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AULA 4 CUSTO DE MÃO DE OBRA Prof. Valter Pereira Francisco Filho 2 INTRODUÇÃO Sabemos que os recursos humanos representam um papel estratégico na gestão de negócios. Bateman e Snell (2012, p. 156) apresenta quatro critérios para enfatizar essa importância: 1. Pessoas criam valor. As pessoas podem aumentar o valor, ajudando a reduzir custos, fornecendo algo diferente aos clientes, ou ambas as coisas. [...] 2. O talento é raro. Pessoas são uma fonte de vantagem competitiva quando suas competências, conhecimentos, e habilidades não estão igualmente disponíveis para todos os competidores. As melhores empresas investem na contratação e no treinamento dos melhores e mais brilhantes funcionários para conquistar vantagem competitiva. 3. É difícil imitar um grupo de pessoas bem escolhidas e motivadas. Os competidores têm dificuldade para se equiparar às culturas ímpares. [...] 4. As pessoas podem ser treinadas para alcançar o sucesso. As pessoas podem fornecer vantagem competitiva quando seus talentos são combinados e usados rapidamente para lidar com novas tarefas, como se vê no uso eficaz de equipes e colaboração. Com recursos humanos valiosos, raros, inimitáveis e organizados, podemos gerar bons resultados, a partir de uma boa gestão da relação custo/benefício. TEMA 1 – CUSTO IMPLÍCITO DE MÃO DE OBRA Os salários pagos, somados aos encargos e benefícios, representam a parte explícita do custo da mão de obra. Mas quais são os implícitos? Quando falamos de recursos humanos, não podemos esquecer que a empresa precisa ter processos de captação, desenvolvimento, avaliação e retenção de talentos. Uma grande oferta de mão de obra garante o suprimento desse recurso humano necessário à operação? “O setor industrial brasileiro enfrenta um paradoxo. Num país com 11,6 milhões de desempregados, metade das fábricas do país diz ter dificuldade para encontrar mão de obra qualificada” (Gerbelli, 2020). O estudo foi conduzido pela Confederação Nacional da Indústria – CNI. As justificativas dessa dificuldade que encontrada é a qualidade do nível educacional no Brasil; o foco repousa na formação da força de trabalho, com um ensino médio generalista, que não forma para nenhuma profissão. Outra matéria apresenta uma pesquisa realizada por uma consultoria de recursos humanos com executivos, indicando 3 que, no ano que vem, já haverá um déficit de 1,8 milhão de pessoas para vagas especializadas – considerando-se tanto vagas abertas quanto as que vão ser preenchidas por empregados sem qualificação considerada ideal. Esse número deve crescer a uma taxa de 12,4% ao ano, até alcançar 5,7 milhões de postos com funcionários sem competência ideal ou vagos até 2030. (Jakitas, 2019) A alternativa apontada pela pesquisa da CNI é investimento em capacitação. “Para lidar com a falta de mão de obra qualificada, 85% das empresas realizam capacitação na própria empresa e 42% oferecem algum tipo de treinamento fora da empresa” (Gerbelli, 2020). Um programa de treinamento e desenvolvimento tem quatro etapas (Bateman; Snell, 2012, p. 168). A primeira fase é a avaliação de necessidades, que busca entender a distância entre o que precisamos e onde estamos. A segunda fase é a concepção do programa, com seus objetivos e currículo a ser desenvolvido. Na terceira fase, é preciso pensar onde será a realização e quais métodos devem ser empregados. Gráfico 1 – Métodos de treinamento Fonte: elaborado com base em Bateman; Snell, 2012, p. 169. Na escolha dos métodos, é preciso relacionar as características do programa, apresentando a estrutura de custos particulares, envolvendo recursos próprios ou contratados de terceiros. 