Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Avaliar o paciente em uma consulta é procedimento importante, já que permite exercitar a escuta criteriosa para um correto diagnóstico. O Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) é um recurso auxiliar fundamental para a compreensão dos motivos que levam uma pessoa a se consultar (MALCHER). DEFINIÇÃO: O MCCP é a tentativa do médico de realizar uma tarefa dupla: entender a pessoa e entender a doença da pessoa. É desse entendimento que se deriva o processo de tratamento tanto para a pessoa quanto para a doença (MALCHER). ↠ Ao abordarem este método, utilizam quatro componentes que interagem entre si:(MALCHER). ➢ Explorando a Saúde, a Doença e a Experiência da Doença; ➢ Entendendo a Pessoa como um todo; ➢ Elaborando um Plano Conjunto de Manejo dos Problemas; ➢ INTENSIFICANDO a RELAÇÃO entre a PESSOA e o MÉDICO. OBS.: Anteriormente, o MCCP tinha 6 componentes, contando com a abordagem da prevenção e promoção de saúde e a otimização do custo e tempo. Este último chamado de “sendo realista”, mas estes dois itens foram incluídos nos 4 componentes descritos acima (MALCHER). EXPLORANDO A SAÚDE, A DOENÇA E A EXPERIÊNCIA DA DOENÇA Uma determinada doença (disease) é o que todos com essa patologia têm em comum, mas a experiência sobre a doença (illness) de cada pessoa é única. (William Osler) ↠ Aqui neste primeiro componente do MCCP, é essencial diferenciar a doença e o adoecimento. A doença possui observações objetivas para explicá-la. Por sua vez, o adoecimento traz na experiência pessoal de quem tem a doença, a explicação subjetiva deste acontecimento (MALCHER). ↠ O primeiro componente do MCCP propõe que os médicos lancem um olhar mais amplo para além da doença ao incluírem a exploração da saúde e a experiência da doença das pessoas (GUSSO, 2ª ed.). ↠ A experiência da doença é definida como a experiência pessoal e subjetiva de estar doente, e essa experiência, em geral, lida com sentimentos como medo, perda, solidão e traição (GUSSO, 2ª ed.). OBS.: Será adotada a interpretação que considera disease (doença) e illness (experiência da doença) (GUSSO, 2ª ed.). ↠ A prestação de um cuidado efetivo requer assistência tanto para as doenças que acometem a pessoa quanto para a experiência da pessoa com essas doenças e o entendimento sobre o que ela compreende por “ter” saúde (GUSSO, 2ª ed.). É nesse momento que o profissional de saúde deve estar atento a todos os sinais que o paciente apresenta na hora do seu atendimento. Não só as técnicas convencionais como anamnese, exame físico e complementar, mas fatores coadjuvantes como linguagem corporal e verbal, história de processos de adoecimentos anteriores, sentimentos e expectativas em relação ao que se passa agora. Eles podem nos dizer muito mais a respeito da situação que o diagnóstico clínico (MALCHER). ↠ Para se explorar a experiência da doença sugere-se abordar quatro dimensões designadas pelo acrônimo SIFE (GUSSO, 2ª ed.). 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck OBS.: A chave para essa abordagem é prestar atenção em “dicas” da pessoa relacionadas a esses aspectos. O objetivo é seguir a condução de quem consulta para entender a experiência do seu ponto de vista. Isso requer habilidade do médico ao entrevistar, obtendo informações que o capacitem a “entrar no mundo de quem busca ajuda” (GUSSO, 2ª ed.). ↠ Então, o médico deve obter de quem está doente a resposta a estas perguntas: (GUSSO, 2ª ed.). ➢ O que mais está preocupando você? ➢ O quanto isso que você está sentindo afeta sua vida? ➢ O que você pensa sobre isso? ➢ Quanto você acredita que eu posso ajudar? ↠ Para compreender a experiência com a doença, é fundamental, durante a consulta, o médico estar atento a “dicas e movimentos”, que geralmente a pessoa manifesta sobre as razões pelas quais está indo ao médico naquele momento. Tais sinais podem ser verbais ou não verbais e podem ser representados por expressões, emoções, sentimentos, gestos para entender ou explicar sintomas, dicas que enfatizam preocupações particulares da pessoa, histórias pessoais que relacionam a pessoa a condições médicas ou de risco, comportamento sugestivo de preocupações não resolvidas ou de expectativas (GUSSO, 2ª ed.). ENTENDENDO A PESSOA COMO UM TODO – O INDIVÍDUO, A FAMÍLIA E O CONTEXTO ↠ É o segundo componente do MCCP, na busca da integralidade para compreender o indivíduo, a família e o contexto em que está inserido, inclui o ciclo de vida, a história de saúde e de vida, lazer, crenças, religião, relações pessoais e amorosas, a rotina, sono, atividade física e hábitos de vida, o ambiente, moradia, costumes e momento econômico (MALCHER). ↠ Um médico que entende a pessoa inteira pode reconhecer o protagonismo da família em melhorar, agravar ou mesmo causar doenças em seus membros, sabe que doenças graves em um membro da família reverberam por todo o sistema familiar e que as crenças culturais e as atitudes da pessoa também influenciam