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Educação e Movimento Corporal

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Prévia do material em texto

Shirley Moreira Alves 
 
 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO E MOVIMENTO 
CORPORAL 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
Sobral/2017 
Sumário 
Palavra da Professora autora 
Sobre a autora 
Ambientação à disciplina 
Trocando ideias com os autores 
Problematizando 
 
UNIDADE I: O CORPO: RELAÇÕES E SIGNIFICADOS HISTÓRICOS 
O corpo: relações e interações na contemporaneidade 
Práticas corporais ao longo da história 
Métodos ginásticos europeus 
 
UNIDADE II: CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO E CORPOREIDADE 
Cultura e contexto histórico do movimento e corporeidade 
Corporeidade infantil: brincando com o movimento 
O Jogo no desenvolvimento infantil 
 
UNIDADE III: MOVIMENTO E APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA 
O processo de aprendizagem motora durante a infância 
Padrões motores fundamentais na infância 
Desenvolvimento cognitivo 
 
Explicando melhor com a pesquisa 
Leitura obrigatória 
Pesquisando na internet 
Saiba mais 
Vendo com os olhos de ver 
Revisando 
Autoavaliação 
Bibliografia 
Bibliografia da Web 
Vídeo 
Palavra da professora autora 
 
Caro estudante, seja bem-vindo! 
 
A temática que envolve o estudo do movimento corporal como 
ferramenta pedagógica de desenvolvimento humano cognitivo e motor sempre 
ocupou lugar de destaque entre os estudiosos e profissionais que estão direta 
ou indiretamente ligados com a educação infantil. Atualmente, o tema tem sido 
revisitado no intuito de subsidiar cientificamente e, sobretudo para dá norte e 
suporte aos professores no decorrer de sua atuação profissional, haja vista que 
o cenário prático de desenvolvimento da criança é cheio de situações muitas 
vezes imprevisíveis, o que requer muito conhecimento e estudo por parte 
desses profissionais. 
 
Além disso, conhecer e se apropriar do assunto abre caminhos para que 
um novo olhar seja lançado sobre as necessidades surgidas em sala de aula 
ou durante as atividades propostas, fazendo com que os professores busquem 
compartilhar com outros profissionais suas experiências e inquietações, pode 
encurtar o caminho para soluções rápidas, mais inteligentes e eficazes para 
cada demanda surgida. 
 
 Desejamos que ao dedicar-se sobre o tema em evidência você 
estudante possa se identificar e motivar-se a estudar mais aprofundadamente, 
uma vez que o estudo em questão poderá ser utilizado como ferramenta 
primordial em suas atividades profissionais, tornando o ambiente de trabalho 
mais interativo e a relação com os demais profissionais mais estreita, no intuito 
de diminuir os problemas e aumentar as chances de solução. 
 
A autora! 
 
Sobre a autora 
 
Shirley Moreira Alves é mestre em Ciências da Saúde, 
pela Universidade Federal do Ceará-UFC (2016). 
Especialista em Fisiologia do Exercício e Biomecânica do 
Movimento, pela Faculdade Integrada do Ceará – FIC 
Estácio de Sá – FIC (2006). Graduada em Educação 
Física (licenciatura plena) pela Universidade Estadual Vale 
do Acaraú - UVA/ Sobral - (2003). Atuou como professora 
Coordenadora de Núcleo no Projeto Segundo Tempo no 
SESC Sobral e Prefeitura Municipal de Sobral. Coordenadora de projetos 
Esportivos Educacionais na Prefeitura Municipal de Meruoca - Sobral -CE. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ambientação à disciplina 
 Caro estudante seja bem-vindo à disciplina de Educação e Movimento 
Corporal. O estudo trata-se de uma disciplina que traz um rol de 
conhecimentos básicos pertinentes à proposta central da temática (movimento 
como ferramenta pedagógica), que os profissionais de diversas áreas 
(Educação Física, Pedagogia, Psicomotricidade, dentre outras) necessitam 
para uma formação mais integral. 
 Nesta disciplina, você irá compreender de que forma o corpo foi tratado 
durante o percurso histórico da humanidade, suas atribuições e limites 
impostos pelas sociedades sob o enfoque cultural, político e religioso. Também 
será possível conhecer as práticas corporais que deram origem à Educação 
Física nos moldes atuais enquanto disciplina do currículo pedagógico 
trabalhado nas escolas brasileiras, passando pela Cultura Corporal do 
Movimento e Corporeidade Infantil. 
 Além disso, esse construto traz informações importantes acerca do 
desenvolvimento motor da criança à luz de teóricos como Jean Piaget, e 
Gallahue e Ozmun, sem deixar de contemplar a aprendizagem e os aspectos 
cognitivos. 
 
Excelentes estudos! 
 
 
 
 
 
 
Trocando ideia com os autores 
 
Sugere-se a leitura da obra: Desenvolvimento Humano. 
12ª Edição. Esse livro aborda as diferentes fases do 
desenvolvimento, da formação de uma nova vida ao 
inevitável momento da morte. Seguindo uma abordagem 
cronológica, as autoras apresentam os aspectos do 
desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial de forma 
didática e ilustrada. 
 
PAPALIA, Daine E.; FELDMAN, Huth Duskin. Desenvolvimento Humano. 12ª 
Edição. São Paulo: AMGH, 2013. 
 
Recomenda-se também a leitura da obra: Sentir, Pensar e 
Agir: Corporeidade e Educação. Este livro é Dividido em 
quatro capítulos, a autora estruturou sua exposição com 
base nos tópicos: o corpo na vida cotidiana, a problemática 
do homem e sua corporeidade no pensamento filosófico, 
reflexões sobre o homem e a Educação e a Educação 
Física. 
 
GONÇALVES, Maria Augusta S. Sentir, Pensar e Agir: Corporeidade e 
Educação. 11ª Edição. São Paulo: Papirus, 2013. 
 
GUIA DE ESTUDO: Após a leitura das obras, escolha uma e produza um texto 
abordando os pontos principais, destaque os pontos que venham contribuir 
para a disciplina de Educação Física, em seguida compartilhe sua reflexão, 
postando no ambiente virtual. 
 
Problematizando 
 Durante sua vida profissional, você compreenderá por meio de diversas 
situações que a Pedagogia e a Educação Física se apresentam como duas 
áreas do conhecimento com grande interface. Um bom exemplo, diz respeito 
ao desenvolvimento motor e cognitivo da criança, bem como a Cultura Corporal 
do Movimento, que se constitui numa importante ferramenta educacional. 
 Bem, agora imagine que durante uma aula de atividade física no Ensino 
Infantil, você perceba que dentre as crianças, existe uma que está sempre 
isolada e dificilmente executa as atividades propostas por se sentir incapaz de 
realizar algum tipo de movimento, e durante algumas observações, você 
professor detectou um possível atraso no desenvolvimento motor ou cognitivo 
dessa criança. O que você faria neste caso? 
 Caro estudante, lembre-se que cada criança possui características 
psicomotoras peculiares, porém, em sua grande maioria se enquadram em 
algum padrão de desenvolvimento motor. 
 Segundo Piaget (1976) a criança não pode antecipar estágios, ou seja, 
se ela está no estágio sensório-motor evidentemente não pode adiantar o 
estágio operatório-formal, logo deveria passar para o pré-operatório. 
 
GUIA DE ESTUDO: Diante dessa teoria, produza um texto argumentativo 
abordando o seguinte questionamento: Essa criança teria o seu processo de 
aprendizagem afetado, se esse procedimento de antecipação de estágios 
acontecesse? Compartilhe suas reflexões postando no ambiente virtual. 
 
 
 
O CORPO: RELAÇÕES 
E SIGNIFICADOS 
HISTÓRICOS 
1 
 
CONHECIMENTOS 
 
Compreender a importância do corpo como instrumento social, político e 
religioso, os significados atribuídos ao corpo durante a história da humanidade, 
as formas de controle sobre o corpo, e as práticas corporais que serviram de 
base para a Educação Física enquanto proposta curricular. 
 
 
HABILIDADES 
 
Reconheceras fases históricas e as diferentes atribuições dadas ao corpo. 
 
 
ATITUDES 
 
Domínio do conteúdo, postura ética, espírito de equipe, investigação da 
temática em outras fontes de pesquisa demonstrando empenho, dedicação e 
comportamento condizente com a sua prática profissional. 
 
