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LIVRO - Psicodiagnostico(1)

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O
26
PSICODIAGNÓSTICO E ALTERAÇÕES DO
HUMOR
Andre Goettems Bastos
Marcelo P io de Almeida Fleck
termo alterações do humor, na linguagem clínica, tem sido empregado para
referir-se tanto a estados afetivos considerados “normais” (tristeza, alegria)
quanto a um sintoma que se relaciona com determinados tipos de doenças.
Como sintomas, alterações bruscas e/ou profundas do humor estão diretamente ligadas
ao que chamamos de transtornos do humor.
No entanto, em algumas circunstâncias, é de extrema dificuldade clínica
diferenciar a tristeza e a alegria “normais” dos sintomas típicos dos transtornos do
humor (depressão, bipolaridade, distimia e estados de luto). Nesses casos, a avaliação
psicológica clínica (psicodiagnóstico), em conjunto com a avaliação psiquiátrica
tradicional, é de grande utilidade.
O objetivo deste capítulo é demonstrar a utilidade do psicodiagnóstico para a
identificação dos transtornos do humor, priorizando as técnicas mais utilizadas para
tanto. Talvez o tema central aqui seja a avaliação psicológica clínica voltada à
classificação nosológica e ao diagnóstico diferencial. Com isso, esperamos auxiliar
profissionais e estudantes da saúde mental.
ASPECTOS GERAIS DOS TRANSTORNOS DO HUMOR
Os transtornos do humor estão entre as doenças neuropsiquiátricas mais frequentes. A
depressão unipolar é considerada uma doença que inclui alterações somáticas,
neurocognitivas e comportamentais que variam de caso a caso (Machado-Vieira &
Soares, 2007). O transtorno bipolar é uma doença grave e que pode se tornar crônica,
afetando cerca de 1,3% da população geral (Rush, 2003). Há, ainda, a distimia e os
estados de luto normal e patológico, que também confundem o diagnóstico e podem
acarretar problemas de indicação terapêutica. Todos os transtornos do humor estão, até
certo grau, associados com incapacitação social e profissional (Bastos & Trentini,
2013), causando sofrimento psíquico e familiar significativo (Luyten & Blatt, 2012).
Pacientes com depressão unipolar apresentam sintomas típicos, como insônia,
tristeza frequente, desmotivação, perda do apetite, dificuldades de concentração e
desesperança (Goodwin & Jamison, 2007). Esses sintomas também podem aparecer na
distimia e nos estados de luto. Pacientes bipolares, por sua vez, apresentam sintomas
associados a mania ou hipomania (aumento da atividade motora, sentimento de
grandiosidade e euforia). Em alguns casos, também podem apresentar sintomas
psicóticos (Goodwin & ​Jamison, 2007). Quando deprimidos, esses pacientes costumam
apresentar sintomas ​neurovegetativos “in​vertidos” (em relação aos observados na de​-
pressão unipolar), especialmente hipersonia, ganho de peso e aumento do apetite
(Hirschfeld, 2014). Algum nível de alteração cognitiva pode estar presente em todos os
tipos de transtornos do humor (Bastos, Guimarães, & Trentini, 2013).
TRIAGEM PSICOLÓGICA E PSIQUIÁTRICA DOS
TRANSTORNOS DO HUMOR
O primeiro contato com o paciente já traz possíveis indicadores de alterações do
humor. Na entrevista inicial, é comum fazer o exame do estado mental do paciente. A
metodologia desse exame, inserido em um contexto psicodiagnóstico clínico, permite a
identificação preliminar de sinais e/ou sintomas em algumas áreas da conduta humana
(Erné, 2001), como atenção, sensopercepção, memória, orientação, consciência,
pensamento, linguagem, inteligência, afetividade e conduta (para mais detalhes
referentes ao exame do estado mental, consulte o Cap. 9).
