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ANDRÉ HERKENHOFF GOMES Notas de aula da disciplina Física 3: Eletromagnetismo Cap. 24: Capacitância e Dielétricos Última atualização em 2 de setembro de 2016 SÃO MATEUS ESPÍRITO SANTO - BRASIL Introdução Já estudamos conceitos fundamentais para o entendimento de fenômenos bá- sicos da eletrostática e desenvolvemos um ferramental matemático adequado. Com esse conhecimento, já podemos analisar questões de interesse prático que podem ser relevantes na construção de dispositivos eletrônicos. O objetivo deste capítulo é o estudo de dispositivos chamados de capacitores. O interesse em tal dispositivo decorre da sua capacidade de armazenar energia elétrica. Veremos que ao organizar cargas dentro de capacitores gastamos energia, mas que ao invés de ser perdida esta energia é armazenada no capacitor — em específico, no campo elétrico criado no interior do dispositivo. As aplicações deste dispositivo são inúmeras, indo desde o flash de uma máquina fotográfica e a captação de sons em microfones até o mecanismo de “sintonia” de cir- cuitos elétricos em aparelhos de rádio e funções diversas em colisores de partículas nos mais complexos laboratórios de física — como, por exemplo, o Large Hadron Collider (LHC). Iniciaremos estas notas definindo o que é um capacitor e quais são suas ca- racterísticas principais. Definiremos a chamada capacitância, que é uma propriedade fundamental e qualquer capacitor, e mostraremos como ela pode ser calculada para al- guns casos simples. Encerraremos os objetivos destas notas determinando a expressão geral para a energia armazenada em capacitores. Apesar de não ser o foco dessas notas de aula, também existe a questão de como é a formulação da eletrostática fora do vácuo, isto é, em meios isolantes (chamados dielétricos, como o ar, o vidro, etc.). Como capacitores são dispositivos práticos, é importante saber como o ar ou outros meios isolantes alteram o campo elétrico em seu interior. A respeito desta questão, direcionamos o leitor ao livro-texto do curso, onde ela é abordada com detalhes. Estas notas de aula se limitarão a mencionar alguns resultados e conclusões sobre esse tema. 24.1 Capacitância e capacitores Capacitores são dispositivos consti- tuídos de dois condutores separados por um meio isolante (vácuo, ar, etc.), sendo cada um destes inicialmente neutros. Du- rante o chamado processo de carga am- bos condutores adquirem cargas de mesmo módulo mas sinais opostos, de modo que a carga líquida do capacitor permanece nula1, ainda que cada condutor passe a es- tar carregado. Veja as ilustrações ao lado para um exemplo. Aplicar uma diferença de poten- cial Vab ą 0 entre os condutores a e b eleva o potencial do primeiro relativo ao segundo (Va ą Vbq. O processo de carregamento termina quando o potencial de cada con- dutor iguala-se ao potencial do terminal ao qual ele está conectado, isto é, quando a diferença de potencial entre os condu- tores torna-se Vab “ V . Após o carrega- mento máximo, a fonte externa é desco- nectada. Quando falamos que o capacitor possui cargaQ queremos dizer que um con- dutor possui `Q e o outro ´Q. 1Poderíamos ter capacitores com carga líquida diferente de zero, mas isso foge ao escopo da atual discussão e à motivação inicial relacionada ao armazenamento de energia elétrica, o que decorre do confinamento do campo elétrico a uma certa região do dispositivo — algo que não aconteceria caso o capacitor possuísse uma carga líquida não-nula (você pode chegar a essa conclusão usando a lei de Gauss, por exemplo). 2 Simbolicamente, capacitores, fontes de d.d.p., e fios condutores de ligação são representados em um circuito usando-se: • Linhas contínuas representando fios condutores ideais conectando dois pontos que estão sob o mesmo potencial.2 • Duas linhas paralelas de comprimentos diferentes representando os dois terminais de uma fonte de tensão (diferença de potencial), onde a linha maior representa o terminal no potencial mais elevado. • Duas linhas paralelas de comprimentos idênticos para representar um capacitor. Deve-se olhar para o circuito completo e verificar qual é o potencial de cada condutor para saber-se o sinal da carga de cada um. • Um exemplo de circuito contituído por uma fonte e um capacitor está ilustrado abaixo. Repare que o capacitor está em um potencial de mesmo valor que o da fonte, Vcapacitor “ V . 