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579314110-Escatologia-6

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EA
D
6
Entre a História e a 
Escatologia: A 
Esperança
1. OBJETIVOS
•	 Identificar	a	esperança	esperante	como	uma	atitude	his-
tórico-escatológica.
•	 Analisar	a	história	como	lugar	e	empenho	do	cristão	dian-
te	das	questões	escatológicas.
•	 Compreender	o	porquê,	apesar	de	tudo,	de	sabermos	tão	
pouco	sobre	o	futuro.
•	 Interpretar	a	Escatologia	como	um	processo	de	esperança	
entre	a	história	e	a	eternidade.
2. CONTEÚDOS
•	 O	desígnio	divino	da	salvação,	pressuposto	da	Escatolo-
gia.
•	 A	esperança	escatológica	que	molda	a	história.
•	 A	história	em	que	acontece	a	esperança	escatológica.
© Escatologia128
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
•	 A	 imanência	e	a	 transcendência	como	Escatologia	 reali-
zada.
•	 "A	douta	ignorância	do	futuro".
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Faça	anotações	de	todas	as	suas	dúvidas	e	tente	solucio-
ná-las	por	meio	do	nosso	sistema	de	 interatividade	ou	
diretamente	com	o	seu	tutor.	
2)	 Recomendamos	 a	 leitura	 por	 várias	 vezes	 dos	 textos	
deste	material	para	fixar	seus	conteúdos.	Para	 isso,	re-
comendamos	realizar	pequenos	apontamos	com	a	finali-
dade	de	comparar	e	aprofundar	pontos	de	destaque	uti-
lizando-se	das	fontes	aqui	elencadas	e	que	já	indicamos	
como	indispensáveis	para	o	estudo	deste	tema.
3)	 Escreva	um	texto	sobre	como	você	compreende	a	espe-
rança	cristã,	para,	ao	final	desta	unidade,	você	compará-
-lo	com	as	novas	ideias	apresentadas.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O	 ser	 humano	 é	 alguém	 sempre	 aberto	 à	 esperança.	Nin-
guém	pode	negar	esse	princípio,	mesmo	que	não	o	atribua	como	
dom	de	Deus.	Na	verdade,	porém,	o	ser	humano	é	movido	sempre	
pela	esperança,	e,	 inclusive,	a	grande	esperança	que	transcende	
a	história.	Os	cristãos	creem	que	Deus	move	o	coração	humano	
para	si,	como	um	ímã	que	atrai	e	que	lhes	dá	sentido	de	vida.	A	es-
perança	fundamental,	na	verdade,	transcende	a	história,	mas	não	
existe	senão	nela.	Aqui	se	abrem	três	realidades	importantes	para	
a	Escatologia:
1)	 a	história	em	que	acontece	a	esperança;
2)	 a	esperança	que	molda	a	história;
129© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
3)	 a	 esperança	 histórica	 consumada	 como	 definitividade	
escatológica.
Porque	crê	em	Deus	e	em	sua	promessa,	o	ser	humano	é	um	
ser	de	esperança.	Ele	espera	o	cumprimento	 radical	da	promes-
sa	divina,	que	é	a	salvação.	O	processo	da	revelação	(distinto	do	
projeto	da	salvação)	 foi	objeto	de	seu	estudo	no	 início	do	curso	
de	Teologia.	Lá	se	discursou	sobre	como	Deus	foi	salvando	o	povo	
bíblico.
5. O DESÍGNIO DIVINO DA SALVAÇÃO, PRESSUPOS-
TO DA ESCATOLOGIA
Em	vista	do	aspecto	escatológico,	você	deverá	aprofundar,	
inicialmente,	 nesta	 unidade,	 algumas	 questões	 sobre	 o	 próprio	
projeto	de	salvação	divino,	para	enquadrar	de	modo	correto	a	Es-
catologia.
1)	 A	Santíssima	Trindade	é	feliz	em	si	mesma,	sem	precisar	
de	nada	nem	de	ninguém.	O	Filho	eterno	glorifica	o	Pai	
e	por	ele	é	glorificado	pela	intermediação	do	Espírito	de	
quem	procede.	Contudo,	Deus,	por	pura	gratuidade	e	a	
fim	de	repartir	seus	benefícios,	estabeleceu um plano:	
tudo	quanto	haveria	de	ser	criado	deveria	participar	da	
glória	divina.	Assim, o Universo cósmico e, em especial, 
o ser humano, existiriam para participar da glória de 
Deus.
2)	 Por	meio	de	suas	duas	mãos,	o	Filho	e	o	Espírito,	Deus	
acompanharia	o	criado	em	vista	de	seu	fim	último	(fim	
Escatológico).	Todavia,	Deus	criou	todas	as	coisas	como	
realidades	visíveis	e	 invisíveis.	Os	 seres	visíveis	 (o	Uni-
verso	e	os	seres	humanos),	no	plano	de	Deus,	têm	uma 
história em dois estágios ou tempos: a vida a caminho 
e a vida na pátria definitiva.	O	objetivo,	no	primeiro	es-
tágio,	consiste	em	um	progressivo	acostumar-se	a	viver	
com	Deus	convivendo	com	os	irmãos.	O	segundo	e	de-
finitivo	momento	 consiste	na	 vida	 salva	em	plenitude,	
com	os	irmãos,	em	Deus.
© Escatologia130
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3)	 O	projeto	do	Pai	foi	entregue	ao	Filho	antes	da	criação.	
Ele	 é,	 desde	o	 início,	 o	único	 salvador.	Assim,	é	o	que	
cuidará	da	realização	do	plano	paterno	e	o	apresentará	
consumado	ao	Pai	no	fim	da	história.	A	missão,	contribui-
ção	do	Espírito,	é	fazer	crescer,	progressivamente,	esse	
projeto,	desde	a	história	até	a	plenitude.	Aí	o	Universo	
estará	consumado,	redimido	e	salvo	(cf.	Rm	8,18-21)	e	o	
ser	humano	estará	capacitado	para	viver	em	Deus	com	
sua	glória.