No entanto, esse exame não é suficiente sozinho. A ele, devem-se juntar a
entrevista ​clínica, que também agrega elementos diagnósticos (Tavares, 2001), e a
história do examinando, que constitui uma área de superposição médico-psicológica,
sendo rotina na avaliação psiquiátrica e psicológica (Cunha, 2001). Na história do
examinando, salientam-se a história clínica e a história pessoal (anamnese).
Nessas entrevistas, é importante que algumas perguntas não deixem de ser feitas,
pois o ob​jetivo do psicodiagnóstico aqui é auxiliar o processo diagnóstico nosológico
(Nussbaum, 2015). Essas perguntas servem para verificar a presença de um possível
transtorno do humor. Mais detalhes sobre o exame diagnóstico segundo a quinta edição
do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) podem ser
consultados em Nussbaum (2015) ou, ainda, no próprio DSM-5 (American Psychiatric
Association [APA], 2014).
A seguir, há uma relação das perguntas, que devem ser contextualizadas à consulta
com o paciente:
Você tem se sentido triste, melancólico, para baixo, deprimido ou irritável?
Você perdeu o interesse ou obtém menos prazer em relação às coisas que
costumava gostar?
Antonio, Moreno e Roso (2006) sugerem que também sejam feitas as seguintes
perguntas:
Você vem tendo pouca energia?
Você vem tendo perda de confiança em si mesmo?
Você vem tendo dificuldade para concentrar-se?
Você vem se sentindo mais devagar?
Você vem tendo pensamentos pessimistas em relação a sua vida?
Se a resposta a qualquer uma das perguntas anteriores for sim, deve-se seguir:
Esses períodos já duraram pelo menos duas semanas e lhe causaram
problemas importantes com amigos ou parentes, no trabalho ou em outro
lugar?
O leitor deve ter percebido que ​perguntas co​mo essas buscam detectar um possível
trans​torno depressivo, e que se relacionam com os critérios diag​nósticos do DSM-5
(APA, 2014). Seguindo a entrevista, é importante acrescentar outras perguntas:
Houve ocasiões em que você sentiu, pelo menos durante alguns dias, o oposto
da depressão? Estava tão alegre ou feliz que isso fez com que se sentisse
diferente do habitual?
Em caso afirmativo, pergunte:
Nessas ocasiões, você se sentiu assim o dia inteiro ou somente parte do dia?
Essas situa​ções já duraram pelo menos uma semana? Esses períodos já lhe
causaram problemas significativos com amigos ou parentes, no trabalho ou
em outro ambiente? Você já teve de ser hospitalizado por causa disso?
De forma completar, as seguintes perguntas podem ser feitas (Silva & Cordás,
2006):
Você já teve alteração brusca de humor?
Você alguma vez se sentiu muito alegre (acima do normal), cheio de energia e
agitado?
Já chamaram sua atenção por estar muito falante e eufórico, com a sensação
de ter mil ideias ao mesmo tempo?
Você já se sentiu muito desanimado, sem ânimo para as atividades
corriqueiras?
Você já teve períodos de insônia por estar muito agitado ou muito triste?
Você já teve descontrole em relação às suas contas, gastando muito e
comprando coisas sem necessidade?
ESCALAS DE AVALIAÇÃO
A identificação dos transtornos do humor em um psicodiagnóstico pode ser facilitada
com o uso de instrumentos de avaliação psicométrica (Hirschfeld, 2014). No entanto,
uma ressalva é necessária. Escalas não fazem diagnósticos. Na verdade, são como
“termômetros” que medem a intensidade dos sintomas, mas não realizam o diagnóstico.
Por exemplo, um termômetro que acusa 39ºC de temperatura axilar não faz diagnóstico
de infecção, já que outras condições podem elevar a temperatura. Assim, escores mais
altos em uma escala de depressão podem ser encontrados em pacientes com luto,
ansiedade, etc. Existem algumas escalas de depressão que foram desenvolvidas como
rastreamento de depressão, mas todas elas precisam de uma avaliação diagnóstica a
posteriori, pois sua sensibilidade, em geral, é alta, mas sua especificidade é baixa. As
escalas mais utilizadas na clínica e na pesquisa em transtornos do humor encontram-se
na Tabela 26.1.
