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Oficina 2 - Epidemiologia dos problemas mentais (PMSUS)

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/ Página 1 de 6 
Objetivos: 
1. Definir a epidemiologia e fatores de risco (Brasil e mundo) dos principais transtornos mentais. 
(Ansiedade, depressão, bipolar, esquizofrenia, abuso de álcool e suicidio); 
2. Elucidar a importância da APS na prevenção, tratamento e apoio nos pacientes com 
transtornos mentais; 
3. Abordar os desafios para os cuidados em saúde mental no Brasil; 
4. Entender o impacto do sofrimento mental na carga global de doença e sua relação com a 
mortalidade precoce; 
5. Compreender o impacto da pandemia no desenvolvimento e agravo do sofrimento mental. 
 
Os fatores de risco para problemas em saúde mental são amplamente conhecidos e incluem abusos sexuais e 
físicos vivenciados durante a infância; violência na família, na escola e na comunidade; assim como pobreza, 
exclusão social e desvantagem educacional. Doenças psiquiátricas, abuso de drogas por parte dos pais e 
violência conjugal também aumentam os riscos para o adolescente, assim como a exposição às alterações 
sociais e angústia psicológica que acompanham conflitos armados, desastres naturais e outras crises 
humanitárias. 
 Nos levantamentos mais recentes, o transtorno depressivo maior tem a prevalência mais alta ao 
longo da vida (quase 17%) de todos os transtornos psiquiátricos. As taxas de prevalência ao longo da vida de 
diferentes formas de transtorno depressivo, de acordo com levantamentos da comunidade. A taxa de 
prevalência ao longo da vida para depressão maior é de 5 a 17%. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 Os transtornos de ansiedade constituem um dos grupos mais comuns de doenças psiquiátricas. O 
Estudo Americano de Comorbidade (National Comorbidity Study) relatou que 1 em cada 4 pessoas satisfaz o 
critério diagnóstico de pelo menos um transtorno de ansiedade e que há uma taxa de prevalência em 12 meses 
de 17,7%. As mulheres (com prevalência durante a vida de 30,5%) têm mais probabilidade de ter um 
transtorno de ansiedade do que os homens (prevalência durante a vida de 19,2%). Por fim, sua prevalência 
diminui com o status socioeconômico mais alto. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 8 um em cada quatro indivíduos apresenta ou já apresentou 
um transtorno de ansiedade. A estimativa de prevalência ao longo da vida é variável entre os países, podendo 
situar-se entre 4,8% na China, 31% nos Estados Unidos e 9,3% no Brasil, oscilando devido a variações na 
coleta das informações, perfil e características das amostras avaliadas, critérios diagnósticos utilizados e 
potenciais aspectos culturais. 
Globalmente, a prevalência em 12 meses é um pouco menor que a prevalência ao longo da vida, indicando 
que esses transtornos são relativamente persistentes. Ademais, essas condições em geral ocorrem no início da 
vida. Além disso, mais da metade dos pacientes com um transtorno de ansiedade apresenta múltiplos 
transtornos de ansiedade comórbidos. A idade de início média estimada para os transtornos de ansiedade, de 
modo geral, foi de 21,3 anos. Tal estimativa é menor para o TAS (10,6 anos), seguido por fobia específica 
(11,0 anos). 9 Por sua vez, as idades de início médias estimadas foram maiores para o TP (30,3 anos) e o TAG 
(34,9 anos). 
Diversos fatores de risco podem favorecer a modificação do curso da ansiedade normal para a patológica, 
incluindo ser do sexo feminino, utilizar drogas e apresentar histórico familiar de transtornos de ansiedade ou 
depressão. 
Ser do sexo feminino duplica o risco de desenvolver transtornos de ansiedade, embora as razões para tanto 
ainda não sejam totalmente conhecidas. Ter pais com ansiedade e depressão aumenta o risco de desenvolver 
um transtorno de ansiedade, particularmente TP e TAG. Os filhos de indivíduos que apresentam pelo menos 
um transtorno de ansiedade têm risco aumentado em duas a quatro vezes para esses transtornos. Ademais, têm 
maiores chances de desenvolver transtornos de ansiedade em uma idade mais precoce do que os filhos de 
indivíduos sem o transtorno. Esses fatos demonstram que aspectos genéticos, ao menos parcialmente, 
contribuem para o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade. 
