Buscar

Fertilização, Clivagem, Implantação do Embrião e Formação do Disco Bilaminar

Prévia do material em texto

Fertilização, Clivagem, Implantação do Embrião e Formação do Disco Bilaminar (Embriologia)
À medida que a implantação do blastocisto ocorre, mudanças morfológicas no embrioblasto produzem um disco embrionário bilaminar formado pelo epiblasto e pelo hipoblasto. O disco embrionário origina as camadas germinativas que formam todos os tecidos e órgãos do embrião. As estruturas extraembrionárias que se formam durante a segunda semana são a cavidade amniótica, o âmnio, a vesícula umbilical conectada ao pedículo e o saco coriônico.
Término da implantação do blastocisto
A implantação do blastocisto termina durante a segunda semana. Ela ocorre durante um período restrito entre 6 e 10 dias após a ovulação e a fecundação. Conforme o blastocisto se implanta, mais o trofoblasto entra em contato com o endométrio e se diferencia em duas camadas:
· Uma camada interna, o citotrofoblasto, que é mitoticamente ativa (isto é, figuras mitóticas são visíveis) e forma novas células que migram para a massa crescente de sinciciotrofoblasto, onde se fundem e perdem as membranas celulares.
· O sinciciotrofoblasto, uma massa multinucleada que se expande rapidamente, na qual nenhum limite celularé visível.
O sinciciotrofoblasto é erosivo e invade o tecido conjuntivo endometrial enquanto o blastocisto vagarosamente vai se incorporando ao endométrio. As células sinciciotrofoblásticas deslocam as células endometriais no local de implantação. As células endometriais sofrem apoptose
(morte celular programada), o que facilita a invasão.
Os mecanismos moleculares da implantação envolvem a sincronização entre o blastocisto invasor e um endométrio receptivo. As microvilosidades das células endometriais, as moléculas de adesão celular (integrinas), citocinas, protaglandinas, hormônios (gonadotrofina coriônica humana [hCG] e progesterona), fatores de crescimento, enzimas de matriz extracelular e outras enzimas (metaloproteinases de matriz e proteína quinase A) têm o papel de tornar o endométrio mais receptivo.
Além disso, as células endometriais ajudam a controlar a profundidade de penetração do blastocisto. As células do tecido conjuntivo ao redor do local da implantação acumulam glicogênio e lipídios e assumem um aspecto poliédrico (muitos lados). Algumas dessas células, as células deciduais, se degeneram nas proximidades do sinciciotrofoblasto invasor. O sinciciotrofoblasto engolfa essas células que servem como uma rica fonte de nutrientes para o embrião. O sinciciotrofoblasto produz um hormônio glicoproteico, o hCG, que entra na circulação sanguínea materna através de cavidades isoladas (lacunas) no sinciciotrofoblasto, o hCG mantém a atividade hormonal do corpo lúteo no ovário, durante a gestação.
O corpo lúteo é uma estrutura glandular endócrina que secreta estrogênio e progesterona para manter a gestação. Radioimunoensaios altamente sensíveis são usados para detectar o hCG e formam a base dos testes de gravidez. Uma quantidade suficiente de hCG é produzida pelo sinciociotrofoblasto no final da segunda semana para resultar em um teste de gravidez positivo, mesmo que a mulher não saiba que possa estar grávida.
 