TABELA 26.1
Principais escalas para transtornos do humor
Nome Tipo Número
de
questões
Tempo de
aplicação (em
minutos)
Referências
Beck Depression Inventory-II (BDI-II) Autoaplicado 21 < 10 Beck, Ster e Brown (1996)
Adaptação brasileira:
Gorenstein, Pang, Argimon e
Werlang (2011)
Hamilton Depression Rating Scale (HDRS) Aplicado pelo
avaliador
21 < 20 Hamilton (1960)
Patient Health Questionnaire (PHQ) Autoaplicado 9 < 5 Spitzer, Kroenke e Williams
(1999)
Inventory of Depressive Symptomology (IDS) e
Quick Inventory of Depressive Symptomology
(QIDS)
Autoaplicadoe
aplicado pelo
avaliador
30 (IDS)
16 (QIDS)
< 15 (IDS)
< 7 (QIDS)
Rush, Gullion, Basco, Jarrett e
Trivedi, (1996)
Rush e colaboradores (2003)
Montgomery-Asberg Depression Rating Scale
(MSDRS)
Aplicado pelo
avaliador
10 < 15 Montgomery e Asberg (1976)
Snaith, Harrop, Newby e Teale
(1986)
Mood Disorder Questionnaire (MDQ) Autoaplicado 15 < 10 Hirschfeld e colaboradores
(2000)
Hypomania/Mania Symptom Checklist (HCL-32) Autoaplicado 32 < 15 Angst e colaboradores (2005)
O Beck Depression Inventory segunda versão (BDI-II) é uma escala extremamente
sensível a mudanças no estado clínico. O BDI é provavelmente a medida de
autoavaliação de intensidade de depressão mais amplamente utilizada, tanto em
pesquisa quanto na clínica (Bastos & Trentini, 2013). Ela consiste em 21 itens,
incluindo sintomas e atitudes, cuja intensidade varia de 0 a 3. Os itens referem-se a
tristeza, pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa,
sensação de punição, autodepreciação, autoacusações, ideias suicidas, crises de choro,
irritabilidade, retração social, indecisão, distorção da imagem corporal, inibição para
o trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de peso, preocupação
somática e diminuição da libido. Ao final do levantamento da versão brasileira
(Gorenstein et al., 2011), em que os escores são somados, pode-se fazer a classificação
dos sintomas depressivos de intensidade mínima (0-13 pontos), leve (14-19 pontos),
moderada (20-28 pontos) e grave (29-63 pontos).
A Hamilton Depression Rating Scale (HDRS) também é bastante utilizada. Ela
oferece graduações numéricas de 21 sintomas depressivos, que incluem, por exemplo,
humor deprimido, sentimentos de culpa e agitação (Hamilton, 1960). Existem várias
versões da escala, devendo o avaliador optar pela que melhor atende aos seus
objetivos (Hirschfeld, 2014). A HDRS brasileira foi validada por Gorenstein e
Andrade (1996).
O Patient Health Questionnaire (PHQ) é uma escala de aplicação bastante rápida.
Trata-se de um instrumento multiaxial utilizado para triagem, diagnóstico,
acompanhamento e mensuração do nível de depressão (Sprizer et al., 1999). O PHQ
tem nove perguntas, e algumas delas incluem critérios diagnósticos do DSM-IV (APA,
1994). Os resultados do PHQ são categorizados, podendo ir de “sem depressão” até
“depressão severa”. Há uma versão em português, preliminarmente validada (Monteiro,
Torres, Pereira, Albuquerque, & Morgadinho, 2013). Um estudo realizado no Brasil
estimou o ponto de corte em >9 (Santos et al., 2013).
