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EduFatecie E D I T O R A Desenvolvimento Cognitivo e Análise Qualitativa do Diagnóstico Operatório Professora Ma. Priscila da Rocha Luiz Bueno 20 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 20 Os autores Copyright © Edição 20 Editora EduFatecie o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof Sbardeloto Tatiane Viturino de Oliveira www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br André Dudatt Revisão Textual Kauê Berto Web Design Thiago Azenha Reitor Prof. Me. José Carlos Barbieri Vice-Reitor Prof. Dr. Hamilton Luiz Favaro Pró-Reitora Acadêmica Prof. Ma. Margareth Soares Galvão Diretor de Operações Comerciais Prof. Me. José Plínio Vicentini Diretor de Graduação Prof. Me. Alexsandro Cordeiro Alves da Silva Diretora de Pós-Graduação e Extensão Prof. Ma. Marcela Bortoti Favero Diretor de Regulamentação e Normas Prof. Me. Lincoln Villas Boas Macena Diretor Operações EAD Prof. Me. Cleber José Semensate dos Santos CAMPUS SEDE Avenida Advogado Horácio Raccanello Filho, 5950 Novo Centro – Maringá – PR CEP: 87.020-035 SEDE ADMINISTRATIVA Avenida Advogado Horácio Raccanello Filho, 5410 CEP: 87.020-035 (44) 3028-4416 www.unifcv.edu.br/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP B928d Bueno, Priscila da Rocha Luiz Desenvolvimento cognitivo e análise qualitativa do diagnóstico operatório / Priscila da Rocha Luiz Bueno . Paranavaí: EduFatecie, 2021. 71p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-56-4 1. Cognição e linguagem. 2. Psicolinguística. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 155.4 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 AUTORA Professora Ma. Priscila da Rocha Luiz Bueno ● Mestra em Educação (Universidade Estadual de Maringá). ● Graduada em Pedagogia - Licenciatura e Bacharelado (UniCesumar). ● Especialista em Ensino Aprendizagem nos Anos Iniciais (Instituto Superior de Educação do Paraná). ● Especialista em Gestão e Organização Escolar (ESAP). ● Pós-Graduanda em Psicopedagogia; ● Pós-Graduanda em Docência no Ensino Superior; ● Analista Comportamental Infantil (The99) ● Coordenadora Pedagógica/Orientadora Educacional em Unidade de Ensino Infantil no Município de Maringá. ● Professora Alfabetizadora no município de Maringá. ● Docente do curso de Pedagogia e Pós-graduação (Unifamma). Ampla experiência na área de Educação a Distância (tutora e professora), Ensino Superior EAD e Presencial, produção de materiais didáticos, formação de professores/as. Campo de pesquisa com ênfase na Educação Infantil e Anos Iniciais, bem como: políticas educacionais, dificuldade de aprendizagem, gestão educacional, psicologia da educação, alfabetização infantil, sexualidade e diversidade. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1310823097369284 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, aluno(a), seja muito bem-vindo(a) aos estudos sobre o desenvolvimento cognitivo e análise qualitativa do diagnóstico operatório. Esta apostila foi organizada de modo especial para você, que, no nosso entendimento, tem buscado com excelência compreender a importância de proporcionar para a criança requisitos importantes para o desenvolvimento da sua cognição. Para que o cognitivo do sujeito se desenvolva de maneira eficiente, ele precisa estar envolvido com várias outras funções que alicerçam a aprendizagem, bem como a linguagem, coordenação motora e o fator afetivo e emocional, responsáveis diretos para a aprendizagem infantil. O livro é composto por uma introdução, seguida de quatro unidades criteriosamente analisadas e selecionadas para dar sustentação à presente discussão e conclusão, bem como todas as referências e sugestões de leitura complementar, livros e filmes. Na Unidade I começaremos abordando sobre o desenvolvimento cognitivo, com- preenderemos a epistemologia genética: conceitos básicos e os estágios de desenvolvi- mento segundo alguns teóricos. Já na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre as teorias do de- senvolvimento cognitivo e suas reflexões na prática psicopedagógica. Para isso, vamos trabalhar a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo e a teoria de Vigotski sobre o desenvolvimento cognitivo. Na Unidade III trataremos de maneira específica sobre as provas operatórias, destaca- remos o conceito de provas operatórias e tipos de provas operatórias segundo alguns teóricos. E, por fim, na Unidade IV vamos compreender os diagnósticos operatórios na prática psicopedagógica, abordar as características gerais, o momento do diagnóstico e as observações. Para cada unidade são previstas leituras e atividades que devem ser realizadas para que você tenha conhecimentos seguros sobre sua formação e atuação e ainda tenha certeza de que a atitude de aprender deve ser um hábito do(a) professor(a), visto que esta é uma profissão que exige atualização constante, compromisso e dedicação. Oferecemos a você, como instrumentos, os conteúdos, nossa dedicação e nosso trabalho. Aproveite bem e alcance seus sonhos. Muito obrigada e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Desenvolvimento Cognitivo UNIDADE II ................................................................................................... 22 As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica UNIDADE III .................................................................................................. 38 Provas Operatórias UNIDADE IV .................................................................................................. 52 Diagnóstico Operatório na Prática Psicopedagógica http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/viewFile/3486/3076 http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/viewFile/3486/3076 3 Plano de Estudo: A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ● Epistemologia Genética: conceitos básicos. ● Os estágios do desenvolvimento cognitivo segundo alguns teóricos. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer a importância da epistemologia genética e os seus conceitos básicos. ● Compreender os estágios do desenvolvimento cognitivo segundo alguns teóricos. UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo Professora Ma. Priscila da Rocha Luiz Bueno 4UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante. Seja bem-vindo(a) à Unidade I da disciplina Desenvolvimento Cognitivo e Aná- lise Qualitativa do Diagnóstico Operatório do curso de Graduação em Psicopedagogia. É essencial estimular o desenvolvimento cognitivo infantil para que a criança apren- da a interagir com outras pessoas e, principalmente, com o mundo ao seu redor. É nesse processo que a criança absorve, assimila e desenvolve novas informações sobre o mundo em que está inserida. O desenvolvimento das habilidades cognitivas é a principal maneira de fornecer condições de uma vida saudável e independente para a criança, permitindo que todo o aprendizado adquirido seja colocado em prática. A cognição do sujeito favorece diversas assimilações e novas aprendizagens vão sendo adquiridas. A partir desse momento a criança vai se tornando responsável pela cons- trução de seu papel social. De acordo com Paradela (2007), o processo cognitivo é a busca do conhecimento que envolve também o desenvolvimento da memória, do raciocínio, do juízo, da atenção, da percepção, do pensamento, da imaginação e da linguagem. Podemos entender, então, que a cognição é a habilidade do indivíduo em proces- sar informações que proporcionem ao sujeito as capacidades de percepção, compreensão, interação e integração, respondendo aos vários estímulos presentesno ambiente. Diante dessa afirmação, no primeiro momento desta unidade estudaremos sobre a epistemologia genética e os seus conceitos básicos. No segundo momento compreendere- mos os estágios do desenvolvimento cognitivo segundo alguns teóricos. Portanto, recomendo que durante a realização da disciplina, você procure interagir com os textos, fazer anotações, responder as atividades, ver as indicações de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos. Bom estudo e ótimos momentos de construção de aprendizagem! 5UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo 1. EPISTEMOLOGIA GENÉTICA: CONCEITOS BÁSICOS A palavra Epistemologia Genética manifesta a ideia pela busca do entendimento científico e da continuação do conhecimento expressado pelos seres vivos e sua evolução. Seu significado está relacionado a: epistemo= conhecimento,logia= estudo, gene= heredi- tariedade, tica= técnica. Até o século XVIII, havia um conflito entre duas Epistemologias: o Empirismo inglês e o Racionalismo, que advogavam posições distintas em relação à origem do conhecimento. Para a corrente Empirista, o conhecimento é adquirido por meio das sensações captadas pelos órgãos dos sentidos. Assim, a partir da experiência, o ser humano vai acu- mulando conhecimentos. Contrariamente, para a corrente Racionalista, a razão é a única fonte do conhecimento. A mente tem capacidade inata para gerar ideias, independentemen- te da estimulação ambiental. No final do século XVIII, Immanuel Kant sugere a conciliação entre as duas posições filosóficas, propondo o Interacionismo. Para Kant, tanto os sentidos quanto a razão eram importantes para a experiência do mundo. Ele pensava que o material para o conhecimento era dado pelos sentidos, que se adaptavam às características da razão. No início do século XX, o psicólogo suíço Jean Piaget retoma o princípio de Kant e, a partir da teoria, a Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética, surge o Cons- trutivismo. 6UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo Segundo Paín (1996, p. 36), essa estrutura é “genética, dialética e material”: ge- nética, no sentido de gênese, de evolução, que se “transforma com o tempo”. Dialética e material, pois uma estrutura comporta novos conhecimentos, até que não possa acumu- lá-los, sendo necessária uma nova estrutura que dê conta dessa nova e mais complexa organização de esquemas. As estruturas da inteligência vão sendo, assim, cada vez mais, regidas por leis objetivas; partem do individual, das construções próprias do sujeito, para uma lógica generalista, classificatória, de ordenação e transferências. As afirmações de Piaget (1971, p. 23), mostram que a epistemologia genética sur- giu a partir da afirmação que “não há gênese sem estrutura, nem estrutura sem gênese”. Diante disso, é preciso compreender que o conhecimento é o produto de uma construção simultânea e da relação entre desenvolvimento e aprendizagem. A Epistemologia Genética, postulada por Jean Piaget (1896 - 1980), entende que o sujeito tem um aparato orgânico que lhe possibilita construir conhecimento de acordo com a ação sobre o objeto. Assim, “pode-se conceber a inteligência como o desenvolvimento de uma atividade assimiladora cujas leis funcionais são dadas a partir da vida orgânica e cujas sucessivas estruturas”. (PIAGET, 1975, p. 18) A principal função da epistemologia está na racional reconstrução do conhecimento científico, na forma de conhecer e analisar e na maneira interdisciplinar, político, filosófico e histórico. A epistemologia traz, então, a teoria de um conhecimento válido e, mesmo que ele permaneça em constante processo, tal ação será essencial para a passagem de uma aprendizagem para outra. Jean Piaget desenvolveu a teoria epistemologia genética, que consiste em investigar os mecanismos cognitivos responsáveis pelos processos de aquisição e desenvolvimento do conhecimento no sujeito. Piaget considera que a inteligência do homem não é inata, mas que o sujeito também não é passivo diante da influência do meio, isto é, ele responde aos estímulos externos, agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimen- to, de forma cada vez mais elaborada. Na condição de epistemólogo, Piaget buscava compreender o “sujeito epistêmico”, tendo fundamentado os seus estudos sobre o desenvolvimento na ideia do indivíduo em processo de construção do conhecimento (BALESTRA, 2007, p. 145). Piaget não tinha in- teresse em produzir conhecimentos para a área de educação, porém seus estudos tiveram grande importância no meio educacional a partir do século XIX, sendo fonte de inspiração até os dias de hoje. 7UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo Jean Piaget desenvolveu uma vasta obra, discutindo questões biológicas, socioló- gicas, as relações entre ciência e filosofia, psicologia e pedagogia, e ainda questões sobre a história da ciência. Mas foi o interesse pela epistemologia que levou Piaget a investigar os mecanismos cognitivos responsáveis pelos processos de aquisição e desenvolvimento do conhecimento no sujeito. A aquisição do conhecimento acontece por meio da interação do sujeito com o meio e a partir das estruturas cognitivas já existentes no sujeito, assim, a aquisição de novos conhecimentos dependem da relação do indivíduo com os objetos. Tem como objetivo estudar a gênese das estruturas cognitivas, explicando-a pela construção, surgindo assim o conceito de 13 construtivismo. Tal estudo é mediante a interação radical entre sujeito e objeto. Para a perspectiva interacionista, o conhecimento deve ser considerado como uma relação de interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a ser conhecido, e não como a justaposição de duas entidades dissociáveis (INHELDER; BO- VET; SINCLAIR, 1977, p. 17). Na perspectiva construtivista, o sujeito é considerado ser ativo na construção do seu conhecimento, organizando o pensamento por intermédio de adaptações e experiências, em uma constante interação objeto do conhecimento e o meio (BIAGGIO, 1976). De maneira geral, os estudos de Piaget sobre a gênese do conhecimento objetivaram o entendimento da maneira pela qual o sujeito constrói e organiza o seu conhecimento pelas ações mútuas entre o sujeito e o meio. Para ele, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado pelas estruturas internas do sujeito e nem pelas características do objeto. Todo conhecimento é uma construção, uma interação (ação recíproca entre o sujeito e o objeto), contendo um aspecto de elaboração do novo. De acordo com Seber (1997, p. 39), Se a epistemologia genética é possível, ela deve ser também necessaria- mente interdisciplinar [...] Além da troca das ideias entre físicos, químicos, lógicos, matemáticos, a contínua colaboração impede que alguém desenvol- va a impressão de ‘bastar-se a si mesmo’. Procurando compreender como o homem elabora o conhecimento, Piaget desen- volveu o que denominou psicologia genética, que se refere à busca das origens e dos processos de formação do pensamento e do conhecimento. Para ele, conhecer é organizar, estruturar e explicar a realidade, a partir daquilo que se vivencia nas experiências com os objetos do conhecimento. Segundo essa concepção, as crianças são vistas como construtoras do próprio conhecimento, uma vez que, por meio da interação com o meio e com base em esquemas mentais já existentes, formulam hipóteses na tentativa de resolver situações inéditas. Du- 8UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo rante o processo, surgem construções cognitivas em movimento contínuo e que, movidas pela busca de equilíbrio, são capazes de produzir novas estruturas mentais. Piaget rejeita o enfoque psicométrico e concebe o desenvolvimento da inteligência como algo dinâmico, decorrente da construçãogradual de estruturas de conhecimento que, à medida que vão sendo construídas, alojam-se no cérebro. Assim sendo, “o desenvolvimen- to mental aparecerá, então, em sua organização progressiva como uma adaptação sempre mais precisa da realidade” (PIAGET, 1964, p. 16). Isto evidencia que o conhecimento deve ser construído pelo aprendiz em um sistema de relações vivenciadas e significativas. O fundamento básico da concepção do funcionamento intelectual e do desenvolvi- mento cognitivo é o de que as relações entre o organismo e o meio são relações de troca, pelas quais o organismo se adapta ao meio e, ao mesmo tempo, o assimila de acordo com suas estruturas, num processo de equilibrações sucessivas. De acordo com a teoria da epistemologia genética, por meio das novas solicitações de interações realizadas pelo meio, novas estruturas da inteligência vão se construindo e, diante disso, o indivíduo adquire novas possibilidades de reorganizar e vivenciar constan- temente as novas aprendizagens. Compreendemos, então, que, a teoria epistemológica é utilizada frequentemente para designar o que chamamos de teoria do conhecimento. O egocentrismo é um conceito essencial da epistemologia genética, que explica o raciocínio lógico infantil. De maneira geral, os estudos de Piaget sobre a gênese do conhecimento objetivaram o entendimento da maneira pela qual o sujeito constrói e organiza o seu conhecimento pelas ações mútuas entre o sujeito e o meio. Para ele, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado pelas estruturas internas do sujeito e nem pelas características do objeto. Todo conhecimento é uma construção, uma interação (ação recíproca entre o sujeito e o objeto), contendo um aspecto de elaboração do novo. Para Terra (2011), o grande destaque da epistemologia genética está em superar as posições dicotômicas entre o materialismo mecanicista e o idealismo, o objetivismo e o subjetivismo, ou seja, sobrepõe a dualidade corpo versus mente. Por fim, podemos considerar a epistemologia como o estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funciona- mento e de seus produtos intelectuais. A epistemologia é o estudo do conhecimento. 9UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo 2. OS ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO ALGUNS TEÓRICOS O fundamento básico da concepção do funcionamento intelectual e do desenvolvi- mento cognitivo é o de que as relações entre o organismo e o meio são relações de troca, pelas quais o organismo se adapta ao meio e, ao mesmo tempo, o assimila de acordo com suas estruturas, num processo de equilibrações sucessivas. O desenvolvimento cognitivo infantil ao ser estimulado propicia que a criança cons- trua uma noção de ser social, ou seja, a maneira como ela enxerga e atua no meio em que está inserida. Quando falamos em desenvolvimento cognitivo, estamos nos referindo ao aperfei- çoamento de uma gama de habilidades e competências mentais. Essas capacidades são inatas a nós, seres humanos, porém precisam ser refinadas e lapidadas a partir de seu estado bruto. A palavra cognição apesar de não ter um conceito único está relacionada à capaci- dade de adquirir conhecimento sobre o mundo e tudo aquilo que ele engloba, sinteticamen- te se trata dos processos de absorção do conhecimento por meio do raciocínio, atenção, memória, entre outras funções cerebrais. Outras habilidades infantis também são estimuladas por meio do desenvolvimento cognitivo e o amadurecimento da sua cognição retrata a evolução dessas habilidades. Alguns aspectos que estão relacionados com a evolução cognitiva infantil: linguagem, coordenação motora, adaptação e psicomotricidade. 10UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo Procurando compreender como o homem elabora o conhecimento, Piaget desen- volveu o que denominou psicologia genética, que se refere à busca das origens e dos processos de formação do pensamento e do conhecimento. Para ele, conhecer é organizar, estruturar e explicar a realidade, a partir daquilo que se vivencia nas experiências com os objetos do conhecimento. Sabemos que a compreensão do processo de desenvolvimento cognitivo humano tem avançado ao longo da história, pois desde as concepções mais primitivas e leigas, pas- sando pelas religiosas e adentrando a ciência (visões inatistas, ambientalistas e interacio- nistas), tem-se estudado com afinco o desenvolvimento do homem e suas características. Segundo essa concepção, as crianças são vistas como construtoras do próprio conhecimento, uma vez que, por meio da interação com o meio e com base em esquemas mentais já existentes, formulam hipóteses na tentativa de resolver situações inéditas. Du- rante o processo, surgem construções cognitivas em movimento contínuo e que, movidas pela busca de equilíbrio, são capazes de produzir novas estruturas mentais. Quando tratamos de desenvolvimento humano, é importante mencionar a possível confusão que pode haver entre os termos “maturação” e “crescimento”. O crescimento refere-se a algumas mudanças, passo a passo, em termos de quantidade (crescimento do corpo ou vocabulário de uma criança). Maturação refere-se a mudanças qualitativas, ou seja, aspecto do desenvolvimento, resultante de modificações estruturais e funcionais que possibilitem comportamentos crescentemente complexos (BEE, 2003). Fatores que influenciam o desenvolvimento humano: ● Hereditariedade – a carga genética estabelece o potencial do indivíduo; ● Crescimento orgânico – refere-se ao organismo (físico); ● Maturação neurofisiológica – torna possível determinado padrão de comportamento; ● Meio – o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. Aspectos do desenvolvimento humano: ● Físico e motor – refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica; ● Cognitivo – capacidade de pensamento, raciocínio; ● Afetivo-emocional – modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências; ● Social – maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. Movimentos organizados e integrados às funções cognitivas são importantes para o desenvolvimento pleno do aluno, como um organismo integrado. Assim, é importante a atividade lúdica, realizada por meio de atividades psicomotoras, no sentido de colaborar para o desenvolvimento integral da criança, permitindo que ela tenha um desenvolvimento escolar mais eficiente (COLL, 2004). 11UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo Na concepção piagetiana, é fundamentalmente um processo de equilibrações sucessivas que conduzem a maneiras de agir e de pensar cada vez mais complexas e elaboradas. Este processo apresenta períodos ou estágios definidos, caracterizados pelo surgimento de novas formas de organização mental. A teoria piagetiana percebe o desenvolvimento cognitivo construído a partir do biológico. Segundo Piaget (1975), a inteligência começa a se organizar por meio de uma lógica da ação calcada sobre o biológico (reflexos inatos do bebê), ou seja, para Piaget, os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico. Desta forma, pode-se concluir que Piaget entendia o cognitivo como uma adaptação que organiza a função de estruturar o universo do indivíduo. Esse conceito refere-se à relação entre o pensamento e os objetos, uma vez que a capacidade cognitiva irá construir mentalmente as estruturas capazes de serem aplicadas às do meio, assim sujeito constrói o real por meio da ação. Neste sentido, podemos afirmar que Piaget se propõe a construir e tomar parti- do entre a biologia e a epistemologia, procurando, na psicologia, as respostas para essa proposta. Nesta empreitada, constrói uma teoria científica do conhecimento que integra os fenômenos cognitivos ao contexto da adaptação do organismo ao meio, colocando a biologia, seus conceitos e métodos comoelementos fundantes da sua proposição. De acordo com Fernández (2001), é preciso considerar as estruturas cognitivas do indivíduo e a estrutura de desejo, pois ambas dependem uma da outra. É por meio do desejo que o sujeito apresenta sobre determinada ação que ele será impulsionado para o processo de aprendizagem e será essa ação de querer que fará com que a criança estabeleça uma relação com o objeto de conhecimento. A organização lógica para a aprendizagem, depende dos fatores cognitivos do sujeito, pois em relação ao objeto de conhecimento, a significação simbólica depende dos fatores emocionais, é preciso levar em consideração que todo o sujeito tem uma forma de aprendizagem e a sua maneira de construir o seu próprio conhecimento. Os estudos piagetianos, para Yañez (2006), entendem que a criança é um constru- tor ativo do conhecimento, ao passo que constrói hipóteses em relação ao seu meio. Neste processo, a cognição evolui em níveis de gradativa complexidade, de acordo com as etapas estabelecidas (e já discutidas) por Piaget. A teoria propõe-se a investigar os mecanismos que compõem a inteligência. Esses mecanismos são analisados mediante a observação de regularidades lógicas universais. Neste sentido, o desenvolvimento cognitivo é considerado um processo contínuo de construção e reconstrução, ocorrendo de maneira sequencial das ações mentais. Assim, durante todo o processo de desenvolvimento, é possível integrar novos dados aos esque- mas já existentes. Interessa-se em compreender como a criança constrói seus conhecimentos sobre o mundo dos adultos. quais são os mecanismos da lógica infantil para se conhecer o mundo 12UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo e como a lógica da criança de maneira simples avança para a lógica do adulto que é bem mais complexa, evidenciando claramente que seus pressupostos científicos partem da lógica formal para compreender os fenômenos cognitivos no homem. Ao construir sua teoria que trata do desenvolvimento cognitivo, Piaget observou diretamente as crianças, como a fonte original mais próxima de sua realidade. Seguiram, para isto, diversos ramos das ciências, observando que o sistema cognitivo, seleciona e interpreta ativamente a informação ambiental à medida que constrói seu próprio conheci- mento. Nesta visão, o pensador entende que a mente sempre reconstrói e reinterpreta esse ambiente para fazê-lo encaixar em seu próprio referencial mental existente. Diante do método de observação no espaço escolar infantil, ele constatou que o co- nhecimento não está no objeto ou na criança, mas na interação de ambos. Dessa maneira, percebeu-se que uma pedagogia experimental proporciona que a criança pense e defina o que é real e não faça apenas a ação de cópia no processo de aprendizagem. Assim, a função da educação está em estimular as crianças para que aprendam por si próprias e façam suas próprias descobertas. Para Vygotsky (1984), o desenvolvimento cognitivo acontece quando é internalizada a interação social com os materiais fornecidos pela cultura do sujeito, ou seja, esse processo é construído de fora para dentro, pois, para o autor, o cérebro humano é a base biológica, e sua especificidade define os limites e as possibilidades para que o indivíduo se desenvolva. Como vimos, o autor não ignora as definições biológicas da espécie humana, no entanto atribui enorme importância à dimensão social, que medeia a relação do indivíduo com o mundo. Para ele, o desenvolvimento do ser humano depende do aprendizado que realiza num determinado grupo cultural, possibilitando o desenvolvimento das funções superiores e da linguagem. Tudo o que aprendemos, por meio de experiências e estímulos, na primeira infância perdura por toda vida. A situação social do desenvolvimento é o ponto de partida para todas as mudanças dinâmicas que se produzem no desenvolvimento durante o período de cada idade (VYGOTSKI, 1996, p. 264) Por fim, o desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que esse processo se constrói de fora para dentro, ou seja, primeiro a criança interage com o mundo e, a partir disso, seu cérebro se desenvolve, fundamentando a ideia de que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo da história social do homem. 13UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo SAIBA MAIS Caro(a) aluno(a), a epistemologia genética apresenta que o conhecimento se constrói a partir das interações com o mundo e, por isso, põe-se em oposição aos moldes do empi- rismo, que vincula a ideia de que toda origem do conhecimento se deve exclusivamente aos efeitos da experiência. Considerada uma teoria fundada em uma linha evolutiva que busca compreender o de- senvolvimento do ser humano, a epistemologia genética é a gênese do conhecimento no ser humano, a partir de suas bases biológicas. Essa teoria defende que o conhecimento não pode ser adquirido como algo predetermi- nado, nem nas estruturas internas do indivíduo nem nas características preexistentes do objeto, mas sim na relação e interação produzida por ambos. Piaget (2007) afirma que a epistemologia genética se apresenta não somente como uma teoria explicativa da experiência do conhecimento, mas, sobretudo, para sugerir uma prática pedagógica pautada no entendimento de que conhecer é uma construção que nasce da relação do corpo que age e sente o mundo. Sendo assim, a epistemologia genética possibilita que o sujeito diante das novas inte- rações realizadas pelo meio, organize as novas estruturas da inteligência que vão se construindo e diante disso novas situações de reorganizar e vivenciar constantemente as variadas aprendizagens acontecem constantemente no desenvolvimento infantil. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Prezado(a) acadêmico(a), de acordo com a concepção de Piaget (1975), o ser humano somente conhece a realidade atuando sobre ela, por isso estabelece intercâmbio com o meio através dos esquemas de ação e dos esquemas de representação. Os fatores cognitivos do sujeito são os responsáveis pela organização lógica da apren- dizagem infantil. Todo indivíduo possui uma maneira de aprender e a sua forma de cons- truir o seu próprio conhecimento. Sendo assim, ao ser estimulado o desenvolvimento cognitivo infantil proporciona para a criança uma noção de ser social, possibilitando que ela construa sua maneira de enxer- gar e atuar no meio em que está inserida. Fonte: a autora. 14UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo REFLITA De um modo geral, o problema apresentado pela epistemologia genética consiste em decidir se a gênese das estruturas cognitivas constitui apenas o conjunto das condições de acesso aos conhecimentos ou se ela atinge suas condições constitutivas. A alterna- tiva é, pois, a seguinte: corresponde a gênese a uma hierarquia ou mesmo a uma filia- ção natural das estruturas, ou apenas descreve o processo temporal segundo o qual o indivíduo as descobre a título de realidades preexistentes? Neste último caso, isso seria o mesmo que dizer que essas estruturas estavam pré-formadas, quer nos objetos da realidade física, quer no próprio indivíduo a título de a priori, quer ainda no mundo ideal dos possíveis, num sentido platônico. Ora, a ambição da epistemologia genética era mostrar, pela análise da própria gênese, a insuficiência dessas três hipóteses, donde resulta a necessidade de ver na construção genética lato sensu uma construção efetiva- mente constitutiva (PIAGET, 2007, p. 111). O desenvolvimento mental do indivíduo, segundo Piaget, é acelerado pela transmissão social, pois a construção operatória, que traduz em estruturas mentais as potenciali- dades proporcionadas pelo sistema nervoso, apenas se efetua devido às funções de interações dos indivíduos. É a interdependência entre os fatores mentais e as relações interindividuais que contribui para a construção progressiva das operações intelectuais.A relação interindividual produz transformações nos sujeitos individualmente: um sujei- to contribuindo para a transformação do outro e vice-versa (CAVALCANTE; ORTEGA, 2008, p. 450). 15UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalizamos a Unidade I da disciplina de Desenvolvimento Cognitivo e Análise Qualitativa do Diagnóstico Operatório, intitulada Desenvolvimento Cognitivo. No primeiro momento analisamos a importância da epistemologia genética e os seus conceitos básicos, pois se apresenta como uma teoria de conhecimentos significativos e mesmo que eles permaneçam em constante processo, essa ação será essencial para a evolução da aprendizagem. Assim, a principal função da epistemologia está no processo de reconstrução do conhecimento científico, possibilitando ao sujeito o ato de conhecer e analisar e na maneira interdisciplinar dos conteúdos políticos, filosóficos e históricos. No segundo momento estudamos sobre os estágios do desenvolvimento cognitivo segundo alguns teóricos, compreendendo que a aprendizagem cognitiva se constrói de fora para dentro, ou seja, pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura. Sendo assim, a organização lógica para o desenvolvimento da aprendizagem de- pende dos fatores cognitivos do sujeito e é preciso levar em consideração que toda pessoa tem uma forma de aprendizagem e a sua maneira de construir o seu próprio conhecimento. Portanto, procuramos contribuir para que você caminhe ao encontro de outras pos- sibilidades de entendimento sobre o processo de desenvolvimento cognitivo, e a evolução dessa aprendizagem que é contínua na construção e reconstrução das ações mentais. 16UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo LEITURA COMPLEMENTAR Olá, estudante, a leitura complementar para a nossa primeira unidade será o artigo A Epistemologia Genética de Jean Piaget: Uma Articulação Crítico Reflexiva, das autoras Ana Maura Tavares dos Anjos e Andréa da Costa Silva. As autoras nos trazem um aporte teórico que nos apresenta uma reflexão sobre a teoria da Epistemologia Genética de Jean Piaget, englobando a sua concepção de homem, a relação indivíduo-sociedade, relação teoria-prática, os fins sociais da educação e o papel do professor no processo educativo. Por fim, podemos entender que a Epistemologia Genética, isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança, Segue o link de acesso: https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/24840 Aproveite o material e boa leitura! https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/24840 17UNIDADE I Desenvolvimento Cognitivo MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Epistemologia Genética Autor: Wilson da Silva e Maria Regina Mocelin Editora: Intersaberes Sinopse: O primeiro passo desta obra é apresentar os pressupos- tos filosóficos que dão base a epistemologia genética de Piaget. Com base nisso, fala sobre os estágios do desenvolvimento cog- nitivo e discute conceitos fundamentais das teorias piagetianas, explorando suas implicações educacionais, discorrendo sobre as provas piagetianas e, por fim, apresentando críticas feitas à epistemologia genética e a Piaget. FILME/VÍDEO Título: Epistemologia Genética Ano: 2019 Sinopse: O vídeo procura mostrar a importância da teoria de Piaget e o papel dos(as) educadores(as) no desenvolvimento da epistemologia genética no espaço escolar, compreendendo assim os processos de desenvolvimento humano e o ensino. https://www.youtube.com/watch?v=FzNDqj1QWHw https://www.youtube.com/watch?v=FzNDqj1QWHw 18 Plano de Estudo: A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ● A teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo ● A teoria de Vygotsky sobre o desenvolvimento cognitivo Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo ● Compreender a teoria de Vygotsky sobre o desenvolvimento cognitivo UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica Professora Ma. Priscila da Rocha Luiz Bueno 19UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante, Seja bem-vindo(a) à Unidade II da disciplina Desenvolvimento Cognitivo e Aná- lise Qualitativa do Diagnóstico Operatório do curso de Graduação em Psicopedagogia. As inúmeras teorias do desenvolvimento procuram demonstrar, por pontos de vista diferentes, os processos de desenvolvimento e as possíveis interferências nas questões sociais, emocionais e culturais do sujeito. Nessa perspectiva, Piaget (1996) procura compreender a gênese do conhecimento e acredita que o desenvolvimento humano está no avanço das maneiras inferiores do de- senvolvimento para maneiras mais complexas de aprendizagem. De acordo com Rodrigues (2005), para obter uma prática educativa mais humana, democrática e que conduza o sujeito para sua emancipação, é preciso conhecer as bases psicológicas do desenvolvimento da aprendizagem. Vygotsky (1991) acredita que o desenvolvimento é um processo e sua mediação se dá pelas interações entre o meio e o sujeito. Assim, o desenvolvimento é um processo de ensino-aprendizagem que ocorre de fora para dentro. Diante dessa afirmação, esta unidade nos levará a compreensão da teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo e em seguida abordaremos também a teoria de Vygotsky sobre o desenvolvimento cognitivo, para buscar elementos norteadores de uma teoria e da outra, a fim de acrescentar na prática o resultado dessa junção e como cada autor pode contribuir para que a ação docente esteja adequada, possibilitando uma aprendizagem eficaz para os(as) seus(as) alunos(as). Sendo assim, a Pedagogia abrange o campo teóri- co e investigativo da educação, do ensino, de aprendizagens e do trabalho pedagógico. Espero que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa segunda unidade. Boa leitura! 20UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica 1. A TEORIA DE JEAN PIAGET SOBRE O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Jean Piaget, suíço, falecido em 1980, com mais de 80 anos, foi um grande estudio- so do processo de conhecimento; dedicou 60 anos à pesquisa na área, produziu dezenas de livros e abundantes artigos sobre o assunto. Com o nascimento de seus três filhos, Piaget dedicou-se à observação meticulosa do desenvolvimento dos bebês, elaborando análises sobre a construção do real e o desen- volvimento da inteligência. Concentrou sua pesquisa na gênese das noções de quantidade, número, tempo, espaço, velocidade, movimento, mensuração, lógica e probabilidade. A epistemologia da ciência foi sua grande preocupação. Posicionando-se diante das várias explicações sobre fontes e critérios para o conhecimento, percebeu a necessidade de fazer da epistemologia uma nova ciência. Descobriu que, para entender o pensamento adulto e a pesquisa científica, seria necessário estudar a origem do processo de conhecer e seu evoluir, desde o nascimento da criança até à idade adulta, e a formação dos ramos básicos da ciência. Este foi seu programa de pesquisa. Iniciou com o estudo do processo de formação do conhecimento, a partir do nas- cimento (Psicologia do Desenvolvimento, com enfoque epistemológico); concluiu com o estudo da epistemologia das ciências. 21UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica A interação com crianças fez parte de sua carreira, fazendo com que ele estudasse o processo de raciocínio infantil. A Psicologia e a Pedagogia tiveram grande impacto comos estudos de Piaget. O conhecimento humano ultrapassa o nível do conhecimento animal, evoluindo da simples convivência com o meio ambiente para conhecimentos extremamente abstratos, elaborados, causais, que lhe permitem interferir profundamentena natureza e em si mesmo. Organização seletiva que a cognição realiza dá-se em um processo perma- nente de interação do homem com o meio ambiente, através da apreensão do que é útil e necessário à adaptação do homem ao mundo (RODRIGUES, 2005, p. 119). De suas pesquisas, Piaget (1987) conclui que o processo de formação de conhe- cimentos tem as características básicas do funcionamento dos seres vivos em sua relação com o meio: adaptar-se e autorregular-se continuamente, uma vez que a função de conhe- cer é um dos aspectos da manifestação vital do homem. De maneira geral, os estudos de Piaget sobre a gênese do conhecimento objetivaram o entendimento da maneira pela qual o sujeito constrói e organiza o seu conhecimento pelas ações mútuas entre o sujeito e o meio. Para ele, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado pelas estruturas internas do sujeito e nem pelas características do objeto. Todo conhecimento é uma construção, uma interação (ação recíproca entre o sujeito e o objeto), contendo um aspecto de elaboração do novo. Os estágios sucedem-se numa ordem de desenvolvimento, sendo um estágio sem- pre integrado ao seguinte. Cada estágio caracteriza-se por uma maneira típica de agir e de pensar e constitui uma forma particular de equilíbrio em relação ao meio. Piaget destaca quatro períodos principais: o sensório-motor, o pré-operacional, o de operações con- cretas e o de operações formais. ● Estágio Sensório-Motor (0 a 2 anos): caracteriza-se pela forma de inteligência empírica, exploratória, não verbal. A criança aprende pela experiência, examinando e expe- rimentando com os objetos ao seu alcance, somando conhecimentos. A interação da criança com o ambiente é estabelecida por ações sensoriais, como ver e ouvir, ou, ainda, por ações físicas, como agarrar, tocar, sugar, chorar. Embora o desenvolvimento cognitivo seja um processo que tem início no dia em que a criança nasce, contudo, no início, o bebê não pensa no sentido de planejar, de forma intencional e suas explorações são provocadas por reflexos e pelo acaso. O período sensório-motor compõe-se de seis subestágios (BIAGGIO, 2003): 22UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica 1. Reflexo (0 a 1 mês): neste período, o bebê relaciona-se com o mundo por meio dos sentidos e da ação. Os reflexos inatos proporcionam-lhe um repertório mí- nimo de conduta, porém suficiente para sua sobrevivência. A criança limita-se a exercitar seu reflexo, por exemplo, o reflexo de sucção. 2. Reação circular primária (1 a 4 meses): ocorre a formação das primeiras es- truturas adquiridas: os hábitos. Começam a surgir as primeiras coordenações motoras como preensão-sucção, visão-audição. As primeiras noções da realida- de começam a ser elaboradas, tais como as de espaço, tempo, causalidade e permanência do objetivo. 3. Reações circulares secundárias (4 a 8 meses): enquanto a reação primária é centralizada no próprio corpo (por exemplo, levar o polegar à boca), a reação secundária envolve objetos externos. Se o bebê casualmente alcança o móbile de seu berço, este movimento tende a ser repetido. Nesse estágio, a criança já interage com o meio, sua estrutura já não é mais só biológica, os novos esque- mas são mais ricos e variados, possibilitando uma atividade mais liberada. 4. Coordenação de esquemas secundários (8 a 12 meses): a criança já é capaz de encontrar objetos escondidos, contudo, se escondermos um objeto primeiro sob uma almofada e depois sob outra, a criança persistirá em procurá-lo sobre a primeira. No subestágio anterior, o bebê descobre o objeto por acaso, agora, desde o início, existe um objetivo. Destaca-se, nesse subestágio: o aparecimen- to da intencionalidade; acentua-se a atenção com relação ao meio; surgem as primeiras coordenações do tipo; coordenação dos esquemas de representação, facilitando a compreensão dos objetos e fatos; distinção de pessoas. 5. Reações circulares terciárias (12 a 19 meses): começa a experimentar ati- vamente novos comportamentos. A criança começa a usar novos meios para atingir seus objetivos e realizar verdadeiros atos de inteligência e solução de problemas (aproxima um objeto, puxando algo sobre o qual está situado, por exemplo, uma manta ou uma almofada; usa um bastão para alcançar um objeto afastado; tenta passar um boneco horizontalmente pelas grades verticais até entender que precisa girar para fazê-lo passar). 6. Início do simbolismo (18 a 24 meses): representa a transição para o estágio pré-operacional, traz o início da linguagem. Se nos subestágios anteriores o bebê se restringia aos dados da experiência, agora começa a usar símbolos mentais e palavras para se referir aos objetos ausentes. A aquisição da linguagem mudará as relações da criança, abrindo novas perspectivas ao seu desenvolvimento intelectual. 23UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica ● Estágio Pré-Operatório (2 aos 6 anos): caracteriza-se pelo desenvolvimento da capacidade da criança de representação de objetos e eventos. Os objetos da percepção ganham a representação por palavras, as quais o indivíduo, ainda criança, maneja experimentalmente em sua mente, assim como havia previamente experimentado com objetos concretos. As representações podem ocorrer também pela imitação diferida, que consiste no fato de imitar alguém ou objeto ou fatos que já aconteceram. A imitação é importante no sentido de comprovar que a criança desenvolveu a capacidade de representar mentalmente o que está imitando (BIAGGIO, 2003). Características do pensamento pré-operacional (PAPALIA, 2000): 1. O egocentrismo: é uma das marcas do estágio pré-operacional, definido como a incapacidade de a criança colocar-se no lugar do outro, isto é, ela sempre toma a si mesma como ponto de referência. 2. O antropomorfismo: implica na atribuição da forma humana a objetos e ani- mais, realizada pela criança. 3. O animismo: a criança “empresta a alma” aos objetos e animais, atribuindo- -lhes sentimentos e intenções próprias do ser humano. 4. A centralização: a criança centraliza-se em apenas uma dimensão do proble- ma, não é capaz de considerar mais de um aspecto de um problema ao mesmo tempo (por exemplo, na partilha de um refrigerante, ela considera apenas a altura do líquido no copo. Ainda não é capaz de levar em conta as várias dimen- sões envolvidas no problema). 5. Irreversibilidade: refere-se à incapacidade de a criança entender que certos fenômenos são reversíveis, isto é, que quando fazemos uma transformação, podemos também desfazer ou restaurar o estado original (por exemplo, se fervermos a água, podemos transformá-la em vapor, da mesma forma, esfrian- do-se o vapor, este volta à forma original líquida). 6. Raciocínio transdutivo: a criança pré-operacional usa um tipo raciocínio que Piaget chama de “trandutivo”, isto é, ela chega a conclusões partindo do particular e chegando ao particular (por exemplo, a criança que sempre vê o pai aquecer água para fazer a barba, conclui que sempre que alguém aquece água, necessariamente vai fazer a barba). 24UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica ● Estágio das operações Concretas (7 aos 12 anos): a criança já possui orga- nização mental integrada, os sistemas de ação reúnem-se em todos integrados. Piaget fala em operações de pensamento ao invés de ações. É capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos. Conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso. É capaz de classificar objetos conforme semelhanças ou diferenças. Para Piaget (1976), é nesse estádio que se reorganiza verdadeiramente o pensa- mento. A partir deste estádio (operações concretas), as crianças começam a ver o mundo com mais realismo, deixam de confundir o realcom a fantasia. A criança já consegue realizar operações, no entanto, precisa de realidade concreta para realizá-las, ou seja, necessita da noção da realidade concreta para que seja possível, à criança, efetuar as operações. ● Estágio das Operações Formais (11 aos 15 anos): raciocinar dedutivamente, fazer hipóteses a respeito de soluções para o problema, pensar simultaneamente em várias hipóteses. É capaz de raciocínio científico e de lógica formal e pode aceitar a forma de um argumento, embora deixe de lado seu conteúdo concreto, de onde se origina o termo “operações formais”. Os estágios têm caráter integrativo. As estruturas construídas a um nível são in- tegradas nas estruturas do nível seguinte (por exemplo, um “esquema de reunião” para condutas como a de um bebê que empilha toquinhos, permanece na criança mais velha que junta objetos procurando classificá-los). A ordem em que as estruturas mentais se sucedem e evoluem é sempre constante, mesmo que cronologicamente não seja exata, podendo a idade variar, mas não a ordem de sucessão das aquisições. A cada nova fase os novos conhecimentos se integram ao saber pré-existente, ou seja, há um caráter integrativo em cada estágio. Cada estágio apresenta-se como uma estrutura de conjunto, pois as aquisições se integram e passam a formar um todo. Os estágios estão interligados no sentido de que cada estágio com- preende um nível de preparação de uma nova etapa e de acabamento de outra (BALESTRA, 2007, p. 185). Assim, o desenvolvimento por estágios sucessivos realiza, em cada estágio, um patamar de equilíbrio. Desde que o equilíbrio seja atingido num ponto, a estrutura é inte- grada em um novo equilíbrio em formação, sempre mais estável e de campo sempre mais extenso. A ordem de sucessão das aquisições é constante, no sentido de que uma carac- terística não aparecerá antes de outra num conjunto de indivíduos, e depois em sequência diferente, em outro conjunto (BIAGGIO, 2003). Piaget (1996) afirma que, do ponto de vista biológico, fica tudo aquilo que herdamos de positivo e o funcionamento intelectual acontece com base na relação com o ambiente. Assim, por toda vida e de maneira constante o funcionamento está presente e, com base nele, as estruturas cognitivas aparecem. 25UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica Terra (2021) aponta que a teoria piagetiana para o processo de aprendizagem contribui significativamente com a aprendizagem do indivíduo, pois possibilita que novos parâmetros sejam estabelecidos por meio dos estágios de desenvolvimento da criança, valorizando os erros e utilizando-os como estratégias durante as possibilidades de apren- dizagens, compreendendo que a forma de aprender é diferente de um sujeito para o outro. Sendo assim, a Teoria de Jean Piaget tem como abordagem compreender o desenvol- vimento da criança, com base nas mudanças psicológicas que elas sofrem no decorrer da vida. 26UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica 2. A TEORIA DE VYGOTSKY SOBRE O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Lev Vygotsky nasceu na Rússia, no ano de 1896, é um dos pesquisadores mais importantes da Teoria Histórico-Cultural, formou-se em Direito e Medicina e atuou como professor e pesquisador no campo da Psicologia. Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento. Em seus estudos sugeriu mecanismos apontando que a cultura faz parte da na- tureza de cada sujeito ao dizer que as funções psicológicas são um produto de atividade cerebral. Foi o primeiro psicólogo que conseguiu explicar as mudanças dos processos psicológicos em processos complexos. Inspirada no materialismo histórico e dialético, a teoria histórico-cultural considera o desenvolvimento da complexidade da estrutura humana como um processo de apropriação pelo homem da experiência histórica e cultural. Desta forma, organismo e meio exercem influência recíproca. Segundo Vygotsky (1991), desde o nascimento da criança, o aprendizado está rela- cionado ao desenvolvimento, um aspecto necessário e universal do processo de desenvol- vimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. Existe um percurso de desenvolvimento entre o processo de maturação do orga- nismo individual, o aprendizado é quem possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, isso 27UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica não aconteceria. O indivíduo que vive em um grupo cultural isolado, sem ter acesso a um mundo letrado, esse indivíduo jamais será alfabetizado. Assim, o aprendizado ou a aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire, através das informações, habilidades, atitudes, valores, costumes absorvidos a partir do seu contato com o meio ambiente e as pessoas com quem convivem desde o nascimento. É um processo diferente dos fatores inatos do ser humano, como mamar, chorar etc. Para Vygotsky (1991), a concepção de aprendizado inclui a interdependência dos indivíduos envolvidos no processo, ou seja, o aprendizado depende do envolvimento de uma interação social. Outro exemplo que Vygotsky (1991) aborda é o de uma criança normal que cresce rodeada apenas de pessoas surdas e mudas, afirmando que esta mesma criança não desenvolveria a linguagem oral. A Teoria Histórico-Cultural define dois níveis de desenvolvimento cognitivo: o real e o proximal (ou potencial). O nível de desenvolvimento real é a capacidade de o sujeito solucionar problemas sozinho, ou seja, define as funções que já amadureceram. O nível de desenvolvimento proximal (ou potencial) é uma área de potencialidades, na qual o sujeito necessita da mediação do “outro” para a solução de problemas, ou seja, define as funções que possuem bases necessárias para serem desenvolvidas (REGO, 1998). Vygotsky (1991) define três níveis de desenvolvimento cognitivo, são eles: Desen- volvimento Potencial, Desenvolvimento Real e Desenvolvimento Potencial. ● Zona de desenvolvimento potencial: é toda atividade e/ou conhecimento que a criança ainda não domina, mas que se espera que seja capaz de saber e/ou realizar, independentemente da cultura em que está inserida. ● Zona de desenvolvimento real: é tudo aquilo que a criança é capaz de realizar sozinha, conquistas já consolidadas, “processos mentais que já se estabeleceram; ciclos de desenvolvimento que já se completaram” (LEITE; LEITE; PRANDI, 2009, p. 206). Nessa zona está pressuposto que a criança já tenha conhecimentos prévios sobre as atividades que realiza, ou seja, define as funções que já amadureceram. ● Zona de desenvolvimento proximal: é a distância entre o que a criança já pode realizar sozinha e aquilo que ela somente é capaz de desenvolver com auxílio de outra pessoa. Conforme Vygotsky (1989), essa é a zona cooperativa do conhecimento, é uma área de potencialidades na qual o sujeito necessita da mediação do “outro” para a solução de problemas, ou seja, define as funções que possuem bases necessárias para serem de- senvolvidas (REGO, 1998). Na zona de desenvolvimento proximal, o aspecto fundamental é a realização de atividades com a ajuda de um mediador que possibilita a concretização do desenvolvimento que está próximo, ajuda a transformar o desenvolvimento potencial em desenvolvimento real. 28UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica Sobre este assunto Vygotsky analisou a microgênese, que configura um espaço microscópico entre o saber e o não saber, ou seja, o que já temos de aprendizado efetivo no Desenvolvimento Real e o que podemos alcançar comoaprendizado num futuro muito próximo, compreendido como Desenvol- vimento Potencial (VYGOTSKY, 2001, p. 111). Para Vygotsky (1991), a criança nasce apenas com as funções cognitivas elementa- res, que se ampliam para as funções complexas a partir do contato com a cultura, o que não acontece automaticamente, mas sim por meio de intermediações de outros sujeitos, sendo essas intermediações responsáveis por formar significados e valores sociais e históricos. O desenvolvimento é um processo de ensino-aprendizagem que ocorre de fora para dentro. É no processo de ensino-aprendizagem que ocorre a apropriação da cultura, a objetivação do mundo e o consequente desenvolvimento do indivíduo e a transformação permanente do mundo. O homem constitui-se como tal pelas interações sociais, portanto é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura (REGO, 1998, p. 93). A origem das mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento, está, segundo seus princípios, na sociedade, na cultura e na sua história. Importa salientar que Vygotsky não compreende a cultura como algo pronto, estático, ao qual o indivíduo se submete, mas, sim, como processo em constante movimento de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados. As principais ideias de Vygotsky serão citadas a seguir (REGO, 1998). A primeira refere-se à relação indivíduo/sociedade. As características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do indivíduo, nem é mero resultado das pressões do meio externo. Elas resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural, ou seja, ao mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para atender às suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo. A segunda ideia é decorrência da anterior e refere-se à origem cultural das funções psíquicas. As funções psicológicas especificamente humanas se originam nas relações do indivíduo e seu contexto cultural e social. A terceira tese refere-se à base biológica do funcionamento psicológico: o cérebro, visto como órgão principal da atividade mental. O cérebro não se constitui em um sistema de funções fixas, imutáveis, mas em um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja es- trutura e modos de funcionamento são desenvolvidos ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. O quarto postulado diz respeito à mediação presente em toda atividade humana. São os instrumentos técnicos e os sistemas de signos, construídos historicamente que fazem a mediação dos seres humanos entre si e deles com o mundo. Somente os seres hu- 29UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica manos têm o poder de pensar em objetos ausentes, imaginar ações jamais vividas, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores. Esse tipo de atividade psicológica é considerado “superior”. A quinta tese postula que a análise psicológica deve ser capaz de conservar as características básicas dos processos psicológicos, exclusivamente humanos. Esse princí- pio está baseado na ideia de que os processos psicológicos complexos se diferenciam dos mecanismos mais elementares e não podem, portanto, ser reduzidos à cadeia de reflexos. Assim, ao abordar a consciência humana como produto da história social, é necessário estudar as mudanças que ocorrem no desenvolvimento mental a partir do contexto social. Com isso, as características individuais (modo de agir, pensar, sentir, valores, conheci- mentos, visão de mundo...) dependem da interação do ser humano com o meio físico e social. Sendo assim, a Teoria de Lev Vygotsky tem como abordagem compreender o desen- volvimento da criança, com base nas mudanças externas que elas sofrem no decorrer da vida. SAIBA MAIS Caro(a) aluno(a), como aprendemos, o desenvolvimento é compreendido como as transformações ordenadas que o sujeito passa desde seu nascimento até o fim da vida. Por isso, o desenvolvimento humano pode ser categorizado em desenvolvimento físico, desenvolvimento pessoal, desenvolvimento social e desenvolvimento cognitivo. Na visão de Piaget(1987), não é possível transmitir o conhecimento para a criança, nem tão pouco deixá-lo pronto para quando ela estiver preparada, esperando seu momento de maturação para que assim ela seja capaz de captar a informação, ao contrário do que se pensa, a construção do conhecimento acontece pela ação do indivíduo sobre o objeto e sobre a ação sobre o meio. Portanto, de acordo com as ideias do autor, o desenvolvimento cognitivo infantil é ela- borado pela própria criança, e a aprendizagem é adquirida à sua maneira e por etapas, e no decorrer do processo ela vai assimilando as experiências e transformando seu organismo acomodando as novas informações, assim a criança passará a compreender o meio em que está inserida. Fonte: a autora. 30UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica SAIBA MAIS Prezado(a) acadêmico(a), a internalização é a responsável pelo desenvolvimento do indivíduo que acontece de fora para dentro, sendo assim o processo de absorção dos conhecimentos que provém do meio em que está inserido, ou seja, na teoria Vygotskya- na as influências sociais são fundamentais para o desenvolvimento humano. Para Vygotsky, é por meio da interação social que o desenvolvimento cognitivo da crian- ça acontece, ou seja, a interação do sujeito com o meio é que a aprendizagem se torna uma experiência social. Por fim, o meio em que a criança está inserida possibilita a ampliação do conhecimen- to da mesma e por meio das interações sociais a aprendizagem é facilitada e se torna significativa. Fonte: a autora. REFLITA Segundo Piaget(1976), cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o indiví- duo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém o início e o término de cada uma delas de- pendem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais e sociais. Fonte: Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 100-101). REFLITA De acordo com Vygotsky, os conceitos cotidianos são usados pelo sujeito e após são generalizados. Já os conceitos científicos já nascem como generalizações (abstrações) da realidade. Fonte: Rosa (2009, p. 10). 31UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalizamos a Unidade II da disciplina Desenvolvimento Cognitivo e Análise Qualitativa do Diagnóstico Operatório intitulada “As Teorias do Desenvolvimento Cogni- tivo e Suas Reflexões na Prática Psicopedagógica”. No primeiro momento analisamos a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo e compreendemos que, para o autor, o desenvolvimento do sujeito precisa ter uma ligação entre o objeto e o conhecimento, possibilitando, assim, uma relação entre eles. No segundo momento estudamos a teoria de Vygotsky sobre o desenvolvimento cognitivo, e entendemos que a aprendizagem é responsável pelo desenvolvimento da criança, pois os processos internos do sujeito operam quando ela interage com outras pessoas ou com o meio, possibilitando, assim, um aprendizado adequado. Sendo assim, o desenvolvimento cognitivo da criança pode ser definido pela ma- neira dos sujeitos adquirirem novos conhecimentos, por um processo de aprendizagem que provoca uma transformação significativa na estrutura mental. Esperamos que esse conteúdo contribua não somente para o seu desenvolvimento intelectual, mas também para a sua formação humana, cultural, política e social. Para aprofundar seus conhecimentos não deixe de consultar as referências. 32UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica LEITURA COMPLEMENTAR Olá, estudante. Aleitura complementar para a nossa segunda unidade será o artigo A Relação entre Desenvolvimento Humano e Aprendizagem; Perspectivas Teóricas, da autora Crístia Rosineiri Gonçalves Lopes Corrêa. O texto apresenta a relação entre desenvolvimento e aprendizagem nas teorias de Piaget e Vygotsky. Piaget confere ênfase aos conceitos de ação e de coordenação das ações, já Vygotsky, a ênfase é colocada no conceito de Zona de Desenvolvimento Próximo. Por fim, de acordo com Piaget e Vygotsky, o processo de desenvolvimento cognitivo acontece durante as variadas etapas ao longo da vida do sujeito e com a relação com o meio externo. Segue o link de acesso: https://www.scielo.br/pdf/pee/v21n3/2175-3539- pee-21-03-379.pdf Aproveite o material e boa leitura! 33UNIDADE II As Teorias do Desenvolvimento Cognitivo e suas Reflexões na Prática Pedagógica MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Desenvolvimento e Aprendizagem em Piaget e Vygotsky a Relevância do Social. Autores: Isilda Campaner Palangana Editora: Summus Sinopse: Esta obra clássica, agora em edição revista, analisa os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano à luz das teorias de Jean Piaget e Lev Semenovich Vygotsky. Para tanto, Isil- da Campaner Palangana examina os fundamentos metodológicos e as raízes epistemológicas dos postulados desses dois grandes mestres da psicologia da educação. Contribui, assim, para que se compreendam as convergências e divergências conceituais entre eles, sobretudo no que diz respeito ao papel da interação social na promoção da aprendizagem e do desenvolvimento das capacida- des e funções psicológicas caracteristicamente humanas. FILME/VÍDEO Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rTqWOsAjPeI Título: Piaget e Vygotsky Ano: 2017. Sinopse: Uma síntese das contribuições de Piaget e Vygotsky para a psicologia da educação, pois no decorrer do desenvolvi- mento cognitivo da criança, ela experencia situações concretas que possuem uma importância em sua construção social. Por fim, apesar de terem posicionamentos diferenciados, ambas teorias concordam que para a aprendizagem acontecer é preciso uma ação indissociável entre o desenvolvimento físico-motor, intelec- tual, afetivo-emocional e social do sujeito. https://www.youtube.com/watch?v=rTqWOsAjPeI 34 Plano de Estudo: A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ● Conceito das provas operatórias. ● Tipos de provas operatórias segundo alguns teóricos Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender o conceito das provas operatórias ● Conhecer os tipos de provas operatórias segundo alguns teóricos. UNIDADE III Provas Operatórias Professora Ma. Priscila da Rocha Luiz Bueno 35UNIDADE III Provas Operatórias INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante, Seja bem-vindo(a) à Unidade III da disciplina Desenvolvimento Cognitivo e Análise Qualitativa do Diagnóstico Operatório do curso de Graduação em Psicopedagogia. Na fase da infância, a criança inicia a sua aprendizagem e seu desenvolvimento em vários aspectos, como a coordenação motora, o processo de socialização, os aspectos físicos, cognitivos e psicológicos. Os períodos cognitivos são estruturas que permanecerão durante todo o processo de construção mental do sujeito, sendo que cada estágio é uma maneira de equilíbrio e, de acordo com a necessidade, uma nova organização mental se instala e novas mudanças estruturais mentais se desenvolvem, promovendo, para o indivíduo, um equilíbrio. Desenvolvidas por Piaget, as provas operatórias abrangem os tipos de conhecimento para alcançar um padrão amplo de avaliação do desenvolvimento da criança. É possível investigar, por meio da aplicação das provas, se há algum atraso no processo de aprendizagem e de aquisição de conhecimento infantil e se seus aspectos cognitivos estão de acordo com a idade cronológica da criança. Esta unidade nos levará a compreensão sobre os conceitos das provas operatórias e conheceremos os tipos de provas operatórias segundo alguns teóricos. As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções chaves do desenvolvimento cognitivo, detectado o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognitiva que opera (WEISS, 2012, p. 106). Por fim, as provas operatórias precisam ser utilizadas como uma ferramenta para uma avaliação cognitiva infantil e sua eficácia consiste em auxiliar a criança nas dificuldades de aprendizagem que podem acarretar um fracasso escolar. A compreensão desta unidade contribuirá para a sua formação neste curso superior. Boa leitura! 36UNIDADE III Provas Operatórias 1. CONCEITO DAS PROVAS OPERATÓRIAS De grande importância para a área da Psicopedagogia, as provas operatórias piagetianas são consideradas como um recurso avaliativo utilizado nas práticas pedagógicas e clínicas, para investigação das dificuldades de aprendizagem das crianças, para, assim, auxiliá-las na construção de novos conhecimentos em conformidade com sua faixa etária. [...] o termo operação adquire conotações variadas, dependendo da área de uso do conceito. Na matemática, a palavra operação tem um sentido preciso, referindo-se às operações de adição, subtração, multiplicação e divisão dos números. No âmbito da cognição refere-se às habilidades do raciocínio ou das operações mentais (BEYER, 1996, p. 155). De acordo com Visca (2008), é por meio delas que Piaget demonstra, de maneira teórica, que o conhecimento decorre da construção gradativa de aprendizagem do sujeito e que não são inatos ou impostos pelo meio. Essas provas avaliam a noção de conservação e as operações lógicas de classificação e seriação, nos níveis concreto e formal, e encontram-se diluí- das na obra de Piaget. Alguns autores fizeram a seleção e organização das mesmas com o intuito de facilitar a sua utilização clínica ou escolar (RUBINS- TEIN, 2014, p. 70). Antes de aplicar as provas operatórias, é imprescindível que sejam observados alguns critérios pelo(a) profissional. O vínculo é essencial entre o(a) entrevistador(a) e