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APOSTILA_HEXAG MEDICINA

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Prévia do material em texto

2U.T.I.Unidade Técnica de ImersãoCCIÊNCIASHUMANAS
H
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados
Autores
Celso Vieira Junior
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica 
Hexag Sistema de Ensino
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Eder Carlos Bastos de Lima
Iago Maciel Kaveckis
Letícia de Brito
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva
Projeto gráfico e capa
Raphael Campos Silva
Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)
Impressão e acabamento
PSP Digital Gráfica e Editora LTDA
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o 
ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição 
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre 
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-
quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2019
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
CARO ALUNO
Você está recebendo o segundo caderno da U.T.I. (Unidade Técnica de Imersão) do Hexag Vestibulares. Este 
material tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 3 e 4, oferecendo uma 
seleção de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre 
pronto a realizar as provas de segunda fase dos vestibulares.
Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando ainda 
mais a compreender os itens que, eventualmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram 
esquecidos. 
Aproveite para aprimorar seus conhecimentos.
Bons estudos!
Herlan Fellini
C
HISTÓRIA
H
História Geral0 2
U.T.I.
SUMÁRIO
U.T.I. - CIÊNCIAS HUMANAS 
E SUAS TECNOLOGIAS 
HISTÓRIA 
História Geral 5
História do Brasil 37
ENTRE PENSAMENTOS E ENTRE SOCIEDADES 
GEOGRAFIA 
Filosofia 69
Sociologia 93
Geografia 1 139
Geografia 2 159
C
HISTÓRIA
H
História Geral0 2
U.T.I.
7
Renascimento cultuRal e 
tRansição paRa a idade modeRna
As importantes transformações econômicas, sociais, políticas, artísticas e culturais que a Europa experimen-
tou entre os séculos XI e XIV promoveram uma gradativa reorganização estrutural e o redimensionamento do seu 
entendimento do mundo, no qual os saberes técnicos e filosóficos ganharam destaque dentro das renascentes 
cidades comerciais.
No bojo dessas mudanças, o renascimento urbano, oriundo da dinamização comercial, assistiu ao surgi-
mento de uma nova classe social: a burguesia mercantil. Coube a essa classe a unificação dos Estados nacionais 
e dinamizar a economia internacional, em cooperação, a princípio, com as monarquias. Em termos culturais, o pe-
ríodo é marcado pela negação dos valores medievais e o surgimento do chamado Renascimento Cultural, a partir 
do século XIV. Os homens do Renascimento paulatinamente separaram o mundo da religião do centro das suas 
preocupações, a ponto de abraçarem ideais humanistas. Contudo, o respeito à religião, diferente do que se pensa, 
na maior parte das vezes foi mantido.
Comércio medieval: surgimento das cidades modernas
A prática de mecenato foi fundamental para 
se compreender a criação e a difusão das obras re-
nascentistas. Tal prática consiste no financiamento 
de artistas e intelectuais pela burguesia mercantil da 
época. Esta queria representar seu nascente poder 
econômico e político em obras filosóficas e artísti-
cas, promovendo enormes dispêndios nas mentes 
brilhantes do período. É evidente que outros grupos 
sociais, como o clero, recorriam aos intelectuais do 
período, mas não na mesma escala em que a bur-
guesia o fazia.
De uma maneira geral, a cultura renascentista nega e se opõe aos valores clericais teocêntricos e dogmáti-
cos medievais, com destaque a tais características:
 § Antropocentrismo: valorização de temas do cotidiano humano, da realidade vivida dentro das cidades 
europeias. Sem se esquecer da importância divina, o pensamento passa a se ater à realidade secularizada 
do Homem e não aos dogmas sacralizados.
 § Racionalismo: o conhecimento da realidade deveria ser pautado pela razão humana, isto é, do que conse-
guimos captar da realidade a partir de nossos sentidos. A observação científica, os métodos experimentais 
e a organização racional da vida social alimentariam uma vida humana menos teológica.
 § Negação dos valores medievais: com os desenvolvimentos técnicos e científicos do período, instituições 
medievais passaram a perder importância social. A própria filosofia escolástica, que primava pela concilia-
ção entre fé e razão, viu-se desdenhada por diversos renascentistas.
 § Valorização da cultura clássica: tanto na arte quanto na filosofia, os renascentistas buscaram uma 
reaproximação ao humanismo e racionalismo greco-romanos.
 § Individualismo: o Renascimento refletiu a realidade do capitalismo nascente, que estimulava o individua-
lismo, a concorrência, o acúmulo de riquezas e a criatividade.
8
 § Naturalismo: ao individualizar e decompor as 
partes, chegou-se à aguda análise e percepção 
da natureza.
 § Hedonismo: valorização do prazer e da felici-
dade terrenas, sem medo de pecar ou da puni-
ção divina.
Homem Vitruviano, de Leonardo Da Vinci
Não foi por acaso que o Renascimento teve 
origem na Itália. Exatamente lá o capitalismo mer-
cantil ganhou forças para se desenvolver – renasci-
mento comercial e urbano. A península Itálica era o 
centro do ativo comércio mediterrâneo, que interli-
gava os entrepostos orientais à rota de Champagne 
e do mar do Norte. Os centros urbanos tornaram-se 
ativos, onde germinavam grandes companhias co-
merciais e grupos financeiros.
Com uma economia dinâmica, mercantil, ge-
radora de excedentes que pudessem ser investidos na 
produção cultural, houve condições para o Renascimen-
to. Com o desenvolvimento mercantil nasceu uma nova 
classe social: a burguesia italiana, que buscava projeção 
social e legitimação de seus valores. A partir disso, mo-
bilizar capitais para o patrocínio de artistas e intelectu-
ais foi um passo.
Na literatura, destaca-se Dante Alighieri, com 
a sua principal obra A divina comédia, revolucionária 
por ter sido escrita em dialeto toscano e não no eru-
dito latim. No âmbito da filosofia política, há Nicolau 
Maquiavel, autor de O príncipe, considerado por muitos 
o pai da ciência política moderna por recolocar a ra-
cionalidade na política e alijar preceitos teológicos. Na 
arte, há figuras notáveis como Giotto, Sandro Botticelli 
e Michelangelo.
Porém, nenhuma outra figura ganhou tamanha 
importância e relevo histórico do que Leonardo Da Vin-
ci. Cientista, engenheiro, excelente artista, especialista 
em fortificações e em artilharia, inventor, anatomista e 
naturalista, transferiu para suas pinturas a cuidadosa 
observação da natureza, combinada com uma poderosa 
percepção psicológica.
Renascimento científico
O pensamento renascentista estimulou as ciên-
cias, os estudos da natureza e a busca de explicações 
racionais para os fenômenos naturais. Em oposição aos 
dogmas e verdades incontestáveis impostas pela fé, fo-
ram estimulados o conhecimento racional, a observação 
e a experiência comofontes de conhecimento.
Nicolau Copérnico negou a teoria geocêntrica 
(a Terra como centro do universo), na obra De revolutio-
nibus orbium celestium (Sobre a revolução dos globos 
celestes), propondo o heliocentrismo, segundo o qual 
o Sol sim é o centro, em torno do qual giram a Terra e 
todos os outros planetas.
Essa teoria foi confirmada pelo italiano Galileu 
Galilei, que se serviu de uma luneta para estudar os 
movimentos dos astros e acabou descobrindo os saté-
lites de Júpiter. É importante lembrar de que Galileu foi 
julgado pelo Tribunal da Inquisição por confirmar o he-
liocentrismo. Para escapar da pena de morte, abriu mão 
de suas ideias, negando-as publicamente.
O alemão Johannes Kepler fez estudos sobre 
o movimento dos astros e observou as órbitas dos pla-
netas em torno do Sol, comprovando que são elípticas 
e não circulares, como se imaginava até então. Os es-
tudos do corpo humano intensificaram-se, estimulando 
descobertas e avanços na medicina.
Leonardo da Vinci realizou estudos de anato-
mia humana, assim como o médico flamengo André 
Vesálio, que pesquisou o corpo humano pela disseca-
ção de cadáveres.
O francês Ambroise Pare descobriu uma nova 
9
maneira de estancar hemorragias, enquanto o médico espanhol Miguel de Servet descreveu o mecanismo da 
pequena circulação.
Merecem destaque, também, o suíço Paracelso (pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bom-
bastus von Hohenheim), que abriu caminho para a doutrina dos medicamentos específicos e da farmacologia, e o 
médico inglês Willian Harvey, que descobriu o retorno do sangue ao coração pelos vasos sanguíneos.
RefoRma e contRaRRefoRma
O mundo passou por grandes transformações na 
transição da Idade Média para a Idade Moderna, com 
especial destaque para a Europa, onde ocorreram o re-
nascimento comercial e urbano, o desenvolvimento do 
capitalismo, o fortalecimento das monarquias nacionais 
e o renascimento cultural.
Estas transformações geraram modificações na 
visão de mundo dos homens e criaram uma realidade 
que se desconectava da Igreja católica, alicerçada em 
bases medievais, as quais condenavam, por exemplo, o 
lucro e a usura, elementos fundamentais do capitalis-
mo nascente, gerando atritos com a burguesia. Havia 
problemas de relacionamento entre a Santa Sé e os reis 
absolutistas, que não mais admitiam interferência em 
seus estados nacionais.
O desenvolvimento do capitalismo e dos Esta-
dos nacionais provocou um natural enfraquecimento do 
poder da nobreza, que passou a cobiçar as terras da 
Igreja como alternativa de reforçar seu poder. O com-
portamento de membros do clero passou a ser alvo de 
críticas contundentes com o objetivo de contestar a 
Igreja católica, enfraquecendo-a e abrindo espaço para 
a quebra de sua hegemonia.
Inserida nesse contexto, a reforma religiosa 
foi responsável pela quebra da unidade cristã oci-
dental e o fim da hegemonia da Igreja católica na 
Europa, bem como pelo surgimento de novas Igrejas 
integradas às novas realidades para a burguesia e os 
monarcas absolutistas.
