Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Método Clínico Centrado na Pessoa 1 Método Clínico Centrado na Pessoa PROFISSIONAIS E PESSOAS: DA SUBMISSÃO A INTERAÇÃO A angústia, a inquietude da pessoa não se expressa com o profissional ou se expressa tardiamente: sinal da maçaneta; A angústia, a inquietude da pessoa não se expressa com o profissional ou se expressa tardiamente: sinal da maçaneta Médico não obtém opinião da pessoa sobre a conduta adotada e avaliar sobre a aderência ou não; Método Clínico Convencional Deficiências da medicina centrada na doença: – Em cerca de 70% da vezes o médico interrompe o paciente em uma média de 18 segundos (Beckman e Frankel, 1984). – Dois terços dos diagnósticos são feitos apenas pela história clínica (Cohen-Cole SA, 1991). – Uma consulta centrada no médico é capaz de revelar apenas 6% dos diagnósticos de esferas psíquicas e sociais (Burack e Carpenter, 1983). MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA O método clínico centrado na pessoa é uma tecnologia leve. É o grau de autonomia da pessoa que caracteriza o modelo de abordagem utilizada. A consulta em atenção primária à saúde (APS) deve representar: uma prática social entre médico e pessoa, com troca de conhecimentos, com um contrato, fundamentada na parceria, na busca de construir o cuidado mediante ações dentro e fora do consultório, de ambas as partes. Prática em que o médico e a pessoa busquem Método Clínico Centrado na Pessoa 2 aprender sobre os problemas de saúde, refletir sobre suas repercussões, suas relações e determinação no processo de cuidado. A consulta também é o encontro entre pessoas com expectativas, objetivos e tarefas definidas de parte a parte, em que se estabelece uma relação cujos objetivos principais são o cuidado à saúde e a qualidade de vida. O preparo para esse encontro inicia-se bem antes e consiste em várias etapas para ambos, o médico e a pessoa. Para o médico, começa: 1) no curso de graduação, na sua postura e nos seus interesses frente ao aprendizado, e nos modelos de médico com os quais se identifica; 2) segue com a escolha da especialidade; 3) continua com o preparo na especialização; 4) tem relação com o seu momento da vida atual; e 5) culmina nos momentos preliminares à consulta, como influência da consulta imediatamente anterior, conhecimento prévio da pessoa, etc. Para a pessoa que busca ajuda, começa: 1) com sua história pessoal, familiar, genética e cultural, dos contatos com o adoecer; 2) progride com o estabelecimento do estilo de vida, ciclo de vida e outros aspectos biopsicossociais que interferem na saúde; 3) segue com a decisão pelo momento de buscar ajuda – muitas vezes, não é ela quem decide; às vezes, é precoce; outras, é tardia; 4) passa pela escolha do médico; e 5) segue na recepção da Unidade Básica de Saúde e tem seus momentos finais na pré- consulta, ou seja, no ambiente e nas conversas da sala de espera A medicina de familia proporciona um relacionamento médico-paciente: a observação estendida entre o médico e a pessoa, permitindo a coleta e o processamento de informação ao longo do tempo, utilizando o conceito de demora permitida; o processo diagnóstico estendido, que pode ser desenvolvido e alterado ao longo do tempo e ao qual podem incorporar-se muitos níveis de informação, incluindo físico, psicológico e aspectos sociais; o cuidado compreensivo, o qual considera necessidades físicas, psicológicas e sociais da pessoa, da família, do trabalho e da comunidade; a continuidade do cuidado, o qual pode ser iniciado pela pessoa e flexibilizar-se para necessidades imprevistas, bem como as previstas; o cuidado preventivo, em que cada encontro é uma oportunidade para a promoção da saúde. Método Clínico Centrado na Pessoa 3 Linha do tempo 1951 - Carl Rogers, psicólogo “aconselhamento centrado no cliente”. 1957 - Michael Balint (húngaro) e Enid Balint (inglesa): psicanalistas, estudaram relação médico paciente. Ele introduziu o termo “medicina centrada na pessoa”. 1984 - Dr. Joseph Levenstein - África do Sul. Num dia comum uma aluna pergunta: -“como o SR. sabe o que fazer com cada paciente? Sua abordagem é diferente do que eu tenho visto no hospital.” Dr. Levenstein explicou que o que ele fazia era guiado por: seu conhecimento prévio de cada pessoa, pela freqüência das diferentes doenças na comunidade, e pelo valor que ele colocava na continuidade, no cuidado abrangente, na prevenção, e na relação médico-pessoa. COMPONENTES Os quatro componentes: Método Clínico Centrado na Pessoa 4 1°)Explorar a saúde, a doença e a experiência de doença: Uma determinada doença (disease) é o que todos com essa patologia têm em comum, mas a experiência sobre a doença (illness) de cada pessoa é única. William Osler Primeira meta é a percepção da pessoa sobre a saúde e a experiência da doença. Além de avaliar o processo da doença por meio da anamnese e do exame físico, o médico procura ativamente entrar no mundo da pessoa para entender suas percepções sobre saúde (significado para a pessoa, aspirações e metas de vida) e sua experiência única da doença: seus sentimentos em relação ao