O corpo: relações e interações na contemporaneidade 
 
 
 Por ser o corpo uma instância polissêmica, ou seja, de múltiplas faces e 
significados, formular um conceito que o defina pode ser tarefa 
demasiadamente difícil, porém, também pode representar uma viagem infinda 
acerca de inúmeras questões que permeiam a elaboração de seu 
conhecimento, bem como as atribuições destinadas a ele ao longo do tempo. 
 A história do corpo se confunde com a história dos povos espalhados 
pelo mundo, e cada civilização o constrói a partir de suas concepções e 
vivências, criando, assim, padrões diversos que vão desde a beleza, passando 
pela saúde até a sexualidade, e tais concepções se alojam em torno das 
teorias que o explicam. O corpo e suas possibilidades de ação possuem 
importante ligação com o ser humano, dado que este só existe por ser 
animado. A ele são destinados diferentes valores que se opõem entre si, e com 
outras questões sociais e individuais. 
 É importante destacar que o conhecer do próprio corpo não deve estar 
limitado às partes anatômicas ou funcionamento biológico, está muito mais 
envolvido com o que essas partes podem realizar do que com o que realmente 
são, afastando qualquer tentativa de fragmentação do corpo. Para tanto, é 
necessário compreender as características, mudanças e desenvolvimento que 
ocorrem no corpo na ótica do movimento, conjuntamente com as questões que 
rodeiam o intelecto, num cruzamento de informações que proporcione a 
compreensão de sua multiplicidade. 
 Ao visitar o contexto histórico que envolve questões sobre corpo e suas 
relações é possível encontrar um conjunto de significados que foram atribuídos 
a ele e conforme cada época atendia aos pensamentos e necessidades das 
civilizações. Na Grécia Antiga o corpo era referência de estética, era 
amplamente trabalhado para seu aprimoramento e visto como instrumento de 
glorificação. O corpo estava no centro dos interesses do Estado, sendo 
valorizado por sua saúde, condição, capacidade atlética e fertilidade. 
 Contemplar o corpo nu era motivo de prazer, pois representava a saúde 
e harmonia física que eram priorizados pelos gregos. Nessa época o corpo 
agregava valor por sua capacidade performática, saúde e estética, num 
conjunto dual entre corpo e mente rumo à perfeição. O corpo atlético (Figura 1) 
era almejado por todos, e a disseminação por Hipócrates (pai da medicina) dá 
ideia de que os exercícios físicos eram benéficos não só para os músculos e 
sim para a saúde mental, motivando a existência da dualidade entre corpo e 
mente. A figura a seguir relata o corpo atlético de um desportista (lançador de 
disco) da Grécia antiga feita pelo escultor Míron. 
 Figura 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: www.google.com.br 
 
 Nesse contexto, as questões acerca da sexualidade eram direcionadas 
no sentido de que o indivíduo deveria ter controle sobre si, fazendo bom uso de 
seu corpo. Porém, esta regra só se aplicava aos homens livres, excluindo-se os 
escravos e as mulheres. Estas estavam restritas aos domínios de seus pais e 
maridos, aos quais deviam obediência e fidelidade; e ambos (escravos e 
mulheres) não podiam usufruir de permissões como a bigamia, 
homossexualidade e andar com o corpo desnudo pelas ruas e ginásios, o que 
na época era considerado privilégio. Nesse tempo não havia entendimento do 
corpo sob a ótica do pudor, o corpo era objeto de admiração e combate criado 
pelos deuses gregos, e por tudo que representava estava exposto para ser 
admirado. Em contraste ao cenário grego, os romanos não colocavam seus 
corpos à mostra, apesar de ter incorporado as formas de arte gregas. 
 Tendo como ponto de partida o quadro que remonta a ideia 
renascentista de que o homem constrói a si próprio, é possível enxergá-lo 
como foco do pensamento humano medieval, onde o humanismo, ou seja, a 
valorização do homem e da natureza é fortemente retratada nas manifestações 
culturais, na literatura e ciências como um todo, colocando o corpo da Idade 
Média e o corpo do Renascentismo como processo contínuo não divergente, e 
sim contínuo e cheio de diversidade. Porém, é preciso examinar cada período e 
suas características particulares. 
 No desenrolar histórico o corpo ganha novas conotações. Na Idade 
Média as concepções religiosas o colocam em trânsito entre a beleza estética 
e o que é proibido, pecado, impuro. Essa configuração cristã expõe o corpo a 
uma situação de repressão, mas também o coloca em estado de glorificação, 
uma vez que o corpo de Cristo exprime todo o sofrimento demonstrado através 
da dor física, que naquela época era extremamente valorizada. Nesse 
contexto, fica evidente a importância do corpo e da alma como pilares da 
humanidade, porém, separados entre si, com uma predominância da alma em 
relação ao corpo, pois os prazeres não deveriam ser exaltados em detrimento 
do bem estar da alma. 
 E assim se configurava o Cristianismo: o corpo não deveria ser 
confundido com a mente, pois o corpo possuía íntima relação com a fé, 
evidenciando uma clara separação entre corpo e alma. Os prazeres da carne 
eram considerados secundários, sendo sobrepostos pelo bem da alma. O 
sentimento de culpa ganha espaço no domínio corpo/mente e atitudes 
extremas como: o autoflagelo, apedrejamentos, enforcamentos e execuções 
em praça pública eram altamente incentivados sob o olhar da Igreja Católica. 
Nesse período, fica evidente o controle do indivíduo social através de seu 
corpo, pois as práticas religiosas eram um reforço da garantia de salvação, vida 
eterna e amplamente difundidas pelas igrejas. 
 Dando continuidade a viagem histórica que dá conta do infinito mundo, a 
partir das relações construídas com base no corpo, os registros mostram que a 
Era Moderna foi marcada pelas descobertas biológicas em relação ao corpo, 
revelando sua constituição anatômica e fisiológica numa perspectiva que 
valorizava a saúde, já que nesse período algumas patologias como a lepra, 
supostamente causada por exercícios excessivos, dietas inadequadas ou ainda 
pelos ares fétidos de matérias em decomposição, e a peste negra figuravam 
como determinantes dos altos índices de mortalidade na comunidade europeia. 
Esse cenário colocava o corpo em segregação social incentivada pela igreja, 
que pregava que a lepra se contraía através de atos sexuais impuros, a figura 
(2) mostra um leproso tendo sua entrada na cidade barrada por um burguês 
que está no portão principal. 
Figura 2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://www.ricardocosta.com 
 
