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AULA 3 CUSTOS DE MÃO DE OBRA Prof. Valter Pereira Francisco Filho 2 INTRODUÇÃO Controle e avaliação Henry Fayol, fundador da teoria clássica da administração, define o ato de administrar como prever, organizar, comandar, coordenar e controlar (Chiavenato, 2011, p. 78). Assim, o controle é uma das funções básicas da gestão, que consiste na comparação do planejado com o realizado, em várias dimensões, gerando avaliações que suportem as tomadas de decisões da empresa. A avaliação faz parte do processo de controle e tem como objetivo gerar feedback para que possamos direcionar os recursos e esforços para a direção prevista. TEMA 1 – A INFLUÊNCIA DA CONTABILIDADE DE CUSTOS NO PROCESSO DECISÓRIO A gestão empresarial é caracterizada pela necessidade constante de tomada de decisões, influenciada pelo ambiente interno e externo da organização. A complexidade dessas decisões dependerá do volume de variáveis que deverão ser consideradas, da qualidade das informações sobre essas variáveis e dos instrumentos de gestão disponíveis ao decisor. 1.1 Ambiente externo Quando olhamos o ambiente externo, podemos identificar dois níveis: o ambiente próximo e o ambiente remoto. No ambiente próximo encontramos os clientes e fornecedores do segmento de atuação, os concorrentes diretos e indiretos, aqueles que trabalham com produtos substitutos, bem como outras entidades que estão em contato direto com a empresa: órgãos fiscalizadores, sindicatos e comunidade. As variáveis das relações entre todas as entidades do ambiente próximo são relativamente conhecidas e, em certo nível, controladas pela empresa. Quando vamos ao ambiente remoto, nos deparamos com variáveis que influenciam todas as entidades, não somente o segmento de negócio da empresa. Podemos identificar variáveis políticas, econômicas, regulatórias e sociais, menos controladas e conhecidas. 3 1.2 Modelo de gestão Para entender o funcionamento da empresa e suas relações, Catelli (2010, p. 55-56) divide a empresa em subsistemas. O primeiro é o institucional, formado pelo conjunto de valores e crenças da organização, praticamente seu ácido desoxirribonucleico (DNA), que vai influenciar todos os outros subsistemas. O subsistema físico é composto pelos bens tangíveis, pelos elementos materiais da organização. Já o subsistema social, pelo elemento humano, caracterizado pelo conjunto de competências técnicas e comportamentais que, com certeza, afetam diretamente o processo decisório. O próximo é o subsistema organizacional, que se refere às hierarquias e estruturas departamentais, da autoridade formal. O subsistema de gestão é responsável pela dinâmica das atividades de planejamento, execução e controle. E, por último, há o subsistema de informação, responsável por coletar e processar as informações operacionais e econômico- financeiras da empresa. A abordagem dos subsistemas facilita a compreensão do funcionamento da empresa, possibilitando isolar as suas partes para melhor entender o seu todo, formando-se assim o modelo de gestão da empresa, que pode ser compreendido como um conjunto de normas, princípios e conceitos que tem por finalidade orientar as atividades e decisões para que seja cumprida a missão para a qual a empresa foi criada (Catelli, 2010, p. 57). Observando o modelo de gestão da empresa, por meio de suas práticas organizacionais, como planejamento estratégico, planejamento orçamentário, estrutura de avaliação de desempenho, também poderemos medir o grau de autonomia dos seus gestores na tomada de decisões. Nesse ponto, a contabilidade de custos desempenha papel fundamental, sendo a base da avaliação econômico-financeira de desempenho. Sem ela é impossível gerar relatórios que façam a medição da geração de riqueza e o consequente processo de retroalimentação. 