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1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Urgência do Adulto- Sepse Introdução Definição: Antigamente se definia sepse como: “Resposta inflamatória decorrente da ação de um agente infeccioso”, e caso existisse disfunção orgânica era chamado de sepse grave. Quando existia hipotensão importante, mesmo após reposição volêmica chamava-se de choque séptico. Porém, nas definições mais atuais temos: - SEPSE É A PRESENÇA DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA AMEAÇADORA À VIDA, causada por resposta desregulada do organismo à infecção. A DISFUNÇÃO ORGÂNICA É DEFINIDA PELA VARIAÇÃO DE 2 PONTOS NO ESCORE SOFA Na beira do leito o SOFA não deve ser calculado, uma vez que traz algumas limitações. OBS: O qSOFA serve para predizer pacientes com sepse com possível gravidade. É composto por: FR > 22 ipm; Alteração do nível de consciência e PA < 100 mmHg. É UM SCORE DE GRAVIDADE, DE MODO QUE 2 OU MAIS CRITÉRIOS ALTERADOS CARACTERIZAM UMA POPULAÇÃO GRAVE, SOB RISCO. JÁ O CHOQUE SÉPTICO é definido pela presença de hipotensão persistente requerendo o uso de vasopressores para manter a PAM acima de 65 mmHg + lactato sérico > 2 mmol/L (18 mg/dL), a despeito da adequada ressuscitação volêmica, na ausência de hipovolemia. OBS: PAM: 2PAD + PAS/3. Dessa forma, podemos perceber que houve uma simplificação da nomenclatura e uma EXCLUSÃO DE SIRS COMO REQUISITO PARA DEFINIÇÃO. Contudo, SIRS continua importante para a triagem. Precisamos de pelo menos 2 dos 4 critérios. Epidemiologia É uma condição que acomete principalmente os países subdesenvolvidos e que diante dos recursos limitados trazem uma alta taxa de mortalidade. Além disso, no Brasil há uma baixa disponibilidade de leitos de UTI, e a distribuição no território é extremamente heterogêneo, o que promove mais um aumento da mortalidade. Prevenção de sepse: Prevenir sepse é prevenir infecção, através de: - Melhora do estado nutricional; - Cobertura vacinal; - Controle de comorbidades; - Tratamento de co-infecções; - Lavagem das mãos; - Diagnóstico precoce e planejamento de ação para o tratamento adequado. Fisiopatogenia Na sepse, há uma desregulação entre o processo inflamatório promovido pelo patógeno e a resposta imune. Geralmente há uma descompartimentalização, ou seja, uma inflamação que era local, passa a ser uma resposta inflamatória sistêmica, o que promove disfunção endotelial. Essa disfunção pode gerar hipoperfusão e disfunção orgânica. Há um processo de hipóxia, o que promove aumento do NO e redução da vasopressina, o que promove uma vasodilatação, gerando hipotensão. 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Além disso, há uma ativação da coagulação, que pode gerar a formação de microtrombos. - Portanto, há uma disfunção cardiovascular + disfunção microcirculatória, que culmina em uma resposta desregulada inflamatória. A depressão miocárdica tende a ser precoce e resolutiva Apesar dessa depressão, não há redução do débito cardíaco, principalmente diante do tratamento; A disfunção microcirculatória também é um processo temporário. É importante salientar/lembrar que todos os órgãos do organismo possui endotélio, logo, a disfunção endotelial é algo sistêmico. Quadro Clínico O reconhecimento precoce da sepse é de extrema importância, a fim de promover um tratamento precoce. Como identificar a disfunção orgânica? Importante saber que qualquer órgão pode ser acometido por disfunção orgânica. - Neurológico: a presença de convulsões não é comum, portanto, na sua presença, devemos pensar em alguma alteração do SNC. Presença de dellirium; Coma; Alteração do nível de consciência. - Cardiovascular: Hipotensão; Alteração do tempo de enchimento capilar; Alteração da diurese renal; Alteração do SNC; Aumento da lactato. - Respiratório: Hipoxemia; SARA; Redução da complacência e volume pulmonar; Acidose metabólica; Presença de infiltrados pulmonares bilateralmente à radiografia de tórax. - Hepática: Colestase: aumento sérico das bilirrubinas indica pior prognóstico. - Renal: Oligúria; Aumento da ureia e creatinina. - Hematológica: Coagulopatia; Prolongamento do TP e TTPA; Redução das plaquetas; Petéquias. 