4 A fase final é a avaliação da eficácia do treinamento, considerando se os objetivos realmente foram alcançados. Podemos incluir aqui também uma avaliação de eficiência. Catelli (2010, p. 207) indica que “a eficácia, em relação a uma atividade, refere-se à obtenção dos resultados desejados, enquanto a eficiência refere-se à relação recursos consumidos/produtos gerados”. Essa é a visão a ser priorizada dentro do contexto de gestão de custos. Os custos de captação também são representativos, objetivando contratar o perfil mais adequado à função demandada. O processo pode incluir análise de currículos, processo de entrevistas e dinâmicas, além de aplicação de testes psicológicos, de desempenho e eventualmente médicos. Podemos afirmar que o indicador operacional que impacta diretamente nesses custos implícitos é o turnover, ou seja, a “rotatividade de pessoal, baseada no volume de entrada e saída de funcionários durante certo período, em termos percentuais. Quando as empresas quiserem medir a eficiência na retenção de pessoas, por estar em fase de expansão, por exemplo, é recomendado utilizar a fórmula considerando apenas os desligados” (Oliveira, 2018, p. 220). Vejamos a fórmula do turnover: ([número de admissões + número de desligamentos] / 2) / número total de funcionários x 100. Quanto mais baixo o turnover, menos custos implícitos a empresa incorrerá nos recursos humanos, indicando a assertividade do processo de recrutamento e seleção e de boas políticas de retenção. TEMA 2 – ENCARGOS SOCIAIS DO CUSTO DE MÃO DE OBRA Os encargos sociais e trabalhistas compõem o principal custo da mão de obra depois dos proventos. Pessoa (2010, p. IX) afirma que o custo Brasil de há muito tem sido discutido e um dos itens mais polêmicos desse custo são os encargos sociais e trabalhistas, que vêm ganhando relevância principalmente após a abertura econômica, quando o Brasil passou a enfrentar uma competição direta na produção industrial com países que não oneram tanto a folha de pagamento. Não estamos falando aqui de benefícios gerados por acordos coletivos ou concedidos por vontade própria pela empresa. Podemos dividir os encargos em grupos, para facilitar seu entendimento e impacto de custos. No primeiro grupo de encargos temos aqueles que os empregados não recebem diretamente, que vamos chamar de grupo A. Entram aqui a parcela patronal da previdência social, o FGTS, o salário educação, RAT 5 (Riscos Ambientais do Trabalho), antigo seguro contra acidente de trabalho e as contribuições para as entidades Sesi, Sesc, Sest, Senai, Senac, Senat, Sebrae, Incra. Num segundo grupo, grupo B, entram os encargos pagos diretamente aos empregados, como férias, o acréscimo constitucional das férias e décimo terceiro salário. Temos ainda as multas e indenizações rescisórias, que chamaremos de grupo C, e a incidência dos encargos do primeiro grupo nos valores do segundo grupo, que ficaram no grupo D. O tema é complexo pela quantidade de encargos e pelas características do contrato de trabalho – se mensalista, horista ou em regime de turnos ininterruptos de revezamento. 2.1 Exemplo prático de cálculo de encargos Vamos desenvolver um exemplo prático para calcular os encargos sociais de um funcionário mensalista. Nosso exemplo tomará como base a remuneração anual. O exemplo servirá para que possamos avaliar o impacto geral dos encargos sociais nos custos da empresa. Não serão incluídos no exemplo vale-transporte e benefícios decorrentes de acordo coletivo. Para o nosso exemplo prático, vamos considerar que o período de trabalho é de janeiro a dezembro, com dispensa do funcionário no final de dezembro. Tabela 1 – Salários mensais durante o ano Fonte: elaborado com base em Pessoa, 2010, p. 40. Qtd. Valor Janeiro 31 4 1 26 30 1.100,00 Fevereiro 28 4 0 24 30 1.100,00 Março 31 4 0 27 30 1.100,00 Abril 30 5 2 23 30 1.100,00 Maio 31 4 1 26 30 1.100,00 Junho 30 4 2 24 30 1.100,00 Julho 31 5 1 25 30 1.100,00 Agosto 