1.3 Tomada de decisão A tomada de decisão consiste em três grandes fases: o conhecimento do problema em questão; o desenvolvimento das possíveis soluções a serem aplicadas; e a escolha e implementação da solução, segundo o contexto de um objetivo determinado para a situação. 4 O modelo de decisão deve ser significativo para o tomador de decisão e atender ao seu processo lógico e específico para cada natureza do evento ou problema a ser resolvido. Esso modelo incorpora, ainda, dois outros necessários para complementar o processo decisório: um de informação e um de mensuração. (Padoveze, 2012, p. 31) Figura 1 – Modelo de decisão Fonte: Padoveze, 2012, p. 32. A estruturação do modelo de informação é orientada pelas decisões a serem tomadas e pelas necessidades de mensuração. O modelo de mensuração vai combinar, agregar, acumular e simular as informações recebidas conforme parâmetros estabelecidos. O modelo de mensuração da contabilidade de custos será fundamental para a avaliação econômico-financeira da empresa, sendo referência básica para a construção de seus indicadores. Padoveze (2012, p. 32) indica que os modelos de mensuração podem ser de informações agregadas, como o balanço patrimonial e a demonstração de resultados; de informações desagregadas, como a análise de custos e margens de produtos, serviços, clientes etc.; de informações de eventos, como projetos de investimentos; além de modelos de estudos específicos, que permitem análises específicas e pontuais. 1.3.1 Dimensões de desempenho da empresa No processo de mensuração, é importante garantir que o decisor olhe a situação sob diversas dimensões, garantindo-lhe a tomada de decisões ótimas, que maximizem os resultados da empresa. Uma das dimensões propostas por Catelli (2010, p. 205) é a da natureza das atividades, podendo ser caracterizada como operacional, econômica e financeira: “O desempenho operacional é caracterizado por uma atividade, ou conjunto de atividades diretamente relacionadas ao processamento de recursos para a geração de produtos e serviços”. 5 Podemos dizer que os indicadores de natureza operacional precedem os de natureza econômico-financeira. Todas as atividades operacionais consomem recursos, valor econômico, representado pelos custos, mensurados para utilização no modelo de decisão da empresa, em que poderemos avaliar a lucratividade das suas operações. O desempenho financeiro da empresa está relacionado ao fluxo dos recursos, entradas e saídas de caixa, representado pelo ciclo financeiro e pela necessidade de capital de giro e permanente. Nessa dimensão de natureza podemos concluir que a análise dos indicadores operacionais é fundamental para a compreensão dos indicadores econômico- financeiros da empresa. Uma elevação do número de reclamações dos clientes sobre produtos irá se refletir, posteriormente, nos custos com assistência técnica; uma boa produtividade na linha de produção gerará um produto de menor custo unitário no período. A dimensão da qualidade das atividades refere-se à análise de eficácia e eficiência das operações. A eficácia está relacionada ao alcance de um determinado resultado planejado. A eficiência faz a relação dos recursos consumidos com os resultados gerados. É muito importante que as duas visões sejam utilizadas em conjunto. Um indicador de análise do crescimento das vendas (eficácia) deve ser acompanhado de outro com a evolução dos custos de aquisição de novos clientes (eficiência). Catelli (2010, p. 207) indica que “a noção de eficácia é multidimensional e inclui a eficiência”. A amplitude das atividades representa uma dimensão de análise importante, pois contrapõe a visão global, agregada do desempenho, à visão divisional e funcional. Quando analisamos os resultados gerados por uma empresa devemos perguntar de quais atividades, produtos, serviços e clientes vieram esse lucro. A visão desagregada é fundamental, considerando que o nível de lucratividade é distinto para cada objeto analisado. A visão agregada do modelode mensuração dos demonstrativos financeiros atende às demandas externas, como bancos, governos, mercado e à própria empresa. As demandas internas, geradas pela necessidade de tomada de decisão dos gerentes, devem acompanhar o modelo de gestão considerando a amplitude horizontal (departamentos, divisões, filiais etc.) e a amplitude vertical (cargos e funções) da empresa, gerando indicadores detalhados para cada objeto identificado. 