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EXMO(A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SÃO CRISTÓVÃO – ESTADO DE SERGIPE Proc. nº 202083502211 Reclamantes: Wiclayf Oliveira de Jesus Reclamada: EMPRESA X, pessoa jurídica de direito privado, já qualificada em sede de Petição Inicial, vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, por conduto de seus advogados e bastante procuradores devidamente constituídos, apresentar sua defesa sob a forma de CONTESTAÇÃO à Petição Inicial acima epigrafada que lhe move Wiclayf Oliveira de Jesus, já qualificados nos autos, o que faz na forma e sob as razões de fato e de direito adiante declinadas. I – DO RESUMO FÁTICO DA INICIAL Os autores alegam, que em 09/10/2020 adquiriram um produto denominado “TRUFAS”, da marca “Vitamassa”, dentre outros produtos na loja de conveniência da requerida. Relata, que ao consumir o referido produto, tipo biscoito, veio de pronto a passou a sentir náuseas, tontura, diarreia e fortes dores estomacais. Preocupados, com a situação verificaram e notaram verificou que o alimento apresentava mofo e data de validade ultrapassada, estando impróprio para o consumo. Em virtude das dores e tontura constante, autor procurou socorro médico no Hospital Gabriel Soares, sendo que após ser atendido por voltas das 23 horas do dia 09/10/2020 - mesmo dia em que comprou e consumiu o produto ofertado pelas requeridas. Sendo assim, pugnam pela indenização de danos materiais e indenização por danos morais no valor de R$ R$ 10.024,59 (dez mil e vinte e quatro reais e cinquenta e nove centavos) Este é, em breve linhas, o resumo da exordial. II – PRELIMINARMENTE 2.1- DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL PARA JULGAR O PRESENTE CASO – NECESSIDADE DE PERÍCIA TÉCNICA É cediço que a competência dos Juizados Especiais Cíveis conforme reza o artigo 3º da Lei 9.099/95, é limitada apenas para “conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade.”. Contudo, os Autores, sabendo da complexidade da causa, que certamente demanda a produção de prova pericial para a verificação que o fato se deu pela ingestão do produto vencido, assim o autor, optou pelo rito mais célere, informal, simples e eminentemente oral, da Lei 9.099/95, cujos artigos 35, caput, 2º e 5º, interpretados conjuntamente, impedem e proíbem a realização de tal espécie de prova. Neste sentido, segue ementa, onde em caso análogo, o nobre magistrado julgou como sabedoria entendendo haver complexidade e a necessidade de perícia: “ESTADO DO RIO DE JANEIRO PODER JUDICIÁRIO XVI JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL Processo nº 0022225-65.2012.8.19.0203 Parte Autora (s): INGRID MEIRELLES DE FREITAS FERNANDES Parte Ré (s): LOJAS AMERICANAS S/A NOKIA DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA PLL ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM CELULARES LTDA. PROJETO DE SENTENÇA Dispensado o relatório, de acordo com o artigo 38, da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, decido. Trata-se de ação de obrigação de fazer, pelo rito sumaríssimo da Lei n° 9.099/95, objetivando a parte autora, a condenação da parte ré a restituir de R$399,00 referentes ao valor do produto e ao pagamento de R$5.000,00 à título de danos morais sofridos em decorrência dos transtornos e aborrecimentos ocasionados pelas partes rés. Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelas partes rés, pois a parte autora lhes imputam conduta danosa, e desta forma, a apuração de sua responsabilidade é matéria de mérito e, como tal será analisada. A presente demanda refere-se à vício do produto, relativo a aparelho celular de fabricação da segunda parte ré, adquirido pela autora na primeira parte ré, que apresentou defeito com dias de uso, não tendo o problema sido solucionado pelas partes rés. O aparelho foi devolvido pela assistência técnica, ora terceira parte ré, sem que tenha sido solucionado o problema. Contudo, acolho a preliminar de incompetência do Juizado Especial Cível ante a complexidade da matéria, arguida