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP RESUMINDO: OBS: Exames: Importância da avaliação da Perfusão tecidual: Para avaliarmos a perfusão tecidual devemos avaliar: - História clínica; - Exame físico: Livedo ou Mosqueamento: é a coloração arroxeada da pele, de modo que seu avanço para joelhos e coxas pode identificar uma gravidade e mortalidade importante; OBS: Importante salientar que a ausência do Livedo não significa que não há hipoperfusão tecidual. Tempo de enchimento capilar: deve-se fazer uma compressão na falange distal do indicador por 15 segundos e cronometrar o tempo para retorno basal. Normal: < 4- 4,5 segundos. Em estudos mais recentes, há uma demonstração que usar o lactato ou o tempo de enchimento capilar possui o mesmo valor. Pulsos periféricos filiformes. - PA; - FC; - Pressão venosa central; Valores > 6 mmHg indicam hipoperfusão tecidual. - Ecocardiografia; - Débito cardíaco e urinário; Débito urinário é um bom marcador de perfusão renal, contudo, possui uma resposta demorada ao tratamento. Nunca trate oligúria relacionada a choque com diuréticos; Titular o uso de fluidos apenas pelo débito urinário pode causar sobrecarga volêmica. - Saturação venosa central de O2: é um marcador entre o equilíbrio da oferta e demanda por O2. Uma saturação venosa central alta significa que o paciente não está extraindo totalmente o O2 o consumo do paciente é baixo hipotermia, anestesia, aumento da oferta (Hiperóxia, aumento do DC, etc); Uma saturação venosa de O2 baixa significa que o paciente o consumo de O2 está aumentado (estresse, dor, hipertermia, agitação, etc). - Lactato: é produzido através da glicólise, sendo um marcador que demonstra alteração da função oxidativa das células. É um marcador que permite avaliar a mortalidade. Caso o lactato não normaliza nas primeiras 6 horas, não devemos tentar mais normalizá-lo. 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Marcadores bioquímicos. Importante salientar que é preciso fazer uma correlação entre as variáveis e avaliando as variáveis no decorrer do tempo. Uso de Biomarcadores na Sepse Definição: Os Biomarcadores podem ser usados como medida e avaliação das funções normais, processos patológicos ou da resposta farmacológica a uma intervenção terapêutica. Ou seja, qualquer característica que conseguimos diferenciar a situação fisiológica da patológica é considerado um biomarcador. Temos por exemplo, FC, PA, etc. Biomarcadores na sepse: Apesar de existirem vários Biomarcadores na sepse, os mais utilizados são: PCR e Procalcitonina. - PCR: faz parte da resposta imune inata, de modo que seu aumento é inespecífico; Sua secreção inicia 4-6 horas após o estímulo inicial, de modo que dobra em 8 horas e tem seu pico com 36-48 horas. - Procalcitonina: é um peptídeo percursor da calcitonina, sendo produzido em resposta a um estímulo pro-inflamatório. Sua secreção inicia 2-4 horas após estímulo inicial e tem seu pico com 12-24 horas. Apesar de auxiliar na avaliação do tempo de duração do tratamento da sepse, não deve ser um biomarcador utilizado para diagnosticar a sepse. Tratamento O tratamento da sepse é baseado em bundles, ou seja, em “pacote” de tratamento, visando um tratamento mais direcionado. Neste contexto, temos que: Bundles da primeira hora: Nesta primeira hora devemos: - Coletar lactato para avaliação do estado perfusional; O lactato sérico aumentado é um indicador de mau prognóstico; Lactato > 2mmol/L repetir. OBS: O lactato altera uma vez que há redução do débito cardíaco em pacientes com sepse, o que promove uma redução da oferta de O2 aos tecidos. Para compensar, os tecidos aumentam a capacidade de captação de O2, contudo, em um dado momento, essa capacidade é esgotada e isso promove uma mudança para o mecanismo anaeróbico e a partir daí o lactato sérico aumenta. OBS1: Existem outros mecanismos que promovem aumento do lactato na sepse, sendo eles: estímulo das catecolaminas, alteração do piruvatos desidrogenase e redução do clareamento hepático O que demonstra que nem sempre hiperlactatemia é indicativo de hipoperfusão. - Coletar hemocultura antes do início da terapia antimicrobiana específica, de modo que o uso de amplo espectro não deve esperar o resultado dessa hemocultura; - Iniciar antimicrobianos, de largo espectro, por via endovenosa, na 1ª hora de tratamento, com posterior redução do espectro após a hemocultura; Deve-se lembrar de também do controle do foco infeccioso; Recomenda-se a remoção imediata de dispositivos para acesso vascular que sejam um possível foco de sepse após outro acesso vascular ter sido estabelecido. 