Buscar

Apostila 2 de Bioquímica Clínica - Análise Das Proteínas e Hepatogram

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Bioquímica Clínica 
Análise Das Proteínas e Hepatograma 
 
 
DESCRIÇÃO 
Principais aminoacidopatias. Proteínas plasmáticas, de fase aguda e do metabolismo do ferro. 
Hepatograma. 
PROPÓSITO 
Conhecer as características dos aminoácidos, das proteínas e enzimas hepáticas é fundamental 
para compreender os distúrbios/patologias que envolvem esses elementos, permitindo determinar 
de forma acurada os exames laboratoriais e o fornecimento de diagnósticos mais precisos. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Descrever os distúrbios no metabolismo de aminoácidos e os padrões de eletroforese de 
proteínas plasmáticas em diferentes patologias 
Módulo 2 
Descrever o metabolismo do ferro, suas deficiências e o diagnóstico laboratorial 
Módulo 3 
Relacionar as patologias hepáticas com as alterações no hepatograma 
INTRODUÇÃO 
Quando estudamos a fisiologia humana, dividimos o organismo em várias partes para facilitar a 
análise, mas os sistemas estão todos integrados, não é verdade? Portanto, aqui, você estudará 
a Análise de proteína e hepatograma dividida em três módulos: um sobre aminoácidos e 
proteínas; outro sobre metabolismo do ferro; e o último sobre o fígado. 
À primeira vista, os assuntos podem parecer estranhos entre si, mas, acredite, não são. Veremos 
as alterações genéticas pontuais que afetam vias metabólicas de aminoácidos, causando 
distúrbios ligados a funções hepáticas e alterando o perfil proteico no plasma sanguíneo. Logo, 
pequenas mudanças geram alterações que impactam todo o organismo. 
O fígado é o órgão que produz a maior parte das proteínas plasmáticas e de fase aguda. Entre 
elas, estão aquelas que participam do metabolismo do ferro. O bom funcionamento desse órgão 
complexo e vital para a manutenção da vida pode ser avaliado com a ajuda de exames 
laboratoriais que envolvem essas e outras substâncias, permitindo auxiliar diagnósticos e 
acompanhar patologias associadas. Para isso, você precisará, primeiro, entender cada parte 
desse todo. 
Vamos lá! 
MÓDULO 1 
 
Descrever os distúrbios no metabolismo de aminoácidos e os padrões de eletroforese de 
proteínas plasmáticas em diferentes patologias 
DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DE AMINOÁCIDOS 
 
Cadeia de aminoácidos ou biomoléculas chamadas proteínas. 
 
As proteínas são as moléculas orgânicas mais abundantes no corpo humano e desempenham 
funções vitais para o organismo, como catálise de reações químicas, transporte, contração 
muscular, sinalização intracelular, controle da expressão gênica e funções estruturais. Elas são 
formadas a partir da união de aminoácidos por meio de ligação peptídica: ligação covalente entre 
o radical amino (-NH2) de um aminoácido e o ácido carboxílico (-COOH) de outro. 
 
Estrutura molecular e a formação de ligação peptídica entre eles. 
 
Os distúrbios do metabolismo de aminoácidos, também chamados de aminoacidopatias, são, em 
sua maioria, hereditários. Transmitidos de forma autossômica recessiva, ou seja, cada um dos 
pais transmite uma cópia do gene defeituoso. O defeito afeta a atividade de determinadas 
enzimas, causando acumulação de substratos que, em alguns casos, podem ser tóxicos e gerar 
danos a tecidos e/ou órgãos. Em outros, pode levar à diminuição da produção de produtos 
importantes do metabolismo, como veremos mais adiante. 
Os quadros clínicos, portanto, resultam de defeitos na decomposição (metabolismo/ação 
enzimática) dos aminoácidos, acarretando maiores concentrações nos líquidos biológicos, como 
sangue, urina, líquor e outros. 
Algumas aminoacidopatias se apresentam como defeitos no transporte de aminoácidos nos 
túbulos renais. Nesses casos, esses distúrbios renais são chamados de distúrbios renais de 
aminoácidos, com o aumento de aminoácidos sendo detectados apenas na urina. 
PRINCIPAIS AMINOACIDOPATIAS 
 
Fenilcetonúria (PKU) 
Este é um dos distúrbios do metabolismo de aminoácidos mais conhecidos. A criança nasce com 
quantidades insuficientes da enzima fenilalanina hidroxilase, responsável pela catálise da 
fenilalanina em tirosina, levando ao acúmulo de fenilalanina, fenilpiruvato e fenilactato no plasma 
e na urina. 
Se o defeito não for detectado de forma rápida e o bebê submetido a uma dieta especial, pode 
desenvolver retardo mental, já que a fenilalanina é tóxica para o cérebro. Vale ressaltar que 
existem três tipos de PKU, de acordo com a atividade da enzima hidroxilase. Veja a seguir alguns 
tipos de fenilcetonúria. 
 
Fenilcetonúria clássica 
A atividade da enzima praticamente não existe (inferior a 1%). Nesses casos, os níveis 
plasmáticos de fenilalanina são superiores a 20 mg/dL. 
 
Fenilcetonúria leve 
A atividade da enzima é de 1 a 3% e os níveis plasmáticos de fenilalanina estão entre 10 mg/dL e 
20 mg/dL. 
 
Hiperfenilalaninemia transitória ou permanente 
A atividade enzimática é superior a 3% e os níveis de fenilalanina ficam entre 4 mg/dL e 
10 mg/dL. Este quadro é benigno e não apresenta sintomatologia. 
Qual teste poderia ajudar a diagnosticar doenças metabólicas, genéticas e infecciosas? 
Saiba mais 
 
Doença de Hartnup 
Este é outro defeito inato e envolve o transporte de aminoácidos nos túbulos renais e no intestino. 
Neste caso, os aminoácidos neutros não são devidamente reabsorvidos e são encontrados em 
grandes quantidades na urina. Também é comum ter quantidades aumentadas de indóis na urina. 
Os indóis são metabólitos resultantes da decomposição bacteriana do triptofano, quando esse 
aminoácido não é absorvido no intestino. 
O quadro clínico da doença, como o desenvolvimento de dermatite e ataxia cerebelar, parece ser 
consequência da falha em absorver o triptofano no intestino e também de reabsorvê-lo nos 
túbulos renais. Isso leva à deficiência de nicotinamida: vitamina essencial do complexo B, sendo 
uma forma da vitamina B3. 
Doença da urina de xarope de bordo (DXB) 
Também conhecida como leucinose, a DXB é uma doença inata que afeta o metabolismo dos 
aminoácidos leucina, isoleucina e valina. O distúrbio é caracterizado pela deficiência de atividade 
do complexo enzimático alfacetoácido-desidrogenase, levando ao acúmulo dos subprodutos 
desses aminoácidos. Isso causa alterações neurológicas, como convulsões e deficiência 
intelectual, e produz um odor característico na urina – que também pode se apresentar em outros 
líquidos corporais. 
Você sabia 
O xarope de bordo, em inglês maple syrup, é pouco conhecido no Brasil, mas utilizado nos 
Estados Unidos e no Canadá como condimento para as panquecas. Ele apresenta cheiro 
adocicado que lembra açúcar queimado ou caramelo, mesmo cheiro observado na urina dos 
pacientes com DXB. 
A presença da DXB é detectada pelo aumento dos aminoácidos no sangue em exames de 
triagem neonatal ampliada (que não é fornecida pelo SUS), utilizando a espectrometria de 
massa em tandem. O diagnóstico é confirmado por exame genético, conforme discutiremos a 
seguir. 
Cistinúria e cistinose 
A cistinúria é um exemplo de distúrbio inato que afeta o transporte de aminoácidos nos túbulos 
renais. O defeito leva à menor reabsorção de cistina, o que aumenta a sua concentração na urina. 
A cistina é resultado da oxidação do aminoácido cisteína e, por ser mais estável, é a maneira que 
prevalece tanto no sangue quanto na urina. O excesso de cistina forma cálculos de cistina, devido 
à sua baixa solubilidade na urina ácida. Os cristais terminam por se depositarem nos rins, na 
bexiga, na pelve renal e/ou nos ureteres. Isso pode levar à insuficiência renal ou à infecção do 
trato urinário, já que os cristais podem criar um ambiente propício ao acúmulo de bactérias. 
Veja a seguir as três formas clínicas de cistinose. 
 
Cistinose infantil 
É a forma mais comum e mais agressiva. Também chamada de cistinose nefropática. 
 
Cistinose de aparecimento tardio 
Também denominada cistinose juvenil ou intermediária. É mais branda do que a infantil. Na 
imagem, há cálculos de cistina encontrados na urina. 
 
Cistinose benigna 
Chamada também de cistinose não nefropática. É a forma mais branda,costuma acometer os 
adultos afetando apenas os olhos. 
É importante não confundir cistinúria com cistinose. Na cistinose, há comprometimento do 
transporte de cistina dos lisossomos para o citoplasma, resultando no seu acúmulo no interior dos 
lisossomos. Ou seja, na cistinose, a cistina se acumula nas células e em diferentes tecidos, e 
não é excretada em excesso na urina como na cistinúria. 
Homocistinúria clássica 
Esta é outra doença hereditária recessiva autossômica. Neste caso, o metabolismo afetado é do 
aminoácido homocisteína, resultante da metabolização do aminoácido metionina proveniente da 
alimentação. O distúrbio é causado pela ausência da enzima cistationina β-sintase, levando ao 
acúmulo de homocisteína e metionina. 
O quadro clínico pode apresentar distúrbios de visão, deficiência intelectual e anomalias 
esqueléticas. O diagnóstico laboratorial se baseia em exames de sangue e urina para dosar os 
níveis dos aminoácidos envolvidos. É possível utilizar o teste do pezinho para o diagnóstico 
precoce. 
Tirosinemia 
Esta doença hereditária é resultante de uma mutação que afeta enzimas que metabolizam o 
aminoácido tirosina. A metabolização da tirosina acontece em cinco etapas e o distúrbio pode 
afetar três das enzimas que participam desta transformação, são elas: 
Tirosinemia tipo I 
Resultado da deficiência da enzima fumarilacetoacetato hidrolase, com acúmulo de 
fumarilacetoacetato. Apresenta a clínica mais agressiva, podendo, em sua forma crônica, levar 
à insuficiência hepática, crise neurológica e até hepatocarcinoma. 
Tirosinemia tipo II 
Resultado da deficiência da enzima tirosina aminotransferase e da não formação do ácido 4-
hidroxifenilpiruvato. Essa forma não está associada a danos hepáticos e sua clínica costuma 
acometer olhos, pele e Sistema Nervoso Central. 
 
Tirosinemia tipo III 
A deficiência da enzima 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase, que gera um acúmulo de tirosina 
e do ácido 4-hidroxifenilpiruvato, tem pouca incidência e geralmente só acomete o Sistema 
Nervoso Central. 
 
