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aula direito civil

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CÓDIGO CIVIL 
LINDB – LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO 
DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942. 
 
INTRODUÇÃO 
A LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), é conhecida 
como a “lei das leis”, pois não disciplina apenas assuntos do universo civil, mas 
de todo o ordenamento jurídico brasileiro. Sua função é reger as normas, 
indicando como interpretá-las ou aplicá-las, determinando-lhe a vigência e a 
eficácia. 
Nesse sentido, a LINDB é uma norma jurídica que visa regulamentar 
outras normas, composta por apenas 30 artigos. Vale pontuar que se trata de 
uma norma ATEMPORAL visto que serviu para introduzir diversos códigos e leis. 
 
DA VACATIO LEGIS 
Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar 
em todo o país quarenta e cinco dias depois de 
oficialmente publicada. 
§ 1º. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei 
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de 
oficialmente publicada. 
§ 2º. (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). 
§ 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova 
publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo 
deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a 
correr da nova publicação. 
§ 4º. As correções a texto de lei já em vigor consideram-se 
lei nova. 
 
O primeiro ponto a ser abordado é sobre a vigência da lei no tempo, 
isto é, salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias 
depois de oficialmente publicada. Esse é o período chamado vacatio legis. 
Quando a lei é oficialmente publicada? Quando inserida no Diário 
Oficial. 
Ainda sobre a vigência no tempo, nos Estados estrangeiros, a 
obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 meses depois de 
oficialmente publicada. 
A vacatio legis pode ser em dias, meses ou anos. 
Adendo: Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de 
seu texto, destinada a correção, os prazos acima começarão a correr a partir 
da nova publicação. Ou seja, o vacatio legis é reiniciado. Por outro lado, as 
correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
A esse dispositivo, deve ser combinado o §1° do artigo 8° da Lei 
Complementar 95/1998: 
Art. 8° A vigência da lei será indicada de forma expressa e 
de modo a contemplar prazo razoável para que dela se 
tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra 
em vigor na data de sua publicação" para as leis de 
pequena repercussão. 
§ 1° A contagem do prazo para entrada em vigor das leis 
que estabeleçam período de vacância far-se-á com a 
inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, 
entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação 
integral. 
 
Ou seja, mesmo que o último dia da vacatio legis caia num fim de 
semana ou feriado, no dia seguinte, seja útil ou não, a norma entra em vigor, 
não havendo prorrogação para o próximo dia útil. 
 
Caso o prazo seja estabelecido em meses ou anos, deve-se aplicar o 
§3° do artigo 132 do Código Civil: 
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em 
contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do 
começo, e incluído o do vencimento. [...] 
§ 3° Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual 
número do de início, ou no imediato, se faltar exata 
correspondência. 
 
Assim, se uma lei for promulgada no dia 1° de março de 2023 com 
vacatio legis de um ano, tal prazo restará expirado no dia 1° de março de 2024, 
e não no dia 29 de fevereiro do mesmo, apesar desse ser ano bissexto. A 
legislação, portanto, entrará em vigor no dia subsequente, ou seja, 2 de março 
de 2024. 
REVOGAÇÃO, LEIS ESPECIAIS E LEIS TEMPORÁRIAS 
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá 
vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 1º. A lei posterior revoga a anterior quando 
expressamente o declare, quando seja com ela 
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de 
que tratava a lei anterior. 
§ 2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou 
especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica 
a lei anterior. 
§ 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se 
restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. 
 
Pela leitura do caput, concluímos tranquilamente que o ordenamento 
brasileiro adotou o Princípio da Continuidade; ou seja, enquanto a lei não for 
modificada ou revogada, ela continua em vigor. Se uma legislação ficar 500 
anos sem sofrer qualquer ato contra seu texto, ela será válida e aplicável. 
 
No Brasil, não aplicamos o desuetudo. Ou seja, uma lei não pode ser 
revogada pelos costumes. Apenas uma lei pode revogar outra norma. Se a lei 
for temporária, contudo, ela só será aplicável pelo período determinado em seu 
texto, tendo revogabilidade imediata com o decurso do seu lapso temporal. 
 
A revogação pode ser total ou parcial e revogar total ou parcialmente 
uma lei em vigor. À revogação total, damos o nome de "ab-rogação"; à parcial, 
chamamos "derrogação". 
 
Nessa esteira, muito cuidado ao §2° do artigo 2°: uma lei nova que trata 
de disposições gerais não revoga a norma que, em tese, está em 
contrariedade, caso esta seja de uma lei especial. Ambas continuarão vigentes, 
uma sendo aplicada aos casos gerais e a outra, às situações especiais que 
regula. 
 
