Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Tutorial 2 – Vitor Benincá Série Vermelha: Eritropoiese Função das hemácias (eritrócitos): transporte de hemoglobina para perfusão de tecidos e tamponamento sanguíneo (tampão ácido- base). As hemácias são discos bicôncavos, anucleadas, com volume médio de 90 a 95 micrômetos³. Pode apresentar variações de forma conforme essas células vão se espremendo entre os capilares, e mesmo se alterando consideravelmente, ela quase nunca se rompe, pois essa célula apresenta excesso de membrana celular quando relacionado com o seu material interno. Valores de referência: (1) Homens: 5.200.000 hemácias/mL³ (2) Mulheres: 4.700.000 hemácias/mL³ Moradores de altas altitudes tendem a ter maior concentração de hemácias no sangue. Tempo de vida dos eritrócitos: 120 dias As hemácias podem concentrar até 34g de Hb por 100mL de nas células. Em pessoas normais, a porcentagem normal é sempre perto do máximo. Quando anormal, hemácia pode ficar tão vazia que diminui de tamanho. Cada grama de hemoglobina é capaz de se combinar com 1,34ml de oxigênio. As hemácias correspondem a 40-45% da composição do sangue (hematócrito) As hemácias possuem enzimas que consegue metabolizar glicose e formar o ATP, além disso, possuem flexibilidade da membrana e capacidade de transporte de íons por ela. Porém, com o tempo elas vão ficando cada vez mais frágeis até que chegam ao ponto de ruptura. Essa ruptura ocorre em pontos estreitos da circulação (geralmente no Baço). Após a ruptura, a hemoglobina resultante será fagocitada por macrófagos, o Ferro será liberado na circulação e irá ser transportado pela transferrina até a medula óssea ou até o fígado (vira ferritina- armazenamento) e a Porfina será transformada em pigmento biliar (bilirrubina) e será eliminada pela bile. PRODUÇÃO DAS HEMÁCIAS Primeiras semanas de vida embrionária: as hemácias são nucleadas e produzidas pelo Saco Vitelino. Segundo trimestre de gestação até 6 a 7 meses de vida fetal: produzidas pelo fígado, baço e Linfonodos. Último mês de gestação e após o nascimento, infância e vida adulta: Medula Óssea (exclusivamente) Nos 2 primeiros anos de vida, toda a medula óssea produz hemácias, mas durante o resto da infância há substituição progressiva da medula dos ossos longos por gordura, sendo que então a medula hemopoética no adulto é confinada ao esqueleto central e à extremidades proximais do fêmur e úmero. A cada dia são produzidos em torno de 10¹² novos eritrócitos (glóbulos vermelhos), por meio de um processo complexo e regulado de maneira precisa pela eritropoiese. A partir da célula tronco, a eritropoiese irá passar pelas células progenitoras CFU (unidade formadora de colônias granulocíticas, eritroides, monocíticas e megacariocíticas), BFU (unidade de formação explosiva eritroide) e CFUe (CFU eritroide) até gerar o primeiro percursor: Proeritroblasto. Proeritroblasto: célula grande, com citoplasma azul-escuro, núcleo central com nucléolo e cromatina. À medida que a célula vai evoluindo, o citoplasma vai perdendo sua tonalidade azul-claro devido a perda de RNA. O núcleo será expelido do eritoblasto maduro na medula óssea, gerando o reticulócito (ainda contém partes de RNA) Reticulócito: Célula um pouco maior que os eritrócitos, fica de 1 a 2 dias na medula óssea e circula no sangue periférico durante tempo idêntico antes de amadurecer (principalmente no baço) para que todo RNA seja totalmente catabolizado. Em geral, um proeritroblasto origina 16 eritrócitos maduros. Tutorial 2 2 Tutorial 2 – Vitor Benincá REGULAÇÃO DA ERITROPOIESE Regulada pelo hormônio Eritropoetina. 