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2U.T.I.Unidade Técnica de ImersãoCCIÊNCIASHUMANAS H © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019 Todos os direitos reservados Autores Celso Vieira Junior Lucas Limberti Murilo de Almeida Gonçalves Pércio Luis Ferreira Diretor geral Herlan Fellini Coordenador geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Diretor editorial Pedro Tadeu Batista Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Bruno Alves Oliveira Cruz Eder Carlos Bastos de Lima Iago Maciel Kaveckis Letícia de Brito Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Foto da capa pixabay (http://pixabay.com) Impressão e acabamento PSP Digital Gráfica e Editora LTDA Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual- quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2019 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br CARO ALUNO Você está recebendo o segundo caderno da U.T.I. (Unidade Técnica de Imersão) do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 3 e 4, oferecendo uma seleção de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre pronto a realizar as provas de segunda fase dos vestibulares. Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando ainda mais a compreender os itens que, eventualmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram esquecidos. Aproveite para aprimorar seus conhecimentos. Bons estudos! Herlan Fellini C HISTÓRIA H História Geral0 2 U.T.I. SUMÁRIO U.T.I. - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS HISTÓRIA História Geral 5 História do Brasil 37 ENTRE PENSAMENTOS E ENTRE SOCIEDADES GEOGRAFIA Filosofia 69 Sociologia 93 Geografia 1 139 Geografia 2 159 C HISTÓRIA H História Geral0 2 U.T.I. 7 Renascimento cultuRal e tRansição paRa a idade modeRna As importantes transformações econômicas, sociais, políticas, artísticas e culturais que a Europa experimen- tou entre os séculos XI e XIV promoveram uma gradativa reorganização estrutural e o redimensionamento do seu entendimento do mundo, no qual os saberes técnicos e filosóficos ganharam destaque dentro das renascentes cidades comerciais. No bojo dessas mudanças, o renascimento urbano, oriundo da dinamização comercial, assistiu ao surgi- mento de uma nova classe social: a burguesia mercantil. Coube a essa classe a unificação dos Estados nacionais e dinamizar a economia internacional, em cooperação, a princípio, com as monarquias. Em termos culturais, o pe- ríodo é marcado pela negação dos valores medievais e o surgimento do chamado Renascimento Cultural, a partir do século XIV. Os homens do Renascimento paulatinamente separaram o mundo da religião do centro das suas preocupações, a ponto de abraçarem ideais humanistas. Contudo, o respeito à religião, diferente do que se pensa, na maior parte das vezes foi mantido. Comércio medieval: surgimento das cidades modernas A prática de mecenato foi fundamental para se compreender a criação e a difusão das obras re- nascentistas. Tal prática consiste no financiamento de artistas e intelectuais pela burguesia mercantil da época. Esta queria representar seu nascente poder econômico e político em obras filosóficas e artísti- cas, promovendo enormes dispêndios nas mentes brilhantes do período. É evidente que outros grupos sociais, como o clero, recorriam aos intelectuais do período, mas não na mesma escala em que a bur- guesia o fazia. De uma maneira geral, a cultura renascentista nega e se opõe aos valores clericais teocêntricos e dogmáti- cos medievais, com destaque a tais características: § Antropocentrismo: valorização de temas do cotidiano humano, da realidade vivida dentro das cidades europeias. Sem se esquecer da importância divina, o pensamento passa a se ater à realidade secularizada do Homem e não aos dogmas sacralizados. § Racionalismo: o conhecimento da realidade deveria ser pautado pela razão humana, isto é, do que conse- guimos captar da realidade a partir de nossos sentidos. A observação científica, os métodos experimentais e a organização racional da vida social alimentariam uma vida humana menos teológica. § Negação dos valores medievais: com os desenvolvimentos técnicos e científicos do período, instituições medievais passaram a perder importância social. A própria filosofia escolástica, que primava pela concilia- ção entre fé e razão, viu-se desdenhada por diversos renascentistas. § Valorização da cultura clássica: tanto na arte quanto na filosofia, os renascentistas buscaram uma reaproximação ao humanismo e racionalismo greco-romanos. § Individualismo: o Renascimento refletiu a realidade do capitalismo nascente, que estimulava o individua- lismo, a concorrência, o acúmulo de riquezas e a criatividade. 8 § Naturalismo: ao individualizar e decompor as partes, chegou-se à aguda análise e percepção da natureza. § Hedonismo: valorização do prazer e da felici- dade terrenas, sem medo de pecar ou da puni- ção divina. Homem Vitruviano, de Leonardo Da Vinci Não foi por acaso que o Renascimento teve origem na Itália. Exatamente lá o capitalismo mer- cantil ganhou forças para se desenvolver – renasci- mento comercial e urbano. A península Itálica era o centro do ativo comércio mediterrâneo, que interli- gava os entrepostos orientais à rota de Champagne e do mar do Norte. Os centros urbanos tornaram-se ativos, onde germinavam grandes companhias co- merciais e grupos financeiros. Com uma economia dinâmica, mercantil, ge- radora de excedentes que pudessem ser investidos na produção cultural, houve condições para o Renascimen- to. Com o desenvolvimento mercantil nasceu uma nova classe social: a burguesia italiana, que buscava projeção social e legitimação de seus valores. A partir disso, mo- bilizar capitais para o patrocínio de artistas e intelectu- ais foi um passo. Na literatura, destaca-se Dante Alighieri, com a sua principal obra A divina comédia, revolucionária por ter sido escrita em dialeto toscano e não no eru- dito latim. No âmbito da filosofia política, há Nicolau Maquiavel, autor de O príncipe, considerado por muitos o pai da ciência política moderna por recolocar a ra- cionalidade na política e alijar preceitos teológicos. Na arte, há figuras notáveis como Giotto, Sandro Botticelli e Michelangelo. Porém, nenhuma outra figura ganhou tamanha importância e relevo histórico do que Leonardo Da Vin- ci. Cientista, engenheiro, excelente artista, especialista em fortificações e em artilharia, inventor, anatomista e naturalista, transferiu para suas pinturas a cuidadosa observação da natureza, combinada com uma poderosa percepção psicológica. Renascimento científico O pensamento renascentista estimulou as ciên- cias, os estudos da natureza e a busca de explicações racionais para os fenômenos naturais. Em oposição aos dogmas e verdades incontestáveis impostas pela fé, fo- ram estimulados o conhecimento racional, a observação e a experiência comofontes de conhecimento. Nicolau Copérnico negou a teoria geocêntrica (a Terra como centro do universo), na obra De revolutio- nibus orbium celestium (Sobre a revolução dos globos celestes), propondo o heliocentrismo, segundo o qual o Sol sim é o centro, em torno do qual giram a Terra e todos os outros planetas. Essa teoria foi confirmada pelo italiano Galileu Galilei, que se serviu de uma luneta para estudar os movimentos dos astros e acabou descobrindo os saté- lites de Júpiter. É importante lembrar de que Galileu foi julgado pelo Tribunal da Inquisição por confirmar o he- liocentrismo. Para escapar da pena de morte, abriu mão de suas ideias, negando-as publicamente. O alemão Johannes Kepler fez estudos sobre o movimento dos astros e observou as órbitas dos pla- netas em torno do Sol, comprovando que são elípticas e não circulares, como se imaginava até então. Os es- tudos do corpo humano intensificaram-se, estimulando descobertas e avanços na medicina. Leonardo da Vinci realizou estudos de anato- mia humana, assim como o médico flamengo André Vesálio, que pesquisou o corpo humano pela disseca- ção de cadáveres. O francês Ambroise Pare descobriu uma nova 9 maneira de estancar hemorragias, enquanto o médico espanhol Miguel de Servet descreveu o mecanismo da pequena circulação. Merecem destaque, também, o suíço Paracelso (pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bom- bastus von Hohenheim), que abriu caminho para a doutrina dos medicamentos específicos e da farmacologia, e o médico inglês Willian Harvey, que descobriu o retorno do sangue ao coração pelos vasos sanguíneos. RefoRma e contRaRRefoRma O mundo passou por grandes transformações na transição da Idade Média para a Idade Moderna, com especial destaque para a Europa, onde ocorreram o re- nascimento comercial e urbano, o desenvolvimento do capitalismo, o fortalecimento das monarquias nacionais e o renascimento cultural. Estas transformações geraram modificações na visão de mundo dos homens e criaram uma realidade que se desconectava da Igreja católica, alicerçada em bases medievais, as quais condenavam, por exemplo, o lucro e a usura, elementos fundamentais do capitalis- mo nascente, gerando atritos com a burguesia. Havia problemas de relacionamento entre a Santa Sé e os reis absolutistas, que não mais admitiam interferência em seus estados nacionais. O desenvolvimento do capitalismo e dos Esta- dos nacionais provocou um natural enfraquecimento do poder da nobreza, que passou a cobiçar as terras da Igreja como alternativa de reforçar seu poder. O com- portamento de membros do clero passou a ser alvo de críticas contundentes com o objetivo de contestar a Igreja católica, enfraquecendo-a e abrindo espaço para a quebra de sua hegemonia. Inserida nesse contexto, a reforma religiosa