4)	 A	vida	feliz	(eterna)	é	a	plenitude	realizada	desse	plano	
de	vida	em	Deus.	Entretanto,	a	Escatologia	é	construí-
da,	na	história,	com	a	colaboração	do	Filho	e	do	Espírito	
pela	participação	humana.	O	ser	humano	antecipa,	na	
história,	as	possibilidades	escatológicas.	É	por	 isso	que	
os	cristãos	rezam,	ensinados	por	Jesus:	"venha	a	nós	o	
vosso	Reino"	e	"seja	feita	a	vossa	vontade	assim	na	Terra	
como	é	 feito	no	Céu"	ou	 suplicam	 "Maranthá"	 ("vem,	
Senhor	Jesus").	Desse	modo,	os	dois	estágios	ou	tempos	
são	inseparáveis	e	não	podem	senão	viver	unidos	(Histó-
ria	e	Escatologia),	apesar	das	suas	distinções.
5)	 Ainda	é	necessário	recordar:	foi Deus quem veio a nós 
e se revelou a si próprio e ao seu plano de salvação.	A	
culminância	da	 revelação	aconteceu,	escatologicamen-
te,	com	Jesus	ressuscitado,	assistido	pelo	Espírito	Santo.	
Ao	mesmo	tempo,	a	revelação	do	projeto	divino	foi-se	
desdobrando	 em	 significados	 e	 realidades	 crescentes.	
Em	significados	porque	Deus,	que	outrora	 falará	pelos	
profetas,	nos	últimos	tempos,	revelou,	por	seu	próprio	
Filho,	sua	vontade	salvífica,	e	a	realidade	passou	da	re-
velação	do	plano	divino	à	história	do	povo	hebreu,	cuja	
realização	máxima	é	a	encarnação	do	próprio	Filho.
6)	 Ele	é	a	fonte	máxima	da	aliança	de	Deus	conosco.	O	Filho	
feito	um	de	nós	é	um	puro	ato	da	bondade	salvadora	a	
qual	Deus	não	estava	obrigado.	Jesus	é	um	dom	(escato-
lógico)	do	Pai	que	nos	ama.	O	plano	salvífico	passa	por	
Jesus,	pois	nele,	e	por	ele,	é	que	todos	seremos	salvos.	
Ele	é	dom	divino	desde	toda	a	eternidade.	Assim,	desde	
antes	da	criação,	antes	das	religiões,	antes	das	culturas	
131© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
etc.,	 são	estas	que	se	condicionam	àquela;	não	o	con-
trário.
•	 As	 "institucionalizações	 salvíficas"	 (igreja,	 sacramentos,	
religiões	etc.)	são	decorrências	humanas	para	facilitar	os	
caminhos	humanos,	pois	só	Deus	salva,	e	o	faz	por	meio	
de	seu	Filho.	A	vontade	salvífica	estende-se	a	todos.
•	 Se	Deus	criou-nos	sem	nossa	participação,	não	nos	salva-
rá	sem	nossa	contribuição.	Nossa	necessária	colaboração	
só	acontece	na	história,	e	sobre	essa	nossa	história,	incide	
a	salvação	de	Deus.
6. A HISTÓRIA ONDE ACONTECE A ESPERANÇA ESCA-
TOLÓGICA
A	renovação	teológica	do	século	20,	o	avanço	e	a	fundamen-
tação	das	ciências	bíblicas,	a	redescoberta	da	patrística,	o	Vaticano	
II,	além	de	outras	contribuições,	devolveram	à	Escatologia	acenos	
importantes	para	a	retomada	dos	compromissos	cristãos	diante	do	
futuro,	partindo	do	presente.	A	ênfase	dada	pela	Lumen Gentium	
e,	especialmente,	pela	Gaudium et Spes,	propôs	nova	orientação	
(sem	ignorar	a	tradição	contínua)	e	recoloca	os	 fundamentos	da	
questão	escatológica	no	significado	do	Plano	de	Deus,	da	centrali-
dade	de	Cristo	no	processo	salvífico,	não	mais,	exclusivamente,	no	
indivíduo	a	ser	salvo	ou	condenado.	
Desse	modo,	o	Reino	de	Deus	deve	ser	acolhido	e	expandido	
agora,	desde	a	história	e	passando	pela	valorização	do	mundo,	do	
trabalho	 e	 da	 peregrinação	humana	 até	 a	 pátria	 celeste.	 Assim,	
valoriza-se	a	esperança	cristã,	redesenha-se	a	linguagem	apocalíp-
tica	da	Bíblia	e	tudo	passa	a	ser	centrado	em	Cristo,	salvador	e	juiz,	
a	fim	de	a	criação	ser	restaurada,	consumada	e	plenificada.
Afirma	a	LG:
Portanto,	até	que	o	Senhor	venha	em	majestade	e	com	ele	os	anjos	
(cf.	Mt.	25,31)	e,	destruída	a	morte	todas	as	coisas	lhe	são	submeti-
das	(cf.	1Cor	15,26-27).	Alguns	dentre	os	discípulos	peregrinam	na	
© Escatologia132
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
terra.Outros,	terminada	esta	vida,	estão	em	processo	de	purifica-
ção.	Enquanto	outros	são	glorificados	e	contemplam	claramente	o	
próprio	Deus	Trino	e	uno,	assim	como	é	(LG	49).
A	GS	apresenta	dimensões	novas,	incluindo	o	valor	escatoló-
gico	da	atividade	humana	no	mundo,	a	transitoriedade	do	mundo	
com	seu	valor,	a	diferenciação	entre	o	processo	humano	e	o	Reino	
de	Deus	e	a	centralidade	de	Jesus	Cristo.
Ignoramos	o	tempo	da	consumação	da	terra	e	da	humanidade	e	
desconhecemos	 a	maneira	 da	 transformação	do	Universo.	 Passa	
certamente	 a	 figura	 deste	mundo	 deformado	 pelo	 pecado,	mas	
aprendemos	 que	Deus	 prepara	morada	 nova	 e	 nova	 Terra.	Nela	
habita	 a	 justiça	e	 sua	 felicidade	 irá	 satisfazer	e	 superar	 todos	os	
desejos	da	paz	que	sobem	nos	corações	dos	homens.	Então,	ven-
cida	a	morte,	os	filhos	de	Deus	ressuscitarão	em	Cristo,	e	o	que	foi	
semeado	na	fraqueza	e	na	corrupção	revestir-se-á	de	incorrupção.	