 No Renascentismo o corpo desnudo ganha destaque nas expressões 
artístico culturais como a pintura, por exemplo. Nesse momento histórico, as 
atividades comerciais burguesas são difundidas e ganham espaço, 
contrastando com a era medieval na qual eram extremamente limitadas, 
originando, dessa forma, o Capitalismo. 
 Na contemporaneidade, numa tentativa de reunir as mais diversas 
concepções sobre o corpo, o estudioso Michel Foucault traçou uma linha entre 
o passado, que se ocupava da preocupação com o corpo bem alimentado, e o 
século XII, onde o foco era a sexualidade e as práticas sexuais em torno do 
corpo. Isto gerou uma necessidade de controle desse corpo diante do contexto 
social, o que ocorreu a partirde regras e códigos muito bem representados 
pelos dogmas religiosos. Portanto, o corpo era visto por Foucault como um 
objeto social controlado sob normas e códigos, porém, com a incrível 
capacidade de se opor ao controle social. 
 O corpo moderno passa a ser motivo de preocupação no panorama 
controlado pelo processo de industrialização, nas necessidades higienistas de 
uma sociedade sã moral e fisicamente. O corpo ganha liberdade em relação 
aos dogmas da igreja e surgem novas teorias a sua volta, levando a crer na 
capacidade de transformação desse corpo enquanto matéria. É na era 
moderna que o individualismo e competitividade ganham espaço e o mundo 
passa a ser explicado sob a ótica do fazer científico, colocando o corpo como 
objeto de lucro. A partir do século XX, com advento de novas tecnologias, o 
corpo passa a ser vislumbrado como produto e comercializado para atender as 
demandas sociais de consumo. Daí surge à valorização extrema da aparência 
e os padrões de beleza ditados pela sociedade e impostos pela mídia, além de 
ser (o consumo) característica marcante do capitalismo. 
 Outro ponto a ser destacado é a relação narcisista na busca incessante 
pela satisfação como o próprio corpo, uma vez que existem padrões pré-
determinados para o alcance de tal satisfação. Essa relação do corpo em 
contato direto com o capitalismo, alimenta a comercialização da beleza física 
colocando em questão as concepções individuais acerca do corpo belo, o que 
leva o indivíduo a entrar em crise, uma vez que a grande maioria procura por 
tratamentos de beleza, o uso de próteses, intervenções na área da biologia 
molecular e engenharia genética, assim como as novas técnicas de cirurgias e 
o uso de recursos químicos que têm feito do corpo objeto de experimentação e 
melhoramento, alimentando a indústria da beleza e performance de forma 
grandiosa. 
 O corpo pós-moderno é o retrato fiel da decomposição, divisão em 
partes altamente definidas e especializadas contrastando com a visão medieval 
de que o corpo era parte de uma composição dual entre o abstrato 
representado pela alma, e o concreto definido pela matéria. Nos tempos 
vigentes o corpo sofre essa múltipla divisão que o fraciona em partes 
anatômicas consideradas potenciais para a comercialização. 
 Atualmente, o corpo é alvo de inúmeros estímulos que vão desde o 
cuidado com a saúde, higiene, práticas de lazer, alimentação saudável, 
exercícios físicos, até cuidados e cirurgias estéticas, dentre outros, colocando 
em questão as atitudes individuais e o comportamento em sociedade. Apesar 
de esses estímulos gerarem um estilo de vida saudável, em alguns casos 
também coloca em evidência o uso do corpo como produto, o narcisismo, as 
contradições das escolhas, a busca pelo poder e afirmação social, uma vez 
que o corpo está para além das relações do indivíduo consigo mesmo. 
 Nesse momento, deixa-se de lado a visão do corpo máquina (de 
Foucault) para se enaltecer o corpo como mercadoria, uma vez que um grande 
volume de símbolos e significados foram construídos em torno das concepções 
do que é o corpo e suas relações. Assim, a sociedade atual é imposta um 
grande volume de restrições com relação ao corpo, que camuflado pelo apelo 
da saúde é bombardeado pelas regras de beleza e estética, fortalecendo 
produtos como métodos de treinamento físico, cosméticos, intervenções 
cirúrgicas, dentre outros. Esse quadro afirma a constante preocupação com o 
corpo na perspectiva do cuidado narcisista. 
 Contudo, há que se atentar para a subjetividade que rodeia o corpo, pois 
nele se encontram os desejos, fantasias, os sentidos, a imaginação, a 
realidade etc. Esse entrelace de sensações é composição de um grande 
enovelamento real e irreal da humanidade ao longo da sua construção 
histórica, que não pode ser preterida e nem tampouco negada. O corpo é 
morada das necessidades vigentes das sociedades a partir de construções 
temporais rebuscadas em épocas diferentes. Portanto, não é passivo de 
conceito findo ou infundado, está em constante movimento e construção. 
 O corpo é espaço de ideias fluentes, experiências, linguagens e 
significados formulados ao longo dos tempos e fortalecidos pelas relações 
sociais no decorrer da história. Não obstante, o corpo é alvo prioritário das 
questões que permeiam a educação em todo o mundo, e mais uma vez 
passivo de controle, ainda que velado. 
 Nesse sentido, pode-se afirmar que a modernidade trouxe consigo um 
discurso baseado na ciência, na civilização, no progresso e racionalidade no 
intuito de promover uma nova instituição, capaz de carregar a responsabilidade 
de instaurar uma nova ordem com base no reconhecimento do Estado, através 
da industrialização, da competição, do fortalecimento e disputa das classes 
sociais etc. Era o início da escolarização de grandes massas, pois nesse 
momento ocorria a substituição da educação doméstica pela educação 
seriada, graduada. Nesse lento processo de escolarização, pelo qual 
passavam todas as civilizações no mundo, era possível identificar dois pilares 
primordiais na tentativa de redimensionar o papel do corpo na escola: um 
através do surgimento das ginásticas, dos trabalhos manuais, da higiene, dos 
exercícios militares etc, e outro ancorado na eugenia com base no 
fortalecimento da raça através de novos hábitos e valores afirmando a escola 
como uma instituição aprimorada da família. 
 É fato que, no percurso histórico aqui apresentado, áreas do 
conhecimento que tinham como foco primordial o corpo, como a Ginástica, por 
exemplo, eram apresentadas como produto científico acabado, findo, se 
opondo ao uso do corpo para fins que não fossem de interesse capitalista 
como o lazer, expressões que retratassem a relação do homem com a 
natureza e até mesmo as expressões de ócio. Nesse contexto, a escola se 
configura como ponto de referência na tentativa de transpor novos desafios 
trazidos pelas necessidades e valores dos tempos modernos, porém, sob a 
ótica do poder e dominação política. 
 Assim surgiu a Educação Física, na perspectiva de responder às 
questões que geravam preocupações como as práticas higienistas, a eugenia 
da raça, os exercícios militares, a escola como extensão dos ensinamentos 
familiares etc. É nesse processo educacional de ressignificação da educação e 
da escola que se constrói novos olhares acerca do conhecimento e práticas 
corporais. 
 Contudo, a escola é guardiã de uma série de instrumentos voltados para 
o controle desse corpo, dando-o significado ideológico sob a perspectiva da 
economia, poder, utilidade, moral e higiene. É na escola que o corpo é 
disciplinado, ainda que de forma velada, para atender as demandas dos grupos 
sociais dominantes, portanto, é possível dizer que o corpo é educado, 
disciplinado, docilizado de forma especialmente sutil. Há relatos na literatura de 
que nas escolas do século XVIII e XIX o corpo era trabalhado de forma rigorosa 
através de regulamentos que controlavam de forma mecânica o movimento, o 
comportamento corporal dos estudantes, a forma como se colocavam no 
espaço e no tempo, deixando aprisionada a espontaneidade nos gestos e 
atitudes. 
 É Indiscutível a tentativa constante de dominação do corpo por vias que 
proporcionem sua domesticação, controle e contenção dentro do âmbito 
escolar ao longo da história. Porém, não se pode negar que a escola possui 
formas singulares de tratar, entender e reconhecer o corpo que perpassam 
gerações e estão focadas nos interesses das civilizações espalhadas pelo 
mundo. As relações geradas no espaço escolar são clarificadas nas mais 
variadas formas de preparar as gerações e, por isso, o processo educacionalsegue o ritmo ditado por cada época, onde os atores sociais determinam as 
marcas de seu tempo. 
 Diante do exposto, é possível afirmar que a educação em si é uma 
forma de incutir no indivíduo saberes, conhecimentos, valores e um conjunto de 
regras que regem a coletividade e dão subsídio individual para as relações 
estabelecidas entre o indivíduo e a sociedade, consigo próprio e com o mundo 
que o cerca ao passo que a escola se afirma como instituição de estímulo da 
práxis pedagógica para a sociedade na qual está imersa, e o corpo, por sua 
vez, é a inter-relação de todos esses parâmetros. 
 É válido ressaltar que as ações educacionais procuram, continuamente, 
dominar o corpo em prol de sua adequação aos costumes, regras e relações 
sociais de domínio político vigente. Para tanto, no meio escolar, os 
instrumentos de controle sociais devem atender ao domínio e regulação de 
certas atitudes corporais por meio de tecnologias e políticas de ajuste social, 
colocando o corpo sob obrigações e limitações. É um esforço que alimenta a 
negação do corpo partindo do meio escolar para as relações em sociedade, 
através de um conjunto de punições ensinado aos estudantes logo no início de 
sua vida escolar. Esses traços de dominação podem ser identificados no 
excesso da mente em relação ao corpo, como estudado anteriormente. 
 Diante desses aspectos, outro ponto a ser refletido é a relação corpo, 
violência e escolarização, entendendo violência não somente a agressão física, 
mas principalmente a intelectual. Como exemplo, podemos apontar o 
compartilhar ou não de espaços dentro da escola por estudantes, professores e 
demais profissionais atuantes no âmbito escolar. Se observarmos há uma 
predominância dos estudantes mais fortes e mais velhos em espaços ditos 
privilegiados dentro da escola, restando aos demais, estudantes considerados 
menos populares ou “fracos”, apenas espaços que não ocupam o interesse dos 
primeiros. 
 Além do exposto, momento como intervalos entre aulas passa a ser 
cenário de dominação explícita na relação entre gêneros no que diz respeito 
aos espaços de manifestação corporal como quadras, pátios, anfiteatros e 
outros, configurando uma dominação dos meninos em detrimento das meninas, 
além de se configurar a clássica separação: meninos de um lado e meninas de 
outro. Esse cenário reflete sobre inúmeras questões como: a provocação dos 
questionamentos, o papel da escola, dos professores e até mesmo os próprios 
estudantes diante de práticas corporais. 
 Não poderíamos deixar de citar os castigos físicos, como ficar em pé e 
de costas ou sentar-se isolado e de costas para a sala de aula, o uso de 
palmatórias e outros, no hall da violência contra o corpo dentro da escola. No 
Brasil, no século XIX, a intenção do alcance de corpos civilizados e de bons 
costumes provocou consideráveis investimentos nesse processo. Os castigos 
provocavam nos estudantes sentimento de culpa e humilhação e sustentavam 
a disciplina e autoridade do professor sobre o estudante, assim como 
fortaleciam a coerção, controle, domínio e disciplina dos corpos no meio 
escolar. 
 Outro ponto importante a ser destacado são os castigos morais que 
andavam lado a lado com os castigos físicos, limitando ainda mais os 
estudantes no espaço escolar. Fica claro que houve um prejuízo, talvez 
irreparável, na aplicação dos castigos, pois eram empregados em prol do 
desenvolvimento da instrução, porém, geravam grande dificuldade de 
aprendizado nos estudantes por se sentirem intelectualmente e moralmente 
atingidos. A modernização da escola trouxe consigo o fim dos castigos como 
ferramenta de formação do indivíduo dentro da escola. Pesquisas realizadas 
por estudiosos apontaram que tal prática era desnecessária e até mesmo 
prejudicial ao estudante. 
 Em meados do século XIX (1926-1935), a construção de modelos 
pedagógicos como Escola Nova e Escola Ativa traziam uma nova visão e 
perspectiva acerca do corpo dentro da escola, apontando o esporte como 
conteúdo escolar e ferramenta cultural de formação. Esse processo colocou a 
escola em transformação, onde a cultura moderna e efetiva deveria ser o foco, 
por meio de comportamentos e condutas que fossem moralmente seguidos 
pela sociedade como exemplo. A intenção era o incentivo de hábitos saudáveis 
através da simbologia trazida pelo esporte ancorada na força, energia e vigor, 
compilando uma série de movimentos que alinhavam o corpo ao progresso. 
 Dessa forma, por volta do final do século XIX, se estreitavam as relações 
do esporte, conteúdo da Educação Física, na perspectiva lúdica com a escola, 
disseminando, desse modo, cada vez mais a prática esportiva como conteúdo 
educativo. Nesse ritmo, o esporte ganhou rapidamente espaço nas escolas, e 
no início do século XX era considerado uma “febre”, por ser demasiadamente 
praticado nos grandes centros do país. 
 Ao colocar-se no universo escolar como dispositivo de formação cultural, 
o esporte passa a ser ferramenta disciplinar para transmitir conhecimento, não 
só científico como também de senso comum; e formular e cativar condutas de 
convivência em sociedade, apresentando-se como uma forma mais branda de 
domínio sobre o corpo, porém não menos eficaz sob o ponto de vista da 
supremacia política e econômica. Ao pensarmos em corpo sob o enfoque da 
educação, é preciso levar em consideração todo o gestual e cuidados 
dedicados a ele nas mais variadas práticas educativas. 
 Não obstante, o corpo permite que o indivíduo seja visto, já que seus 
sentimentos, atitudes e pensamentos estão ligados através de uma teia 
complexa que dá a dimensão da percepção corporal do homem. Através do 
corpo é possível interagir e perceber o que se passa em seu entorno, 
enveredando na multiplicidade do que é possível e impossível no campo real e 
imaginário. Todas as influências sejam elas sociais, culturais, biológicas, 
religiosas ou de poder, são forças que atuam diretamente sobre a estruturação 
e construção cultural do corpo, perpassando gerações. 
 