pelas partes rés, pois entendo que se faz necessária a realização de perícia técnica para o deslinde da questão, pois a terceira parte ré devolveu o produto para a parte autora ao argumento de que o problema era originário de mau uso, por ter sido exposto a umidade. A parte autora acostou aos autos laudo da assistência técnica autorizada que conclui pela ´infiltração´ no aparelho (fls. 14/16), ressaltando-se que, este, ao ser entregue para conserto, já apresentava sinais de desgaste (fls. 14). Todavia, trata-se de relatório técnico produzido unilateralmente, no qual descreve que foi constatado a oxidação nos componentes internos, estando danificado o produto pela mau uso, sem que se possa, com base nele, deduzir se o problema da ´infiltração´ supostamente existente tenha sido causado por más condições de uso por parte da consumidora, o que remete à necessidade de uma perícia técnica. Assim, e como o sistema dos Juizados Especiais Cíveis é informado pelos Princípios da Celeridade e Simplicidade, não cabe este tipo de prova por ser incompatível com a finalidade da norma. Logo, não é apto este Juízo para a realização da perícia, própria da jurisdição comum. Portanto, acolho a preliminar de incompetência do Juizado para o julgamento deste feito, pelo fato de versarem os autos acerca de matéria complexa, sendo imperiosa a produção de prova pericial técnica para melhor resguardo do direito envolvido. Posto isso, JULGO EXTINTO o processo sem resolução do mérito, com base nos artigos 3º, caput e do artigo 51, II da Lei 9.099/95. Sem custas ou honorários, na forma do art. 55 da Lei 9.099/95. Após o trânsito em julgado, certifique-se, dê-se baixa e arquivem-se. Publique-se, registre-se e intimem-se. Submeto a presente decisão à apreciação do MM. Juiz de Direito, como prescreve o art. 40 da lei referida acima. Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2013. Juliana Siqueira Juíza Leiga HOMOLOGO, por sentença, a decisão proferida pelo Juiz Leigo, nos termos do art. 40 da Lei n° 9.099/95, para que produza seus jurídicos efeitos. Rio de janeiro, 25 de janeiro de 2013. SIMONE CAVALIERI FROTA Juiz de Direito. (g.n) Por estas razões, a continuidade desta ação perante este MM. Juízo implicará no cerceamento de defesa à Empresa Ré, pois está impedida de fazer prova negativa dos fatos narrados pelo Autor, gerando afronta aos princípios do contraditório e do devido processo legal, com base no artigo 5º, LVI e LV da Constituição Federal. Ante o exposto, requer a parte Ré que seja indeferida a petição inicial e extinto o processo sem resolução do mérito, com fulcro nos artigos 51, inciso II da lei 9099/95, combinado com o art. 3º do mesmo diploma. II – QUANTO AO MÉRITO – REALIDADE FÁTICA As argumentações postas em sede de inicial pelos Reclamantes não estão integralmente dentro da realidade dos fatos e, consequentemente, não possuem o cunho ou o condão jurídico necessário para almejar um possível abalo e/ou sofrimento suportado pelos Autores, o que não enseja o pagamento de danos morais. Passa-se a elucidar. O vindicante afirma que ao realizar a ingestão dos biscoitos, já começaram a sentir dores abdominais, vindo a se consultar e serem medicados no Hospital Gabriel Soares. Vale ressaltar, que inexiste provas nos autos quanto a ingestão do alimento, bem como imagens que comprovem o suposto bolor alegado pelo requerente. Ressalta-se ainda, Douto Julgador, que um alimento com bolor teria um gosto completamente horrível, sendo impossível sua ingestão. Corroborando ainda, veja-se que o autor trabalhou normalmente nos outros dias, até novo internamento, o que se exclui a possibilidade de intoxicação por ingestão de produto vencido. Ademais, nobre julgador, inexiste exames que comprovem que as dores abdominaisforam causadas pela suposta ingestão do biscoito. Por amor ao debate, veja-se que cerca de 03 horas após o suposto consumo o autor já se queixava perante o médico que se encontrava com o quadro de diarreia, in verbis: Quase que instantâneo! Analisando as demais provas, temos