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BIOQUÍMICA CLÍNICA E CONTROLE DE QUALIDADE NO LABORATÓRIO CLÍNICO Elaboração Rebeca Confolonieri Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................................................... 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ................................................................................................. 5 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................................. 7 UNIDADE I BIOQUÍMICA CLÍNICA ......................................................................................................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA CLÍNICA ........................................................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 TESTES BIOQUÍMICOS........................................................................................................................................................................................ 11 UNIDADE II CONTROLE DE QUALIDADE EM LABORATÓRIO CLÍNICO ................................................................................................................................. 64 CAPÍTULO 1 SISTEMA DE QUALIDADE ................................................................................................................................................................................ 65 CAPÍTULO 2 GESTÃO DE QUALIDADE .................................................................................................................................................................................. 92 UNIDADE III ACREDITAÇÃO LABORATORIAL ................................................................................................................................................................................. 104 CAPÍTULO 1 DEPARTAMENTO DE INSPEÇÃO E DE CREDENCIAMENTO DA QUALIDADE (DICQ) ............................................................ 108 CAPÍTULO 2 PROGRAMA DE ACREDITAÇÃO DE LABORATÓRIOS CLÍNICOS (PALC) ..................................................................................... 113 PARA (NÃO) FINALIZAR .................................................................................................................................................................... 116 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................................................ 117 4 APRESENTAÇÃO Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico- tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 ORGANIzAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/ conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 INTRODUÇÃO As investigações bioquímicas, hoje, estão presentes em todos os ramos da medicina clínica. Os resultados bioquímicos e químicos podem ser usados na monitorização, no prognóstico, no diagnóstico, no tratamento e mesmo na investigação de doenças. O controle de qualidade corresponde ao conjunto de atividades planejadas e sistemáticas de uma empresa, que servirão para garantir que o seu produto ou serviço atenda aos requisitos da qualidade. A garantia da qualidade engloba as atividades relacionadas com os processos: pré-analíticos, analíticos e pós-analíticos. Este Caderno foi elaborado com o objetivo de proporcionar conhecimentos básicos e aplicados na área laboratorial, como também sua interação com outras áreas das Ciências da Saúde. Sabe-se que é de extrema importância a realização de exames laboratoriais e que a cada ano vem crescendo a procura por determinar o caminho mais eficiente do estado clínico do paciente e por garantir sua colaboração com o diagnóstico de várias patologias. Também, notamos a importância na medicina preventiva por meio dos marcadores obtidos (resultados). A determinação de parâmetros bioquímicos se faz importante para a avaliação da qualidade de vida da população. O laboratório deve garantir a qualidade de seus produtos, visto que deve tê-la como uma missão para produzir resultados corretos. É importante que os laboratórios ofereçam serviços que superem as perspectivas de