Práticas corporais ao longo da história 
 
Diante do estudo realizado até o momento acerca dos diversos 
momentos históricos de construção e ressignificação do corpo, é igualmente 
importante compreender de que forma as práticas corporais sofreram 
influência ou o influenciaram. 
 
Práticas Corporais: são manifestações da cultura corporal de determinado 
grupo que carregam significados atribuídos pelas pessoas, e que devem 
contemplar as vivências lúdicas e de organização cultural. 
 
 Os conceitos que circundam o corpo ao longo da história, tais como de 
higiene, beleza, força, ordem etc., possuem grande reflexo sobre as práticas 
corporais, contribuindo para o seu surgimento ou desaparecimento. É bem 
verdade que as formas de cuidado e educação do corpo refletem diretamente 
na maneira pela qual é tratado e ocupa lugar na sociedade. Igualmente e 
importantes são as práticas corporais, que por si só configuram-se como forma 
de mediação entre o corpo e as representações simbólicas sociais vigentes. 
O início do século XIX trouxe consigo modificações nas formas de 
execução dos movimentos que compunham as práticas corporais, 
influenciando assim no objetivo destas e na forma como a educação enxerga o 
corpo, com intuito de criar parâmetros passíveis de medição e comparação. Em 
outras palavras, a intenção da educação era sistematizar os movimentos, os 
exercícios possíveis de serem realizados pelo corpo, sem perder o controle 
sobre este, à luz da ciência. 
 Nesse sentido configuram-se novas formas de controle desse corpo, 
através de regras, códigos e práticas reunidos em torno da busca pelo 
movimento performático, ouseja, o que mais contava era a plasticidade do 
movimento, sua amplitude, a perfeição do gesto. Isso levou a uma 
sistematização dos movimentos e exercícios, aumentando a necessidade de 
compreensão dos efeitos dos mesmos sobre o corpo, dando origem às ciências 
que estudavam o corpo sob o ponto de vista da performance, do rendimento, 
comparando, medindo e criando protocolos possíveis de reprodução em todo o 
mundo. 
 Portanto, a nova visão de corpo se consolidava na necessidade de 
mensurar sua força, velocidade, técnica, capacidades múltiplas e de que forma 
poderia manter regularidade constante. Contudo, Sant’anna (2000) afirma que 
nem sempre as relações estabelecidas entre o corpo e a técnica são 
harmoniosas e funcionais, gerando em alguns momentos conflitos, tensões, 
disputas e diferenças que podem passar despercebidas. 
 Nesse sentido, esclarecer e elucidar as contradições e diferenças em 
prol da relação corporal coletiva tolerante e inclusiva é descontruir a ideia de 
domínio do corpo e suas relações dentro da escola, uma vez que se deve 
enaltecer os processos formativos que busquem a completude do indivíduo nas 
suas relações sociais e individuais, rompendo com esse cenário de domínio do 
corpo. 
Métodos ginásticos europeus 
 Na Antiguidade, as formas de exercitação possuíam diferentes 
características e ganharam diversas finalidades como a educação corporal, 
eficiência fisiológica, terapêutica, estética, moral e militar (DARIDO e RANGEL, 
2005). Nesse contexto, podemos apontar que a Ginástica é considerada uma 
ferramenta importante da Cultura Corporal do Movimento que se construiu 
ao longo dos tempos. 
 A propositura da Ginástica como prática corporal nos remete ao século 
XIX, recorte do tempo no qual foi sistematizada e fomentada em toda a Europa 
e posteriormente em todo o mundo. Esse momento histórico ficou conhecido 
como Movimento Ginástico Europeu que, por conseguinte, originou os 
Métodos Ginásticos, que surgem com intuito de sistematizar as diferentes 
formas de se exercitar, dividindo-se em quatro escolas: Alemã, Sueca, 
Francesa e Inglesa. Esse movimento influenciou a prática de exercícios sob o 
enfoque educativo. 
Escola Alemã 
 Nessa época (século XIX) a Alemanha estava sob constante ameaça de 
guerra e a ginástica surge como uma alternativa de preparação para defender 
a pátria. Havia um forte apelo ao espírito nacionalista em que homens e 
mulheres deveriam ser fortes e saudáveis. 
 Voltada para fins pedagógicos, ou seja, responsável pela educação do 
povo, a Escola de Ginástica Alemã possuía duas vertentes: a Ginástica 
Pedagógica Moderna, também conhecida como a ginástica para jovens, 
disseminada por Johann Christoph Friedrich Guts Muths, e a Ginástica Prática 
Social que estava voltada para o sentimento nacionalista popular, e tinha como 
principal líder, Friedrich Luwig Jahn, que aplicava os exercícios em prol da 
unificação da pátria. Foi ele quem criou as barras paralelas e o cavalo, 
aparelhos inspirados nas guerras da época, utilizados na Ginástica Artística. É 
a partir desse método ginástico que nasce a Ginástica Olímpica que se 
conhece nos dias atuais. 
Jahn, considerado o “Pai da Ginástica”, se destacou por disseminar o 
método entre a população dando um enfoque patriótico ao caráter militarista 
marcante, cuja preocupação era a purificação da raça para o trabalho e 
desenvolvimento da nação, a defesa da pátria nas guerras e a preservação da 
raça através de uma maior preocupação com o corpo feminino, além de 
defender que a ginástica deveria ser para todos. Ele defendia a premissa de 
que o homem deveria ser forte, ou seja, “vive quem pode viver”. 
 A Escola de Ginástica Alemã chegou ao Brasil por volta da segunda 
metade do século XIX através de imigrantes alemães que difundiram o hábito 
de cultivar diferentes práticas corporais no território brasileiro a partir do Estado 
do Rio Grande do Sul. Também era amplamente praticada por soldados da 
Guarda Imperial, em sua maioria alemães que abandonaram o serviço militar 
em seu país e ficaram no Brasil. 
O método alemão, criticado por Rui Barbosa por não ser adequado para 
fins pedagógico e sim apenas militar, foi consagrado como método oficial do 
exército brasileiro a partir de 1860, até 1912, data em que o método francês 
assume o seu lugar. Sobre este método francês, a discussão será mais 
adiante. 
Escola Sueca 
 Voltando a atenção agora para o Método de Ginástica Sueco (início do 
sec. XIX) podemos observar que sua finalidade difere do método anteriormente 
estudado, pois seu caráter militar era frágil, porém deveria gerar indivíduos 
capazes de defender a pátria, dando enfoque principal à missão de 
regeneração da raça através da extirpação dos vícios cultivados pela 
sociedade (alcoolismo). 
Esse método é caracterizado pela valorização da Ginástica no âmbito 
escolar como relevante para a formação cidadã, ideia fomentada por Pehr 
Henrick Ling. A Ginástica era apontada ainda como ferramenta que deveria ser 
utilizada para fins médicos, militares, estéticos e ortopédicos, e era dividida em 
quatro partes: Ginástica Pedagógica ou Educativa, voltada para a saúde e 
desenvolvimento do indivíduo; Ginástica Militar, que mantinha as 
características da ginástica pedagógica, porém com exercícios voltados para 
preparar os indivíduos para as guerras; Ginástica Médica ou Ortopédica, que 
objetivava eliminar os vícios posturais, e a Ginástica Estética, baseada na 
pedagógica voltada para o cultivo do corpo belo e harmonioso. 
Dentre as práticas corporais estavam exercícios livres (sem aparelhos), 
saltos no cavalo, jogos ginásticos, patinação e esgrima. Esses exercícios eram 
associados aos cantos entoados pelos homens que faziam parte do exército. 
Outra prática corporal que surgiu nessa época inspirada na Ginástica Sueca 
foram os exercícios calistênicos ou Calistenia, que corresponde a um conjunto 
de exercícios ginásticos localizados voltados para fins pedagógicos, médicos e 
corretivos, ou seja, tinha preocupação com a saúde física e mental da 
população. 
Escola Francesa 
 Esse método é o que você deve dispensar maior atenção, pois foi o de 
maior importância e influência para a Educação Física no Brasil. 
 Baseada nas ideias de Friedrich Luwig Jahn e Johann Christoph 
Friedrich Guts Muths estava muito além das metas militares e do caráter moral, 
tinha preocupação direta com o desenvolvimento social e formação do homem 
de maneira completa. Dentre os seus principais estudiosos estava Francisco de 
Amóros, que inspirado pelas ideias de Pestalozzi rejeitava o empirismo e 
exaltava a ciência para comprovar a importância dos exercícios para a saúde 
da população. 
O Método Francês, criado por Amóros, constituía-se por exercícios 
educativos, jogos, flexionamentos, exercícios mímicos, saltos, lutas, remos, 
ciclismo, desportos individuais e coletivos, dentre outros. Esse método foi 
introduzido nas escolas brasileiras (1929), servindo de base para a Educação 
Física Brasileira. Contudo, foi duramente criticado pela Associação Brasileira 
de Educação (ABE) que entendia a implantação e obrigatoriedade de um 
sistema estrangeiro de ginástica. Todavia, por ser um método estrangeiro, não 
se enxergava o atendimento das necessidades perante a solução dos 
problemas educacionais existentes, haja vista ter características específicas de 
outra nação. 
Outro método que figurou a Escola Francesa foi o Método Natural de 
Georges Hébert, que era contra as formas de exercícios analíticos, 
denominados ginásticos. A Ginástica Natural defendia o uso dos movimentos 
da espécie humana para o completo desenvolvimento corporal, além de ser útilpara as atribuições da vida moderna como a falta de tempo e espaço 
adequados para a prática de exercícios. Os exercícios deveriam ser 
executados ao ar livre para promover maior adaptação corporal às 
temperaturas, dentre os indicados estavam à marcha, a corrida, o salto, andar 
em quatro apoios, levantar, escalar, arremessar e outros. 
Escola Inglesa 
A Escola Inglesa era voltada para os jogos e esportes guardando 
estreita relação com as transformações socioeconômicas produzidas pela 
Revolução Industrial na Inglaterra, indo na contramão das demais escolas que 
estavam voltadas para o fortalecimento da pátria através da filosofia 
nacionalista e se utilizavam de exercícios calistênicos, sem relação nenhuma 
com o lúdico, voltados apenas para o caráter performático do esporte. Um dos 
principais atores dessa época foi Thomas Arnold que fazia alusão ao esporte 
como ferramenta educacional, valorizando o jogo limpo (“fair play”). 
A Inglaterra foi pioneira ao difundir o esporte para a população industrial 
e urbana do país, e ao difundir o esporte como ferramenta educacional, 
educação através das regras, organização, técnicas, e condutas dos jogos e 
esportes. Os exercícios eram generalizados e dividiam-se em: Exercícios 
naturais e os Jogos, caracterizados pela execução de movimentos simples e 
naturais, e posteriormente pela a execução dos jogos; Exercícios Formativos, 
que visavam à formação e desenvolvimento harmonioso do indivíduo; e 
Desportos Coletivos, que era uma espécie de complemento dos jogos 
vivenciados anteriormente. 
 No Brasil o Método Ginástico Inglês passou a ser adotado nas escolas a 
partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em 1961. Na ocasião 
houve um extenso debate acerca da educação brasileira e ficou determinada a 
obrigatoriedade do ensino da Educação Física para o então ensino primário e 
médio, fortalecendo dessa forma a prática esportiva nas escolas do país. 
Calistenia 
Apontada como precursora de inúmeros estilos de ginástica, a Calistenia 
que significa beleza e força foi inspirada no Método Ginástico Sueco, e 
corresponde a um conjunto de exercícios localizados com fins pedagógicos, 
fisiológicos e corretivos. 
Apesar de ter sido influenciada pela Escola Sueca de Ginástica, traz em 
seu formato um instrumento inovador: a música. Durante a prática dos 
exercícios ginásticos a música ou a marcação feita por tambores deveriam 
estar presentes, no intuito de facilitar a socialização, evitar a monotonia durante 
os treinos, bem como aumentar o entusiasmo na execução dos exercícios. 
Dessa forma, os exercícios assumem uma característica mais lúdica e facilitam 
a implementação de passos de dança e a utilização de implementos como a 
bola, bastão e arco. 
A Calistenia foi se firmando ao longo da história como um tipo de 
atividade corporal voltada para fins estéticos e posturais através de exercícios 
de aprimoramento da força e flexibilidade, aliando o ritmo marcado por palmas, 
contagem, utilização de instrumentos percussivos ou ainda músicas aos 
exercícios. Diante do exposto fica clara a grande contribuição dessa prática 
corporal para a estruturação da Ginástica. 
 