REPRISTINAÇÃO 
 
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá 
vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 3° Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se 
restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. 
 
Nos termos do dispositivo acima, a repristinação não é aplicável de 
maneira automática no Brasil, dependendo de previsão expressa para isso. 
 
Suponha que uma lei A está vigente e é revogada por uma lei B. Uma 
lei C revoga a Lei B anos depois. A lei A não volta a ter vigência, a não ser que 
a lei C assim diga expressamente. 
 
A repristinação não se confunde com o efeito repristinatório. Utilizando 
o exemplo acima, esse ocorre quando uma lei é declarada inconstitucional. 
Assim, se o Supremo Tribunal Federal declara a nulidade da lei C, a lei B volta a 
vigorar em todo o ordenamento. 
 
Exceção a essa regra existe se a decisão determinar que seus efeitos 
devem ser modulados ou se disser expressamente que não haverá restauração 
da lei revogada. 
 
OBRIGATORIEDADE DAS NORMAS 
 
Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que 
não a conhece. 
 
Nos termos do artigo 3°, presume-se que todos conheçam as normas 
jurídicas. Assim, ninguém pode alegar desconhecimento da lei para deixar de 
aplicá-la. 
 
Essa presunção, no entanto, é relativa. A lei, quando expressamente 
declarar, permite ao sujeito alegar erro de direito. Nesse sentido, extraímos do 
Código Penal, por exemplo, os seguintes artigos: 
 
Erro sobre a ilicitude do fato 
Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro 
sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se 
evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente 
atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, 
quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir 
essa consciência. 
[...] 
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
[…] 
II - o desconhecimento da lei; 
 
No Código Civil podemos extrair os seguintes artigos, por exemplo: 
 
Art. 139. O erro é substancial quando: […] 
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação 
da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. 
[...] 
 
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído 
de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em 
relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até 
o dia da sentença anulatória. 
§ 1° Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o 
casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos 
aproveitarão. 
§ 2° Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar 
o casamento, os seus efeitos civissó aos filhos 
aproveitarão. 
 
Pelo artigo 1.561 acima, se dois irmãos contraem casamento sem 
saberem que são irmãos, embora o ato seja nulo, como agiram de boa-fé, todos 
os efeitos até o dia da sentença anulatória serão válidos. 
 
INTEGRAÇÃO DAS NORMAS 
 
Quando falamos em "integração da norma", conforme previsto na 
LINDB, estamos dizendo "preenchimento de lacunas, ou colmatação, da 
norma", nos termos dos comentários que seguem: 
 
Por meio da atividade de integração da norma, o juiz dá um 
complemento à norma. Isso deve ser feito porque o legislador não tem como 
prever todas as possibilidades fáticas ao editar a norma. Ou seja, os 
Parlamentares, ao criarem as leis, não conseguem prever tudo o que pode 
acontecer no mundo real. Por isso há necessidade das regras de integração, 
pois omissões certamente irão surgir no dia a dia dos aplicadores do Direito e há 
necessidade de preenchimento desses "buracos". 
 
Sendo assim, é vedado que o juiz deixe de julgar alegando lacuna da 
lei, o chamado non liquet. 
 
Vejamos o que diz o artigo 4° da LINDB: 
 
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de 
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais 
de direito. 
 
Então, quando a lei for omissa, o juiz, para cobrir os "buracos" do 
ordenamento, deve aplicar, em ordem de preferência, a analogia, os costumes 
e os princípios gerais de direito. Deve-se atentar para o fato de que esse rol é 
taxativo. 
 
Além disso, tendo por base o dispositivo citado, presume-se que o juiz 
conheça todas as leis dos casos que lhe são levados (iura novit curia), exceto 
quando se tratar de direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, 
nos termos do Código de Processo Civil: 
 
Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, 
estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a 
vigência, se assim o juiz determinar. 
 
Visto isso, vamos então analisar os métodos de integração da norma: 
 
ANALOGIA 
 
 
É o primeiro método de colmatação que deve ser usado pelo juiz nos 
casos concretos. Só se pode partir para os demais se não houver como se 
realizar a analogia. 
 
A analogia é o preenchimento da lacuna na lei por meio da 
comparação. Logo, se uma lei não prevê determinado caso específico, busca-
se em outra lei a hipótese que preencha o buraco existente. 
 
Um caso emblemático no ordenamento pátrio foi o do atual Código de 
Processo Civil, quando de sua vacatio legis. Assim diz seu artigo 1.045: 
 
Art. 1.045. Este Código entra em vigor após decorrido 1 
(um) ano da data de sua publicação oficial. 
 