Os questionários Inventory of ​Depressive Symptomology (IDS) e Quick Inventory
of De​pressive Symptomology (QIDS) foram desenvolvidos para oferecer maior
sensibilidade psicométrica do que o HDRS (Rush, 2003). Esses inventários incluem
itens que avaliam sintomas de depressão (p. ex., nível de energia, acordar muito cedo,
pensamentos de morte). Além disso, o IDS e o QIDS foram desenvolvidos para
possibilitar autoaplicação e aplicação pelo avaliador. Apesar de existirem versões de
ambos os testes em português, ainda não há estudos de adaptação e validação para o
Brasil.
A Montgomery-Asberg Depression Rating Scale (MSDRS) foi desenvolvida
inicialmente para ser utilizada em ensaios clínicos de pesquisas sobre medicamentos
antidepressivos (Mont​gomery & Asberg, 1979), mas acabou se disseminando também
na área clínica, sendo bastante utilizada. Ela consiste em 10 itens, que incluem tristeza
aparente, tristeza relatada, estafa e pensa​mentos suicidas, aplicados por um avaliador.
Carneiro, Fernandes e Moreno (2015) realizaram um estudo sobre as propriedades
psicométricas do MSDRS no Brasil e obtiveram bons resultados, estabelecendo o
ponto de corte em ≥4.
O Mood Disorder Questionnaire (MDQ) consiste em 15 questões e leva
aproximadamente cinco minutos para ser completado (Hirschfeld et al., 2000). As
primeiras 13 questões foram desenvolvidas para identificar sintomas maníacos ou
hipomaníacos que o paciente possa ter tido no passado. As últimas questões avaliam
grupos de sintomas e problemas funcionais. Pacientes que respondem “sim” a pelo
menos 7 das 13 questões iniciais e “problema moderado ou sério” nas perguntas de
problemas funcionais são considerados positivos para a possibilidade de bipolaridade.
A versão brasileira do MDQ foi validada por Gurgel, Rebouças, De Matos, Carneiro e
De Matos e Souza (2012).
A Hypomania/Mania Symptom Checklist (HCL-32), por sua vez, é outra escala ​-
amplamente utilizada para triagem de transtorno bipolar (Angst et al., 2005). Ela avalia
o estado ​emocional atual do paciente, assim como o nível de ​atividade, energia e
humor. Além disso, dirige-se especificamente a sintomas de mania e hipomania,
avaliando também questões do cotidiano do paciente, como frequência de brigas e
desentendimento com os pares, quantidade de consumo de café ou álcool, e fumo de
cigarros. O HCL-32 foi publicado no Brasil por Soares, Moreno, De Moura, Angst e
Moreno (2010). Nesse estudo, o ponto de corte para transtorno bipolar foi ≥18 pontos.
Alguns instrumentos diagnósticos estruturados (como o MINI, SCID, SCAN,
PRIME, etc.) são desenvolvidos especialmente para a realização do diagnóstico em
ambiente de pesquisa. São utilizados quando se quer padronizar e uniformizar o
processo diagnóstico. Sua sensibilidade e especificidade em relação ao exame clínico
variam, mas alguns apresentam resultados satisfatórios. No entanto, eles nunca
substituem de forma satisfatória o exame clínico.
Apesar de as escalas serem de grande valia, sozinhas não são suficientes para
realizar o diagnóstico. Outros métodos devem ser ​acrescentados ao processo de
avaliação. O diagnóstico de transtornos do humor é feito pela história clínica
cuidadosa, pela entrevista objetiva com familiares e pelo diagnóstico diferencial com
outras condições clínicas que podem levar a quadros semelhantes à depressão e que
eventualmente exigem exames laboratoriais ou de imagem. Além disso, alguns testes
psicológicos também auxiliam no processo diagnóstico.
TESTES PSICOLÓGICOS
Alguns testes psicológicos podem ser de extrema valia para fortalecer a impressão
diagnóstica de transtornos do humor. Entre eles, podemos citar o Rorschach, o TAT e o
HTP (entre os testes projetivos) e as escalas Wechsler (entre os testes de avaliação
cognitiva).