Outros fatores de risco incluem alterações temperamentais específicas, como temperamento inibido, 
interações entre pais e filhos caracterizadas por controle e negatividade, além de sociabilidade reduzida. Em 
adultos jovens, fatores estressores da vida, como estresse financeiro, doença familiar e divórcio, podem prever 
sintomas e diagnósticos de transtornos de ansiedade subsequentes. O tabagismo e o abuso de álcool também 
são fatores de risco para esses transtornos, estando associados epidemiologicamente. No entanto, as 
associações são bidirecionais e a causalidade não é comprovada. 
 Nos Estados Unidos, a prevalência de esquizofrenia ao longo da vida é de cerca de 1%, ou seja, 
em torno de uma pessoa em cada 100 irá desenvolver o transtorno durante sua vida. O estudo da Área de 
Captação Epidemiológica, patrocinado pelo National Institute of Mental Health, relatou uma prevalência ao 
longo da vida de 0,6 a 1,9%. Nos Estados Unidos, cerca de 0,05% da população total é tratada para 
esquizofrenia a cada ano, e apenas metade dos pacientes com o transtorno obtém tratamento, apesar de sua 
gravidade. 
As estimativas mais recentes indicam uma prevalência do transtorno entre 0,2 e 0,4% da população em geral, 
com proporção semelhante entre homens e mulheres, mas começando de forma mais precoce e tendendo a 
maior gravidade entre os homens. É considerada umas das principais causas de perda de anos de vida saudável 
entre jovens, pois os primeiros sintomas em geral aparecem entre o final da adolescência e o início da vida 
adulta, gerando, na maioria das vezes, um prejuízo funcional persistente. As mulheres apresentam um segundo 
pico por volta dos 40 anos. 
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As pessoas com esquizofrenia têm grande redução em sua expectativa de vida, entre 10 e 20 anos, que vem se 
acentuando ao longo dos anos. Estima-se que 10% da mortalidade seja por suicídio. No entanto, a principal 
causa de excesso de mortalidade nesse grupo são as doenças cardiovasculares. 
Possivelmente, esse aumento da diferença na expectativa de vida entre a população em geral e as pessoas com 
esquizofrenia reflete maior exposição a fatores de risco cardiovasculares, como obesidade, tabagismo e 
diabetes, menor adoção de estilo de vida saudável, como atividade física, e menor acesso aos serviços de 
saúde. 
 De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o TB está entre as 10 principais 
causas de anos de vida ajustados por incapacidade em adultos jovens. Pessoas com esse transtorno têm, 
aproximadamente, 20 a 30 vezes mais probabilidade de morrer por suicídio quando comparadas à população 
geral. Na verdade, o TB pode responder por um quarto de todos os suicídios. Além disso, foi relatado que a 
expectativa de vida diminui em nove anos para esses pacientes, em virtude não só do suicídio, mas também 
por um aumento na taxa de mortalidade relacionada a doenças cardiovasculares. Sabe-se, ainda, que há um 
atraso médio de 10 anos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico formal, e que apenas 
20% dos pacientes que estão vivenciando um episódio depressivo bipolar são diagnosticados corretamente no 
primeiro ano em que buscam tratamento. 
Um estudo prospectivo demonstrou que durante aproximadamente metade do tempo os pacientes se 
apresentavam sintomáticos (TB tipo I: 46,6%; TB tipo II: 55,8%), sendo que os sintomas depressivos tiveram 
grande predominância sobre os de mania ou hipomania (a razão foi de 3:1 e de 37:1, respectivamente, para o 
TB tipo I e o TB tipo II). 4 O curso longitudinal do transtorno é heterogêneo, mas, em média, o risco de 
recorrência aumenta com o número de episódios anteriores, e uma parcela dos pacientes apresenta trajetória 
perniciosa associada a prejuízo neurocognitivo e refratariedade ao tratamento. Além disso, o númerode 
episódios está associado a diminuição do limiar para o desenvolvimento de novos episódios e risco aumentado 
de demência em longo prazo. O curso progressivo da doença em pacientes com episódios múltiplos é chamado 
de progressão clínica, cuja base biológica é definida como neuroprogressão. 