foi responsável pela quebra da unidade cristã oci- dental e o fim da hegemonia da Igreja católica na Europa, bem como pelo surgimento de novas Igrejas integradas às novas realidades para a burguesia e os monarcas absolutistas. Denomina-se Reforma o movimento de revolu- ção espiritual da época moderna, uma profunda revisão religiosa e política que, no século XVI, deu origem ao protestantismo. Uma das causas importantes da Re- forma foi o chamado humanismo evangelista, que era profundamente crítico da forma em que o catolicismo operava e, portanto, defensor de uma renovação para aproximá-lo do cristianismo primitivo. Havia um enorme abismo entre o que a Igreja católica pregava e o que fazia. Os membros da alta hierarquia do clero viviam luxuosamente, totalmente alheios ao povo. O voto de castidade era habitualmen- te esquecido, causando escândalos entre a população. Vendiam-se as relíquias sagradas (objetos supostamen- te tocados por Cristo, Maria ou santos) e cargos eclesi- ásticos, práticas conhecidas como simonia. Mas o comércio de indulgências foi o abuso que promoveu maior reação. As indulgências eram docu- mentos assinados pelo papa, que absolviam o compra- dor de alguns pecados cometidos, diminuindo o tempo de sua pena no purgatório. Outra importante razão que impulsionou o movimento reformista foi a formação das monarquias nacionais. Na época do feudalismo, a Euro- pa se apresentava fragmentada em inúmeros pequenos feudos, onde as relações com as regiões vizinhas eram pouco comuns. As pessoas de então não tinham uma consciência muito clara de nacionalidade, isto é, não se imaginavam habitantes de um país. Nos séculos XV e XVI, formaram-se nações com um rei que exercia total autoridade sobre os limites do território. As pessoas que aí habitavam falavam a mesma língua e tinham consci- ência de sua nacionalidade. A Igreja, por possuir terras e propriedades espalhadas por toda a Europa, passou a ser considerada uma potência estrangeira. Lentamente, começou a se formar uma reação contra as possessões eclesiásticas e a arrecadação de impostos ou taxas pelo clero, que os remetia para Roma. Essa situação motivou o declínio da autoridade papal, pois o rei e a nação pas- saram a ser mais importantes. 10 A ascensão da burguesia é outra causa não menos importante da Reforma. A burguesia precisava mudar os dogmas da Igreja católica que proibiam o lu- cro e a usura. Ela precisava de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo dinheiro e incentivasse novas atividades ligadas ao comércio. Na ideologia católica, a única forma de rique- za era a terra. O dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas, indignas de um cristão. Trabalhar para satisfazer as necessidades era justo, mas fazê-lo para lucrar, que é a essência do ca- pital, era pecado. A doutrina protestante, criada pela Reforma, pregava exatamente o oposto destas ideias. A riqueza, materializada principalmente no dinheiro, era um dom de Deus. A doutrina estabelecida pela Reforma estava perfeitamente adequada aos anseios da nova classe burguesa, que se encontrava em fase de expansão. PRinciPais veRtentes do PRotestantismo Luteranismo A reforma religiosa teve início no Sacro Império Romano-Germânico, em parte da atual Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero (1483-1546). Filho de camponeses, nascido na Saxônia, cursou Filosofia na Universidade de Erfurt, quando se tornou monge, ingressando na Ordem de Santo Agostinho, em 1505. Em 1512, doutorou-se em Teologia e passou a lecionar na Universidade de Wittenberg. Lutero se incomodava com o comportamento de integrantes do clero e com o apego aos bens materiais por parte da Igreja. Para ele e seus seguidores, a salvação da alma não se alcança pelas obras, mas pela fé, pela confiança na bondade de Deus e pelo sofrimento interior do fiel. Sendo assim, o culto às imagens sacras ou quaisquer símbolos objetivos é rechaçado pelo luteranismo: a fé re- sidiria na consciência de cada cristão. Daí o feito inédito de Lutero de ter traduzido a Bíblia do latim para o idioma alemão. O fiel passaria a prescindir do sacerdote para en- trar em contato e interpretar a palavra divina, o que aju- da a reforçar o caráter individualizante do luteranismo. Bíblia traduzida para o alemão, por Lutero Pelas profundas mudanças pregadas, Lutero foi combatido pelo papado e pelo imperador Carlos V, na Dieta de Worms (1521), e só não foi exe- cutado por refugiar-se na Saxônia, junto ao duque Frederico, o sábio. O cerco católico aumentou sobre os nobres protestantes, em 1529, quando o mesmo Carlos V impôs o catolicismo a todos os príncipes, que prontamente se rebelaram, recebendo a alcunha de protestantes. Como resposta, em 1530, através da Confis- são de Augsburgo, Melanchton constituiu a nova Igreja protestante, assim como a formação de laços sólidos entre os príncipes protestantes contra o impe- rador católico. Finalmente, em 1555, uma nova Dieta de Augsburgo pôs fim ao conflito religioso alemão, permitindo aos príncipes e seus súditosliberdade de escolha religiosa. Calvinismo Aproveitando-se da relativa paz religiosa na Suíça, o discípulo do luteranismo e francês João Cal- vino publicou uma série de obras na defesa do protes- tantismo, sendo a mais conhecida a instituição cristã (1534). Calvino manteve as premissas básicas de Lutero inalteradas, embora as tenha radicalizado no âmbito es- piritual e institucional. A sua Reforma implantou uma 11 censura rígida na cidade de Genebra, agindo de forma intolerante contra os potenciais adversários. Contudo, as ideias de Calvino foram rapidamente espalhadas pelo continente europeu, uma vez que sua doutrina casou-se harmonicamente com os preceitos burgueses de acumulação material. O ponto central do calvinismo é a sua doutrina da predestinação, na qual alguns indivíduos receberiam a bênção da salvação e os demais, a maldição eterna. Os sinais da predestinação seriam visíveis na fruição de bens materiais ou cargos de prestígio. Logo, quanto mais abastado o indivíduo, mais evidente que sua alma se salvará. Práticas burguesas condenadas pela Igreja cató- lica, como a usura e o estímulo ao trabalho, seriam não só legítimas, mas benquistas pelos adeptos do calvinis- mo. Por isso, diversos agrupamentos calvinistas surgi- ram na Europa ocidental, sendo os huguenotes france- ses e os puritanos britânicos exemplos de destaque. Anglicanismo A reforma religiosa na Inglaterra teve um cará- ter extremamente político. Conduzida pelo rei Henrique VIII, levou à formação de uma Igreja nacional, que ser- viu de instrumento de consolidação do absolutismo real no país. O poder econômico da Igreja católica e sua in- fluência na Inglaterra fugiam ao controle do Estado. A Igreja acumulava riquezas através de tributos impostos à população e o clero ampliava cada vez mais seus do- mínios e suas rendas oriundas das vastas terras. Esta situação provocava um forte sentimento antipapal nos meios políticos do país. Em 1530, o rei inglês Henrique VIII solicitou a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão ao papa Clemente VII, pois desejava casar-se com Ana Bolena, sob a justificativa de sua esposa não lhe dar um filho homem para herdar o trono. Diante da negação papal, o rei deu início a um processo de ruptura com a Igreja católica na Inglaterra. O soberano aproveitou as questões relacionadas a seu casamento para acabar com o poder da Igreja ca- tólica na Inglaterra que, de certa forma, concorria com seu poder. O parlamento aprovou o Ato de Suprema- cia, em 1534, colocando a Igreja sob a autoridade do rei. Nascia a Igreja nacional inglesa – a Igreja anglica- na, que tinha como chefe supremo o monarca inglês. Adotou-se parcialmente a doutrina calvinista, manten- do, porém, a hierarquia episcopal e a formalidade do catolicismo no culto. Henrique VIII Os bens da Igreja católica foram confiscados, passando para as mãos da nobreza. Assim, os barões ingleses viram suas terras aumentadas a ponto de faci- litar a expansão da criação de ovelhas, num momento em que a lã começava a ser procurada pelas manufatu- ras de tecidos. contRaRRefoRma Jesuítas na América: educação e utilização de trabalho indígena A Reforma protestante minou o monopólio das almas cristãs no Ocidente. A perda de fiéis se traduzia na perda de poder político e econômico, o que impeliu a Igreja católica a agir com um conjunto articulado de 12 medidas contra a expansão protestante, criando então sua Contrarreforma. O conteúdo das reformas, primeira- mente exposto no Concílio de Trento, em 1530, possuía teor majoritariamente repressivo, embora não somente. Eis algumas medidas da Contrarreforma: § O combate à corrupção do clero, com a proibição da venda de indulgências e de cargos eclesiásticos, além da obrigatoriedade dos clérigos frequentarem seminários antes de sua ordenação. § Reativação do Tribunal do Santo Ofício ou Santa Inquisição, com o objetivo de julgar e punir as heresias. § A criação do Index Librorum Prohibitorum, uma lista de livros cuja leitura estava proibida aos católicos, dentre eles alguma obras de autores renascentistas e de orientação religiosa protestante e calvinista. § A busca de novos fiéis, através do estímulo à atuação de ordens religiosas, especialmente no recém-desco- berto continente americano. No tocante à busca de novos fiéis, merece destaque a atuação da Companhia de Jesus ou Ordem dos Jesuítas, fundada em 1534 por Inácio de Loyola. A ordem era caracterizada pela rígida disciplina e respeito pela hierarquia, lembrando uma organização militar, o que fez com que ficassem conhecidos como “soldados de Cristo”. antigo Regime: absolutismo e meRcantilismo estado modeRno Na transição