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Módulo Controle da Incidência Tributária ALUNO: LEANDRO TAKEO ALVES WATANABE TURMA: 2022.02-CIT-BSB Seminário IV - IMUNIDADE E NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Questões 1. Que é imunidade tributária? Diferençar imunidade, isenção, não incidência e incidência tributária. O conceito de imunidade tributária pode ser aplicável às taxas, às contribuições e as contribuições de melhoria? Segundo o professor Paulo de Barros Carvalho1, imunidade tributária é uma classe determinável de normas jurídicas, de modo finito e imediato, em que tais normas estão contidas no texto constitucional, estabelecendo de forma expressa, a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para redigir regras que instituem tributos que abarquem situações caracterizadas e específicas. Clélio Chiesa2 leciona no mesmo sentido, explicando que se trata de conjunto de normas jurídicas escolhidas na Constituição Federal que dispõem a incompetência das pessoas políticas para instituírem tributos em determinadas situações especificadas na Carta Maior. Consoante nesse sentido, pode-se dizer que a imunidade tributária consiste em normas de limitação à competência tributária contidas na Constituição Federal e dirigidas aos legisladores das pessoas políticas de direito constitucional interno, determinando que se abstenham de instituir tributos sobre certas situações, bens ou pessoas. Pode-se afirmar que as imunidades são normas com o objetivo é delinear a competência tributária das entidades tributantes e, dessa forma, relaciona-se ao campo das normas de estrutura, de fato que determinam de que maneira criar regras jurídicas novas que sejam válidas no sistema. Veja que essas normas de estrutura são diferentes das normas de comportamento, de modo que diferente da primeira essa segunda tem a finalidade de disciplinar as condutas humanas. Sendo assim, as regras de incidência tributária se alojam no campo das normas de comportamento, 1 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31 ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 203. 2 CHIESA, Clélio. A competência tributária do estado brasileiro: desonerações nacionais e imunidades condicionadas. São Paulo: Max Limonad, p. 119. Módulo Controle da Incidência Tributária ao passo que as imunidades e as isenções ficam no campo das normas de estrutura. As imunidades, de acordo entendimento doutrinário predominante, são hipóteses de não incidência dispostas nas CF/88 e, por outro lado, isenção são hipóteses previstas nas demais normas. Nota-se, em que pese imunidade e isenção serem normas de estrutura, têm-se diferente fenômeno jurídico. A imunidade atua no campo da definição da competência, já a isenção trabalha no plano do exercício da competência. A incidência tributária está ligada na ocorrência da regra-matriz, ou seja, no nascimento da própria obrigação tributária. Noutro lado, a não incidência está ligada na não identificação da regra-matriz, isto é, ocorrência de fato jurídico que não enseja relação jurídica entre sujeito ativo e sujeito passivo. No que se referte a abrangência da imunidade tributária, nossa Carta Magna dispõe que são abrangidas as taxas, nos termos do art. 5º, XXXIV, os impostos, conforme art. 150, VI, e as contribuições para a seguridade social, forte no art. 195, § 7º. Em que pese o art. 195, § 7º, CF/88 utilizar o termo isenção ao assentar sobre as contribuições, tal nomenclatura se trata, essencialmente, de imunidade. Entretanto, ainda sim os exemplos acima, as imunidades não estão restritas somente a tais exemplos, mas a qualquer espécie tributária, pois, quando se pensa no fato que pode ocorrer e naquilo que está positivado, não pairam dúvidas de que o legislador elabora hipóteses normativas imunizantes. 2. As imunidades são cláusulas pétreas na Constituição Federal? Uma Emenda Constitucional pode revogar alguma das imunidades dispostas na Carta Magna? As normas constitucionais que veiculam imunidades são autoaplicáveis ou dependem de regulamentação infraconstitucional? Inicialmente cabe destacar que as cláusulas pétreas podem ser definidas como o núcleo constitucional intangível, possuem valores de grande relevância e, assim, não podendo ser objeto de proposta de emenda constitucional, ou seja, estão protegidas pela própria Constituição Federal pelas limitações ao poder de reforma. Adiante, conforme definições já expostas na questão anterior, entende-se que a imunidade tem por objetivo evitar que o constituinte adentre áreas que devem ser