Formação da cavidade amniótica, do disco embrionário e da vesícula umbilical
Com a progressão da implantação do blastocisto, surge um pequeno espaço no embrioblasto, o primórdio da
cavidade amniótica. Logo, as células amniogênicas (formadoras do âmnio), os
amnioblastos, se separam do epiblasto e formam o âmnio, que reveste a cavidade amniótica. Concomitantemente, ocorrem mudanças morfológicas no embrioblasto
(massa celular da qual se desenvolve o embrião) que resultam na formação de uma placa bilaminar, quase circular, de células achatadas. O disco embrionário, que é formado por duas camadas.
· O epiblasto, uma camada mais espessa, constituída de células cilíndricas altas, voltadas para a cavidade amniótica. 
· O hipoblasto, composto de células cuboides pequenos adjacentes à cavidade exocelômica.
O epiblasto forma o assoalho da cavidade amniótica e está perifericamente em continuidade com o âmnio. O hipoblasto
 forma o teto da cavidade exocelômica e é contínuo à delgada membrana exocelômica. Essa membrana, juntamente com o hipoblasto, reveste a vesícula umbilical primitiva. O disco embrionário agora situa-se entre a cavidade amniótica e a vesícula. As células do endoderma da vesícula produzem uma camada de tecido conjuntivo, o mesoderma extraembrionário, que passa a envolver o âmnio e a vesícula umbilical. A vesícula umbilical e a cavidade amniótica possibilitam os movimentos morfogenéticos das células do disco embrionário. Assim que se formam o âmnio, o disco embrionário e a vesícula umbilical aparecem lacunas (pequenos espaços) no sinciciotrofoblasto. As lacunas são preenchidas por uma mistura de sangue materno proveniente dos capilares endometriais rompidos e os restos celulares das glândulas uterinas erodidas. Esse fluido dos espaços lacunares, o
embriotrofo, chega ao disco embrionário por difusão e fornece material nutritivo para o embrião. A comunicação dos capilares endometriais rompidos com as lacunas no sinciciotrofoblasto estabelece a
circulação uteroplacentária primitiva. Quando o sangue materno flui para
rede lacunar, o oxigênio e as substâncias nutritivas passam para o embrião. O
sangue oxigenado passa para as lacunas a partir das artérias endometriais espiraladas, e o sangue pouco oxigenado
 é removido das lacunas pelas veias endometriais. No décimo dia, o concepto
(embrião e membranas) está completamente implantado no endométrio uterino. Inicialmente, existe uma falha superficial no epitélio endometrial que logo é fechada por um
tampão, um coágulo sanguíneo fibrinoso. Por volta do 12° dia, o epitélio quase totalmente regenerado recobre o tampão. Isso resulta parcialmente da sinalização de AMPc e progesterona. Assim que o concepto se implanta, as células do tecido conjuntivo endometrial continuam passando por transformações: é a
reação decidual. As células incham devido ao acúmulo de glicogênio e lipídios no citoplasma. A principal função da reação decidual é fornecer nutrientes para o embrião e um local imunologicamente privilegiado para o concepto.
Em um embrião de 12 dias, as
lacunas sinciociotrofoblásticas adjacentes se fusionam para formar a rede lacunar, dando ao sinciciotrofoblasto uma aparência esponjosa. As redes lacunares, particularmente ao redor do polo embrionário, são os primórdios dos
espaços intervilosos da placenta. Os capilares endometriais ao redor do embrião implantado se tornam congestos edilatados, formando os sinusoides maternos, vasos terminais de paredes finas e mais largos do que os capilares normais. A formação dos vasos sanguíneos no
estroma endometrial (estrutura de tecido conjuntivo) está sob a influência do estrogênio e da progesterona.
Os sinusoides são erodidos pelo sinciciotrofoblasto e o sangue materno flui livremente para dentro da rede lacunar. O trofoblasto absorve o fluido nutritivo proveniente da rede lacunar, que é transferido para o embrião. O crescimento do disco embrionário bilaminar é lento quando comparado com o crescimento do trofoblasto. O embrião implantado de 12 dias produz uma leve elevação na superfície endometrial que se projeta para a cavidade uterina. Conforme ocorrem mudanças no trofoblasto e no endométrio, o mesoderma extraembrionário aumenta e aparecem espaços celômicos extraembrionários isolados dentro dele. Esses espaços rapidamente se fundem e formam uma grande cavidade isolada, o celoma extraembrionário. Essa cavidade cheia de fluido envolve o âmnio e a vesícula umbilical, exceto onde eles estão aderidos ao córion (membrana fetal mais externa) pelo pedículo de conexão. Com a formação do celoma extraembrionário, a vesícula umbilical primitiva diminui e se forma a vesícula umbilical secundária um pouco menor. Essa vesícula menor é formada por células endodérmicas extraembrionárias que migram do hipoblasto do interior da vesícula umbilical primitiva. Durante a formação da vesícula umbilical secundária,uma grande parte da vesícula umbilical primitiva se desprende, deixando uma vesícula remanescente.
A vesícula umbilical dos humanos não 