Permanecerão	o	amor	e	sua	obra	será	libertada	da	servidão	da	vai-
dade	toda	aquela	criação	que	Deus	fez	para	o	homem.
Somos	advertidos,	com	efeito,	de	que	não	adianta	ao	homem	ga-
nhar	o	mundo	inteiro	se	vier	a	perder	a	si	mesmo.	Contudo	a	espe-
rança	de	uma	nova	Terra,	longe	de	atenuar,	antes	deve	impulsionar	
a	solicitude	pelo	aperfeiçoamento	desta	terra.	Nela	cresce	o	Corpo	
da	nova	família	humana	que	já	pode	apresentar	algum	esboço	do	
novo	século.	Por	isso,	ainda	que	o	progresso	terreno	deva	ser	cui-
dadosamente	distinguido	do	aumento	do	Reino	de	Cristo,	contudo	
é	de	grande	 interesse	para	o	Reino	de	Deus,	na	medida	em	que	
pode	contribuir	para	organizar	a	sociedade	humana.
Depois	que	propagarmos	na	Terra,	no	Espírito	do	Senhor	e	por	Sua	
ordem,	os	valores	da	dignidade	humana,	da	comunidade	fraterna	
e	da	liberdade,	todos	estes	bons	frutos	da	natureza	e	do	nosso	tra-
balho,	nós	os	encontraremos	novamente,	limpos,	contudo	de	toda	
impureza,	iluminados	e	transfigurados,	quando	Cristo	entregar	ao	
Pai	o	reino	eterno	e	universal:	reino	de	verdade	e	de	vida,	reino	de	
santidade	e	de	graça,	reino	e	justiça,	de	amor	e	de	paz.	O	Reino	já	
está	presente	em	mistério	aqui	na	terra.	Chegando	o	Senhor,	ele	se	
consumará	(GS	39).
Do	 valor	 escatológico	 dessas	 realidades	 terrenas,	 porém,	
não	se	pode	concluir	que	o	progresso	 técnico-científico	se	 iden-
tifica	com	a	construção	da	plenitude	escatológica.	Os	critérios	de	
Deus	(kairológicos)	não	se	confundem	com	os	da	história	e	os	dos	
homens	(cronologia).	A	evolução	e	o	aperfeiçoamento	da	nature-
za,	incluindo	o	homem	em	sua	dimensão	biológica	e	social	e	o	pro-
133© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
gresso,	não	coincidem,	naturalmente,	com	as	questões	do	Reino.	
É	 inegável	 a	 importância	do	processo	humano,	mas	ele	não	é	o	
constitutivo	do	Reino	de	Deus.	Assim,	os	 cristãos	 sabem	que	as	
conquistas	escatológicas	(desenvolvimento)	são	ações	do	Filho	e	
do	Espírito	que,	trabalhando	conjuntamente	no	projeto	de	salva-
ção	do	Pai,	preparam	os	homens	e	o	Universo	para	ver	a	Deus	e	
viver	nele.
É	certo	que	a	história	e	o	contexto	histórico	de	cada	um	não	
são	ignoradas	na	vida	em	Deus.	Nenhum	ser	humano	perderá	sua	
identidade	na	vida	eterna.	Antes,	ele	estará	pervadido	por	 tudo	
quanto	Deus	preparou	para	os	que	amam	(cf.	1	Cor	2,9).
Portanto, pode-se	dizer	que	toda	a	história	humana	é	per-
passada	pela	história	cósmica	também	e	manterá	sua	peculiarida-
de.	Ela	será	elevada,	plenificada	junto	a	Deus,	no	final	dos	tempos,	
sem	perder	sua	identidade	mais	profunda,	que	só	será	conhecida	
em	Deus	mesmo.
A	história	é,	então,	o	lugar	privilegiado	das	relações	de	Deus	
com	os	homens.	É	na	construção	da	história	que	os	homens	res-
pondem	à	salvação	que	vem	de	Deus.	A	história	do	povo	hebreu,	
no	AT,	de	Jesus	e	dos	primeiros	cristãos,	no	NT,	são	paradigmáticas	
para	nós.	Olhamos	para	elas	e	para	o	futuro	e	caminhamos	cons-
truindo	nosso	cotidiano,	aperfeiçoando	nossos	modos	de	viver,	de	
sentir,	de	amar	e	de	cultivar	o	Universo	e	amando	a	Deus	e	aos	
irmãos.
A	história	é	o	único	espaço	que	a	humanidade	tem	como	re-
alidade	e	como	preparação	para	o	futuro	escatológico.	Como	ima-
gem	de	Deus,	os	seres	humanos	ensaiam	a	construção	do	mundo	
terreno	para	ser	pátria	de	irmãos,	mesmo	sem	mais	necessidade	
de	justificar	que	a	pátria	terrena	é	sempre	provisória.	Eles	sabem	
que	só	a	cidade	de	Deus	é	definitiva.
A	cidade	terrena,	porém,	não	é	nem	autossuficiente	nem	é	
autônoma	(apesar	de	parecer).	Todavia,	ela	também	não	se	con-
funde	com	a	pátria	futura,	o	que	não	significa	distanciamento	ra-
© Escatologia134
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
dical	entre	as	duas.	Jesus,	usando	a	linguagem	de	Reino	de	Deus,	
mostrou-a	já	em	processo	entre	nós.	Ensinou	aos	homens	a	espe-
rá-la	e	a	desejá-la.	Indicou	critérios	para	isso,	mesmo	apontando	
sua	decisiva	realização	para	todos	no	futuro	definitivo	enquanto,	
individualmente,	cada	um	a	vai	atingindo	à	medida	que	termina	
seus	dias	na	história	terrena.	Os	cristãos,	ao	unirem	as	realidades	
da	pátria	 terrestre	e	da	pátria	celeste,	criam	 inúmeras	situações	
que	os	fazem	refletir	e	aprofundar	a	própria	fé	por	meio	da	teolo-
gia,	mais	diretamente	das	questões	escatológicas.