2Condutores ideais são aqueles que não oferecem qualquer resistência ao movimento de cargas elétricas. Neste caso, ao conectar dois pontos em potenciais diferentes, instantaneamente as cargas se redistribuem entre tais pontos de modo a equalizar o potencial. Na situação real, os fios oferecem alguma resistência ao movimento de cargas, logo transcorre um certo tempo até que os pontos estejam sob o mesmo potencial. Essa última situação será vista em detalhes no Capítulo 26. 3 Nesta última ilustração, note que utilizamos a letra V para representar o potencial da fonte e C para o capacitor. Na verdade, C representa a chamada capacitância do capacitor e é definida como a razão entre a carga Q do capacitor e a diferença de potencial Vab entre seus condutores,3 C ” Q Vab . (24.1) No SI, a unidade de capacitância é o farad (F), sendo 1 farad ” 1 coulomb{volt ou 1 F ” 1 C{V. A motivação para a definição acima é encontrar uma quantidade que só dependa de características fixas do capacitor (no caso, parâmetros geométricos e o meio isolante entre os condutores). Note que | ~E| é proporcional à carga Q, logo Vab também. Deste modo, para qualquer capacitor, a razão C “ Q{Vab não varia, pois se alterarmos a carga nas placas do capacitor a diferença de potencial entre elas se alterará de modo proporcional, mantendo C constante. Podemos relacionar o comportamento da energia elétrica com a capacitância, como veremos em detalhes posteriormente. Para ilustrar, reescrevemos a Eq. (24.1) como Q “ C Vab. Se a d.d.p. Vab é mantida fixa, temos que quanto maior a capa- citância C maior será a carga Q acumulada no capacitor. Como a energia elétrica é diretamente proporcional à carga, concluímos que quanto maior a capacitância maior será a energia armazenada. Deste modo, vemos que a capacitância de um capacitor pode ser entendida como uma medida da sua capacidade de armazenar energia elétrica. Cálculo da capacitância: capacitores no vácuo Para um dado capacitor de carga Q, a determinação de sua capacitância se resume a determinar a diferença de potencial Vab entre os dois condutores que o consti- tuem. Por hora, consideraremos apenas capacitores com vácuo entre seus condutores. Consideraremos três casos: (i) capacitor de placas paralelas, (ii) capacitor esférico e (iii) capacitor cilindrico. 3Na definição de capacitância, Q representa o módulo da carga de cada condutor do capacitor e Vab a diferença de potencial entre o condutor de maior potencial e o de menor potencial, logo Vab ą 0, portanto a capacitância é uma grandeza sempre positiva. 4 24.2 Capacitores em série e em paralelo Capacitores comerciais podem ser comprados em lojas de eletrônicos, no geral. Não entraremos em detalhes, mas existem vários tipos que diferem desde o formato geométrico até composição química. Na Figura 24.1 vemos vários tipos de capacitores. É importantíssimo saber o tipo de capacitor necessário para sistema no qual ele será empregado, pois cada capacitor possui um valor específico de capacitância e, por ques- tões de integridade física, suportam valores específicos de tensão máxima entre seus terminais — tensões grandes o suficiente podem romper o isolamento entre as placas do capacitor. Na Figura 24.2 vemos capacitores em placas de circuitos integrados onde desempenham funções essenciais na manutenção e alteração de valores da corrente elétrica. Em aplicações práticas, na maior parte das vezes não possuímos capacitores de todo e qualquer valor de capacitância disponível. Por outro lado, é possível associar-se capacitores em diferentes arranjos de modo queesse arranjo produza uma capacitân- cia de valor equivalente ao desejado. Veremos como obter a chamada capacitância equivalente para associações de capacitores em série ou em paralelo. Figura 24.1: Diferentes tipos de capacitores (estes são menores que 5 cm). 