as incoerências apresentadas entres os documentos e depoimentos prestados aos médicos. Explico. Veja-se, que o autor declara para os médicos que se encontra a 4 (quatro) dias com tontura, náuseas, diarreia e vomito, bem como calafrios. Agora, veja-se a folha de ponto apresentada pelo autor, in verbis: Quem trabalharia ao longo dessa jornada com todos esses sintomas? Além disso, diversos estudos médicos afirmam que é muito raro alguém ter intoxicação alimentar ou ter qualquer problema sério por ter comido produto industrializado com alto grau de conservantes mesmo que vencido. As propriedades químicas dos conservantes, como o pH baixo, o meio anaeróbico, fazem com que nada de ruim se prolifere em curto lapso temporal não gere consequências ruins à saúde. E ainda, não pode se descartar, o fato de que o Reclamante consumiu algo durante o dia que podem ter lhe causado o mal estar, não podendo atribuir a causa exclusiva ao produto. III – DO DIREITO 3.1 – DA AUSÊNCIA DE DANOS MATERIAIS – INEXISTENCIA DE DESPESAS - IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO Quanto ao pedido de DANO MATERIAL, serão feitas ressalvas no que concerne tal pedido, pois como no presente caso trata-se de uma relação de consumo, aplica-se o disposto no Código de Defesa do Consumidor (CDC). Entretanto, inexiste nos autos qualquer comprovação de conduta ilícita da requerida, que enseje na condenação de danos materiais. Assim como não existe prova do dano, nem mesmo de nexo de causalidade entre uma conduta ilícita da Ré e de um alegado dano pelo Requerente, haja vista que não se pode imputar a suposta doença desenvolvida ao consumo de produtos vendidos pela Ré. Dessa forma, não há elementos probatórios suficientes para imputar qualquer ressarcimento a requerida, o que resulta na IMPROCEDÊNCIA do pedido vindicado pelo autor relacionados à indenização por danos materiais. 3.2 – DA AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE – IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE DANOS MORAIS É de amplo e irrestrito conhecimento que não se pode falar em dever indenizatório quando inexistem provas dos danos suportados, isso porque o pleito reparatório não pode ser salvaguardado, sob o prisma jurídico, quando o autor se desincumbe, voluntariamente, do seu ônus probandi. Destarte, pela própria narração da inicial conclui-se que a Ré não teve nenhuma participação direta no evento que deu origem aos danos experimentados pelos Autores. Com efeito, segundo doutrina, para haver ato ilícito “stricto sensu” é preciso que o agente tenha agido culposamente, praticando um dano injusto para a vítima. Esses elementos – conduta culposa e dano injusto – não podem se apresentar isoladamente, devem estar interligados por um vínculo de causa e efeito, pois só assim o dano será imputável ao autor do ato culposo. Segundo Humberto Theodoro Júnior, a respeito do nexo de causalidade leciona que “Dentre as várias teorias já aventadas na doutrina, principalmente com raízes no direito penal, duas são as que maior repercussão tivera: a da equivalência dos antecedentes e a da causalidade adequada”. (Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume III, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 95.) Para a teoria da equivalência dos antecedentes (também denominada teoria da conditio sine qua non) tudo o que concorre para que um resultado se dê, deve ser tratado como causa. Pela teoria da causalidade adequada, segundo o ilustre jurista, é a que tem sido mais aceita pelo direito civil contemporâneo. Causa em sua ótica é o antecedente não apenas necessário, mas também adequado à produção do resultado. “Não se pode, segundo essa teoria, atribuir a responsabilidade a quem se inseriu, simplesmente, no processo de desencadeamento do fato danoso, mas apenas àqueles que atuaram com ações adequadas ao resultado; de maneira que cada um dos diversos partícipes reparará apenas nas consequências naturais e prováveis de sua ação. Nem todos, portanto, responderão pela reparação do resultado danoso final, mas