5 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Iniciar reposição volêmica 20-30 ml/kg de cristaloides (ringer ringer lactato SF) em pacientes com hipotensão OU lactato > 4 mmol/L OU sinal de hipoperfusão; Sinais de hipoperfusão: Oligúria; Alteração do nível de consciência; Adinamia; Acidose metabólica; Alteração do tempo de enchimento capilar. - Usar vasopressores durante ou após reposição volêmica para manter a PAM > 65 mmHg; Essa recomendação de durante ou após refere-se ao fato que alguns pacientes possuem uma hipotensão muito grave, de modo que não esperamos a reposição volêmica fazer seu efeito. Vasopressor de escolha: Noradrenalina. O vasopressor pode e deve ser iniciado no acesso periférico. PRECISAMOS SABER SE ELA É VOLUME RESPONSIVA PARA SE MANTER TAMBÉM A REPOSIÇÃO VOLÊMICA COM MAIOR CAUTELA ECO/USG beira leito para avaliar o DC Elevamos as pernas do paciente e realizamos novamente o USG/ECO para ver se a paciente responde a volume (avaliar distensibilidade da VCI e janela pericárdica). Se o débito cardíaco variar de 12-15% significa que ele é respondedor a volume. OBS: METAS DO CHOQUE SÉPTICO DE AVALIAÇÃO DA PERFUSÃO: queda de 10% de lactato em 1 hora; PAM > 65 mmHg; Diurese 0,5 ml/kg/hora; Temp enchimento capilar < 3s; PAs > 100; SATO2 > 90%; Saturação venosa central de O2 (ScVO2- é o sangue que volta do corpo para oxigenar) 70- 75%; GAPCO2 < 6 (coleta uma amostra de sangue arterial e veia central e mede-se a diferença o PCO2 arterial e venosa, logo, se estiver alta significa que está chegando mais CO2 na circulação central). OBS1: Fluído necessidade: podemos avaliar se há Kissing wall, ou seja, as paredes ventriculares que se tocam, o que significa que não há volume suficiente. - Colher 2º lactato entre 2-4 horas para pacientes com hiperlactatemia; - REAVALIAR STATUS VOLÊMICO E PERFUSÃO TECIDUAL. Realizando a avaliação do tempo de enchimento capilar a cada 30 minutos OU; Realizando a dosagem de lactato a cada 2 horas. OBS: O check point deve ser realizado até 6ª hora para pacientes com hiperlactatemia ou hipotensão persistente. Tratamento com antimicrobianos PK-PD: Quando falamos de PK-PD estamos falando de farmacocinética e farmacodinâmica. Os antimicrobianos possuem um efeito farmacológico desejado que é erradicar a bactéria e os seus efeitos tóxicos vão se dar em organismos distintos. Os antimicrobianos podem agir através da concentração máxima que promove sua ação ou através do tempo máximo que promove sua ação. Independente disso há uma dependência da Concentração Inibitória Mínima (MIC). - Na sepse há algumas alterações sistêmicas, que reduzem a exposição dos patógenos ao antibiótico, que aliado ao aumento da MIC, isso gera uma redução da probabilidade de sucesso. Fisiopatologia e concentração de ATB: No início da sepse temos um paciente com um aumento do DC, que gera um aumento da depuração renal, com 6 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP consequente redução da concentração do ATB no organismo. Associado a isto, temos uma alteração das proteínas plasmáticas, que geram um extravasamento de líquido para o 3º espaço, com consequente redução da concentração do ATB. Ademais, na sepse há um processo de hipoperfusão tecidual que gera uma redução da penetração dos ATB nos tecidos. Por outro lado, no estágio mais tardio da sepse há uma disfunção orgânica, principalmente renal e hepática, que promove redução do clearance e consequente aumento da concentração sérica dos ATB. Estratégias: - Modificar a infusão: Uma das estratégias, principalmente para os Betalactâmicos, é fazer a infusão contínua dessas substâncias. - Maneiras de otimizar à prescrição beira leito: Nas primeiras 24-48 horas do quadro séptico: iniciar antibioticoterapia com Betalactâmicos, realizando uma infusão contínua em 3-4 horas. Tratamento antimicrobiano para cepas