A Lei Complementar 95/1998, que trata "sobre a elaboração, a 
redação, a alteração e a consolidação das leis", não prevê expressamente a 
possibilidade do prazo de vacatio legis ser previsto em anos ou meses, mas 
somente em dias. Por tal razão, para que fosse determinado com clareza o dia 
de publicação do Diploma Processual, utilizou-se por analogia o §3° do artigo 
132 do Código Civil: 
 
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em 
contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do 
começo, e incluído o do vencimento. […] 
§ 3° Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual 
número do de início, ou no imediato, se faltar exata 
correspondência. 
 
COSTUMES 
 
 
Os costumes são os usos reiterados realizados por uma comunidade. No 
entanto, não basta que seja uma prática comum. Ela deve ser longa, por todos 
realizada, pública e reiterada, devendo haver uma crença geral em sua 
obrigatoriedade jurídica (apesar de não ser norma tipificada). 
 
Ou seja, para que uma prática seja tida como um costume, além de 
seu longo e reiterado uso público por todos no decorrer de um longo espaço 
de tempo, deve-se haver convicção por aquela comunidade de que sua 
observância é obrigatória, como se fosse verdadeira norma jurídica. 
 
No entanto, se um costume for contra a lei (ou contra legem), o juiz não 
poderá aceitá-lo na colmatação do caso concreto. Isso porque nosso 
ordenamento veda o desuetudo, ou seja, a revogação de uma lei por um 
costume. No Direito Pátrio, apenas norma revoga norma. 
 
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO 
 
 
Os princípios gerais de Direito são regras universalmente aceitas, mas 
que não necessariamente estão positivadas. No Código Civil, temos três 
exemplos: os princípios da eticidade, da sociabilidade e da operabilidade. 
 
Os princípios gerais de Direito auxiliam no momento de elaboração da 
norma e orientam a aplicação do ordenamento jurídico. 
 
Outros exemplos de princípios gerais são a regra de ninguém ser 
obrigado a fazer o impossível, ninguém poder ser punido por seus pensamentos 
ou ninguém pode se beneficiar de sua própria torpeza. 
 
EQUIDADE 
 
 
Apesar de não prevista na LINDB, devemos fazer comentários à 
equidade. 
 
A equidade não é meio de integração da norma previsto na LINDB. No 
entanto, pode ser utilizada em ramos específicos do Direito ou pode haver 
admissão de sua aplicação em casos particulares. Logo, a equidade só pode 
ser aplicada quando houver previsão em lei. Isso acontece porque a equidade 
tem conceito vago. 
 
A equidade pode ser utilizada, por exemplo, para que haja redução da 
pena de multa prevista em cláusula penal, como se vê no Código Civil: 
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente 
pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em 
parte, ou se o montante da penalidade for 
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e 
a finalidade do negócio. 
 
INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS 
 
Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais 
a que ela se dirige e às exigências do bem comum. 
 
A interpretação das normas é diferente da integração. Pela integração, 
ou colmatação, a lacuna de uma lei é preenchida. Pela interpretação, busca-
se o alcance e o sentido de uma lei. 
 
O artigo 5° estabelece que, quando interpretar, o juiz deve atender às 
finalidades sociais da lei. Desse modo, em toda interpretação, o magistrado 
deve ter em mente o impacto que a norma causará na comunidade. 
 
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO 
 
O artigo 6° da LINDB é consectário legal do inciso XXXVI do artigo 5° da 
Constituição Federal: 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: [...] 
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato 
jurídico perfeito e a coisa julgada; 
 
Assim é a redação do caput do artigo 6° da LINDB: 
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, 
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a 
coisa julgada. 
 
Dando completude ao alcance do Texto Constitucional, a LINDB definiu 
em seus parágrafos o que são o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa 
julgada: 
 
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, 
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a 
coisa julgada. 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado 
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu 
titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles 
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou 
condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de 
outrem. 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão 
judicial de que já não caiba recurso. 
 
O Direito Brasileiro consagrou expressamente a regra da irretroatividade 
das leis. Ou seja, leis novas não alcançam fatos pretéritos. 
 
Essa regra, contudo, não é geral. Existe a possibilidade de que a lei 
tenha efeitos retroativos, desde que haja essa previsão expressa em seu texto 
normativo e que não sejam prejudicados o ato jurídico perfeito, o direito 
adquirido e a coisa julgada. 
 
Adentrando a conceituaçãode cada instituto, o direito adquirido é 
aquele direito de ordem patrimonial incorporado ao patrimônio do particular. 
Importante ressaltar, todavia, que não existe direito adquirido em face do Poder 
Constituinte, tendo em vista que ele instaura uma nova ordem jurídica que 
extirpa da ordem jurídica o que lhe é contrário. 
 