CULTURA CORPORAL 
DO MOVIMENTO E 
CORPOREIDADE 
2 
 
 
CONHECIMENTO 
Compreender a importância da Cultura Corporal do Movimento e para a 
construção da Corporeidade Infantil. 
 
 
HABILIDADES 
Reconhecer as práticas corporais que compõem a Cultura Corporal do 
Movimento, e de que forma a ludicidade pode influenciar na construção da 
Corporeidade infantil. 
 
 
ATITUDES 
Posicionar-se criticamente sobre a Cultura Corporal do Movimento e a 
construção da Corporeidade infantil. 
 
 
 
Cultura e contexto histórico do movimento e 
corporeidade 
 
 A partir dos conceitos trabalhados no primeiro capítulo acerca do corpo e 
das práticas corporais vivenciadas pelo homem durante a história das 
civilizações espalhadas pelo mundo, você agora deve compreender como o 
movimento e as diversas formas de culturas influenciaram e influenciam até 
hoje na Corporeidade infantil e na Cultura Corporal do Movimento. 
 As primeiras civilizações compõem um marco histórico que vem dando 
conta que o movimento humano teve início há pelo menos três ou quatro 
bilhões de anos, quando ainda não havia linguagem falada, o homem ainda era 
bípede e contava com a comunicação não verbal, que engloba todas as 
manifestações comportamentais que não se traduzem em palavras e sim 
através de gestos e expressões faciais, posturas, orientação do corpo na 
relação espaço tempo, dentre outras, no intuito de expressar suas 
necessidades. Ademais, o homem utilizava a capacidade de movimentar-se 
para além da comunicação, pois andar, correr, saltar, lançar, nadar, defender-
se e atacar fazia parte das atividades que lhe conferiam sobrevivência. 
 O homem primitivo era nômade, porém, as primeiras civilizações 
deixaram de lado essas características agrupando-se e fixando morada em 
locais determinados. Para afastar os homens que ainda eram nômades esses 
grupos utilizavam um conjunto de gestos, movimentos que traduziam seus 
sentimentos e davam significado aos anseios coletivos. Tais ações podem ser 
vislumbradas em atividades como o jogo de combate e a dança que traduzia os 
acontecimentos marcantes como casamentos, funerais, colheitas, reverência 
aos deuses etc. Esse cenário revela a intensa utilização do corpo para retratar 
as expectativas e sentimentos de cada povo, podendo ainda ser observado 
através da pintura corporal para as guerrilhas, da caça, comemorações, e da 
expressão corporal coletiva dos sentimentos. 
 O contato direto com a natureza permitia ao homem uma 
experimentação dinâmica de múltiplas atividades como subir em árvores, andar 
sobre terrenos variados, transpor rios e obstáculos naturais, dentre outros. 
Essa relação com o meio ambiente proporcionou uma troca harmônica e 
ritmada de movimentos corporais. Contudo, a evolução racional do homem 
gerou um campo de empatia de seu corpo e suas possíveis ações com o 
mundo que o rodeava, dando maior significado às expressões corporais que 
representavam sentimentos, ou seja, o movimento começa a tornar-se 
importante para dar o tom das relações interpessoais, num processo de 
formalização de gestos. 
 É preciso atentar para o fato de que apesar do progresso da 
comunicação, a evolução do homem e das civilizações espalhadas pelo mundo 
o colocou em posição de distância com a natureza, pois o processo de 
industrialização, o advento das máquinas e tecnologias era, sem dúvida, 
massificador. Esse cenário revela que o homem deixa de realizar inúmeras 
atividades antes imprescindíveis e passa a ser menos sensível à utilização do 
movimento como ferramenta inerente à vida. Portanto, a cultura corporal foi se 
modificando ao longo da história do homem, conforme os movimentos das 
civilizações espalhadas pelo mundo. 
 Antes de enveredarmos pelo tema Cultura Corporal do Movimento e 
Corporeidade se faz necessário conceituar, na intenção de compreender e 
analisar criticamente alguns termos que servirão de subsídio na sustentação da 
importância do assunto abordado. Assim, podemos indagar inicialmente: o que 
é cultura? 
Sob o aspecto antropológico, cultura é a reunião de padrões 
comportamentais, conhecimentos, crenças e hábitos (individuais, sociais e 
religiosos) que permitem a identificação de um grupo social. 
 
 É notório que a conceituação do termo cultura expõe sua característica 
polissêmica, ou seja, possui diferentes significados que juntos a constroem. A 
cultura está intimamente ligada ao desenrolar histórico das sociedades, 
correlacionandoo fazer do homem com a comunidade a qual está inserido. Em 
outras palavras, implica na transformação do contexto natural a partir das 
formas de existência pelas quais os homens se relacionam com outros povos e 
com a natureza. A cultura não pode ser apresentada como um conceito restrito 
em si, pois apresenta a multiplicidade do mundo ao seu redor, colocando-se 
como fenômeno que possui influência da educação, dos movimentos sociais, 
da filosofia, literatura, da ciência, arte, etc. 
 Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam a cultura 
e a educação do físico como dois pilares importantes para a construção do 
conhecimento, sendo a segunda responsável pela compreensão do ser 
humano na perspectiva da produção cultural (BRASIL, 1999). Na visão de 
Daólio (2007) o termo cultura é imprescindível às ciências que estudam a 
educação do físico, uma vez que as manifestações corporais humanas nascem 
na construção cultural diversificada, onde os símbolos e significados possuem 
grupos culturais determinados. É válido pontuar que a conectividade entre 
cultura, corpo e movimento confere ao profissional responsável à missão de 
ressignificação do movimento humano, uma vez que é área do conhecimento 
voltada para a formação integral do indivíduo, destinada não só a exploração 
científica do corpo como também ao estudo do movimento sob diversos 
aspectos: histórico, educacional, fisiológico, político, religioso, etc. 
 Dessa forma, partindo do pressuposto de que as manifestações culturais 
emanam das relações entre povos em uma dinâmica do fazer cultural com a 
natureza que o cerca, é possível afirmar que a cultura corporal só há por existir 
o movimento, e vice versa. Na tentativa de expor o conceito de cultura, pode-se 
afirmar que esta é composta por tudo aquilo que é produzido pela ação 
humana, portanto, é possível concluir que as práticas relacionadas ao 
movimento, seus símbolos e significados, estão além dos aspectos biológicos 
ou físicos e possuem conexão direta com a cultura. 
 Nesse contexto, a compreensão das práticas corporais como resultados 
de diversas práticas coletivas a partir de potencialidades de cada indivíduo, 
permite visualizar seus limites e possibilidades nos tempos atuais numa 
perspectiva de superação da relação puramente funcional com o corpo. Nessa 
direção, apresenta-se o processo de construção e ressignificação pedagógica 
do movimento que se opõe à lógica funcional, entregando às ciências afins o 
desafio de organizar, balizar, discutir e adequar os conteúdos que compõem a 
Cultura Corporal do Movimento. 
Cultura Corporal do Movimento é compreendida como o conjunto de 
fenômenos ou manifestações corporais expressivas traduzidas pela habilidade 
humana em produzir, reconstruir e ressignificar o conhecimento. 
 