resistentes: - Klebsiella pneumoniae Carbapenemase (KPC): na presença deste tipo de bactéria é indicado utilizar uma terapia combinada para pacientes com mortalidade maior, por reduzir a mortalidade, de modo que a combinação de Polimixina + Carbapenêmicos, é uma boa opção. OBS: Ceftazidima + avibactam: possui ação aos gram- negativos, KPC, ESBL, enterobactérias, pseudomonas MR. - Pseudomonas resistentes aos carbapenêmicos: a maior experiência para tratar este grupo são as polimixinas. - Acinobacter spp: a maior experiência para tratar este grupo são as polimixinas. Além disso, Sulbactam em altas doses apresenta uma melhor resposta clínica. Reposição volêmica e drogas vasoativas na sepse Reposição volêmica: Pacientes com hipoperfusão devem receber 30 ml/kg de cristaloide, principalmente o ringer lactato. - Após a ressuscitação inicial, OS FLUIDOS ADICIONAIS DEVEM SER GUIADOS POR VARIÁVEIS CLÍNICAS, COMO FC, PA, FR, DIURESE, ETC. O alvo da PAM deve ser > 65 mmHg. - Recomenda-se o uso de cristaloides para ressuscitação volêmica. A albumina pode ser utilizada em pacientes que necessitam de volumes elevados de cristaloides. Seu maior problema é o custo. A solução salina 0,9% pode se associar com lesão renal aguda e pode gerar uma acidose hiperclorêmica. Drogas vasoativas: - NORADRENALINA é a droga de primeira escolha na dose de 0,01-1,5 mcg/kg/min, podendo ainda associar com epinefrina ou Vasopressina; Promove aumento da RVP e redução do fluxo renal e coronário; É indicada em choque séptico e em choques refratários. - VASOPRESSINA: é a droga de 2ª escolha para a sepse. - ADRENALINA: sua dose é de 2-10 mcg/min; É uma droga que promove aumento da RVP e do DC e reduz o fluxo renal; É indicado para choques refratários ou bradicardias; Gera piora da lactatemia. - DOBUTAMINA: é utilizada em pacientes com má perfusão tecidual, ou seja, eu já realizei a reposição volêmica e segue com um grau de hipoperfusão. A dose é de até 20 mcg/kg/min, uma vez que dose > 30 mcg/kg/min gera arritmias e da PA. Gera piora da hipotensão; Promove aumento da contratilidade cardíaca. - Dopamina: é utilizada apenas em pessoas com bradicardia. Dose: < 3 ug/kg/min Promove vasodilatação renal e mesentérica; Dose 3-10 ug/kg/min Promove aumento do DC e redução da RVP; Dose > 10 ug/kg/min Promove aumento da RVP e PA e redução do fluxo renal; Efeitos adversos: Hipóxia; Aumento do trabalho cardíaco; Angina e arritmias; Náuseas e vômitos. - Levosimendan: é um sensibilizador de cálcio; Não possui efeito benéfico na sepse, uma vez que não é indicado para hipotensão severa. 7 Luana MascarenhasCouto 18.2- EBMSP - Milrinone: é um inotrópico que geralmente é utilizado no tratamento da IC descompensada e choque cardiogênico. - Nitroprussiato de sódio e nitroglicerina: Indicações: não é utilizada no choque séptico. Emergências hipertensivas; Pós-operatório de cirurgia cardíaca; Efeitos colaterais: Hipotensão; Intoxicação por cianeto; Hipotensão severa com Sildenafil. Terapias Adjuvantes na Sepse Corticoides: A reposição de corticoide na sepse parece promover um desmame mais precoce do uso de vasopressor. - Sugestões: Uso em pacientes em doses crescentes de vasopressor; Uso em pacientes com choque e disfunção de mais de 2 sistemas. Alta Hospitalar Segura após sepse Efeitos em curto prazo e longo prazo: Os efeitos de sepse a curto prazo não refletem a magnitude real dos efeitos do pós-sepse. Já os efeitos a longo prazo são: - Sequelas físicas, cognitivas e psicológicas; - Rehospitalizações: mais de 50% dos pacientes necessitam de Rehospitalizações em 12 meses, sendo causada principalmente por infecções, descompensação de comorbidades e pneumonite aspirativa; - Dificuldade para retorno ao trabalho ou estudo. Atualmente sabe-se que a estimativa de mortalidade por sepse acontece de médio a longo prazo, de modo que infecção é a principal causa pós-alta hospitalar, o que demonstra uma possível imunossupressão como sequela. Fatores de risco para mortalidade em longo prazo: Os principais fatores de risco são: - Idade avançada; - Múltiplas comorbidades; - Fragilidade funcional prévia; - Intensidade de desarranjos fisiológicos na fase aguda. Síndromes pós-cuidados intensivos: 8 