da Idade Média para a Idade Moderna, ocorreu o processo de formação dos Estados mo- dernos, em contraposição aos domínios feudais, marcados pelo predomínio político do poder local e diretamente ligado à posse da terra. Os Estados modernos mantiveram as velhas estruturas feudais, como o predomínio político e social da nobreza e do clero, que obtiveram privilégios fiscais e jurídicos, associadas a novos elementos, como a centralização do poder político e práticas econômicas intervencionistas, que revelam o fortalecimento das monar- quias nacionais. A montagem da estrutura burocrática dos Estados modernos exigia vultosas quantias financeiras, o que os incentivava a uma crescente necessidade de tributos diretamente arrecadados e administrados pelo governo central. Este também regulava atividades comerciais mediante práticas intervencionistas, fundamentais para impul- sionar a acumulação de capital por meio do comércio e das atividades artesanais. Eram características do Estado moderno: território definido, moeda nacional, idioma comum, centralização política, organização da burocracia estatal e exército nacional. Os poderes locais da nobreza, por sua vez, seriam submetidos à autoridade do monarca, que passou a impor tributos e regras nacionais. Para garantir a manutenção da autoridade real, os exércitos nacionais eram disciplinados, remunerados e diretamente controlados pelos reis, que os usavam para impor sua autoridade e garantir o respeito às suas ordens em todos seus domínios, além de garantir a defesa do território contra inimigos externos. absolutismo Teóricos e pensadores fundamentaram o poder absolutista, justificando sua origem e o comportamento autoritário dos reis. Os principais teóricos do absolutismo foram Nicolau Maquiavel, Jacques Bossuet, Jean Bodin e Thomas Hobbes. Cada um possuía suas especificidades e era constantemente relido por aqueles que defendiam o abuso pessoal dos monarcas. 13 O Leviatã, de Thomas Hobbes O autor mais utilizado na defesa do absolutis- mo foi Hobbes, através de sua obra O Leviatã. Para o filósofo, nas sociedades primitivas sem Estado nem leis, os homens viviam em conflitos sociais, matando- -se uns aos outros por motivos banais, conflitos esses que comprometiam a própria existência da humanida- de, fenômeno que inspirou a célebre máxima do autor: “o homem é o lobo do próprio homem”. Num raro momento de lucidez e em face de um sentimento de preservação da espécie, as sociedades organizaram-se em forma de Estado e concederam-lhe poderes, a fim de que tivesse força suficiente para impor a ordem. Contra aquela situação de anarquia, os homens firma- ram um pacto – o “contrato social” –, renunciaram à liberdade e aos direitos em troca de sua conservação. Portanto, impõe-se que o Estado seja todo poderoso, um Leviatã absolutista para que imponha a ordem so- cial e garanta a vida. Absolutismo francês A consolidação do absolutismo na França sofreu graves solavancos devido às guerras religiosas no sécu- lo XVI, entre huguenotes (calvinistas) e católicos, repre- sentados então pelo Estado francês. A tensão entre os dois grupos acabou se transformando em sangrentos conflitos durante o reinado de Carlos IX (1560-1574).Até que Carlos IX completasse a maioridade, a regência foi ocupada por sua mãe, Catarina de Médici, católica fervorosa e resolvida a exterminar os hugueno- tes. Em 1572, houve a fatídica Noite de São Barto- lomeu (24 de agosto), quando foram mortos cerca de 30 mil huguenotes. A paz na França só foi restabelecida no reinado do Bourbon Henrique IV, mediante o Edito de Nan- tes (1598), que concedia liberdade de culto e o direito de admissão dos protestantes em cargos públicos. Segundo a tradição da monárquica francesa, so- mente um católico poderia assumir o trono. Henrique de Navarra, que era protestante, só pôde ser coroado Hen- rique IV depois de se converter ao catolicismo, oportu- nidade em que supostamente teria dito a famosa frase “Paris bem vale uma missa”. Quando da morte de Henrique IV, Luís XIII as- sumiu o trono e logo retomou a perseguição aos pro- testantes dentro de seu território. Porém, externamente, apoiou os Habsburgos na guerra dos Trinta Anos (1618- 1648), visando a garantir a hegemonia francesa na Eu- ropa continental. Com a vitória, a França de fato logrou transformar-se na maior potência militar do continente. Seu sucessor, Luís XIV, é visto como herói pro- tetor das artes, defensor da Igreja católica, legislador, defensor dos fracos contra os fortes. Encarnou o Estado, cujos interesses estão acima de todos os individualis- mos. Conhecido como rei Sol, promoveu a ascensão da burguesia, da qual recrutou alguns ministros, como Colbert, das finanças. Para controlar a nobreza, atraiu-a para a corte e ofereceu-lhe luxo, festas e pensões. No campo religioso, Luís XIV revogou o Edito de Nantes, em 1685, quando o protestantismo foi proibido. Cerca de 150 mil pessoas viram-se obriga- das a abandonar o país. Em seguida, deu um golpe na Igreja católica, submetendo-a aos seus desígnios e obrigando o clero francês a pagar impostos ao rei. Essas medidas visavam reafirmar a autoridade real pe- rante a população francesa. Contudo, nos últimos anos do governo de Luís XIV e no reinado de Luís XV, a crise do absolutismo só fez piorar e assumir proporções catastróficas no gover- no de Luís XVI, quando, a partir de 1789, o antigo regi- me foi destituído pela Revolução Francesa. Absolutismo inglês Na Inglaterra, a consolidação e o apogeu do absolutismo ocorreram durante a dinastia Tudor (1485- 1603), que ascendera ao poder no final da guerra das Duas Rosas (1455-1485). Nessa guerra civil, as duas mais poderosas famílias da nobreza inglesa – a família 14 Lancaster, representada por uma rosa vermelha, e a fa- mília York, por uma rosa branca – disputaram o poder. Terminada a guerra, Henrique Tudor, descendente dos Lancaster, casou-se com Elizabeth, de York, unindo sob sua direção as duas famílias. Anos mais tarde, seu filho, nomeado Henrique VIII, passou a impor seu poder aos nobres feudais, com a ajuda da burguesia, carente de apoio na sua expan- são comercial. A partir desse momento, o poder passou a centralizar-se cada vez mais na figura do rei. Este rei rompeu com a Igreja católica, apoderan- do-se de todos seus bens e fundando outra Igreja, a an- glicana. A vitória contra os católicos deu-lhe o controle das propriedades eclesiásticas na Inglaterra, fato que ampliou ainda mais seu poder perante outros grupos po- líticos. Após a sua morte, o trono recaiu sob Maria I, uma católica fervorosa que praticou inúmeros morticínios em nome da sua fé. Porém, o fato de Maria ter se casado com Fernando I, rei da Espanha, promoveu inquietações na elite inglesa, uma vez que o país ibérico era um dos principais concorrentes econômicos da Inglaterra. Em 1558, Maria morreu e deu lugar à sua irmã e filha de Henrique VIII, Elisabeth I. Seu reinado consoli- dou a Inglaterra como a maior potência do mundo. Con- seguiu se relacionar pacificamente com o parlamento e, simultaneamente, arrefecer as perseguições religiosas dentro do território inglês. A agricultura inglesa perde- ria suas características de agricultura feudal – produção de subsistência – e transformou-se em agricultura capi- talista com interesses ligados ao comércio. O resultado desse fenômeno, conhecido como cercamentos (en- closures), que resultou na expulsão de uma multidão de camponeses famintos e miseráveis às cidades inglesas. Criavam-se assim as condições favoráveis ao desenvol- vimento do trabalho assalariado e das manufaturas. Em 1601, pretendendo exercer mais controle so- bre os pobres ingleses, Elizabeth I assinou a famosa Lei dos Pobres (Poor Law), que os obrigava a trabalhar em “oficinas de caridade” que abasteciam de mão de obra barata todas as manufaturas inglesas. meRcantilismo O mercantilismo foi uma doutrina econômica que se traduzia em práticas executadas pelo Estado na- cional com o objetivo de auferir ganhos e promover o seu fortalecimento. No entanto, como contava com a burguesia para executar a política econômica, favorecia o enriquecimento e, paralelamente, o ganho de poder dessa nova classe social. Sendo assim, o mercantilismo foi uma política econômica que representava a aliança entre os monar- cas e a burguesia comercial. Tais eram as principais prá- ticas mercantilistas: § Metalismo: a riqueza de um país media-se pela quantidade de metais preciosos dentro de suas fronteiras. Quanto mais ouro e prata houvesse no país, mais rico e poderoso ele seria. Com me- tais preciosos, os governos compravam armas, contratavam soldados, construíam navios, paga- vam funcionários e custeavam as guerras. Para acumularem os metais preciosos, era preciso não só impedir a saída de ouro e prata, mas provocar sua entrada. § Balança comercial favorável: esse princípio mercantilista está intimamente ligado ao ante- rior. Consiste em vender mercadorias pelo maior valor possível para o exterior e comprar pelo me- nor valor. O valor total das exportações deveria sempre superar o das importações. Essa era uma das formas de um país provocar a entrada de metais preciosos e de se promover o metalismo. § Protecionismo: para manter uma balança comercial favorável, o Estado nacional deveria incentivar as exportações observando uma série de medidas: desvalorização da moeda, proibição da exportação de matérias-primas e, principal- mente, desestímulo às importações, cujas tarifas alfandegárias deveriam ser sobretaxadas e caras para o consumidor nacional. § Sistema colonial (colonialismo): com o objetivo de fortalecer o Estado nacional e, con- sequentemente, o poder do rei, alguns países lançaram-se nos séculos XV