Em todos os tipos de tirosinemia, a análise laboratorial característica é aminoacidemia acentuada 
e altas concentrações de tirosina, fenilalanina e metionina no sangue. Contudo, o achado 
relevante é a presença de succinilacetona na urina (ou no líquido amniótico, no caso de pré-
natal). 
No caso de suspeita de tirosinemia do tipo III, também é possível realizar testes de função 
hepática (que estudaremos a seguir). Para confirmação de diagnóstico, podem ser realizados 
testes genéticos. 
Alcaptonúria 
Também conhecida como acidúria homogentísica, a alcaptonúria é outra doença hereditária 
autossômica recessiva. Neste caso, o defeito leva à deficiência da enzima ácido homogentísico 
oxidase que, por sua vez, leva ao acúmulo do ácido homogentísico ̶ um composto intermediário 
da via de degradação dos aminoácidos fenilalanina e tirosina, no sangue, na urina e nos tecidos. 
O ácido homogentísico se oxida e polimeriza em contato com o ar, formando a alcaptona (por 
isso, o nome alcaptonúria), um pigmento negro que dá cor à urina dos afetados pela doença. O 
pigmento também pode se depositar em órgãos e tecidos, o que é chamado de ocronose. 
Os sinais clínicos mais comum são: artropatia ocronótica, ocronose cardiovascular, cutânea e 
ocular, e obstrução do trato geniturinário por cálculos ocronóticos. O diagnóstico se baseia na 
coloração da urina e detecção do ácido homogentísico no plasma e na urina. 
Análise clínica das aminoacidopatias 
As aminoacidopatias podem ter seu diagnóstico a partir da análise das concentrações de 
aminoácidos no plasma e/ou na urina. No caso das aminoacidopatias hereditárias, a amostra 
mais relevante é o plasma, que fornece uma visão geral da via metabólica. 
Como a excreção dos aminoácidos é muito variável, a urina não se apresenta como uma boa 
amostra para análise. Entretanto, ela é a melhor escolha para análise das aminoacidopatias 
renais, porque, nesses quadros, o metabolismo dos aminoácidos está normal, mas a reabsorção 
nos túbulos renais está comprometida. As anormalidades aparecerão na urina. 
TESTE DETECTA PATOLOGIA 
Cianetonitroprussiato Grupamentos sulfidrila Cistinúria e homocistinúria 
Nitrosonaftol Metabólitos da tirosina Tirosinemia 
Cloreto férrico Cetoácidos Fenilcetonúria 
Concomitante a estes testes, utiliza-se cromatografia semiquantitativa no sangue e na urina 
Quadro: Testes urinários para investigação de aminoacidopatias. 
 
Elaborado por Kathleen Gonçalves. 
Nenhum dos testes nesse quadro é específico. Contudo, resultados positivos podem direcionar 
para a realização de exames mais acurados. Quando apontam que determinado aminoácido está 
em concentrações maiores do que o normal, é indicado o uso de técnicas quantitativas, como 
a cromatografia de troca iônica, rotineiramente usada na análise de aminoácidos. 
Em casos agudos, devido ao tempo de análise, ela tem sido substituída pela espectrometria de 
massa em tandem, técnica bastante sensível e rápida, que permite diagnóstico de amplo 
espectro de doenças metabólicas em uma única corrida analítica, como a PKU e outras 
hiperfenilalaninemias; DXB; homocistinúria; tirosinemias do tipo I, II e III; alcaptonúria e outras 
aminoacidopatias. As amostras são de sangue, coletadas em papel filtro. 
A cromatografia líquida (HPLC), que usa amostras de plasma heparinizado ou urina, também é 
bastante precisa e permite quantificar diversos aminoácidos ao mesmo tempo. Para dosagem de 
succinilacetona na urina (tirosinemia do tipo I), é comum usar cromatografia gasosa acoplada à 
espectrometria de massa. 
Para confirmação de distúrbios inatos do metabolismo de aminoácidos em indivíduos já nascidos, 
o sequenciamento completo do gene de interesse costuma ser o teste de escolha, realizado a 
partir de amostra de sangue total. No caso dos exames pré-natal, essa confirmação dos 
distúrbios inatos do metabolismo poderia ser das seguintes formas: 
 
Procedimento para realização da Amniocentese. 
 
Amniocentese – Procedimento invasivo para obter líquido amniótico a partir da 15ª semana de 
gestação. Alguns exames utilizam diretamente o líquido amniótico, mas a maioria dos testes 
depende da cultura celular inicial. 
 
Representação da vilosidade coriônica. 
 
Amostras de vilosidade coriônica – Procedimento invasivo para obter o tecido-alvo realizado 
entre a 10ª e a 12ª semanas de gestação. A vantagem sobre a amniocentese é o menor tempo 
para coleta; contudo, o risco de perda fetal é mais elevado. 
 
Estrutura de DNA. 
 
Análise pré-natal de DNA – Realizada no caso em que os pais são afetados pela doença ou são 
portadores conhecidos da mutação. 
ALBINISMO E O METABOLISMO DA TIROSINA 
A especialista Kathleen da Silva Gonçalves fala sobre a fisiopatologia do albinismo e seu 
diagnóstico clínico e laboratorial. 
PROTEÍNAS PLASMÁTICAS 
 
Os níveis plasmáticos das proteínas têm grande relevância na avaliação do estado nutricional dos 
indivíduos e no diagnóstico de doenças sistêmicas, tanto agudas como crônicas. 
A dosagem isolada de proteínas plasmáticas totais não permite uma avaliação precisa, pois o 
aumento dos níveis de determinada fração pode, por exemplo, ser compensado pela diminuição 
dos níveis de outra fração de proteínas (veremos mais adiante o que representam essas frações). 
Entretanto, há casos em que alterações nos valores totais podem indicar determinados quadros 
clínicos como, por exemplo: 
Quando há diminuição acentuada dos níveis proteicos, característica de estados de desnutrição 
grave, doenças hepáticas e renais. 
Quando há aumento acentuado, característico de certas doenças infecciosas ou alguns tipos de 
câncer, como o mieloma múltiplo. 
Já foram identificados mais de cem tipos de proteínas no plasma sanguíneo, estudados a partir 
de sangue coletado sem anticoagulante separando-se o soro. Elas podem ser avaliadas como 
proteínas totais pelos métodos bioquímicos (turbimetria, floculação, química seca), imunológicos 
ou por ultracentrifugação. Porém,quando se quer avaliar componentes específicos, utiliza-se a 
técnica de eletroforese padrão de proteínas plasmáticas, que permite o fracionamento dessas 
moléculas em cinco frações: albumina, alfa-1 globulina, alfa-2 globulina, betaglobulina e 
gamaglobulina, conforme a figura a seguir. 
 
Padrão eletroforético normal das frações de proteínas plasmáticas no soro. 
 
Para se fazer uma análise clínica correta a partir das alterações apresentadas no resultado da 
eletroforese, é indispensável conhecer os valores normais apresentados na tabela a seguir. 
Proteínas* % g/dL 
Totais 100 6,0 a 8,0 
Albumina 50,0 a 63,0 3,2 a 5,5 
Alfa-1 2,5 a 5,7 0,2 a 0,4 
Alfa-2 5,8 a 13,0 0,5 a 0,9 
Beta 8,5 a 14,7 0,6 a 1,1 
Gama 11,8 a 20,2 0,7 a 1,5 
* Os valores relativos e absolutos apresentam pequenas variações dependendo dos diferentes 
reagentes bioquímicos e tipos de eletroforese usados. 
Tabela: Intervalos normais das concentrações totais e frações de proteínas plasmáticas no soro. 
Extraída de NAOUM, P. C., 2010, p.291. 
A eletroforese, juntamente com a dosagem de proteínas totais, oferece um quadro bem completo 
para a análise de determinadas patologias e pode ser utilizada também para o acompanhamento 
da evolução clínica dos pacientes. 
Análise laboratorial de proteínas plasmáticas 
O fígado é o local onde a maioria das proteínas plasmáticas é produzida e, por esse motivo, a 
análise das proteínas séricas é fundamental para avaliação da função desse órgão. Não se 
preocupe, nosso foco agora serão as proteínas plasmáticas, e a função hepática abordaremos no 
último módulo. 
Os métodos laboratoriais para o estudo das proteínas circulantes podem ser quantitativos, 
semiquantitativos ou qualitativos. Os utilizados mais frequentemente são: 
Determinação da concentração de proteínas totais 
Determinação da relação albumina/globulinas 
Separação por eletroforese das proteínas séricas 
Qual a diferença entre análise qualitativa e análise quantitativa? 
Análise qualitativa 
Os elementos a serem detectados são identificados a partir da coloração, odor, ponto de fusão, 
ponto de ebulição e solubilidade. Ex.: No caso da eletroforese, a análise qualitativa é feita pela 
comparação dos tempos de migração dos padrões utilizados com os tempos de migração das 
proteínas do soro. 
Análise quantitativa 
É realizada por densitometria, que calcula a porcentagem da área de cada fração. 
Eletroforese de proteínas no soro 
Grande parte das patologias que envolvem proteínas do plasma afeta não apenas uma, mas um 
grupo de componentes proteicos. É por isso que a análise dos padrões eletroforéticos é bastante 
comum nos diagnósticos médicos. 
A eletroforese de proteínas, apesar de ser um método semiquantitativo, permite a dosagem da 
concentração total das proteínas em amostras de soro de pacientes. 
Durante o exame laboratorial, podemos usar duas metodologias de eletroforese: a eletroforese 
convencional ou a capilar, que são: 
 
Eletroforese convencional 
As proteínas migram em um meio poroso, que pode ser de acetato de celulose, gel de agarose ou 
gel de poliacrilamida. A separação acontece com a formação de bandas (frações) de proteínas. É 
um método manual em sistema aberto, ou seja, o meio em que as proteínas migram é 
manipulado. 
 