6 Podemos afirmar que a contabilidade de custos está na base do processo de avaliação de desempenho, influenciando, por meio do seu modelo de mensuração, as decisões de toda a organização. TEMA 2 – MÉTODOS DE CONTROLE DA MATÉRIA-PRIMA O controle da matéria-prima e outros materiais diretos de produção é de sua importância na gestão de custos, determinando o valor monetário que está sendo consumido na produção. Utilizamos o termo inventário como referência do controle dos estoques, podendo ele ser periódico ou permanente. Sistema de inventário periódico: quando a empresa não mantém um controle contínuo dos estoques. O consumo só pode ser verificado após os inventários (contagem física dos estoques), em geral quando do fechamento do Balanço Patrimonial, e posterior avaliação de acordo com critérios legais. O consumo pode ser calculado em uma empresa industrial mediante o emprega da seguinte equação: Consumo de material direto = Estoque inicial + Compras – Estoque final Sistema de inventário permanente: existe o controle contínuo da movimentação do estoque. Solicitações de produção e vendas são controladas individualmente. Estoque e CPV podem ser calculados em qualquer momento pela contabilidade. Periodicamente, a contagem física pode ser feita para fins de auditoria e controle interno. Encontrando eventuais sobras ou faltas, novos ajustes devem ser feitos nos registros contábeis. (Bruni; Famá, 2009, p. 44, grifos do original) A escolha de praticar o inventário periódico ou permanente dependerá do modelo de controle da empresa e da complexidade de se fazer a contagem física dos seus estoques. As modernas técnicas e sistemas de informações disponíveis permitem com tranquilidade que se mantenha o inventário permanente, garantindo-se que as demandas de consumo da produção sejam atendidas sem falta ou excesso de matérias. A dependência de inventários periódicos pode acarretar atrasos nos pedidos de compras ou falta de materiais, sendo indicada para empresas com estoque de baixo volume ou de poucos itens. 2.1 Classificação ABC de estoques de matéria-prima Com relação aos inventários dos estoques, a classificação ABC pode ser uma forma de organizar o controle, dando prioridade aos itens mais relevantes. Na classificação de itens A serão colocados os que representam os maiores valores relativos ao consumo e estratégicos em termos operacionais, portanto os que merecem um controle mais rígido, necessitando de inventários mais frequentes. Os itens classificados como B estão no segundo estágio de 7 representatividade financeira, podendo sofrer inventário com menor frequência em relação aos itens A, mas ainda com bastante impacto no processo produtivo. Normalmente, nessa categoria, estão os materiais comprados pela estratégia de alavancagem, grandes lotes para diminuição dos custos. Aqueles itens de pequeno valor, mas normalmente muito numerosos, são representados pelos itens C. A aplicação de inventário pode ser mais espaçada em termos de frequência ou eventualmente ocorrer somente no momento de fechamento do balanço. Para classificar os itens de estoque na metodologia ABC, basta ordená-los de forma decrescente, acumulando a participação percentual deles em relação ao total do estoque. Tabela 1 – Exemplo de classificação ABC Itens Valor ($) % % Acumulado Classificação Componentes químicos 106.420,00 60,95 60,95 A Embalagens 34.600,00 19,82 80,76 A Óleo combustível 14.990,00 8,58 89,35 B Correias 13.360,00 7,65 97 B Componentes mecânicos 1.800,00 1,03 