8 Figura 24.2: Capacitores em placas de circuitos integrados. Capacitores em série Considere três capacitores, C1, C2 e C3, associados em série entre os pontos a e b, conforme ilustrado na Fig. 24.3. Notando que o sistema como um todo é neutro, para entender porque ele ficou como ilustrado considere o seguinte: ao aplicar-se uma diferença de potencial Vab ą 0 entre os pontos a e b, o potencial (positivo) em a carrega com carga `Q a placa superior de C1, que então induz ´Q na placa inferior. Como a placa inferior de C1 está conectada à placa superior de C2, esta última terá carga induzida `Q, pois o conjunto é neutro. A mesma idéia se aplica à placa inferior de C2 e as duas de C3, e por isso o sistema assume a configuração ilustrada. Concluímos que em uma associação em série, todos capacitores possuem a mesma carga. A respeito da diferença de potencial, vemos que cada capacitor está submetido a uma diferença de potencial diferente. O capacitor 1 está sob tensão Vac, o 2 sob Vcd e o capacitor 3 sob Vdb. O sistema como um todo está sob Vab. A relação entre estas diferenças de potencial é4 Vab “ Vac ` Vcd ` Vdb, (24.2) ou seja, a diferença de potencial entre as extremidade do caminho é igual a soma da diferença de potencial entre cada trecho. 4Para se convencer disso, note que Vab “ Va ´ Vb “ şb a ~E ¨ d~̀ “ şc a ~E ¨ d~̀` şd c ~E ¨ d~̀` şb d ~E ¨ d~̀ “ pVa ´ Vcq ` pVc ´ Vdq ` pVd ´ Vbq “ Vac ` Vcd ` Vdb. 9 Figura 24.3: Associação de capacitores em série. Agora usaremos a definição de capacitância (C “ Q{V ) para cada capacitor. Para o capacitor 1 temos C1 “ Q{Vab, para o 2 temos C2 “ Q{Vcd e para o capacitor 3 temos C3 “ Q{Vdb. A associação destes capacitores corresponde a uma capacitância equivalente àquela que um único capacitor de capacitância Ceq “ Q{Vab conectado entre os pontos a e b produziria. Deste modo, a expressão (24.2) pode ser escrita como Q Ceq “ Q C1 ` Q C2 ` Q C3 . (24.3) Finalmente, vemos que a capacitância equivalente para uma associação de três capaci- tores em série é 1 Ceq “ 1 C1 ` 1 C2 ` 1 C3 . (24.4) Não é difícil se convencer de que N capacitores associados em série produzirão uma capacitância equivalente dada por 1 Ceq “ 1 C1 ` 1 C2 ` ¨ ¨ ¨ ` 1 CN . (24.5) Note que a capacitância equivalente da associação é sempre menor que a capacitância 10 individual de qualquer um dos capacitores da associação. Logo, se possuímos capa- citores com certos valores de capacitância e desejamos usar capacitâncias menores, a solução é buscar associações em série entre os capacitores disponíveis. Exemplo 1: Possuímos dois capacitores a nossa disposição, C1 “ 10 F e C2 “ 5 F. Se associarmos estes em série, a capacitância equivalente será 1 Ceq “ 1 10 ` 1 5 , logo Ceq “ 103 « 3, 3 F (note que Ceq é menor que C1 e C2). Este resultado significa que, em termos de capacitância, tanto faz utilizar uma associação em série entre um capacitor de 10 F e outro de 5 F ou utilizar apenas um capacitor de 3,3 F. Exemplo 2: Considere que tenhamos à nossa disposição vários capacitores idênticos, todos de capacitância C. Se associarmos dois destes em série, a capacitância equivalente será Ceq “ C{2. Caso associemos três, obteremos Ceq “ C{3. Como resultado geral, temos que a associação de N capacitores idênticos possui uma capacitância equivalente dada por Ceq “ C{N . Capacitores em paralelo Consideremos agora dois capacitores, de capacitâncias C1 e C2, associados em paralelo, como ilustrado na Figura 24.4. Ao aplicar-se uma diferença de potencial Vab nos pontos a e b, a placa superior de 1 e 2 adquirem cargas `Q1 e `Q2 diferentes, indu- zindo cargas de sinais opostos nas respectivas placas inferiores. Por que, diferentemente da associação em série, as cargas são diferentes? Para responder a pergunta acima, devemos notar que os pontos a, c e e estão todos em um mesmo valor de potencial — digamos que este potencial é Va — pois a linha (fio condutor) que os une é uma equipotencial. De mesmo modo, os pontos b, d e f também estão todos sob um mesmo valor de potencial que, digamos, vale 11 Figura 24.4: Associação de capacitores em paralelo. Vb. Logo, tanto o capacitor 1 quanto o 2 estão sob uma mesma diferença de potencial Vab. Utilizando a definição de capacitância, temos que C1 “ Q1{Vab e C2 “ Q2{Vab, portanto vemos que capacitores