o(a) entrevistado(a), pois a ausência desse sentimento, poderá acarretar a dificuldade de comunicação, deixando o sujeito apreensivo; tal situação interferirá negativamente na avaliação. Outra questão importante 37UNIDADE III Provas Operatórias por parte do(a) entrevistador(a) é o levantamento de hipóteses, pois são o ponto de partida principal de toda investigação. Por meio de conversas informais e flexíveis, o processo de investigação precisa estar ligado ao contexto que a criança está inserida. É preciso ter atenção nas respostas dadas, pois é por desse retorno que serão evidentes os processos de pensamento. Além de todas as observações, é preciso compreender o contexto que o indivíduo está inserido e a maneira como ele se comporta, em sua fala, organização entre outros. O homem é um ser essencialmente social, impossível, portanto, de ser pen- sado fora do contexto da sociedade e que nasce e vive. Em outras palavras, o homem não social, o homem considerado como molécula isolada do resto de seus semelhantes, o homem visto como independente dos diversos grupos que frequenta, o homem visto como imune aos legados da história e da tradi- ção, este homem simplesmente não existe (LA TAILLE, 1992, p. 11). É importante deixar claro que todas as crianças passam pelos estágios de desen- volvimento, porém cada uma possuirá seu próprio tempo e agilidade de raciocínio, para, assim, dar continuidade em seu processo de aprendizagem e desenvolvimento. Dessa maneira, não é possível definir, a partir da idade, em qual estágio a criança se encontra, uma vez que, dependendo também do contexto em que este está inserido, será possível saber o nível de desenvolvimento cognitivo, pois ocorre diferenciadamente em cada sujeito. Para a compreensão correta do nível de aprendizagem de cada sujeito é precisoa aplicação de testes. Piaget elaborou testes para compreender como se desenvolve a capacidade cognitiva das crianças e qual nível de estrutura cognitiva ela opera, a partir de sua experiência profissional e acadêmica. Sendo assim, a eficiência da investigação realizada por meio do uso das provas operatórias dependerá do(a) entrevistador(a) e da maneira que fará a aplicação. É preciso que possua domínio do processo, ou seja, na aplicação, na evolução, na obtenção de hipóteses e, por fim, na conclusão das atividades. https://www.redalyc.org/jatsRepo/5606/560659013006/html/index.html#redalyc_560659013006_ref10 38UNIDADE III Provas Operatórias 2. TIPOS DE PROVAS OPERATÓRIAS SEGUNDO ALGUNS TEÓRICOS Criado por Piaget, em 1926, o método clínico foi elaborado em etapas e, por diversas vezes, ainda permanece sendo uma atividade clínica em sua essência. Em alguns momentos se torna crítico na prática, pois exige que as atitudes da criança sejam justificadas por ela, bem como as interpretações de suas ações e pensamentos. Parte do que sabemos atualmente sobre o desenvolvimento infantil, está relaciona- do aos estudos de Jean Piaget. Por meio de suas pesquisas foi possível compreendermos sobre o raciocínio humano e suas características, isso se dá por meio das provas operató- rias, momento em que é possível nivelar o desenvolvimento cognitivo do sujeito e investigar e compreender o raciocínio lógico da criança. Define-se desenvolvimento em termos das mudanças que ocorrem ao longo do tempo de maneira ordenada e relativamente duradoura que afetam as es- truturas físicas e neurológicas, os processos de pensamento, as emoções, as formas de interação social e muitos outros comportamentos (NEWCOMBE, 1999, p. 25). As provas operatórias e a teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo humano têm sido utilizadas em várias pesquisas, sendo fundamental para diferentes áreas. Em vários estudos recentes tem sido visto que as tarefas piagetianas avaliam alguns pontos não medidos por testes tradicionais de inteligência e que esses aspectos aperfeiçoam ou melhoram consideravelmente a predição da per- formance acadêmica. Na área de aprendizagem inicial da leitura, que já há algum tempo vem despertando a preocupação de teóricos e pesquisadores, os conceitos discutidos por Piaget parecem de especial relevância (MOURA; CUNHA; COUTINHO, 1982, p. 22). 39UNIDADE III Provas Operatórias Para Visca (2008), as provas operatórias de Piaget buscam demonstrar teorica- mente que a aprendizagem de novos conhecimentos não é inata ou determinada pelo meio em que a criança está inserida, mas é uma construção gradativa. O método de Piaget acontece de maneira livre, diante de um tema escolhido pelo entrevistador e apresenta liberdade para os(as) envolvidos(as) conversarem sobre o as- sunto, todo o percurso do interrogatório será conduzido pelas respostas do sujeito. Delval (2002) identificou três formas de perguntas, são elas: ● 1ªExploratórias: apresenta como objetivo fazer despontar a estrutura do sujeito. ● 2ª Justificativas: tem como objetivo compreender o ponto de vista do indivíduo e a legitimidade de suas ideias. ● 3ª Contra Argumentativas: busca saber o grau de equilíbrio entre a ação e reação do sujeito diante de uma problemática e se as respostas do sujeito são variáveis ou não. Para que não ocorra interpretações equivocadas do processo, é preciso conhecimento das provas e sobre a melhor forma de aplicação, para que o trabalho não seja prejudicado, pois é preciso compreender e considerar as provas operatórias como um instrumento de identificação dos bloqueios que aparecem no processo de aprendizagem da criança, ocasionando, assim, dificuldades diversas no processo escolar. “As provas operatórias foram organizadas com o objetivo de criar certo tipo de escala de desenvolvimento intelectual e, sobretudo, de testar a validade das hipóteses de Piaget, ou seja, fundamentar o sujeito epistêmico [...]” (BORGES, 1992, p. 7). A utilização das provas na investigação de aprendizagem infantil possibilita a compreensão de como ocorre o desenvolvimento das funções lógicas do indivíduo e se há alguma barreira que dificulta a aquisição do conhecimento e o desenvolvimento mental. As provas para investigação da construção da estrutura de classificação avaliam se a criança já adquiriu a noção de classificação, possibilitando “ao sujeito reunir simultaneamente objetos segundo suas semelhanças ou diferenças, pelo que se torna capaz de lidar com a composição aditiva de classes” (MORAES, 2018, p. 244). Segundo Moraes (2018), há diferentes provas piagetianas para cada faixa etária, que permitem investigar o sujeito em diferentes níveis, sendo importante ferramenta de avaliação do desenvolvimento do sujeito. Porém, em nosso caso, definimos as provas de conservação e classificação pelas possibilidades avaliativas: as provas para verificação da construção da estrutura de conservação avaliam se o sujeito conserva uma dimensão do objeto ante alterações em outras dimensões. 40UNIDADE III Provas Operatórias As provas operatórias tornam-se uma importante ferramenta quando o objetivo é explicar o nível cognitivo da criança e, de acordo com sua idade cronológica, realizar a classificação da ação. Nos últimos anos, essas provas estão sendo utilizadas [...] como um “recurso” para “avaliar as possibilidades de raciocínio e de construção do conhecimento da criança, na fase escolar” (RUBINSTEIN, 2014, p. 70). Diante das pesquisas que Piaget, foi possível classificar e agrupar as provas operató- rias de acordo com a idade da criança para, assim, selecionar a prova correta para ser aplicada. Com caráter interrogatório, as provas operatórias buscam conhecer e compreender como a criança pensa e os argumentos que ela desenvolve para explicar suas respostas. Por esse motivo, se faz necessário todo cuidado na aplicação e instrução das provas ope- ratórias, para não induzir a criança durante o processo. De acordo com Visca (2008), para explorar ao máximo as possibilidades de desenvolvimento da criança e para que não apareçam dúvidas na interpretação de qual nível cognitivo. É preciso que o(a) aplicador(a) tenha diversas estratégias para o trabalho acontecer de maneira satisfatória, prezando o desenvolvimento da criança. A aplicação das provas precisa respeitar a faixa etária, para que o nível cognitivo da criança seja respeitado, ou seja, as provas não podem estar acima ou abaixo do nível cognitivo da criança. A aplicação das provas operatórias tem como objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito, realizando uma análise quantitativa, e reconhecer as diferenças funcionais realizando um estudo predominantemente qualitativo, ou seja, sua aplicação nos permite investigar o nível cognitivo em que a criança se encontra e se há defasagem em relação à sua idade cronológica (VISCA, 2008, p. 11). Piaget classificou e agrupou as provas operatórias por idades, as provas mostram categorias sobre o nível de estrutura cognitiva que a criança é capaz de realizar, diante da atividade apresentada. A seguir um quadro com as provas operatórias, de acordo com Piaget (1976). 41UNIDADE III Provas Operatórias QUADRO 1 - PROVAS OPERATÓRIAS POR IDADE IDADES PROVA/CATEGORIA PROVA/TIPO 6 ANOS Conservação Pequenos Conjuntos discretos de elementos. Seriação Seriação de Palitos. 7 ANOS Seriação Seriação de Palitos. Conservação Pequenos Conjuntos discretos de elementos, matéria, comprimento, superfície e líquido. Prova de Espaço Unidimensional 8 e 9 ANOS Conservação Massa, comprimento, superfície, líquido e peso. Classificação Mudança de critério, quantificação de inclusão de classes, interseção de classes. Espaço Unidimensional ou bidimensional. 10-12 ANOS Conservação Massa, comprimento,
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