98,03 C Equipamentos de proteção 1.560,00 0,89 98,92 C Graxas industriais 890,00 0,51 99,43 C Parafusos 420,00 0,24 99,67 C Arruelas 350,00 0,2 99,87 C Porcas 220,00 0,13 100 C Soma 174.610,00 100 Fonte: Bruni; Famá, 2009, p. 53, grifos do original. Itens do tipo A são os materiais que representam 80% dos valores dos estoques, no nosso exemplo os componentes químicos e embalagens. Os itens da categoria B possuem representatividade de 15% e abrangem óleo combustível e correias, acumulando no exemplo 97% do estoque. Os demais itens serão classificados como C, representando o restante do estoque. 2.2 Processo de compra de matéria-prima Para o processo de suprimento e programação de compra das matérias- primas devem ser considerados dois custos relevantes: custo de estocagem e custo do pedido. O custo de estocagem, para Bruni e Famá (2009, p. 53), “[...] 8 decorre em função de gastos com armazenagem, seguros, refrigeração etc. Aumenta em função do custo unitário e do volume armazenado.” Devemos ainda incluir na análise o custo de capital representado pelo investimento financeiro no estoque. O custo do pedido refere-se a processamento, cotação e negociação com fornecedores, processo logístico, recepção e conferência e finaliza com o pagamento da obrigação ao fornecedor escolhido. As empresas vêm adotando diversas técnicas para redução dos custos com a compra de matéria-prima. O just-in-time (JIT) é uma alternativa para garantir a redução de estoques na cadeia de valor, integrando os sistemas de planejamento e controle de clientes e fornecedores, reduzindo a necessidade de capital de giro. Outra iniciativa para itens classificados como C, de pequeno valor, padronizados e com oferta abundante, é automatizar o seu processo de compra, reduzindo o custo do pedido. TEMA 3 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE ESTOQUES Os métodos de avaliação de estoques envolvem três critérios distintos aplicados aos cálculos financeiros, que determinarão os custos apropriados ao processo produtivo e o saldo do estoque final. Ueps: último a entrar, primeiro a sair, ou, em inglês, Lifo, last in, first out. O custo a ser contabilizado em decorrência de consumo no processo produtivo é feito “da frente para trás”. São baixados, em primeiro lugar, os materiais diretos adquiridos mais recentemente e, depois, os mais antigos, nesta ordem. A legislação fiscal brasileira não permite o emprego desse critério em decorrência da “antecipação” dos benefícios fiscais, decorrentes do cálculo de custos maiores, especialmente em épocas de altas taxas de inflação; Peps: primeiro a entrar, primeiro a sair, ou, em inglês, Fifo, first in, first out. O custo a ser contabilizado em decorrência de consumo no processo produtivo é feito “de trás para a frente”. São baixados, em primeiro lugar, os materiais diretos adquiridos há mais tempo e, depois, os mais novos, nesta ordem; Custo Médio Ponderado: pode ser móvel ou fixo. O custo a ser contabilizado representa uma média dos custos de aquisição. (Bruni; Famá, 2009, p. 47) Vamos desenvolver um exemplo numérico para demonstrar o funcionamento de cada um dos três critérios. A matéria-prima Beta iniciou o período com um saldo de 3 unidades físicas, correspondente a um valor unitário de R$ 800,00. No 5º dia do período, foram adquiridas mais 4 unidades físicas a um custo unitário de R$ 1.000,00. No 10º dia, foram solicitadas pela produção 6 unidades da matéria-prima Beta, transferidas para consumo imediato. No 20º dia do período, foram adquiridas mais 3 unidades físicas a um custo unitário de R$ 9 1.000,00. Realizando a movimentação do estoque pelo método Ueps, temos o informado na Tabela 2. Tabela 2 – Método Ueps Após a compra realizada no 5º dia, o controle do saldo mantém separadas as compras distintas. No consumo realizado no 10º dia, primeiro são transferidas as unidades da última entrada,as mais recentes, pelo valor unitário de R$ 