O Rorschach, o TAT e o HTP oferecem alguns dados sobre as características de
personalidade de uma pessoa, o que permite que os traços de personalidade sejam
separados dos efeitos de um transtorno sobre a personalidade ​(Bastos & Vaz, 2009;
Freitas, 2001). Essas técnicas são muito úteis na detecção de traços depressivos e/ou
hipomaníacos. A própria natureza das técnicas é voltada essencialmente para o
entendimento dinâmico da personalidade e de sua estruturação. Essas técnicas oferecem
um auxílio ​importante em termos de diagnóstico, levando-se em consideração que um
entendimento dinâmico profun​do pode servir de subsídio básico para um diagnóstico
diferencial. Recomenda-se um estudo rigoroso das técnicas antes da aplicação, do
levantamento e de sua interpretação.
As escalas Wechsler (WAIS, WISC e WASI) podem ser consideradas importantes
recursos para o diagnóstico diferencial, para a identificação de habilidades e déficits
cognitivos, e para a investigação do efeito de problemas ​emocionais no funcionamento
cognitivo. As versões das escalas Wechsler disponíveis para utilização clíni​ca no
Brasil são WAIS-III (Nascimento, 2004), WISC-IV (Rueda, Noronha, Sito, Santo, &
Castro, 2013) e WASI (Trentini, Yates, & Heck, 2014).
O diagnóstico de transtornos neuropsiquiá​tricos que afetam o funcionamento
mental está entre os objetivos mais frequentes para sua utilização (Nascimento, 2004).
A importância da utilização da WAIS, por exemplo, acentua-se diante da constatação de
que tanto pacientes ​deprimidos quanto pacientes bipolares apresentam perfil cognitivo
atípico, com prejuízos em áreas específicas da cognição (Bastos et al., 2013;
Schneider, Candiago, Rosa, Ceresér, & Kapczinski, 2008). Além disso, Bastos,Gomes,
Bandeira e Trentini (2011) demonstraram que o WAIS-III tem alto índice de
confiabilidade para uso em pacientes deprimidos.
Basso, Combs, Purdie, Candilis e ​Bornstein (2013) e Bastos e colaboradores
(2013) ​resumiram os principais domínios cognitivos que geralmen​te estão prejudicados
em pacientes deprimidos: flexibilidade associativa, fluência semântica, memória de
trabalho, velocidade de processamento e capacidade de aprendizagem. Além disso, a
depressão pode afetar o potencial de inteligência, a compreensão verbal, a percepção
espacial e o reconhecimento de objetos. Os pacientes bipolares, por sua vez,
demonstram déficits cogniti​vos claros durante a fase aguda da doença, e esses déficits
tendem a persistir mesmo quando o humor está estabilizado (Schneider et al., 2008).
Estudos mostram que as alterações cognitivas encontradas em bipolares relacionam-se,
principalmente, às seguintes funções: capacidade de aprendizagem, memória verbal,
funções executivas e coordenação motora (Robinson et al., 2006).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O DIAGNÓSTICO DAS
ALTERAÇÕES DO HUMOR NA INFÂNCIA E NA
ADOLESCÊNCIA
O diagnóstico de depressão e bipolaridade na infância e na adolescência é permeado
de dificuldades adicionais, em comparação com adultos. Pereira e Amaral (2007)
apontam que os erros diagnósticos são mais frequentes em crianças e jovens, trazendo
prejuízos importantes para o tratamento.
As dificuldades relatadas incluem os diferen​tes tipos de depressão existentes, a
variabilidade maior do quadro clínico por meio de sintomas atípicos, as comorbidades,
a sobreposição de fatores desenvolvimentais, a falta de queixa do próprio paciente e os
problemas relacionados ao am​biente familiar (Assumpção Jr., 2000; Pereira & Amaral,
2007).
McClure, Kubiszyn e Kaslow (2002) apontam que os critérios diagnósticos de ​-
transtornos do humor na infância e na adolescência não são padronizados de forma tão
fidedigna quanto em adultos, e que muitos estudos clínicos devem ser realizados para
estabelecer esses diagnósticos com precisão suficiente. Mesmo que a avaliação clínica
seja a melhor forma de se diagnosticar, alguns instrumentos podem facilitar essa
investigação (Abaid, 2008; Pereira & Amaral, 2007).