Por exemplo, quando da promulgação da Constituição Federal de 
1988, havia algumas categorias de servidores públicos que recebiam acima do 
teto constitucional. Eles não puderam alegar "direito adquirido" para manterem 
as vantagens que recebiam, de modo que seus vencimentos tiveram que ficar 
dentro do limite constitucionalmente estabelecido. 
 
A coisa julgada se trata de característica da decisão judicial contra a 
qual não cabe mais recurso no mesmo processo. Logo, se uma decisão 
interlocutória aprecia o mérito de maneira terminativa e contra ela não há 
interposição de recurso, ela se reveste da característica da coisa julgada. 
 
Vale apontar, contudo, que a coisa julgada não pode violar a 
Constituição. 
 
O ato jurídico perfeito, por fim, é aquele que já foi realizado, tendo todos 
os seus efeitos se exaurido. 
 
ULTRATIVIDADE DA LEI 
 
Em continuidade aos nossos comentários sobre a LINDB, devemos 
ressaltar que a ultratividade da lei ocorre quando uma lei já revogada continua 
produzindo seus efeitos. 
 
No Direito Penal temos diversos exemplos. O mais comum é aquele da 
lei benéfica: se um acusado comete um criem quando vigora uma lei material 
que lhe favorece e é condenado quando existe uma outra lei mais gravosa à 
sua situação, o juiz deve aplicar a lei anterior, pois, como aquela ajuda em sua 
situação, existe ultratividade, devendo ela ser aplicada em favor do 
condenado. 
 
Mas a ultratividade não se limita ao Direito Penal. Por exemplo, se uma 
pessoa morreu quando estava em vigor o Código Civil de 1916, ainda que seu 
inventário seja aberto hoje, será aplicado aquele Diploma ao caso. 
 
APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO 
 
Como regra geral, no território brasileiro só se aplica a lei nacional. 
Depreendemos assim num primeiro instante que, segundo a LINDB, cada país 
aplica em seus territórios suas próprias leis, o que importa num reconhecimento 
inicial da aparente aplicação do princípio da territorialidade. 
 
Existem, no entanto, exceções, em que é admitida a aplicação da lei 
estrangeira em outros Estados, a denominada extraterritorialidade, como 
veremos a seguir em nossos comentários à LINDB. Logo, podemos afirmar que 
no Brasil vigora o princípio da territorialidade mitigada (ou moderada). 
 
Nesse sentido, vale menção o artigo 17 da LINDB, que admite a 
aplicação de leis, atos, sentenças e declarações de vontade de outros países: 
 
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como 
quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no 
Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem 
pública e os bons costumes. 
Como aplicação da extraterritorialidade em território pátrio, temos na 
LINDB, por exemplo, a utilização do estatuto pessoal, caso em que deve ser 
aplicada a lei estrangeira. Vejamos: 
Art. 7° A lei do país em que domiciliada a pessoa 
determina as regras sobre o começo e o fim da 
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de 
família. 
§ 1° Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a 
lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às 
formalidades da celebração. 
§ 2° O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se 
perante autoridades diplomáticas ou consulares do país 
de ambos os nubentes. 
§ 3° Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos 
de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio 
conjugal. 
§ 4° O regime de bens, legal ou convencional, obedece à 
lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este 
for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. 
§ 5° - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, 
pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, 
requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de 
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime 
de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de 
terceiros e dada esta adoção ao competente registro. 
§ 6° O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos 
os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil 
depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se 
houver sido antecedida de separação judicial por igual 
prazo, caso em que a homologação produzirá efeito 
imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a 
eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior 
Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, 
poderá reexaminar, a requerimento do interessado, 
decisões já proferidas em pedidos de homologação de 
sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de 
que passem a produzir todos os efeitos legais. 
§ 7° Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da 
família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não 
emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob 
sua guarda. 
§ 8° Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á 
domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que 
se encontre. 
As regras da LINDB sobre a aplicação da lei no espaço vão do artigo 7° 
ao 19. A maior parte dessas normas tem muita importância para o Direito 
Internacional. 
 
Observação! Em virtude da Emenda Constitucional 66/2010, o §6° do 
artigo 7° da LINDB deve ser aplicado observando a nova redação do §6° do 
artigo 226 da Constituição Federal, que tem o seguinte texto: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial 
proteção do Estado. […] 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. 
 
REGRAS DE CONEXÃO 
 
Como visto anteriormente em nossos comentários à LINDB, para que 
uma lei estrangeira possa ser aplicada no território brasileiro, deve haver uma 
regra de conexão, a qual é chamada de estatuto pessoal. Pelo estatuto 
pessoal, conforme vimos no caput do artigo 7°, são aplicadas as leis do país em 
que domiciliada a pessoa. 
 