 A ampla capacidade de movimento confere ao homem, em primeiro 
plano, sua sobrevivência. Em adição, o movimento possui posição de destaque 
no que concerne à aprendizagem, permitindo o domínio de si e do mundo 
através do conhecimento e de processos cognitivos superiores, abstratos e 
reflexivos, sem desconectar-se das percepções e ações motoras. Isso é 
corporeidade. Sendo assim, a corporeidade não é um ponto finito, acabado, 
concluído nas situações existenciais, mas sim um retrato das mais variadas 
experiências vividas de forma continuada, numa troca que estabelece doação 
do ser para o mundo e deste para o ser. 
 As possibilidades gestuais de sobrevivência construídas ao longo da 
história da humanidade passaram por inúmeras transformações e influências 
que, juntas, deram origem à Cultura Corporal do Movimento (jogos, esportes, 
lutas, dança, ginásticas e outros), que, por sua vez, possui características que 
traduzem a representação corporal lúdica de diversos povos. Essas atividades 
corporais expressam e comunicam com influência da ludicidade, da estética, do 
misticismo e conotação artística, revestidos de subjetividade e objetividade que 
se findam em si próprios ou podem ser consumidos. 
 Essa linguagem, conhecida como cinética, representa as mensagens 
recebidas durante as interações humanas, e se traduz através de movimentos 
considerados universais dentro da cultura corporal, como por exemplo, as 
representações faciais de dor, raiva, medo, fome, alegria, etc. Contudo, esse 
arcabouço gestual é compreendido por seus receptores conforme suas 
experiências sociais construídas e transformadas através dos tempos. 
 Foi à experimentação e interação com a natureza que permitiu ao 
homem transformar diretamente a sua forma de existência natural, o que 
resultou na construção da corporeidade ao longo dos tempos, tornando o 
movimento corporal um universo de possibilidades para além das ações 
mecânicas. Cabe destacar aqui o termo corporeidade que possui um caráter 
dual, uma dimensão física e outra imaterial, diz respeito à qualidade corpórea, 
encarnação ou corpo perceptivo em profunda relação com a subjetividade 
arquitetada pela mente. 
 As inúmeras possibilidades de movimento humano sejam elas 
pragmáticas (voltadas para o trabalho), religiosas (práticas mediativas), lúdicas 
(esportivas ou populares) ou estéticas (artes cênicas e circenses), permitem a 
compreensão do mundo ao redor sob a ótica do movimento. Assim, a 
corporeidade, entendida como unidade tensional da relação corpo-mente, traz 
auxílio na compreensão do movimento na perspectiva do pensar e agir 
educacional. Na visão de Santin (1987) a corporeidade é campo onde o 
homem se faz presente e se distancia dos demais animais, uma vez que todas 
as suas ações, funções e vivências são perceptíveis na corporeidade, ensinada 
e vivenciada na Educação Física. 
Corporeidade se refere à inserção do corpo humano em um mundo 
significativo, implica a relação dialética do corpo consigo mesmo, com outros 
corpos e com objetos do seu mundo. 
 
 Esse conceito de corporeidade nos remete a ideia de que a 
compreensão da linguagem corporal (movimento) deve ser primordialmente 
objeto de estudo das ciências humanas, das relações sociais, das artes, da 
filosofia, dos saberes e fazeres populares aliados à vertente biológica, uma vez 
que o corpo humano é múltiplo. 
 Portanto, todas as formas de vivências corporais no âmbito da Educação 
Física, que vão desde o brincar funcional dos bebês, passando pela exploração 
de movimentos primordiais como andar, saltar, correr, dentre outros, até a 
sistematização de gestos esportivos, atividades lúdicas, vivências terapêuticas, 
etc, seja em sociedade ou individualmente, convergem para um entendimento 
da Cultura Corporal do Movimento como um conjunto de atividades que 
englobam o fazer artístico, cultural, intelectual e filosófico, que compõem a 
linguagem corporal. 
 De forma conotativa, é possível comparar o movimento (linguagem 
corporal) com a fala (linguagem verbal), onde os movimentos isolados 
representam as letras ou palavras soltas sem sentido algum e fora de contexto, 
e os movimentos sequenciados que são como frases completas que 
expressam informações elaboradas do mundo em que se concretizam as 
atitudes. Contudo, na contemporaneidade, a tentativa de ampliar o 
reconhecimento do corpo como ferramenta puramente mecânica do movimento 
para instrumento dotado de corporeidade, expõe também os limites impostos a 
ele através de procedimentos e resultados generalizados que obrigam o corpo 
a seguir um molde pré-determinado, como estudado anteriormente. 
 Mesmo diante dessas limitações, regras e formas diversas de controle 
impostos ao corpo na tentativa de conduzir, prever e restringir o movimento, o 
fato é que a Cultura Corporal do Movimento reúne a construção de gestos 
motores que foramtransformados conforme cada época e não se finda no hoje, 
pois é processo contínuo de experimentação humana, de seus anseios e 
pretensões. Se analisarmos a linguagem corporal na perspectiva da mímica, 
entendida como elaboração de movimentos baseados em conteúdos e formas, 
ficará clara a busca do homem por valores, o que nos remete às formas de 
utilização do corpo em si. 
 Cabe destacar que as mímicas são o retrato do cotidiano e estão 
carregadas de intenções e emoções, que podem ser traduzidas num breve 
movimento mímico, e este pode comunicar muito mais coisas do que frases 
elaboradas. Entretanto, os movimentos podem ser descritos e representados a 
partir da compreensão dessa descrição, o que envolve atenção, 
autoconhecimento e reconhecimento do corpo do outro, capacidade de 
decodificar intenções, dentre outras habilidades. 
 Estudos realizados acerca do que se conhece como Zona da 
Corporeidade aponta o conceito de “atitude” como ponto chave. Essa teoria, 
denominada Análise de Movimento de Laban (LMA), reconhece que os fatores 
como espaço, tempo, fluxo e peso estão presentes em todo e qualquer 
movimento, e que a análise de tais fatores visa tornar perceptíveis as 
mudanças na qualidade da ação em si ou a atitude daquele que se move. 
 Além disso, a análise do ato de mover-se a partir desses fatores não se 
limita apenas aos parâmetros mecânicos regidos por ciências como a 
Biomecânica, por exemplo, uma vez que a (LMA) se baseia na premissa de 
que a atitude é algo interior, que nasce de dentro para fora, dando origem ao 
movimento. Portanto, quando se faz uso da (LMA) para a compreensão do 
movimento decodificado em gestos, posturas, posições, direções, tensões e 
ritmos são possíveis perceber a exteriorização de sentimentos e ideias. 
 Com relação às atitudes proferidas pelo corpo durante ação motora 
(movimento) pode-se dizer que possuem duas formas principais: uma que flui 
do centro do corpo para as extremidades, e outra que nasce na periferia e 
corre em direção ao centro. Essa organização atitudinal pode sofrer alterações 
e ser interpretada como uma desorganização ou desarmonia do movimento em 
si, porém, isto pode estar intimamente relacionado ao momento histórico ao 
qual o executor da ação esteja inserido, pois os conjuntos de atitudes 
executadas durante o movimento se dá conforme os movimentos sociais 
vigentes de cada época. 
 Ao analisarmos a Cultura Corporal do Movimento com base nas 
informações acerca de corporeidade e atitudes corporais, pode-se citar o 
complexo conjunto de ações motoras determinadas pela teia que liga corpo e 
mente durante a prática de uma atividade física proposta durante uma aula de 
recreação no Ensino Infantil, por exemplo. Quando as crianças entram no 
espaço destinado a essa atividade se deparam com uma série de situações 
que determinarão cada movimento, seja ele individual ou coletivo. 
 As intenções de movimento formuladas durante a recepção dos 
estímulos externos, que podem ser desde a verbalização das demais crianças 
à movimentação estratégica dos professores para orientar a turma, levarão o 
indivíduo a produzir movimentos complexos específicos durante a aula como 
rolamentos, saltos e giros variados. Tais movimentos podem exigir de seu 
executor atitudes que exprimam força, equilíbrio (estático e dinâmico), 
agilidade, e por isso, exige de seus praticantes posturas e movimentos 
coordenados em si e com os demais colegas, além de permitirem interpretação 
significativa a partir do contexto ao qual estão inseridos, pois um movimento 
que exige atitude de força pode exprimir competitividade, que muitas vezes não 
é o foco da atividade proposta, exigindo do profissional responsável ajustes 
imediatos. 
 Já quando se observa a prática de danças culturais que representam os 
povos, fica claro que a intenção gestual é totalmente diferente daquela 
observada em um jogo de futebol. Pode exprimir tristeza ou alegria, 
dependendo do momento e situação que se deseja retratar. Alguns povos 
dançam coletivamente, executando movimentos em forma de círculo para 
reverenciar os deuses ou pedir aos céus que mandem abundância, ou chuva 
para as lavouras. Além disso, as danças típicas regionais também podem 
representar as guerrilhas travadas pelos povos na conquista de terras e poder. 
 Outros significados gestuais podem ser identificados durante a prática 
das ginásticas contemporâneas, que possuem como uma de suas 
características o apelo muito forte, por intermédio da mídia, ao corpo belo, 
“perfeito”. Basta observar as formas de relações estabelecidas durante as 
aulas e a maneira com que as pessoas cultivam comportamento narcisista. 
Esse conjunto de gestos e atitudes demonstra a escravidão do corpo na busca 
pela perfeição estética. Portanto, vislumbrar a corporeidade humana é 
considerar as atitudes, relações, significados e utilidades do corpo através do 
movimento, num processo de tradução gestual de tudo aquilo que importa para 
um determinado grupo social conforme seu tempo. 
Corporeidade infantil: brincando com o movimento 
Desde o nascimento o ser humano entra em profunda interação com 
tudo ao seu redor, passando por transformações ao mesmo tempo em que 
também provoca inúmeras mudanças. Esse processo proporciona a formação 
do indivíduo a partir das relações estabelecidas em sociedade, uma vez que o 
corpo recebe múltiplos sentidos e significados ao longo da história da 
humanidade. Atualmente, o contexto histórico está voltado para a valorização 
do corpo sob diversos aspectos, despertando o interesse de estudiosos no que 
diz respeito a sua inserção no âmbito escolar, uma vez que a educação faz 
parte do processo de formação do homem. 
A Educação envolve caminhos de formação do indivíduo que podem ser 
observados na convivência familiar, social, profissional, nas organizações 
governamentais e manifestações culturais. 
 