90% do hormônio é produzido pelas células intersticiais peritubulares renais e 10% no fígado e em outros lugares. Não há reservas pré-formadas do hormônio, sendo que o estimula para a produção dele é a TENSÃO DE OXIGÊNIO NOS TECIDOS DOS RINS. A hipóxia induz fatores que estimulam a produção de eritropoietina. A produção de eritropoietina irá aumentar em casos de anemia, quando a hemoglobina é incapaz de liberar oxigênio normalmente por algum motivo metabólico ou estrutural. Também é aumentada quando o oxigênio atmosférico está baixo, quando há disfunção cardíaca, pulmonar ou lesão na circulação renal que afeta a liberação de oxigênio para os rins. A eritropoietina estimula a eritropoiese por aumentar o número de células progenitoras comprometidas com a eritropoiese. Em estados de estímulo eritropoietíco crônico (DPOC), a proporção de células eritroides na medula óssea aumenta, gerando expansão anatômica da eritropoiese na medula gordurosa, e em algumas vezes até em sítios extramedulares. Em contrapartida, o aumento de fornecimento de oxigênio aos tecidos irá diminuir o estimula para produção de eritropoietina. A eritropoietina como fármaco é usado principalmente em tratamento de anemias causadas por nefropatias. É usada via cutânea. Sua principal indicação é a nefropatia em estágio final (com ou sem diálise). Ferro oral muitas vezes é necessário para maximizar a resposta a eritropoietina. HEMOGLOBINA Principal função do eritrócito: transporte de oxigênio e retorno de gás carbônico. Para isso, os eritrócitos possuem uma proteína especializada- Hemoglobina. Cada eritrócito contém, aproximadamente, 640 milhões de hemoglobina. Cada hemoglobina A (normais em adultos) possui 4 cadeias polipeptídicas (α2β2) e seu próprio grupo heme. O sangue normal do adulto também pode conter pequenas quantidades de outros tipos de hemoglobinas- HbF e HbA²- que contém a cadeia alfa, mas em vez da beta possui cadeias gama ou lambda. Cada molécula de heme combina-se com uma cadeia de globina formando um tetrâmero de cadeias de globina, sendo que cada cadeia possui seu próprio núcleo heme (que possui o Fe²+). A hemoglobina é uma proteína alostérica, ela consegue modular sua estrutura para modificar sua afinidade com o oxigênio; em locais com menor pressão de O2, a hemoglobina apresenta no Estado T (tenso e baixa afinidade {tecidos}) e em locais com maior pressão ela se apresenta no estado R (relaxado e alta afinidade {pulmões}). Metemoglobina: é a situação clínica em que a hemoglobina circulante está presente com o ferro na sua forma oxidada (Fe³). Isso pode acontecer devido a deficiência hereditárias, tanto de enzimas quando da herança de uma hemoglobina estruturalmente anormal- HbM. ERITRÓCITOS Permite que a hemoglobina passe repetidamente através da microcirculação, mesmo em vasos com diâmetro muito pequenos, além de manter a Hb em sua forma reduzida (ferrosa), mantendo o equilíbrio osmótico apesar de carregar uma grande quantidade de proteína dentro de si (própria Hb). Sendo assim, essa célula possui formato bicôncavo flexível, com capacidade de gerar energia com ATP pela via anaeróbica e gerar redutores como NADH e NADPH. Sua membrana compreende dupla camada lipídica, proteínas integrais e um esqueleto de membrana. 50% do eritrócito é composto de proteína, 20% de fosfolipídios, 20% de colesterol e 10% de carboidratos. Os defeitos nessas proteínas geram algumas anomalias na forma da membrana dos eritrócitos: esferocitose e eliptocitose. VALORES DE REFERÊNCIA VCM: Volume Corpuscular Médio HCM: Hemoglobina Corpuscular Média (peso da Hb na hemácia) CHCM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (concentração de Hb na hemácia). Anemia Definida como diminuição da concentração de Hb no sangue em níveis abaixo dos valores de referência para idade e para o sexo. Os valores variam conforme os laboratórios, idade, sexo, nível do mar, mas geralmente são considerados: (1) Homens adultos: abaixo de 13,5 g/dL (2) Mulheres adultas: abaixo de 