O estatuto pessoal trata de uma série de assuntos, tais como 
personalidade, nome, capacidade, direitos de família, direitos sobre os bens 
particulares, obrigações, sucessões, dentre outros. 
 
Além do artigo 7° anteriormente citado, façamos a apresentação dos 
artigos 8° ao 10, para demonstrar o explicado: 
 
Art. 8° Para qualificar os bens e regular as relações a eles 
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem 
situados. 
§ 1° Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o 
proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se 
destinarem a transporte para outros lugares. 
§ 2° O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a 
pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. 
 
Art. 9° Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a 
lei do país em que se constituírem. 
§ 1° Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil 
e dependendo de forma essencial, será esta observada, 
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos 
requisitos extrínsecos do ato. 
§ 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se 
constituída no lugar em que residir o proponente. 
 
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece 
à lei do país em que domiciliado o defunto ou o 
desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação 
dos bens. 
§ 1° A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, 
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge 
ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre 
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. 
§ 2° A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a 
capacidade para suceder. 
 
No entanto, antes de se aplicar a regra do estatuto pessoal, devemos 
nos atentar ao que diz a Constituição Federal. Afinal, os países são soberanos, 
de modo que aplicar uma norma externa que desrespeite nossa Lei Maior e 
soberanianão é aceitável. Sendo assim, deve ser feita a denominada “filtragem 
constitucional”, para que se admita a aplicação das leis estrangeiras em nosso 
país. 
 
Suponha que venha residir no Brasil um sujeito que vem de um país que 
permite que as pessoas se casem múltiplas vezes. Ele tem dez esposas. Aqui no 
Brasil, só se admite um casamento. Logo, pelo menos nove uniões não serão 
reconhecidas. Mas em seu Estado de origem, todas são aceitas sem problemas. 
 
Nesse mesmo exemplo, como o sujeito fixou domicílio no Brasil, caso 
venha a falecer, em obediência ao artigo 10, a sucessão seguirá as regras 
pátrias, de modo que nove esposas não poderão suceder nessa condição. 
 
Como podem ver, o tema é polêmico. Corroborando, vide o Tema 529 
de Repercussão Geral do Supremo Tribunal Federal: 
 
A preexistência de casamento ou de união estável de um dos 
conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723, § 1º, do Código Civil, 
impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, 
inclusive para fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de 
fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico-constitucional brasileiro. 
 
Feitas essas observações, continuemos nossos comentários à LINDB, 
analisando outros casos trazidos pela lei e vendo como se dão a aplicação 
conforme nosso ordenamento. Como veremos, nessas hipóteses é admitida a 
aplicação da lei estrangeira sem que haja atenção ao estatuto pessoal. Ou 
seja, a norma externa é aplicada independentemente de onde esteja 
domiciliada a pessoa. 
 
CONFLITOS ENVOLVENDO BENS IMÓVEIS 
 
 
 
Vejamos o que diz o §1° do artigo 12 da LINDB: 
 
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, 
quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser 
cumprida a obrigação. 
§ 1° Só à autoridade judiciária brasileira compete 
conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. 
 
Em complemento, relembremos o que diz o caput do artigo 8°, que trata 
dos bens em geral, móveis e imóveis: 
 
Art. 8° Para qualificar os bens e regular as relações a eles 
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem 
situados. 
 
Assim, podemos afirmar claramente que, quanto aos bens imóveis, 
aplica-se a lei do local em que estejam situados. 
 
Corroborando o afirmado, vejamos o inciso I do artigo 23 do Código de 
Processo Civil, que segue no mesmo sentido apresentado: 
 
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com 
exclusão de qualquer outra: 
I - Conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
B. Lugar da obrigação 
 
LUGAR DA OBRIGAÇÃO 
 
 
Conforme vimos no caput do artigo 9° da LINDB em nossos comentários 
anteriores, são aplicadas as obrigações as regras do país em que se 
constituírem. Para determinarmos onde a obrigação resultante de contrato foi 
constituída, consideraremos o local onde reside o proponente, nos termos do 
§2° do artigo 9°: 
 
Art. 9° Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a 
lei do país em que se constituírem. 
[...] 
§ 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se 
constituída no lugar em que residir o proponente. 
 
Contudo, caso a obrigação deva ser cumprida no Brasil e dependa de 
forma essencial, deve haver observância a esta, sendo admitidas as 
peculiaridades da lei estrangeira. 
 
Por exemplo, se o proponente de uma obrigação contratual realizada 
no exterior for adquirir um imóvel no Brasil em virtude dela, deve respeitar as 
formalidades necessárias para que o ato se aperfeiçoe. 
 