31 4 0 27 30 1.100,00 Setembro 30 5 1 24 30 1.100,00 Outubro 31 4 1 26 30 1.100,00Novembro 30 4 2 24 30 1.100,00 Dezembro 31 5 1 25 30 1.100,00 TOTAL 365 52 12 301 360 13.200,00 Meses Dias Domingos Feriados Dias úteis Dias Pagos Por Mês 6 Observem que o mensalista não terá alteração em sua remuneração em relação ao número de dias úteis do mês. O mês de abril foi o mês, nesse exemplo, com menos dias úteis, apenas 23. Março e agosto foram os meses com mais dias úteis, 27. Mesmo assim, a remuneração mensal permaneceu fixa. O cálculo sempre será pelo mês fechado – não há cálculo de descanso semanal remunerado, por exemplo. Tabela 2 – Vernas rescisórias Fonte: elaborado com base em Pessoa, 2010, p. 41. Considerando que ao final de dezembro ocorreu a dispensa com aviso prévio indenizado, para fins do exemplo, assim temos como verbas rescisórias a multa do FGTS (40%), que incide sobre o saldo do FGTS recolhido mais férias e 13º salário proporcionais, um doze avos do salário mensal. Há ainda férias não gozadas somadas a um doze avos de férias proporcionais, já que o aviso prévio conta como um mês de trabalho. Sobre as férias vencidas mais a proporcional, devemos somar o acréscimo constitucional de férias, que representa um terço do valor. Tabela 3 – Cálculo dos encargos sociais Grupo A Fonte: elaborado com base em Pessoa, 2010, p. 41. Grupo B - Itens Valores Aviso Prévio Indenizado 1.100,00 Décimo Terceiro 1.100,00 Décimo Terceiro Proporcional (1/12) 91,67 Grupo C - Itens Valores Multa Rescisória FGTS 619,67 Férias Vencidas Indenizadas 1.100,00 Férias Proporcionais (1/12) 91,67 Acréscimo Constitucional de Férias Indenizadas 397,22 Grupo A Valor % A1 - Previdência Social 2.640,00 20,00 A2 - FGTS 1.056,00 8,00 A3 - Salário Educação 330,00 2,50 A4 - RAT Riscos Ambientais do Trabalho 396,00 3,00 A5 - SESI/SESC/SEST 198,00 1,50 A6 - SENAI/SENAC/SENAT 132,00 1,00 A7 - SEBRAE 79,20 0,60 A8 - INCRA 26,40 0,20 Total do Grupo A 4.857,60 36,80 7 “A Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, estabelece em seu artigo 22 – Inciso I - que a contribuição a cargo da empresa, destinada a Seguridade Social, seja de 20% (vinte por cento)” (Pessoa, 2010, p. 4). A base de cálculo da contribuição são as remunerações pagas. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço é calculado também sobre as remunerações, 8% (oito por cento) de acordo com a Lei n. 8.036, de 11 de maio de 1990, em seu art. 15. O salário-educação incide sobre o total das remunerações pagas e está previsto no art. 212, parágrafo 5, da Constituição Federal. Ele representa 2,5% (dois e meio por cento) de encargos. Vale destacar que o percentual do seguro contra acidente de trabalho, atualmente RAT – Riscos Ambientais do Trabalho, pode variar de acordo com o risco de acidentes de leve a grave, de 1% a 3%, estabelecido pela Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991. Complementando o encargo, a Lei n. 10.666, de 8 de maio de 2003, possibilitou a redução ou majoração da contribuição, recolhida pelas empresas, podendo variar entre a metade e o dobro, conforme o FAP – Fator Acidentário de Prevenção. A5 – SESI, SESC/SEST: As leis nº 8.212, de 24/07/1991, e 8.706. de 14/09/1993, estabelecem os valores das contribuições para estas entidades, fixando-as em 1,5% (um e meio por cento) sobre o total de salários pagos pelas empresas. A6 – SENAI/SENAC/SENAT: As leis nº 4.048, de 22/01/1942; 9.403, de 25/06/1946; 8.621, de 10/01/1946; 9.853, de 13/09/1946 e Decreto nº 60.466, de 14/03/1967 regulamentam o recolhimento para as entidades, fixando o valor da contribuição em 1,0% (um por cento). A7 – SEBRAE: As leis nº 8.029, de 12/04/1990; 8.154, de 28/12/1990 e Decreto nº 99.750, de 9/10/1990, estabelecem a alíquota de 0,6% (seis décimos por cento), como contribuição das indústrias, transportes