contém vitelo, entretanto, possui funções importantes – por exemplo, ela é o local de origem das células germinativas primordiais. Ela pode ter função também na transferência seletiva de nutrientes para o embrião.
Desenvolvimento do saco coriônico
O final da segunda semana é marcado pelo aparecimento das vilosidades coriônicas primárias. As vilosidades (processos vasculares do córion) formam colunas com revestimentos sinciciais. As extensões celulares crescem para dentro do sinciciotrofoblasto. Acredita- se que o crescimento dessas extensões seja induzido pelo mesoderma somático extraembrionário subjacente. As projeções celulares formam as vilosidades coriônicas primárias, que são o primeiro estágio de desenvolvimento das vilosidades coriônicas da placenta (órgão feto maternal de troca metabólica entre o embrião e a mãe). O
celoma extraembrionário divide o mesoderma extraembrionário em duas camadas:
· O mesoderma somático extraembrionário, que reveste o trofoblasto e cobre o âmnio.
· O mesoderma esplâncnico extraembrionário, que envolve a vesícula umbilical. 
O mesoderma somático extraembrionário e as duas camadas do trofoblasto formam o córion (membrana fetal mais externa), que forma a parede do saco coriônico. O embrião, o saco amniótico e a vesícula umbilical estão suspensos dentro desse saco pelo pedículo de conexão. (O termo
vesícula umbilical é mais apropriado porque o saco vitelino não contém vitelo em humanos.) O celoma extraembrionário é o primórdio da cavidade coriônica. A
ultrassonografia transvaginal (endovaginal) é usada para medir o diâmetro do saco coriônico.Essa medida é importante para a avaliação do desenvolvimento embrionário inicial e da progressão da gestação.
Um embrião de 14 dias ainda tem o formato de um disco embrionário bilaminar plano, mas as células hipoblásticas de uma área localizada são agora cilíndricas e formam uma região circular espessada, a placa pré-cordal. Essa placa indica o local da boca e é um importante organizador da região da cabeça
Locais de implantação do blastocisto
A implantação do blastocisto normalmente ocorre no endométrio da região superior do corpo do útero, um pouco mais frequente na parede posterior do que na parede anterior do útero. A implantação do blastocisto pode ser detectada por
Ultrassonografia e por radioimunoensaio
altamente sensíveis para hCG, já no final da segunda semana.
Resumo da implantação
A implantação do blastocisto no endométrio uterino inicia- se no fim da primeira semana e é completada no final da segunda semana. Os eventos moleculares e celulares relacionados com a implantação são complexos. A implantação pode ser resumida como se segue:
A zona pelúcida se degenera (dia 5). O desaparecimento dela resulta do crescimento do blastocisto e da degeneração causada por lise enzimática. As enzimas líticas são liberadas pelo acrossoma dos espermatozoides que rodeiam e parcialmente penetram a zona pelúcida.
O blastocisto adere ao epitélio endometrial (dia 6).
O trofoblasto se diferencia em duas camadas, o sinciciotrofoblasto e o citotrofoblasto (dia 7).
O sinciciotrofoblasto provoca a erosão do tecido endometrial e o blastocisto começa a se implantar ao endométrio (dia 8).
Surgem lacunas cheias de sangue no sinciciotrofoblasto (dia 9).
O blastocisto penetra o epitélio endometrial e a falha é preenchida por um tampão (dia 10).
Ocorre a formação da rede lacunar pela fusão de lacunas adjacentes (dias 10 e 11).
O sinciciotrofoblasto provoca a erosão dos vasos sanguíneos endometriais, permitindo que o sangue materno entre nas redes lacunares e saia delas, estabelecendo, assim, a circulação uteroplacentária (dias 11 e12).
A falha do epitélio endometrial é reparada (dias 12 e 13).
As vilosidades coriônicas primárias se desenvolvem (dias 13 e 14)
Resumo da segunda semana
Assim que o blastocisto completa a implantação no endométrio uterino ocorre uma rápida proliferação e diferenciação do trofoblasto.
As mudanças no endométrio resultantes da adaptação desses tecidos em preparação para a implantação são denominadas de
reação decidual.
Concomitantemente, forma-se a vesícula umbilical primitiva e ocorre o desenvolvimento do mesoderma extraembrionário. O celoma (cavidade) extraembrionário forma-se a partir de espaços presentes no mesoderma extraembrionário. Posteriormente, o celoma se torna a cavidade coriônica.
A vesícula umbilical primitiva diminui e desaparece gradativamente conforme ocorre o desenvolvimento da vesícula umbilical secundária.
A cavidade amniótica aparece
entre o citotrofoblasto e o embrioblasto.
O embrioblasto se diferencia
em um disco embrionário bilaminar formado pelo epiblasto, voltado para a cavidade amniótica, e pelo hipoblasto, adjacente à cavidade blastocística. 
O desenvolvimento da placa pré-cordal, um espessamento localizado no hipoblasto, indica a futura região cranial do embrião e o futuro local da boca; a placa pré-cordal também é um importante organizador da região da cabeça.

Continue navegando