Denomina-se Reforma o movimento de revolu-
ção espiritual da época moderna, uma profunda revisão 
religiosa e política que, no século XVI, deu origem ao 
protestantismo. Uma das causas importantes da Re-
forma foi o chamado humanismo evangelista, que era 
profundamente crítico da forma em que o catolicismo 
operava e, portanto, defensor de uma renovação para 
aproximá-lo do cristianismo primitivo.
Havia um enorme abismo entre o que a Igreja 
católica pregava e o que fazia. Os membros da alta 
hierarquia do clero viviam luxuosamente, totalmente 
alheios ao povo. O voto de castidade era habitualmen-
te esquecido, causando escândalos entre a população. 
Vendiam-se as relíquias sagradas (objetos supostamen-
te tocados por Cristo, Maria ou santos) e cargos eclesi-
ásticos, práticas conhecidas como simonia.
Mas o comércio de indulgências foi o abuso 
que promoveu maior reação. As indulgências eram docu-
mentos assinados pelo papa, que absolviam o compra-
dor de alguns pecados cometidos, diminuindo o tempo 
de sua pena no purgatório. Outra importante razão que 
impulsionou o movimento reformista foi a formação das 
monarquias nacionais. Na época do feudalismo, a Euro-
pa se apresentava fragmentada em inúmeros pequenos 
feudos, onde as relações com as regiões vizinhas eram 
pouco comuns. As pessoas de então não tinham uma 
consciência muito clara de nacionalidade, isto é, não se 
imaginavam habitantes de um país. Nos séculos XV e 
XVI, formaram-se nações com um rei que exercia total 
autoridade sobre os limites do território. As pessoas que 
aí habitavam falavam a mesma língua e tinham consci-
ência de sua nacionalidade. A Igreja, por possuir terras 
e propriedades espalhadas por toda a Europa, passou a 
ser considerada uma potência estrangeira. Lentamente, 
começou a se formar uma reação contra as possessões 
eclesiásticas e a arrecadação de impostos ou taxas pelo 
clero, que os remetia para Roma. Essa situação motivou 
o declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação pas-
saram a ser mais importantes.
10
A ascensão da burguesia é outra causa não 
menos importante da Reforma. A burguesia precisava 
mudar os dogmas da Igreja católica que proibiam o lu-
cro e a usura. Ela precisava de uma nova religião, que 
justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse novas 
atividades ligadas ao comércio.
Na ideologia católica, a única forma de rique-
za era a terra. O dinheiro, o comércio e as atividades 
bancárias eram práticas pecaminosas, indignas de um 
cristão. Trabalhar para satisfazer as necessidades era 
justo, mas fazê-lo para lucrar, que é a essência do ca-
pital, era pecado.
A doutrina protestante, criada pela Reforma, 
pregava exatamente o oposto destas ideias. A riqueza, 
materializada principalmente no dinheiro, era um dom 
de Deus. A doutrina estabelecida pela Reforma estava 
perfeitamente adequada aos anseios da nova classe 
burguesa, que se encontrava em fase de expansão.
PRinciPais veRtentes 
do PRotestantismo
Luteranismo
A reforma religiosa teve início no Sacro Império 
Romano-Germânico, em parte da atual Alemanha, sob 
a liderança de Martinho Lutero (1483-1546). Filho 
de camponeses, nascido na Saxônia, cursou Filosofia 
na Universidade de Erfurt, quando se tornou monge, 
ingressando na Ordem de Santo Agostinho, em 1505. 
Em 1512, doutorou-se em Teologia e passou a lecionar 
na Universidade de Wittenberg. Lutero se incomodava 
com o comportamento de integrantes do clero e com o 
apego aos bens materiais por parte da Igreja.
Para ele e seus seguidores, a salvação da alma 
não se alcança pelas obras, mas pela fé, pela confiança 
na bondade de Deus e pelo sofrimento interior do fiel. 
Sendo assim, o culto às imagens sacras ou quaisquer 
símbolos objetivos é rechaçado pelo luteranismo: a fé re-
sidiria na consciência de cada cristão. Daí o feito inédito 
de Lutero de ter traduzido a Bíblia do latim para o idioma 
alemão. O fiel passaria a prescindir do sacerdote para en-
trar em contato e interpretar a palavra divina, o que aju-
da a reforçar o caráter individualizante do luteranismo.
Bíblia traduzida para o alemão, por Lutero
Pelas profundas mudanças pregadas, Lutero 
foi combatido pelo papado e pelo imperador Carlos 
V, na Dieta de Worms (1521), e só não foi exe-
cutado por refugiar-se na Saxônia, junto ao duque 
Frederico, o sábio. O cerco católico aumentou sobre 
os nobres protestantes, em 1529, quando o mesmo 
Carlos V impôs o catolicismo a todos os príncipes, 
que prontamente se rebelaram, recebendo a alcunha 
de protestantes.
Como resposta, em 1530, através da Confis-
são de Augsburgo, Melanchton constituiu a nova 
Igreja protestante, assim como a formação de laços 
sólidos entre os príncipes protestantes contra o impe-
rador católico. Finalmente, em 1555, uma nova Dieta 
de Augsburgo pôs fim ao conflito religioso alemão, 
permitindo aos príncipes e seus súditosliberdade de 
escolha religiosa.
Calvinismo
Aproveitando-se da relativa paz religiosa na 
Suíça, o discípulo do luteranismo e francês João Cal-
vino publicou uma série de obras na defesa do protes-
tantismo, sendo a mais conhecida a instituição cristã 
(1534). Calvino manteve as premissas básicas de Lutero 
inalteradas, embora as tenha radicalizado no âmbito es-
piritual e institucional. A sua Reforma implantou uma 
11
censura rígida na cidade de Genebra, agindo de forma 
intolerante contra os potenciais adversários.
Contudo, as ideias de Calvino foram rapidamente 
espalhadas pelo continente europeu, uma vez que sua 
doutrina casou-se harmonicamente com os preceitos 
burgueses de acumulação material. O ponto central do 
calvinismo é a sua doutrina da predestinação, na qual 
alguns indivíduos receberiam a bênção da salvação e os 
demais, a maldição eterna. Os sinais da predestinação 
seriam visíveis na fruição de bens materiais ou cargos 
de prestígio. Logo, quanto mais abastado o indivíduo, 
mais evidente que sua alma se salvará.
Práticas burguesas condenadas pela Igreja cató-
lica, como a usura e o estímulo ao trabalho, seriam não 
só legítimas, mas benquistas pelos adeptos do calvinis-
mo. Por isso, diversos agrupamentos calvinistas surgi-
ram na Europa ocidental, sendo os huguenotes france-
ses e os puritanos britânicos exemplos de destaque.
Anglicanismo
A reforma religiosa na Inglaterra teve um cará-
ter extremamente político. Conduzida pelo rei Henrique 
VIII, levou à formação de uma Igreja nacional, que ser-
viu de instrumento de consolidação do absolutismo real 
no país.
O poder econômico da Igreja católica e sua in-
fluência na Inglaterra fugiam ao controle do Estado. A 
Igreja acumulava riquezas através de tributos impostos 
à população e o clero ampliava cada vez mais seus do-
mínios e suas rendas oriundas das vastas terras. Esta 
situação provocava um forte sentimento antipapal nos 
meios políticos do país.
Em 1530, o rei inglês Henrique VIII solicitou a 
anulação de seu casamento com Catarina de Aragão 
ao papa Clemente VII, pois desejava casar-se com Ana 
Bolena, sob a justificativa de sua esposa não lhe dar um 
filho homem para herdar o trono. Diante da negação 
papal, o rei deu início a um processo de ruptura com a 
Igreja católica na Inglaterra.
O soberano aproveitou as questões relacionadas 
a seu casamento para acabar com o poder da Igreja ca-
tólica na Inglaterra que, de certa forma, concorria com 
seu poder. O parlamento aprovou o Ato de Suprema-
cia, em 1534, colocando a Igreja sob a autoridade do 
rei. Nascia a Igreja nacional inglesa – a Igreja anglica-
na, que tinha como chefe supremo o monarca inglês. 
Adotou-se parcialmente a doutrina calvinista, manten-
do, porém, a hierarquia episcopal e a formalidade do 
catolicismo no culto.
Henrique VIII
Os bens da Igreja católica foram confiscados, 
passando para as mãos da nobreza. Assim, os barões 
ingleses viram suas terras aumentadas a ponto de faci-
litar a expansão da criação de ovelhas, num momento 
em que a lã começava a ser procurada pelas manufatu-
ras de tecidos.
contRaRRefoRma
Jesuítas na América: educação e utilização de trabalho indígena
A Reforma protestante minou o monopólio das 
almas cristãs no Ocidente. A perda de fiéis se traduzia 
na perda de poder político e econômico, o que impeliu 
a Igreja católica a agir com um conjunto articulado de 
12
medidas contra a expansão protestante, criando então sua Contrarreforma. O conteúdo das reformas, primeira-
mente exposto no Concílio de Trento, em 1530, possuía teor majoritariamente repressivo, embora não somente. 
Eis algumas medidas da Contrarreforma:
 § O combate à corrupção do clero, com a proibição da venda de indulgências e de cargos eclesiásticos, além 
da obrigatoriedade dos clérigos frequentarem seminários antes de sua ordenação.
 § Reativação do Tribunal do Santo Ofício ou Santa Inquisição, com o objetivo de julgar e punir as heresias.
 § A criação do Index Librorum Prohibitorum, uma lista de livros cuja leitura estava proibida aos católicos, 
dentre eles alguma obras de autores renascentistas e de orientação religiosa protestante e calvinista.
 § A busca de novos fiéis, através do estímulo à atuação de ordens religiosas, especialmente no recém-desco-
berto continente americano.
No tocante à busca de novos fiéis, merece destaque a atuação da Companhia de Jesus ou Ordem dos 
Jesuítas, fundada em 1534 por Inácio de Loyola. A ordem era caracterizada pela rígida disciplina e respeito pela 
hierarquia, lembrando uma organização militar, o que fez com que ficassem conhecidos como “soldados de Cristo”.
antigo Regime: absolutismo e meRcantilismo
estado modeRno
Na transição da Idade Média para a Idade Moderna, ocorreu o processo de formação dos Estados mo-
dernos, em contraposição aos domínios feudais, marcados pelo predomínio político do poder local e diretamente 
ligado à posse da terra. Os Estados modernos mantiveram as velhas estruturas feudais, como o predomínio político 
e social da nobreza e do clero, que obtiveram privilégios fiscais e jurídicos, associadas a novos elementos, como a 
centralização do poder político e práticas econômicas intervencionistas, que revelam o fortalecimento das monar-
quias nacionais.