Eletroforese capilar 
As proteínas migram por um tubo capilar e são separadas por tamanho e pelas propriedades 
físico-químicas. É um sistema fechado e pode ser manual ou automatizado. 
Na eletroforese convencional, obtêm-se cinco frações, já na eletroforese capilar, que possui alta 
capacidade de resolução, é possível verificar seis frações, pela subdivisão da fração beta em 
beta-1 e beta-2. Outra vantagem da eletroforese capilar é que o processo pode ser automatizado 
e, assim, os resultados são mais rapidamente liberados. 
(A) Gráfico da separação eletroforética de proteínas do soro. (B) Frações proteicas separadas em 
gel por eletroforese. Em ambos, vemos o padrão normal das frações. 
Podemos utilizar diferentes métodos. O quadro a seguir faz um resumo desses métodos: 
Método Aplicação Resolução
Acetato de celulose Rotina laboratorial Boa 
Gel de agarose Rotina laboratorial Boa 
Gel de poliacrilamida Pesquisa Excelente 
Isoeletrofocalização Screening (triagem de alterações enzimáticas) e pesquisa Excelente 
Capilar eletro-osmótica Rotina laboratorial Excelente 
Quadro: Sensibilidade e aplicação dos principais métodos eletroforéticos. 
Extraído de NAOUM, P. C., 2010, p. 6. 
PROTEÍNAS DAS FRAÇÕES ELETROFORÉTICAS 
 
Albumina 
É a proteína mais abundante no plasma (60% do total proteico). É produzida no fígado e suas 
principais funções são a manutenção da pressão osmótica no plasma e o transporte de diversas 
substâncias endógenas e exógenas, como os ácidos graxos e fármacos. 
Por ser uma molécula de tamanho bem reduzido, é comum ser excretada pela urina quando há 
danos aos glomérulos renais. A diminuição acentuada de sua concentração, chamada 
de hipoalbuminemia, é indicativa de quadros clínicos caracterizados por: 
1. Síntese reduzida, como nas hepatopatias; 
2. Aumento do seu catabolismo, como em neoplasias malignas, insuficiência cardíaca 
congestiva, doenças inflamatórias e infecciosas crônicas; 
3. Perda acentuada, como em síndrome nefrótica, enteropatias e queimaduras graves. 
 
A albumina atua na manutenção da pressão oncótica, sua baixa concentração gera o edema. 
Alfa-1 globulina 
Embora essa fração seja formada por várias proteínas, 90% dela é composta de alfa-1 
antitripsina. A porção restante é composta por alfa-1 glicoproteína ácida, alfafetoproteína e 
algumas proteínas carreadoras. 
A alfa-1 antitripsina é um inibidor de proteases e seus níveis geralmente estão aumentados 
quando há processos inflamatórios, infecciosos e imunes. Essa proteína é codificada por dois 
alelos codominantes denominados M e Z. A homozigose ZZ acarreta redução drástica ou, até, a 
ausência da proteína e está relacionada ao surgimento de enfisema panlobular grave ou cirrose 
hepática na infância. Nesses casos, a eletroforese de proteínas plasmáticas possibilita o 
diagnóstico, pois a fração alfa-1 praticamente desaparece, mas o diagnóstico deve ser 
confirmado por técnicas imunoenzimáticas. Entretanto, os casos de heterozigose para a 
deficiência de alfa-1 antitripsina não podem ser detectados pela eletroforese. 
A proteína alfa-1 glicoproteína ácida (AAGP), também chamada de orosomucoide, é outra 
proteína de fase aguda encontrada nessa fração. Ela faz parte do grupo das mucoproteínas e é 
sintetizada nos hepatócitos. 
O exame de mucoproteínas no sangue é utilizado para monitoramento de processos 
inflamatórios. No entanto, este ensaio não apresenta boa reprodutibilidade por sofrer interferência 
de fatores como temperatura e tempo de estocagem. Por isso, ele é substituído pela dosagem da 
AAGP, que é a principal constituinte destas glicoproteínas. 
A amostra é de sangue e o método, em geral, é a imunoturbidimetria. Veja a seguir o que seus 
níveis podem indicar. 
Níveis aumentados 
Níveis aumentados 
 Artrite reumatoide; 
 Lúpus eritematoso disseminado; 
 Neoplasias; 
 Infarto do miocárdio; 
 Outros casos com quadros inflamatórios e traumas. 
Níveis reduzidos 
Níveis reduzidos 
 Hepatopatias graves; 
 Enteropatias com perda proteica; 
 Desnutrição. 
Alfa-2 globulina 
É composta por proteínas como haptoglobina, alfa-2 macroglobulina, ceruloplasmina, 
eritropoetina, colinesterase e outras, mas a maior parte corresponde à haptoglobina e alfa-2 
macroglobulina. Sua concentração aumenta frente a infecções, quadros inflamatórios e processos 
imunológicos, pois, assim como a fração alfa-1, é uma proteína de fase aguda. 
A alfa-2 macroglobulina é um inibidor de proteases produzido pelo fígado, por isso sua diminuição 
é observada em quadros de hepatopatias crônicas. Já a elevação de seus níveis é característica 
da síndrome de deficiência imunológica adquirida (AIDS). Na síndrome nefrótica, sua 
concentração cresce de forma significativa (cercade 10 vezes). Como é uma das maiores 
proteínas globulínicas, seus níveis séricos podem ficar iguais, ou até maiores, do que os da 
albumina. 
A haptoglobina é um marcador bastante sensível de hemólise intravascular. Por esse motivo, 
em síndromes hemolíticas, como alguns tipos de anemias, seus níveis se encontram 
notadamente diminuídos. Apresenta-se com concentrações aumentadas em processos 
inflamatórios agudos. 
Betaglobulina 
Composta por um grupo bem heterogêneo de proteínas. As mais importantes do ponto de vista 
clínico são a transferrina e o complemento C3. 
A transferrina tem como função primordial o transporte do ferro no plasma sanguíneo. Assim, a 
elevação dos seus níveis séricos é um bom indicador de carência de ferro, como acontece na 
anemia por deficiência de ferro (anemia ferropriva). Concentrações diminuídas são observadas 
em hepatopatias crônicas, uma característica comum nas proteínas sintetizadas no fígado. 
Voltaremos a falar da transferrina no próximo módulo. 
O complemento C3 é um componente do sistema complemento e atua como mediador em 
diversas reações que envolvem o sistema imunológico. Também é considerado uma proteína de 
fase aguda e, portanto, a elevação de seus níveis plasmáticos é um importante marcador da 
presença de processos infecciosos. 
Saiba mais 
É possível separar as frações em beta-1 e beta-2 globulinas ao acrescentarmos 100 mg de cálcio 
em um litro do tampão utilizado na eletroforese. 
Gamaglobulina 
É composta por todas as classes de imunoglobulinas (Igs): IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, que podem 
ser encontradas no plasma sanguíneo e nos líquidos orgânicos. Cada uma dessas 
imunoglobulinas tem concentrações e funções diferentes em nosso organismo, conforme 
observado no quadro a seguir. A maioria dos anticorpos no plasma é do tipo IgA, IgG e IgM. 
Tipos Concentração 
plasmática 
Características e principais funções 
IgA 10 a 15% Imunoglobulinas presentes nas secreções das mucosas, líquidos 
intestinais e lágrimas. Sua principal função é antimicrobiana. 
IgD < 1% A função da IgD circulante é desconhecida. 
IgE < 0,5% Medeia reações alérgicas e de hipersensibilidade. 
IgG 70 a 75% Ativação do complemento, neutralização de toxinas e combate às 
infecções. A IgG1 é a subclasse predominante, constituindo 65% da IgG 
total. A IgG de origem materna proporciona imunidade passiva ao recém-
nascido e é transportada pela placenta. 
IgM 5 a 10% Primeiro anticorpo que aparece na resposta a um antígeno. Pode ser 
produzida pelo feto e não atravessa a placenta. 
Quadro: Características das imunoglobulinas plasmáticas. 
Elaborado por Kathleen Gonçalves. 
 
Na corrida eletroforética das gamaglobulinas, apenas a IgG apresenta migração por toda a banda 
da fração gama. Além disso, por ter a maior concentração entre as globulinas, as alterações 
nessa zona acabam por refletir o que acontece com essa imunoglobulina. 
A IgA é a que aparece mais próxima do polo negativo (anodo) e pode se localizar na área de 
encontro da fração gama com a beta. A IgM é menos anódica e migra na zona eletroforética da 
betaglobulina, quando estimulada (nos casos de infecções agudas). É possível detectá-la na 
região entre a IgA e a IgG. Existem situações clínicas em que a delimitação entre as zonas beta e 
gama não aparece, essa fusão geralmente ocorre em soro e plasma de pacientes com cirrose 
hepática. 
A seguir veja a representação do comportamento eletroforético das imunoglobulinas. 
 
Relação das imunoglobulinas com o padrão eletroforético das proteínas séricas. 
É comum investigar e suspeitar da presença de processos inflamatórios a partir da concentração 
plasmática das imunoglobulinas. Esse valor é determinado relação albumina/proteínas totais. A 
diferença entre as duas concentrações informa o valor aproximado da fração de globulinas totais. 
Como a maior parte das globulinas totais é composta de imunoglobulinas, esse valor é indicativo 
da presença ou não de processo inflamatório de maneira inespecífica. 
Vamos agora conhecer os principais padrões eletroforéticos da fração gama: 
PICO POLICLONAL 
Quando as imunoglobulinas são produzidas por diferentes plasmócitos, chamamos a banda 
de policlonal. 
Anticorpos policlonais formam um conjunto de imunoglobulinas que, apesar de secretadas em 
resposta a um antígeno específico, reconhecem epítopos (é a menor parte de um antígeno capaz 
de induzir uma resposta imunológica) diferentes. 
O pico policlonal (aumento policlonal) é chamado de gamopatia policlonal. O padrão 
eletroforético revela uma curva de base larga, pois, nesse caso, ocorre elevação da produção de 
todas as classes de imunoglobulinas. Esse padrão é característico de processos inflamatórios, 
imunes ou infecciosos como a tuberculose, sarcoidose, artrite reumatoide, lúpus eritematoso 
sistêmico e outras patologias. 
 
PICO MONOCLONAL 
Quando há aumento de anticorpos produzidos por um único clone plasmocitário, ou seja, quando 
são produzidas imunoglobulinas idênticas entre si, temos um pico monoclonal, característico de 
gamopatias monoclonais. 
O gráfico eletroforético apresenta uma curva gama de base estreita, pois o crescimento 
representa um único anticorpo e geralmente apresenta um pico na fração gama. No entanto, 
como vimos, a IgA tem uma migração característica e, caso seja a proteína que está aumentada, 
o pico pode se apresentar na fração beta. 
Podemos considerar o mesmo raciocínio para a elevação de IgM monoclonal. Sendo assim, 
quando ocorre crescimento na fração gama, não é possível determinar, com certeza, se a fração 
monoclonal é IgA, IgG ou IgM. Portanto, é necessário realizar dosagens imunológicas específicas 
para essas imunoglobulinas ou ensaios de imunoeletroforese com determinados antissoros. 
As doenças associadas a esse perfil eletroforético são: mieloma múltiplo (MM), 
macroglobulinemia, leucemia linfocítica crônica e linfoma. 
 