e XVI à conquista de novas terras a fim de fazer crescer suas fontes de riquezas. Essa era a função fundamental das co- lônias da América e da África: enriquecer as me- trópoles. Das colônias, as metrópoles poderiam retirar as mercadorias de que necessitassem, metais preciosos e produtos tropicais, e ao preço 15 que quisessem. Paralelamente, poderiam obrigar a colônia a adquirir produtos manufaturados da metrópole ao preço que ela determinasse. A essa relação desigual entre metrópole e colônia deu-se o nome de pacto colonial, mediante o qual a balança comercial ficava sempre favorável à metrópole. § Monopólios: graças ao pacto colonial, somente a metrópole poderia comercializar com seus domínios. O monopólio era condição fundamental para o desenvolvimento do comércio e das manufaturas, uma vez que constituía a única forma possível de realizar grandes empreendimentos. Os capitais uniam-se para controlar com exclusividade um ramo da produção manufatureira, o comércio de uma localidade ou o comércio colo- nial. O monopólio, no entanto, pertencia ao Estado que, em troca de pagamento, transferia aos burgueses. § Intervencionismo estatal: visava o fortalecimento do poder nacional. O Estado intervinha na economia mediante incentivo e proteção das manufaturas, altas tarifas alfandegárias e garantia dos monopólios, da fixação de uma políticade controle sobre os salários, os preços e a qualidade das mercadorias. O restabele- cimento da escravidão na época moderna movimentava grande quantidade de capitais, por isso mesmo era uma importante fonte de aceleração da acumulação primitiva de capital, que, ao lado dos demais fatores, compunha a etapa de constituição do capitalismo. Revoluções inglesas do século Xvii e Revolução industRial O Estado absolutista inglês e a política econômica mercantilista foram os principais responsáveis pelo gran- de desenvolvimento econômico alcançado pela Ingla- terra, que trouxe prosperidade para os grupos ligados à atividade mercantil inglesa, como a burguesia comercial e financeira, armadores, nobres enriquecidos com a políti- ca dos “cercamentos” e corsários. No seio desses grupos mercantis, crescia a religião puritana, mais sintonizada com os anseios burgueses. Já entre a nobreza tradicional, prevaleciam o catolicismo e o anglicanismo. Em 1603, com a morte da rainha Elisabeth I, deu- -se o fim da dinastia Tudor, uma vez que a rainha não deixou herdeiros. Em virtude do parentesco, o trono in- glês foi entregue ao rei da Escócia, Jaime I, que deu início à dinastia Stuart. O novo monarca inglês defendeu a implantação de um regime absolutista fundamentado na Teoria do Direito Divino e se aliou à nobreza anglicana como forma de viabilizar seu fortalecimento político. Os resultados foram intensos confrontos com o parlamento, que o renegava por sua nacionalidade escocesa, além de violentas perseguições a católicos e puritanos, que incentivaram a emigração dos puritanos para a América, a partir de 1603. O sucessor de Jaime I, seu filho Carlos I (1625- 1648), intensificou os conflitos, especialmente com o parlamento, majoritariamente burguês e puritano. Re- voltoso, os parlamentares travavam qualquer tentativa do monarca criar novos impostos, fazendo com que Carlos I o dissolvesse. O parlamento só foi reaberto em 1640, quando o rei necessitou convocá-lo a título de obter aprovação de mais recursos ao exército, que luta- va contra revoltosos presbiterianos escoceses. Brasão Stuart 16 Logo após sua reabertura, Carlos I tentou fechar o parlamento. Dessa vez, no entanto, foi impedido pelos deputados e pela população de Londres. O desfecho da situação criada por Carlos I mobilizou os cavaleiros, e os “cabeças redondas”. Cavaleiros constituíam as tropas reais, composta de católicos e anglicanos ligados à no- breza tradicional, que defendiam o regime absolutista. Já os “cabeças redondas” eram constituídos por par- lamentares, burgueses, puritanos e parcela da nobreza progressista, isto é, grupos ligados aos interesses do capitalismo comercial. Liderados por Oliver Cromwell, os “cabeças redondas” obtiveram seguidas vitórias que propiciaram a vitória na guerra civil. Com a ascensão de Cromwell ao poder, houve a queda da monarquia e a proclamação da República. O rei Carlos I foi preso e executado, selan- do a vitória da Revolução Puritana (1649). Com a República, começou a segunda fase da Revolução Gloriosa, a Commonwealth, ou seja, a ideia de comunidade britânica. Surtos nacionalistas re- giam o governo Cromwell, a exemplo de seu Ato de Na- vegação (1651), que garantia monopólio de embarca- ções inglesas nos atos de importação do país. A medida provocou conflito militar com os países baixos, tendo a Inglaterra superado seus rivais. A morte de Cromwell, que governou ditatorial- mente, gerou instabilidade política, visto que seu suces- sor e filho Richard não lograva de reputação junto ao corpo militar. O parlamento, temeroso de revoltas popu- lares, em 1660, ajudou a empossar Carlos II, filho do rei decapitado, Carlos I, que prometeu governar mantendo a tolerância religiosa e respeitando o parlamento e as relações de propriedade. Contudo, Carlos II converteu-se publicamente ao catolicismo, provocando o descontentamento da popu- lação e a retomada da luta por parte do parlamento. Seu sucessor, Jaime II, continuou o processo de repres- são absolutista católica, até que o parlamento revoltou- -se e chamou Maria Stuart e seu marido, Guilherme de Orange, dos Países Baixos, para assumir o governo em lugar do rei, que fugiu à França, dando início à Re- volução Gloriosa. Guilherme só foi proclamado rei depois de se submeter à Declaração de Direitos, que foi aceita pelo rei, em 1689. Essa declaração eliminava a censura política e reafirmava o direito exclusivo do parlamen- to de estabelecer impostos e de apresentar livremente petições. O recrutamento e a manutenção do exército somente seriam admitidos com a aprovação do parla- mento. As reuniões parlamentares e as eleições seriam regulares; o orçamento anual seria votado pelo parla- mento; as contas reais seriam controladas por inspe- tores e os católicos seriam afastados da sucessão. Em 1694, foi criado o Banco da Inglaterra, com o que se organizou o tripé fundamental para o desenvolvimento do capitalismo na Inglaterra: Parlamento, Tesouro e Banco da Inglaterra. Revolução industRial Indústria em Manchester, na Inglaterra A Revolução Industrial é um processo histórico de profundas mudanças técnicas, econômicas, sociais e culturais, sendo, portanto, um conceito bastante amplo. Contudo, deve ser analisada nos termos de sua forma- ção. Como qualquer fenômeno histórico, não surgiu de imediato, mas de um processo longo e encadeado de relações materiais e intelectuais. Em termos técnicos, a Revolução Industrial teve seu germe na manufatura, resultado da ampliação do consumo, o que levou muitos artesãos a aumenta- rem sua produção, bem como muitos comerciantes a se dedicarem à produção. Nesse caso, o comerciante manufatureiro distribuía a matéria-prima para que os artesãos trabalhassem em suas casas, recebendo pelo trabalho um pagamento previamente combinado. Com isso, a produtividade do trabalho aumentou devido à divisão social da produção, isto é, cada trabalhador se especializava em apenas uma etapa da produção. A maquinofatura foi a etapa final. Nela, o trabalhador estava submetido ao regime de funciona- mento da máquina e à gerência direta do supervisor. Com a introdução da máquina e a perda total da inde- 17 pendência dos trabalhadores, consolidava-se o que se denominou Revolução Industrial. Temporalmente, a Revolução Industrial foi um fenômeno inglês, depois espalhando-se pela Europa. As razões para o pioneirismo inglês podem ser sintetizadas nestes tópicos: § Acumulação primitiva de capital: a rique- za produzida pelo comércio de seus produtos manufaturados, aliada às vantagens militares e comerciais do Estado inglês, propiciou o enrique- cimento da burguesia e do Estado inglês. § Supremacia naval: após o Ato de Navegação e a vitória contra os Países Baixos, o império bri- tânico conquistou protagonismo no transporte de mercadorias. § Dotação natural: requeria novas fontes de matéria-prima e de energia, que eram encontra- das em profusão no subsolo inglês, como carvão e ferro; o algodão para as tecelagens era prove- niente das áreas coloniais, como os atuais Esta- dos Unidos, e a lã era encontrada nos campos britânicos e nas colônias. § Cercamentos: a política de cercamentos permi- tiu o aumento da criação de ovelhas nos campos, fornecendo lã à indústria e, concomitantemente, povoou as cidades com trabalhadores livres para operar a maquinaria industrial. Tinha-se, portan- to, insumos e trabalho a preços baixos. § Instituições modernas: a concretização da Revolução Gloriosa colocou a burguesia como classe dominante na Inglaterra. Com ela, veio a garantia à propriedade privada, o desen- volvimento de bancos de financiamento, de bolsas de valores, operações de seguro e uma multiplicidade de leis e órgãos que garantissem o cumprimento dos contratos. § Desenvolvimento técnico: inúmeras inven- ções foram financiadas pelas universidades, pelosindustriais e pelo parlamento inglês. A conhecida máquina a vapor, por exemplo, foi rapidamente implantada em diversas indústrias inglesas. § Ética protestante: a consagração da ética protestante foi decisiva para motivar os agentes econômicos, visto que o sucesso material seria sinônimo de dádiva divina, diferentemente da ética econômica católica, sempre crítica à acu- mulação de riquezas. Todas as transformações citadas repercutiram em alterações sociológicas profundas nas sociedades industriais, como no caso da Inglaterra. O trabalhador livre e assalariado (proletário) vendia sua força de tra- balho no mercado ao industrial (burguês) quase sempre a salários baixíssimos. Com a riqueza recebida, o traba- lhador mal conseguia se reproduzir enquanto animal, isto é, comer e se abrigar. Com isso, inúmeras revoltas proletárias surgiram no esteio da Revolução Industrial. O ludismo, movimento de quebra de máquinas, na Inglaterra, foi um dos primeiros atos contra a fero- cidade da industrialização. Contudo, foi brutalmente reprimido pelo parlamento britânico. Mais tarde, o cartismo ganhou força nas ca- pitais industriais britânicas. Tal movimento reivindicava melhores condições de trabalho, ampliação do direito de sufrágio a todos os homens, melhorias salariais e direito de se representar no parlamento. O fato de as reivindicações serem feitas por meio de cartas ao parla- mento foi o que deu nome ao movimento. iluminismo e independência dos eua iluminismo As origens do movimento iluminista estão na Revolução Científica, do século XVII, período em que ocor- reram grandes progressos na Filosofia e na Ciência (Física, Química, Matemática e Mecânica), com destaque para o crescente desenvolvimento e difusão do método experimental. 