Existem escalas e instrumentos de medida da presença e severidade de sintomas
que foram desenvolvidos especificamente para a infância e a adolescência. As mais
utilizadas são a Escala de Depressão para Adolescentes de ​Reynolds ​(Reynolds
Adolescent Depression Scale – RADS), a Escala de Depressão para Crianças de
Reynolds (Reynolds Child Depression Scale – RCD), o Inventário de Depressão para
Crianças (Children’s Depression Inventory – CDI), a Escala de Depressão para
Crianças (Children’s Depression Scale – CDS), a Escala de Avaliação de Mania
(Mania Rating Scale – MRS), e o Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia
for School Aged Children Present and Lifetime Version (K-SADS-PL).
Entre os instrumentos citados, três têm versões em português com bons níveis ​-
psicométricos: o CDI (Golfeto, Veiga, Souza, & Barbeira, 2002; Wathier, Dell’Aglio, &
Bandeira, 2008), o CDS (Pereira & Amaral, 2004) e o K-SADS-PL (Brasil, 2003).
Esses instrumentos têm sido usados tanto em pesquisas como na clínica da infância e
adolescência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, buscou-se compilar alguns recursos psicométricos a serem
considerados para o psicodiagnóstico de possíveis transtornos do humor. O leitor deve
ter compreendido que a testagem psicológica não substitui uma boa e profunda
entrevista clínica; ela soma-se às entrevistas, em que se apresentam como fatores
importantes o nível de experiência e a capacitação do profissional que realiza a
avaliação (Bastos, 2014). No entanto, as escalas e os testes servem para subsidiar
decisões clínicas e para fortalecer o ​processo avaliativo, trazendo evidências
quantitativas e qualitativas sobre o paciente e sobre o que o acomete.
Algumas considerações finais devem ser feitas. O alto índice de comorbidade dos
transtornos do humor e seus limites com outros ​diagnósticos devem ser sempre levados
em consideração durante todo o psicodiagnóstico. O diagnóstico de um transtorno do
humor deve levar em conta, antes de tudo, se os sintomas que o paciente apresenta
podem ser causados por uma doença física e/ou por uso de drogas ou medicamentos.
Além disso, o avaliador deve estar atento aos seguintes diagnósticos diferenciais:
transtornos da personalidade, transtornos de ansiedade, alcoolismo,
farmacodependências, transtornos esquizofrênicos e quadros demenciais, pois eles têm
características que podem confundir o avaliador e levar a um falso-positivo para
transtornos do humor.
	Aviso
	Rosto
	Creditos
	Autores
	Prefácio
	Sumário
	Parte 1: O processo psicodiagnóstico
	1 Conceituação de psicodiagnóstico na atualidade
	O psicodiagnóstico exige a aplicação de testes psicológicos?
	Definição de psicodiagnóstico
	O psicodiagnóstico necessita de uma teoria psicológica que o fundamente
	O psicodiagnóstico é uma intervenção
	Considerações finais
	Referências
	2 Psicodiagnóstico: formação, cuidados éticos, avaliação de demanda e estabelecimento de objetivos
	Formação em psicodiagnóstico e questões éticas
	Psicodiagnóstico: pensando na demanda
	Objetivos do psicodiagnóstico
	Considerações finais
	Referências
	3 O processo psicodiagnóstico
	Referências
	4 Cuidados técnicos no início do psicodiagnóstico
	Como tudo começa
	Relação psicólogo-paciente no psicodiagnóstico
	Agradecimento
	Referências
	Leituras recomendadas
	5 Entrevista psicológica no psicodiagnóstico
	Referências
	6 A entrevista de anamnese
	Especificidades da entrevista de anamnese com pessoas de diferentes grupos etários
	Com quem deve ser realizada a entrevista de anamnese?