seus clientes, pois são eles que fazem uso do serviço. Será abordado o significado clínico dos testes bioquímicos mais comumente realizados nos laboratórios de análises clínicas; o sistema e a gestão de qualidade empregados. Esta apostila lhes fornecerá uma visão das atualidades empregadas tanto nos Exames Bioquímicos quanto no Controle de Qualidade aplicados principalmente no Laboratório Clínico. Bons Estudos! Objetivos » Proporcionar conhecimentos com base na discussão de casos clínicos sobre a aplicação e a interpretação dos parâmetros e ensaios bioquímicos utilizados na medicina clínica, contemplando as últimas atualizações na área, desenvolvendo um raciocínio lógico e crítico para a obtençãode um diagnóstico clínico laboratorial seguro. » Reconhecer e minimizar os erros analíticos no laboratório, permitindo avaliar a atuação do laboratório, objetivando a obtenção de resultados confiáveis e seguros. 9 UNIDADE IBIOQUÍMICA CLÍNICA CAPÍTULO 1 Introdução à bioquímica clínica Química Clínica, também conhecida como Bioquímica Clínica ou Química Fisiológica e Patológica, é a ciência de interface entre a química e a patologia. Suas investigações e conclusões podem ser utilizadas na medicina hospitalar e clínica como suporte para os médicos confirmarem ou descartarem determinados diagnósticos. História A Bioquímica clínica originou-se no final do século XIX, por meio do uso de técnicas químicas para análise de sangue e urina. Com o passar dos tempos, evoluiu até incorporar técnicas modernas como PCR, imunoensaios e eletroforese, além de análises de aspirados do suco gástrico e líquido cefalorraquidiano (LCR). A bioquímica clínica, também conhecida como química clinica ou química fisiológica ou patológica, consiste em uma ciência que medeia a química e a patologia, responsável por investigar materiais orgânicos, como sangue e urina, em que seus resultados refletem alterações metabólicas responsáveis pelo desenvolvimento de doenças. Estabelecer valores de referência bioquímicos em amostras orgânicas é de suma importância, pois eles servirão como parâmetros para avaliar as alteraçőes funcionais do indivíduo, e com isso contribuir com o clínico, diminuindo suas incertezas e propiciando a conduta mais adequada de tratamento e predição de prognóstico. As investigações bioquímicas, hoje, estão presentes em todos os ramos da medicina clínica. Os resultados bioquímicos e químicos podem ser usados na monitorização, no prognóstico, no diagnóstico, no tratamento e mesmo na investigação de doenças. Na maioria das mensurações laboratoriais, os resultados variam de um laboratório para outro. O usuário deve, portanto, conhecer quais os parâmetros adotados por cada um, 10 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA assim como deve estar atento às variações por idade, sexo, altura, estado fisiológico (ex.: gravidez, lactação) que se aplicam ao paciente em particular. Exames Na Bioquímica Clínica é fundamental o entendimento e a análise dos resultados e procedimentos das dosagens obtidas. No setor de bioquímica, os exames realizados dizem respeito à investigação do funcionamento dos processos metabólicos do organismo. São exemplos: glicose, colesterol, triglicerídeos, exames de função hepática, função renal, função cardíaca, eletrólitos etc. A sequência de ações dentro de um laboratório, no qual são realizados exames laboratoriais, inicia- se com a coleta do material a ser analisado e termina com a emissão de um laudo diagnóstico. Na fase pré-analítica, o paciente é orientado e o material a ser analisado é coletado, manipulado e conservado para posterior análise. É nesta fase que ocorre a maioria dos erros. A fase analítica, com os avanços tecnológicos, é realizada mediante o uso de aparelhos automatizados. Isso garante maior percentual de acertos, respostas mais rápidas, tempo do profissional otimizado e análises em maior escala, possibilitando uma intervenção mais ágil, aumentando, assim, a possibilidade de salvar mais vidas humanas. Nos laudos, os principais erros são unidades erradas, erros de digitação, não informação de interferentes no exame etc. Nesse contexto, existem diversos fatores que podem interagir com o resultado do exame, resultando em um falso-negativo ou falso-positivo: medicamentos utilizados pelo paciente, sua resposta metabólica, jejum, transporte do material, centrifugação, metrologia, reagentes, calibração e manutenção dos equipamentos, entre outros. 