 Durante a Educação Infantil uma infinidade de informações é recebida, e 
a compreensão do corpo a partir da corporeidade se torna primordial para o 
desenvolvimento das crianças no processo de ensino-aprendizagem. 
Rabinovich (2015) afirma que o corpo é o primeiro instrumento utilizado pela 
criança quando estabelece uma relação com o mundo, pois entre linguagem 
escrita e o mundo concreto existe a expressão corporal que, por sua vez, 
facilita a aquisição de novos conhecimentos e substitui os demais símbolos de 
comunicação. 
 As inúmeras experiências corporais vivenciadas pelas crianças no 
âmbito escolar podem ser identificadas facilmente nas atividades cotidianas, 
tornando possível o aprimoramento de sua corporeidade. Nesse sentido, o 
corpo infantil é elemento chave no que diz respeito ao contato com a realidade 
exterior, pois a criança só é capaz de realizar sínteses e análises, 
representação do mundo a sua volta, e pensamento lógico a partir da vivência 
concreta e prévia da ação corporal. Assim, o movimento é visto como facilitador 
do processo de desenvolvimento cognitivo da criança, interligando-se com seu 
aprimoramento motor e afetivo. 
 A experimentação ampla, seja motora ou afetiva, como o aguçar dos 
sentidos, as reações ou falta delas, as intenções e gestos são ferramentas 
importantes na construção da corporeidade, uma vez que esta deve estar 
voltada para vida, proposta que se alinha com os objetivos da escola no que 
diz respeito à Educação Infantil, onde a criança deve ser estimulada a ponto de 
desenvolver suas capacidades e agir como sujeito que pensa, sente, age, 
interage, se desenvolve, se adapta, se reconhece, reconhece o outro e 
reconhece-se no outro. 
 A Corporeidade infantil é tratada no Coletivo de Autores(1992) no que 
diz respeito à Cultura Corporal do Movimento como ferramenta importante 
na compreensão de como a escola pode desenvolver as atividades corporais 
de forma lúdica e prazerosa, contemplando a expressão corporal como forma 
de comunicação no ato de brincar, através de temas como a dança, as lutas, 
etc. Já o Referencial Curricular Nacional Infantil (RCNEI, 1998) que norteiam as 
instituições que atendem crianças de 0 a 6 anos, indica que a linguagem 
corporal na infância deve ser trabalhada através do contato físico com outras 
crianças, pois dessa forma será capaz de perceber o mundo a sua volta e 
comunicar-se por meio da linguagem corporal. Além disso, temas transversais 
como raça, gênero, classe social dentre outros, podem ser contemplados 
através da desconstrução das mais variadas formas de brincar. 
 Contudo, para muitos profissionais que trabalham nas escolas o papel 
destas está longe de ser um local de disseminação de práticas corporais 
carregadas de emoções e anseios. Em outras palavras, não seria papel da 
escola, na visão restrita desses profissionais, proporcionar o desenvolvimento 
da corporeidade infantil a partir de ferramentas pedagógicas. Na verdade, o 
que ocorre frequentemente é a criação de normas e regras no intuito de 
controlar as manifestações corporais das crianças, como por exemplo, a 
restrição de espaços aos quais as crianças podem ter acesso, a imposição do 
silêncio e movimentos considerados inadequados em sala de aula, a divisão do 
tempo para as atividades, à forma como as crianças são postas em filas, as 
penalidades aplicadas, dentre outros. 
 Igualmente controlador é o conjunto de regras impostas durante os jogos 
e brincadeiras, que muitas vezes impedem a criatividade e visão diferenciada 
da criança diante das situações vividas nesses momentos. Fica claro que há 
uma tentativa constante de controle dos movimentos das crianças através da 
normatização das manifestações corporais, impedindo a construção e 
desenvolvimento da corporeidade. Por outro lado, muito embora haja o controle 
constante do corpo infantil na perspectiva do movimento, há também a 
liberdade experimentada pelas crianças durante as atividades dirigidas e nos 
momentos de intervalo das aulas. É no recreio que as relações se estabelecem 
de forma mais solta, livre de olhares controladores, pois, as crianças são, por 
muitas vezes, impedida em seus movimentos. 
 No entanto, as aulas voltadas para a educação do físico devem 
proporcionar momentos com atividades que priorizem a ludicidade de forma 
orientada. Essas atividades carregam consigo valores educativos que 
interferem diretamente no processo do desenvolvimento motor, 
conscientização corporal e cultural. Tais abordagens pedagógicas ocupam 
lugar de destaque quando comprometidas com a educação psicomotora da 
criança, uma vez que estas dificilmente rejeitam as atividades físicas que 
envolvem o brincar, que é tão valorizado nessa fase da vida. Segundo Le 
Boulch (2007) a educação psicomotora na infância deve facilitar o confronto 
com o meio escolar com a finalidade de oportunizar, por meio do jogo, ajustes 
individuais e coletivos (em relação a outras crianças). 
Desenvolvimento motor diz respeito ao processo contínuo de mudanças 
estruturais que ocorrem em um indivíduo durante a vida provocada pela 
interação entre as exigências da tarefa motora, aspectos biológicos e o meio 
ambiente. 
 