Na	unidade	anterior,	já	antecipamos	algumas	reflexões	par-
tindo	 do	 Reinado	 de	 Deus,	 ainda	 não	 totalmente	 presente	 do	
Aquém,	mas	de	sua	definitividade	no	Além,	não	de	sua	concretude	
histórica,	mas	de	completude	escatológica,	não	de	uma	realidade	
política,	mas	de	uma	transcendência	divina,	de	promessa,	mas	não	
ainda	de	cumprimento	etc.
A	esperança	escatológica,	porém,	prevê	um	 final?	Quando	
será	o	fim	da	história?	Estas	e	outras	perguntas	sempre	preocupa-
ram	os	que	creem,	e	as	respostas	são	bem	diversificadas.	Elenque-
mos,	especialmente,	as	de	cunho	teológico	mais	consistente.
1)	 Milenarismo ou quiliasmo:	 por	 influências	 bíblicas,	
muitos	cristãos	querem	ver	sinais	apocalípticos,	como	a	
destruição	e	a	aniquilação	de	tudo	como	a	aproximação	
do	fim	dos	tempos.	Para	eles,	a	base	bíblica	maior	é	o	
capítulo	20	do	Apocalipse,	no	qual	aparecem,	também,	
os	 mártires	 ressuscitados	 que	 reinaram	 por	 mil	 anos.	
Daqui,	 surge,	 na	 Teologia,	 a	 ideia	 de	 milenarismo	 ou	
quiliasmo,	palavras,	de	origem	latina	e	grega,	que	têm	
o	mesmo	significado.	Assim,	alguns,	em	um	sentido	es-
trito,	afirmam	o	reino	de	Cristo	e	dos	Santos	durante	mil	
anos,	quando	após	a	vitória	derradeira	de	Cristo	contra	o	
mal	se	manifestará	a	salvação	definitiva.	Outros,	em	sen-
tido	mais	amplo,	entendem	o	milenarismo	ou	quiliasmo	
como	a	expectativa	de	uma	história	terrena	culminando	
em	salvação	antes	da	destruição	do	mundo.
135© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
•	 Na	história	da	Igreja,	esses	movimentos	messiânicos	
ou	quiliásticos	foram	frequentes	até	a	virada	constan-
tiniana,	especialmente	por	causa	das	opressões	e	fal-
tas	de	liberdade	da	Igreja.
•	 Tais	 ideias	 tomam	 forma	histórica	em	muitos	movi-
mentos	 sociais,	 cujos	 exemplos	 podemos	 encontrar	
no	Contestado	(no	início	do	século	20,	em	que	foram	
mortos	mais	de	20.000	agricultores	em	Santa	Cata-
rina);	em	Juazeiro,	Ceará,	com	Padre	Cícero;	em	Ca-
nudos,	 Bahia,	 com	 Antônio	 Conselheiro	 etc.	 Ainda	
tipificam	essa	questão	o	Sebastianismo,	a	"Terra	sem	
males"	dos	índios	guaranis,	as	Cruzadas	etc.
Sobre esses movimentos nacionais, você pode ver: FAUSTO, B. O 
Brasil republicano e sociedades e instituições (1889-1930). Vol. 2. 
São Paulo: Difel, 1985; MONTEIRO, D. Os errantes do novo sécu-
lo: um estudo sobre o surto milenarista do contestado. São Paulo: 
Duas Cidades, 1974; QUEIROZ, M. I. P. O messianismo no Brasil 
e no mundo. São Paulo: Alfa-Ômega, 1977.
2)	 As duas cidades:	 Santo	 Agostinho	 preferiu	 compreen-
der	a	questão	escatológica	não	ligada	ao	tempo,	mas	à	
questão	das	"duas	cidades".	O	mal	(Satanás)	começou	a	
ser	vencido	por	Cristo,	cuja	 luta	continua	no	presente,	
mas	será	vitoriosa	de	modo	radical	pela	implantação	do	
Reino	de	Cristo,	por	meio	da	conversão	pessoal.	O	novo	
milênio	 (de	Cristo)	é	vivido	na	história.Especialmente,	
no	Livro XX,	da	Cidade	de	Deus,	Agostinho	insiste	que	a	
Cidade	de	Deus	já	está	sendo	experimentada	por	aque-
les	que	aderem	a	Cristo,	como	uma	espécie	de	trigo	no	
meio	do	joio.
3)	 Os diferentes Reinos de Deus:	séculos	mais	tarde,	Joa-
quim	de	Fiores	 (1202)	desenvolve	a	 ideia	dos	 três	Rei-
nos:	o	do	Pai	(AT),	o	de	Cristo	(NT)	e	o	do	Espírito	(nosso	
tempo	 de	 Igreja).	 Nesse	 último,	 uma	 Igreja	 espiritual,	
constituída	de	homens	espirituais	 (guiados	pelo	Espíri-
to),	a	chegada	do	Reino	de	Deus	definitivamente.
© Escatologia136
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
4)	 Os bons tempos da vida da Igreja:	vários	teólogos	e	clé-
rigos,	com	certa	frequência,	intentam	indicar	a	chegada	
do	Reino	de	Deus	na	Terra	nas	experiências	de	saídas	de	
períodos	de	opressão	eclesiástica	para	melhorias	sociais.
5)	 O progressivo crescimento em Cristo:	 o	 Concílio	 Vati-
cano	II,	 inclusive	influenciado	por	ideias	de	Teilhard	de	
Chardin	 (+1958),	 tem	 apontado	 para	 o	 grande	 cresci-
mento	humano	rumo	a	Cristo.	A	Igreja,	como	já	se	afir-
mou	anteriormente,	não	confunde	o	progresso	e	o	de-
senvolvimento	técnico-científico	como	apresamento	do	
Reino	escatológico,	mas	não	se	recusa	a	crer	que	a	hu-
manidade	caminha,	progressivamente,	para	o	encontro	
com	Cristo,	que	a	purifica	por	seu	mistério	pascal.