1.000,00. Depois, para complementar as 6 unidades solicitadas na produção, são requisitadas mais 2 unidades da entrada anterior, pelo valor unitário de R$ 800,00. Assim, o valor transferido para produção totaliza R$ 5.600,00, e o saldo final de 1 unidade a R$ 800,00, somado a nova entrada de 3 unidades pelo valor unitário de R$ 1.000,00, contabilizando R$ 3.800,00 de saldo de estoque. Realizando, por outro lado, a movimentação do estoque pelo método Peps, temos o disposto na Tabela 3. Tabela 3 – Método Peps Após a compra realizada no 5º dia, o controle do saldo mantém separadas as compras distintas. No consumo realizado no 10º dia, primeiro são transferidas as unidades da primeira entrada, as mais antigas, pelo valor unitário de R$ 800,00. Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) 1º dia 3 800,00$ 2.400,00$ 4 1.000,00$ 4.000,00$ 3 800,00$ 2.400,00$ 4 1.000,00$ 4.000,00$ 7 6.400,00$ 4 1.000,00$ 4.000,00$ 2 800,00$ 1.600,00$ 1 800,00$ 800,00$ 6 5.600,00$ 1 800,00$ 3 1.000,00$ 3.000,00$ 1 800,00$ 800,00$ 3 1.000,00$ 3.000,00$ 4 3.800,00$ 20º dia UEPS - ÚLTIMO A ENTRAR, PRIMEIRO A SAIR Entrada Saída Saldo Data 5º dia 10º dia Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) 1º dia 3 800,00$ 2.400,00$ 4 1.000,00$ 4.000,00$ 3 800,00$ 2.400,00$ 4 1.000,00$ 4.000,00$ 7 6.400,00$ 3 800,00$ 2.400,00$ 3 1.000,00$ 3.000,00$ 1 1.000,00$ 1.000,00$ 6 5.400,00$ 1 1.000,00$ 3 1.000,00$ 3.000,00$ 1 1.000,00$ 1.000,00$ 3 1.000,00$ 3.000,00$ 4 4.000,00$ 5º dia 10º dia 20º dia PEPS - PRIMEIRO A ENTRAR, PRIMEIRO A SAIR Data Entrada Saída Saldo 10 Depois, para complementar as 6 unidades solicitadas na produção, são requisitadas 3 unidades da entrada posterior, pelo valor unitário de R$ 1.000,00. Assim, o total transferido para produção soma R$ 5.400,00, e o saldo final de 1 unidade sai a R$ 1.000,00, somado à nova entrada de 3 unidades pelo valor unitário de R$ 1.000,00, contabilizando R$ 4.000,00 de saldo de estoque. Realizando a movimentação do estoque pelo método de custo médio ponderado, utilizando uma média móvel, temos situação exposta na Tabela 4. Tabela 4 – Método do custo médio ponderado (média móvel) Após a compra realizada no 5º dia, o controle do saldo calcula a média móvel, que ficou em R$ 914,29. Essa média móvel será utilizada para valorizar as saídas para a produção. No consumo realizado no 10º dia, primeiro são transferidas 6 unidades pelo valor unitário de R$ 914,29. Assim, o total transferido para produção é de R$ 5.485,71. Com a nova entrada de 3 unidades pelo valor unitário de R$ 1.000,00, adquiridas no 20º dia, há um novo cálculo da média, considerando saldo anterior de R$ 914,29 e as novas unidades, o que totaliza R$ 3.000,00. A média final fica em R$ 978,57. Como resultado do método, o saldo final das 4 unidades em estoque é de R$ 3.914,29. Realizando a movimentação do estoque pelo método do custo médio ponderado, utilizando média fixa, temos o seguinte, conforme Tabela 5. Tabela 5 – Método do custo médio ponderado (média fixa) Nessa metodologia, o primeiro passo é registrar todas as entradas do período, estabelecendo uma única média, fixa, para valorizar o consumo. Somando ao saldo inicial as compras realizadas no 5º e no 20º dia, obtemos uma média de R$ 940,00 por unidade. No consumo realizado no 10º dia, em primeiro Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) 1º dia 3 800,00$ 2.400,00$ 5º dia 4 1.000,00$ 4.000,00$ 7 914,29$ 6.400,00$ 10º dia 6 914,29$ 5.485,71$ 1 914,29$ 914,29$ 20º dia 3 1.000,00$ 3.000,00$ 4 978,57$ 3.914,29$ CUSTO MÉDIO PONDERADO - MÓVEL Data Entrada Saída Saldo Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) Quant. Unitário ($) Subtotal ($) 1º dia 3 800,00$ 2.400,00$ 5º dia 4 1.000,00$ 4.000,00$ 7 914,29$ 6.400,00$ 20º dia 3 1.000,00$ 3.000,00$ 10 940,00$ 9.400,00$ 10º dia 6 940,00$ 5.640,00$ 4 940,00$ 3.760,00$ CUSTO MÉDIO PONDERADO - FIXA Data Entrada Saída Saldo 11 lugar são transferidas 6 