 É necessário observar que o desejo de brincar ocupa grande espaço no 
mundo infantil, pois a cada oportunidade as crianças tendem a transformar uma 
situação escolar corriqueira, como uma aula em si, em brincadeiras 
inimagináveis. O ato de brincar gera um estímulo na criança que a leva a 
experimentar novas situações, que podem estar vinculadas ao seu cotidiano, 
sua cultura e expectativas, proporcionando aquisição do saber. Isso pode ser 
interpretado como um comportamento de resistência aos comandos (controle) 
do professor em sala. Porém, a brincadeira possui significado para a criança, 
colocando na maioria das vezes, outras atividades pedagógicas (ditado ou 
leitura) como secundárias ou comparadas ao “fazer nada”. 
 Estudiosos como Piaget (1976) acreditam que o brincar é uma forma 
inestimável de disponibilizar as possibilidades de movimentação, que podem 
ter variados objetivos, inclusive conteúdos escolares. A experimentação do 
movimento durante a brincadeira oportuniza a criança a percepção da 
linguagem corporal e seus signos facilitando, dessa forma, a sua auto 
formação, uma vez que o movimento é união de toda ação corporal dotada de 
intenção, ou seja, é por meio do movimento dotado de objetividades e 
subjetividades que se desenvolve a corporeidade infantil, e isso permite a 
criança conhecer suas potencialidades, limites e dificuldades reais. 
 As crianças precisam experimentar o movimento de forma diversificada, 
realizar ações que exijam imaginação e criatividade. As brincadeiras devem 
estimulá-las a pular, correr, arrastar-se, transpor objetos, dar rodopios, 
experimentar os apoios e suas trocas, balanceios, bem como movimentos de 
puxar e empurrar, dentre inúmeros outros. Todavia, nos primeiros anos da 
Educação Infantil ocorre uma valorização da mente em detrimento do corpo 
evidenciado pelo seu controle, muitas vezes excessivo. 
 Em oposição, Barbosa (2011) em seus estudos indica que o corpo 
representa para a criança um elo com a realidade. A ação corporal 
experimentada previamente é o que vai proporcionar a ela a oportunidade de 
analisar, sintetizar, representar mentalmente o mundo a sua volta, além de 
torná-la capaz de realizar operações lógicas. A exploração do corpo por meio 
do movimento influencia positivamente no desenvolvimento infantil. 
 Nessa direção, o desenvolvimento do esquema corporal durante a 
infância permitirá à criança o conhecimento adequado de seu corpo, uma vez 
que o esquema corporal é apontado como o ponto de partida para todo 
conhecimento que a criança formula em relação ao mundo ao seu redor, 
facilitando sua orientação no espaço e no tempo. Sobre esse assunto, Oliveira 
(2002) esclarece que a organização do esquema corporal permite à criança o 
conhecimento e consequente domínio de seu corpo, equilibrando a conexão 
existente entre força muscular e coordenação motora durante o movimento. 
 Contudo, ocorre que mesmo nas atividades que envolvem ação motora 
constante como na prática de esportes, essas atividades são disponibilizadas 
para as crianças como se fossem comidas enlatadas, prontas a serem 
servidas. Esse formato exclui a possibilidade de “vivência-ação”, em que a 
criança pode ser ator efetivo na situação e receber as demandas geradas 
naquele determinado momento, tornando-a apenas executora, ser passivo de 
controle e regras ditados, onde seus movimentos são constantemente 
adestrados. 
 É preciso atentar ainda para as mudanças sociais que atingem 
diretamente os bens da Cultura Corporal do Movimento durante a infância 
por meio das relações estabelecidas entre as famílias, a redução dos espaços 
de lazer para as crianças, o tempo exíguo entre pais e filhos destinados à 
brincadeira, e a concepção errônea de que brincar é algo ruim, ou apenas 
infantil ou ainda desperdício de tempo. Outro ponto importante a ser destacado 
é a disponibilização de atividades corporais no âmbito escolar que ampliem as 
situações que oportunizem para as crianças a construção de conceitos por 
meio da exploração do ambiente, dos objetos e variação nos momentos de 
aprendizagem. 
 Nessa direção podemos destacar a utilização de alguns elementos que 
certamente contribuirão para o desenvolvimento das capacidades, habilidades 
e valências corporaisna infância, tais como: conhecimento amplo das diversas 
partes do corpo e sua relação com a mente na construção da corporeidade; 
noção de espaço tempo (perto, longe, alto, baixo, etc), lateralidade (direita 
esquerda); experimentação do andar, correr, saltar, girar, rolar, transportar, 
engatinhar em ritmos variados; desenvolvimento da coordenação motora geral, 
e do equilíbrio estático e dinâmico; e fortalecimento das relações interpessoais 
através de atividades coletivas. 
 É válido ressaltar ainda que, nesse processo de desenvolvimento da 
criança, o ato de brincar deve ser priorizado de acordo com suas 
necessidades, pois cada fase exige das crianças determinadas atitudes e 
soluções, compondo um leque variado de gestos, expressões, mímicas e 
atitudes a serem empregadas conforme os estímulos recebidos e o ambiente 
vivido. Ademais, o ato de brincar pode ser auxílio eficaz no engajamento social, 
no processo de criação, exploração do mundo ao redor, no desenvolver da 
confiança no outro, da capacidade de encontrar soluções para possíveis 
conflitos etc. 
 Vygotsky (1994) aponta que os jogos e brincadeiras infantis 
proporcionam à criança o desenvolvimento da capacidade de resolver conflitos 
conforme as necessidades surgidas durante tais atividades, e, portanto, devem 
ser considerados com seriedade, pois as regras por vezes desconsideradas 
pelas crianças quando em contexto social, passam a ter valor durante as 
brincadeiras e jogos. 
O jogo no desenvolvimento infantil 
 A dimensão lúdica é essencial ao desenvolvimento humano, uma vez 
que as atividades nessa perspectiva são observadas como primeiro plano na 
vida de uma criança quando ela não está realizando tarefas que lhe conferem 
sobrevivência. O brincar leva à criança a se deparar com situações que 
colocam em confronto suas categorias físicas e fantasiosas, bem como os 
objetos envolvidos nesse processo, o que torna o jogo uma atividade muito 
prazerosa, pois jogar significa reproduzir situações cotidianas com base em 
regras pré-estabelecidas. 
 O jogo proporciona uma assimilação a partir da reprodução e 
funcionalidade importantes para o desenvolvimento do indivíduo (PIAGET, 
1975). Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo a utilização do jogo 
como ferramenta de aprendizagem visa contribuir para que a criança possa 
formular conhecimento e desenvolver e aprimorar suas habilidades e 
competências. De acordo com o autor, existem três tipos de jogo e estão 
associados diretamente com a fase de desenvolvimento da criança: jogo de 
exercício, jogo simbólico e jogo com regras. Em um primeiro momento pode 
ser confundido com as atividades sensório-motoras das crianças, porém 
quando ações típicas de jogo se interiorizam, há também uma assimilação. 
 O jogo de exercício tem início no período pré-verbal e se estende até o 
final do desenvolvimento da criança, é entendido como atividade lúdica, 
representativo das ações infantis e do desenvolvimento da linguagem. Os jogos 
de exercício proporcionam a repetição de uma dada sequência motora que 
dará origem a um hábito. De acordo com Piaget (1975) essa categoria de jogo 
se constitui na principal forma de aprendizagem da criança no primeiro ano de 
vida, compondo uma base imprescindível para operações mentais futuras, 
contribuindo ainda para a aquisição de conhecimento na escola, que pode se 
dá por meio da repetição que, por sua vez, diminui significativamente com a 
aquisição da linguagem, muito embora permaneça por toda a vida. 
 A partir do momento em que a criança consegue imaginar, ela deixa de 
utilizar os jogos de exercício e passa a valer-se dos jogos simbólicos, que 
estão ligados à ficção e imaginação, características não observáveis nos jogos 
de exercício. O Jogo simbólico é observado a partir do momento em que a 
criança entra no estágio pré-operatório (a partir de 2 anos de idade), 
possibilitando a representação deformada dos conteúdos de sua vida, ou seja, 
a criança passa a ter a capacidade de alterar a realidade conforme suas 
necessidades, podendo representar e recriar situações. Em outros termos, é o 
jogo do faz de conta, no qual a principal estrutura é o símbolo. 
 A partir dos setes anos de idade o simbolismo diminui dando lugar ao 
jogo de regras. Este jogo se refere ao equilíbrio entre o eu e a vida social, ou 
seja, surge da necessidade de convivência social, onde as regras são definidas 
coletivamente para atender as necessidades do grupo em interação. Piaget 
(1975) afirma que são jogos de combinações sensório-motoras (jogo de bola 
de gude) ou de origem intelectual (jogos de tabuleiro: xadrez, dama) que 
incitam a competição e são reguladas por um conjunto de códigos e regras 
tradicionais ou pré-acordadas no instante do jogo. 
 O Jogo provoca na criança diversas inquietações, e ao passo que estas 
são solucionadas contribuem de forma essencial para a formação de 
construtos cognitivos mais complexos, onde as crianças são exigidas e levadas 
a pensar, criar e agir de forma estratégica para resolver problemas. Em outras 
palavras, o jogo permite à criança pensar, agir, interagir, compreender, 
inventar, descobrir, construir e desconstruir conexões entre símbolos e seus 
significados, ou seja, entre objetos e situações do meio ambiente. Portanto, o 
jogo na infância é de suma importância, pois permitem que as crianças façam 
interpretações afetivas, intelectuais e interpessoais do mundo ao seu redor. 
 
MOVIMENTO E 
APRENDIZAGEM NA 
INFÂNCIA 
3 
CONHECIMENTO 
Compreender de que forma o Movimento influencia no processo de 
Aprendizagem infantil e Desenvolvimento Cognitivo. 
 
 
HABILIDADES 
Reconhecer as fases do Desenvolvimento Motor e os Padrões Fundamentais 
do Movimento na infância. 
 
 
ATITUDES 
Desenvolver uma postura crítica em relação ao desenvolvimento motor e os 
padrões fundamentais do movimento na infância. 
 
 
 
 
O processo de aprendizagem motora durante a infância 
 Nesta unidade de estudo você terá a oportunidade de compreender 
como se dá a relação do processo de aprendizagem através do movimento, 
dando suporte aos estudantes de Pedagogia e Educação Física no que se 
refere ao desenvolvimento motor da criança e a importância do movimento 
como ferramenta pedagógica. 
 Embora o indivíduo possua a capacidade de se comunicar oralmente, 
muitas vezes a linguagem corporal é utilizada em primeiro plano para receber e 
transmitir informações, nesse sentido, Wallon (1979) indica que “o ato mental 
se desenvolve no ato motor”, ou seja, pode-se afirmar que praticar o 
movimento é muito importante no processo de aprendizagem, uma vez que 
está intimamente ligada à capacidade do indivíduo em executar uma ação 
motora que pode ser modificada. 
Aprendizagem é uma mudança definitiva de comportamento, resultante da 
interação do indivíduo com o meio, traduzida pela aquisição de novas 
estratégias de resolução. 
 
Movimento é compreendido como as mudanças físicas, psicológicas e 
fisiológicas ocorridas durante a comunidade neural entre o sistema nervoso 
central e periférico, através de respostas simples ou complexas cheias de 
intencionalidade que geram ação motora. 
 
 As mudanças no movimento ocorrem em consequência da prática 
sistematizada e regular do mesmo, sendo perceptível tanto na qualidade de 
execução como na quantidade de repetição que, por sua vez, refletirão 
diretamente na complexidade e intencionalidade do movimento. 
 
 
 
 Levando-se em consideração os diversos momentos históricos que 
permeiam a Educação Física no Brasil, os quais atendiam às demandas do 
militarismo, do modelo tecnicista, do esportivismo, da ciência,

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