HIPOGAMAGLOBULINEMIA 
Também chamada de agamaglobulinemia, caracteriza a redução dos níveis de gamaglobulinas 
e é indicativo da presença de variante da cadeia leve do mieloma múltiplo, presente em cerca de 
20% dos casos de MM. Normalmente, o pico monoclonal é visto na eletroforese a partir de 
amostras de urina, pois as cadeias leves das imunoglobulinas são pequenas o suficiente para 
extravasarem os túbulos renais. Essas proteínas são chamadas de proteínas Bence Jones. 
Além do mieloma múltiplo, outras causas levam à hipogamaglobulinemia, são elas: 
 
 
Outras causas da deficiência ou ausência de imunoglobulinas. 
Saiba mais 
Nas gamopatias monoclonais, as imunoglobulinas secretadas pelas células podem ser intactas ou 
fragmentos delas. Nos referimos às duas como paraproteínas, proteínas monoclonais ou 
proteínas M. É possível que elas sejam de qualquer classe de anticorpos e o aumento revela na 
eletroforese uma única banda estreita. 
As proteínas de Bence Jones que vimos são exemplos delas, encontradas no mieloma múltiplo, 
macroglobulinemia de Waldenström e em doenças de cadeia pesada. Entretanto, pode-se achar 
paraproteínas também em pacientes sem patologia associada, em que são referenciadas 
como paraproteínas benignas ou gamopatia monoclonal de significância incerta. 
Os testes para identificação específica das imunoglobulinas são realizados principalmente com 
amostras de sangue. A imunoeletroforese é a mais conhecida, mas, hoje, existem métodos mais 
rápidos e sensíveis como: 
Imunoturbidimetria 
Eletroquimioluminescência 
Radioimunoensaio 
Elisa 
Na eletroforese, quando se detecta a presença de paraproteínas, deve-se realizar a técnica de 
imunofixação para quantificá-las. Esse método também é utilizado quando se identifica aumento 
de IgD, para determinar se ele é monoclonal ou policlonal. 
No caso da IgE, a quantificação total não é útil como método de triagem para diagnóstico de 
doença alérgica. Inclusive, níveis séricos normais de IgE não descartam a possibilidade deste 
quadro clínico. 
Os testes para quadros alérgicos são, em grande parte, testes de sensibilizaçãoalérgica ou 
pesquisa de IgE específica contra determinados alergênicos. 
Proteína C-reativa e sua relevância na fase aguda 
Como mencionado, as proteínas de fase aguda são marcadores plasmáticos bem característicos 
dos processos infecciosos. Além disso, encontram-se alteradas na presença de crescimento 
tumorais e após cirurgias ou traumas. Assim, a dosagem dessas proteínas serve para monitorar o 
curso da doença nos indivíduos acometidos. No quadro a seguir, temos descritas as principais 
funções dessas proteínas. 
Função Exemplos 
Mediar Atua como mediadores inflamatórios: a proteína C-reativa (PCR) ativa o complemento. 
O fibrinogênio e os componentes da coagulação geram coágulos e matrizes de fibrina 
ajudando na reparação dos tecidos. 
Inibir Inibe a atividade de proteases. α1-antitripsina e α1-antiquimotripsina inibem as ações de 
enzimas liberadas por leucócitos durante a fagocitose. A inibidora da esterase C1 inibe 
parte do sistema complemento. 
Eliminar Inibe ou elimina substâncias nocivas produzidas durante o processo inflamatório: a 
haptoglobina forma um complexo com a hemoglobina livre para que possa ser depurado 
pelo fígado; a PCR pode opsonizar DNA e detritos celulares de membrana. 
Regular Modula a resposta imune: a alfa-1 glicoproteína ácida é expressa nas membranas de 
linfócitos. 
Reparar Controla e estabelece os elementos do tecido conjuntivo: a α1-antitripsina e α1-
antiquimotripsina são depositadas de maneira sequencial na superfície das fibras 
elásticas recém-formadas; a alfa-1 glicoproteína ácida promove o crescimento de 
fibroblastos. 
Quadro: Funções das proteínas de fase aguda. 
 
Extraído de MARSHALL, W. J.; LAPSLEY, M.; DAY, A. P.; AYLING, R. M., 2016, p. 851- 852, 
adaptado por Kathleen Gonçalves. 
No quadro inflamatório agudo, geralmente as imunoglobulinas se apresentam no limite da 
normalidade e suas frações só crescem à medida que o processo se torna crônico. Uma das 
proteínas mais sensíveis e precoces de quadros agudos é a proteína C-reativa (PCR). 
Essa proteína é sintetizada pelo fígado e encontrada no plasma e, em condições normais, com 
concentrações inferiores a 1 mg/dL. Em resposta a um estímulo inflamatório, seus níveis 
aumentam rapidamente (em 6 horas já é possível detectar), podendo chegar a mil vezes os 
valores basais. 
Os testes quantitativos utilizados para medir os valores de PCR não têm sensibilidade para 
detectar a proteína no soro de indivíduos saudáveis, o que é necessário para o monitoramento de 
quadros inflamatórios crônicos. Para esses casos, são aplicadas técnicas de alta sensibilidade, 
hs-PCR (high sensitivity-PCR). Já se encontram disponíveis no mercado a metodologia ELISA e 
métodos automatizados de turbidimetria e nefelometria. 
Saiba mais 
Níveis de PCR estão associados ao maior risco de doença arterial periférica, infarto do miocárdio, 
AVC e morte súbita cardiovascular. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. O esquema abaixo representa, de forma simplificada, as etapas do metabolismo do aminoácido 
tirosina. 
 
 
Representação das etapas do metabolismo do aminoácido tirosina. 
 
Sabendo que: 
 
• Na tirosinemia do tipo I, ocorre acúmulo de fumarilacetoacetato; 
• Na tirosinemia do tipo II, não há formação de ácido 4-hidroxifenilpiruvato; 
• Na tirosinemia do tipo III, ocorre acúmulo de tirosina e ácido 4-hidroxifenilpiruvato; 
• Na alcaptonúria, ocorre acúmulo de ácido homogentísico. 
 
Determine quais são as enzimas 1, 2, 3 e 4 do esquema, respectivamente: 
 
 Ácido homogentísico oxidase, fumarilacetoacetato hidrolase, tirosina aminotransferase e 4-
hidroxifenilpiruvato dioxigenase. 
 Tirosina aminotransferase, 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase, fumarilacetoacetato hidrolase 
e ácido homogentísico oxidase. 
 Tirosina aminotransferase, 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase, ácido homogentísico oxidase 
e fumarilacetoacetato hidrolase. 
 Fumarilacetoacetato hidrolase, 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase, ácido homogentísico 
oxidase e tirosina aminotransferase. 
 Fumarilacetoacetato hidrolase, ácido homogentísico oxidase, 4-hidroxifenilpiruvato 
dioxigenase e 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "C" está correta. 
 
Nas aminoacidopatias, temos acumulação de substratos. O acúmulo de fumarilacetoacetato 
ocorre porque a fumarilacetoacetato hidrolase (4) não está presente ou ativa. A deficiência de 
formação do ácido 4-hidroxifenilpiruvato se dá pela ausência ou falta de atividade da 
enzima tirosina aminotransferase (1). O acúmulo de tirosina e ácido 4-hidroxifenilpiruvato é 
gerado pela falta ou não atividade da enzima 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase (2). O acúmulo 
de ácido homogentísico acontece pela ausência ou falta de atividade da enzima ácido 
homogentísico oxidase (3). 
2. Os gráficos abaixo representam padrões eletroforéticos de diferentes amostras de proteínas 
plasmáticas totais. 
 
 
Gráfico: Padrões eletroforéticos de diferentes amostras de proteínas plasmáticas totais 
 
 
Gráfico: Padrões eletroforéticos de diferentes amostras de proteínas plasmáticas totais 
 
Gráfico: Padrões eletroforéticos de diferentes amostras de proteínas plasmáticas totais 
 
 
Gráfico: Padrões eletroforéticos de diferentes amostras de proteínas plasmáticas totais 
 
 
Comparando com o padrão normal, classifique as alterações observadas nos gráficos A, B e C, 
respectivamente. 
 
 Pico de paraproteínas, hipogamaglobulinemia e deficiência de alfa-1 antitripsina. 
 Pico monoclonal, aumento de alfa-1 antitripsina e pico policlonal. 
 Gamopatia policlonal, gamopatia monoclonal e agamaglobulinemia. 
 Gamopatia monoclonal, gamopatia policlonal e agamaglobulinemia. 
 Pico monoclonal, pico de paraproteínas e hipogamaglobulinemia. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "D" está correta. 
 
No gráfico A, temos aumento expressivo da fração gama, com um pico de base estreita, 
sugerindo um pico ou gamopatia monoclonal, sendo possível também suspeitar de um pico de 
paraproteínas. No B, outro crescimento expressivo da fração gama, mas com base larga, 
sugerindo um pico ou gamopatia policlonal. No C, a banda gama quase desaparece, 
característico de hipogamaglobulinemia ou agamaglobulinemia. 
Avalie este módulo: 
MÓDULO 2 
 
Descrever o metabolismo do ferro, suas deficiências e o diagnóstico laboratorial 
IMPORTÂNCIA DO FERRO 
 
O ferro é um elemento essencial para o corpo humano, pois desempenha papel de relevância em 
diversos processos metabólicos. Ele é o íon central do grupo heme, um componente não proteico 
tanto da hemoglobina como da mioglobina, fundamental no transporte de oxigênio para os 
tecidos. 
 
Estrutura do heme com o íon Fe2+ no centro. 
 
Como componente dos citocromos na membrana mitocondrial, é peça-chave na transferência de 
elétrons e geração de energia. Já o ferro não heme participa, ainda, da síntese do DNA, tendo em 
vista que a função da ribonucleotídeo-redutase depende da presença do ferro. 
METABOLISMO DO FERRO 
 
O ferro encontrado no organismo é originário de duas fontes principais: alimentação e reciclagem 
dos glóbulos vermelhos senescentes. 
Uma dieta balanceada provê, aproximadamente, de 15 a 20 mg de ferro ao dia, mas apenas 
5 a 10% são absorvidos. Isso é distribuído para os tecidos ligados a proteínas de 
armazenamento, como a ferritina (solúvel) e a hemossiderina (insolúvel). 
O conteúdo total de ferro no corpo de adultos sem patologias é entre 3 e 4 g. Para formação de 
novas hemácias, é necessário cerca de 30 mg de ferro ao dia. Contudo, diariamente, o corpo 
perde, aproximadamente, 1 mg de ferro e essa perda precisa ser reposta pela alimentação. As 
mulheres têm perda extra de 0,5 mg de ferro devido ao período menstrual ou gravidez. Crianças e 
adolescentes também requerem quantidade maior. As concentrações normais de ferro no soro 
variam entre 10 e 40 μmol/L. 
Atenção 
No organismo, o ferro pode existir em dois estados estáveis oxidados: ferro ferroso solúvel (Fe2+) 
e ferro férrico insolúvel (Fe3+). 
 
Metabolismodo ferro: ingestão, absorção, armazenamento e excreção. 
 