11,5 g/dL (3) Recém-nascidos: abaixo de 14 g/dL (não há unanimidade) (4) 2 anos até a puberdade: valoresabaixo de 11g/dL Os recém-nascidos possuem níveis maiores de Hb, em torno de 14g/dL é o seu limite inferior. A diminuição da Hb, com o passar da 3 Tutorial 2 – Vitor Benincá idade, geralmente é acompanhada por baixa contagem de eritrócitos e do hematócrito. O sangue do recém-nascido tem uma quantidade elevada de hemoglobina, de forma a garantir a sua sobrevivência e correto desenvolvimento no meio intrauterino, relativamente pobre em oxigênio O aumento da oxigenação que ocorre com a respiração normal após o nascimento causa elevação abrupta do nível de oxigênio nos tecidos, resultando em retroação negativa sobre a produção de eritropoetina e eritropoiese. Essa redução na eritropoiese, assim como o tempo de vida mais curto dos eritrócitos neonatais (90 dias versus 120 dias em adultos), faz a concentração de hemoglobina cair nos primeiros 2 a 3 meses de vida (geralmente hemoglobina de 9 a 11 g/dL. A Hb permanece estável nas semanas seguintes e depois sobe lentamente no 4º ou no 6º mês, secundariamente à estimulação da eritropoetina que se refaz. Alterações no volume total do plasma e da massa total de Hb circulante é o que determina a concentração de hemoglobina. (Ex.: uma diminuição do volume plasmático- desidratação- podem mascarar anemia, e um aumento no volume plasmático- gravidez- pode provocar uma aparente anemia). ASPECTOS CLÍNICOS DA ANEMIA As principais adaptações à anemia irão ocorrer no sistema cardiovascular- aumento do volume sistólico e taquicardia- e na curva de dissociação de O2 da Hb. A anemia pode ser assintomática, sintomática leve, sintomática severa. Essa presença ou ausência de sinais clínicos irão ocorrer, basicamente, por 4 fatores principais: (1) Velocidade de instalação de anemia: anemia rapidamente progressiva causa mais sintomas que uma anemia de instalação lenta, porque há menos tempo para adaptação do sistema cardiovascular e da curva de dissociação de oxigênio. (2) Intensidade da anemia: anemia leve geralmente é assintomática. Até mesmo uma anemia severa (Hb em 6g/dL) podem causar sintomas discretos quando a sua instalação for gradual. (3) Idade: Idoso tolera menos a anemia do que o jovem devido a menor quantidade de oxigênio nos órgãos. (4) Curva de dissociação de O2 da hemoglobina: a anemia é acompanhada de aumento de 2,3 DPG nos eritrócitos e de desvio para direita, de modo que o oxigênio é liberado de forma imediata para os tecidos. Deslocamento para a esquerda = maior afinidade oxigênio-hemoglobina. Deslocamento para a direita = menor afinidade oxigênio-hemoglobina SINAIS E SINTOMAS Dispneia, Fraqueza, letargia, Palpitações e Cefaleia. Em idosos: ICC, angina de peito, claudicação intermitente e confusão mental. Palidez de mucosa (notada geralmente quando o nível de Hb cai 9- 10 g/dL). A cor da pele NÃO é sinal confiável. Coiloníquia (unhas em colher) na anemia ferropriva, icterícia na anemia hemolítica e magloblástica, úlceras de perna na anemia de células falciformes e em outras anemias hemolíticas, deformidade ósseas em talassemias. CLASSIFICAÇÃO DA ANEMIA Índices Hematimétricos: anemias Microcíticas, Normocíticas e Macrocíticas. O tipo de anemia pode ser definido de acordo com a contagem de reticulócitos, morfologia de eritrócitos, além da presença ou ausência de alterações nos leucócitos e plaquetas. DIAGNÓSTICO GERAL Hemograma Exame de medula óssea: exame padrão-ouro. Pode ser feita por aspiração ou biópsia com trefina (fornece um núcleo sólido de osso) e é examinado histologicamente. Avaliação da eritropoese: contagem de reticulócitos, hemograma e exame da medula óssea. Faz-se a relação mieloide: eritroide (relação entre precursores granulocíticos e percursores eritroides na medula