apenas os que praticaram fato naturalmente adequado ao produzi-lo. (...) A análise da causalidade adequada não deve ser feita no momento do ato ilícito, mas deve retroagir ao instante em que o fato indigitado ocorreu. Ali é que se apreciará, isoladamente, sua idoneidade para produzir o ato danoso que mais tarde veio a acontecer”. (g.n.) Dessas lições, levando em conta as circunstâncias em que ocorreram os mal-estar, bem assim a suposta contribuição (nenhuma) da Ré, conclui-se que este último nenhuma responsabilidade ou culpa teve para com os danos suportados por aquela, pois, não existe nexo de causalidade ligando a Ré ao ocorrido com a vítima. Veja-se o relatório médico: Frisa-se, ainda, que se o prejuízo da vítima não foi efeito (consequência) da conduta do agente, ainda que esta tenha sido injurídica, não lhe terá acarretado a obrigação de indenizar. Quando se fala em indenização de danos é necessário que haja um ato ilícito a ser reputado ao agente causador deste, para que então se desencadeie a obrigação de indenizar por tais danos. A explicação do que é ato ilícito pode ser encontrada no Código Civil em seu artigo 186, senão vejamos: Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Na responsabilidade civil, o centro de exame é o ato ilícito. O dever de indenizar vai repousar justamente no exame da transgressão ao dever de conduta que constitui o ato ilícito. conduta do agente para acarretar responsabilidade civil deve comprovadamente causar dano ou prejuízo a vítima. Sem o dano não há que se falar em responsabilidade civil, pois sem ele não há o que reparar. Maria Helena Diniz (2003, pag. 112) conceitua dano como a “lesão (diminuição ou destruição) que, devido a certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral.” A Constituição Federal assegura no caput do artigo 5º e inciso X o direito a reparação do dano, seja ele moral ou material: “Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito á vida, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes: [...] X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;” Sendo assim, o dano é o prejuízo resultante da lesão a um bem ou direito. É a perda ou redução do patrimônio material ou moral do lesado em decorrência da conduta do agente, gerando para o lesado o direito de ser ressarcido para que haja o retorno de sua situação ao estado em que se encontrava antes do dano ou para que seja compensado caso não exista possibilidade de reparação, o que não ocorrera no caso em tela. Inaplicável, também, o art. 927 do Código Civil. Primeiramente, há de se convir, é um tremendo exagero falar em ato ilícito praticado pela Ré, considerando sua suposta participação (nenhuma) na na realização do evento. Art. 927 do Código Civil – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará- lo. De acordo com Enunciado 38, da Segunda Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos do Conselhode Justiça Federal (Brasília, set/02), interpretando o art. 927 do Código Civil, aduz que “a responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade”. (g.n.) Bem explica Humberto Theodoro Júnior, ao comentar referido dispositivo que “A posição do novo Código corresponde a um compromisso com a responsabilidade delitual subjetiva, ou seja, com o dever de indenizar fundado na culpa, como base do sistema normativo. (Comentários ao Novo Código Civil, 2ª edição, Volume III, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, pág. 29) Cabe ao juiz avaliar, no caso concreto, “a atividade costumeira do ofensor e não uma atividade esporádica eventual, qual seja, aquela que, por um momento ou por uma circunstância possa ser um ato de risco”. Igualmente, bem a propósito, preleciona o insigne Ministro do Colendo Superior Tribunal de Justiça, Carlos Alberto Menezes Direito11, comentando, juntamente com Sérgio Cavalieri Filho, a responsabilidade civil no novo Código Civil, que “Deverá o julgador, retrocedendo ao momento da conduta, colocar-se no lugar do agente e, com base no conhecimento das leis da natureza, bem como na situação