conservadas em favor do interesse da sociedade. Dessa forma, entende-se que as imunidades são cláusulas pétreas e não estão sob a possibilidade de serem revogadas por emendas constitucionais. Módulo Controle da Incidência Tributária Nesse diapasão, dispõe o art. 60, § 4º, IV, da CF/88 que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais. Sendo assim, verifica-se que as cláusulas pétreas possuem o condão de proteger e densificar determinados direitos e garantias individuais, assim como demais valores constitucionalmente considerados impassíveis de abolição ou redução por emenda constitucional. Diante disso, não obstante as imunidades possam ser complementadas por norma infraconstitucional, entende-se que são autoaplicáveis, pois estão perfeitamente delineadas no texto constitucional. Não necessariamente ou obrigatoriamente, precisam de regulamentação infraconstitucional, porém, poderá o legislador complementar colaborar na regulação das condicionantes, ou seja, poderá haver atos normativos infraconstitucionais que orientem nos deveres instrumentais e procedimentos que ajudem no alinhamento das imunidades, mas, sempre respeitando as disposições da Constituição. 3. Na sua opinião, são imunes: (a) quanto ao ISS: os serviços de guarda e estacionamento de veículos automotores prestados por entidades religiosas (vide anexos I e II); Nos termos do art. 150, VI, “b”, da CF/88, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, instituir impostos sobre templos de qualquer culto. Todavia, o § 4º do mesmo dispositivo expressa que tal vedação compreende apenas “o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.” Dessa forma, deverá ser analisado o caso concreto, identificando se os serviços em discussão estão relacionados às atividades do templo ou se a renda de tais serviços visam garantir o pleno funcionamento do templo. Assim, bem acertado o entendimento do STF, conforme se verifica nos anexos I e II, os quais, no primeiro caso se verifica que a renda obtida pelo serviço, efetuado de forma eventual, visa garantir a funcionalidade da instituição de assistência social, aplicando-se a imunidade. No segundo, já se verifica única e exclusivamente o lucro, afastando-se a imunidade. Nesse sentido, claro fica que se os serviços prestados estiverem ligados ao custeio de suas atividades essenciais, haverá imunidade. Caso tenha apenas a finalidade lucrativa, não haverá imunidade. Módulo Controle da Incidência Tributária (b) quanto ao IPTU: o imóvel destinado à locação, pertencente à mesma entidade (vide anexo III); e os cemitérios particulares (vide anexo IV); No mesmo entendimento quanto à proteção dos templos religiosos, será aplicada a imunidade ao imóvel destinado à locação, porém, desde que esteja vinculado às atividades essenciais da entidade. Inclusive, verifica-se conforme exposto nos anexos III e IV, que a jurisprudência tanto do STJ como do STF tem flexibilizado as regras atinentes à imunidade tributária quanto ao tema em debate, isso com o objetivo de resguardar o propósito protetivo do constituinte originário e, dessa forma, garantir a imunidade aos imóveis destinados à locação, bem como lotes não edificados. Quanto aos cemitérios particulares,no que tange a imunidade, segue-se a mesma linha de raciocínio, o qual, sendo considerados tais cemitérios como extensões da entidade religiosa, será abarcado pela garantia constitucional da imunidade. (c) quanto ao ITR: as áreas de reserva indígena, bem como a renda auferida pelos indígenas (vide Petição n. 3388 STF). Justifique sua resposta. (vide STF, Petição n. 3388, DJ 04/02/14); Nos moldes do art. 20, XI, da CF/88, são bens da União as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. Adiante, a Carta Magna, no art. 231 e seus parágrafos, explica que apesar de ser reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, compete à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. Nesse sentido, em respeito a imunidade recíproca disposta no art. 150, VI, alínea “a”, haverá imunidade quanto ao ITR nas áreas de reserva indígena, eis que consideradas da União, inalienáveis, indisponíveis e os direitos sobre elas imprescritíveis. Ainda de se destacar o Decreto nº 4.382/02, que dispõe sobre a regulamentação da tributação, fiscalização, arrecadação e administração do ITR, determinando em seu art. 11, § 2º, que as florestas que integram o patrimônio indígena estão sujeitas ao regime de preservação permanente, tornando tais áreas não-tributáveis. Módulo Controle da Incidência Tributária (d) quanto aos serviços prestados