A quantidade de ferro que será absorvida é regulada pela necessidade do organismo, e a 
velocidade desse processo é regulada por diversos fatores fisiológicos, descritos a seguir. 
Fator 
fisiológico 
Regulação 
Estoques de 
ferro 
A absorção do ferro é inversamente proporcional aos estoques, ou seja, eleva a 
absorção quando os estoques diminuem. 
Velocidade 
da 
eritropoiese 
Aumento da produção de hemácias leva à mais absorção, mesmo com estoques 
de ferro adequados ou elevados. 
Conteúdo da 
dieta 
O ácido ascórbico e os açúcares facilitam a absorção. Nas dietas ricas em 
alimentos com taninos, fitatos e fosfatos, que compõem complexos insolúveis com 
o ferro, a absorção é inibida. 
Estado 
químico do 
ferro 
O ferro é mais bem absorvido na forma ferrosa (Fe2+) do que a forma férrica 
(Fe3+). O ferro heme, proveniente das carnes e derivados, pode ser absorvido com 
a molécula intacta. 
Quadro: Fatores fisiológicos que regulam a absorção do ferro. 
 
Elaborado por Kathleen Gonçalves. 
≈≈ 
Quando há aumento da demanda por ferro, cresce também a expressão de proteínas 
relacionadas à sua absorção. 
 
Proteínas envolvidas com a absorção do ferro. 
 
A transferrina é uma proteína produzida no fígado, responsável pelo transporte plasmático do 
ferro em sua forma Fe3+. Cada transferrina carreia dois íons de ferro férrico e esse complexo 
(ferro-ferritina) pode se ligar a receptores específicos na membrana de diversos tipos celulares. 
Em condições normais, a transferrina existente no plasma é capaz de transportar até 12 mg de 
ferro. Contudo, dificilmente, essa capacidade é utilizada em sua plenitude. O ferro circula livre, 
podendo causar graves danos celulares, em distúrbios em que há sobrecarga de ferro e o total 
dessa proteína encontra-se saturado ou próximo de sua saturação máxima. 
A ferritina, principal proteína de armazenamento do ferro, é encontrada, principalmente, nas 
células do retículo endotelial de órgãos como fígado, baço e medula óssea e nos músculos. Além 
de ser estocada na ferritina, a forma férrica (Fe3+) também pode ser encontrada na 
hemossiderina, que é a forma degradada da ferritina, e ser corada com ferrocianeto de potássio 
na presença de ácido clorídrico. 
 
Corte histológico mostrando a presença de hemossiderina (marrom) em macrófagos alveolares. 
 
A homeostase do ferro é controlada pelas proteínas reguladoras de ferro que atuam na inibição 
ou indução da transcrição genética (regulação intracelular) e pela regulação sistêmica, que requer 
uma comunicação entre os locais de absorção, de utilização e de estoque. Esse papel é 
desempenhado pela hepcidina, um hormônio circulante sintetizado no fígado, que atua como 
regulador negativo do metabolismo do ferro. Sua expressão é induzida, quando há sobrecarga de 
ferro e em quadros de infecção e inflamação, e diminuída, em situações de deficiência de ferro. 
 
Regulação da hepcidina e sua ação no metabolismo do ferro. 
O METABOLISMO DO FERRO 
A especialista Kathleen da Silva Gonçalves fala sobre a absorção, o transporte e a regulação 
do ferro no organismo humano. 
DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DO FERRO 
 
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a deficiência de ferro é a alteração 
hematológica mais comum com uma prevalência de 20 a 30% na população mundial e pode levar 
ao desenvolvimento de diversas doenças. 
A anemia é o quadro mais característico, quando os níveis de ferro estão abaixo dos valores de 
referência. Quando seus níveis estão aumentados, também há quadros clínicos que precisam de 
atenção. Sendo assim, é de grande importância realizar o monitoramento e controle dos níveis 
desse metal. 
Distúrbios relacionados a baixos níveis de ferro 
A anemia é definida como a diminuição da concentração total de hemoglobina no sangue, ficando 
em níveis abaixo das necessidades fisiológicas de um indivíduo saudável (mulheres e crianças < 
11 g/dL e adultos < 12 g/dL). 
A anemia pode ser classificada, de acordo com o tamanho dos eritrócitos, em: microcítica, 
normocítica e macrocítica. 
Os sintomas são vagos, mas refletem a fraca distribuição de oxigênio no organismo, podendo ser 
acompanhados de cansaço, dor de cabeça, falta de ar, entre outros. A anemia ferropriva é 
causada, principalmente, pela deficiência de ferro, mas também pode ocorrer devido a outros 
fatores, como: 
 
Causas e características dos eritrócitos na anemia ferropriva. 
A anemia hipocrômica microcítica e a ausência de coloração de ferro em biópsia de medula 
óssea são os melhores índices diagnósticos de deficiência de ferro estabelecidos. 
Além da anemia, existem outros quadros clínicos acompanhados da diminuição dos níveis de 
ferro, entre eles estão: 
Inflamação aguda (respiratória e abcessos) 
Inflamações crônicas 
Doenças malignas 
Infarto do miocárdio 
Hemorragia aguda 
Doação de sangue recente 
Ciclo menstrual 
Distúrbios relacionados ao excesso de ferro 
É possível ocorrer por doenças genéticas ou de forma adquirida. A sobrecarga pode ser resultado 
de transfusões sanguíneas realizadas de maneira crônica, como acontece com alguns pacientes 
com anemia falciforme, ou ser resultado de hematopoiese deficiente, comum na insuficiência 
renal. Doenças como hemocromatose, que veremos no próximo tópico, também levam à 
elevação dos níveis de ferro, bem como casos de intoxicação por ferro. 
Os mecanismos de excreção do ferro são incipientes – descamação das células intestinais e 
epidermais, menstruação e perda de sangue oculto nas fezes. Por isso, às vezes, terapias de 
reposição do ferro levam ao aumento acima dos níveis de referência. Em situações de 
sobrecarga de ferro, a concentração de ferritina no soro também pode ir para níveis acima dos 
valores de referência. 
Hemocromatose 
Doença hereditária do metabolismo do ferro relativamente comum, dependendo da mutação 
genética associada. É caracterizada pelo crescimento da absorção intestinal de ferro, em torno de 
2 a 3 vezes acima do normal, levando à deposição de ferro em diversos tecidos, o que, por sua 
vez, tende a causar disfunção em diferentes órgãos. 
 
Hemocromatose no tecido hepático. Os grânulos alaranjados são depósitos de hemossiderina no 
citoplasma dos hepatócitos. 
Normalmente, a mutação mais comum acontece no gene que codifica a proteína HFE e leva à 
substituição de um aminoácido cisteína por uma tirosina, resultando na redução da síntese de 
hepcidina, um regulador negativo do metabolismo do ferro. 
A hepcidina se liga à ferroportina na membrana das células intestinais, induzindo sua 
internalização e degradação. Isso impede que ela exporte o ferro para o plasma, ficando retido no 
interior das células. 
Esse ferro é, enfim, excretado com a descamação das células intestinais. Logo, a redução dos 
níveis de hepcidina está associada ao aumento dos níveis de ferro sérico e à desregulação do 
seu metabolismo. 
Quais as várias faces da hemocromatose? 
Clique no botão para ver as informações. 
Saiba mais 
Existem quatro tipos de mutações, em genes diferentes, que levam ao desenvolvimento desta 
doença: 
Tipo 1: As mutações do gene HFE estão entre as causas de maior prevalência da doença, mas 
varia de acordo com os grupos étnicos e raramente apresenta sintomas antes dos 20 anos. A 
mutação C282Y é a mais comum. 
Tipo 2: Hemocromatose juvenil. É rara e as mutações afetam os genes HJV (tipo 2A) e HAMP 
(tipo 2B). 
Tipo 3: Ocorre devido a mutações no gene TRF2, que codifica o receptor de transferrina. 
Tipo 4: Também chamada de doença por ferroportina, já que as mutações afetam o gene 
SLC40A1 que codifica aferroportina-1. 
Os sintomas da hemocromatose costumam aparecer na meia-idade, com quadro clínico 
característico, que inclui fadiga crônica e, em casos mais intensos, pigmentação da pele (fenótipo 
bronzeado), diabetes, cardiomiopatia e cirrose. 
Com o aumento da concentração de ferro sérico, a saturação da transferrina chega 
próxima a 100%. Por esse motivo,é o exame com alta especificidade para esta doença. Os 
níveis de ferritina também se encontram elevados. No entanto, a genotipagem é o método 
capaz de diagnosticar, com alta sensibilidade, a hemocromatose hereditária. 
Outros distúrbios com sobrecarga de ferro 
Existem outros distúrbios que acompanham o crescimento dos níveis de ferro sérico. Vejamos a 
seguir: 
Clique nas informações a seguir. 
Aceruloplasminemia 
Acúmulo excessivo de hemossiderina nos tecidos. Os principais órgãos afetados são pulmões e 
rins. Neles, os depósitos resultam de hemorragia nos tecidos seguida da ruptura dos eritrócitos, 
causando liberação de ferro. Nos rins, a hemólise pode ser intravascular e o ferro se acumula no 
tecido renal à medida que o sangue é filtrado. 
Hemossiderose 
Consequência de mutações no gene da proteína ceruloplasmina. Essa proteína atua na 
regulação do estado iônico do ferro, oxidando o Fe+2 em Fe+3. Assim, permite a incorporação do 
íon à transferrina. Sem poder se ligar a ela, há acúmulo de ferro sérico. 
Atransferrinemia 
Distúrbio raro e congênito em que há deficit de transferrina, que aumenta o ferro sérico livre, e o 
desenvolvimento de quadros graves devido ao estresse oxidativo. 
 