estar doente, suas ideias sobre a experiência da doença, como essa experiência está afetando seu funcionamento e, por último, o que espera de seu médico. Adoecimento “a experiência de viver a doença”. Agenda do Paciente. Sentimentos : seus sentimentos, medos sobre estar doente; O que mais está preocupando você? Ideias: suas ideias sobre o que está errado com ela. O que você pensa sobre isso? Função: o impacto de seus problemas nas tarefas da vida diária; O quanto isso que você está sentindo afeta sua vida? Expectativas : suas expectativas sobre o que deve ser feito; suas expectativas com nossa atuação. Quanto você acredita que eu posso ajudar? Doença -“o que definimos como condição nosológica”. Etiologia, Fisiopatologia, Semiologia Taxonomia. A agenda do Médico. Desenvolver junto com o pessoa um plano prático de prevenção e promoção para toda a vida. Monitorar os riscos já identificados de cada pessoa e rastrear aqueles ainda não identificados. Registrar e arquivar adequadamente. Estimular a auto-estima e confiança das pessoas no cuidado consigo. Método Clínico Centrado na Pessoa 5 2°) Compreender a pessoa como um todo A meta desse componente é integração desses conceitos (saúde, doença e experiência da doença) buscando o entendimento da pessoa como um todo. Inclui a conscientização dos múltiplos aspectos da vida da pessoa, como sua personalidade, a história de seu desenvolvimento, as questões de seu ciclo de vida e os múltiplos contextos em que vive. a pessoa (p. ex., história de vida, questões pessoais e de desenvolvimento) o contexto próximo (p. ex., família, trabalho, apoio social) o contexto amplo (p. ex., cultura, comunidade, ecossistema) Método Clínico Centrado na Pessoa 6 Realizar um genograma. O contexto pode ser dividido em próximo (envolvendo família, previdência, educação, emprego, lazer e apoio social) ou distante (envolvendo comunidade, cultura, situação econômica, sistema de saúde e geografia). Além disso, compreender o contexto em que a pessoa esta inserida Uma classificação útil das camadas de contexto é apresentada por Hinds e colaboradores (1992). Consiste em quatro camadas interativas agrupadas que se distinguem pelas seguintes três características: (1) o grau em que o sentido, individual ou universal, é compartilhado; (2) o foco temporal dominante, passado, presente ou futuro; e (3) a velocidade em que a mudança pode ocorrer dentro de cada camada. As quatro camadas de contexto são: (1) o contexto imediato, com foco no indivíduo, no tempo presente, e as rápidas mudanças que podem acontecer ou ser realizadas; (2) o contexto específico, voltado para o indivíduo, incluindo a consideração do passado imediato tanto quanto o presente relevante, e, novamente, a possibilidade de rápida mudança (Os fatores do contexto próximo incluem família, segurança financeira, educação, emprego, lazer e apoio social);(3) o contexto geral, incluindo as dimensões pessoais e culturais e o passado tanto quanto as variáveis atuais, e a mudança, que, quando possível, acontece em um tempo mais longo(determinantes sociais da saúde e a prevalência global, a incidência e a propagação da doença, mas também os desafios e oportunidades para os cuidados de saúde contidos nas agendas, regulações legais e políticas de organizações internacionais, nacionais, provinciais, estaduais, municipais e profissionais.); e (4) o metacontexto, que é geralmente compartilhado, apesar de raramente aparecer nas falas em encontros clínicos, a não ser quando explicitamente buscado; é socialmente Método Clínico Centrado na Pessoa 7 construído e predominantemente orientado pelo passado, e apenas mudanças muito lentas são possíveis no metacontexto. ● Que tipos de doenças existem na família? ● Em que ponto do ciclo vital familiar a família se encontra? ● Em que ponto do desenvolvimento individual a pessoa está? ● Quais as tarefas da família e da pessoa nessa etapa do ciclo de vida? ● Existem pendências das etapas anteriores? ● Como a doença afeta as tarefas dos integrantes da família? ● Como a família experienciou doenças? 3°) Negociar um terreno comum Definindo os problemas a serem manejados – Um nome para o problema – Quais as hipóteses do pessoa? – Evitar linguagem inacessível ao pessoa Definindo metas e prioridades – expectativas de ambos – prós e contras dos planos propostos – estimular a participação da pessoa Definindo o papel da pessoa e do médico – Situações simples com papéis implícitos – Situações complexas com papéis conflituosos Elaborando um projeto comum de manejo para os problemas: – O médico e a pessoa buscarem uma concordância em três áreas principais: *a natureza dos problemas e as prioridades; *os objetivos do tratamento; *os papéis do médico e da pessoa. Quando houver dificuldades ou divergência entre profissionais e pessoa sobre quais são problemas, pode-se utilizar a seguinte grade, e preenchê-la conjuntamente com a Método Clínico Centrado na Pessoa 8 pessoa. Deve-se também se deve incluir, nas metas, as possibilidades de prevenção e promoção de saúde. A incorporação de prevenção e promoção da saúde tem como objetivos principais: ●Melhorar a saúde. ●Reduzir os riscos. ●Detectar precocemente a doença. ●Diminuir os efeitos da doença. ●Evitar intervenções e procedimentos desnecessários ou de risco. 