De acordo com a World Mental Health Survey Initiative, o TB afeta 2,4% da população mundial ao longo da 
vida. Entre os subtipos, o tipo I tem prevalência ao longo da vida estimada em 0,6%, já o tipo II, em 0,4%, 
enquanto 1,4% é referente ao transtorno subsindrômico. 
De acordo com a mesma fonte, no Brasil, a prevalência é semelhante à observada no restante do mundo, 
afetando, ao longo da vida, 2,1% da população, sendo 0,9 e 0,2% referentes, respectivamente, aos tipos I e II. 
Os primeiros episódios de humor do TB têm início antes dos 25 anos de idade em mais de 70% dos casos. 
Cabe destacar que o TB está associado a elevadas taxas de incapacidade, reduzindo o funcionamento 
psicossocial e aumentando custos econômicos. A incidência do TB independe de etnia, nacionalidade e 
condição socioeconômica. A prevalência de TB I é semelhante em homens e mulheres; já o TB II é mais 
comum em mulheres. Esses dados apontam para a necessidade de cuidados em relação à prevenção de suicídio 
e acidentes, bem como atenção para a saúde física dos portadores de TB. 
 A compulsão por drogas e álcool também figura como fator de influência para o surgimento 
de complicações no âmbito psicológico e mental. Tais vícios afetam a capacidade de concentração, de 
memória e sinalizam o mal desempenho das atividades cerebrais. 
As perturbações decorrentes da relação entre o álcool e a saúde mental desafiam a saúde pública e exigem um 
controle mais eficiente desse problema. Tanto o álcool como o abuso de tóxicos comprometem a qualidade de 
vida dos usuários de todas as idades, gênero e classe socioeconômica. 
A dificuldade em admitir a necessidade de ajuda especializada contribui para acentuar a doença e pode evoluir 
para quadros mais alarmantes. Os mais comuns são a incapacidade mental e a tentativa de suicídio entre 
jovens, principalmente. 
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Beber afeta nosso humor e saúde mental? Beber diminui a inibição. Normalmente, o consumo excessivo de 
álcool significa que a pessoa ficará menos constrangida em uma determinada situação. Além disso, o álcool 
pode dificultar a capacidade do nosso corpo para descansar, resultando na necessidade de trabalhar mais para 
quebrar o efeito do álcool no corpo. 
Esta interferência do álcool com os padrões de sono pode levar a uma redução do nível de energia. O álcool 
também deprime o sistema nervoso central, e isso pode fazer com que o humor se altere. Ele também pode 
ajudar a amortecer nossas emoções, fazendo com que talvez passamos a evitar o enfrentamento dos problemas 
difíceis na nossa vida. 
O álcool também pode revelar ou intensificar nossos sentimentos subjacentes, como evocando memórias do 
passado de trauma ou provocando quaisquer sentimentos reprimidos que estão associados com eventos 
dolorosos do passado ou presente. Essas memórias podem ser tão poderosas que criam uma ansiedade 
esmagadora, depressão ou vergonha. Reviver essas memórias e sentimentos sombrios, enquanto está sob a 
influência de álcool, pode representar uma ameaça para a segurança pessoal, bem como a segurança dos 
outros. 
 
 
O preconceito e estigma aparecem nas narrativas como consequências do diagnóstico de doença mental e um 
dos principais desafios a serem enfrentados no sentido da construção de processos de empoderamento e 
inclusão social desses sujeitos. Acreditam que o preconceito pode estar associado as antigas formas de 
tratamento. 
Em 2017, outro estudo - sobre governança e mecanismos de avaliação - apontava a saúde mental como área 
subfinanciada do SUS, já cronicamente subfinanciado. O modelo de governança era responsabilizado por 
restringir o progresso de serviços essenciais, criando-se a necessidade de um processo de regionalização. 