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Alta segura: As principais ações para melhora das sequelas em curto, médio e longo prazo são: - Educação de pacientes e familiares: Possíveis sequelas; Planos de cuidados pós-hospitalar; - Prevenção de infecções: Revisão de vacinas; Cuidados básicos para pacientes imunodeprimidos; Orientações sobre sinais e sintomas de infecção. - Avaliação de deglutição: Esses pacientes possuem aumento do risco de pneumonite aspirativa. Dessa forma, precisamos: Reabilitação da deglutição e adaptação da dieta; - Rastreamento de fraqueza muscular: Realizar um screening de força muscular através da Escala de Força MRC; Fisioterapia; Adaptação do ambiente e estilo de vida; - Rastreamento de disfunção cognitiva: Realizar um screening através do Mini exame do estado mental; Promover uma reabilitação cognitiva; Adaptar o ambiente e estilo de vida; - Rastreamento de sintomas psicológicos: Realizar um Screening através da Escala de ansiedade e depressão; Acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico; Não se esquecer de avaliar o familiar. - Reconciliação medicamentosa: Revisão da dose e/ou necessidade de medicamentos. - Prevenir descompensação de comorbidades: Revisar doenças de base e ajustar terapia. - Suporte nutricional: Avaliação do risco nutricional; Prescrição e acompanhamento do processo de reabilitação nutricional; - Handover para atenção primária: Adequada comunicação e passagem dos cuidados para atenção primária. O que é efetivo? Apesar de saber todas as sequelas, as diretrizes do tratamento de sepse não fazem recomendações sobre cuidados pós- alta hospitalar. - O que podemos fazer? Tratamento precoce e de alta qualidade de sepse; Tratamento da dor, agitação e dellirium: essas alterações são comumente associadas com maior risco de mortalidade; Mobilização precoce; Programas de reabilitação parecem não existir eficácia nestes tratamentos; Melhoria do atendimento primário parece não existir efeitos benéficos; Clínicas de seguimento pós-UTI nenhum efeito protetor foi notado. OBS: Resumindo: não há evidências que confirmem a importância desses tratamentos após sepse. Contudo, é sugerido que a reabilitação física, ocupacional e de fonodiaulogia são benéficas. Prevenção e tratamento das principais infecções associadas à assistência à saúde Pneumonia associada à ventilação mecânica: - Definições: Pneumonia adquirida no hospital: é aquela pneumonia que não estava presente na admissão do paciente, evoluindo a partir de 48 horas ou mais da internação; Pneumonia associada à ventilação: é aquela que ocorre > 48 horas após a IOT e até 48 horas após sua interrupção; OBS: Definições do CDC: o Brasil não utiliza esses critérios. OBS1: Muitas vezes precisamos identificar o agente etiológico: O lavado broncoalveolar > 10.000 unidades formadoras de colônias OU cultura de secreção traqueal > 100.000 unidades formadoras de colônia. OBS2: Na ausência de achados radiológicos, não podemos chamar de pneumonia associada à ventilação e a partir disso vem-se o conceito de Traqueobronquite. 9 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Pneumonia relacionada à assistência à saúde: é aquela que ocorre com institucionalizados ou com internação prévia nos últimos 3 meses ou que fazem hemodiálise. - Patogênese: OBS: Prevenção de pneumonia aspirativa: - Etiologia: A pneumonia de início precoce, ou seja, com menos de 5 dias de internação possui os mesmos agente etiológicos das pneumonias adquiridas na comunidade Então cuidado ao colocar um ATB de amplo espectro de forma desnecessária. - Prevenção das pneumonias associadas à ventilação: Higiene adequada das mãos; Medidas: Elevação do tórax 30-45º: tem como objetivo diminuir o risco de broncoaspiração e atelectasias; Avaliação ventilatória diária: tem como objetivo extubação não programada e visar extubação mais precoce; Manutenção da pressão positiva do tubo entre 25-30 cmH2O: tem como objetivo diminuir as aspirações (acima de 30 cm gera lesão da mucosa e abaixo de 30 gera aspiração); Higiene oral: descontaminação com clorexidina 0,12% 12/12 horas: importante realizar a higiene mecânica de secreções; Aspiração acima do balonete/cuff retirar as secreções; Início da nutrição