18 Consiste na veemente crítica ao modo de pensar medieval. O pensamento iluminista busca compreender os fenômenos naturais e sociais através da racionalida- de e da ciência. Trata-se de uma progressiva e poderosa crítica aos paradigmas teológicos que regiam a visão de mundo medieval. Iluminar-se significa racionalizar a relação entre o homem e o mundo. Politicamente, resultou em teorias liberais e republicanas, como as de John Locke, Jean Jacques Rousseau e barão de Montesquieu. A despeito de suas divergências conceituais, tais autores preconizavam a liberdade e a igualdade na política, oferecendo duras críticas ao absolutismo. Na ciência, houve o desenvol- vimento do cálculo diferencial e integral, com a centra- lidade na figura de Isaac Newton. O período também presenciou o surgimento da ciência econômica, com Adam Smith, em 1776. Tamanhas mudanças só foram possíveis, dentre outras razões, graças à ascensão política e social da bur- guesia. Por essa razão, o iluminismo será a corrente filo- sófica burguesa por excelência, mesmo que dele tenham surgido muitos movimentos de contestação política ao mundo burguês. Ideais iluministas estão no conjunto de fatores que impulsionaram processos de independência na América e revoluções em toda a Europa. indePendência dos eua Como no período mercantilista se dava impor- tância excessiva ao comércio de especiarias tropicais, o governo inglês não se preocupou em implantar uma grande exploração colonial, como Portugal e Espanha promoveram na América latina. Essa relação política da Inglaterra com sua colônia, fora dos padrões mercanti- listas típicos da época, permitiu que os colonos obtives- sem maior grau de autonomia. A economia das colônias conseguiu mais lucros e mais experiência financeira ao se relacionar direta- mente com regiões do Caribe, Europa e África sem a interferência do poder britânico. Esses contatos em for- ma de triângulos comerciais eram feitos com as colônias inglesas, que exportavam peixe, madeira e gado para as Antilhas, de quem compravam açúcar, melaço e rum para revenda na Europa, onde compravam mercadorias manufaturadas. Da África compravam-se negros, reven- didos como escravos nas Antilhas ou nas colônias do Sul, a troco do rum como moeda. As colônias da Nova Inglaterra e as do centro tinham mais identidade com a ideologia da Ilustração, uma vez que contavam, entre sua população, com exi- lados intelectuais, críticos do absolutismo europeu, bem como fugitivos protestantes. Nessas colônias houve a adoção do trabalho livre assalariado, que aumentava a produtividade do trabalhador em relação a do escravo, bem como contribuía com a formação de um mercado consumidor mais ativo. Já nas colônias sulinas, estabeleceu-se a plan- tation, organização bastante semelhante à plantation brasileira, mas sem o monopólio comercial e a comple- mentaridade do pacto colonial. Eram, assim, voltadas para o mercado externo e contavam com a monocultura do algodão, do fumo e do anil como principais ativida- des econômicas. Diante dessas diferenças, o comércio entre as duas zonas não só foi possível, como bastante intenso. Ambos enriqueceram com o processo, mas como fora dito, com o destaque para o Sul. Diante de um cenário de relativa liberdade política e econômica, quais seriam as causas, então, da emancipação das colônias? No século XVIII, a economia britânica entrou em choque com a francesa e o governo inglês buscou conquistar áreas em várias partes do globo terrestre que pertenciam aos Bourbons, como aquelas loca- lizadas nas Índias Orientais e na América do Norte. Para tal, na América, recebeu ajuda dos colonos para derrotar os franceses, o que não foi difícil, pois os es- tadunidenses já pretendiam ocupar terras próximas aos Apalaches. Em troca do apoio, a coroa britânica prometeu ceder terras aos colonos que lutassem sob a liderança militar de George Washington. No entanto, os britânicos não cumpriram o trato, ludibriando os colonos. Além disso, com o intuito de buscar capital para pagar as dívidas contraídas com a guerra dos Sete Anos (1756-1763), a Inglaterra iniciou uma política de au- mento excessivo da exploração sobre as treze colônias por intermédio de leis que se assemelhavam ao pac- to colonial, o qual, se implantado, destruiria a relativa liberdade econômica dos colonos, ou seja, seria o fim da negligencia salutar, da negligência britânica ao desenvolvimento de suas colônias. 19 A Lei do Açúcar (Sugar Act) de 1764 pode ser um indicativo da tentativa britânica de implantação do monopólio comercial próprio do pacto colonial mercan- tilista, aumentando excessivamente os impostos alfan- degários. Esta lei proibiu as treze colônias de comprar açúcar e melaço das Antilhas, que eram produtos bara- tos e de excelente qualidade em relação ao de beter- raba inglês que os colonos, nesse momento, estavam forçados a comprar. Também, em 1764, foi implantada a Lei da Mo- eda (Currence Act), que proibiu a emissão de moeda pelos colonos, o que provocou uma crise econômica com a elevação dos preços de produtos agrícolas – base da economia sulista. A Lei do Selo (Stramp Act), criada em 1765, impunha aos colonos a obrigatoriedade de selar ou ca- rimbar os inúmeros papéis ou documentos de circulação na colônia, pagando um imposto para a coroa. Outro problema originou-se quando o governo inglês criou a Lei do Aquartelamento ou do Alojamento, de 1765, que consistia na exigência inusitada de que os colonos deveriam pagar a estadia dos soldados ingleses em território estadunidense nas missões militares de repressão sobre os próprios colonos, que obviamente intensificaram mais ainda as rebeliões. A política de exploração britânica continuou, em 1767, com as Leis Towshend, que consistiam, no- vamente, em exigir que os colonos pagassem taxas à Inglaterra quando importassem mercadorias vendidas pela própria Inglaterra. A Lei do Chá (Tea Act) de 1773, que previa o estabelecimento do monopólio do comércio desse produto à população estadunidense pelo governo in- glês, desencadeou uma reação inusitada dos colonos:lançar diversos carregamentos de chá da metrópole ao mar. Essa rebelião foi denominada de Festa do Chá de Boston (Boston Tea Party) e provocou dura reação do império britânico, que promulgou a Lei dos Intole- ráveis. A Inglaterra fechou o porto de Boston, ocupou Massachusetts e cobrou altíssimas indenizações. Os es- tadunidenses estavam sufocados e passaram a trilhar um caminho de enfrentamento legal ou militar com os britânicos, o que desembocou na luta pela soberania. À medida que a exploração inglesa mostrava-se mais abusiva, os colonos influenciados e liderados por ideólogos como Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Samuel Adams, Thomas Paine e Charles Dickson, cria- ram a chamada Convenção da Filadélfia, em 1774. Dois anos após sua fundação e ainda sob certos impas- ses, em 1776, suscitou textos, como o Common Sen- se, de Thomas Paine, que clamava pela revolta armada como um direito pela liberdade republicana e cidadã contra um governo despótico. Em 4 de julho de 1776, elaborada pelos repre- sentantes da Virgínia, foi publicada a Declaração de Independência, redigida por Thomas Jefferson. Com a separação instituída, o líder militar George Washing- ton foi indicado pelo parlamento para ser o primeiro presidente dos Estados Unidos. A Declaração de Inde- pendência tornou-se a espinha dorsal da Constitui- ção de 1787. Adotou ideias iluministas como a repú- blica, o presidencialismo, a divisão dos três poderes e o voto censitário. Revolução fRancesa As sociedades da Era Moderna eram estamentais, mas também continham o germe da sociedade de classes. A ascensão da burguesa era resultado do desenvolvimento do capitalismo comercial. Essa classe social apresentava duas tendências marcantes: ou procurava ingressar na nobreza por meio da compra de títulos, ou tentava se impor a partir de critérios econômicos de hierarquização social, em substituição ao critério do nascimento. Por outro lado, o desenvolvimento manufatureiro criara uma nova classe de trabalhadores urbanos, que teria enorme importância nos movimentos revolucionários dirigidos pela burguesia. No campo, reformas formaram uma classe de pequenos produtores independentes, ávidos por se livrarem dos encargos feudais. 