Transporte de substâncias na corrente sanguínea. 
ANÁLISE LABORATORIAL DO FERRO 
 
Para o estabelecimento do diagnóstico de patologias associadas ao metabolismo do ferro, 
o hemograma é uma ferramenta essencial. Além dele, temos estes testes: ferro sérico, saturação 
da transferrina, receptor solúvel da transferrina, capacidade plasmática total de ligação ao ferro e 
hepcidina. 
Veja a seguir cada um desses parâmetros avaliados laboratorialmente. 
Parâmetros do hemograma 
Você estudará este assunto com mais profundidade em outro momento, mas vamos conhecer os 
valores de referência dos parâmetros que devem ser avaliados nos casos de deficiência de ferro. 
Índice/Medida Parâmetro avaliado Valores 
Volume Corpuscular 
Médio (VCM) 
Tamanho médio das hemácias < 80 fl indicam microcitose 
Concentração de Hemoglobina 
Corpuscular Média (CHCM) 
Quantidade de hemoglobina 
nas hemácias 
Valores de referência: 31 a 36 
g/dL. Valores baixos indicam 
hemácias hipocrômicas 
Determinação do número de 
hemácias hipocrômicas 
(possível com certos 
analisadores automáticos) 
Número de hemácias > 6% indicam deficiência de 
ferro 
RDW (do inglês Red Cell 
Distribution Width) 
Heterogeneidade das hemácias 
em relação ao tamanho 
> 14,5% indicam deficiência de 
ferro, mas precisa ser avaliado 
junto com o VCM 
Quadro: Índices hematimétricos em quadros de deficiência de ferro. 
Elaborado por Kathleen Gonçalves. 
Ferro e ferritina séricos 
Como os valores de referência para o ferro no soro apresentam grande variação, a medida da 
sua concentração tem valor limitado, pois as baixas concentrações plasmáticas podem ser 
observadas em diversos quadros clínicos. Seu valor é mais preditivo em casos de sobrecarga e 
envenenamento agudo por ferro. 
Já a ferritina é um parâmetro bastante sensível da deficiência de ferro, se não estiver 
acompanhado de nenhuma outra alteração clínica. Como a porcentagem de ferro associado à 
ferritina sérica está em equilíbrio com os depósitos do ferro ligados à ferritina nos tecidos, sua 
concentração no sangue reflete as reservas no organismo. 
Vamos conhecer os valores de referência para o ferro e a ferritina? 
Grupos Ferro sérico Ferritina sérica 
Homens 70 a 180 μg/dL 70 a 435 ng/mL 
Mulheres 60 a 180 μg/dL 10 a 160 ng/mL 
Recém-nascidos 95 a 225 μg/dL 25 a 200 ng/mL 
Tabela: Valores de referência de ferro e ferritina séricos. 
Elaborada por Kathleen Gonçalves. 
Atenção 
Como a ferritina é uma proteína plasmática de fase aguda, caso haja quadros inflamatórios 
coexistentes com deficiência de ferro, seus níveis podem se apresentar falsamente normais. 
 
Clínicas que acompanham o aumento dos níveis de ferritina. 
Transferrina e sua capacidade de ligação ao ferro sérico 
A concentração de transferrina sérica pode ser medida direta ou indiretamente pela capacidade 
total de ligação de ferro, conhecida pela sigla TIBC. 
No plasma, em condições normais, a transferrina está cerca de 30% saturada com Fe2+: 
Quando essa saturação diminui (< 16%), podemos suspeitar de quadros de deficiência de ferro. 
Quando a saturação aumenta (> 55% em homens e > 50% em mulheres), desconfiamos de 
quadros de sobrecarga de ferro. 
A TIBC é uma medida da concentração máxima de saturação da transferrina. Como apenas 1/3 
dos sítios ligadores de ferro está ocupado, a proteína tem capacidade reserva para ligação com 
mais íons. Assim, a TIBC está elevada nas deficiências de ferro e diminuída nos quadros 
inflamatórios, doenças malignas e desordens relacionadas à sobrecarga de ferro. 
Outro parâmetro relacionado às reservas de ferro é a porcentagem de saturação da transferrina, 
útil na diferenciação das causas de anemia por carência nutricional ou por outros motivos, como 
aplasia de medula. 
O resultado laboratorial clássico em anemia ferropriva é encontrar a ferritina e o ferro séricos 
reduzidos, a saturação de transferrina baixa e a TIBC aumentada. Os valores de referência da 
TIBC vão de 300 a 360 μg/dL. No quadro a seguir, vemos a correlação entre o ferro e o TIBC em 
diferentes situações. 
Condição Ferro sérico TIBC 
Deficiência de ferro ↓ ↑ 
Infecções crônicas ↓ ↓ 
Malignidades ↓ ↓ 
Menstruações ↓ ↓ 
Envenenamento por Fe ↑ ↓ 
Anemia hemolítica Variável Variável 
Hemocromatose ↑ N, ↓ 
Infarto do miocárdio ↓ N 
Gravidez tardia ↓ ↑ 
Anticoncepcionais orais N, ↑ ↑ 
Hepatite por vírus ↑ ↑ 
Nefrose ↓ ↓ 
Kwashiorkor ↓ ↓ 
Talassemia ↑ ↓ 
↓ = diminuição; ↑ = aumento; N = normal. 
Quadro: Ferro sérico e TIBC em várias condições. 
Extraído de MOTTA, V. T., 2009, p. 8, adaptado por Kathleen Gonçalves. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
 
1. (Adaptado COVEST – COPSET – 2019 – Universidade Federal de Pernambuco – Biomédico) 
 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a deficiência de ferro é responsável por 75% 
de todos os casos de anemia. As causas são inúmeras, o que envolve um complexo 
entendimento para um bom diagnóstico. Sobre a regulação da homeostase do ferro, analise as 
alternativas a seguir: 
 
I. A regulação sistêmica é realizada pela hepcidina. 
II. A regulação intracelular depende da hepcidina. 
III. Hepcidina, um hormônio circulante sintetizado no fígado, atua como regulador negativo do 
metabolismo do ferro. 
 
É correto o que se afirma em: 
 
 I 
 II 
 III 
 I e II 
 I e III 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "E" está correta. 
 
 
A homeostase do ferro é controlada, intracelularmente, pelas proteínas reguladoras de ferro, que 
atuam na inibição ou indução da transcrição genética. Já a regulação sistêmica é realizada pela 
hepcidina, molécula produzida pelo fígado que se liga à ferroportina, atuando como regulador 
negativo do metabolismo do ferro e causando sua degradação. 
 
2. A.M., sexo masculino, 53 anos, durante a consulta queixou-se de fadiga e dores articulares, 
principalmente nos dedos, cotovelos e tornozelos, e, ainda, hiperpigmentação no rosto, pescoço e 
nas mãos. A partir desse quadro, o médico suspeitou de um possível distúrbio no metabolismo do 
ferro e solicitou que o paciente realizasse alguns exames. Assinale a alternativa com o exame 
que NÃO precisa ser solicitado: 
 
 Índice de saturação de transferrina 
 Haptoglobina sérica 
 Ferritina sérica 
 Teste genético 
 Ferro sérico 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa "B" está correta. 
 
Os sintomas de A.M., somados à sua faixa etária e ausência de outros sintomas, trazem a 
suspeita de um distúrbio de sobrecarga de ferro. Para avaliá-lo, os principais exames são a 
dosagem de ferro sérico, o índice de saturação da transferrina e a ferritina sérica. Para confirmar 
ou descartar hemocromatose hereditária, o teste genético é indicado. Como a haptoglobina está 
envolvida na depuração da hemoglobina após hemólise, seu teste é solicitado quando há 
suspeita de anemias. 
Avalie este módulo: 
MÓDULO3 
 
Relacionar as patologias hepáticas com as alterações no hepatograma 
FÍGADO 
 
O fígado é o órgão mais volumoso do corpo humano, anatomicamente dividido em quatro lobos: 
direito, esquerdo, caudado e quadrado. Recebe suprimento sanguíneo proveniente de dois 
grandes vasos: veia porta e artéria hepática, ramificação da aorta, que entrega sangue oxigenado 
proveniente do sistema digestório, rico em nutrientes. 
Cerca de 80% da massa celular do fígado é formada pelos hepatócitos que se agrupam 
compondo placas chamadas de lóbulos hepáticos. A unidade funcional do fígado é 
representada pelos ácinos. Estes não são estruturas anatômicas definidas e foram 
arbitrariamente divididos em três zonas (1, 2 e 3) que correspondem à sequência em que o 
sangue se desloca. Os hepatócitos da zona 1 são irrigados com o sangue mais oxigenado. Os 
hepatócitos da zona 3 recebem um sangue com menos oxigênio e nutrientes. 
 
Esquema histológico do lóbulo e das zonas funcionais dos ácinos hepáticos. 
 
O fígado realiza múltiplas funções. Portanto, a preocupação com a saúde desse órgão é crucial 
para a homeostase de todo o organismo. Veja essas funções a seguir. 
Metabolismo 
Tem papel fundamental no metabolismo dos nutrientes provenientes da alimentação, 
principalmente dos carboidratos, lipídeos e proteínas. 
 
Síntese 
Com exceção das globulinas, a maioria das proteínas plasmáticas de fase aguda é produzida no 
fígado. Ele auxilia na manutenção da pressão oncótica ao produzir albumina. 
 
Armazenamento 
Armazena glicose na forma de glicogênio (estoque de energia), ferro, vitaminas lipossolúveis A, 
D, E e K, vitamina B12, ácido fólico e diversas outras substâncias. 
 
Desintoxicação 
O conjunto de enzimas que participam dessa atividade é chamado de sistema microssomal 
hepático, que converte compostos nocivos ou pouco solúveis em substâncias que possam ser 
excretadas pelos rins. 
 
Excreção 
É responsável pela excreção de toxinas e produtos finais do metabolismo. Também secreta a 
bile, uma substância com composição bastante diversa, entre elas ácidos e sais biliares. 
ENTENDENDO MAIS O FÍGADO 
A especialista Kathleen da Silva Gonçalves fala sobre a anatomia, a histologia e a fisiologia 
hepática. 
SUBSTÂNCIAS PRODUZIDAS PELO FÍGADO 
 
Bile 
Uma secreção gastrointestinal responsável por excretar diversos solutos que não são expelidos 
pelos rins e ainda secretar substâncias fundamentais para o processo digestivo e para a absorção 
de lipídios. 
Inicialmente, é sintetizada pelos hepatócitos que secretam, nos canalículos biliares, um fluido com 
osmolaridade similar ao plasma, contendo sais biliares, colesterol, fosfolipídios, pigmentos biliares 
e outras substâncias. Na passagem pelos dutos biliares, suas células epiteliais (os colangiócitos) 
secretam nesse concentrado um fluido rico em bicarbonato, induzido por hormônios, 
principalmente a secretina. 
No intervalo entre as refeições, parte da bile é direcionada para a vesícula biliar, órgão 
responsável pelo seu armazenamento. Nela ocorre a remoção de sais e água dessa bile 
(hepática), formando o que chamamos de bile vesicular. 
Sais biliares 
O fígado é o principal local de síntese do colesterol endógeno e o único local onde ele é 
convertido em ácidos biliares que serão excretados. O ácido cólico e o quenodesoxicólico são 
os ácidos biliares primários. A maior parte desses ácidos biliares, ao chegar no intestino, é 
reabsorvida no íleo e retorna pela veia porta ao fígado (circulação êntero-hepática), onde é 
novamente conjugada e excretada. 
Os ácidos primários, que seguem pelo íleo em direção ao intestino grosso, sofrem a ação da 
enzima 7α-hidroxilase de bactérias presentes no intestino e são convertidos em ácidos biliares 
secundários: ácidos desoxicólicos e litocólicos, excretados por meio das fezes. 
Atenção 
A principal função dos sais biliares é solubilizar o colesterol contido na bile, bem como produtos 
da digestão dos lipídeos provenientes da alimentação. 
Veja a seguir o metabolismo dos ácidos biliares. 
 