óssea). Metabolismo do Ferro O ferro é um dos elementos mais comuns na Terra, porém mesmo assim sua deficiência é a causa mais comum de anemia, e afeta cerca de 500 milhões de pessoas no mundo. Além disso, grande parte do ferro presente na natureza está na forma férrica (praticamente inabsorvível) e não na ferrosa (absorvível). Muito disso se deve à capacidade limitada de absorção de ferro pelo trato digestivo humano e à frequente perda de ferro por hemorragias. Além disso, em países subdesenvolvidos, a ingesta de ferro parece ser insuficiente desde a infância. DISTRIBUIÇÃO E TRANSPORTE DE FERRO O transporte e o armazenamento de ferro são mediados por 3 proteínas: transferrina, receptor 1 de transferrina e ferritina. A Transferrina pode carregar até 2 átomos de ferro. Ela irá conduzir e entregar o ferro aos tecidos que possuem receptores de transferrina, principalmente os eritroblastos da medula óssea, onde o ferro será incorporado na hemoglobina. Quando a hemácia é destruída e fagocitada pelos macrófagos do sistema reticuloendotelial, o ferro será liberado da Hb, entra no plasma e se liga novamente a transferrina. Isso é responsável por 4 Tutorial 2 – Vitor Benincá quase todo preenchimento de transferrinas disponíveis no plasma. A pequena fração restante de ferro da transferrina plasmática vem da dieta. Além disso, alguma quantidade de ferro será armazenada nas células reticuloendoteliais na forma de Ferritina e Hemossiderina. Esse armazenamento ocorre em quantidades muito variáveis dependendo da absorção de ferro no organismo. A diferença entre a Ferritina e a Hemossiderina é que a Ferritina é um complexo hidrossolúvel, enquanto a hemossiderina é um complexo proteico insolúvel. O ferro, tanto na ferritina quanto na Hemossiderina, estão em sua forma férrica. Sendo assim, para fazer parte da hemoglobina, ele será reduzido a sua forma ferrosa (por auxílio da enzima ceruloplasmina). O ferro também está presente nos músculos como Mioglobina, e na maioria das células do organismo, em enzimas (citocromos, desidrogenases e catalases). Perdas diárias de ferro: fezes, urina, unhas, cabelo, pele, menstruação (cerca de 1 mg). Absorção diária: dieta (cerca de 1 mg). Em mulheres que menstruam, mulheres gravidas, crianças (devido ao crescimento), deve-se repor mais ferro devido essas perdas. REGULAÇÃO DA SÍNTESE DE FERRITINA E DO RECEPTOR 1 DE TRANSFERRINA Os níveis séricos de ferritina estão ligados ao status do ferro, de modo que se há sobrecarga de ferro há aumento da ferritina tecidual, enquanto na deficiência de ferro a ferritina estará baixa. Quando o ferro plasmático está aumentado e a transferrina está saturada, aumenta a quantidade de ferro transferida às células parenquimatosas do fígado, órgãos endócrinos, pâncreas e coração. Além disso, pode haver certa quantidade de ferro livre no plasma, que será um elemento tóxico a diversos órgãos. HEPCIDINA É um polipeptídeo com 25 aminoácidos produzido pelas células hepáticas. É o regulador hormonal mais importante da homeostasia do ferro. Ela irá inibir a liberação de ferro dos macrófagos e células epiteliais intestinais por sua interação com a ferroportina, que é uma proteína de exportação de ferro transmembrana. Isso promove aceleração da destruição do enterócito por descamação e assim controle de armazenamento de ferro. Em condições em que há aumento de eritroblastos primitivos na medula, há supressão da secreção de hepcidina e aumento da absorção de ferro. Em casos de hipóxia também há supressão da secreção de hepcidina. Em estados inflamatórios há aumento da síntese de hepcidina e diminuição de absorção de ferro. FERRO NA DIETA O ferro está presente em alimentos como: hidróxidos férricos, complexos férrico-proteicos e complexos heme-proteicos. Tanto o conteúdo do ferro como a proporção absorvida