Denunciavam-se mecanismos de avaliação não incorporados à política de saúde no campo burocrático, que o 
foco da política parecia arcaico em relação aos preceitos do modelo psicossocial e concluía que os mecanismos 
de avaliação precisavam ser ampliados. 
 Os estudos avaliativos apontaram desafios para a rede de saúde mental brasileira, sendo a falta de participação 
de usuários e famílias uma questão preocupante. Assim como são escassos os estudos sobre direitos e 
cidadania. 
 Os transtornos mentais são agravos de saúde altamente prevalentes na sociedade atual. 
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)1, transtornos mentais como depressão, abuso de 
álcool, transtorno bipolar e esquizofrenia se encontram entre as 20 principais causas de incapacidade. A 
OMS, estima que atualmente a depressão afeta cerca de 350 milhões de pessoas, sendo que a taxa de 
prevalência na maioria dos países varia entre 8% e 12%. É a principal causa de incapacitação dos indivíduos 
no mundo quando se considera o total de anos perdidos (8,3% dos anos para homens e 13,4% para mulheres) 
e a terceira principal causa da carga global de doenças em 2004. A previsão é de que subirá ao primeiro lugar 
até 2030. 
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No Brasil, apesar da baixa taxa de mortalidade, observa-se alta carga para os TM desde 1990, com elevados 
YLD. Em 2015, esses transtornos foram responsáveis por 9,5% do total de DALY, ocupando a 3ª e a 1ª 
posições na classificação de DALY e YLD, respectivamente, com destaque para os transtornos depressivos e 
de ansiedade. Os transtornos decorrentes do uso de drogas apresentaram a maior elevação das taxas de DALY 
entre 1990 e 2015 (37,1%). A maior proporção de DALY ocorreu na idade adulta e no sexo feminino. Não 
houve diferenças substanciais na carga dos TM entre as UFs. 
Apesar da baixa mortalidade, os TM são altamente incapacitantes, indicando necessidade de ações preventivas 
e protetivas, principalmente na atenção primária em saúde. A homogeneidade das estimativas em todas as 
UFs, obtidas a partir de estudos realizados majoritariamente nas regiões Sul e Sudeste, provavelmente não 
reflete a realidade do Brasil, e indica necessidade de estudos em todas as regiões do país. 
 A saúde mental é um importante fator que possibilita o ajuste necessário para lidar com 
as emoções positivas e negativas. Além de ser determinante para a estabilidade física, a saúde mental está 
relacionada à qualidade da interação individual e coletiva. No cenário atual, buscar alternativas que 
possibilitem a harmonia nessas relações é uma urgente necessidade. Assim como a física, a saúde mental é 
uma parte integrante e complementar à manutenção das funções orgânicas. Nesse contexto, a promoção da 
saúde mental é essencial para que o indivíduo tenha a capacidade necessária de executar suas habilidades 
pessoais e profissionais. 
 
A preocupação com a saúde mental da população se intensifica durante uma grave crise social. A pandemia 
da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) pode ser descrita como uma dessas crises, a qual tem se 
caracterizado como um dos maiores problemas de saúde pública internacional das últimas décadas, tendo 
atingido praticamente todo o planeta (World Health Organization [WHO], 2020a). Um evento como esse 
ocasiona perturbações psicológicas e sociais que afetam a capacidade de enfrentamento de toda a sociedade, 
em variados níveis de intensidade e propagação (Ministério da Saúde do Brasil, 2020a). Esforços 
emergenciais de diferentes áreas do conhecimento - dentre elas a Psicologia - são demandados a propor formas 
de lidar com o contexto que permeia a crise. 
No âmbito da prevenção em saúde, algumas medidas são tomadas para proteger a comunidade da exposição 
ao risco de doenças contagiosas. O distanciamento social ou distanciamento físico implica a manutenção de 
uma distância espacial - cerca de dois metros - entre o indivíduo e outras pessoas,quando fora de casa (CDC, 
2020a; ECDC, 2020). Isso resulta, por exemplo, na recomendação de não se reunir em grupos e evitar lugares 
cheios e aglomerações. Essa é uma medida que vem sendo executada pelos países para evitar o contágio. 
Outras medidas utilizadas são a quarentena e o isolamento. 