6)	 Da libertação histórica à definitividade escatológica:	
diversos	teólogos	da	segunda	metade	do	século	20	reto-
maram	essas	questões.	Foi	daí	que	surgiram	importantes	
teologias,	como	a	da	esperança	(J.	Moltmam),	da	políti-
ca	(J.	B.	Metz),	e,	especialmente,	a	Teologia	da	Liberta-
ção,	que	visou	à	questão	da	presença	do	Reino	de	Deus	
partindo	da	ideia	bíblica	sobre	a	libertação	dos	pobres	e	
a	ênfase	na	recuperação	da	dignidade	deles.	Todas	essas	
teologias	descentralizam	a	Escatologia	fechada	e	indivi-
dualizante	de	teologias	anteriores	e,	ao	mesmo	tempo,	
repropõem	ideias	bíblicas	que,	passando	pelo	pão	nosso	
de	cada	dia,	indicam	a	direção	de	Deus	na	eternidade.	A	
crítica	que	eles	fazem	a	uma	Escatologia	pré-moderna	e	
individualizante	aponta	as	 raízes	veterotestamentárias;	
é	a	indissociável	realidade	do	Reino	de	Deus	(cf.	unidade	
anterior).
Enquanto	o	Magistério	 (papas	e	Vaticano	 II)	enfatiza	as	di-
mensões	escatológicas	da	Igreja	e	seus	sacramentos,	muitos	teólo-
gos	põem	a	ênfase	na	tradição	bíblica	do	começo	escatológico	nas	
realidades	cotidianas	dos	homens	e	mulheres	da	história.
As	duas	perspectivas	que	não	se	opõe	formam	o	grande	mo-
saico	de	esperança	perante	os	olhos	que	nem	viram	e	que	ouvido	
nenhum	ouviu,	mas	é	certo	que	Deus	preparou	para	os	seus	(cf.	
1Cor	2,9).
137© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
7. A ESPERANÇA ESCATOLÓGICA, A QUE MOLDA A 
HISTÓRIA
Você	deve	ter	sempre	presente	que	os	primeiros	cristãos,	em	
seu	cotidiano	e	seu	trabalho,	esperaram	a	volta	de	Jesus	(segunda	
vinda,	em	poder	e	glória	–	Parúsia)	para	logo	depois	da	morte	dele.	
Assim,	São	Paulo,	em	suas	primeiras	cartas,	lembra	que	"o	tempo	
tornou-se	breve"	(1	Cor	7,	29),	que	"a	aparência	deste	mundo	é	
passageira"	(1Cor	7,	31),	que	o	quanto	antes	chegará	ao	final	do	
mundo	com	o	retorno	de	Cristo.	A	Primeira	Carta	aos	Coríntios	é	
perpassada	pela	espera	da	 iminente	Parúsia	 (veja-se	15,	51-53):	
se	Cristo	voltará	em	breve,	"ao	som	da	última	trombeta",	de	que	
serve	se	casar	e	colocar	filhos	no	mundo?
Em	uma	etapa	posterior,	São	Paulo	instou	aos	cristãos	a	vive-
rem	vigilantes,	pois	não	se	sabe	quando	virá	o	Senhor.	Ele,	com	a	
linguagem	própria,	estimula	os	cristãos	não	só	a	viverem	na	expec-
tativa	da	Parúsia,	mas	a	agir	com	esperança	e	vigilância	ocupados	
nas	questões	éticas,	políticas	e	religiosas	de	seu	próprio	tempo.
Em	um	terceiro	momento,	vendo	a	falha	do	retorno	de	Cristo	
ao	som	da	última	trombeta,	São	Paulo	foi	moderando	seu	discurso	
nas	cartas	deuteropaulinas,	particularmente	a	Carta aos Efésios, dis-
tanciando a questão do fim e propondo o compromisso com a história.
A	esperança	e	a	vigilância	são	as	virtudes	escatológicas	intra-
-históricas	próprias	dos	cristãos,	que	esperam,	atentamente,	esses	
tempos	de	 realização	definitiva,	 só	 conhecida	por	Deus.	 É	 certo	
que	alguns	grupos	cristãos	(principalmente	adventistas)	se	mobi-
lizam,	frequentemente,	para	a	chegada	imediata	desse	fim.	Os	ca-
tólicos,	por	princípio,	deveriam	ter	consciência	dessa	completude	
dos	tempos.	Mas,	ao	mesmo	tempo,	devem	viver	sem	se	preocu-
parem	com	datas,	apesar	de	que	alguns	vivem	como	se	toda	a	vida	
se	resumisse	na	história	fechada	sobre	si	mesmo,	fazendo	de	seu	
ventre	o	próprio	Deus,	como	denuncia	São	Paulo	(cf.	Fil	3,19).
© Escatologia138
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A	esperança	 cristã,	 longe	de	 indicar	uma	 situação	passiva,	
quer	afirmar	que,	 ativamente,	o	 ser	humano	é	um	buscador	de	
suas	esperanças.	Ele	busca	suas	realizações.	Quer	dizer,	ao	buscá-
-las,	eles	constroem	também.	A	esperança	tem,	como	ponto	espe-
cífico,	algo	de	futuro,	mas	como	esperança	que	se	espera,	que	se	
constrói,	é	necessário	fazer	alguma	distinção.
É	natural	a	esperança	escatológica	reduzida:
•	 ao	espaço	da	vida	terrena;
•	 mesmo	que	 essa	 também	 tenha	 aspectos	 Escatológico-
-Messiânicos;
•	 outra	é	a	esperança	escatológica	cristã	que,	sem	se	des-
ligar	da	história,	refere-se	ao	futuro	absoluto.	Todas	elas	
olham	para	 futuros	 autênticos;	 porém,	 com	níveis	 dife-
rentes.