enteral dentro de 24-48 horas de internação em UTI: reduz mortalidade em UTI; Prevenção de úlcera de estresse e TVP. OBS: Descontaminação seletiva da orofaringe e TGI: não é uma prática tão realizada no Brasil. O que se utiliza na prática são pastas com Colistina, Tobramcinina e Anfotericina B 2%, aplicando 6-6 horas até a alta da UTI. Não há tantas evidências que demonstrem redução da mortalidade com essa prática. Prevenção e tratamento de infecções relacionadas a cateter central: - Definições: Relacionadas ao cateter venoso central: se faz necessário: Hemocultura periférica positiva + ponta de cateter central com o mesmo agente OU; Hemocultura periférica positiva + hemocultura de cateter central positiva para o mesmo agente com tempo de crescimento > 2 horas; Associadas ao cateter venoso central: Se faz necessário: Hemocultura positiva para agente não contaminante de pele em pacientes em uso de cateter central, sem outro foco infeccioso; 2 hemoculturas positivas para agente contaminante da pele associada a quadro clínico em paciente com cateter central. - Patogênese: 10 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Etiologia: os principais agentes encontrados no Brasil são: 50% das infecções ocorrem por bacilos gram- negativos: Pseumonas aeruginosa, Acinetobacter; 35% das infecções ocorrem por S. aureus e S. aureus coagulase negativo; Restante por cândida. - Fatores de risco: OBS: O sítio femoral é o que tem maior risco de infecção, enquanto o subclávio possui menor risco. - Prevenção: Antes da inserção: Check list de boas práticas; Durante a inserção: Higiene das mãos e paramentação; Evitar acesso femoral em adultos, preferindo subclávia jugular por último femoral; Dar preferência a menor número de lúmens; Uso de clorexidina alcoólica para assepsia da pele; Avaliar a necessidade de CVC; Preferir a inserção guiada por USG: por reduzir o número de punções; Após a inserção: Curativo estéril, mantendo seco e limpo; A cada troca de curativo realizar antissepsia do sítio de inserção com clorexidina alcoólica 0,5% e das mãos; Desinfecção da conexão com álcool 70% ou clorexidina 0,5% por 5 segundos. - Manejo clínico: Quando suspeitar: Paciente em uso de CVC com: Febre sem foco definido; Sinais clínicos de bacteremia; Febre e hiperemia > 2 cm em óstio de CVC; Febre e secreção purulenta em óstio de CVC; Hemoculturas persistentemente positivas; Infecções metastáticas. Quando retirar o cateter: Sepse ou instabilidade hemodinâmica; Hiperemia > 2 cm ou secreção purulenta em óstio de CVC; Presença de prótese valvar ou vascular; Infecção confirmada por S. aureus, Candida, Enterococcus e Bacilos gram negativos não fermentadores. Métodos diagnósticos: Hemocultura da periferia e do central de forma pareada; Se atentar para quantidade por frasco: Adulto 8-10 ml; Crianças 1-3 ml e Neonatos: 1 ml; Cultura da ponta de cateter: > 15 UFC é positiva por rolamento ou sonicação. OBS: Na presença de infecção por S. aureus ou Candida deve-se solicitar Eco e fundo de olho, pois esses agentes etiológicos causam lesões por embolização séptica, que seria sinônimo de infecção complicada. Confirmação diagnóstica: Como tratar: depende do agente etiológico. Terapia empírica deve cobrir Cocos gram positivos e bacilos gram negativos; Em locais com S. aureus resistentes à meticilina deve-se usar Vancomina; Pacientes com choque séptico, neutropênicos ou colonizados por agentes resistentes: deve-se fazer uma cobertura empírica para multirresistentes. - Infecções complicadas: Sepse, tromboflebite supurativa, endocardite, bacteremia persistente > 72 horas após início da ATB adequada: devemos suspeitar de S. aureus, P. aeruginosa, fungos ou Micobactérias. Portanto, o tratamento é feito com: 4-6 semanas se fungemia ou bactéria que persiste após retirada do CVC ou em casos de endocardite, osteomielite, etc; 6-8 semanas: osteomielite aguda em adultos. OBS: Lockterapia: pode ser utilizada para tentar salvar o cateter. Deve ser feita em paralelo com ATB sistêmico. É contraindicada se infecção complicada e em infecções por Bacilus sp e Micrococcus. Devemos coletar hemoculturas extras após 72 horas de ATB, pois caso a hemocultura siga positiva, o cateter ainda está infectado. 