em seu cuidado (GUSSO, 2ª ed.). ↠ Entender a pessoa como um todo pode ajudar o médico a aumentar sua interação com ela em períodos específicos do ciclo de vida, ajudando-o a compreender sinais e sintomas pouco definidos ou reações exageradas e fora de contexto (GUSSO, 2ª ed.). ↠ Assim, para entender a pessoa como um todo, devem-se obter respostas para perguntas como: (GUSSO, 2ª ed.). ➢ Que tipos de doenças existem na família? ➢ Em que ponto do ciclo vital familiar a família se encontra? ➢ Em que ponto do desenvolvimento individual a pessoa está? ➢ Quais as tarefas da família e da pessoa nessa etapa do ciclo de vida? ➢ Existem pendências das etapas anteriores? ➢ Como a doença afeta as tarefas dos integrantes da família? ➢ Como a família experienciou doenças? OBS.: A elaboração do genograma familiar como instrumento de conhecimento, de interpretação e de intervenção é fundamental. (GUSSO, 2ª ed.). ELABORANDO UM PLANO CONJUNTO DE MANEJO DOS PROBLEMAS ↠ Terceiro componente do MCCP, propõe encontrar um terreno comum, um acordo para elaborar um plano conjunto de manejo dos problemas, estabelecendo os compromissos, definindo metas e prioridades no plano (MALCHER). Ele deve ser montado abordando: a definição do problema da pessoa; o estabelecimento de metas para o tratamento e condução do seu quadro e identificar os papéis que cada um deve ocupar nesse processo. Essa etapa ajuda para que o paciente se torne mais ativo em relação ao seu cuidado em saúde, estimulando-o a adquirir essa autonomia (MALCHER). ↠ Esse terceiro componente do MCCP é o compromisso mútuo de encontrar um projeto comum para tratar dos problemas. É importante em qualquer situação, mas se torna fundamental como ferramenta para realizar um manejo de sucesso às pessoas com doenças crônicas, desenvolvendo intervenção terapêutica (GUSSO, 2ª ed.). ↠ Desenvolver um plano efetivo de manejo requer do médico e da pessoa a busca pela concordância em três áreas principais: (GUSSO, 2ª ed.). ➢ Definição do problema a ser manejado. Com frequência, os médicos e as pessoas doentes têm pontos de vista divergentes em diversas áreas, e a busca de uma solução não envolve apenas barganha e negociação, mas também um movimento para conciliar opiniões ou achar terreno comum, devendo o médico incorporar ideias, sentimentos, expectativas e ocupação da pessoa ao planejar o manejo da situação. 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ➢ Estabelecimento das metas e prioridades do tratamento. Depois de a pessoa e o médico chegarem a um entendimento e concordância mútuos em relação aos problemas, o próximo passo é explorar as metas e as prioridades para o tratamento. ➢ Identificação dos papéis a serem assumidos pela pessoa e pelo médico. A não adesão pode ser a expressão da discordância sobre os objetivos do tratamento.Quando alternativas ou opções do médico e da pessoa para o enfrentamento da situação são igualmente efetivas, em geral, não existem dilemas no processo de estabelecimento do manejo por parte do médico. As dificuldades surgem quando a escolha da pessoa recai sobre um tratamento que o médico considera menos eficaz ou mesmo inadequado, ou quando ela não adere ao tratamento proposto. A primeira tarefa para o médico é suspeitar que uma pessoa é “não aderente”, pensando em “não adesão”, quando: (GUSSO, 2ª ed.). ➢ se esquece de suas consultas ou abandona o cuidado; ➢ é incapaz de falar corretamente como toma os medicamentos (p. ex., tem de olhar no frasco); ➢ apresenta frasco com mais comprimidos do que o esperado; ➢ há falta de resposta clínica esperada para uma intervenção terapêutica; ➢ o nível da medicação está abaixo do esperado para a dose de medicação prescrita; ↠ Nesse momento, também se deve incluir, nas metas, as possibilidades de prevenção e promoção de saúde. Cada contato entre pessoas e médicos é uma oportunidade para se considerarem a promoção e a prevenção de saúde (GUSSO, 2ª ed.). INTENSIFICANDO A RELAÇÃO ENTRE A PESSOA E O MÉDICO ↠ As pessoas, quando consultam, esperam que o médico demonstre segurança e controle (não confundir com paternalismo e centrado no médico), atuando tecnicamente, o que transmite e proporciona confiança no profissional (GUSSO, 2ª ed.). ↠ O tempo pode e deve ser administrado conforme a necessidade da pessoa e nossa disponibilidade. Um dos recursos é utilizar a escuta ativa, primeiro demonstrando que estamos interessados na pessoa e seus problemas, o que pode ser desenvolvido com contato visual, sorriso e acenos de cabeça; depois ouvir a pessoa durante pelo menos 2 minutos sem interromper é suficiente para que ela fale o essencial; a partir daí, assumimos com a escuta ativa: ouvir mas direcionando para o que desejamos e precisamos fazer (GUSSO, 2ª ed.). Referências GUSSO et. al. Tratado de Medicina de Família e Comunidade, 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2019. MALCHER, C. M. S. R. Curso de Especialização em Saúde da Família. Método Clínico Centrado na Pessoa.
Compartilhar