20 Na França – como na Inglaterra –, a monarquia absoluta já cumprira seu papel, promovendo a expan- são marítima, a exploração colonial, a acumulação pri- mitiva de capitais e a modernização do Estado. Porém, tanto o clero quanto a nobreza estavam em paulatina crise e, sistematicamente, tentavam se defender, seja pela religião quanto pela repressão. Por isso, aos bur- gueses e trabalhadores, as duas classes representavam anacronismos. As revoluções inglesas já deram o exem- plo de que seria possível suplantar tal estado de coisas. A sociedade francesa era dividida em três Esta- dos: o primeiro Estado representava o clero e contava com 150 mil integrantes; o segundo Estado era a no- breza, com 350 mil componentes – ambos eram isentos de impostos e de todas as obrigações feudais; cerca de 24 milhões de pessoas faziam parte do terceiro Es- tado, composto por burgueses, pequenos burgueses, profissionais liberais, camponeses e sans-culottes – ca- mada heterogênea de pequenos artesãos e proletários. Diante da perda de territórios coloniais para a Inglaterra, na guerra dos Sete Anos (1756-1763), e das despesas próprias de qualquer conflito, além da co- laboração decisiva para garantir a vitória estadunidense na luta pela independência e dos custos elevados para manter a corte, a economia francesa enfrentava uma séria crise. Fator agravante foi um grave problema cli- mático em 1787, que provocou uma seca e consequen- te agravamento da fome. O rei Luis XVI iniciava, assim, uma série de tentativas de reformas econômicas e so- ciais para salvar a França, mas todas elas encontravam sempre forte resistência dos setores sociais. Somado ao cenário de crise no final do século XVIII, as restrições e regulamentações mercantilistas eram sentidas pela burguesia enriquecida e ávida pelo estabelecimento das condições para o desenvolvimento do capitalismo na França. Todavia, para isso era neces- sário derrubar o absolutismo e as restrições mercantilis- tas, criando condições para uma maior igualdade social e jurídica. O contato direto com os filósofos da ilustra- ção e com suas ideias permitiu à classe burguesa trans- formar seus interesses particulares em interesses gerais de toda a sociedade francesa. A luta contra o absolutis- mo, o mercantilismo e os privilégios sociais do clero e da nobreza também interessava aos camponeses, artesãos e outras camadas sociais. Em virtude da grave crise que se abateu sobre a França, Luis XVI criou a Assembleia dos Notáveis, apoiada por reformistas como Necker, Turgot e Breinne. Eles propuseram uma taxação sobre a nobreza e clero no intuito de cobrir o deficit do Estado e financiar projetos que melhorassem a vida do terceiro Estado. Essa proposta, no entanto, foi recusada pela elite do antigo regime. Pressio- nado, o rei Luis XVI convocou, em 1789, a Assembleia dos Estados Gerais, que se tratava de uma instituição política formada por representantes dos três Estados para assessorar o monarca em momentos de crise. Em 5 de maio de 1789, os Estados Gerais se reuniram em Versalhes. O terceiro Estado reivindicava que as votações fossem feitas individualmente, mas os outros dois pregavam a manutenção de apenas um voto por Estado. Revoltado, o terceiro Estado reuniu- -se e ameaçou não se dispersar, enquanto Luis XVI não aceitasse uma constituição que limitasse seus poderes. O rei cedeu, dando origem à Assembleia Na- cional Constituinte. O medo do terceiro Estado era muito grande e, em julho de 1789, na tentativa de dissolver a assembleia, os partidários da monarquia in- flamaram as descontentes massas sans-culottes, o que definiu a tomada da Bastilha, em 14 de julho – era a revolução. A primeira fase da Revolução Francesa é mar- cada pela a Assembleia Nacional e a monarquia constitucional (1789-1792). A França passava a ser uma monarquia constitucional, com a presença de uma assembleia composta por deputados, cujos mandatos eram de dois anos. Os eleitores precisavam de uma ren- da mínima para exercer o voto, o que dava um caráter burguês a essa primeira fase revolucionária. Já em 26 de agosto de 1789, fez-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento escrito com base nas ideias do iluminismo em defesa do direito de todos à liberdade, à propriedade e à igualdade jurídica. 21 Tendo Luis XVI se recusado a reconhecer a decla- ração, o povo de Paris, a chamada comuna, marchou ao palácio de Versalhes, trazendo o rei à cidade. Em 1790, o antigo regime levou outro golpe, com a criação da Constituição Civil do Clero, que nacionalizava as pro- priedades da Igreja a favor do Estado. Finalmente, em 1791, a constituição francesa foi redigida, mas também rechaçada pelo rei. Após ser obrigado a reconhecê-la, tentou fugir da França para iniciar um processo contrarrevolucionário, mas foi preso novamente. Se a constituição representava um avanço em relação ao absolutismo do antigo regime, também dei- xava a desejar as aspirações radicais dos sans-culottes, uma vez que o voto era censitário. As reivindicações das camadas pobres não foram satisfeitas, notadamente a distribuição de riquezas e o fim da escravidão nas colô- nias, como a do Haiti. No parlamento francês, os deputados dividiram- -se em facções que identificavam os grupos políticos divididos ideologicamente. À direita, na parte de baixo da Assembleia, estavam os girondinos, representantes da alta burguesia e influenciados pelas ideias de Mon- tesquieu. À esquerda, estavam os jacobinos, também chamados “montanha”, uma vez sentados no local mais alto. Liderados por Robespierre, foram fortalecidos pelos cordeliers, mais radicais, Danton e Marat. Repre- sentavama pequena burguesia e as camadas popula- res, defendiam a república, o voto masculino universal e o tabelamento de preços. As reações externas à revolução engendraram uma contrarrevolução, na qual participaram Estados ab- solutistas, como a Áustria e a Prússia, encabeçados por parte da nobreza francesa. Como retaliação, a popula- ção parisiense, liderada por Danton e Marat, promoveu o massacre de setembro: invadiu o palácio das Tulherias e matou nobres, exigindo novas eleições por voto universal. Após o conflito com o exército francês, a Áustria e a Prússia foram derrotadas e o Partido Jacobino assu- miu o poder republicano, ao guilhotinar o rei Luis XVI, após um julgamento forjado a portas fechadas e cheios de arbitrariedades. Inicia-se, então, a segunda fase da Revolução Francesa, a Convenção (1792-1794). Nesse ambiente de extremos, foi realizada uma eleição nacional em que as forças de esquerda venceram com o voto universal masculino. De maioria jacobina, o novo parlamento implantou na França a república, em 22 de setembro de 1792, cujos novos mandatários foram os radicais Danton, Marat e Saint-Just, sob a lide- rança de Robespierre. No governo, os jacobinos impuseram o Edito do Máximo, tabelando o preço dos produtos. Taxaram os ricos, obrigando-os a pagar mais impostos, protegen- do os pobres e desamparados. A educação tornou-se gratuita e obrigatória. As propriedades dos emigrados foram confiscadas e postas à venda para cobrir despe- sas do Estado. Evidentemente, ocorreram revoltas con- tra essas medidas e os jacobinos responderam com a execução de mais de 30 mil suspeitos de conspiração, o que recebeu o nome de o Grande Terror jacobino. Consequência: os sans-culottes, amedrontados com o aumento da violência, deixaram de apoiar os jacobinos, que ficaram isolados no poder. Rapidamen- te, os girondinos conseguiram se reerguer e derrubar o jacobinismo. Robespierre e seus pares foram guilho- tinados no episódio conhecido como o Golpe do Nove Termidor, em julho de 1794, conhecido como a Reação Termidoriana, que marcou a queda da convenção e a volta da alta burguesia girondina ao poder. A terceira fase da revolução, o Diretório (1794- 1799) é representada politicamente pelos girondinos. Instaurou-se uma república que destruiu os avanços sociais consolidados pelos jacobinos, bem como as pos- sibilidades de retorno das forças retrógradas do anti- go regime. Para consolidar os privilégios burgueses, foi 22 criada uma nova constituição: a Constituição do Ano III (1795), que extinguiu o tabelamento de preços e fez voltar a escravidão nas colônias; esvaziou o Comitê de Salvação Pública e desmoralizou o Tribunal Revolucionário. O voto universal foi substituído pelo censitário, para revolta dos sans-culottes. O diretório extinguiu a lei do máximo e fran- queou a volta da elevação de preços das mercadorias populares, promovendo o retorno da liberdade econômica, própria do liberalismo. A estrutura política ficou nas mãos de cinco diretores, cujo papel era chefiar o Poder Executivo. O Legis- lativo era composto pelo Conselho de Anciãos e pelo Conselho dos 500, modelo esse que criou condições para o enfraquecimento do governo. Os diretores brigavam entre si pela defesa de seus interesses e pelo poder. Não conseguiam barrar a corrupção nem eram eficientes na administração pública e na construção das obras públicas. Sem legitimidade, em 1795, o governo abortou um golpe realista em Paris. No ano seguinte, foi a vez de sufocar um movimento popular de tendência socialista, a Conjuração dos Iguais, cujo líder, Graco Babeuf, defendia a soberania popular e a supressão da propriedade privada. Preso, Babeuf foi guilhotinado, em 1797. A burguesia, completamente encurralada, sabia que a única instituição que poderia proteger seus interesses seria a ala do exército, liderada pelo jovem e popular general Napoleão Bonaparte. Ao sair do Egito, seguido de alguns generais fiéis, reembarcou para a França, onde, com o apoio de dois diretores, de toda a alta burguesia e dos sans-culottes, que o viam como uma espécie de salvador, assumiu o poder no Golpe 18 Brumário, em novembro de 1799. Esse fato gerou o início de uma pacificação interna e de confirmação dos