A montagem da estrutura burocrática dos Estados modernos exigia vultosas quantias financeiras, o que 
os incentivava a uma crescente necessidade de tributos diretamente arrecadados e administrados pelo governo 
central. Este também regulava atividades comerciais mediante práticas intervencionistas, fundamentais para impul-
sionar a acumulação de capital por meio do comércio e das atividades artesanais.
Eram características do Estado moderno: território definido, moeda nacional, idioma comum, centralização 
política, organização da burocracia estatal e exército nacional. Os poderes locais da nobreza, por sua vez, seriam 
submetidos à autoridade do monarca, que passou a impor tributos e regras nacionais.
Para garantir a manutenção da autoridade real, os exércitos nacionais eram disciplinados, remunerados e 
diretamente controlados pelos reis, que os usavam para impor sua autoridade e garantir o respeito às suas ordens 
em todos seus domínios, além de garantir a defesa do território contra inimigos externos.
absolutismo
Teóricos e pensadores fundamentaram o poder absolutista, justificando sua origem e o comportamento 
autoritário dos reis. Os principais teóricos do absolutismo foram Nicolau Maquiavel, Jacques Bossuet, Jean Bodin 
e Thomas Hobbes. Cada um possuía suas especificidades e era constantemente relido por aqueles que defendiam 
o abuso pessoal dos monarcas.
13
O Leviatã, de Thomas Hobbes
O autor mais utilizado na defesa do absolutis-
mo foi Hobbes, através de sua obra O Leviatã. Para 
o filósofo, nas sociedades primitivas sem Estado nem 
leis, os homens viviam em conflitos sociais, matando-
-se uns aos outros por motivos banais, conflitos esses 
que comprometiam a própria existência da humanida-
de, fenômeno que inspirou a célebre máxima do autor: 
“o homem é o lobo do próprio homem”. Num raro 
momento de lucidez e em face de um sentimento de 
preservação da espécie, as sociedades organizaram-se 
em forma de Estado e concederam-lhe poderes, a fim 
de que tivesse força suficiente para impor a ordem. 
Contra aquela situação de anarquia, os homens firma-
ram um pacto – o “contrato social” –, renunciaram à 
liberdade e aos direitos em troca de sua conservação. 
Portanto, impõe-se que o Estado seja todo poderoso, 
um Leviatã absolutista para que imponha a ordem so-
cial e garanta a vida.
Absolutismo francês
A consolidação do absolutismo na França sofreu 
graves solavancos devido às guerras religiosas no sécu-
lo XVI, entre huguenotes (calvinistas) e católicos, repre-
sentados então pelo Estado francês. A tensão entre os 
dois grupos acabou se transformando em sangrentos 
conflitos durante o reinado de Carlos IX (1560-1574).Até que Carlos IX completasse a maioridade, a 
regência foi ocupada por sua mãe, Catarina de Médici, 
católica fervorosa e resolvida a exterminar os hugueno-
tes. Em 1572, houve a fatídica Noite de São Barto-
lomeu (24 de agosto), quando foram mortos cerca de 
30 mil huguenotes.
A paz na França só foi restabelecida no reinado 
do Bourbon Henrique IV, mediante o Edito de Nan-
tes (1598), que concedia liberdade de culto e o direito 
de admissão dos protestantes em cargos públicos.
Segundo a tradição da monárquica francesa, so-
mente um católico poderia assumir o trono. Henrique de 
Navarra, que era protestante, só pôde ser coroado Hen-
rique IV depois de se converter ao catolicismo, oportu-
nidade em que supostamente teria dito a famosa frase 
“Paris bem vale uma missa”.
Quando da morte de Henrique IV, Luís XIII as-
sumiu o trono e logo retomou a perseguição aos pro-
testantes dentro de seu território. Porém, externamente, 
apoiou os Habsburgos na guerra dos Trinta Anos (1618-
1648), visando a garantir a hegemonia francesa na Eu-
ropa continental. Com a vitória, a França de fato logrou 
transformar-se na maior potência militar do continente.
Seu sucessor, Luís XIV, é visto como herói pro-
tetor das artes, defensor da Igreja católica, legislador, 
defensor dos fracos contra os fortes. Encarnou o Estado, 
cujos interesses estão acima de todos os individualis-
mos. Conhecido como rei Sol, promoveu a ascensão 
da burguesia, da qual recrutou alguns ministros, como 
Colbert, das finanças. Para controlar a nobreza, atraiu-a 
para a corte e ofereceu-lhe luxo, festas e pensões.
No campo religioso, Luís XIV revogou o Edito 
de Nantes, em 1685, quando o protestantismo foi 
proibido. Cerca de 150 mil pessoas viram-se obriga-
das a abandonar o país. Em seguida, deu um golpe 
na Igreja católica, submetendo-a aos seus desígnios 
e obrigando o clero francês a pagar impostos ao rei. 
Essas medidas visavam reafirmar a autoridade real pe-
rante a população francesa.
Contudo, nos últimos anos do governo de Luís 
XIV e no reinado de Luís XV, a crise do absolutismo só 
fez piorar e assumir proporções catastróficas no gover-
no de Luís XVI, quando, a partir de 1789, o antigo regi-
me foi destituído pela Revolução Francesa.
Absolutismo inglês
Na Inglaterra, a consolidação e o apogeu do 
absolutismo ocorreram durante a dinastia Tudor (1485-
1603), que ascendera ao poder no final da guerra das 
Duas Rosas (1455-1485). Nessa guerra civil, as duas 
mais poderosas famílias da nobreza inglesa – a família 
14
Lancaster, representada por uma rosa vermelha, e a fa-
mília York, por uma rosa branca – disputaram o poder. 
Terminada a guerra, Henrique Tudor, descendente dos 
Lancaster, casou-se com Elizabeth, de York, unindo sob 
sua direção as duas famílias.
Anos mais tarde, seu filho, nomeado Henrique 
VIII, passou a impor seu poder aos nobres feudais, com 
a ajuda da burguesia, carente de apoio na sua expan-
são comercial. A partir desse momento, o poder passou 
a centralizar-se cada vez mais na figura do rei.
Este rei rompeu com a Igreja católica, apoderan-
do-se de todos seus bens e fundando outra Igreja, a an-
glicana. A vitória contra os católicos deu-lhe o controle 
das propriedades eclesiásticas na Inglaterra, fato que 
ampliou ainda mais seu poder perante outros grupos po-
líticos. Após a sua morte, o trono recaiu sob Maria I, uma 
católica fervorosa que praticou inúmeros morticínios em 
nome da sua fé. Porém, o fato de Maria ter se casado 
com Fernando I, rei da Espanha, promoveu inquietações 
na elite inglesa, uma vez que o país ibérico era um dos 
principais concorrentes econômicos da Inglaterra.
Em 1558, Maria morreu e deu lugar à sua irmã e 
filha de Henrique VIII, Elisabeth I. Seu reinado consoli-
dou a Inglaterra como a maior potência do mundo. Con-
seguiu se relacionar pacificamente com o parlamento e, 
simultaneamente, arrefecer as perseguições religiosas 
dentro do território inglês. A agricultura inglesa perde-
ria suas características de agricultura feudal – produção 
de subsistência – e transformou-se em agricultura capi-
talista com interesses ligados ao comércio. O resultado 
desse fenômeno, conhecido como cercamentos (en-
closures), que resultou na expulsão de uma multidão de 
camponeses famintos e miseráveis às cidades inglesas. 
Criavam-se assim as condições favoráveis ao desenvol-
vimento do trabalho assalariado e das manufaturas.
Em 1601, pretendendo exercer mais controle so-
bre os pobres ingleses, Elizabeth I assinou a famosa Lei 
dos Pobres (Poor Law), que os obrigava a trabalhar em 
“oficinas de caridade” que abasteciam de mão de obra 
barata todas as manufaturas inglesas.
meRcantilismo
O mercantilismo foi uma doutrina econômica 
que se traduzia em práticas executadas pelo Estado na-
cional com o objetivo de auferir ganhos e promover o 
seu fortalecimento. No entanto, como contava com a 
burguesia para executar a política econômica, favorecia 
o enriquecimento e, paralelamente, o ganho de poder 
dessa nova classe social.
Sendo assim, o mercantilismo foi uma política 
econômica que representava a aliança entre os monar-
cas e a burguesia comercial. Tais eram as principais prá-
ticas mercantilistas:
 § Metalismo: a riqueza de um país media-se pela 
quantidade de metais preciosos dentro de suas 
fronteiras. Quanto mais ouro e prata houvesse 
no país, mais rico e poderoso ele seria. Com me-
tais preciosos, os governos compravam armas, 
contratavam soldados, construíam navios, paga-
vam funcionários e custeavam as guerras. Para 
acumularem os metais preciosos, era preciso não 
só impedir a saída de ouro e prata, mas provocar 
sua entrada.
 § Balança comercial favorável: esse princípio 
mercantilista está intimamente ligado ao ante-
rior. Consiste em vender mercadorias pelo maior 
valor possível para o exterior e comprar pelo me-
nor valor. O valor total das exportações deveria 
sempre superar o das importações. Essa era uma 
das formas de um país provocar a entrada de 
metais preciosos e de se promover o metalismo.
 § Protecionismo: para manter uma balança 
comercial favorável, o Estado nacional deveria 
incentivar as exportações observando uma série 
de medidas: desvalorização da moeda, proibição 
da exportação de matérias-primas e, principal-
mente, desestímulo às importações, cujas tarifas 
alfandegárias deveriam ser sobretaxadas e caras 
para o consumidor nacional.