particular em que se encontrava o agente, emitir o seu juízo sobre a idoneidade da causa para a ocorrência do dano”. E na trilha dos ensinamentos de Carlos Alberto Menezes Direito, “Logo, o bom senso está a indicar que a obrigação de indenizar não decorrerá da simples natureza da atividade, ainda que tenha uma periculosidade inerente. Para não chegarmos a uma inteligência absurda, devemos entender que a expressão “por sua natureza” não diz respeito à natureza do serviço, tampouco ao risco que ele produz, mas à uma inteligência absurda, devemos entender que a expressão “por sua natureza” não diz respeito à natureza do serviço, tampouco ao risco que ele produz, mas à natureza da obrigação assumida por aquele que presta os serviços”. Corroborando com todo entendimento acima questionado, seguem Ementas: APELAÇAO CÍVEL. AÇAO DE REPARAÇAO POR DANOS MORAIS. INGESTAO DE ALIMENTO IMPRÓPRIO AO CONSUMO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇAO DO NEXO DE CAUSALIDADE. DANO NAO CONFIGURADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor apenas permite que seja dispensada a prova acerca do elemento subjetivo. Todavia, mantém-se a obrigação do consumidor lesado em evidenciar os requisitos ensejadores do dano moral. 2. A autora/apelada não demonstrou que o alimento consumido foi o único e exclusivo causador da enfermidade. 3. Exigir que o estabelecimento comercial comprove que o produto consumido - já descartado - não ocasionou a infecção ou ainda que outro produto ingerido possa ter ensejado o desconforto é medida desproporcional, em verdadeira afronta ao Princípio da Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova. Recurso conhecido e provido. Decisão Por Maioria. ( TJ-SE – AC: 2010210638 SE, Relator: Cezário Siqueira Neto, Data de Julgamento: 08/02/2011, 2º Câmara Cível) APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AQUISIÇÃO DE PRODUTO IMPRÓPRIO PARA CONSUMO. POTE DE SORVETE. AUSÊNCIA DE PROVA DA INGESTÃO. MERCADORIA ADQUIRIDA COM PRAZO DE VALIDADE VENCIDO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. 1. O sistema processual brasileiro não admite a prova diabólica, de modo que o ônus de demonstrar o nexo de causalidade - ingestão do alimento - e a ocorrência do evento danoso - indisposições estomacais - pertencia à autora e do qual não se desincumbiu satisfatoriamente. 2. A mera aquisição de mercadoria com prazo de validade expirado não enseja danos morais. Com efeito, ao consumidor cabe verificar os prazos de validade dos produtos que adquire. E o vencimento do prazo de validade de alimento traduz circunstância que, em princípio, rompe o nexo de causalidade e, por via de consequência, afasta o dever de indenizar por danos morais decorrentes da eventual ingestão de produto impróprio para consumo. Precedentes jurisprudenciais. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70068874791, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Julgado em 08/06/2016) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA PELO DANO MORAL. RITO SUMÁRIO. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO. ALEGAÇÃO DE MAL ESTAR EM RAZÃO DE CONSUMO DE CERVEJA COM DATA DE VALIDADE VENCIDA ADQUIRIDA NO PARQUE AQUÁTICO. RESPONSABILIDADE CIVIL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. APELA A EMPRESA RÉ PUGNANDO PELA REFORMA IN TOTUM OU REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. NÃO HÁ COMPROVAÇÃO DE QUE A CAUSA DO MAL ESTAR DA AUTORA TENHA DECORRIDO DO PRODUTO DA RÉ. ART.373 INC. I DO NCPC. FATO DO SERVIÇO NÃO CONFIGURADO. REFORMA DA SENTENÇA. PROVIMENTO AO RECURSO. (TJ-RJ- APL:00412023720148190203 RIO DE JANEIRO JACAREPAGUA REGIONAL 4º VARA CÍVEL , Relator: FABIO UCHOA PINTO DE MIRANDA MONTENEGRO, Data de Julgamento: 04/05/2016, VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR, Data de Publicação: 06/05/2016). Sendo assim, no presente litígio, é impossível comprovar que a promovida tenha concorrido para a ocorrência de ato ilícito passível de indenização, conforme a presente e insaciável peça contestatória em busca da Justiça pretende e fatalmente conseguirá provar tais argumentos. 