interesses da burguesia francesa. eRa napoleônica e o congResso de viena eRa naPoleônica Diante do instável cenário político, Napoleão procurou fazer uma política de reconciliação, tomando várias medidas para estabelecer a paz e garantir a se- gurança dos franceses. A Constituição de 1799, que foi submetida a plebiscito e aprovada por mais de três milhões de votos, deu a Napoleão poderes ilimitados, sob a aparência de um regime republicano. Daí seria iniciado o seu primeiro período de governo: o Consu- lado (1799-1804). A constituição aprovada restituía o voto univer- sal. Fazia-se uma lista dos candidatos mais votados, entre os quais o governo escolhia os encarregados às funções públicas. O Poder Legislativo, tão fraco que sua existência era só formal, era composto por quatro as- sembleias: o Conselho de Estado, que preparava as leis; o Tribunal, que as discutia; o Corpo Legislativo, que as votava; e o Senado, que velava pela sua execução. O Po- der Executivo, confiado a três cônsules nomeados pelo Senado por dez anos, era o mais forte dos poderes. O primeiro-cônsul, cargo mais poderoso, era de Napoleão. Após dez anos de instabilidade política, Napo- leão assinou, em 1802, a Paz de Amiens, que redefiniu fronteiras coloniais, como as do Egito e das Guianas, transmitindo a falsa sensação de que a França tinha perdido o desejo de expansão intercontinental. Internamente, Napoleão fundou o Banco da França, emissor de papel-moeda e receptor dos impos- tos estatais, que começaram a ser coletados com maior eficiência. O ensino secundário foi organizado para ins- truir a burocracia pública. A principal obra napoleônica foi o Código Civil, inspirado no Direito Romano, nas Or- denações Reais e no Direito Revolucionário. Em 1901, Napoleão restabeleceu a paz com a Igreja católica, ao assinar a Concordata, pela qual a Igreja aceitaria o con- fisco de seus bens pelo Estado francês, em troca da não intervenção estatal em assuntos religiosos. Com forte aceitação de todas as classes sociais francesas, em 1804 foi promulgada a Constituição do Ano XII, aprovada em plebiscito pela imensa maioria da população francesa e que substituía o regime de con- 23 sulado pelo de império. A coroação de Napoleão, em Paris, marcou o início do segundo período de Napoleão no poder: o Império (1804-1815). Napoleão Bonaparte Rapidamente, em âmbito interno, legalizou a reforma agrária, estimulou a indústria, desenvolveu os códigos comercial e penal. A infraestrutura do Estado francês foi ampliada e sofisticada, bem como monu- mentos apareceram para esbanjar a riqueza e o poderio da França. Por outro lado, Napoleão tornou-se cada vez mais despótico. Garantias constitucionais, como as li- berdades individuais e políticas, foram desrespeitadas; a imprensa, censurada; o conteúdo das universidades, subvertido. Ou seja, Napoleão aproveitou-se do bom momento econômico e de sua boa reputação para im- primir abusos. A política externa nos tempos de império sofreu profunda inflexão. O imperador Bonaparte, a despei- to de ter assinado com a Inglaterra a Paz de Amiens, passou a ameaçá-la constantemente. Abriram-se então quatro coligações entre, principalmente, Áustria, Rússia, Prússia e Inglaterra para o combate a Napoleão. Porém, a superioridade francesa era clara: nas batalhas de Ulm, na Prússia, e em Austerlitz, do Sacro Império Romano- -Germânico, Napoleão derrotou as tropas austríacas e russas. Como consequência da vitória napoleônica em Austerlitz, Napoleão suprimiu o que restava do Sacro Império Romano-Germânico e criou, em 1806, a Con- federação do Reno, que reunia a maioria dos Estados alemães dos quaisse autodenominou protetor. Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental contra a Inglaterra, acreditando que, ao fechar-lhe os mercados europeus, provocaria uma crise em sua indústria e, consequentemente, uma crise social sem tamanho. O decreto proibia os países europeus, sob domínio francês ou aliados da França, de adquiri- rem produtos ingleses ou de receberem embarcações da Inglaterra em seus portos. Com a derrota de todas as quatro coligações criadas para destruir seu exército e da invasão da pe- nínsula Ibérica, Napoleão tornou-se o grande senhor da Europa continental. Nomeou seus irmãos José, Luís e Jerônimo, respectivamente, reis de Espanha e Nápo- les, da Holanda e da Vestfália. Por onde seus exércitos passavam, a velha ordem era destruída: implantavam-se constituições, divulgava-se o Código Civil e moderniza- vam-se as estruturas econômicas. Com suas economias arruinadas, Inglaterra e Rússia passaram a transacionar secretamente merca- dorias, informação que de prontidão chegou a Napo- leão. Como punição à Rússia, enviou 600 mil homens para destruí-la. Os russos, utilizando a tática de terra- -arrasada, conseguiram atrair o exército francês até a incendiada Moscou. Com a tática, Moscou não passava de um amontoado de entulho e cinzas. Napoleão, dessa forma, teve que partir em rápida retirada do território russo, mas em pleno inverno. O resultado foi assustador: apenas 10 mil soldados franceses retornaram com vida. Enfraquecido, o exército francês não resistiu à nova contenda contra seus inimigos e ruiu na conheci- da Batalha de Leipzig, em 1813. No mesmo ano, Paris foi invadida e Napoleão, obrigado a renunciar, sendo encarcerado na ilha de Elba. No governo francês, foi empossado Luís XVIII, da dinastia Bourbon e irmão de Luís XVI. Da cadeia, Bonaparte recebia notícias do cha- mado Governo dos Cem Dias. Sabia das arbitrarie- dades cometidas pelo recém-empossado rei, e, com a ajuda de alguns militares, retornou à França e retomou seu posto. A princípio, logrou vitórias contra mais uma coligação absolutista, mas seu combalido exército não resistiu à Batalha de Waterloo, contra a Inglaterra e a Áustria, sendo definitivamente derrotado e enviado ao cárcere na ilha de Santa Helena, onde morreu por causas naturais. congResso de viena Depois da primeira abdicação de Napoleão, em 1814, todos os governantes se reuniram no Congresso de Viena para discutirem a reorganização política e ter- 24 ritorial da Europa, após a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas. Presidido pela representação austríaca em 1815, o Congresso decidiu restaurar as dinastias destronadas até então, garantindo o Princípio da Legitimidade, formulado pelo francês Talleyrand. A definição das novas fronteiras nacionais privilegiariam Prússia, Rússia e Áus- tria. Em âmbito mundial, a Inglaterra se beneficiaria das colônias orientais e ocidentais, em detrimento da Holanda, França, Espanha e Turquia. O Congresso de Viena pode ser visto como uma instituição reacionária, pois permitiu a restauração do antigo regime, ou pelo menos o absolutismo, em diversas nações europeias. Além disso, para manter novo ordena- mento europeu, sancionado pelo Congresso de Viena, Áustria, Prússia e Rússia criaram a Santa Aliança. O obje- tivo central era combater movimentos liberais e republicanos nacionalistas no continente. O novo governo francês, embora uma monarquia constitucional, também foi signatário da Santa Aliança. Revoluções de 1830 e 1848 e segunda Revolução industRial No início do século XIX, forças sob o comando da burguesia liberal, inspiradas pela Revolução Francesa e lideradas por Napoleão Bonaparte, invadiram grande parte da Europa, enfraquecendo, com isso, o antigo regime. Com a derrota de Napoleão em Waterloo, configurou-se um ambiente propício ao retorno das casas reais absolu- 25 tistas, cenário em que nasceu o conservador Congresso de Viena (1815), que recusou os ideais revolucionários. Contudo, as forças de oposição reagruparam-se e pas- saram a se rebelar contra o próprio regime absolutista. Foi o caso da deflagração da Revolução Liberal do Por- to (1820), em Portugal, que estabeleceu a monarquia constitucional e subordinou o poder do rei João VI ao parlamento lusitano. Em outras áreas europeias, dese- nhava-se o mesmo cenário de busca pela liberdade. No entanto, como o Congresso de Viena havia legitimado as invasões territoriais da Áustria, Prússia e Rússia sobre algumas regiões da Europa, a luta pelo ideal de liberda- de e pelo liberalismo burguês passou a incluir também a luta pela independência daquelas regiões, acendendo a luz do nacionalismo. Napoleão Bonaparte Após o Governo dos Cem Dias, a casa dos Bour- bons retornou ao poder da França, com Luís XVIII. Con- tudo, a restauração não significou a volta à política ab- solutista. A partir de 1815, Luís XVIII adotou uma política moderada, procurando conciliar a restauração do absolu- tismo com a manutenção de algumas conquistas da Re- volução de 1789, como a igualdade jurídica dos cidadãos franceses. Outorgou uma constituição instaurando uma assembleia que seria eleita pelo voto censitário. Inspirados pelo chamado “terror branco”, pas- saram a perseguir os liberais, partidários da Revolução Francesa, e os bonapartistas, mediante ações que se ca- racterizaram como verdadeiros massacres. Os excessos cometidos pelos ultrarrealistas obrigaram Luís XVIII a dissolver a Câmara e convocar novas eleições, vencidas pelos constitucionalistas, partidários da plena aplicação da Constituição. Após a morte de Luís XVIII, em 1824, ascendeu ao trono seu irmão Carlos X, chefe do Partido Ultrarre- alista, que, em 1830, apoiado pela nobreza, desfechou um golpe de Estado, com a intenção de aniquilar a opo- sição liberal burguesa e restaurar o absolutismo no país. Essas medidas foram criticadas pelo povo pari- siense, que criou barricadas nas ruas durante os “Três Dias Gloriosos”. Lutaram, assim, contra as tropas fiéis ao rei. Na madrugada de 29 de julho de 1830, a revolu- ção mais uma vez triunfou na