por empresas públicas no regime de concorrência (vide anexos V); Empresas prestadoras de serviços públicos, tendo sua prestação averiguada como obrigatória e essencial à sociedade, terá a garantia da imunidade. Inclusive, o STF, conforme se depreende do julgado exposto no anexo V, estendeu tal entendimento aos Correios, na atuação em concorrência com a iniciativa privada. Todavia, ressalta-se que no julgado foi abordado a atividade que não é de monopólio dos Correios, qual seja, o transporte de encomenda. Entretanto, nesse ponto, divirjo do entendimento do Supremo, vez que o argumento de que os Correios devem cumprir o encargo de alcançar todos os lugares do Brasil e por preços módicos, não merece acato, pois em verdade, tal empresa ainda não alcança todos os lugares e não se cobra preços insignificantes, de modo que a garantia de imunidade, no que tange tão somente ao transporte de encomenda, a põe em vantagem da concorrência, desestimulando o particular. Por outro lado, quanto ao serviço em regime de monopólio, serviço postal, por ser de essencial relevância à sociedade, este realmente deve ser abrangido pela imunidade recíproca. (e) quanto aos serviços “públicos” prestados por sociedades de economia mista (vide anexo VI e VII); É cristalino o entendimento jurisprudencial de que é aplicável a imunidade recíproca em relação às sociedades de economia mista quando na prestação de serviços cuja sua atividade seja obrigatória e exclusiva do Estado. Assim expõem os anexos VI e VII refletindo tal entendimento jurisprudencial. Nessa mesma linha de raciocínio e conforme explanado na questão anterior, quando se tratar de serviço prestado em regime de monopólio e exclusivo do Estado, mesmo que por meio de empresas públicas ou sociedades de economia mista, não se entende pela aplicação da imunidade recíproca. (f) quanto aos serviços “públicos” prestados por sociedades de economia mista cujas ações sejam negociadas na bolsa de valores (vide anexo XIII). Justifique suas respostas. Tema que perdurou bom tempo para ser decidido pelo Supremo, conforme anexo XIII, no julgamento do RE 600.867/SP em sede de repercussão geral, onde Módulo Controle da Incidência Tributária restou assentado o entendimento que no caso em debate não haverá aplicação da imunidade recíproca. Dessa forma, diferente das questões “d” e “e”, aqui, apesar das funções desempenhadas pela sociedade de economia mista, há a participação acionária negociada em Bolsa de Valores. Todavia, necessário analisar se há inequívoca pretensão à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas. Restando positiva essa inequívoca pretensão, entende-se que deverá haver tributação, não sendo constatada, entende-se pela imunidade recíproca. 4. A agência de publicidade Bravia foi contratada pela empresa Xilitol para que produzisse a campanha de seus novos produtos e, após definida a estratégia, indicasse os melhores meios para a divulgação do anúncio. Além da mídia na TV Tupi, a agência Bravia recomendou a exposição da campanha via folder a ser inserido na revista “A Pastorinha” por dois domingos seguidos, após a veiculação do anúncio na TV Tupi. No orçamento referente à divulgação do anúncio, a agência inseriu o preço da sua veiculação no horário nobre passado pela TV Tupi e também o preço informado pela revista “A Pastorinha”. Ambos associaram o preço de seus serviços aos tributos inerentes às suas atividades (gross up, em especial do ISS, PIS e COFINS). Ao receber o orçamento, o depto. jurídico da Xilitol questionou o gross up do ISS apresentado pela revista “A Pastorinha”, com base no item “17.25 - Inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade, em qualquer meio (exceto em livros, jornais, periódicos e nas modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita)”, introduzido na lista de serviços da LC 116/2003 pela LC 157/2016, e manifestou sua recusa no pagamento. Considerando o disposto no art. 150 da CF, e os fundamentos utilizados pelos Ministros do STF no julgamento dos RE 330.817 e RE 595.676, na sua opinião o questionamento apresentado pelos advogados da Xilitol quanto à incidência do ISS sobre os serviços prestados pela revista “A Pastorinha” procede? Na presente questão, a indagação que se faz é se a empresa Xilitol está correta em questionar o valor cobrado a título de ISS, destacado pela empresa Pastorinha, a qual se comprometeu a prestar o serviço de exposição de campanha via folder em sua revista. Para a empresa Xilitol foi apresentado o orçamento do serviço já com o destaque do ISS, por meio