11 CAPÍTULO 2 Testes bioquímicos Os laboratórios de Bioquímica Clínica permitem efetuar testes urgentes, que são processados rapidamente, pois o seu resultado é crítico para o atendimento de pacientes em estado grave e que necessitem com urgência de diagnóstico e tratamento. Glicose A glicose é a molécula-chave no metabolismo de combustível. Nós introduzimos o assunto sobre o metabolismo de combustível descrevendo a digestão e a absorção dos nutrientes no intestino, seguido da discussão das nossas necessidades nutricionais tanto para os nutrientes principais (proteínas, carboidratos, gorduras) quanto para os micronutrientes (vitaminas e oligoelementos minerais). Também discutimos o papel da dieta na saúde e na doença. O metabolismo dos compostos combustíveis é iniciado pela glicólise, uma via metabólica anaeróbica universal e antiga, para metabolizar a glicose e produzir energia. A glicólise ocorre por meio de passos idênticos tanto em nossas células cerebrais quanto na bactéria anaeróbica dos nossos intestinos; transforma glicose em piruvato, deixando a fase do metabolismo oxidativo para a mitocôndria. Esta via fornece a oportunidade de introduzir os mecanismos de regulação das vias metabólicas por moléculas pequenas efetoras alostéricas, pela modificação química reversível de enzimas-chave e pelo controle da expressão gênica. A glicose não é apenas o nosso principal carboidrato combustível, mas também uma forma de carboidrato circulante no sangue, rigorosamente regulado. A manutenção de uma concentração normal da glicose no sangue, apenas um quinto de uma colher de chá de açúcar em um litro de sangue (100 mg/dL; 1 g/L; 5 mmol/L), é essencial para a nossa sobrevivência. Quando a glicose sanguínea diminui para menos de 45 mg/dL (2,5 mmol/L), pode-se entrar em coma hipoglicêmico; quando permanece constantemente maior que 125 mg/dL (7 mmol/L), pode tornar-se diabético e em risco de doença renal, vascular e ocular. 12 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA Métodos de determinação da Glicemia A técnica de determinação da glicemia deve ser levada em consideração, visto que os diferentes métodos disponíveis variam quanto à sua especificidade e sensibilidade para a glicose. A própria amostra de sangue é importante; de acordo com vários registros, para cada hora de permanência da amostra em temperatura ambiente, os valores da glicemia no sangue total diminuem cerca de 10 mg/100 mL, a não ser que se adicione um preservativo. O hematócrito, quando elevado, acentua a redução da glicose, devido à atividade metabólica dos eritrócitos. O fluoreto continua sendo o preservativo mais recomendado. O plasma e o soro são mais estáveis do que o sangue total. Quando o soro pode ser separado das células antes de 2 horas, os valores da glicose sérica permanecem estáveis por um período de até 24 horas em temperatura ambiente. A refrigeração ajuda esta preservação. Os valores séricos ou plasmáticos são geralmente 10-15% superiores aos obtidos com sangue total. A maioria dos equipamentos automáticos atuais utiliza soro. Existem alguns analisadores portáteis ou de pequeno tamanho para consultório, na forma de instrumentos destinados a um único teste (por exemplo, analisador de glicose Yellow Springs), com cartuchos reagentes (por exemplo, Abbott Vision ou HemoCue-B G) ou na forma de fitas reagentes (Kodak Ektachem ou Bohringer Reflotron). Habitualmente, utiliza-se sangue venoso para determinação da glicose. Os valores com sangue capilar (arterial) são aproximadamente iguais aos do sangue venoso quando o paciente está em jejum. Entretanto, os valores de sangue capilar quando o indivíduo não está em jejum são aproximadamente 30 mg/100 mL (1,6 mmol/L) mais altos do que os obtidos com sangue venoso, podendo esta diferença ser algumas