Excreção e circulação êntero-hepática dos ácidos biliares. 
Bilirrubina e urobilinogênio 
Os eritrócitos senescentes são retidos e destruídos pelos macrófagos do retículo endotelial e 
vários componentes celulares são liberados nesse processo. Veja o que ocorre no plasma: 
1. O ferro se liga à transferrina. 
2. As globinas são degradadas em seus aminoácidos que serão reutilizados. 
3. A protoporfirina IX (grupamento heme sem o ferro) é transformada em biliverdina que, por sua 
vez, é reduzida à bilirrubina, um dos pigmentos biliares. 
A bilirrubina produzida no retículo endotelial é conhecida como bilirrubina não conjugada ou 
bilirrubina indireta. É insolúvel em água e transportada no plasma ligado à albumina. Dentro dos 
hepatócitos, a bilirrubina sofre ação enzimática e é conjugada com ácido UDP-glicurônico, 
formando o monoglicuronídeo e o diglicuronídeo da bilirrubina. Essas formas são chamadas 
de bilirrubina conjugada ou bilirrubina direta, sendo agora solúveis em água e excretadas dos 
hepatócitos como bile. 
Na bile, 25% da bilirrubina está conjugada com monoglicuronídeos e 75% conjugada com 
diglicuronídeos, havendo ainda traços de bilirrubina não conjugada. Se o trato biliar estiver 
bloqueado por algum motivo (como, por exemplo, a existência de cálculos biliares), a bilirrubina 
não será excretada. 
A bilirrubina conjugada também é encontrada em pequenas quantidades no plasma e na urina. 
Por ser pouco absorvida no intestino, ela segue pelo trato digestório e chega ao íleo e intestino 
grosso. A forma conjugada diglicuronídeo é hidrolisada pela enzima β-glicuronidase dos 
hepatócitos, das células do epitélio e de bactérias intestinais, formando bilirrubina livre. 
No intestino, a bilirrubina livre é reduzida a urobilinogênios. Cerca de 20% deles são 
reabsorvidos para o fígado pela circulação êntero-hepática. Grande parte do que foi reabsorvido é 
excretada na bile e uma pequena parte chega ao plasma e aparece na urina (entre 1 e 4 mg por 
dia). 
 
Resumo do metabolismo da bilirrubina. 
 
Processos patológicos que induzem à maior formação e excreção de bilirrubina, como 
na icterícia hemolítica, levam ao aumento das concentrações de urobilinogênios na urina e nas 
fezes. 
Hiperbilirrubinemia 
Clique na Imagem para visualizar o conteúdo. 
Fenótipo característico de icterícia: pele e esclera amarelados. 
A bilirrubina no plasma está geralmente abaixo de 21 μmol/L. Concentrações acima podem 
apresentar alguma significância clínica. Porém, acima de 50 μmol/L, a hiperbilirrubinemia é 
detectada pelo quadro de icterícia, caracterizada pela coloração amarela da pele, da esclera e de 
membranas mucosas. A dosagem de bilirrubina plasmática pode oferecer uma avaliação do nível 
de severidade da icterícia. 
Como é detectada a hiperbilirrubinemia? 
Diversas patologias acompanham as alterações na produção, na captação, no armazenamento e 
na excreção da bilirrubina, que tanto pode ser a conjugada quanto a não conjugada. Existem três 
condições mais comuns que levam a quadros de hiperbilirrubinemia: 
Hemólise 
Obstrução do sistema biliar 
Dano hepatocelular 
No caso de elevação de bilirrubina por hemólise intravascular, a bilirrubina é predominantemente 
não conjugada. Esse tipo de hiperbilirrubinemia, associado à função imatura do fígado, é muito 
comum em bebês e deve ser acompanhado cuidadosamente sob o risco de acometimento de 
lesão neurológica cerebral irreversível, conhecida como síndrome de Kernicterus. Já a 
bilirrubina conjugada não causa essa síndrome, pois não é lipossolúvel e, portanto, não é capaz 
de atravessar a barreira hematoencefálica. 
Como já aprendemos, é possível que os cálculos biliares bloqueiem os dutos biliares, 
completamente ou parcialmente. Quando a obstrução é completa, as concentrações de bilirrubina 
e fosfatase alcalina aumentarão e, neste caso, os níveis de urobilinogênio na urina serão muito 
baixos ou ausentes; enquanto as fezes estarão pálidas. Quando a obstruçãoé parcial, a 
concentração de bilirrubina sérica tende a ficar dentro dos valores de referência e a concentração 
de fosfatase alcalina provavelmente estará alta. 
Saiba mais 
Os canalículos biliares podem ser obstruídos em quadros como cirrose, câncer hepático ou por 
infecção, levando ao aumento da concentração de bilirrubina conjugada no plasma. 
Nem sempre a obstrução é consequência de problemas na árvore biliar, como ocorre nas 
hepatites virais ou devido à intoxicação por drogas, por exemplo. Nesses casos, além da 
bilirrubina e da fosfatase alcalina, outras enzimas, como as aminotransferases, também estarão 
com seus níveis elevados. 
O quadro mostra o diagnóstico diferencial da hiperbilirrubinemia. 
Hemólise Obstrução das vias biliares Dano Hepatocelular 
Concentração variável de 
bilirrubina sérica 
Bilirrubina muito elevada AST e ALT aumentadas 
Ausência de bilirrubina na 
urina 
Bilirrubina na urina Bilirrubina aumentada 
tardiamente 
Reticulocitose Fosfatase alcalina com níveis acima dos 
valores de referência (geralmente) 
Bilirrubina na urina 
Hemoglobina ↓ AST, ALT, LDH um pouco aumentadas Fosfatase alcalina 
aumentada tardiamente Haptoglobina ↓ 
↑ LDH (possivelmente) 
LDH = lactato desidrogenase; AST = aspartato aminotransferase; ALT = alanina 
aminotransferase. 
Quadro: Diagnóstico laboratorial diferencial de hiperbilirrubinemia. 
Extraído de GAW, A.; MURPHY, M. J.; SRIVASTAVA, R.; COWAN, R.A.; O’REILLY, D. St. J., 
2015, p. 187, adaptado por Kathleen Gonçalves. 
Como é realizada a determinação laboratorial da bilirrubina? 
Os valores de bilirrubina total no plasma não são utilizados para estabelecer nenhum diagnóstico. 
Na verdade, a concentração de sais biliares no soro é um índice mais sensível para avaliar o 
transporte hepático. Contudo, alterações dos níveis de bilirrubina plasmática podem ter 
significado prognóstico para a evolução de doenças como a cirrose biliar primária. Também é 
importante no monitoramento de icterícia neonatal; na avaliação da resposta ao pós-operatório de 
desobstrução das vias biliares; e para confirmar suspeita de hiperbilirrubinemia, que não é 
clinicamente aparente. 
A amostra utilizada para exames laboratoriais é o soro obtido em jejum e isento de hemólise e 
lipemia. O método mais comum é o colorimétrico. No quadro a seguir, veja os exames para a 
dosagem de bilirrubina. 
Exame Quantificação Características Valores de referência 
Reação de Van den 
Bergh em solução 
aquosa (colorimétrico) 
Bilirrubina 
conjugada* 
Mono e 
diglicuronídios são 
solúveis em água 
Adultos e crianças acima de 1 ano: 
0,2 a 1,0 mg/dL 
Método colorimétrico ̶ 
reação com álcool 
Bilirrubina não 
conjugada* 
Bilirrubina não 
conjugada não é 
solúvel em água 
Adultos e crianças acima de 1 ano: 
0,2 a 1,0 mg/dL 
Espectrofotometria 
direta 
Bilirrubina total Só para amostras de 
recém-nascidos 
(soro sem 
lipocromos) 
Entre 2 e 14 mg/dL, depende do 
tempo de vida 
Teste enzimático da 
bilirrubina oxidase 
Bilirrubina total A enzima oxida 
bilirrubina à 
biliverdina (incolor) 
Adultos: entre 0,3 e 1,2 mg/dL 
Recém-nascidos (dependendo do 
tempo de vida): 1,4 a 12,0 mg/dL 
Prematuros (dependendo do tempo 
de vida): até 16,0 mg/dL 
*A bilirrubina total é a soma das duas frações. 
Quadro: Exames para dosagem de bilirrubina. 
Elaborado por Kathleen Gonçalves. 
HEPATOGRAMA 
 
Os exames que compõem o hepatograma também costumam ser chamados de testes (ou 
provas ou exames) de função hepática. No entanto, esse nome é considerado inadequado, já 
que os resultados, como veremos a seguir, não fornecem uma análise quantitativa da capacidade 
do fígado de realizar suas funções. 
 
Situações clínicas que demandam a realização de um hepatograma. 
 
Na avaliação de uma possível doença hepática, é essencial realizar um exame físico do paciente 
em conjunto com uma anamnese acurada com o objetivo de identificar a existência de fatores de 
risco. Quando o exame físico e o histórico são insuficientes para definir um diagnóstico, os 
exames laboratoriais e de imagem complementam a avaliação. 
Atenção 
Algumas das substâncias dosadas no hepatograma podem estar com valores fora da referência 
em pessoas com distúrbios não relacionados ao fígado. Lembre-se de que os testes auxiliam no 
estabelecimento de doença hepática, mas não fornecem diagnóstico! 
Os testes de função hepática medem, no sangue, os níveis de determinadas enzimas e proteínas 
produzidas no fígado. Uma dessas substâncias é a bilirrubina, que já estudamos. A seguir, serão 
apresentadas outras substâncias dosadas em um hepatograma. 
Enzimas hepáticas 
As enzimas dosadas nos testes de função hepática, geralmente, têm pouca ou nenhuma função 
fisiológica conhecida no plasma sanguíneo. Contudo, a alteração dos seus níveis séricos é 
utilizada como um indicador importante de dano hepático. 
 