A	esperança	imanente	visa	ao	cumprimento	ou	à	realização	
dos	projetos	humanos,	e	muitas	pessoas	se	limitam	a	eles,	apenas.
Essa	esperança	pode	ser	chamada	de	futuro	intra-histórico,	
intramundano	ou	 intraterreno,	mesmo	que	tenha	aparência	reli-
giosa,	como,	por	exemplo:	messianismo	ou	milenarismo	ou	ques-
tões	populares	de	"fim	do	mundo".
Pode-se	dizer	que	tal	esperança	é	uma	questão	de	Escato-
logia	 só	em	sentido	analógico,	 limitado	e	 impróprio.	Na	história	
das	 ideias,	 muitos	 pensadores	 tentaram	 desmistificar	 verdadei-
ras	 questões	 escatológicas,	 especialmente	 de	 vida	 eterna,	 para	
transformá-las	 em	questões	históricas.	 Feuerbach,	 por	 exemplo,	
considerava	a	vida	eterna	como:	"projeção	de	um	desejo";	Marx	a	
qualificava	de	"consolo	para	os	oprimidos";	Nietzche	a	identifica-
va	como	"negação	do	eterno	retorno	do	idêntico";	e,	para	Freud,	
tudo	não	passa	de	"uma	irrealista	regressão	da	pessoa	psiquica-
mente	imatura".
Apesar	disso,	a	esperança	tem	suas	raízes	profundas	no	co-
ração	humano.	Interroga-se	sobre	o	futuro	(imediato	e	remoto)	e	
139© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
alimenta-se	de	esperanças	(circunstanciais	e/ou	escatológicas).	Há	
uma	realidade	antropológica	que	impulsiona	o	ser	humano,	esse	
"animal"	utópico,	a	 interrogar-se	e	a	manter	a	esperança;	é	algo	
existencial	da	pessoa.	É	um	princípio	da	realidade	humana	objeti-
va	que	impulsiona	à	superação	do	quietismo	(autossuficiência)	e	
do	niilismo	(desespero	total,	sem	sentido).	Esperar	(o	que	se	carac-
teriza	por	uma	tensão	dialética	diferente	e	não	por	uma	alienação)	
indica,	a	todo	ser	humano,	sua	provisoriedade	(ainda	não	é	o	que	
deve	ser),	sua	não	perfeição	(sempre	se	almeja	a	felicidade),	sua	
incompletude	(história	não	terminada)	e	sua	busca	de	libertação	
(superação	de	frustrações	e	inseguranças).
O	mundo	que	nos	rodeia	é	sempre	um	laboratório	vivo	de	
novas	possibilidades,	pois	ele	é,	também,	dinâmico	e	aberto,	como	
o	é	qualquer	pessoa.	O	fato	do	ser	humano	estar	sempre	 inaca-
bado,	incompleto	e	aberto	ao	outro,	implica	viver	no	mundo	em	
processo.	 Esse	 processo	 indica	 a	 possibilidade	 de	 transformar	 o	
mundo	e	aperfeiçoar	a	própria	pessoa.
É	certo	que	toda	pessoa	é	impulsionada	a	transcender	a	si	
mesma.	Se,	por	um	lado,	pertence	à	natureza	humana	esse	fato	
(que	empurra	permanentemente	a	algo	maior),	por	outro	lado,	é	
preciso	reafirmar	que	o	próprio	ser	humano	é,	também,	sujeito	da	
esperança.
"Ninguém	é	uma	ilha",	já	dizia	Tomás	Merton.	Ninguém	vive	
só,	e	tão	pouco	só,	para	si.	Todo	eu	é	um	desafio	que	o	faz	mover-
-se	para	o	 futuro.	Todo	eu	é	um	desafio	ao	outro.	Desse	modo,surgem	as	oportunidades	sempre	novas.	Nesse	sentido,	a	esperan-
ça	é	sempre	um	ato	que	se	torna	comunitário	tanto	pelo	desafio	
recebido	quanto	pelo	produzido.	É	assim	que	cada	um	se	descobre	
construtor	do	outro	e,	especialmente,	construtor	das	possibilida-
des	de	amadurecimento,	de	 realização	e	de	modificação	da	his-
tória.	A	perfeição	humana	é	buscada	na	construção	da	história;	é	
sempre	sonhada	(esperada)	e	está	sempre	em	mudança	(em	vir	a	
ser).
© Escatologia140
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Assim,	podemos	compreender	a	afirmação	de	Ernest	Bloch:	
"Ser	homem	quer	dizer	 ter	uma	utopia"	 (1971,	p.	 188).	Alguém	
também	afirmou	que	a	utopia	move	o	ser	humano	(e	as	comunida-
des)	antes	mesmo	das	mudanças.	Ela	dá	suporte	às	mudanças	pelo	
desejo,	pela	esperança	e	pela	luta,	pois	tanto	as	pessoas	quanto	as	
sociedades	e	a	natureza	são	grávidas	do	futuro.	É	por	ser	sonhador	
e	esperançoso	que	o	ser	humano	desentranha	delas	o	futuro	cada	
vez	que	antecipa	a	história.	As	utopias	sociais	movem,	de	modo	
especial,	as	transformações	pessoais	e	sociais.	Tanto	quanto	a	es-
perança,	a	utopia	é,	também,	princípio	constitutivo	da	identidade	
humana.
Sem	dúvida,	a	esperança	e	a	utopia	podem	ser	destruídas,	
massacradas,	 anuladas	 e	 desencaminhadas	 (o	 que	 sempre	 leva	
a	frustrações	humanas).	A	esperança	e	a	utopia	também	podem	
ser	destruidoras	e	massacrantes.	Ambas	podem	ser	pequenas	e	
mesquinhas.	 Podem	 ser	 desprezadas	 e	 desprezíveis.	 Podem	 ser	
construções	de	 loucos	e/ou	visionários,	bem	como	de	santos	ou	
ditadores.	No	entanto,	isto	não	invalida	o	princípio	antropológico	
da	esperança	e	da	utopia	próprio	da	pessoa	e/ou	da	comunidade	
humanas.