em paralelo possuem cargas diferentes caso possuam capacitâncias diferentes. Se substituirmos essa associação em paralelo por um único capacitor equivalente, temos que este estará também sob uma tensão Vab, logo Ceq “ Q{Vab. Como a carga elétrica deve ser conservada, se na parte superior do circuito com dois capacitores a carga total é Q1 ` Q2, então a carga na placa superior do capacitor equivalente deve ser Q “ Q1 `Q2. (24.6) Utilizando a definição de capacitância nesta expressão, obtemos Ceq Vab “ C1 Vab ` C2 Vab. (24.7) Portanto a capacitância equivalente à esta associação de dois capacitores em série é Ceq “ C1 ` C2. (24.8) Para um número N de capacitores associados em série, temos que a capacitância equi- valente é dada por Ceq “ C1 ` C2 ` ¨ ¨ ¨ ` CN . (24.9) Notemos que a associação em série sempre produz uma capacitância equivalente que é maior que a capacitância de qualquer um dos capacitores da associação. 12 24.3 Armazenamento de energia em capacitores e energia do campo elétrico Parte da importância prática de um capacitor reside na sua capacidade de ar- mazenar energia potencial elétrica. Como os condutores de um capacitor encontram-se inicialmente descarregados, gastamos energia através do trabalho realizado para sepa- rar cargas, posicionando-as em cada um dos dois condutores. Essa energia gasta fica armazenada na forma de energia potencial elétrica entre as cargas em excesso em cada condutor do capacitor (que continua neutro como um todo). Ilustramos isso abaixo. Figura 24.5: Os condutores estão inicialmente neutros. Para carregá-los, devido a atração elétrica entre pares de cargas, trabalho externo Wab é realizado para levar cargas do condutor a ao b. Figura 24.6: A transferência de cargas pode ser feita, por exemplo, aplicando-se uma d.d.p. Vab entre os condutores. No caso de uma pilha, energia química é gasta devido ao trabalho realizado para levar cargas de a até b. 13 Figura 24.7: Na situação de equilíbrio eletrostático, o capacitor permanece neutro mas com excesso de cargas em cada condutor. Esta configuração é mantida pois, no equilíbrio, os condutores estarão sob a mesma d.d.p da pilha. A energia devido ao trabalho realizado fica armazenada na forma de energia potencial elétrica entre o excesso de cargas dos condutores do capacitor. Se removermos a pilha e conectarmos a e b com um fio condutor essa energia potencial elétrica será convertida em cinética devido à força de atração elétrica que acelera as cargas, que eventualmente se neutralizarão, tornando o capacitor neutro novamente. Para obter a energia armazenada, calculamos o trabalho necessário para montar uma configuração de cargas separadas, partindo da situação inicial com os condutores descarregados (q “ 0 e Vab “ 0) até a final em que eles encontram-se totalmente carregados (q “ Q e Vab “ V ). Para levar a primeira carga dq de um condutor a outro, realizaríamos um traba- lho dWab caso, literalmente, arrancarmos uma carga do condutor a e a levarmos para o b (como em uma das figuras acima), pois nesse caso teríamos de ir contra a força de atração do par original de cargas. Na prática, ao invés disso, conectamos ambos os condutores, tornando o capacitor uma superfície equipotencial. A primeira carga dq será deslocada sem a realização de trabalho, estabelecendo uma diferença de potencial dVab. A partir deentão, trabalho dWab será realizado para mover qualquer carga q contra essa diferença de potencial, dWab “ q dVab. (24.10) (Quem realiza este trabalho? Uma bateria, por exemplo.) Sabemos que, para qualquer capacitor, a razão C “ Q{V é constante, logo também temos que C “ dq{dVab. Uti- lizando isto na expressão acima para o trabalho dWab e integrando-o da carga inicial (q “ 0) à carga final (q “ Q), obtemos o trabalho total W necessário para carregar um 14 capacitor, W “ ż W 0 dWab “ ż Q 0 q C dq “ Q2 2C (24.11) Acabamos de descrever o processo de carregamento do capacitor. No processo inverso, quando a d.d.p. que mantém o capacitor carregado é removida enquanto mantem- se uma conexão entre os condutores (trocando-se a bateria por um fio condutor, por exemplo), o capacitor começa a descarregar. A energia potencial