de gross up. Módulo Controle da Incidência Tributária Inicialmente, cabe esclarecer, resumidamente, que o gross up tributário não é a incidência do imposto sobre a receita auferida, mas sim sobre a receita bruta incrementada pela soma do valor do imposto em sua própria base. Basicamente, na presente questão quer dizer embutir os impostos no orçamento. Foi o que fez a empresa Pastorinha ao enviar o orçamento para a contratante do serviço, pois entende ela que nesse serviço incide o ISS, com base no item 17.25, introduzido pela LC 157/16 à LC 116/03. Dito isso, passa-se a análise da incidência ou não do referido imposto. Certo é que no art. 150, VI, “d”, da CF/88, bem como no art. 9º, IV, “d”, do CTN, consta expresso que é vedado instituir impostos, pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. Os RE 330.817 e RE 595676 trazem o entendimento acima de forma a estender tal direito aos materiais eletrônicos, desde que se enquadrem nos limites daqueles dispositivos. No presente problema, não se trata de revista eletrônica, mas de revista física e, dessa forma, restando saber se a tal revista se enquadra em algum dos itens elencados no dispositivo constitucional. Nesse sentido, deve-se ater aos conceitos dos itens que constam na lei. A meu ver, entendo que a revista não se encaixa nem em livro e nem em jornal, sendo talvez abarcada como periódico. Todavia, como periódicos, em vista da aplicação da imunidade, entende-se que são as publicações científicas recorrentes, ou seja, são revistas científicas ou acadêmicas. Observa-se que não são quaisquer tipos de revistas, sendo as meramente de caráter científico, até mesmo porque, caso contrário,a imunidade poderia ser aplicada de modo sem fim. Nesse sentido, entende-se que os advogados da empresa Xilitol estão equivocados, pois, conclui-se que no caso haverá a incidência do ISS, tendo em vista que a revista Pastorinho não tem caráter científico e nem acadêmico e dessa forma não se enquadra no art. 150 da CF/88. Ainda assim, o item 17.25 da tabela de serviços anexa à LC anteriormente mencionada, permite a cobrança do ISS pelos serviços como materiais de propaganda e publicidade em qualquer meio, ou seja, prestados por veículos online, outdoors, mídias em shoppings etc., que não se enquadrem no amparo constitucional. 5. Como deve ser interpretado o disposto no art. 150, VI, “d” da CF: “livro, jornais e Módulo Controle da Incidência Tributária periódicos e o papel destinado a sua impressão”. Pode-se dizer que livros e periódicos eletrônicos (“e-books”), bem como o material utilizado para sua comportá- los (“e-book readers”) são imunes com fundamento neste dispositivo? E os Tablets? (Vide anexos XII e XIII e considere para sua resposta, os fundamentos utilizados pelos Ministros do STF no julgamento dos RE 330.817 e RE 595.676) Ao legislar o art. 150, VI, “d”, da CF/88, o constituinte buscou fomentar valores e princípios, objetivou tal dispositivo a fim de estimular o crescimento cultural, fomentar a informação e empreender a educação. Nesse sentido, brilhante a explanação de Aliomar Baleeiro sobre o tema: “A imunidade tributária, constitucionalmente assegurada aos livros, jornais, periódicos e papel destinado à sua impressão, nada mais é que a forma de viabilização de outros direitos e garantias fundamentais expressos em seu art. 5º, como a livre manifestação do pensamento, a livre manifestação da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença (incisos IV e IX), art. 206, II (a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber), art. 220, §§ 1º e 6º (a proibição da criação de embaraço, por lei, à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social e inexistência de licença de autoridade para a publicação de veículo impresso de comunicação), dentre outros. Mais do que isso, deve ser enfocada como instrumento imprescindível à realização do Estado Democrático de Direito, do qual o pluralismo político, a crítica e a oposição são requisitos essenciais.”3 Ademais, há de se ressaltar que nossa Carta Magna foi promulgada em 1988, época ainda que não se tinha livros e periódicos eletrônicos e, assim, não sendo possível tratar esses itens na época da constituinte de 1988, bem como os materiais utilizados para comportar tais livros digitais. Falamos aqui dos chamados e-books e readers, os quais volumosamente existentes nos dias atuais. Diante disso, necessário se fez o posicionamento da Suprema Corte a respeito do tema, que restou assentado conforme se denota pelo julgamento do RE 330.817 (anexo XII) e RE 