ferroviários, empresas de telecomunicações, indústria de construção civil e armazéns gerais; comércio atacadista, varejista, agentes autônomos do comércio, turismo e hospitalidade, estabelecimento de serviço de saúde, escritórios, consultórios, empresas de transporte rodoviário, transporte de valores, distribuição de petróleo, tomadores de serviços de trabalhadores avulsos – indústria - ,e contribuição sobre a remuneração dos trabalhadores avulsos vinculados ao comércio. A8 – INCRA: As contribuições básica e adicional para o INCRA foram criadas pela Lei nº 2.613, de 23/09/1955, e tiveram as seguintes alterações: Decreto-lei nº 1.146, de 31/12/1970 (trata-se de alíquotas e definição de contribuintes); Lei nº 7.787, de 30/06/1989 (trata-se de base de incidência); e Lei nº 10.256, de 9/07/2001 (fixa contribuição sobre folha de pagamento e sobre produção rural). A contribuição básica é de 0,2% (dois décimos por cento), a contribuição esta sobre a folha de pagamento das empresas. (Pessoa, 2010, p. 15) O cálculo dos encargos é realizado pela simples aplicação do percentual sobre o total de salários. Esses encargos representam 36,80% sobre os salários mensais. 8 Tabela 4 – Cálculo dos encargos sociais Grupo B Fonte: elaborado com base em Pessoa, 2010, p. 41. Na segunda parte, devemos considerar, para efeito do exemplo, que as férias vencidas serão indenizadas, compondo as verbas rescisórias. O aviso prévio, de 30 dias, será pago, além do 13º salário, acrescido de um doze avos. Esses encargos representam 17,36% sobre os salários mensais. Tabela 5 – Cálculo dos encargos sociais Grupo C Fonte: elaborado com base em Pessoa, 2010, p. 41. O grupo C representa as vendas rescisórias, que totalizam 15,79% dos salários mensais. Tabela 6 – Cálculo dos encargos sociais Grupo D Fonte: elaborado com base em Pessoa, 2010, p. 42. E para finalizar temos o grupo D, com férias e 13º salário, do grupo B, aplicados os percentuais do grupo A, representando 6,39% sobre os salários mensais. Grupo B Valor % B1 - Férias - - B2 - Acréscimo Constitucional de Férias - - B3 - Aviso prévio 1.100,00 8,33 B4 - Auxílio Doença e Faltas Abonadas - - B5 - Feriado - - B6 - Repouso Semanal Remunerado - - B7 - 13º Salário 1.191,67 9,03 Total do Grupo B 2.291,67 17,36 Grupo C Valor % C1 - Multa por Recisão Contratual 495,73 3,76 C2 - Férias Indenizadas 1.191,67 9,03 C3 - Acréscimo Constitucional de Férias Indenizadas 397,22 3,01 Total do Grupo C 2.084,62 15,79 Grupo D Valor % A x B - Incidências Cumulativas de A sobre grupo B 843,34 6,39 9 Tabela 7 – Encargos totais Fonte: elaborado com base em Pessoa, 2010, p. 42. Consolidando os encargos, totalizamos 76,34% sobre os salários. Imaginando uma situação em que a empresa incorre nos custos e vale-transporte e mais alguns benefícios, o impacto sobre os salários passa facilmente de 100%. TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DO CUSTO DE MÃO DE OBRA A classificação dos custos com mão de obra, dentro de uma sistemática de custeio, tem como objetivo organizar a alocação do recurso ao objeto de custeio que consome esse recurso, seja um produto ou serviço. A classificação usual é em mão de obra direta e mão de obra indireta. Usual, pois o tratamento dado as informações seguem caminhos diferentes até chegar ao objeto de custeio. É claro que internamente a empresa poderá adotar classificações com nomenclaturas diferentes, mas levarão ao mesmo objetivo: determinar o custo unitário de cada produto que saiu da fábrica, de cada serviços executados aosclientes. A mão de obra direta representa os custos empregados na transformação das matérias primas e outros insumos em produto acabado, pensando em um ambiente industrial. Mão de obra indireta é o custo dos operários que não trabalham diretamente com o produto, mas que são necessários à