elétrica antes arma- zenada passa a ser convertida em cinética das cargas, pois a força elétrica de atração realiza trabalho, à custa da energia potencial, acelerando as cargas. Conforme as car- gas positivas e negativas voltam a formar pares, o capacitor vai tornando-se neutro, com sua carga inicial Q decaindo até zero, assim como o potencial existente entre seus condutores (devido à separação entre as cargas), que também decai do valor V até zero, tornando o capacitor uma superfície equipotencial novamente. A energia elétrica armazenada é então convertida em cinética no processo de descarga 5. Podemos definir a energia potencial elétrica de um capacitor descarregado como sendo zero. Lembrando-se queW “ ´∆U , essa definição nos diz que a energia potencial elétrica de um capacitor carregado é U “ Q2 2C “ 1 2 CV 2 “ 1 2 QV, (24.12) onde a segunda e a terceira igualdade foram obtidas utilizando-se C “ Q{V , sendo, portanto, formulações equivalentes para a energia elétrica de um capacitor carregado. Das expressões acima para U e para C, vemos que: • Para uma diferença de potencial V fixa, de U “ CV 2{2 e Q “ CV , vemos que quanto maior a capacitância do capacitor maior é a sua capacidade de armazenar energia elétrica e carga. • Por outro lado, se mantivermos fixa a carga total Q, vemos que a energia gasta para carregar o capacitor, W “ U “ Q2{2C, é menor para capacitâncias maiores. 5Em situações reais, durante a descarga do capacitor a energia cinética das cargas é convertida em outras formas de energia (térmica, luminosa, etc.). Por exemplo, no percurso ao longo do fio condutor, as cargas podem perder parte da energia cinética ao colidirem com íons deste. Os íons adquirem energia vibracional, resultando em aumento da temperatura do fio condutor. 15 Note que os casos acima são mutuamente excludentes pois só consegue-se fixar V e Q ao mesmo tempo utilizando-se uma capacitância C de valor exatamente Q{V . Aplicação de capacitores: armazenamento de energia Leia essa interessantíssima seção no livro-texto. Energia do campo elétrico Ao carregar-se um capacitor, energia é gasta quando movemos cargas de um condutor ao outro pois precisamos desloca-las contra a força elétrica causada pelo campo elétrico entre os condutores do capacitor. Essa energia fica armazenada na forma de energia potencial elétrica devido à interação (atrativa) entre as cargas separadas. Mostraremos que pode-se interpretar essa energia potencial elétrica como armazenada no próprio campo elétrico. Consideraremos o caso de um capacitor de placas paralelas (com vácuo entre as placas) para mostrar isso. Seja o capacitor de placas paralelas, cada um de área A, separados por uma distância d. Vimos anteriormente que a diferença de potencial entre as placas é V “ Ed e sua capacitância é C “ εoA{d. Podemos reescrever a energia potencial dada pela Eq. (24.12) como U “ 1 2 εoE 2 pAdq, (24.13) que é uma expressão que depende das dimensões do capacitor. Podemos definir a densidade volumétrica de energia potencial elétrica u como a razão entre a energia potencial e o volume. Notando que, na expressão acima, o produto Ad é o volume entre as placas do capacitor, temos que u “ 1 2 εoE 2, (24.14) que independe das dimensões do capacitor e, apesar de que não faremos essa prova, também vale para capacitores de qualquer geometria. Mais ainda, a expressão acima é válida para qualquer configuração de campo elétrico no vácuo, independente da origem deste campo. Por exemplo, no capítulo anterior, falamos que a energia potencial repre- 16 senta a energia de interação entre as cargas e agora vemos que podemos interpretá-la como sendo contida no campo elétrico resultante produzido por tais cargas. Essa inter- pretação dá realidade ao conceito de campo elétrico como modificações do espaço ao redor de cargas de modo que tais modificações armazenam energia potencial que pode ser transferida (por meio da força elétrica) à outras cargas, dotando estas de energia cinética. Foi preciso falar sobre a energia em termos da sua densidade volumétrica pois se imaginarmos campos elétricos que permeiam todo o espaço, a energia seria uma quan- tidade divergente (pois o campo