 § Sistema colonial (colonialismo): com o 
objetivo de fortalecer o Estado nacional e, con-
sequentemente, o poder do rei, alguns países 
lançaram-se nos séculos XV e XVI à conquista de 
novas terras a fim de fazer crescer suas fontes de 
riquezas. Essa era a função fundamental das co-
lônias da América e da África: enriquecer as me-
trópoles. Das colônias, as metrópoles poderiam 
retirar as mercadorias de que necessitassem, 
metais preciosos e produtos tropicais, e ao preço 
15
que quisessem. Paralelamente, poderiam obrigar a colônia a adquirir produtos manufaturados da metrópole 
ao preço que ela determinasse. A essa relação desigual entre metrópole e colônia deu-se o nome de pacto 
colonial, mediante o qual a balança comercial ficava sempre favorável à metrópole.
 § Monopólios: graças ao pacto colonial, somente a metrópole poderia comercializar com seus domínios. O 
monopólio era condição fundamental para o desenvolvimento do comércio e das manufaturas, uma vez que 
constituía a única forma possível de realizar grandes empreendimentos. Os capitais uniam-se para controlar 
com exclusividade um ramo da produção manufatureira, o comércio de uma localidade ou o comércio colo-
nial. O monopólio, no entanto, pertencia ao Estado que, em troca de pagamento, transferia aos burgueses.
 § Intervencionismo estatal: visava o fortalecimento do poder nacional. O Estado intervinha na economia 
mediante incentivo e proteção das manufaturas, altas tarifas alfandegárias e garantia dos monopólios, da 
fixação de uma políticade controle sobre os salários, os preços e a qualidade das mercadorias. O restabele-
cimento da escravidão na época moderna movimentava grande quantidade de capitais, por isso mesmo era 
uma importante fonte de aceleração da acumulação primitiva de capital, que, ao lado dos demais fatores, 
compunha a etapa de constituição do capitalismo.
Revoluções inglesas do século Xvii e 
Revolução industRial
O Estado absolutista inglês e a política econômica 
mercantilista foram os principais responsáveis pelo gran-
de desenvolvimento econômico alcançado pela Ingla-
terra, que trouxe prosperidade para os grupos ligados à 
atividade mercantil inglesa, como a burguesia comercial 
e financeira, armadores, nobres enriquecidos com a políti-
ca dos “cercamentos” e corsários. No seio desses grupos 
mercantis, crescia a religião puritana, mais sintonizada 
com os anseios burgueses. Já entre a nobreza tradicional, 
prevaleciam o catolicismo e o anglicanismo.
Em 1603, com a morte da rainha Elisabeth I, deu-
-se o fim da dinastia Tudor, uma vez que a rainha não 
deixou herdeiros. Em virtude do parentesco, o trono in-
glês foi entregue ao rei da Escócia, Jaime I, que deu início 
à dinastia Stuart. O novo monarca inglês defendeu a 
implantação de um regime absolutista fundamentado na 
Teoria do Direito Divino e se aliou à nobreza anglicana 
como forma de viabilizar seu fortalecimento político.
Os resultados foram intensos confrontos com 
o parlamento, que o renegava por sua nacionalidade 
escocesa, além de violentas perseguições a católicos e 
puritanos, que incentivaram a emigração dos puritanos 
para a América, a partir de 1603.
O sucessor de Jaime I, seu filho Carlos I (1625-
1648), intensificou os conflitos, especialmente com o 
parlamento, majoritariamente burguês e puritano. Re-
voltoso, os parlamentares travavam qualquer tentativa 
do monarca criar novos impostos, fazendo com que 
Carlos I o dissolvesse. O parlamento só foi reaberto em 
1640, quando o rei necessitou convocá-lo a título de 
obter aprovação de mais recursos ao exército, que luta-
va contra revoltosos presbiterianos escoceses.
Brasão Stuart
16
Logo após sua reabertura, Carlos I tentou fechar 
o parlamento. Dessa vez, no entanto, foi impedido pelos 
deputados e pela população de Londres. O desfecho da 
situação criada por Carlos I mobilizou os cavaleiros, e os 
“cabeças redondas”. Cavaleiros constituíam as tropas 
reais, composta de católicos e anglicanos ligados à no-
breza tradicional, que defendiam o regime absolutista. 
Já os “cabeças redondas” eram constituídos por par-
lamentares, burgueses, puritanos e parcela da nobreza 
progressista, isto é, grupos ligados aos interesses do 
capitalismo comercial.
Liderados por Oliver Cromwell, os “cabeças 
redondas” obtiveram seguidas vitórias que propiciaram 
a vitória na guerra civil. Com a ascensão de Cromwell 
ao poder, houve a queda da monarquia e a proclamação 
da República. O rei Carlos I foi preso e executado, selan-
do a vitória da Revolução Puritana (1649).
Com a República, começou a segunda fase da 
Revolução Gloriosa, a Commonwealth, ou seja, a 
ideia de comunidade britânica. Surtos nacionalistas re-
giam o governo Cromwell, a exemplo de seu Ato de Na-
vegação (1651), que garantia monopólio de embarca-
ções inglesas nos atos de importação do país. A medida 
provocou conflito militar com os países baixos, tendo a 
Inglaterra superado seus rivais.
A morte de Cromwell, que governou ditatorial-
mente, gerou instabilidade política, visto que seu suces-
sor e filho Richard não lograva de reputação junto ao 
corpo militar. O parlamento, temeroso de revoltas popu-
lares, em 1660, ajudou a empossar Carlos II, filho do rei 
decapitado, Carlos I, que prometeu governar mantendo 
a tolerância religiosa e respeitando o parlamento e as 
relações de propriedade.
Contudo, Carlos II converteu-se publicamente ao 
catolicismo, provocando o descontentamento da popu-
lação e a retomada da luta por parte do parlamento. 
Seu sucessor, Jaime II, continuou o processo de repres-
são absolutista católica, até que o parlamento revoltou-
-se e chamou Maria Stuart e seu marido, Guilherme 
de Orange, dos Países Baixos, para assumir o governo 
em lugar do rei, que fugiu à França, dando início à Re-
volução Gloriosa.
Guilherme só foi proclamado rei depois de se 
submeter à Declaração de Direitos, que foi aceita 
pelo rei, em 1689. Essa declaração eliminava a censura 
política e reafirmava o direito exclusivo do parlamen-
to de estabelecer impostos e de apresentar livremente 
petições. O recrutamento e a manutenção do exército 
somente seriam admitidos com a aprovação do parla-
mento. As reuniões parlamentares e as eleições seriam 
regulares; o orçamento anual seria votado pelo parla-
mento; as contas reais seriam controladas por inspe-
tores e os católicos seriam afastados da sucessão. Em 
1694, foi criado o Banco da Inglaterra, com o que se 
organizou o tripé fundamental para o desenvolvimento 
do capitalismo na Inglaterra: Parlamento, Tesouro e 
Banco da Inglaterra.
Revolução industRial
Indústria em Manchester, na Inglaterra
A Revolução Industrial é um processo histórico 
de profundas mudanças técnicas, econômicas, sociais e 
culturais, sendo, portanto, um conceito bastante amplo. 
Contudo, deve ser analisada nos termos de sua forma-
ção. Como qualquer fenômeno histórico, não surgiu de 
imediato, mas de um processo longo e encadeado de 
relações materiais e intelectuais.
Em termos técnicos, a Revolução Industrial teve 
seu germe na manufatura, resultado da ampliação 
do consumo, o que levou muitos artesãos a aumenta-
rem sua produção, bem como muitos comerciantes a 
se dedicarem à produção. Nesse caso, o comerciante 
manufatureiro distribuía a matéria-prima para que os 
artesãos trabalhassem em suas casas, recebendo pelo 
trabalho um pagamento previamente combinado. Com 
isso, a produtividade do trabalho aumentou devido à 
divisão social da produção, isto é, cada trabalhador se 
especializava em apenas uma etapa da produção.
A maquinofatura foi a etapa final. Nela, o 
trabalhador estava submetido ao regime de funciona-
mento da máquina e à gerência direta do supervisor. 
Com a introdução da máquina e a perda total da inde-
17
pendência dos trabalhadores, consolidava-se o que se 
denominou Revolução Industrial.
Temporalmente, a Revolução Industrial foi um 
fenômeno inglês, depois espalhando-se pela Europa. As 
razões para o pioneirismo inglês podem ser sintetizadas 
nestes tópicos:
 § Acumulação primitiva de capital: a rique-
za produzida pelo comércio de seus produtos 
manufaturados, aliada às vantagens militares e 
comerciais do Estado inglês, propiciou o enrique-
cimento da burguesia e do Estado inglês.
 § Supremacia naval: após o Ato de Navegação 
e a vitória contra os Países Baixos, o império bri-
tânico conquistou protagonismo no transporte 
de mercadorias.
 § Dotação natural: requeria novas fontes de 
matéria-prima e de energia, que eram encontra-
das em profusão no subsolo inglês, como carvão 
e ferro; o algodão para as tecelagens era prove-
niente das áreas coloniais, como os atuais Esta-
dos Unidos, e a lã era encontrada nos campos 
britânicos e nas colônias.
 § Cercamentos: a política de cercamentos permi-
tiu o aumento da criação de ovelhas nos campos, 
fornecendo lã à indústria e, concomitantemente, 
povoou as cidades com trabalhadores livres para 
operar a maquinaria industrial. Tinha-se, portan-
to, insumos e trabalho a preços baixos.
 § Instituições modernas: a concretização da 
Revolução Gloriosa colocou a burguesia como 
classe dominante na Inglaterra. Com ela, veio 
a garantia à propriedade privada, o desen-
volvimento de bancos de financiamento, de 
bolsas de valores, operações de seguro e uma 
multiplicidade de leis e órgãos que garantissem 
o cumprimento dos contratos.
 § Desenvolvimento técnico: inúmeras inven-
ções foram financiadas pelas universidades, pelosindustriais e pelo parlamento inglês. A conhecida 
máquina a vapor, por exemplo, foi rapidamente 
implantada em diversas indústrias inglesas.
 § Ética protestante: a consagração da ética 
protestante foi decisiva para motivar os agentes 
econômicos, visto que o sucesso material seria 
sinônimo de dádiva divina, diferentemente da 
ética econômica católica, sempre crítica à acu-
mulação de riquezas.