unidades pelo valor unitário de R$ 940,00. Assim, o total transferido para produção é de R$ 5.640,00, e o saldo final em estoque, de R$ 3.760,00. Tabela 6 – Resumo dos resultados dos métodos Na Tabela 6, podemos verificar que cada método gera um valor distinto para valorizar as unidades transferidas para a produção e, por consequência, o saldo final do estoque. TEMA 4 – CÁLCULO DO CUSTO DA MERCADORIA VENDIDA Considerando os conceitos de custos e despesas, podemos entender que as empresas comerciais, com exceção do esforço de aquisição de mercadorias, têm seus processos voltados ao esforço de realização de vendas. Assim, a sua gestão se concentra nas despesas. O seu processo de custeio é extremamente simples quando comparado com o da indústria, já que não há agregação de valor pela transformação de materiais em produtos acabados. A mercadoria já está pronta para venda, sendo-lhe agregados outros fatores, como frete, impostos etc. É claro que o esforço de aquisição pode variar de acordo com as características de compra. Na compra de fornecedores nacionais, além do valor da mercadoria, devem ser adicionados os valores do frete e do seguro pago pelo transporte, dos impostos pagos não recuperáveis, pelos quais não poderá ser exercido o direito de crédito. No caso de impostos recuperáveis, que dependem do regime tributário da empresa, como Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), não se incluem no custo das mercadorias. No caso de importações, as variáveis envolvidas no processo são maiores. O frete é desdobrado em duas partes, o trecho internacional e o interno, podendo MÉTODO CUSTO TRANSFERIDO PARA PRODUÇÃO SALDO DE ESTOQUE UEPS 5.600,00$ 3.800,00$ PEPS 5.400,00$ 4.000,00$ MÉDIA PONDERADA MÓVEL 5.485,71$ 3.914,29$ MÉDIA PONDERADA FIXA 5.640,00$ 3.760,00$ 12 ser adicionado no custo o seguro de transporte, principalmente no trecho internacional. Além disso, o processo de importação envolverá: pagamento de taxas portuárias, relacionadas ao manuseio e ao desembarque da carga; das taxas de armazenagem, para o período em que a mercadoria ficar no porto; de custos com o desembaraço da mercadoria, normalmente realizado por um despachante aduaneiro, que retém honorários; de tarifas bancárias, geradas com a necessidade de realizar garantias aos fornecedores (carta de crédito); de fechamento do câmbio, entre outros serviços. Em muitas situações, a empresa contrata o serviço de inspeção de fornecedor, para garantir que ele é confiável e entregará a mercadoria nas especificações de qualidade exigidas. A inspeção pode ser realizada antes da compra, durante o processo de produção e no pré-embarque da mercadoria. Deverá ser adicionado o Imposto de Importação, na contabilidade dos custos de aquisição. Outrofator são eventuais custos de regulamentação, caso o produto necessite de algum selo de aprovação de entidades como Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Quadro 1 – Custos do processo de aquisição de mercadorias Mercadoria nacional Mercadoria importada • Valor da mercadoria • Seguro e frete • Impostos não recuperáveis • Valor da mercadoria • Seguro e frete internacionais • Seguro e frete nacionais • Impostos não recuperáveis, incluindo Imposto de Importação • Taxas portuárias • Taxas de armazenagem • Custos de desembaraço • Tarifas bancárias • Serviço de inspeção do fornecedor • Custos de regulamentação 13 A quantidade de fatores a serem considerados nos custos de aquisição de produtos depende do processo de compra realizado e tende a ser cada vez mais complexo, com o aumento da globalização e do fluxo de mercadorias no comércio internacional. TEMA 5 – CÁLCULO DO CUSTO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS A contabilidade de custos, como todas as ciências, está em constante processo evolutivo. Padoveze (2012, p. 8) aponta quatro fases dessa evolução. A primeira fase é caracterizada pela contabilidade do proprietário, ligada