vezes de até 100 mg/100 mL (5,55 mmol/L). Métodos bioquímicos Dispõe-se de um número considerável de métodos para a determinação da glicemia. Esses métodos podem ser convenientemente classificados em: métodos não específicos com substâncias redutoras, que fornecem valores significativamente acima dos verdadeiros valores da glicose (método manual de Folin-Wu e método automático SMA 12/60 com neocuproína); métodos que não são totalmente específicospara glicose, mas que proporcionam resultados bem próximos aos da glicose verdadeira (Somogyi-Nelson, ortotoluidina ferricianeto) e métodos específicos para glicose verdadeira, que utilizam enzimas (glicose-oxidase e hexoquinase). 13 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I Existem certas diferenças técnicas e interferências por certos medicamentos ou substâncias metabólicas que são responsáveis pela falta de uniformidade da metodologia laboratorial e que, em alguns casos, podem afetar a interpretação dos resultados. Os valores de referência mencionados são para o soro e para a glicose verdadeira, a não ser que haja especificação em contrário. Interpretação Diagnóstico de acompanhamento de diabetes mellitus ou condições hiperglicêmicas; diagnóstico de condições que levam a processos de hipoglicemia. A glicose é a fonte energética primária do organismo. O tecido nervoso depende exclusivamente desta molécula como fonte energética (não é capaz de estocar carboidratos, nem de transformá-los a partir de outras fontes), portanto, a concentração de glicose é crítica na manutenção da capacidade vital. A maioria dos carboidratos ingeridos ocorre na forma de glicogênio ou amido. As amilases são encarregadas de digerir esta forma polimérica, que é posteriormente metabolizada por outras enzimas específicas, para a produção de açúcares na forma de monossacarídeos. Os açúcares são absorvidos no intestino e transportados para o fígado, para posterior conversão em glicose. A glicose, ao entrar na célula, é decomposta em dióxido de carbono e água, com liberação de energia, através de três diferentes vias enzimáticas (dependendo do tipo celular e do seu status bioquímico). O organismo depende da manutenção dos níveis extracelulares de glicose em uma faixa relativamente estreita, o que é conseguido a partir da ação de um mecanismo multiorgânico e relativamente complexo, envolvendo a transformação de compostos em glicose, sua estocagem na forma de glicogênio e a decomposição de glicogênio em glicose funcional. A insulina e o glucagon são compostos-chave na manutenção desse equilíbrio, assim como outras substâncias endócrinas. Valores aumentados: diabetes mellitus (primária ou secundária, insulinodependente ou não insulinodependente); diabetes gestacional; ausência de jejum; estados de stress; injeções de adrenalina; feocromocitoma; choque; anestesia; pancreatite aguda; infarto agudo do miocárdio (IAM); dano cerebral; acidentes vasculares cerebrais (AVC); trauma; doença de Cushing; acromegalia; glucagonoma, uso de medicamentos (corticosteroides, estrogênios, álcool, fenitoína, diuréticos tiazídicos, propanolol); e hipervitaminose A crônica. Valores diminuídos: hipoglicemia reativa pós-prandial; pancreatites; insulinomas; hipoglicemia autoimune; neoplasias; hipopituitarismo; doença de Addison; hipotireoidismo; prematuridade; recém-nato de mãe diabética; doenças enzimáticas 14 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA hereditárias; desnutrição; alcoolismo; e uso de medicamentos (insulina, sulfonilureia etc). Referência: Homens e não grávidas: inferior a 100 mg/dL; Pré-diabetes ou risco aumentado: 100 a 125 mg/dL; Grávidas: 92 mg/dL; 2 horas após ingestão de 75g de glicose: inferior a 200 mg/dL. Fontes Potenciais de Variabilidade: » Presença de fibrina; » Pipetagem de bolhas; » Presença de hemólise; » Presença de lipemia; » Armazenamento incorreto das amostras (demorar mais de duas horas para centrifugação); » Manutenção incorreta dos aparelhos. Hemoglobina glicosilada A hemoglobina glicosilada (HbA1c) reflete a média do controle glicêmico. Uma das desvantagens da dosagem da glicose plasmática