Todas as transformações citadas repercutiram 
em alterações sociológicas profundas nas sociedades 
industriais, como no caso da Inglaterra. O trabalhador 
livre e assalariado (proletário) vendia sua força de tra-
balho no mercado ao industrial (burguês) quase sempre 
a salários baixíssimos. Com a riqueza recebida, o traba-
lhador mal conseguia se reproduzir enquanto animal, 
isto é, comer e se abrigar. Com isso, inúmeras revoltas 
proletárias surgiram no esteio da Revolução Industrial.
O ludismo, movimento de quebra de máquinas, 
na Inglaterra, foi um dos primeiros atos contra a fero-
cidade da industrialização. Contudo, foi brutalmente 
reprimido pelo parlamento britânico.
Mais tarde, o cartismo ganhou força nas ca-
pitais industriais britânicas. Tal movimento reivindicava 
melhores condições de trabalho, ampliação do direito 
de sufrágio a todos os homens, melhorias salariais e 
direito de se representar no parlamento. O fato de as 
reivindicações serem feitas por meio de cartas ao parla-
mento foi o que deu nome ao movimento.
iluminismo e independência dos eua
iluminismo
As origens do movimento iluminista estão na Revolução Científica, do século XVII, período em que ocor-
reram grandes progressos na Filosofia e na Ciência (Física, Química, Matemática e Mecânica), com destaque para 
o crescente desenvolvimento e difusão do método experimental.
18
Consiste na veemente crítica ao modo de pensar 
medieval. O pensamento iluminista busca compreender 
os fenômenos naturais e sociais através da racionalida-
de e da ciência. Trata-se de uma progressiva e poderosa 
crítica aos paradigmas teológicos que regiam a visão 
de mundo medieval. Iluminar-se significa racionalizar a 
relação entre o homem e o mundo.
Politicamente, resultou em teorias liberais e 
republicanas, como as de John Locke, Jean Jacques 
Rousseau e barão de Montesquieu. A despeito de suas 
divergências conceituais, tais autores preconizavam a 
liberdade e a igualdade na política, oferecendo duras 
críticas ao absolutismo. Na ciência, houve o desenvol-
vimento do cálculo diferencial e integral, com a centra-
lidade na figura de Isaac Newton. O período também 
presenciou o surgimento da ciência econômica, com 
Adam Smith, em 1776.
Tamanhas mudanças só foram possíveis, dentre 
outras razões, graças à ascensão política e social da bur-
guesia. Por essa razão, o iluminismo será a corrente filo-
sófica burguesa por excelência, mesmo que dele tenham 
surgido muitos movimentos de contestação política ao 
mundo burguês. Ideais iluministas estão no conjunto de 
fatores que impulsionaram processos de independência 
na América e revoluções em toda a Europa.
indePendência dos eua
Como no período mercantilista se dava impor-
tância excessiva ao comércio de especiarias tropicais, 
o governo inglês não se preocupou em implantar uma 
grande exploração colonial, como Portugal e Espanha 
promoveram na América latina. Essa relação política da 
Inglaterra com sua colônia, fora dos padrões mercanti-
listas típicos da época, permitiu que os colonos obtives-
sem maior grau de autonomia.
A economia das colônias conseguiu mais lucros 
e mais experiência financeira ao se relacionar direta-
mente com regiões do Caribe, Europa e África sem a 
interferência do poder britânico. Esses contatos em for-
ma de triângulos comerciais eram feitos com as colônias 
inglesas, que exportavam peixe, madeira e gado para 
as Antilhas, de quem compravam açúcar, melaço e rum 
para revenda na Europa, onde compravam mercadorias 
manufaturadas. Da África compravam-se negros, reven-
didos como escravos nas Antilhas ou nas colônias do 
Sul, a troco do rum como moeda.
As colônias da Nova Inglaterra e as do centro 
tinham mais identidade com a ideologia da Ilustração, 
uma vez que contavam, entre sua população, com exi-
lados intelectuais, críticos do absolutismo europeu, bem 
como fugitivos protestantes. Nessas colônias houve a 
adoção do trabalho livre assalariado, que aumentava a 
produtividade do trabalhador em relação a do escravo, 
bem como contribuía com a formação de um mercado 
consumidor mais ativo.
Já nas colônias sulinas, estabeleceu-se a plan-
tation, organização bastante semelhante à plantation 
brasileira, mas sem o monopólio comercial e a comple-
mentaridade do pacto colonial. Eram, assim, voltadas 
para o mercado externo e contavam com a monocultura 
do algodão, do fumo e do anil como principais ativida-
des econômicas.
Diante dessas diferenças, o comércio entre as 
duas zonas não só foi possível, como bastante intenso. 
Ambos enriqueceram com o processo, mas como fora 
dito, com o destaque para o Sul. Diante de um cenário 
de relativa liberdade política e econômica, quais seriam 
as causas, então, da emancipação das colônias?
No século XVIII, a economia britânica entrou 
em choque com a francesa e o governo inglês buscou 
conquistar áreas em várias partes do globo terrestre 
que pertenciam aos Bourbons, como aquelas loca-
lizadas nas Índias Orientais e na América do Norte. 
Para tal, na América, recebeu ajuda dos colonos para 
derrotar os franceses, o que não foi difícil, pois os es-
tadunidenses já pretendiam ocupar terras próximas 
aos Apalaches.
Em troca do apoio, a coroa britânica prometeu 
ceder terras aos colonos que lutassem sob a liderança 
militar de George Washington. No entanto, os britânicos 
não cumpriram o trato, ludibriando os colonos.
Além disso, com o intuito de buscar capital para 
pagar as dívidas contraídas com a guerra dos Sete Anos 
(1756-1763), a Inglaterra iniciou uma política de au-
mento excessivo da exploração sobre as treze colônias 
por intermédio de leis que se assemelhavam ao pac-
to colonial, o qual, se implantado, destruiria a relativa 
liberdade econômica dos colonos, ou seja, seria o fim 
da negligencia salutar, da negligência britânica ao 
desenvolvimento de suas colônias.
19
A Lei do Açúcar (Sugar Act) de 1764 pode ser 
um indicativo da tentativa britânica de implantação do 
monopólio comercial próprio do pacto colonial mercan-
tilista, aumentando excessivamente os impostos alfan-
degários. Esta lei proibiu as treze colônias de comprar 
açúcar e melaço das Antilhas, que eram produtos bara-
tos e de excelente qualidade em relação ao de beter-
raba inglês que os colonos, nesse momento, estavam 
forçados a comprar.
Também, em 1764, foi implantada a Lei da Mo-
eda (Currence Act), que proibiu a emissão de moeda 
pelos colonos, o que provocou uma crise econômica 
com a elevação dos preços de produtos agrícolas – base 
da economia sulista.
A Lei do Selo (Stramp Act), criada em 1765, 
impunha aos colonos a obrigatoriedade de selar ou ca-
rimbar os inúmeros papéis ou documentos de circulação 
na colônia, pagando um imposto para a coroa. Outro 
problema originou-se quando o governo inglês criou 
a Lei do Aquartelamento ou do Alojamento, de 
1765, que consistia na exigência inusitada de que os 
colonos deveriam pagar a estadia dos soldados ingleses 
em território estadunidense nas missões militares de 
repressão sobre os próprios colonos, que obviamente 
intensificaram mais ainda as rebeliões.
A política de exploração britânica continuou, 
em 1767, com as Leis Towshend, que consistiam, no-
vamente, em exigir que os colonos pagassem taxas à 
Inglaterra quando importassem mercadorias vendidas 
pela própria Inglaterra.
A Lei do Chá (Tea Act) de 1773, que previa 
o estabelecimento do monopólio do comércio desse 
produto à população estadunidense pelo governo in-
glês, desencadeou uma reação inusitada dos colonos:lançar diversos carregamentos de chá da metrópole ao 
mar. Essa rebelião foi denominada de Festa do Chá 
de Boston (Boston Tea Party) e provocou dura reação 
do império britânico, que promulgou a Lei dos Intole-
ráveis. A Inglaterra fechou o porto de Boston, ocupou 
Massachusetts e cobrou altíssimas indenizações. Os es-
tadunidenses estavam sufocados e passaram a trilhar 
um caminho de enfrentamento legal ou militar com os 
britânicos, o que desembocou na luta pela soberania.
À medida que a exploração inglesa mostrava-se 
mais abusiva, os colonos influenciados e liderados por 
ideólogos como Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, 
Samuel Adams, Thomas Paine e Charles Dickson, cria-
ram a chamada Convenção da Filadélfia, em 1774. 
Dois anos após sua fundação e ainda sob certos impas-
ses, em 1776, suscitou textos, como o Common Sen-
se, de Thomas Paine, que clamava pela revolta armada 
como um direito pela liberdade republicana e cidadã 
contra um governo despótico.
Em 4 de julho de 1776, elaborada pelos repre-
sentantes da Virgínia, foi publicada a Declaração de 
Independência, redigida por Thomas Jefferson. Com 
a separação instituída, o líder militar George Washing-
ton foi indicado pelo parlamento para ser o primeiro 
presidente dos Estados Unidos. A Declaração de Inde-
pendência tornou-se a espinha dorsal da Constitui-
ção de 1787. Adotou ideias iluministas como a repú-
blica, o presidencialismo, a divisão dos três poderes e 
o voto censitário.
Revolução fRancesa
As sociedades da Era Moderna eram estamentais, mas também continham o germe da sociedade de classes. 
A ascensão da burguesa era resultado do desenvolvimento do capitalismo comercial. Essa classe social apresentava 
duas tendências marcantes: ou procurava ingressar na nobreza por meio da compra de títulos, ou tentava se impor 
a partir de critérios econômicos de hierarquização social, em substituição ao critério do nascimento.
Por outro lado, o desenvolvimento manufatureiro criara uma nova classe de trabalhadores urbanos, que 
teria enorme importância nos movimentos revolucionários dirigidos pela burguesia. No campo, reformas formaram 
uma classe de pequenos produtores independentes, ávidos por se livrarem dos encargos feudais.
20
Na França – como na Inglaterra –, a monarquia 
absoluta já cumprira seu papel, promovendo a expan-
são marítima, a exploração colonial, a acumulação pri-
mitiva de capitais e a modernização do Estado. Porém, 
tanto o clero quanto a nobreza estavam em paulatina 
crise e, sistematicamente, tentavam se defender, seja 
pela religião quanto pela repressão. Por isso, aos bur-
gueses e trabalhadores, as duas classes representavam 
anacronismos. As revoluções inglesas já deram o exem-
plo de que seria possível suplantar tal estado de coisas.