595.676, ambos em sede de repercussão geral, o entendimento que: “Com efeito, o suporte das publicações é apenas o continente (corpus mechanicum) que abrange o conteúdo (corpus misticum) das obras, não sendo ele o essencial ou o condicionante para o gozo da imunidade... "A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes 3 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 151-152. Módulo Controle da Incidência Tributária exclusivamente utilizados para fixá-lo." Diante do avanço tecnológico, quando abordamos o conceito de livro, este não perde sua característica em função do seu modo de produção, sendo de grande relevância, em verdade, a mensagem que se objetiva propagar. Isso posto, a imunidade prevista no dispositivo constitucional abarca também os e-books e os áudio-books, aplicando-se também o mesmo entendimento aos readers, aparelhos leitores de livros, sendo assim, ressalta-se que a norma tem a finalidade de possibilitar a leitura, o que viabiliza a aplicação dessa garantia constitucional. Por outro lado, consequentemente, não há imunidade em relação a tablets, laptops e smartphones, vez que atingem outros fins além da leitura. O anexo XIII refere-se ao tema do item “f” da questão nº 3, divergente da presente questão, por isso não comentado, eis que abordado naquela questão. 6. No caso da imunidade para as instituições de assistência social sem fins lucrativos, o cumprimento do art. 14 do CTN é suficiente para garantir sua aplicação ou ainda é necessária a comprovação do caráter assistencial e filantrópico previsto no art. 203 da CF/88? É possível que lei ordinária garanta sua aplicação? (Vide anexo XIV). É de se destacar que a CF/88 garante imunidade tributária às instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, no que tange à instituição de impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou serviços relacionados às suas finalidades essenciais, desde que sejam atendidos os requisitos elencados no art. 14 do CTN. O art. 150, VI, “c”, da CF/88, aduz que é vedado a instituição de impostos sobre esse tipo de instituição quando atendidos os requisitos da lei. Veja-se que o dispositivo constitucional não traz de forma expressa que deverá haver a comprovação do caráter assistencial e filantrópico, porém, determina que deverá atender os requisitos da lei, e é aí que entram os arts. 9º e 14 do CTN. O art. 9º, IV, “c”, do CTN reflete o texto constitucional, dispondo que é vedado cobrar imposto sobre “o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos”, devendo observar outros dispositivos do mesmo diploma legal, entre eles o art.14. Por sua vez, o art. 14, do CTN, traz em seu bojo os requisitos para aplicação do benefício elencado no art. 9º, IV, “c” vejamos: Módulo Controle da Incidência Tributária Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas: I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. § 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no § 1º do artigo 9º, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefício. § 2º Os serviços a que se refere a alínea c do inciso IV do artigo 9º são exclusivamente, os diretamente relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo, previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivos. (grifo nosso) Conforme se depreende do dispositivo acima, destaca-se que a imunidade concedida às instituições de assistência social pelo CTN e pela CF/88, será concedida quando os serviços dessas instituições forem, exclusivamente, diretamente ligados com as finalidades institucionais previstas nos estatutos ou atos constitutivos das entidades. Dessa forma, percebe-se que em cumprimento do art. 14, haverá a comprovação natural do caráter assistencial e filantrópico previsto no art. 203 da CF/88. Importante salientar o entendimento já explanado em questão anterior deste seminário, apesar das imunidades estarem perfeitamente delineadas no texto constitucional e serem autoaplicáveis, nada impede que possam ser complementadas por norma infraconstitucional. Assim bem ensina o professor Paulo de Barros Carvalho: “A qualificação utilizada pelo comando constitucional tem de ser bastante em si mesma para compor hipótese de imunidade, o que não exclui a participaçãodo legislador complementar na regulação das condicionantes fáticos definidos pela norma imunizante.”4 Entretanto, quanto à indagação final da questão, deve-se observar o disposto no art. 146, II, da CF/88, o qual dispõe que cabe à lei complementar regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. O anexo XIV reflete julgamento no qual o STF estende a imunidade à renda auferida pela instituição de assistência social por meio de aplicações financeiras. Corroboro com o entendimento da Suprema Corte, tenda em vista que no caso em 4 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31 ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 205. Módulo Controle da Incidência Tributária discussão a renda auferida era utilizada para atingir os objetivos da própria entidade, ou seja, renda auferida para galgar suas finalidades essenciais. 