está no fato de que ela se altera rapidamente. Portanto, um importante avanço no monitoramento de pacientes diabéticos foi a avaliação da hemoglobina modificada pela glicose (hemoglobina glicosilada ou HbA1c). A hemoglobina nativa (HbA) pode ser convertida para a forma glicosilada (HbA1c); tal conversão aumenta durante a hiperglicemia e é proporcional à concentração de glicose plasmática média. Como a formação de HbA1c em pH fisiológico é praticamente irreversível, a glicosilação deixa um “registro” de glicemia ao longo do resto da vida dos eritrócitos: a concentração de HbA1c no sangue reflete a média de tempo do nível da glicose plasmática acima de 3-6 semanas precedentes à dosagem. A concentração normal de HbA1c é de 4%-6% do total de HbA. Os níveis abaixo de 7% indicam controle aceitável do diabetes. Níveis mais elevados sugerem controle deficiente. 15 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I Interpretação Monitoramento de controle glicêmico diabético. A HbA1c é resultado da reação entre a glicose do sangue e a proteína hemoglobina contida na hemácia ou no glóbulo vermelho. A glicose liga-se de forma irreversível e não enzimática a uma série de proteínas e à hemoglobina (por rearranjo de Amadori), que se torna glicosilada. A dosagem da fração HbA1c permite a avaliação de longo prazo do controle glicêmico. O prazo avaliado é de cerca de 90 dias; níveis inferiores a 6,5% são associados a um bom controle glicêmico. É por esta razão que, ao analisarmos o quanto a hemoglobina incorporou glicose durante o seu tempo de vida, podemos ter uma excelente ideia da média das taxas de glicose no período. A determinação de HbA1c por cromatografia líquida de alta pressão diminuiu em muito a possibilidade das interferências nos resultados. Condições que aumentam a formação de novas células vermelhas também podem causar falsa redução nos níveis de HbA1c. Entre elas, podemos citar o uso de eritropoetina (estimulador das células vermelhas comumente usado em pacientes com doença renal crônica) e a perda de sangue. Referência: Não diabéticos: Inferior a 5,7%; Pré diabéticos: 5,7 a 6,4%; Diabéticos controlados: ao redor de 7%; Idosos, dependendo do estado de saúde: 7,5 a 8,5%. Observação: Valores segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes. O teste de glicemia detecta a hipo e a hiperglicemia, ou seja, quando há pouco ou muito açúcar em circulação. O segundo quadro denuncia o diabetes mesmo quando não há sintomas da doença. Já a hemoglobina glicada também dosa a glicose, mas por meio da análise de uma porção do sangue que se liga a ela: a tal hemoglobina. 16 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA Ureia Regulação do ciclo da ureia A regulação primária do ciclo da ureia parece ocorrer por meio do controle da concentração de N-acetilglutamato. Concentrações elevadas de arginina estimulam a formação de N-acetilglutamato. As concentrações das enzimas do ciclo da ureia também aumentam ou diminuem em resposta à dieta rica ou pobre em proteínas, respectivamente. Defeitos em qualquer uma das enzimas do ciclo da ureia têm sérias consequências. Bebês nascidos com defeitos em qualquer uma das primeiras quatro enzimas nessa via podem parecer normais ao nascimento, mas rapidamente se tornam letárgicos, perdendo a temperatura corporal e apresentando dificuldades para respirar. As concentrações sanguíneas de amônia aumentam rapidamente, seguidas por edema cerebral. Os sintomas são mais graves quando as etapas iniciais no ciclo são afetadas. No entanto, um defeito em qualquer urna das enzimas nessa via constitui um problema sério, podendo causar hiperamonemia e levar rapidamente a edema do Sistema Nervoso Central (SNC), coma e morte. Uma deficiência de arginase, a última enzima no ciclo, produz sintomas menos graves, mas é caracterizada por concentrações aumentadas de arginina no sangue e por pelo menos um aumento moderado na amonemia. As cinco enzimas que catalisam o ciclo da ureia no fígado são: carbamoil fosfato sintetase (CPS1); ornitina transcarbanoilase; argininosuccinato sintetase; argininosuccinase; arginase. Ciclo da