ANÁLISES ENVOLVENDO SUCESSÃO 
 
 
Inicialmente, ao falarmos de sucessão, devemos nos atentar ao país em 
que tem domicílio o herdeiro ou legatário, pois ela regula a capacidade para 
suceder. É o que nos diz o §2° do artigo 10 da LINDB: 
 
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à 
lei do país em que domiciliado o defunto ou o 
desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação 
dos bens. 
[...] § 2° A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula 
a capacidade para suceder. 
 
Ou seja, se a lei brasileira disser que determinada pessoa tem 
capacidade para suceder, mas a lei do país em que está domiciliada afirmar 
que ela não tem, ela não será herdeira ou legatária no Brasil. 
 
Em segundo lugar, devemos observar que a sucessão deve obedecer 
à lei do país em que domiciliado o defunto ou desaparecido, independente 
dele ter bens no Brasil ou em outros Estados. Isso é o que diz o caput do artigo 
10: 
 
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece 
à lei do país em que domiciliado o defunto ou o 
desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação 
dos bens. 
 
Caso o falecido ou desaparecido tenha bens no Brasil, contudo, aplica-
se a lei brasileira à sucessão dos mesmos, desde que em benefício ao cônjuge 
ou filhos do de cujus. Logo, se a lei do domicílio do de cujus for mais favorável a 
eles, essa é a regra que será aplicada, conforme nos diz o §1° do artigo 10 da 
LINDB: 
 
Art. 10. (...) 
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, 
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge 
ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre 
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. 
 
HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA 
 
Para que uma decisão estrangeira seja cumprida no Brasil, deve haver 
previamente homologação do Superior Tribunal de Justiça. 
 
A alínea “e” do artigo 15 da LINDB possui uma imprecisão, como 
explicaremos em nossos comentários. Vejamos: 
 
Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no 
estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos: 
a) haver sido proferida por juiz competente; 
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente 
verificado à revelia; 
c) ter passado em julgado e estar revestida das 
formalidades necessárias para a execução no lugar em 
que foi proferida; 
d) estar traduzida por intérprete autorizado; 
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. 
 
Apesar do texto falar em “Supremo Tribunal Federal, devemos 
obedecer ao que diz a alínea “i” do inciso I do artigo 105 da Constituição 
Federal, que tem a seguinte redação: 
 
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - Processar e julgar, originariamente: 
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a 
concessão de exequatur às cartas rogatórias; 
 
Ou seja, até a entrada da Emenda Constitucional 45/2004, realmente 
era o Supremo Tribunal Federal que concedia exequatur às decisões 
estrangeiras. No entanto, desde a mudança, a competência cabe ao Superior 
Tribunal de Justiça. 
 
O artigo 15 acima citado traz os requisitos para o exequatur, ou seja, a 
execução de sentença estrangeira no país. Ocorre que o Código de Processo 
Civil veio a dar tratamento distinto ao tema. Hoje, não apenas sentenças, mas 
qualquer decisão pode ser aplicada no Brasil caso cumpra as regras, inclusive 
laudos arbitrais estrangeiros. Vejamos alguns dispositivos do Diploma Processual 
Civil: 
 
Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será 
requerida por ação de homologação de decisão 
estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário 
prevista em tratado. 
§ 1º A decisão interlocutória estrangeira poderá ser 
executada no Brasil por meio de carta rogatória. [...] 
§ 3º A homologação de decisão arbitral estrangeira 
obedecerá ao disposto em tratado e em lei, aplicando-se, 
subsidiariamente, as disposições deste Capítulo. 
 
Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no 
Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a 
concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo 
disposição em sentido contrário de lei ou tratado. 
§ 1º É passível de homologação a decisão judicial 
definitiva, bem como a decisão não judicial que, pela lei 
brasileira, teria natureza jurisdicional. 
§ 2º A decisão estrangeira poderá ser homologada 
parcialmente. 
§ 3º A autoridade judiciária brasileirapoderá deferir 
pedidos de urgência e realizar atos de execução 
provisória no processo de homologação de decisão 
estrangeira. [...] 
 
Art. 962. É passível de execução a decisão estrangeira 
concessiva de medida de urgência. [...] 
§ 2º A medida de urgência concedida sem audiência do 
réu poderá ser executada, desde que garantido o 
contraditório em momento posterior. [...] 
 
Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à 
homologação da decisão: 
I - ser proferida por autoridade competente; 
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada 
a revelia; 
III - ser eficaz no país em que foi proferida; 
IV - não ofender a coisa julgada brasileira; 
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo 
disposição que a dispense prevista em tratado; 
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. 
Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas 
rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos no 
caput deste artigo e no art. 962, § 2°. 
 