A sociedade francesa era dividida em três Esta-
dos: o primeiro Estado representava o clero e contava 
com 150 mil integrantes; o segundo Estado era a no-
breza, com 350 mil componentes – ambos eram isentos 
de impostos e de todas as obrigações feudais; cerca de 
24 milhões de pessoas faziam parte do terceiro Es-
tado, composto por burgueses, pequenos burgueses, 
profissionais liberais, camponeses e sans-culottes – ca-
mada heterogênea de pequenos artesãos e proletários.
Diante da perda de territórios coloniais para a 
Inglaterra, na guerra dos Sete Anos (1756-1763), e 
das despesas próprias de qualquer conflito, além da co-
laboração decisiva para garantir a vitória estadunidense 
na luta pela independência e dos custos elevados para 
manter a corte, a economia francesa enfrentava uma 
séria crise. Fator agravante foi um grave problema cli-
mático em 1787, que provocou uma seca e consequen-
te agravamento da fome. O rei Luis XVI iniciava, assim, 
uma série de tentativas de reformas econômicas e so-
ciais para salvar a França, mas todas elas encontravam 
sempre forte resistência dos setores sociais.
Somado ao cenário de crise no final do século 
XVIII, as restrições e regulamentações mercantilistas 
eram sentidas pela burguesia enriquecida e ávida pelo 
estabelecimento das condições para o desenvolvimento 
do capitalismo na França. Todavia, para isso era neces-
sário derrubar o absolutismo e as restrições mercantilis-
tas, criando condições para uma maior igualdade social 
e jurídica. O contato direto com os filósofos da ilustra-
ção e com suas ideias permitiu à classe burguesa trans-
formar seus interesses particulares em interesses gerais 
de toda a sociedade francesa. A luta contra o absolutis-
mo, o mercantilismo e os privilégios sociais do clero e da 
nobreza também interessava aos camponeses, artesãos 
e outras camadas sociais.
Em virtude da grave crise que se abateu sobre a 
França, Luis XVI criou a Assembleia dos Notáveis, 
apoiada por reformistas como Necker, Turgot e Breinne. 
Eles propuseram uma taxação sobre a nobreza e clero no 
intuito de cobrir o deficit do Estado e financiar projetos que 
melhorassem a vida do terceiro Estado. Essa proposta, no 
entanto, foi recusada pela elite do antigo regime. Pressio-
nado, o rei Luis XVI convocou, em 1789, a Assembleia 
dos Estados Gerais, que se tratava de uma instituição 
política formada por representantes dos três Estados para 
assessorar o monarca em momentos de crise.
Em 5 de maio de 1789, os Estados Gerais se 
reuniram em Versalhes. O terceiro Estado reivindicava 
que as votações fossem feitas individualmente, mas 
os outros dois pregavam a manutenção de apenas um 
voto por Estado. Revoltado, o terceiro Estado reuniu-
-se e ameaçou não se dispersar, enquanto Luis XVI não 
aceitasse uma constituição que limitasse seus poderes.
O rei cedeu, dando origem à Assembleia Na-
cional Constituinte. O medo do terceiro Estado era 
muito grande e, em julho de 1789, na tentativa de 
dissolver a assembleia, os partidários da monarquia in-
flamaram as descontentes massas sans-culottes, o que 
definiu a tomada da Bastilha, em 14 de julho – era 
a revolução.
A primeira fase da Revolução Francesa é mar-
cada pela a Assembleia Nacional e a monarquia 
constitucional (1789-1792). A França passava a ser 
uma monarquia constitucional, com a presença de uma 
assembleia composta por deputados, cujos mandatos 
eram de dois anos. Os eleitores precisavam de uma ren-
da mínima para exercer o voto, o que dava um caráter 
burguês a essa primeira fase revolucionária. Já em 26 
de agosto de 1789, fez-se a Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão, documento escrito com 
base nas ideias do iluminismo em defesa do direito de 
todos à liberdade, à propriedade e à igualdade jurídica. 
21
Tendo Luis XVI se recusado a reconhecer a decla-
ração, o povo de Paris, a chamada comuna, marchou ao 
palácio de Versalhes, trazendo o rei à cidade. Em 1790, 
o antigo regime levou outro golpe, com a criação da 
Constituição Civil do Clero, que nacionalizava as pro-
priedades da Igreja a favor do Estado.
Finalmente, em 1791, a constituição francesa 
foi redigida, mas também rechaçada pelo rei. Após ser 
obrigado a reconhecê-la, tentou fugir da França para 
iniciar um processo contrarrevolucionário, mas foi preso 
novamente.
Se a constituição representava um avanço em 
relação ao absolutismo do antigo regime, também dei-
xava a desejar as aspirações radicais dos sans-culottes, 
uma vez que o voto era censitário. As reivindicações das 
camadas pobres não foram satisfeitas, notadamente a 
distribuição de riquezas e o fim da escravidão nas colô-
nias, como a do Haiti.
No parlamento francês, os deputados dividiram-
-se em facções que identificavam os grupos políticos 
divididos ideologicamente. À direita, na parte de baixo 
da Assembleia, estavam os girondinos, representantes 
da alta burguesia e influenciados pelas ideias de Mon-
tesquieu. À esquerda, estavam os jacobinos, também 
chamados “montanha”, uma vez sentados no local 
mais alto. Liderados por Robespierre, foram fortalecidos 
pelos cordeliers, mais radicais, Danton e Marat. Repre-
sentavama pequena burguesia e as camadas popula-
res, defendiam a república, o voto masculino universal e 
o tabelamento de preços.
As reações externas à revolução engendraram 
uma contrarrevolução, na qual participaram Estados ab-
solutistas, como a Áustria e a Prússia, encabeçados por 
parte da nobreza francesa. Como retaliação, a popula-
ção parisiense, liderada por Danton e Marat, promoveu o 
massacre de setembro: invadiu o palácio das Tulherias e 
matou nobres, exigindo novas eleições por voto universal.
Após o conflito com o exército francês, a Áustria 
e a Prússia foram derrotadas e o Partido Jacobino assu-
miu o poder republicano, ao guilhotinar o rei Luis XVI, 
após um julgamento forjado a portas fechadas e cheios 
de arbitrariedades. Inicia-se, então, a segunda fase da 
Revolução Francesa, a Convenção (1792-1794).
Nesse ambiente de extremos, foi realizada uma 
eleição nacional em que as forças de esquerda venceram 
com o voto universal masculino. De maioria jacobina, 
o novo parlamento implantou na França a república, 
em 22 de setembro de 1792, cujos novos mandatários 
foram os radicais Danton, Marat e Saint-Just, sob a lide-
rança de Robespierre.
No governo, os jacobinos impuseram o Edito do 
Máximo, tabelando o preço dos produtos. Taxaram os 
ricos, obrigando-os a pagar mais impostos, protegen-
do os pobres e desamparados. A educação tornou-se 
gratuita e obrigatória. As propriedades dos emigrados 
foram confiscadas e postas à venda para cobrir despe-
sas do Estado. Evidentemente, ocorreram revoltas con-
tra essas medidas e os jacobinos responderam com a 
execução de mais de 30 mil suspeitos de conspiração, 
o que recebeu o nome de o Grande Terror jacobino.
Consequência: os sans-culottes, amedrontados 
com o aumento da violência, deixaram de apoiar os 
jacobinos, que ficaram isolados no poder. Rapidamen-
te, os girondinos conseguiram se reerguer e derrubar 
o jacobinismo. Robespierre e seus pares foram guilho-
tinados no episódio conhecido como o Golpe do Nove 
Termidor, em julho de 1794, conhecido como a Reação 
Termidoriana, que marcou a queda da convenção e a 
volta da alta burguesia girondina ao poder.
A terceira fase da revolução, o Diretório (1794-
1799) é representada politicamente pelos girondinos. 
Instaurou-se uma república que destruiu os avanços 
sociais consolidados pelos jacobinos, bem como as pos-
sibilidades de retorno das forças retrógradas do anti-
go regime. Para consolidar os privilégios burgueses, foi 
22
criada uma nova constituição: a Constituição do Ano III (1795), que extinguiu o tabelamento de preços e fez voltar 
a escravidão nas colônias; esvaziou o Comitê de Salvação Pública e desmoralizou o Tribunal Revolucionário. O voto 
universal foi substituído pelo censitário, para revolta dos sans-culottes. O diretório extinguiu a lei do máximo e fran-
queou a volta da elevação de preços das mercadorias populares, promovendo o retorno da liberdade econômica, 
própria do liberalismo.
A estrutura política ficou nas mãos de cinco diretores, cujo papel era chefiar o Poder Executivo. O Legis-
lativo era composto pelo Conselho de Anciãos e pelo Conselho dos 500, modelo esse que criou condições para 
o enfraquecimento do governo. Os diretores brigavam entre si pela defesa de seus interesses e pelo poder. Não 
conseguiam barrar a corrupção nem eram eficientes na administração pública e na construção das obras públicas.
Sem legitimidade, em 1795, o governo abortou um golpe realista em Paris. No ano seguinte, foi a vez de 
sufocar um movimento popular de tendência socialista, a Conjuração dos Iguais, cujo líder, Graco Babeuf, defendia 
a soberania popular e a supressão da propriedade privada. Preso, Babeuf foi guilhotinado, em 1797.
A burguesia, completamente encurralada, sabia que a única instituição que poderia proteger seus interesses 
seria a ala do exército, liderada pelo jovem e popular general Napoleão Bonaparte. Ao sair do Egito, seguido de 
alguns generais fiéis, reembarcou para a França, onde, com o apoio de dois diretores, de toda a alta burguesia e dos 
sans-culottes, que o viam como uma espécie de salvador, assumiu o poder no Golpe 18 Brumário, em novembro 
de 1799. Esse fato gerou o início de uma pacificação interna e de confirmação dos interesses da burguesia francesa.
eRa napoleônica e o congResso de viena
eRa naPoleônica
Diante do instável cenário político, Napoleão 
procurou fazer uma política de reconciliação, tomando 
várias medidas para estabelecer a paz e garantir a se-
gurança dos franceses. A Constituição de 1799, que 
foi submetida a plebiscito e aprovada por mais de três 
milhões de votos, deu a Napoleão poderes ilimitados, 
sob a aparência de um regime republicano. Daí seria 
iniciado o seu primeiro período de governo: o Consu-
lado (1799-1804).