Aminotransferases (AST e ALT) 
As enzimas aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT) são 
aminotransferases amplamente usadas como indicadores de dano hepático. São consideradas 
marcadores sensíveis, mas não específicos, de: 
1. Dano hepático agudo, causado por hepatites de qualquer tipo. 
2. Lesões por toxicidade, como na ingestão excessiva de drogas. 
3. Hipóxia grave. 
4. Insuficiência cardíaca etc. 
Atenção 
As aminotransferases também são conhecidas como transaminases. Você pode encontrar a 
AST sendo chamada de Transaminase Glutâmica Oxalacética (TGO) e a ALT, 
de Transaminase Glutâmica Pirúvica (TGP). 
A ALT é encontrada em grandes concentrações especificamente no citoplasma dos hepatócitos. 
Já a AST pode ser encontrada no citoplasma e nas mitocôndrias de outros órgãos, além do 
fígado, como: músculos esquelético e cardíaco, rins, pâncreas e nos eritrócitos. Assim, é fácil 
perceber que a ALT é um marcador mais específico de dano no fígado que a AST. 
Contudo, quando há lesão hepática, ocorre elevação dos níveis de ambas aminotransferases, e 
costuma ser na mesma proporção. A exceção é quando há dano hepático gerado por ingestão 
alcóolica, pois o álcool tem efeito inibidor sobre a síntese de ALT. Neste caso, a elevação dos 
níveis de AST é bem maior do que a de ALT (AST/ALT > 2). 
Atenção 
 
Caso haja uma lesão somente no fígado, os níveis de ALT subirão mais rapidamente do que os 
de AST. 
No quadro a seguir, vemos a inter-relação entre essas enzimas. 
↑ até 5x limite 
superior 
normal 
↑ até 5x limite superior 
normal – predominando 
ALT 
↑ até 5x limite superior 
normal – predominando 
AST 
↑ maior que 15x 
limite superior 
normal 
Hemólise Hepatite B e C crônicas Dano hepático relacionado 
com álcool 
Hepatites virais 
agudas 
Miopatias Hepatite virais agudas Esteatose Medicamentos/toxinas
Tireoide Esteatose Cirrose extra-hepática Hepatite isquêmica 
Exercício físico Hemocromatose Hepatites autoimunes
Medicamentos Doença de Wilson 
Hepatites autoimunes Obstrução dos ductos 
biliares 
Deficiência de alfa-1 
antitripsina 
Síndrome de Budd-
Chiari 
Doença de Wilson Ligadura da artéria 
hepática 
↑aumento 
Quadro: Etiologia do aumento dos níveis séricos de ALT e AST. 
Extraído de BARCELOS, L. F.; AQUINO, J. L., 2018, p. 145, adaptado por Kathleen Gonçalves. 
 
Fosfatase alcalina 
A fosfatase alcalina (FA) não é específica do fígado. É possível encontrá-la nos ossos, no 
intestino delgado, na placenta, nos rins e outras partes. Seus níveis séricos dependem da idade e 
do sexo, sendo normalmente mais altos em idosos, crianças e gestantes. 
No fígado, a FA é encontrada, principalmente, nas células que revestem os canalículos biliares e 
seus níveis costumam elevar em resposta à obstrução das vias biliares, tanto intra como extra-
hepática. No entanto, esse aumento não é específico de obstrução biliar, já que outros tipos de 
lesão hepática podem induzir o crescimento dos níveis dessa enzima, com ou sem colestase. 
O aumento de três vezes nos níveis de fosfatase alcalina, contudo, é um forte indicador de 
doenças hepáticas colestáticas,infiltrativas (como neoplasias) e em doenças ósseas com 
grande turnover. 
A maior parte da FA detectada no plasma é originária do fígado e dos ossos e, para identificar 
sua origem, é possível separá-las por eletroforese. Quando o aumento de FA está associado à 
elevação de outra enzima, a gama-glutamiltranspeptidase (GGT), temos um forte indício de 
obstrução biliar. No entanto, o aumento de FA acompanhado de níveis normais de GGT sugere 
doenças ósseas. 
Gama-glutamiltranspeptidase (GGT) 
A GGT é uma enzima sintetizada em diversos tecidos. No fígado, ela é sintetizada difusamente 
por todo o órgão, diferentemente da FA que é, em grande parte, produzida nas células dos 
canalículos biliares. 
O aumento dos níveis plasmáticos é um índice sensível para doença hepática, mas não é 
específico. Sua atividade é elevada pelo uso de álcool e algumas drogas, mesmo sem 
doença hepática associada. 
A partir deste quadro, conseguimos comparar as concentrações de FA e GGT nas doenças 
hepáticas. 
Hepatopatias Fosfatase alcalina Gama-Glutamiltranspeptidase 
Doenças colestáticas Aumentados Aumentados 
Cirrose biliar primária Aumentados (15 a 20x LSN) Aumentados 
Hepatite viral aguda Aumentados (> 5x LSN) Aumentados (<10x LSN) 
Tumores hepáticos De normais até > 10x LSN De normais até > 10x LSN 
Cirrose hepática De normais até > 10x LSN De normais até > 15x LSN 
Hepatite crônica Normais De normais até 3x LSN 
Hepatite alcóolica Normais ou pouco aumentados Muito aumentados 
LSN = Limite superior normal (dos valores de referência) 
Quadro: Comportamento dos níveis de FA e GGT em hepatopatias. 
Extraído de BARCELOS, L. F.; AQUINO, J. L., 2018, p. 146, adaptado por Kathleen Gonçalves. 
Proteínas plasmáticas 
Como o fígado está envolvido com a síntese, liberação e depuração de muitas proteínas 
plasmáticas, não é de se estranhar que, em distúrbios que afetem esse órgão, as concentrações 
dessas proteínas possam estar modificadas. É possível que as alterações dos níveis de 
determinadas proteínas, como, por exemplo, a albumina e os fatores de coagulação, indiquem 
problemas na função hepática; enquanto outras, como a alfa-1 antitripsina e a ceruloplasmina 
(que estudamos no módulo anterior), podem ser usadas no diagnóstico de hepatopatias 
específicas. 
A albumina, como sabemos, é produzida exclusivamente pelo fígado. Sua meia-vida é longa e, 
por isso, não é um bom indicador para a severidade de hepatopatias agudas, pois níveis 
reduzidos demoram para ser detectados no plasma. Portanto, a hipoalbuminemia é mais comum 
em doenças crônicas como a cirrose. 
É preciso avaliar, contudo, a ingestão inadequada de proteínas e ingestão excessiva de álcool 
como possíveis causas de redução da síntese de albumina. Veja outros fatores que podem 
contribuir para hipoalbuminemia: 
 Perda renal, devido à síndrome nefrótica; 
 Perda por enteropatia perdedora de proteínas ou através da pele, devido a queimaduras. 
Por esses motivos, as concentrações plasmáticas de albumina não devem ser utilizadas como um 
indicador isolado da função de síntese do fígado. 
 
Perfil eletroforético característico de hepatopatia crônica. 
 
A alfafetoproteína é uma proteína produzida pelo fígado nos fetos. É o equivalente fetal da 
albumina. Sua síntese cessa logo após o nascimento. Em adultos normais, sua concentração 
plasmática é muito pequena, mas, nos casos de carcinoma hepatocelular, seus níveis aumentam 
cerca de 80 a 90% e ela se torna detectável no plasma. Também é utilizada como marcador de 
tumores de células germinativas. 
Tempo de protrombina 
O fígado tem uma função central na hemostasia, pois sintetiza grande parte dos fatores e das 
proteínas envolvidos na coagulação e no sistema fibrinolítico. Um exemplo é a protrombina, uma 
proteína produzida pelo fígado, que, quando ativada, promove a conversão de fibrinogênio em 
fibrina. 
A síntese de fatores de coagulação é dependente de vitamina K, lipossolúvel, obtida pelos 
alimentos e que tem sua absorção dependente da ação dos sais biliares. 
É possível que a produção dos fatores de coagulação seja afetada pelo mau funcionamento do 
fígado ou pela falta deste composto. A cirrose biliar primária e a colangite esclerosante primária 
são distúrbios relacionados à obstrução das vias biliares, que podem ser a causa da deficiência 
de vitamina K, levando à diminuição da síntese dos fatores de coagulação. 
Como a protrombina tem uma meia-vida curta, ela funciona como um indicador precoce da 
redução da síntese hepática. Além disso, o teste do tempo de protrombina é um método simples 
e barato para avaliar essa função do fígado. Os valores de referência de tempo de protrombina 
estão entre 10 e 14 segundos. 
DOENÇAS HEPÁTICAS 
Existem muitas doenças que afetam o fígado, podendo ser agudas ou crônicas. A diferença entre 
esses distúrbios é a gravidade e a velocidade com que deterioram o órgão. 
 
Principais causas de dano hepático agudo e seus possíveis desfechos. 
 
Veremos agora os quadros clínicos mais relevantes, começando pelos agudos até chegarmos 
nas complicações crônicas. 
Intoxicação 
As intoxicações hepáticas mais comuns envolvem doses excessivas de drogas ilícitas, álcool e de 
alguns medicamentos, como o paracetamol. 
Em pequenas quantidades, esses compostos são naturalmente metabolizados e excretados pelo 
fígado. Entretanto, em altas concentrações, a quantidade de metabólitos tóxicos resultantes leva 
ao comprometimento das funções dos hepatócitos e à intensa liberação de enzimas na circulação 
sanguínea. 
A capacidade do fígado de reagir ao dano resultante da intoxicação é reduzida quando associada 
a outras circunstâncias, como ingestão alcóolica, desnutrição ou doença crônica preexistente. 
Existem casos de intoxicações, chamadas de endógenas, que são acompanhadas de acúmulo 
de substâncias tóxicas produzidas pelo próprio organismo. 
Outra possibilidade de intoxicação é aquela que afeta indivíduos suscetíveis a certas substâncias, 
como o valproato de sódio e o halotano. 
Infecções no fígado 
Hepatite é um termo utilizado para qualquer processo inflamatório que acometa o fígado, levando 
à degeneração e necrose do tecido hepático e que resulta na diminuição da sua função. É 
possível que este quadro seja causado por microrganismos infecciosos, medicamentos, toxinas e 
outros. 
No caso dos microrganismos, tanto bactérias como vírus podem gerar hepatite. Porém, os casos 
mais comuns são de hepatites virais. Estudaremos as de maior prevalência a seguir. 
Clique nas barras para ver as informações. 
 
HEPATITE A 
Causada pelo vírus da família Picornaviridae, que se multiplica nos hepatócitos e é excretado 
para o sistema digestório pela bile. Por isso, suas partículas costumam ser encontradas nas fezes 
de infectados com a doença aguda. 
 
HEPATITE B 
Transmitida por um vírus mais complexo que leva ao acometimento de uma doença mais 
prolongada e séria do que a hepatite A. O vírus infecta e se replica em grande quantidade nos 
hepatócitos, de onde é liberado para a circulação sanguínea periférica. Laboratorialmente, é 
detectado por diferentes antígenos, como mostra o esquema a seguir. 
Os determinantes antigênicos que podem ser testados laboratorialmente para VHB. 
 
HEPATITE C 
Apresenta-se como doença crônica, podendo evoluir para cirrose após 10 anos de infecção. Em 
torno de 20% dos pacientes desenvolvem carcinoma hepatocelular. 
No caso de hepatites, os testes padrão de função hepática são utilizados para: 
 Sugerir a existência da doença; 
 Avaliar sua gravidade; 
 Acompanhar sua progressão; 
 Verificar a resposta do paciente à terapia implementada; 
 Verificar se as hepatites são ou não virais (realizado por testes sorológicos, exames de 
imagem ou avaliação histológica). 
Quais os testes utilizados nos casos de hepatite aguda? 
Clique no botão para ver as informações. 
Saiba mais 
Nos quadros de hepatite aguda, os testes geralmente apresentam os seguintes resultados no 
plasma: 
 Grande elevação dos níveis das aminotransferases

Continue navegando