Como	você	pode	notar,	até	aqui	fizemos	apenas	afirmações	
gerais	que	tanto	podem	servir	às	questões	infra-históricas	quanto	
às	transcendentais	ou	meta-históricas.	Todavia,	é	importante	res-
saltar	que	as	utopias	e	as	esperanças	transcendentais,	na	verdade,	
não	são	produções	humanas	e	tampouco	podem	ser	captadas	fora	
das	"fé",	em	especial,	da	fé	religiosa.
Aqui	poderia-se	estabelecer,	ainda,	que	é	provisória	uma	dis-
tinção entre Escatologia secular e Escatologia cristã.	A	primeira	é	
profundamente	antropológica,	em	seus	acertos	e	erros;	a	segunda,	
sem	deixar	de	ser	humana,	está	fundada	em	Deus	(especialmente	
no	Verbo	encarnado,	ressuscitado),	cuja	missão	é	salvar	todos	os	
homens.	Na	Escatologia	secular,	surgem	perguntas	antropológicas	
que	vão	desde	as	questões	de	saúde,	emprego,	ascensão	social,	
141© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
matrimônio,	 paternidade,	 convivência	 social,	 liberdade,	 direitos	
humanos,	regimes	políticos	até	as	questões	mais	profundas,	como	
o	significado	da	vida,	da	existência	do	mal	e	da	morte,	a	felicidade	
plena	etc.
Na	Escatologia	cristã,	o	empenho	está	 fundado	no	projeto	
salvífico	de	Deus,	que	passa	pela	história	cotidiana	dos	homens	e	
das	mulheres	de	todos	os	tempos	e	lugares,	com	perguntas	sobre	
o	ser,	o	existir	do	próprio	Deus	e	o	seu	compromisso	com	a	huma-
nidade	e	com	o	Cosmo;	ao	mesmo	tempo,	com	o	empenho	dos	
cristãos	na	corresponsabilidade	deste	mundo	com	seus	habitan-
tes,	embasados	na	esperança	e	na	grande	utopia	do	reino	de	Deus.
8. A IMANÊNCIA E A TRANSCENDÊNCIA COMO ESCA-
TOLOGIA REALIZADA
Há,	 no	 ser	 humano,	 uma	 natural	 abertura	 para	 o	 outro	 e	
para	o	mundo	que	desemboca	em	desejos	humanos	capazes	de,	
até	mesmo,	transcender	a	realidade	humana	e	social.	Todavia,	isto	
não	cria	e	não	torna	real	a	plenitude	meta-histórica	da	transcen-
dência.	Pode	até	haver	uma	meta	transcendente	intra-histórica	no	
Universo	antropológico.	Entretanto,	há	algo	maior	que	independe	
do	ser	humano,	pois	vem	de	fora:	é	a	meta	final	transcendente	que	
é	posta	por	Deus	ou	que	é	ele	próprio.
O	ser	humano,	à	medida	que	responde	à	fé	em	Deus,	perce-
be	que	o	próprio	Deus	cria	nele	(inclusive	na	comunidade	humana)	
esperanças	e	utopias	transcendentais	que	implodem	essas	espe-
ranças	infra-históricas.	Tais	esperanças	transcendem	as	sucessivas	
realidades	antropológicas,	pois	estas,	por	si	só,	se	mantêm	em	ní-
vel	real	imanente.
Só	Deus	é	capaz	de	atrair	o	ser	humano	para	o	transcenden-
tal	último.	Por	sua	vez,	o	ser	humano	é	capaz	de	responder	pela	fé	
e	de	transcender	a	si	para	chegar	a	Deus,	por	quem	é	atraído.
© Escatologia142
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A	 Escatologia,	 em	 seu	 sentido	 próprio,	 preocupa-se	 com	
essa	dimensão	transcendente	da	transcendência.	Entretanto,	ela	
não	está	descomprometida	com	as	esperanças	e	as	utopias	antro-
pológicas,	como	caminhos	para	Deus	e	para	o	outro	humano.
São	essas	preocupações	teológicas	da	Escatologia	que	se	jus-
tificam	na	transcendência	absoluta.	No	entanto,	não	se	pode	esque-
cer	que	"um	da	Trindade"	fez-se	um	de	nós.	Entre	nós,	viveu	como	
um	igual	a	nós.	Passou	pelo	mundo	fazendo	o	bem.	Pregou	o	amor	e	
a	compaixão,	a	esperança	e	a	utopia	do	Reino	de	Deus.	Foi	morto	e	
Deus	o	ressuscitou,	antecipando,	escatologicamente,	o	futuro.	Con-
sequentemente,	por	melhores	que	sejam	as	esperanças	e	as	utopias	
humanas,	elas	só	têm	guarida	à	medida	que,	por	obra	e	graça	de	
Deus,	são	transcendidas	e	dadas	por	Aquele	que	é	a	fonte	e	a	ori-
gem,	a	sustentação	e	o	destino	do	ser	humano	e	do	cosmo.
9. A "DOUTA IGNORÂNCIA SOBRE O FUTURO"
A	esperança	cristã	no	futuro	escatológico	não	pode	senão	vir	
ao	encontro	da	consciência	do	ser	humano,	levando	em	conta	sua	
radical	ligação	com	Deus,	em	oposição	a	quaisquer	fundamentalis-
mos	ou	totalitarismos.
Por	 isso,	 alguns	 teólogos	 querem	 entender	 a	 Escatologia	
como	um	complemento	da	Antropologia	Teológica	ou	da	Cristolo-
gia.	Na	verdade,	a	questão	escatológica	perpassa	e	dá	um	sentido	
especial	a	todos	os	outros	enfoques	teológicos.
Deve-se	 recordar,	 diante	 das	 questões	 escatológicas	 (e	 da	
Escatologia	como	disciplina	acadêmica),	a	expressão	já	clássica	de	
K.	Rahner:	 "docta ignorantia futuri"	 (a	douta	 ignorância	 sobre	o	
futuro).