3.3 – Do Quantum Indenizatório Pleiteado Apenas por amor ao debate e, sobretudo, em obediência ao Princípio da Eventualidade, uma vez não acatando este preclaro Juízo pela total improcedência do pedido indenizatório frente a todos os argumentos até aqui ventilados, o que só se admite por hipótese, mister tecer considerações sobre o quantum indenizatório pedido. Ocorre que, para a aplicação de indenização por dano moral deve-se aplicar o princípio da razoabilidade, concluindo que o valor dependerá, em última análise, do bom senso do Julgador. Para haver indenização, como já repisado, não apenas as atitudes do agente supostamente causador do dano devem ser analisadas, como também a idoneidade do lesado e o nexo de causalidade existente entre ambos devem se configurar para que, em um momento posterior, avalie-se a magnitude do dano ocorrido. Infelizmente, as pessoas continuam a fazer uso da ação indenizatória com o objetivo de enriquecimento ilícito ou de receber dinheiro que necessitam urgentemente sem muito esforço, desvirtuando o real propósito do legislador constitucional ao reconhecer a necessidade de reparação de danos morais em casos concretos. É de total relevância ressaltar que o Autor não sofreu qualquer constrangimento nem abalo a sua honra ou reputação, não havendo fundamento para justificar tão vultosa quantia indenizatória. Outros aspectos também são importantes para que se chegue a uma espécie de consenso sobre o valor arbitrado, quais sejam, a capacidade de pagamento do autor da pretensa lesão e a proporcionalidade existente entre a extensão do dano causado e o valor que se pretende a título indenizatório. Aquele que pleiteia a indenização deve demonstrar dolo ou culpa, mesmo que levíssima, do causador do dano. Não é o caso dos autos, data vênia. Sabe-se que, genericamente, na reparação do dano moral, devem estar conjugadas duas finalidades: I) a primeira, a punição ao infrator pelo fato de ter ofendido um bem jurídico da vítima e II) a segunda, premiar o ofendido com uma soma que não se constitui no pretio doloris, mas sim, o meio de lhe satisfazer de qualquer espécie de dano, seja de ordem intelectual ou moral. O Autor não apenas alegou um dano hipotético, sem qualquer corroboração fática, como também pretende de forma implícita uma soma por demais descabida. A doutrina é uníssonasobre o assunto ora levantado, senão vejamos: “No arbitramento da indenização em reparação de dano moral, o juiz terá em conta, notadamente: I – a intensidade do sofrimento, a gravidade, a natureza e a posição social e política deste; II – a intensidade do dolo ou o grau de culpa do responsável e sua situação econômica. Outrossim, ao se fixar a indenização por dano moral, o seu montante deve ser capaz e proporcionar à vítima a satisfação justa e medida do abalo sofrido, sem, entretanto, haver enriquecimento sem causa”1 Assim, diante do ora ventilado, e uma vez caracterizada a existência de dano moral indenizável, admitida apenas por hipótese no caso ora examinado, pugna a empresa Requerida para que seja o quantum arbitrado dentro de patamares que obedeçam aos Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade, evitando assim o enriquecimento sem causa do Autor. IV – DOS REQUERIMENTOS Diante do exposto, roga a Reclamada para que sejam acolhida as preliminares apresentadas e no mérito que sejam julgados IMPROCEDENTES os pedidos declinados na exordial, por qualquer das vertentes narradas ao longo da defesa, caso o juiz entenda que houve dano moral indenizável que fixe o valor com prudência e obedecendo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Requer, ademais que o Autor seja condenado ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos no direito, que se julgue necessário. Termos em que, Pede e espera deferimento. Cidade de Aracaju, Estado de Sergipe, 01 de dezembro de 2020. 1 JOSÉ RAFFAELLI SANTINI, in Dano Moral, 3ª ed. P. 39 (RT 675/100)
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