abrangeria um volume infinito), porém a densidade de energia é uma quantidade finita. No caso de capacitores, o campo elétrico encontra-se confinado em uma região finita do espaço (por exemplo, entre as duas cascas de um capacitor esférico). Neste caso, a energia armazenada é uma quantidade finita e é dada por U “ ż u dV, (24.15) onde a integração é realizada sobre todo o volume do capacitor onde exista campo elétrico. A respeito do elemento de volume dV , temos que: • No caso de distribuições de cargas com simetria esférica, o elemento de volume é dado por dV “ 4πr2dr e a integração é realizada apenas na coordenada radial r. • Para distribuições com simetria cilindrica, temos dV “ 2πL s ds onde a integração é realizada na coordenada radial s e L é o comprimento da distribuição. Note que para a distribuição de cargas realmente exibir tal simetria, temos que ter LÑ 8, o que torna a energia divergente. Neste caso, a quantidade relevante é a densidade linear de energia U{L que é finita. • Caso a distribuição exiba simetria planar, como no capacitor de placas paralelas, temos dV “ Adz, sendo z a coordenada de integração perpendicular às placas do capacitor e A a área das placas. Novamente, tal simetria só é realmente realizada se AÑ 8, logo só faz sentido falarmos da densidade superficial de energia U{A. Note que tanto para o caso do capacitor de placas paralelas quanto para o do capacitor 17 cilíndrico, frequentemente é uma boa aproximação considerar o campo nas regiões mais centrais do capacitor real (de tamanho finito) como sendo como o do caso ideal (de tamanho infinito). Isso significa que estamos desprezando efeitos de borda, pois são nas bordas do capacitor real onde o campo deixa de exibir as simetrias discutidas. Neste tipo de aproximação, a área A do capacitor plano e o comprimento L do cilíndrico são número finitos, de modo que faz sentido físico calcularmos a energia armazenada no capacitor ao invés da densidade de energia. 24.4 Dielétricos Essa seção discute de modo suficientemente claro os efeitos da introdução de um meio material isolante (dielétrico) entre os condutores de um capacitor. O material apresentado no livro-texto é suficiente para uma boa compreensão do assunto. Carga induzida e polarização Como conclusão desta seção, note que podemos calcular os efeitos causados pelos dielétricos olhando para as cargas induzidas devido à polarização destes ou conside- rando que o dielétrico altera a constante de permissividade elétrica, mudando-a de um valor εo (vácuo) para um valor maior ε (dielétrico). Ruptura dielétrica Dielétricos mantêm suas características isolantes enquanto submetidos à cam- pos elétricos de intensidade menor ao valor da sua rigidez dielétrica, que corresponde ao campo elétrico máximo que pode ser aplicado no diétrico sem que seus átomos ionizem-se devido à força elétrica que atua em suas cargas. O ar, por exemplo, quando submetidoà campos superiores a 3 ˆ 106V{m pode ser acometico por descargas elé- tricas — como, por exemplo, acontece em uma tempestade quando vemos um raio atravessando o céu. Veja livro-texto para a discussão completa. 18 24.5 Modelo molecular da carga induzida Leia essa seção para os entender detalhes microscópicos da atuação de um campo elétrico externo sobre um dielétrico, ilustrando o efeito de polarização e criação ou alinhamento de dipolos elétricos. Fizemos uma discussão rápida e superficial deste mesmo assunto no Capítulo 21. 24.6 Lei de Gauss em dielétricos Essa seção determina a forma da Lei de Gauss utilizando os resultados da seção 24.4 e note que, novamente, podemos ver os efeitos do dielétrico ou olhando para as cargas induzidas, ¿ S ~E ¨ d ~A “ qint ´ qint induzida εo (24.16) ou para uma mudança na constante de permissividade elétrica, ¿ S ~E ¨ d ~A “ qint ε . (24.17) Ambas maneiras são equivalentes sempre que o campo elétrico no material for propor- cional às cargas induzidas. 19 Capacitância e capacitores Capacitores em série e em paralelo Armazenamento de energia em capacitores e energia do campo elétrico Dielétricos Modelo molecular da carga induzida Lei de Gauss em dielétricos
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