variam muito de um alimento para o outro. Em geral, as carnes (principalmente fígado) são melhores fontes do que vegetais, ovos e laticínios. A dieta ocidental diária média contémde 10 a 15 mg de ferro, dos quais apenas 5 -10% são absorvidos. Essa proporção pode aumentar para 20-30% em casos de deficiência de ferro ou na gravidez. A parte do ferro que não é absorvida é perdida nas fezes. ABSORÇÃO DE FERRO Parte do ferro orgânico da dieta é absorvida como heme e parte é transformada em ferro inorgânico no intestino. A absorção ocorre no duodeno. O grupamento Heme será absorvido por meio de um receptor ainda não identificado, exposto na membrana apical do enterócito duodenal, sendo então digerido para liberar o ferro. Já a absorção de ferro inorgânico é favorecida por fatores como ácidos e agentes redutores que mantêm o ferro na luz do intestino na forma de ferro ferroso e não de ferro férrico. A proteína DMT-1 (transportador divalente de metal 1) é envolvida na transferência do ferro da luz do intestino pelos microvilos dos enterócitos. A ferroportina na superfície basolateral controla a saída de ferro da célula → plasma da circulação portal. A quantidade de ferro absorvida é regulada de acordo com as necessidades do organismo por meio de variações nos níveis de DMT- 1 e ferroportina. A regulação do DMT-1 é regulada pelo mecanismo (ligação IRP/IRE) pelo qual aumenta o receptor de transferrina na deficiência de ferro. Já quanto a ferroportina é regulado pela hepcidina. O baixo nível de hepcidina na deficiência de ferro, favorece níveis altos de ferroportina, fazendo com que mais ferro entre no plasma. A ferrirredutase →enzima presente na superfície apical dos enterócitos- converte ferro férrico 5 Tutorial 2 – Vitor Benincá em ferroso. E uma outra enzima- Hefestina ou Ferrioxidase → converte o ferroso em férrico para que este se ligue à transferrina. A quantidade necessária de ferro para compensar as perdas do organismo irá variar de acordo com a idade e sexo. Ela será máxima na gravidez, na adolescência e nas mulheres que menstruam. Anemia Ferropriva EPIDEMIOLOGIA A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia em todos os países do mundo. É a causa mais predominante de anemia microcítica e hipocrômica. Sendo assim o VCM e o HCM estão diminuídos. – A microscopia mostra eritrócitos pequenos e pálidos Porém, na deficiência de ferro só ocorre anemia quando já há depleção completa dos depósitos reticulo-endoteliais de hemossiderina e ferritina. As taxas de prevalência são particularmente elevadas nos países em desenvolvimento onde a carência alimentar e as parasitoses intestinais são prevalentes. FISIOPATOLOGIA A maior parte dos cerca de 4 g de ferro do corpo humano adulto está incorporada à hemoglobina (cerca de 2.100 mg) nos eritrócitos e à mioglobina (cerca de 300 mg) nos músculos. O restante está principalmente nos depósitos de ferro do fígado (1.000 mg) e no interior dos macrófagos do sistema mononuclear fagocitário da medula óssea e do baço (600 mg). Graças aos poderosos mecanismos de conservação de reciclagem do ferro por meio do sistema mononuclear fagocitário, apenas uma média de 1 a 2 mg de ferro é normalmente perdida por dia, em grande parte pela descamação de pele e mucosas e, nas mulheres em idade reprodutiva, pela menstruação. O ferro livre é extremamente tóxico em razão de sua capacidade de catalisar a formação de radicais livres, que causam danos celular. Como a taxa normal de perda de ferro é baixa, apenas cerca de 1 a 2 mg/dia de ferro dietético são necessários para manter a homeostase. Não há um mecanismo fisiológico que regula a excreção de ferro. A ingesta excessiva pode levar a uma sobrecarga de ferro. O ferro não hêmico da dieta é dissolvido em parte pelo pH baixo do conteúdo estomacal. Após sofrer