	Fontes complementares de informação
	A importância dos conhecimentos teóricos para a realização da entrevista de anamnese
	Informações insuficientes e fatores de confusão na entrevista de anamnese
	Procedimentos para aumentar a qualidade das informações da anamnese
	Considerações finais
	Agradecimentos
	Referências
	7 Escolha dos instrumentos e das técnicas no psicodiagnóstico
	Referências
	8 Entrevista lúdica diagnóstica
	Definindo entrevista lúdica diagnóstica
	Considerações finais
	Referências
	Leituras recomendadas
	9 O exame do estado mental e suas transformações
	O exame do estado mental
	Síndromes, transtornos e doenças mentais
	Fenomenologia, filosofia existencial e Karl Jaspers
	O que é fenomenologia ou abordagem fenomenológica? O que é psicopatologia?
	A questão das correntes ou escolas de pensamento, modelos ou paradigmas
	Reordenamento atualizado e dinâmico do exame do estado mental ao longo do ciclo vital
	Os exames da forma e da função (ou conteúdo) dos sintomas
	Agradecimentos
	Referências
	10 A influência do uso de fármacos no psicodiagnóstico
	Efeitos adversos neuropsicológicos de medicações não psiquiátricas
	Efeitos adversos psicológicos de medicações psiquiátricas
	Considerações finais
	Referências
	11 Genograma familiar
	Primeira etapa
	Segunda etapa
	Terceira etapa
	Quarta etapa
	Quinta etapa
	Considerações finais
	Referências
	12 Integração dos dados coletados e o diagnóstico psicológico
	Descrição da demanda
	Levantamento da história clínica
	Procedimentos
	Análise
	Conclusão
	Considerações finais
	Referências
	13 Devolução das informações do psicodiagnóstico
	A técnica da devolução das informações no psicodiagnóstico
	As indicações terapêuticas
	O prognóstico
	Considerações finais
	Referências
	14 Elaboração de documentos decorrentes da avaliação psicológica
	Resolução CFP n° 07/2003
	Considerações finais
	Referências
	Leituras recomendadas
	15 Psicodiagnóstico interventivo
	Origens do psicodiagnóstico interventivo
	Fundamentos do psicodiagnóstico interventivo de orientação psicanalítica
	A clínica e a pesquisa do psicodiagnóstico interventivo
	Considerações finais
	Referências
	Leituras recomendadas
	16 Técnicas e modalidades de supervisão em psicodiagnóstico
	Processo de supervisão em psicodiagnóstico
	Técnicasde supervisão em psicodiagnóstico
	Diretrizes e modelos teóricos de supervisão
	Considerações finais
	Referências
	Parte 2: Especi­ficidades do psico­diagnós­tico de crianças, adoles­centes e idosos
	17 Entrevista com pais e demais fontes de informação
	Entrevistando os pais
	Ferramentas auxiliares
	Entrevistando o professor, a equipe técnica escolar e os profissionais da saúde
	Referências
	18 Critérios de análise do brincar infantil na entrevista lúdica diagnóstica
	Propostas encontradas na literatura
	A influência da noção de campo analítico no processo avaliativo de crianças na atualidade
	O uso de critérios de análise da entrevista lúdica diagnóstica na atualidade
	Cuidados necessários para o uso adequado do roteiro de análise da entrevista lúdica diagnóstica
	Roteiro de análise da entrevista lúdica diagnóstica
	Considerações finais
	Referências
	19 Cuidados no estabelecimento do diagnóstico psicológico na infância e adolescência
	O cuidado com as impressões iniciais
	O cuidado com o diagnóstico psicopatológico na infância
	O cuidado com os elementos familiares e sociais
	O cuidado com os elementos desenvolvimentais
	O cuidado com os elementos sintomatológicos
	O cuidado com os elementos metapsicológicos
	Considerações finais
	Referências
	20 Testagem psicológica com crianças e adolescentes
	Referências
	Leituras recomendadas
	21 Psicodiagnóstico de idosos