A constituição aprovada restituía o voto univer-
sal. Fazia-se uma lista dos candidatos mais votados, 
entre os quais o governo escolhia os encarregados às 
funções públicas. O Poder Legislativo, tão fraco que sua 
existência era só formal, era composto por quatro as-
sembleias: o Conselho de Estado, que preparava as leis; 
o Tribunal, que as discutia; o Corpo Legislativo, que as 
votava; e o Senado, que velava pela sua execução. O Po-
der Executivo, confiado a três cônsules nomeados pelo 
Senado por dez anos, era o mais forte dos poderes. O 
primeiro-cônsul, cargo mais poderoso, era de Napoleão.
Após dez anos de instabilidade política, Napo-
leão assinou, em 1802, a Paz de Amiens, que redefiniu 
fronteiras coloniais, como as do Egito e das Guianas, 
transmitindo a falsa sensação de que a França tinha 
perdido o desejo de expansão intercontinental.
Internamente, Napoleão fundou o Banco da 
França, emissor de papel-moeda e receptor dos impos-
tos estatais, que começaram a ser coletados com maior 
eficiência. O ensino secundário foi organizado para ins-
truir a burocracia pública. A principal obra napoleônica 
foi o Código Civil, inspirado no Direito Romano, nas Or-
denações Reais e no Direito Revolucionário. Em 1901, 
Napoleão restabeleceu a paz com a Igreja católica, ao 
assinar a Concordata, pela qual a Igreja aceitaria o con-
fisco de seus bens pelo Estado francês, em troca da não 
intervenção estatal em assuntos religiosos.
Com forte aceitação de todas as classes sociais 
francesas, em 1804 foi promulgada a Constituição do 
Ano XII, aprovada em plebiscito pela imensa maioria da 
população francesa e que substituía o regime de con-
23
sulado pelo de império. A coroação de Napoleão, em 
Paris, marcou o início do segundo período de Napoleão 
no poder: o Império (1804-1815).
Napoleão Bonaparte
Rapidamente, em âmbito interno, legalizou a 
reforma agrária, estimulou a indústria, desenvolveu os 
códigos comercial e penal. A infraestrutura do Estado 
francês foi ampliada e sofisticada, bem como monu-
mentos apareceram para esbanjar a riqueza e o poderio 
da França. Por outro lado, Napoleão tornou-se cada vez 
mais despótico. Garantias constitucionais, como as li-
berdades individuais e políticas, foram desrespeitadas; 
a imprensa, censurada; o conteúdo das universidades, 
subvertido. Ou seja, Napoleão aproveitou-se do bom 
momento econômico e de sua boa reputação para im-
primir abusos.
A política externa nos tempos de império sofreu 
profunda inflexão. O imperador Bonaparte, a despei-
to de ter assinado com a Inglaterra a Paz de Amiens, 
passou a ameaçá-la constantemente. Abriram-se então 
quatro coligações entre, principalmente, Áustria, Rússia, 
Prússia e Inglaterra para o combate a Napoleão. Porém, 
a superioridade francesa era clara: nas batalhas de Ulm, 
na Prússia, e em Austerlitz, do Sacro Império Romano-
-Germânico, Napoleão derrotou as tropas austríacas e 
russas. Como consequência da vitória napoleônica em 
Austerlitz, Napoleão suprimiu o que restava do Sacro 
Império Romano-Germânico e criou, em 1806, a Con-
federação do Reno, que reunia a maioria dos Estados 
alemães dos quaisse autodenominou protetor.
Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio 
Continental contra a Inglaterra, acreditando que, ao 
fechar-lhe os mercados europeus, provocaria uma crise 
em sua indústria e, consequentemente, uma crise social 
sem tamanho. O decreto proibia os países europeus, 
sob domínio francês ou aliados da França, de adquiri-
rem produtos ingleses ou de receberem embarcações 
da Inglaterra em seus portos.
Com a derrota de todas as quatro coligações 
criadas para destruir seu exército e da invasão da pe-
nínsula Ibérica, Napoleão tornou-se o grande senhor 
da Europa continental. Nomeou seus irmãos José, Luís 
e Jerônimo, respectivamente, reis de Espanha e Nápo-
les, da Holanda e da Vestfália. Por onde seus exércitos 
passavam, a velha ordem era destruída: implantavam-se 
constituições, divulgava-se o Código Civil e moderniza-
vam-se as estruturas econômicas.
Com suas economias arruinadas, Inglaterra e 
Rússia passaram a transacionar secretamente merca-
dorias, informação que de prontidão chegou a Napo-
leão. Como punição à Rússia, enviou 600 mil homens 
para destruí-la. Os russos, utilizando a tática de terra-
-arrasada, conseguiram atrair o exército francês até a 
incendiada Moscou. Com a tática, Moscou não passava 
de um amontoado de entulho e cinzas. Napoleão, dessa 
forma, teve que partir em rápida retirada do território 
russo, mas em pleno inverno. O resultado foi assustador: 
apenas 10 mil soldados franceses retornaram com vida.
Enfraquecido, o exército francês não resistiu à 
nova contenda contra seus inimigos e ruiu na conheci-
da Batalha de Leipzig, em 1813. No mesmo ano, Paris 
foi invadida e Napoleão, obrigado a renunciar, sendo 
encarcerado na ilha de Elba. No governo francês, foi 
empossado Luís XVIII, da dinastia Bourbon e irmão de 
Luís XVI.
Da cadeia, Bonaparte recebia notícias do cha-
mado Governo dos Cem Dias. Sabia das arbitrarie-
dades cometidas pelo recém-empossado rei, e, com a 
ajuda de alguns militares, retornou à França e retomou 
seu posto. A princípio, logrou vitórias contra mais uma 
coligação absolutista, mas seu combalido exército não 
resistiu à Batalha de Waterloo, contra a Inglaterra 
e a Áustria, sendo definitivamente derrotado e enviado 
ao cárcere na ilha de Santa Helena, onde morreu por 
causas naturais.
congResso de viena
Depois da primeira abdicação de Napoleão, em 
1814, todos os governantes se reuniram no Congresso 
de Viena para discutirem a reorganização política e ter-
24
ritorial da Europa, após a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas. Presidido pela representação austríaca em 
1815, o Congresso decidiu restaurar as dinastias destronadas até então, garantindo o Princípio da Legitimidade, 
formulado pelo francês Talleyrand. A definição das novas fronteiras nacionais privilegiariam Prússia, Rússia e Áus-
tria. Em âmbito mundial, a Inglaterra se beneficiaria das colônias orientais e ocidentais, em detrimento da Holanda, 
França, Espanha e Turquia.
O Congresso de Viena pode ser visto como uma instituição reacionária, pois permitiu a restauração do 
antigo regime, ou pelo menos o absolutismo, em diversas nações europeias. Além disso, para manter novo ordena-
mento europeu, sancionado pelo Congresso de Viena, Áustria, Prússia e Rússia criaram a Santa Aliança. O obje-
tivo central era combater movimentos liberais e republicanos nacionalistas no continente. O novo governo francês, 
embora uma monarquia constitucional, também foi signatário da Santa Aliança.
Revoluções de 1830 e 1848 
e segunda Revolução industRial
No início do século XIX, forças sob o comando da burguesia liberal, inspiradas pela Revolução Francesa e 
lideradas por Napoleão Bonaparte, invadiram grande parte da Europa, enfraquecendo, com isso, o antigo regime. 
Com a derrota de Napoleão em Waterloo, configurou-se um ambiente propício ao retorno das casas reais absolu-
25
tistas, cenário em que nasceu o conservador Congresso 
de Viena (1815), que recusou os ideais revolucionários. 
Contudo, as forças de oposição reagruparam-se e pas-
saram a se rebelar contra o próprio regime absolutista. 
Foi o caso da deflagração da Revolução Liberal do Por-
to (1820), em Portugal, que estabeleceu a monarquia 
constitucional e subordinou o poder do rei João VI ao 
parlamento lusitano. Em outras áreas europeias, dese-
nhava-se o mesmo cenário de busca pela liberdade. No 
entanto, como o Congresso de Viena havia legitimado 
as invasões territoriais da Áustria, Prússia e Rússia sobre 
algumas regiões da Europa, a luta pelo ideal de liberda-
de e pelo liberalismo burguês passou a incluir também 
a luta pela independência daquelas regiões, acendendo 
a luz do nacionalismo.
Napoleão Bonaparte
Após o Governo dos Cem Dias, a casa dos Bour-
bons retornou ao poder da França, com Luís XVIII. Con-
tudo, a restauração não significou a volta à política ab-
solutista. A partir de 1815, Luís XVIII adotou uma política 
moderada, procurando conciliar a restauração do absolu-
tismo com a manutenção de algumas conquistas da Re-
volução de 1789, como a igualdade jurídica dos cidadãos 
franceses. Outorgou uma constituição instaurando uma 
assembleia que seria eleita pelo voto censitário.
Inspirados pelo chamado “terror branco”, pas-
saram a perseguir os liberais, partidários da Revolução 
Francesa, e os bonapartistas, mediante ações que se ca-
racterizaram como verdadeiros massacres. Os excessos 
cometidos pelos ultrarrealistas obrigaram Luís XVIII a 
dissolver a Câmara e convocar novas eleições, vencidas 
pelos constitucionalistas, partidários da plena aplicação 
da Constituição.
Após a morte de Luís XVIII, em 1824, ascendeu 
ao trono seu irmão Carlos X, chefe do Partido Ultrarre-
alista, que, em 1830, apoiado pela nobreza, desfechou 
um golpe de Estado, com a intenção de aniquilar a opo-
sição liberal burguesa e restaurar o absolutismo no país. 