redução ao estado ferroso pela ferro redutase, o ferro atravessa a membrana apical das células das criptas com a ajuda do transportador divalente de metais, de tipo 1 (DMT-1). A transferrina é a principal proteína associada ao ferro plasmático circulante, e a ferritina é a principal proteína associada ao ferro armazenado no interior das células, tanto no citoplasma quanto nas mitocôndrias. PERDA DE SANGUE A anemia ferropriva resulta de um desequilíbrio entre a quantidade de ferro corporal disponível para a produção de hemoglobina e as quantidades mínimas necessárias para manter a produção normal de hemoglobina durante a eritropoiese. na maioria das vezes o desequilíbrio resulta de uma perda de sangue, sendo o trato gastrointestinal (GI) o local mais comum. Nos países desenvolvidos, essa perda é em geral decorrente de lesões benignas ou neoplásicas do trato GI ou ingestão crônica de medicamentos que causam danos na mucosa GI (álcool, salicilatos e AINEs. Já nos países em desenvolvimento, os helmintos são os principais responsáveis pela perda sanguínea via TGI. A perda de sangue pelo trato geniturinário que leva à deficiência de ferro é mais comum entre as mulheres que menstruam. REPRODUÇÃO E CRESCIMENTO Na maioria dos casos, uma quantidade maior de ferro é devido à perda de sangue; outras causas incluem o rápido crescimento na infância e adolescência e a gravidez e lactação na idade adulta A criança no primeiro ano de vida triplica o peso (de 3kg para quase 10kg) e aumenta 50% do comprimento (50cm para 75). Por isso, precisa de uma quantidade de ferro muito grande. Um estudo brasileiro de 2004 mostrou que 18% das crianças de até 2 anos apresentavam anemia ferropriva. Apesar do tratamento ser fácil, a anemia pode causar danos, principalmente na parte neuro-cognitiva. Com isso, após 6m usa-se ferro profilático (gotas de ferro dos 6 meses aos 2 anos). Antes dos 6m usa-se se aleitamento for por leite de vaca, fórmula infantil (menor que 500mL), peso... INGESTÃO INADEQUADA DE FERRO Uma outra causa importante de deficiência de ferro é a ingestão inadequada desse metal. Apenas as dietas que não têm 1 a 2 mg/dia falham em fornecer quantidade adequada de ferro. Em alimentações “normais”, essa quantidade é atingida, portanto essa não é uma causa comum de deficiência de ferro. Embora na maioria das vezes o ferro seja prontamente absorvido, em especial no duodeno, há estados patológicos capazes de prejudicar esse processo → má absorção intestinal generalizada, gastrite atrófica, cirurgias gástricas, doença celíaca 6 Tutorial 2 – Vitor Benincá MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Graças aos mecanismos fisiológicos compensatórios, os pacientes com anemia ferropriva de grau leve podem ser assintomáticos. Pode ser identificada durante avaliação por outra doença ou exames de rotina. O encontro de microcitose e hipocromia ocorre somente após o hematócrito ter caído para aproximadamente 30%; por essa razão pode não haver sinal da doença nas fases iniciais. Sintomas tendem a ser inespecíficos: fraqueza, palidez, tontura, diminuição da tolerância aos exercícios físicos e irritabilidade. Em casos raros, mais frequentemente em mulheres idosas, pode haver disfagia pela presença de estreitamento ou membrana esofagianos (síndrome de Plummer-Vinson). Recém-nascidos com deficiência de ferro e não suplementados podem ter problemas de desenvolvimento, afetando principalmente o sistema nervoso. Os achados físicos que podem estar associados ao estado ferroprivo incluem a glossite e a estomatite angular. Outros achados menos comuns, porém, altamente específicos são a presença de curvatura côncava nas unhas das mãos e dos pés (coiloníquia) e de tonalidade azul nas escleras. DIAGNÓSTICO Os exames laboratoriais iniciais consistem na determinação dos