França. Carlos X, temendo o mesmo fim de Luís XVI, fugiu para a Inglaterra, dei- xando o trono para seu neto menor de idade. Naquele momento, a burguesia francesa, ao contrário de parte da população de Paris, queria uma monarquia constitucional. Por isso, os burgueses no- mearam rei da França o duque de Orleans, Luís Filipe, cuja família mantinha estreitas relações com os grandes banqueiros. A proximidade de Luís com os banqueiros gerou-lhe a alcunha de Luís, o rei banqueiro. Essa revolução repercutiu na Europa e a burgue- sia passou a propagandear seus ideais, que foram sen- do assumidos pela maioria da população das pequenas nações na luta pela liberdade política (liberalismo), pelo nacionalismo e crítica às decisões do Congresso de Vie- na. Com isso, um solo fértil para agitações políticas foi gestado, ocasionando nas revoluções de 1848. De modo geral, foram três os fatores das revo- luções de 1848: o liberalismo, contrário às limitações impostas pelo absolutismo; o nacionalismo, que pro- curou unir politicamente os povos de mesma origem e cultura; e o socialismo, força nova, nascida nos movi- mentos de 1830, que pregou a igualdade social e eco- nômica mediante reformas radicais. Além desses, podem ser mencionados também como fatores das revoluções de 1848: 26 § as péssimas colheitas na Europa, entre 1846 e 1848, fazendo com que os preços dos produtos agrícolas subissem muito, agravando a situação das camadas mais pobres; e § as crises na indústria – notadamente a têxtil – e agrícola, que desencadearam o empobrecimen- to dos camponeses e diminuíram ainda mais o consumo de tecidos, gerando superprodução e desemprego. Barricada na rua Soufflot (1848), de Horace Vernet No caso específico da França, quando Luís Fili- pe assumiu o poder, um político francês comentou: “Dehoje em diante governarão os banqueiros”. Ele tinha ra- zão. Todas as facções da burguesia – pequenos burgue- ses, industriais, comerciantes etc. – haviam participado da luta contra o poder absolutista e a velha aristocracia, mas quem assumiu o poder foi apenas uma parte da burguesia ligada ao capital financeiro. Em relação ao governo anterior, houve peque- nos progressos sociais: direito de voto muito pouco ampliado, embora mantivesse a imprensa censurada e a oposição reprimida. Mesmo assim, a França con- seguira um desenvolvimento industrial acelerado, que fortaleceu a burguesia industrial e comercial. Por outro lado, a situação dos operários era de extrema miséria, de baixos salários e de jornada de trabalho com mais de 14 horas diárias. Os oposicionistas ao governo de Luís Filipe organizaram-se em vários partidos: legitimista, consti- tuído pela nobreza, desejosa de restaurar o poder dos Bourbon, depostos em 1830; bonapartista, formado pela pequena burguesia e liderado por Luis Bonaparte, sobrinho de Napoleão; socialista, composto por diver- sas facções que procuravam organizar a classe operária; republicano, de tendência nacionalista, que encontrava apoio entre a classe média e os profissionais liberais. Seguido pela população da cidade e por alguns setores da Guarda Nacional, o proletariado parisiense rebelou-se. Foram três dias de luta nas barricadas. No dia 24 de fevereiro, Luís Filipe abdicou, quando então estabeleceu-se um governo provisório que proclamou a República. Sob pressão dos trabalhadores, foram cria- das as oficinas nacionais, empresas dirigidas e sustenta- das pelo Estado. Para pagar os salários dos trabalhado- res dessas oficinas, os impostos foram elevados, o que provocou uma crise ainda maior na economia francesa. As oficinas foram fechadas. Nesse ambiente de radicalização, a Segunda Re- pública foi implantada, o voto universal instituído, para temor da burguesia, mas imprescindível para que ela obtivesse o apoio da população e não se mantivesse isolada, permitindo o crescimento político dos grupos radicais. A burguesia aproveitou-se da situação para indicar o sobrinho de Napoleão Bonaparte para a presi- dência do país, graças à sua popularidade, herdada do tio, e às suas ligações com o pensamento liberal. Luís Bonaparte venceu a eleição pelo voto universal e a bur- guesia continuou a controlar a administração pública. Em 1851, a burguesia notou que o governo de Luis Napoleão tinha possibilidade de acabar com a radicalização da república, uma facção da burguesia apoiou-o numa espécie de segundo Golpe de 18 de Brumário que implantou um plebiscito e tornou-o “im- perador” com o título de Napoleão III no Segundo Império. Politicamente, o Segundo Império caracteri- zou-se pelo cesarismo de Napoleão III, que governou ditatorialmente por meio de vários plebiscitos. No âmbito social, empreendeu vigoroso pro- grama de modernização do país, com a construção de estradas de ferro, portos, canais e estradas. O prefeito Haussmann mudou a fisionomia de Paris, ampliando suas avenidas e reurbanizando a cidade. Podemos considerar a revolução de fevereiro de 1848, na França, como o estopim para o início de um período revolucionário no resto da Europa. A Itália viu- -se sacudida por movimentos que se estenderam do sul ao norte. Na Alemanha, por exemplo, a Prússia viveu um grande movimento popular. O mesmo ocorreu no Impé- rio Austríaco, quando a capital foi totalmente tomada pelos revolucionários. 27 Napoleão III Concomitantemente às agitações políticas, ger- minava em solo europeu a Segunda Revolução In- dustrial. Enquanto a primeira fase da Revolução Indus- trial concentrou-se na produção de bens de consumo, particularmente de têxteis de algodão, na segunda fase a indústria pesada passou a ser o centro do sistema produtivo. A produção de aço superou a de ferro e os preços caíram consideravelmente. O descobrimento dos processos eletrolíticos estimulou a produção de alumí- nio. Na indústria química, o grande avanço foi repre- sentado pela obtenção de métodos mais baratos para produção de soda cáustica e ácido sulfúrico, particular- mente importantes para a fabricação de papel e explo- sivos e para a vulcanização da borracha. A construção e expansão das ferrovias exigiram que os bancos e as companhias de ações mobilizassem seus capitais; os efeitos multiplicadores desse processo foram a dinamização da produção de ferro, dormentes, cimento, locomotivas e vagões. A invenção do barco a vapor, em 1808, revolucionou a navegação marítima. A agricultura adaptou-se às novas condições im- postas pela sociedade de massa, que incorporou novos produtos e novos instrumentos de trabalho e intensifi- cou os rendimentos, adequando a produção ao merca- do consumidor. Fundamental para o período foi o desenvolvimen- to do motor a combustão interna, que abriu caminho para a utilização do petróleo em larga escala. Ele passou a ser utilizado como força motriz em navios e locomo- tivas, criando também condições para o aparecimento do automóvel e do avião. Além disso, a energia elétrica passou a ser utilizada em processos produtivos até, final- mente, chegar ao consumo diário da população. Desenho de uma região industrial, em meados do século XIX A partir da Segunda Revolução Industrial, o ca- pitalismo industrial foi gradualmente cedendo lugar ao capital financeiro e passando para os grandes bancos o controle das empresas industriais e comerciais. As fi- nanças conquistaram a supremacia sobre a produção e a circulação de mercadorias. Nessa etapa, os grandes bancos investiram na compra de ações e foram assu- mindo o controle acionário das empresas. Por outro lado, os empréstimos e financiamentos também contri- buíram para submeter às empresas à inteira dependên- cia das instituições financeiras. Surgiram fenômenos de mercado, tais como: § trustes – formam-se graças à eliminação ou ab- sorção de pequenos concorrentes por grandes empresas, que passam a monopolizar a produ- ção de certo produto, e são regularmente resul- tados da fusão de empresas do mesmo ramo; § cartéis – são anomalias de mercado formadas mediante acordo entre grandes empresas, que, para evitar os desgastes da concorrência, con- vencionam entre si formas de manutenção dos preços e de divisão dos mercados, deixando sempre a salvo a autonomia de cada uma delas; § holdings – consistem na assunção do controle de uma grande companhia sobre inúmeras ou- tras, mediante a compra da maior parte de suas ações, o que lhes permitem passar a atuar de forma coordenada. 28 Outra consequência importante da Segunda Revolução Industrial e da era do capitalismo financeiro ou monopolista foi o desenvolvimento do imperialismo e o neocolonialismo. Em busca de novos mercados consu- midores e de insumos para suas indústrias, os países europeus promoveram uma expansão territorial a partir de intervenções violentas na Ásia e na África. Tal ânimo expansionista explica, em parte, as causas da Primeira Guerra Mundial, já no século XX. ideologias do século XiX libeRalismo Durante a Revolução Industrial, os interesses dos burgueses foram defendidos pelos economistas e filóso- fos liberais (também chamados clássicos), que produzi- ram uma série de teorias justificadoras do capitalismo e da não intervenção do Estado. Filosoficamente, destaca- -se a figura de John Locke e, na economia, nomes como David Ricardo, Adam Smith e Thomas Malthus. Caricatura sobre a relação entre liberalismo, imperialismo e exploração Dentre os princípios do liberalismo, destacam-se: § Não intervenção do Estado na economia: obediência às leis naturais da economia. Da mesma forma que o universo físico, a economia é governada por um conjunto de “leis naturais” que determinavam e condicionavam os negó- cios. A economia se autorregula e se autogover- na naturalmente, sem a necessidade
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