operação da fábrica – supervisores, operários que trabalham em manutenção e operários que trabalham com o controle do almoxarifado, por exemplo. Grupo A 4.857,60 36,80 Grupo B 2.291,67 17,36 Grupo C 2.084,62 15,79 Grupo D 843,34 6,39 Total Geral 10.077,24 76,34 10 Figura 1 – Componentes do custo de um produto fabricado Fonte: elaborado com base em Maher, 2001, p. 69. Qualquer custo que pode ser relacionado diretamente com um objeto do custo representa um custo direto daquele objeto; qualquer custo que não pode, um custo indireto. Um objeto do custo é qualquer item a que um custo é atribuído – uma unidade em estoque, um departamento, ou uma linha de produtos. Os contadores utilizam as expressões custo direto e custo indireto da forma como os não contadores esperariam. Uma dificuldade, entretanto, é que um custo pode ser direto em relação a um objeto do custo e indireto em relação a outro. Por exemplo, o salário de um supervisor de um departamento da fábrica é um custo direto em relação ao departamento, mas é indireto em relação aos produtos que o departamento fabrica. (Maher, 2001, p. 69-70) Devemos sempre nos perguntar: os custos são diretos ou indiretos em relação a quais objetos? Assim, podemos entender se forma de alocação está afetando os resultados. Para análise dos lucros obtidos com a operação, os objetos são aqueles que geram receitas para a empresa, produtos e serviços. TEMA 4 – CÁLCULO DA MÃO DE OBRA DIRETA (MOD) E INDIRETA (MOI) O cálculo do custo da mão de obra está relacionado a diversos fatores: método produtivo da empresa; organização departamental; e modelo de custeio adotado, seja para atender questões fiscais-tributárias ou o processo gerencial. 11 Figura 2 – Departamento de serviços e departamento usuário Fonte: elaborado com base em Maher, 2001, p. 99. No custeio por ordem, considerando que os produtos são customizados, dentro de determinados padrões, ou fabricados unicamente para um cliente, é preciso dar atenção especial às diferentes atividades aplicadas pela mão de obra direta de produção, sendo necessário apontamento e controle das horas aplicadas em cada produto. “Custeio por ordem de fabricação: Sistema contábil que acompanha os custos de unidades individuais do produto, ou de trabalhos, contratados ou lotes de produtos específicos” (Maher, 2001, p. 98). O esforço para calcular a mão de obra direta nesse sistema produtivo é enorme, requisitando foco em medição e controle em cada etapa de produção, pois além das características particulares de quantidade de horas aplicadas, devemos considerar o nível de especialização da mão de obra requerida pelas diferentes atividades, refletindo em custos distintos. Se no cálculo e alocação da mão de obra direta há um grau de complexidade, nesse método de produção o cálculo da mão de obra indireta passa a ser um desafio para o sistema de custeio. O objetivo passa a ser identificar quais são os melhores critérios, para que se possa rastrear o quanto de mão de obra indireta será absorvida pelos produtos, sem causar distorções que prejudiquem a 12 utilização da informação de custeio, seja para precificação ou análise de resultados desagregados. No lado oposto, temos a produção por fluxo contínuo. “Nesse sistema, geralmente um produto único e homogêneo é fabricado, em um processo contínuo. Companhias que produzem de acordo com esse processo utilizam sistema de custeio por processo” (Maher, 2001, p. 98). O tratamento dado à mão de obra direta, considerando um produto homogêneo, é menos complexo, podendo ser calculado e alocado pelo volume de produção, dentro de uma unidade comum com poucas variações dos produtos. Por exemplo, em uma empresa de papel, em que uma determinada linha de produção faz produtos uniformes, diferentes apenas na gramatura, o custo de mão de obra direta poderá ser