níveis de hemoglobina, do volume corpuscular médio, da concentração de hemoglobina corpuscular e do número de reticulócitos. Na anemia ferropriva, a maioria dos eritrócitos tem um diâmetro menor que o núcleo de um linfócito típico, e a área da região central pálida é maior que a metade do diâmetro totaldo eritrócito O diagnóstico definitivo da anemia ferropriva é feito por meio de exames que quantificam as reservas de ferro total do organismo: a ausência de reservas de ferro é exclusiva dessa anemia microcítica e Hipocrômica. O nível sérico de ferritina é o indicador mais confiável, menos invasivo e com melhor relação custo-benefício que está disponível para uso rotineiro na maioria dos laboratórios clínicos. TRATAMENTO O tratamento da anemia ferropriva consiste na restauração das reservas de ferro do organismo. Entretanto, a causa subjacente sempre deve ser investigada antes de o tratamento ser iniciado. REPOSIÇÃO DE FERRO Via oral: Sulfato Ferroso. Deve ser ingerido com o estômago vazio (pois há alimentos que diminuem a absorção) a intervalos de pelo menos 6 horas. Pode haver efeitos colaterais (náuseas, dor abdominal, constipação ou diarreia). Pode ser administrado com sucos ácidos (laranja, abacaxi) para aumentar sua absorção. Esse tratamento deve ser mantido durante período suficiente para corrigir a anemia e repor os depósitos de ferro (no mínimo 6 meses). A falta de resposta ao ferro pode ser por várias razões e todas devem ser analisadas antes de prescrever ferro parenteral. Algumas dessas razões são: hemorragia persistente, diagnóstico errado, falta de ingestão das drágeas, má absorção (doença celíaca, gastrite atrófica) etc. O sabor ruim do sulfato ferroso é um fator que dificulta a aderência ao tratamento. Após normalizar a Hb, usar o sulfato ferroso por mais 3-4 semanas (pode diminuir um pouco a dose) para fazer reserva (ferritina). Via parenteral: Dose calculada de acordo com o grau de anemia: Hidroxisucrose férrica e Ferrodextran. A resposta hematológica ao ferro por parenteral NÃO é mais rápida que a resposta à dosagem adequada de ferro por via oral, mas os depósitos são refeitos com mais rapidez. Indicações: má absorção de ferro (ex: sd do intestino curto), intolerância grave ao ferro oral, suplemento em nutrição parenteral toral. Sulfato Ferroso O tratamento ou a prevenção da anemia ferropriva é a ÚNICA indicação clínica para o uso de preparações de ferro. Geralmente são indicados para lactentes, crianças com período rápido de crescimento, mulheres grávidas e em fase de lactação, pacientes com doença renal crônica que perdem eritrócitos durante a hemodiálise e pacientes com absorção inadequada de ferro após gastrectomia e má absorção generalizada. Dose média em cerca de 200 mg/dia administrados em 3 doses iguais de 65 mg. O tratamento deve ser mantido durante 3 a 6 meses após a correção da causa da perda desse mineral. Indicação de ingestão do fármaco de 1 a 2 horas antes das refeições e indicação de ingerir junto com sucos cítricos e nunca com leite ou derivados. Efeitos colaterais: náuseas, desconforto epigástrico, cólicas abdominais, constipação intestinal e diarreia. Em geral esses efeitos estão relacionados com a dose, podendo ser superados com a redução da dose diária de ferro ou a ingestão dos comprimidos durantes as refeições ou imediatamente depois. Promove evacuação de fezes enegrecidas. Antiácidos diminuem sua absorção. Intoxicação por ferro: sais ferrosos em grandes quantidades são tóxicos, porém os casos fatais são raros em adultos, sendo que a maioria das mortes ocorre em crianças. Sinais e sintomas de envenenamento: dor abdominal, diarreia, vômito do conteúdo gástrico marrom e sanguinolento contendo pílulas. Além de palidez, cianose, cansaço, sonolência, hiperventilação devido a acidose.
Compartilhar