Essas medidas foram criticadas pelo povo pari-
siense, que criou barricadas nas ruas durante os “Três 
Dias Gloriosos”. Lutaram, assim, contra as tropas fiéis 
ao rei. Na madrugada de 29 de julho de 1830, a revolu-
ção mais uma vez triunfou na França. Carlos X, temendo 
o mesmo fim de Luís XVI, fugiu para a Inglaterra, dei-
xando o trono para seu neto menor de idade.
Naquele momento, a burguesia francesa, ao 
contrário de parte da população de Paris, queria uma 
monarquia constitucional. Por isso, os burgueses no-
mearam rei da França o duque de Orleans, Luís Filipe, 
cuja família mantinha estreitas relações com os grandes 
banqueiros. A proximidade de Luís com os banqueiros 
gerou-lhe a alcunha de Luís, o rei banqueiro.
Essa revolução repercutiu na Europa e a burgue-
sia passou a propagandear seus ideais, que foram sen-
do assumidos pela maioria da população das pequenas 
nações na luta pela liberdade política (liberalismo), pelo 
nacionalismo e crítica às decisões do Congresso de Vie-
na. Com isso, um solo fértil para agitações políticas foi 
gestado, ocasionando nas revoluções de 1848.
De modo geral, foram três os fatores das revo-
luções de 1848: o liberalismo, contrário às limitações 
impostas pelo absolutismo; o nacionalismo, que pro-
curou unir politicamente os povos de mesma origem e 
cultura; e o socialismo, força nova, nascida nos movi-
mentos de 1830, que pregou a igualdade social e eco-
nômica mediante reformas radicais.
Além desses, podem ser mencionados também 
como fatores das revoluções de 1848:
26
 § as péssimas colheitas na Europa, entre 1846 e 
1848, fazendo com que os preços dos produtos 
agrícolas subissem muito, agravando a situação 
das camadas mais pobres; e
 § as crises na indústria – notadamente a têxtil – e 
agrícola, que desencadearam o empobrecimen-
to dos camponeses e diminuíram ainda mais o 
consumo de tecidos, gerando superprodução e 
desemprego.
Barricada na rua Soufflot (1848), de Horace Vernet
No caso específico da França, quando Luís Fili-
pe assumiu o poder, um político francês comentou: “Dehoje em diante governarão os banqueiros”. Ele tinha ra-
zão. Todas as facções da burguesia – pequenos burgue-
ses, industriais, comerciantes etc. – haviam participado 
da luta contra o poder absolutista e a velha aristocracia, 
mas quem assumiu o poder foi apenas uma parte da 
burguesia ligada ao capital financeiro.
Em relação ao governo anterior, houve peque-
nos progressos sociais: direito de voto muito pouco 
ampliado, embora mantivesse a imprensa censurada 
e a oposição reprimida. Mesmo assim, a França con-
seguira um desenvolvimento industrial acelerado, que 
fortaleceu a burguesia industrial e comercial. Por outro 
lado, a situação dos operários era de extrema miséria, 
de baixos salários e de jornada de trabalho com mais 
de 14 horas diárias.
Os oposicionistas ao governo de Luís Filipe 
organizaram-se em vários partidos: legitimista, consti-
tuído pela nobreza, desejosa de restaurar o poder dos 
Bourbon, depostos em 1830; bonapartista, formado 
pela pequena burguesia e liderado por Luis Bonaparte, 
sobrinho de Napoleão; socialista, composto por diver-
sas facções que procuravam organizar a classe operária; 
republicano, de tendência nacionalista, que encontrava 
apoio entre a classe média e os profissionais liberais.
Seguido pela população da cidade e por alguns 
setores da Guarda Nacional, o proletariado parisiense 
rebelou-se. Foram três dias de luta nas barricadas. No 
dia 24 de fevereiro, Luís Filipe abdicou, quando então 
estabeleceu-se um governo provisório que proclamou 
a República. Sob pressão dos trabalhadores, foram cria-
das as oficinas nacionais, empresas dirigidas e sustenta-
das pelo Estado. Para pagar os salários dos trabalhado-
res dessas oficinas, os impostos foram elevados, o que 
provocou uma crise ainda maior na economia francesa. 
As oficinas foram fechadas.
Nesse ambiente de radicalização, a Segunda Re-
pública foi implantada, o voto universal instituído, para 
temor da burguesia, mas imprescindível para que ela 
obtivesse o apoio da população e não se mantivesse 
isolada, permitindo o crescimento político dos grupos 
radicais. A burguesia aproveitou-se da situação para 
indicar o sobrinho de Napoleão Bonaparte para a presi-
dência do país, graças à sua popularidade, herdada do 
tio, e às suas ligações com o pensamento liberal. Luís 
Bonaparte venceu a eleição pelo voto universal e a bur-
guesia continuou a controlar a administração pública.
Em 1851, a burguesia notou que o governo de 
Luis Napoleão tinha possibilidade de acabar com a 
radicalização da república, uma facção da burguesia 
apoiou-o numa espécie de segundo Golpe de 18 de 
Brumário que implantou um plebiscito e tornou-o “im-
perador” com o título de Napoleão III no Segundo 
Império. Politicamente, o Segundo Império caracteri-
zou-se pelo cesarismo de Napoleão III, que governou 
ditatorialmente por meio de vários plebiscitos.
No âmbito social, empreendeu vigoroso pro-
grama de modernização do país, com a construção de 
estradas de ferro, portos, canais e estradas. O prefeito 
Haussmann mudou a fisionomia de Paris, ampliando 
suas avenidas e reurbanizando a cidade.
Podemos considerar a revolução de fevereiro de 
1848, na França, como o estopim para o início de um 
período revolucionário no resto da Europa. A Itália viu-
-se sacudida por movimentos que se estenderam do sul 
ao norte. Na Alemanha, por exemplo, a Prússia viveu um 
grande movimento popular. O mesmo ocorreu no Impé-
rio Austríaco, quando a capital foi totalmente tomada 
pelos revolucionários.
27
Napoleão III
Concomitantemente às agitações políticas, ger-
minava em solo europeu a Segunda Revolução In-
dustrial. Enquanto a primeira fase da Revolução Indus-
trial concentrou-se na produção de bens de consumo, 
particularmente de têxteis de algodão, na segunda fase 
a indústria pesada passou a ser o centro do sistema 
produtivo. A produção de aço superou a de ferro e os 
preços caíram consideravelmente. O descobrimento dos 
processos eletrolíticos estimulou a produção de alumí-
nio. Na indústria química, o grande avanço foi repre-
sentado pela obtenção de métodos mais baratos para 
produção de soda cáustica e ácido sulfúrico, particular-
mente importantes para a fabricação de papel e explo-
sivos e para a vulcanização da borracha.
A construção e expansão das ferrovias exigiram 
que os bancos e as companhias de ações mobilizassem 
seus capitais; os efeitos multiplicadores desse processo 
foram a dinamização da produção de ferro, dormentes, 
cimento, locomotivas e vagões. A invenção do barco a 
vapor, em 1808, revolucionou a navegação marítima.
A agricultura adaptou-se às novas condições im-
postas pela sociedade de massa, que incorporou novos 
produtos e novos instrumentos de trabalho e intensifi-
cou os rendimentos, adequando a produção ao merca-
do consumidor.
Fundamental para o período foi o desenvolvimen-
to do motor a combustão interna, que abriu caminho 
para a utilização do petróleo em larga escala. Ele passou 
a ser utilizado como força motriz em navios e locomo-
tivas, criando também condições para o aparecimento 
do automóvel e do avião. Além disso, a energia elétrica 
passou a ser utilizada em processos produtivos até, final-
mente, chegar ao consumo diário da população.
Desenho de uma região industrial, em meados do século XIX
A partir da Segunda Revolução Industrial, o ca-
pitalismo industrial foi gradualmente cedendo lugar ao 
capital financeiro e passando para os grandes bancos 
o controle das empresas industriais e comerciais. As fi-
nanças conquistaram a supremacia sobre a produção e 
a circulação de mercadorias. Nessa etapa, os grandes 
bancos investiram na compra de ações e foram assu-
mindo o controle acionário das empresas. Por outro 
lado, os empréstimos e financiamentos também contri-
buíram para submeter às empresas à inteira dependên-
cia das instituições financeiras.
Surgiram fenômenos de mercado, tais como:
 § trustes – formam-se graças à eliminação ou ab-
sorção de pequenos concorrentes por grandes 
empresas, que passam a monopolizar a produ-
ção de certo produto, e são regularmente resul-
tados da fusão de empresas do mesmo ramo;
 § cartéis – são anomalias de mercado formadas 
mediante acordo entre grandes empresas, que, 
para evitar os desgastes da concorrência, con-
vencionam entre si formas de manutenção dos 
preços e de divisão dos mercados, deixando 
sempre a salvo a autonomia de cada uma delas;
 § holdings – consistem na assunção do controle 
de uma grande companhia sobre inúmeras ou-
tras, mediante a compra da maior parte de suas 
ações, o que lhes permitem passar a atuar de 
forma coordenada.
28
Outra consequência importante da Segunda Revolução Industrial e da era do capitalismo financeiro ou 
monopolista foi o desenvolvimento do imperialismo e o neocolonialismo. Em busca de novos mercados consu-
midores e de insumos para suas indústrias, os países europeus promoveram uma expansão territorial a partir de 
intervenções violentas na Ásia e na África. Tal ânimo expansionista explica, em parte, as causas da Primeira Guerra 
Mundial, já no século XX.
ideologias do século XiX
libeRalismo
Durante a Revolução Industrial, os interesses dos 
burgueses foram defendidos pelos economistas e filóso-
fos liberais (também chamados clássicos), que produzi-
ram uma série de teorias justificadoras do capitalismo e 
da não intervenção do Estado. Filosoficamente, destaca-
-se a figura de John Locke e, na economia, nomes como 
David Ricardo, Adam Smith e Thomas Malthus.
Caricatura sobre a relação entre liberalismo, imperialismo e exploração
Dentre os princípios do liberalismo, destacam-se: 
 § Não intervenção do Estado na economia: 
obediência às leis naturais da economia. Da 
mesma forma que o universo físico, a economia 
é governada por um conjunto de “leis naturais” 
que determinavam e condicionavam os negó-
cios. A economia se autorregula e se autogover-
na naturalmente, sem a necessidade

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