Na	realidade:
1)	 há	 um	 conhecimento	 autêntico	 (docta)	 das	 questões	
escatológicas	que	partem	das	experiências	bíblicas	e	da	
vida	cotidiana	dos	homens	como	processos	de	salvação,	
143© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
de	libertação	ou	de	condenação	que,	projetando	nosso	
futuro,	nos	ajudam	a	compreender	nosso	presente;
2)	 as	questões	escatológicas	(futuri)	nos	são	reveladas	ape-
nas	pelo	mínimo	necessário	 à	 fé,	mas	plenamente	 su-
ficientes	 para	 abrir-nos	 aos	mistérios	 de	Deus	 e	 à	 sua	
fidelidade	(ignorantia);
3)	 a	Igreja	insiste	na	virtude	de	prudência	e	de	compreen-
são	da	revelação	acima	de	qualquer	pietismo,	secularis-
mo	ou	"imaginação	fértil"	sobre	essas	realidades	ultra-
terrenas.	 As	 afirmações	 são	 bem	mais	 alusivas	 que	 as	
realidades	objetivadas;
4)	 por	fim,	a	docta ignorantia	consiste	no	ato	de	 ignorar-
mos	 o	 futuro	 (futuri)	 dos	 segredos	 que	 Deus	 prepara	
para	 seus	 filhos	 e	 para	 o	 Universo,	 ainda	 envolto	 em	
mistério.
5)	 A	escatologia	cristã	reflete	sobre	o	futuro	metaterreno	não	
precisamente	para	tornar-se	uma	agência	de	informações	
sobre	o	Além,	mas	para	capacitar	o	fiel	a	tomar	consciên-
cia	do	imenso	desafio	do	presente,	para	poder	distinguir	
nele	o	que	é	irrenunciável	(o	reino	de	Deus)	do	que	é	so-
mente	importante	(todo	o	resto)	(GOZZALINO,	s/d).
O	discurso	teológico	sobre	a	Escatologia	mantém	sua	valida-
de	enquanto	se	pronuncia	sobre	o	 futuro,	 tendo,	unicamente,	o	
objetivo	de	permitir	uma	convivência	construtiva	do	presente.	Os	
enunciados	de	Escatologia	(docta futuri)	interpretam	o	presente	à	
luz	do	próprio	futuro.
Isto	quer	dizer	que	o	tempo	presente	(a	história)	só	se	explica	
pelo	 futuro	de	Deus.	Portanto,	 transcende	a	história	dos	homens	
que	se	explica,	também,	partindo	do	passado.	O	significado	da	pró-
pria	história	da	salvação,	que	Deus	quer	conceder	a	todos,	será	con-
sumado,	realizado	no	fim	dos	tempos,	quando	Cristo	apresentar	ao	
Pai	toda	sua	obra	acabada.	Aí	está	a	definitividade	escatológica	em	
sua	completude,	mas	nós	cremos	que	tudo	começana	criação	por	
libérrima	e	gratuita	vontade	do	Pai,	que	se	manifesta	em	sua	pleni-
tude	histórica	terrena	da	encarnação	do	Verbo	subseguida	de	sua	
ressurreição.	Só	em	Deus	ela	se	cumprirá	em	plenitude.
© Escatologia144
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Contudo,	sem	um	certo	conhecimento	do	futuro	(docta ig-
norantia futuri),	 o	 ser	 humano	não	 consegue	dar	 significado	 ao	
seu	 presente,	 pois	 o	 significado	 está	 no	 futuro	 último.	 Assim,	 a	
Escatologia	 torna-se	uma	hermenêutica	 (não	para	curiosos)	mas	
de	fundamentação	do	presente	alicerçada	na	esperança	do	futuro	
absoluto	e	transcendente,	que	é	Deus.
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	seu	de-
sempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 A	partir	do	que	você	estudou,	procure	comentar	o	quadro	de	conceitos	a	
seguir:
Quadro 1	Entre	a	História	e	a	Escatologia.
145© Entre a História e a Escatologia: A Esperança
2)	 Você	gostaria	de	modificar	o	esquema,	acrescentando	ou	refazendo-o?	Ex-
perimente!
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta	unidade,	fundamentalmente,	você	se	deparou	com	a	
questão	das	esperanças	em	suas	implicações	entre	a	Escatologia	e	
a	história.
A	histórica	esperança	esperante	de	nosso	futuro	está	funda-
da	no	Plano	salvífico	de	Deus,	 revelado,	vivido	e	experimentado	
entre	altos	e	baixos	pelos	povos	bíblicos.	Jesus,	o	constituído	nosso	
salvador,	desde	antes	da	criação,	por	sua	encarnação,	revelou-nos	
esse	mistério	e	o	chamou	Reinado	ou	Senhorio	de	Deus.	Por	sua	
presença	entre	a	humanidade,	 foi	antecipando-o	em	curas	e	em	
milagres,	ensinamentos	e	testemunhos.	Por	sua	ressurreição,	tor-
nou-se,	de	modo	definitivo,	a	fidelidade	do	Pai	às	suas	promessas	
salvíficas,	e,	ao	mesmo	tempo,	foi	antecipado,	nele,	nosso	futuro.
Deus	quer	salvar	a	 todos	e	quer	 transformar	o	mundo	e	o	
Cosmo	 todo	em	novo	Céu	e	nova	Terra	 a	 fim	de	que	possamos	
alcançar	a	plenitude	de	nossa	realização	como	verdadeiros	seres	
humanos;	assim,	viver	em	Deus	e	podê-lo	ver	"face	a	face",	eter-
namente	como	sua	glória	e	para	sua	glória.	Todos	os	homens	e	as	
mulheres	são	criados	e	convocados	para	isso.	Todos	chegarão	lá?!	
Deus	espera-os	em	sua	bondade	de	Deus	e	não	de	homem.
Você	concluiu	os	estudos	desta	disciplina,	mas	terá	percebi-
do	o	quanto	inúmeros	temas	ficarão	abertos	como	que	sem	con-
clusões	certas.	Há	um	imenso	caminho	a	ser	percorrido.
Você	pode	ajudar-se	a	aprofundar.
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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