Entender como se apresenta uma crise em termos de estágios de evolução do problema de saúde pública é 
importante para preparar profissionais de saúde e a população em geral. Isso se dá pois é necessário 
implementar estratégias de controle e alertar a população sobre riscos imediatos e continuados, visto que a 
adesão a medidas preventivas vai depender de como as pessoas percebem essa ameaça (WHO, 2020b). É 
recomendado, portanto, reduzir a ambiguidade das informações, especialmente as que podem gerar sintomas 
relacionados à ansiedade e estresse (Brooks et al., 2020). Logo, avaliar uma crise como momentos encadeados 
e progressivos pode colaborar para o entendimento de especificidades de fatores estressores relativos à 
situação-problema e o cuidado que deve ser prestado. 
Nesta seção utiliza-se uma noção de crise que pode ser dividida, didaticamente, em três momentos: pré-crise, 
intracrise e pós-crise. Para cada um deles é possível estimar as repercussões mais observadas na saúde mental, 
as quais seriam produto de movimentos de exposição e proteção dos indivíduos ao longo do período de 
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emergência em saúde pública. A seguir são apresentados conceitos para cada momento da crise, aspectos 
favoráveis e desfavoráveis ao enfrentamento coletivo e/ou individual de cada um deles, bem como desfechos 
em saúde mental que tendem a ocorrer em contextos dessa natureza. 
Pós-crise 
O terceiro momento da crise pode ser compreendido como uma fase de reconstrução social. Após o declínio 
do número de novos casos e a diminuição da transmissão comunitária, as medidas de distanciamento social 
são reduzidas e o surto de contaminação tende a estar sob controle, ainda que não seja necessariamente 
inexistente. As pessoas começam a retomar as atividades habituais, há o retorno gradual do funcionamento 
das instituições e comércio, além de um menor nível de exigência de proteção contra o contágio. 
Apesar da progressiva retomada da rotina diária em curto prazo, uma série de consequências da pandemia 
demanda prazos médio e longo para serem revertidas. Em pesquisa realizada na crise da COVID-19, verificou-
se que, dentre 1.210 participantes, 53,0% apresentaram sequelas psicológicas moderadas ou severas, incluindo 
sintomas depressivos (16,5%), ansiedade (28,8%) e estresse de moderado a grave (8,1%) (C. Wang et al., 
2020). Os maiores impactos foram verificados no sexo feminino, estudantes e pessoas com algum sintoma 
relacionado à COVID-19, bem como naqueles que julgavam sua saúde como ruim. Outro estudo no pós-crise, 
realizado com cerca de 52 mil chineses, detectou que mulheres, pessoas com mais de sessenta anos, com maior 
nível educacional e migrantes foram mais vulneráveis ao estresse, ansiedade, depressão, fobias específicas, 
evitação, comportamento compulsivo, sintomas físicos e prejuízos no funcionamento social (Qiu et al., 2020). 
Outra consequência observada no pós-crise foi (ou mesmo “está sendo”) a discriminação e isolamento 
vivenciados por estudantes chineses, devido ao fato de serem considerados portadores em potencial do novo 
coronavírus. Dentre os participantes, foram encontrados indícios de maior vulnerabilidade ao estresse, 
ansiedade e medo persistentes (Zhai & Du, 2020). Atrelado a esse fenômeno, há preocupação quanto à 
estigmatização das pessoas que estão sendo tratadas ou mesmo foram curadas pela COVID-19 (ECDC, 2020), 
devendo-se evitar termos como “vítima da COVID-19”, “COVID positivo”, “contaminado pela COVID” ou 
“caso de COVID-19”, pois denotam coisificação e agregam maior sofrimento. É preferível o uso de expressões 
como “pessoa que foi diagnosticada com a COVID-19”, “pessoa que está com a COVID-19” ou expressões 
similares que não privilegiem a doença em detrimento do indivíduo. Caso a discriminação se consolide como 
resposta social, o receio pelo duplo dano relativo à COVID-19 (adoecimento e estigmatização) pode atrasar a 
busca pelo diagnóstico e cuidado apropriado, de modo a produzir uma ameaça adicional ao controle efetivo 
da doença na sociedade.

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