7. Explicar as diferenças entre as correntes dicotômica e tricotômica na aplicação das normas gerais de direito tributário. Precisar o sentido da expressão “normas gerais de direito tributário”, diferenciando lei complementar nacional e lei complementar federal. A corrente dicotômica prevê que a lei complementar deve dispor no que tange sobre normas gerais em sede de direito tributário, sendo elas os conflitos de competência entre os entes federativos e regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. Por sua vez, a corrente tricotômica preconiza que compete a lei complementar, além de dispor sobre conflitos de competência em matéria tributária e regular as limitações constitucionais ao poder de tributar, estabelecer normas gerais da legislação tributária. Ademais, necessário destacar o art. 146, da CF/88: Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: [...] Percebe-se, no estudo quanto ao tema, que a corrente tricotômica averigua cada inciso do dispositivo acima de forma isolada, outorgando a legislação complementar o comando de dispor referente às regras gerais em matéria tributária. Por outro lado, a corrente dicotômica internaliza o inciso III aos outros dois incisos, deferindo que cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em sede de legislação tributária, porém, envolvendo os temas, quando dentro dessa seara do direito, conflitos de competência entre os entes federativos e regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. Em relação a expressão “normas gerais de direito tributário”, entende-se que pode ser compreendida como um conjunto das normas estabelecidas pelo legislativo com o intuito de instituir regras de tributação, ou seja, normas aptas a vincular todos os entes federados e os administrados e não no sentido de genéricas. Em relação a diferenciação entre lei complementar nacional e lei complementar Módulo Controle da Incidência Tributária federal, entende-se que em relação a primeira, quando a União dispõe apenas matérias de normas gerais, caberá aos outros entes federativos complementar o conteúdo, porém, sempre respeitando o texto constitucional. Pode-se dizer que seria uma competência concorrente. Já em relação a segunda, os entes federativos possuem autonomia legislativa, caracterizando competência comum. 8. O art. 146, inciso III, da CF, autoriza a lei complementar a definir os fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes dos impostos já discriminados na Constituição? Isso não violaria o princípio da autonomia das pessoas políticas? Considerar as recentes decisões proferidas pelos Ministros do STF no RE 566.622 e ADI´s 2028, 2036, 2228 e 2621. Analisando o caso concreto e considerando as decisões dos julgados do enunciado da questão, entende-se que a interpretação seria aplicada pela direção da corrente dicotômica, de modo que a norma geral sobre fato gerador, base de cálculo e contribuinte, todos esses em matéria tributária, deve tratar apenas para fins aos quais ela poder editada, quais sejam, conflito de competência e regulação quanto as limitações constitucionais ao poder de tributar. Noutra banda, caso restasse o entendimento pela outra corrente, consequentemente ocasionaria uma competência ilimitada e assim, afrontaria fortemente os princípios da segurança jurídica, da isonomia e do pacto federativo. Mais ainda, uma interpretação equivocada, chegaria até na compreensão de que o texto do dispositivo constitucional mencionado no comando da questão, autoriza que lei complementar institua hipótese de incidência de um tributo já delineado em nossa Constituição Federal. Dessa forma, direcionando pela linha da corrente dicotômica, entende-se que não há violação do ao princípio da autonomia das pessoas políticas, ao passo que não se avança no rol de competências dessas pessoas políticas, tendo em vista que tão somente há uma complementação e não uma definição de normas de constituição e, sim, definição de limites materiais e objetivos.
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