diretamente ao dono do empreendimento, com foco no registro e proteção da riqueza pessoal. A partir da Revolução Industrial, tivemos o desenvolvimento da contabilidade financeira, quando os negócios passaram a ser financiados não apenas pelo proprietário, mas por diversos investidores. Daí surgem os relatórios contábeis (balanço patrimonial e demonstração de resultados) relacionados à necessidade de os gestores prestarem contas aos investidores. A próxima fase de evolução foi a contabilidade gerencial, necessária para atender à complexidade crescente dos negócios e a um ambiente mais competitivo. E, por último, surge a contabilidade de responsabilidade social, ampliando o escopo para os efeitos sociais que a entidade produz, criando o balanço social. Para Hansen (2003, p. 30), “a maioria dos procedimentos de contabilidade interna e de custeio do produto, usadas no século XX, foi desenvolvida entre 1880 e 1925”, sempre pela indústria. Dessa forma, quando o setor de prestação de serviços começa a crescer e demandar necessidade de informações de custeio, apropriou-se ele dos modelos industriais, fazendo adaptações destes ao seu ambiente operacional. A característica predominante dos serviços é a importância da mão de obra em relação aos materiais diretos empregados, guardando-se as características próprias de cada serviço. A diversidade da prestação de serviços se reflete nos modelos de gestão necessários para contabilidade de custos e avaliação de resultados, ainda mais num cenário de inovação e revolução como o que experimentamos hoje, com novos negócios digitais. Quando examinamos as práticas de gestão aplicadas à contabilidade de custos no setor de serviços, encontramos os mesmos sistemas de custeio e informações existentes na indústria. A principal diferença é que na prestação de 14 serviços o objeto de custeio é a hora do profissional aplicada, somando eventuais insumos aplicados e demais custos indiretos. Quadro 2 – Indústria versus serviços INDÚSTRIA SERVIÇO Objeto de custeio Produto Hora/período Principal custo Materiais diretos Mão de obra direta Produto padronizado Custeio por operação Ex.: roupas, automóveis Custeio por processo Ex.: limpeza, vigilância Produto customizado Custeio por ordem Ex.: construção Custeio por atividade Ex.: consultoria Comparando outros aspectos importantes entre indústria e serviços, além do objeto de custeio diferenciado, observamos que a indústria tem como principal insumo os materiais diretos, bens tangíveis. Em contrapartida, a prestação de serviços aplica a mão de obra direta. Na indústria, quando falamos de produtos padronizados, repetir a mesma produção diversas vezes, utilizamos o custeio por operação. Nesse exemplo podemos colocar os bens de consumo. Na prestação de serviços, os processos padronizados serão replicados para diversos clientes, por exemplo um serviço de limpeza ou vigilância. Quando partimos para produtos customizados, a indústria fará um controle de custos por ordem de produção, enquanto nos serviços o custeio levará em consideração cada atividade diferenciada na customização e, por reflexo, na sistemática de custeio. 15 REFERÊNCIAS BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de custos e formação de preço: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 5. ed. 2. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009. (Série Finanças na Prática). CATELLI, A. (Coord.). Controladoria: uma abordagem da gestão econômica – Gecon. 2. ed. 8. reimpr. São Paulo: Atlas, 2010. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. HANSEN, D. R. Gestão de custos. Tradução: Robert Brian Taylor. Revisão técnica: Elias Pereira. 1. reimpr. 1. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. PADOVEZE, C. L. Controladoria estratégica e operacional: conceitos, estrutura, aplicação. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
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