	O paciente e as demandas do psicodiagnóstico clínico
	Principais quadros observados
	Operacionalização do Psicodiagnóstico com Idosos
	Devolução dos resultados
	Considerações finais
	Referências
	Leituras recomendadas
	Parte 3: Especi­ficidades do psico­diagnós­tico: inteli­gência e persona­lidade
	22 Psicodiagnóstico e inteligência
	Explorações contemporâneas (1937-1967) e esforços atuais
	Alterações na inteligência
	Considerações finais
	Referências
	23 Psicodiagnóstico e as patologias da personalidade
	Definindo e entendendo personalidade
	Avaliação psicológica da personalidade
	Métodos de avaliação da personalidade e dos transtornos da personalidade
	Organizando a bateria de avaliação da personalidade
	As personalidades patológicas
	Outras questões importantes e considerações finais
	Referências
	Leitura recomendada
	Parte 4: Especi­ficidades do psico­diagnós­tico nas altera­ções psico­lógicas mais pre­valentes
	24 Psicodiagnóstico e transtorno do espectro autista
	A identificação dos sinais de alerta para transtorno do espectro autista e seus desafios
	Instrumentos de rastreamento: realidade brasileira
	O encaminhamento e a avaliação psicológica de crianças com suspeita de transtorno do espectro autista
	ÁREA I – Avaliação da comunicação e da interação social
	ÁREA II – Relação com os objetos/brincadeira
	ÁREA III – Comportamentos estereotipados e autolesivos
	Conclusões da avaliação
	Considerações finais
	Referências
	Leituras recomendadas
	25 Psicodiagnóstico e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade
	Diagnóstico clínico
	Avaliação dos sintomas
	Investigação de diagnóstico diferencial
	Investigação de comorbidades
	Investigação da história clínica
	Uso de testes psicológicos
	Avaliação cognitiva
	Avaliação da personalidade/projetiva
	Considerações finais
	Referências
	26 Psicodiagnóstico e alterações do humor
	Aspectos gerais dos transtornos do humor
	Triagem psicológica e psiquiátrica dos transtornos do humor
	Escalas de avaliação
	Testes psicológicos
	Algumas considerações sobre o diagnóstico das alterações do humor na infância e na adolescência
	Considerações finais
	Referências
	27 Psicodiagnóstico e ansiedade
	Descrição dos quadros de transtornos de ansiedade
	Etiologia dos transtornos de ansiedade
	Especificidades da avaliação psicodiagnóstica nos transtornos de ansiedade
	Considerações finais
	Referências
	Leitura recomendada
	28 Psicodiagnóstico nas psicoses
	Entendendo as psicoses
	Especificidades do psicodiagnóstico com pacientes psicóticos
	Instrumentos de triagem
	Considerações finais e perspectivas futuras
	Referências
	29 Psicodiagnóstico e transtornos por uso de substâncias
	Substâncias psicoativas: conceitos fundamentais
	Psicodiagnóstico nos transtornos por uso de substâncias psicoativas
	Aspectos comportamentais e neurobiológicos do transtorno por uso de substâncias
	Processos cognitivos implícitos e transtornos por uso de substâncias
	Considerações finais
	Referências
	Leituras recomendadas
	30 Psicodiagnóstico e alterações neurocognitivas em idosos
	Novas concepções diagnósticas dos transtornos cognitivos
	Novas concepções diagnósticas e respectivas alterações neurofisiológicas
	Considerações ante a avaliação clínica de idosos
	Instrumentos de avaliação neurocognitiva de idosos
	Considerações finais
	Referências
	31 Estudos de caso em psicodiagnóstico: criança, adolescente e adulto
	Caso 1 Criança: “Ela tem um atraso de três anos e é muito imatura”
	Caso 2 Adolescente: “Dificuldades de aprendizagem, atenção, memorização e iniciativa”
	Caso 3 Adulto: “Eu não consigo me lembrar”
	Agradecimentos
	Referências
	Conheça também
	Sobre o Grupo A

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