11 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP RESUMINDO: Prevenção e tratamento de infecções urinárias: - Introdução: é uma das infecções mais frequentes, sendo que a maioria delas está associada à sonda vesical de demora. - Mecanismos: Extraluminal: Ocorre por uma inserção ou; Por capilaridade, formando um biofilme, sendo este composto por bactérias, o que dificulta a penetração dos ATB; Intraluminal: Ocorre uma quebra do sistema de drenagem fechada, o que promove a invasão do sistema por bactérias. - Etiologia: possui uma etiologia bastante variável, mas em geral as Enterobactérias são as principais causas, a exemplo da E.coli, Klebsiella e Protheus. Pode ainda ocorrer por gram positivos e Candida. - Diagnóstico: precisamos diferenciar a bacteriúria assintomática da infecção do trato urinária propriamente dita, uma vez que os pacientes internos recebem ATB por outra causa, o que promove uma resistência bacteriana. Bacteriúria assintomática: está relacionada à duração de sondagem vesical; Urocultura positiva > 100.000 UFC + Ausência de sinais e sintomas de infecção; É indicado tratamento APENAS em gestantes (4-7 dias); pacientes que irão realizar procedimentos urológicos (1-2 doses); transplantes renais no 1º mês e neutropênicos grave (< 100 neutrófilos, por mais de 7 dias). ITU: Urocultura positiva + 100.000 UFC + Sinais e sintomas de infecção: febre; dor em hipogástrio, dor em flanco. Em idosos pode ter dellirium. A depender da presença de sonda vesical de demora, os sintomas mudam, bem como o manejo. OBS: Os pacientes idosos podem ter dellirium, de modo que antes de coletar urocultura, devemos excluir outras causas de dellirium, a exemplo de desidratação, interações medicamentosas, depressão, retenção urinária, etc. - Tratamento: Aguardar urocultura sempre que possível; Escolha do agente a depender da toxicidade; Tempo de tratamento: ITU baixa: 7 dias; Pielonefrite: 7-14 dias. - Candidúria: - Outras consequências da sondagem vesical: Obstruções; Urolitíase; Uretrite e Prostatite; Trauma mecânico; Estenose uretral. - Prevenção: Realizar a sonda vesical de demora quando necessária. Suas indicações são: Retenção urinária aguda; Necessidade de monitoramento contínuo do débito urinário em pacientes críticos; Ferida em região perineal em paciente incontinente; Pré-operatório de procedimentos específicos, como TGU; Conforto em pacientes terminais. Realizar a inserção asséptica e em sistema fechado; Realizar higiene das mãos e paramentação; 12 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Manter fluxo urinário desobstruído; Não é recomendado: Troca rotineira da sonda vesical de demora, apesar de bacteriúria; Antissépticos em bolsa de drenagem; Não há evidência de cateter urinário impregnado com antimicrobianos. Tratamento e prevenção de infecções fúngicas: - Micoses principais: Candidíase é a principal micose oportunista adquirida no ambiente hospitalar. Aspergilose; Mucomicose; Critpcocose; Pneumocistose. - Candidemia: Definição: é a infecção da corrente sanguínea, causada por leveduras do gênero Candida. Candidemia: documentação de fungemia sem identificação de focos infecciosos em vísceras; Candidíase disseminada aguda: presença de fungemia documentada concomitantemente à presença de infecção em outras vísceras, como pele e olho; Candidíase disseminada crônica: presença de múltiplos abscessos por Candida em fígado, baço e eventualmente em rins, com instalação insidiosa, após um período de neutropenia. Fisiopatogenia: a cândida é um habitante ao TGI, de modo que a exposição à ATB promove destruição da microbiota do TGI, e a cândida prolifera, podendo, inclusive, translocar-se para a corrente sanguínea (fonte endógena). Além disso, podemos ter candidemia através de acesso venoso central (fonte exógena). Etiologia: Candida albicans principal; Candida parapsilosis segunda infecção; Candida tropicalis terceira infecção; Candida glabrata geralmente resistente ao Fluconazol; Candida krusel. Tratamento: deve durar pelo menos 14 dias após a negativação das culturas e o desparecimento dos sinais e sintomas. Anfotericina B: são usados para não responsivos ou intolerantes ou nos casos de endocardite/meningite. Fluconazol/Voriconazol: o Fluconazol é considerado para terapia sequencial ou pacientes estáveis ou em casos de endoftalmite; Equinocandinas: Micafungina e Casponfunginas são primeira linha das infecções invasivas e da candidemia. Recomendações terapêuticas: Medidas de prevenção: Controlar doenças de base; Minimizar a exposição, identificando de fatores de risco, a exemplo, de CVC, cirurgias de TGI, uso de ATB e nutrição parenteral. Devemos realizar a profilaxia antifúngica em pacientes com transplantes e RN de baixo peso. Gasometria arterial Introdução: Representa um procedimento invasivo, a chamada punção arterial, feito em situações de emergência. Parâmetros: -Aferidos diretamente: pH: o pH varia entre 7,35-7,45, de modo que se < 7,35 há uma acidemia e > 7,45 indica alcalemia. Mecanismos compensatórios; 1- Sistema tampão: ocorre através da formação ou ionização do ácido carbônico; 13 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP 2- Compensação respiratória: atua nos distúrbios metabólicos, através da retenção (redução da FR) ou eliminação de CO2 (aumento da FR); 3- Compensação renal: atua nos distúrbios respiratórios, através da adequação da eliminação ou retenção de H+. PCO2: avalia a ventilação alveolar. Seu valor de referência varia de 35-45 mmHg. PO2: avalia a troca de O2 alveolocapilar. Seu valor de referência é de 80-100 mmHg. - Aferidos indiretamente por cálculos: SAT O2; Bicarbonato stantard: se refere à concentração de bicarbonato. Seu valor de referência é de 22-26 mEq/L. Buffer base: representa a soma do bicarbonato com outras bases do organismo. Seu valor fixo; Base excess: também representa o somatório do bicarbonato com outras bases, de modo que o seu valor de normalidade é o excesso da buffer base. RESUMINDO: Distúrbios ácido-base: - Acidose metabólica: pode ocorrer por perda de HCO3- ou ganho de H+. Gasometria arterial: pH < 7,35; HCO3- < 22; PCO2 < 35 mmHg: por hiperventilação. Mecanismo compensatório: Hiperventilação. Mecanismo: temos que partir do pressuposto que nosso organismo vive em equilíbrio eletroquímico, de modo que o somatório dos íons negativos e positivos é igual. Então temos: Na 140 + Cl 106 + HCO3- 24 + ânion Gap 10. Logo, se eu reduzo o HCO3-, preciso aumentar as cargas negativas do Cloro (Hiperclorêmica) ou do ânion GAP. Etiologias: Cetoacidose metabólica; Uremia; Acidose lática. - Alcalose metabólica: ocorre por excesso de bicarbonato. Gasometria arterial: pH > 7,45; HCO3-: >26; PCO2: > 45 por hipoventilação. Mecanismo compensatório: Hipoventilação. Etiologias: Vômitos; Uso de diuréticos; Sondagem gástrica. - Acidose respiratória: ocorre por PCO2 elevada devido hipoventilação. Gasometria arterial: pH < 7,35; HCO3-: > 26: está sendo formado para tamponar; PCO2 > 45. Mecanismo compensatório: Tampão de bicarbonato; Eliminação de H+ em excesso. Etiologia: DPOIC; Depressão do centro respiratório; Patologias neuromusculares; TCE. - Alcalose respiratória: ocorre por PCO2 baixa por hiperventilação. Gasometria arterial: pH > 7,45; HCO3- < 22; PCO2 < 35. Mecanismo compensatório: Ionização do ácido carbônico; Retenção de H+. Etiologia: Asma; TEP; Hipertireoidismo; Causas ventilação mecânica com volume corrente elevado. RESUMINDO: OBS: A partir da identificação do distúrbio primário, precisamos saber se ele está compensado ou com distúrbios mistos e para isso precisamos fazer alguns cálculos. 14 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Exemplo: Choque Definição: Ocorre por uma falha no mecanismo que bombeia o sangue ou por problemas dos vasos sanguíneos ou por baixo nível de fluído do corpo. Classificação: - Hipovolêmico; - Obstrutivo; - Séptico/distributivo: o problema é a vasodilatação exagerada dos vasos sanguíneos. É caracterizado por hipovolemia e hipotensão, com posterior vasodilatação. Condutas: - DO2: precisa melhorar a entrega de O2 à célula. DO2= DC x CAO2 A DO2 depende do DC e o quanto o sangue carreia O2 (ou seja, HB ou SATO2). DC= VS x FC (A VS depende da pré-carga; pós-carga e contratilidade) Na sepse já existe aumento da FC, então precisamos aumentar o VS e consequentemente o débito cardíaco. DO2= DC X HB X SATO2. Tratamento:
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