme e sustentada com a polpa digital, por alguns segundos. Ao retirar o dedo, avaliar a depressão no local, a qual é denominada fóvea. De acordo com a avaliação da profundidade da fóvea ou cacifo, o edema pode ser graduado em + até ++++ (Sinal de Godet). Deve-se descrever, concomitantemente, a extensão desse edema. Em caso de anasarca, caso haja regiões com edema de maior intensidade, esta deverá ser levada em consideração. Caso contrário, podemos avaliar algumas regiões do paciente, como membros superiores ou inferiores e abdome. Geovana Sanches, TXXIV Outras maneiras de avaliar o edema são o peso do paciente, que é importante para edemas generalizados, de forma que a perda de peso diária/progressiva pode significar melhora no edema. Para edemas localizados, podemos analisar o perímetro da região edemaciada e fazer a comparação com outro membro. Consistência A consistência é o grau de resistência verificada na pele contra o dedo durante a digitopressão. É avaliada a partir da compressão digital: • Edema mole: facilmente depressível(pouca ou sem resistência). Geralmente trata-se de um edema com evolução não muito longa (agudo), com infiltrado de água no tecido subcutâneo. • Edema duro: apresenta certa resistência a digitopressão. Edema mais crônico à quando o líquido permanece durante um longo período, desenvolve-se uma resposta inflamatória no organismo, com proliferação de fibroblastos. Elasticidade A elasticidade é analisada observando-se a volta da pele à posição primitiva após a digitopressão (retorno da fóvea após a compressão). O edema pode ser classificado em: • Edema elástico: a pele retorna rapidamente àedemas inflamatórios. • Edema inelástico: a fóvea persiste por um certo tempo (alguns minutos). Comum na Insuficiência cardíaca e Síndrome nefrótica. Temperatura Deve-se avaliar a temperatura do edema, comparando aos tecidos adjacentes não edemaciados. • Pele quente: a presença de hipertermia local indica que provavelmente o edema tem origem inflamatória (devem-se procurar outros sinais flogísticos). • Pele fria: a perfusão está alterada e provavelmente há comprometimento vascular. • Pele normal: provavelmente é um edema que irá aparecer em outras regiões ou causado por doenças sistêmicas. Sensibilidade Avalia-se apenas a presença ou não de dor. Pode ser analisada no momento da digitopressão, quando o paciente reclama de sensação dolorosa. Coloração • Palidez: diminuição das hemácias na circulação ou alteração da vascularização no local (perfusão comprometida). • Cianose: alteração venosa com depósito de hemoglobina desoxigenada (normalmente indica comprometimento no retorno venoso). • Vermelhidão ou eritema: provavelmente é um edema inflamatório. • Normal SUBTIPOS DE EDEMA Linfedema Causado pela obstrução dos canais linfáticos, como por exemplo no pós- erisipela e na filariose (casos mais avançados à elefantíase). Características: localizado, duro (processo mais longo), inelástico, indolor, com alterações da textura e espessura da pele (pele grossa e áspera devido a produção de fibroblastos). Mixedema Edema crônico e generalizado, secundário à hipofunção tireoidiana. Há deposição de glicoproteínas no espaço intersticial e secundariamente retenção de água. Características: pouco depressível, inelástico, pele apresenta alterações do hipotireoidismo. Postural Edema localizado de acordo com a postura do paciente à longo período na posição de pé ou com as pernas pendentes, como por exemplo em pacientes acamados. Isso é decorrente do aumento da pressão hidrostática no local. Características: localizado, mole, indolor e desaparece rapidamente na posição deitada.