4°) Incrementar a relação médico-pessoa Compaixão, Empatia e Cuidado Dividir as decisões e responsabilidades/ compartilhamento do poder Transferência e contra-transferência Auto-conhecimento Curar / administrar “Time” e “timing” - Não tente fazer tudo para todos os pessoas em todas as visitas. “Teambuilding” e “teamworking” – Entender os limites da medicina e estabelecer objetivos e prioridades razoáveis. Método Clínico Centrado na Pessoa 9 Uso inteligente dos recursos - Gerenciar os recursos para o paciente pesando as necessidades dele e as da comunidade. satisfação da pessoa com a consulta depende de dois conceitos o de assimilação- contraste e o de zona de tolerância. O primeiro deles se refere ao esforço que um “cliente” realiza para crer que suas expectativas estão sendo confirmadas pela atuação profissional (esforço de assimilação). Se sua percepção final se distancia muito do resultado esperado, experimentará uma decepção “não linear”, isto é, uma decepção inclusive exagerada (contraste). Passará de estar mais ou menos conformado a estar bruscamente inconformado, ou até muito inconformado. Esta transição ou passagem de conformado a inconformado depende da zona de tolerância. Quanto mais afetada a autoestima da pessoa na resolução do problema, tanto menor será essa zona de tolerância. HABILIDADES ENVOLVIDAS NA CONSULTA DA APS ► Organizar a consulta: Ter controle de cena: ambiente, tempo, etc.; Estimular a pessoa a falar, de forma orientada; Encorajar a pessoa a falar sobre ela e suas percepções; Enfatizar aspectos fortes apresentados ou identificados; Incorporar esse modelo de comportamento expresso nos itens anteriores. ► Entrevistar ► Coletar a história ► Examinar adequadamente ► Elaborar um diagnóstico diferencial ► Resolver problemas ► Medicar adequadamente ► Criar vínculo BENEFICIOS DA APLICAÇÃO DO MCCP: diminui utilização dos serviços de saúde, aumenta sua satisfação, diminui queixas por má-prática, melhora a aderência aos tratamentos, Método Clínico Centrado na Pessoa 10 reduz preocupações, melhora saúde mental reduz sintomas e melhora a recuperação de problemas recorrentes” Falsas concepções sobre o método Demanda um tempo que não dispomos Dá mais ênfase a aspectos psicossociais do que às doenças Trata-se de uma lista de tarefas que devem ser realizadas durante uma consulta Método Clínico Centrado na Pessoa vs MBE A incorporação de prevenção e promoção da saúde tem como objetivos principais: ●Melhorar a saúde. ●Reduzir os riscos. ●Detectar precocemente a doença. ●Diminuir os efeitos da doença. ●Evitar intervenções e procedimentos desnecessários ou de risco. Letramento em Saúde O letramento em saúde (LS) diz respeito ao nível de compreensão de informações imprescindíveis para se tomar decisões no âmbito da saúde. Dessa forma, contribui para fomentar transformações de cunho individual, cultural, social, econômico e político. O nível de LS traduz a capacidade do indivíduo para adquirir conhecimentos e lidar com as demandas sociais, principalmente no contexto da saúde. Além disso, o nível educacional não garante um LS adequado, uma vez que usuários com alta escolaridade podem exibir dificuldades com terminologias e procedimentos relativos ao contexto da saúde. A partir da compreensão de que o LS não se restringe a uma habilidade única de letramento em ambiente clínico, mas que se refere à aplicação prática de diversas competências cognitivas e não cognitivas no cotidiano da vida, pode-se afirmar que a avaliação desse indicador na população se configura Método Clínico Centrado na Pessoa 11 como um caminho que permite o aprimoramento de ações em prol da promoção de saúde e da prevenção de doenças crônicas não transmissíveis O LS foi identificado como um importante componente para melhorar a saúde e bem- estar enquanto reduz as desigualdades em saúde. Baixo LS é prevalente na população em geral, especialmente em pessoas com doenças crônicas, pode ter inúmeros impactos negativos na saúde e está associado com a redução na aderência ao tratamento e no uso de serviços preventivos, um aumento no número de hospitalizações, nos gastos do sistema de saúde, empobrecimento da saúde e aumento no risco de mortalidade. LS também pode ser um melhor indicador de saúde que idade, renda, emprego e educação O LS pode ser classificado como: Funcional: capacidade de ler panfletos relacionados a saúde ou ler o rotulo de um medicamento; Interativo: ler e interpretar informações sobre saúde da internet e discutir com o profissional da saúde enquanto negociam um tratamento; Crítica: efetivo autocontrole, pede ajuda quando necessário e toma decisões informadas. Muitas ferramentas podem ser utilizadas para assegurar que profissionais de saúde se comuniquem efetivamente e vá de encontro com as necessidades de letramento do paciente. Essas ferramentas incluem o método “teach-back”, falar lentamente, repetir informações importantes e encorajar os pacientes a fazer perguntas
Compartilhar