Nos termos do inciso IV do artigo 963 do Código de Processo Civil, 
relembrando, deve haver uma filtragem constitucional para que as decisões 
estrangeiras possam ser cumpridas no Brasil. 
 
É importante também a atenção ao que diz o artigo 962 acima: o 
Diploma Processual Civil atual permite que decisões estrangeiras não definitivas 
possam ser executadas sem necessidade de que o Superior Tribunal de Justiça 
as confira o exequatur. 
 
Assim, concluímos nesses comentários que atualmente temos regras 
importantes sobre o tema e que estão fora da LINDB - mas que não retiram a 
importância dessa legislação por isso. 
 
TERRITORIALIDADE X EXTRATERRITORIALIDADE 
 
Como vimos em nossos comentários à LINDB, a princípio vigora no Brasil 
o princípio da territorialidade, ou seja, as leis de cada país são aplicadas em 
seus respectivos territórios. 
 
No entanto, o Estado admite a aplicação de leis e sentenças 
estrangeiras em seus territórios, ou seja, em certos casos, admitimos a aplicação 
da extraterritorialidade. Por isso dizemos que no Brasil vigora o princípio da 
territorialidade mitigada. 
 
Dos artigos 7° ao 19 da LINDB, temos regras de grande importância aos 
direitos internacionais público e privado. Assim, é comum que alguns 
doutrinadores chamem essa parte de Estatuto do Direito Internacional. 
 
Para finalizarmos essa parte, citamos alguns desses artigos que tratam 
da territorialidade e da extraterritorialidade: 
 
TERRITORIALIDADE: 
 
Art. 8º. Para qualificar os bens e regular as relações a eles 
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem 
situados. [...] 
 
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a 
lei do país em que se constituírem. [...] 
 
Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse 
coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem 
à lei do Estado em que se constituírem. [...] 
 
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro 
rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos 
meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros 
provas que a lei brasileira desconheça. 
 
EXTRATERRITORIALIDADE 
 
Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa 
determina as regras sobre o começo e o fim da 
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de 
família. [...] 
 
Art. 9°. [...] 
§ 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil 
e dependendo de forma essencial, será esta observada, 
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos 
requisitos extrínsecos do ato. [...] 
 
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece 
à lei do país em que domiciliado o defunto ou o 
desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação 
dos bens. [...] 
Art. 11. [...] § 1º Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, 
agências ou estabelecimentos antes de serem os atos 
constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando 
sujeitas à lei brasileira. [...] 
 
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, 
quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser 
cumprida a obrigação. 
 
NORMAS SOBRE SEGURANÇA JURDÍDICA E EFICIÊNCIA NA CRIAÇÃO E 
APLICAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO 
 
Adentramos agora em nossos comentários no estudo dos artigos 20 a 30 
da LINDB. 
 
Relembrando, a LINDB é uma norma de sobredireito. Portanto, ela tem 
como objetivo a regulação de outras normas. 
 
Como vimos, o campo de aplicação da LINDB se estende para todos 
os ramos do Direito. Aqui veremos sua utilização em face do Direito 
Administrativo, explicando, por exemplo, como devem ser feitas as 
interpretações dessas normas de direito público e como ocorre o uso delas na 
prática. 
 
Os artigos que seguem são amplamente criticados por diversos órgãos, 
entidades, doutrinadores, dentre outros, por razões diversas. Uma delas é a de 
que o Projeto de Lei que foi aprovado não contou com a participação da 
sociedade civil, dos órgãos de controle, de representantes do Poder Judiciário 
e do Ministério Público. Então muita atenção ao conteúdo aqui tratado! Vamos 
lá! 
 
 
 
 
PROIBIÇÕES DE DECISÕES COM BASE EM VALORES JURÍDICOS ABSTRATOS 
 
No Direito, de uma maneira geral, temos normas-regras e normas 
princípios, ambas sendo válidas como parâmetro de aplicação das normas. 
 
No campo do Direito Administrativo, isso não é diferente. No entanto, 
como a Administração Pública deve obediência à estrita legalidade, não 
podendo fazer nada que a lei não permita, a aplicação das normas assume 
uma feição peculiar. 
 
Em regra, quando o administrador público fará uso de uma norma-
regra, ele deve aplicá-la com base nos princípios de Direito Administrativo. Ou 
seja, se a aplicação da regra violar algum dos princípios, ele deve buscar outro 
modo de aplicá-la. 
 
A princípio, isso parece bom. O problema é que os princípios possuem 
grande caráter de abstração. Ou seja, a depender do caso concreto, o 
administrador público pode dar a aplicação que quiser a determinada norma-
regra dizendo estar amparado em determinada norma-princípio. 
 