calculado por tonelada, de forma relativamente simples. No método de custeio por processo, os custos da mão de obra direta, pelas características de produção homogênea, não devem gerar dificuldades para o processo de cálculo e alocação de produtos. Critérios gerais relacionados ao volume de produção podem ser bons o suficiente para que não haja distorções decorrentes do processo de custeio. Muitas empresas utilizam um sistema de custeio híbrido, denominado custeio por operação. Uma operação representa um método padronizado de fabricar um produto, que é repetidamente aplicado. As companhias que utilizam custeio por operação fabricam produtos com métodos de produção padronizados, semelhantemente a companhias que utilizam sistemas por processos, mas os materiais podem ser diferentes em cada produto ou lote de produtos. (Maher, 2001, p. 99) O sistema de custeio por operação não apresenta diferenças significativas em relação ao custeio por processo, incluindo os tratamentos dados ao cálculo da mão de obra direta e indireta. É preciso dar atenção aos diferentes materiais aplicados em cada lote de produto. Se a troca de materiais não altera o esforço de produção, o tratamento do custeio, em relação à mão de obra, se mantém. Caso essa alteração de materiais gere novas atividades ou aumento da complexidade, o custeio da mão de obra direta deve ser reavaliado, para que as ponderações pertinentes sejam realizadas, garantindo a qualidade da informação gerada. TEMA 5 – CARACTERIZAÇÃO DO RATEIO DE CUSTOS O que é rateio de custos? Segundo Maher (2001, p. 231), “o rateio de custos representa a atribuição de um custo indireto a um objeto o custo, segundo 13 certa base. Um objeto do custo, por sua vez, representa qualquer fim ao qual um custo é atribuído”. A necessidade de realizar rateios dos custos indiretos surge com a aplicação do modelo de custeio absorção total, com o objetivo de atender duas demandas: contabilidade fiscal e legislação tributária; e princípios de contabilidade, aplicados na elaboração das demonstrações financeiras externas. Os custos diretos podem ser mensuráveis de forma objetiva, estabelecendo o quanto de recurso foi consumido por um objeto – normalmente produto ou serviço que gera receitas. Por outro lado, os indiretos representam custos comuns da operação. Bruni e Famá (2009, p. 29) descrevem os indiretos como aqueles custos que “necessitam de aproximações, isto é, algum critério de rateio, para serem atribuídos aos produtos. Exemplos: seguros e aluguéis da fábrica, supervisão de diversas linhas de produção”. A mão de obra indireta faz parte desse grupo de custos. Por definição, custos comuns a dois ou mais objetos provavelmente serão rateados aos objetos de forma mais ou menos arbitrária. Essa arbitrariedade tem levado alguns críticos do rateio de custos a argumentar que ele pode levar à apresentação de informações enganadoras e, consequentemente, à tomada de decisões pobres. Suponha, por exemplo, que os custos da administração central (o salário do presidente, a depreciação dos imobilizados utilizados na sede da companhia etc.) sejam rateados às divisões com base na receita de cada divisão. Uma divisão mais antiga, que tenha receitas mais altas, pode ser muito mais independente da administração central do que uma divisão mais recente, menos lucrativa, que consumo muito tempo da administração central. Se os custos forem rateados com base na receita, contudo, a divisão mais antiga receberá uma parcela maior de custos da administração central. Embora a base de rateio (receita de cada divisão no exemplo) possa parecer razoável, sempre existirácerto grau de arbitrariedade no rateio de custos. (Maher, 2001, p. 232) Os rateios dos custos comuns estão habitualmente relacionado à estrutura departamental da organização. Temos departamento que fornecem serviços e departamento que usufruem desses serviços. No encadeamento de custos comuns, o objetivo final é que os departamentos diretamente ligados à produção e prestação de serviços aos clientes absorvam os custos, que serão, na fase final do custeio, lançados a um produto ou serviço. 