Não é que isso não aconteça em outros ramos do direito, mas na seara 
Administrativista, isso é mais flagrante. Assim, editaram o artigo 20 da LINDB, que 
possui a seguinte redação: 
 
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, 
não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos 
sem que sejam consideradas as consequências práticas 
da decisão. 
Parágrafo único. A motivação demonstrará a 
necessidade e a adequação da medida imposta ou da 
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma 
administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. 
 
Como a supremacia do interesse público é uma das pedras de torque 
do Direito Administrativo, as consequências práticas analisadas na decisão 
devem levar em consideração os anseios do povo. Corroborando isso, o 
parágrafo único acima diz que a motivação deve demonstrar a necessidade e 
a adequação do ato. 
 
Ou seja, ao motivar, o administrador público não pode mais decidir com 
base apenas em razões principiológicas. Ele deve avaliar, tendo por base os 
elementos de Direito Administrativo e os que estão nos processos de tomada de 
decisões, quais serão as consequências práticas da medida. 
 
Para alguns, no entanto, o dispositivo é infeliz por não vedar 
absolutamente a aplicação de valores jurídicos abstratos. Afinal, se o 
administrador público, com base exclusivamente nesses, tomar uma decisão 
com análise prévia nos efeitos práticos da mesma, o ato será válido, ainda que 
sem amparo de normas-regras. 
 
Importante apontar que tal decisão se aplica nas esferas administrativa, 
controladora e judicial. Logo, mesmo o juiz deve levar em consideração os 
aspectos práticos ao tomar decisões em processos judiciais que refletem no 
âmbito da Administração Público, como em ações civis públicas. 
 
Assim, podemos afirmar que esse dispositivo também objetivo evitaro 
denominado "ativismo judicial". Afinal, inúmeras são as decisões tomadas pelos 
Tribunais contra as Administrações Públicas com base em valores jurídicos 
abstratos, como os princípios constitucionais. 
 
Para alguns, com a novidade legal, o Legislador reagiu de maneira 
retrógrada à força normativa dos princípios constitucionais. 
 
CRÍTICAS AO ARTIGO 20 
 
 
Os artigos 20 a 30 da LINDB, de uma maneira geral, são bastante 
criticados. Há uma boa corrente que defende que, ao invés de trazerem 
segurança jurídica, como era o objetivo, fizeram o inverso. 
 
Nesse aspecto, sustentam que o Legislador foi infeliz ao introduzir essas 
novidades na LINDB, a começar pelo próprio artigo 20. Este defende que as 
decisões de âmbito administrativo não podem ser tomadas com base em 
"valores jurídicos abstratos". No entanto, diversos novos artigos trazem várias 
expressões abstratas. 
 
Nessa esteira, temos nos novéis dispositivos expressões como 
“segurança jurídica de interesse geral”, “interesses gerais da época”, "modo 
proporcional e equânime”, “obstáculos e dificuldades reais do gestor”, 
“orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado”, dentre outros. 
Tudo isso em apenas onze artigos. 
 
Assim, o próprio Legislador devia ter dado segurança aos novos 
dispositivos, e não uma maior insegurança, através da introdução de diversos 
valores jurídicos abstratos na LINDB. 
 
Além disso, o artigo pode padecer de vício de inconstitucionalidade. O 
tema ainda não chegou ao Supremo Tribunal Federal, mas o Tribunal de Contas 
da União, no Parecer n° 012.028/2018-5, já arguiu a tese. 
 
Segundo o órgão, o dispositivo viola o parágrafo único do artigo 70 da 
Constituição Federal, o qual possui o seguinte texto: 
 
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, 
operacional e patrimonial da União e das entidades da 
administração direta e indireta, quanto à legalidade, 
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções 
e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso 
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de 
controle interno de cada Poder. 
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou 
jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, 
gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos 
ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, 
assuma obrigações de natureza pecuniária. 
 
Ou seja, segundo o Tribunal, o artigo está invertendo o ônus da prova 
de maneira irregular, pois ele pertence originalmente ao administrador público. 
Afinal, o agente público, quando pratica o ato, deve demonstrar quais as outras 
alternativas possíveis, escolhendo, dentre elas, a melhor. 
 
Além dessa, o Tribunal de Contas invoca outra razão: o julgador deve 
decidir com base nos elementos constantes nos autos. Logo, não pode a norma 
determinar que o juiz analise as possibilidades para o caso concreto. Ainda de 
acordo com o órgão, corroborando e trazendo à tona a realidade prática, nem 
mesmo órgãos administrativos judicantes, como a própria Corte, conhecem a 
realidade de cada órgão e entidade pública por completo.

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