14 Figura 3 – Departamento de serviços e departamento usuário Fonte: elaborado com base em Maher, 2001, p. 234. Definida a estrutura de serviços comuns e os usuários finais, temos que definir o critério de rateio a ser utilizado. De qualquer forma, mesmo aparentando ser um critério razoável, vamos ter um grau elevado de subjetividade. Quadro 1 – Bases de rateio usuais para custos comuns Custo comum Base de rateio usual Relacionados com mão de obra 1. Supervisão Quantidade de empregados Valor da folha de pagamento ou horas de mão de obra 2. Serviços do departamento de pessoal Quantidade de empregados Relacionados com máquinas 3. Seguro dos equipamentos Valor do equipamento 4. Impostos sobre os equipamentos Valor do equipamento 5. Depreciação dos equipamentos Horas-máquinas, valor do equipamento 6. Manutenção dos equipamentos Quantidade de máquinas, horas- máquinas Relacionados com ocupação 7. Aluguel de edificações Espaço ocupado 8. Seguro de edificações Espaço ocupado 9. Aquecimento e ar-condicionado Espaço ocupado, volume ocupado 10. Aluguel de concessão Espaço ocupado e desejabilidade da localização 11. Manutenção de edificações Espaço ocupado Relacionados com serviços 12. Manuseio de materiais Quantidade ou valor dos materiais 13. Lavanderia Peso do material lavado 14. Faturamento e contabilidade Quantidade de documentos 15. Materiais indiretos Valor dos materiais diretos 16. Refeições Quantidade de refeições Fonte: elaborado com base em Maher, 2001, p. 235. 15 Os critérios relatados fazem total sentido quando olhamos especificamente os gastos ou atividades de apoio relacionada a ele. Deve-se ter cuidado com a adoção de práticas que minimizem o grau de subjetividade do rateio. Também é preciso avaliar se a informação obtida com a aplicação de outros critérios de rateio, que pareçam razoáveis, não muda a interpretação dos resultados obtidos, alterando a direção das decisões tomadas. O que devemos buscar como objetivo principal de um sistema de custeio é uma abordagem, com princípios somados a métodos, que realmente traga valor ao processo de tomada de decisão. Mesmo trabalhando com eventuais distorções, desde que não sejam significativas, tomaremos decisões ótimas, levando a organização à evolução de suas práticas de gestão. 16 REFERÊNCIAS BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de custos e formação de preço: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Série Finanças na Prática. CATELLI, A. Controladoria: uma abordagem da gestão econômico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. GERBELLI, Luiz Guilherme. Falta de mão de obra qualificada afeta metade das indústrias do país. G1, Rio de Janeiro, 11 fev. 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2020/02/11/falta- de-mao-de-obra-qualificada-afeta-metade-das-industrias-do-pais.ghtml>. Acesso em: 9 abr. 2021. JAKITAS, R. Apagão de mão de obra no país pode limitar o crescimento. O Estado de São Paulo, São Paulo, 25 nov. 2019. Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,apagao-de-mao-de-obra-no- pais-pode-limitar-crescimento,70003101312>. Acesso em: 9 abr. 2021. MAHER, M. Contabilidade de custos: criando valor para a administração. Tradução: José Evaristo dos Santos. São Paulo: Atlas, 2001. OLIVEIRA, L. Y. M. de. Gestão de pessoas. Porto Alegre: Sagah, 2018. PESSOA, C. Encargos sociais e trabalhistas no Brasil: manual de cálculos e legislação aplicada. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010.
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