ureia Nos mamíferos terrestres, o ciclo da ureia é o mecanismo de escolha para excreção de nitrogênio. Os dois nitrogênios de cada molécula de ureia são derivados de amônia livre e do amino-grupo do aspartato, respectivamente. O ciclocomeça e termina com ornitina, em que os carbonos original e final são os mesmos. Amônia (primeiro nitrogênio da ureia) entra no ciclo após condensação com bicarbonato para formar carbamoil fosfato, que reage com ornitina para formar citrulina. Aspartato (doador do segundo nitrogênio da ureia) e citrulina reagem para formar argininossuccinato, que é então clivado a arginina e fumarato. A arginina é hidrolisada à ureia e a ornitina é regenerada. A ureia é então transportada para o rim e 17 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I excretada na urina. O ciclo requer quatro adenosina trifosfato (ATP) para cada molécula de ureia produzida e excretada. É, portanto, mais eficiente, energeticamente, incorporar amônia em aminoácidos do que excretá-la. A principal etapa regulatória é a síntese de carbamoil fosfato. O ciclo é também regulado por indução enzimática. Doenças metabólicas da síntese da ureia As doenças metabólicas que advêm do funcionamento anormal de enzimas da síntese de ureia são potencialmente fatais e causam coma quando as concentrações de amônia ficam elevadas. A perda de consciência pode ser urna consequência da depleção de ATP. A principal fonte de ATP é fosforilação oxidativa, que está ligada à transferência de elétrons provenientes do ciclo dos ácidos tricarboxílicos (TCA), pela cadeia de transporte de elétrons. Uma alta concentração de amônia sequestra α-cetoglutarato como glutamato, esgotando, assim, o ciclo TCA de importantes intermediários e reduzindo a produção de ATP. A terapia para essas deficiências baseia-se em quatro princípios: » limitar a ingestão de proteínas e o potencial acúmulo de amônia; » remover o excesso de amônia; » repor qualquer intermediário que falte no ciclo da ureia; » realizar um transplante hepático. O primeiro é realizado limitando-se a ingestão de aminoácidos, substituindo-os, se necessário, pelos α-cetoácidos equivalentes. O segundo é atingido por compostos que se ligam covalentemente a aminoácidos e produzem moléculas que contêm nitrogênio e que são excretadas na urina. Depuração da ureia A ureia é um produto de degradação contendo nitrogênio, proveniente do metabolismo das proteínas, formada no fígado a partir da amônia (derivada predominantemente do metabolismo das proteínas pelas bactérias intestinais) e de vários aminoácidos, dentre os quais o mais importante é alanina. 18 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA A ureia é filtrada no glomérulo, porém cerca de 40% dela é reabsorvida nos túbulos por difusão retrógrada passiva. Contudo, em condições normais, os valores de depuração da ureia mostram-se paralelos à taxa de filtração glomerular (TFG) verdadeira, correspondendo a cerca de 60% desta última. No entanto, esta situação pode ser adversamente influenciada por dois fatores. Em primeiro lugar, a prova depende da velocidade do fluxo urinário. Na presença de fluxo urinário baixo (<2 mL/ min), os valores são muito imprecisos, mesmo quando são utilizadas certas fórmulas de correção. Em segundo lugar, os níveis sanguíneos de ureia modificam-se em certo grau durante o dia e variam de acordo com a dieta e outras condições. Interpretação Avaliação da função renal. A ureia é uma das principais substâncias nitrogenadas do organismo, sendo sintetizada no fígado a partir de CO2 e amônia, provenientes da deaminação de aminoácidos. O composto é o principal produto de excreção do metabolismo proteico. Após sua síntese, a ureia é liberada na corrente sanguínea, seguindo até os rins, onde é filtrada ao plasma pelos glomérulos. A maioria da ureia filtrada é excretada na urina, porém até 40% dela pode ser reabsorvida por difusão passiva durante a passagem pelos túbulos renais. A quantidade reabsorvida depende do fluxo urinário e do estado de hidratação do indivíduo. Pequenas quantidades de ureia são excretadas pelo trato gastrointestinal e pela pele. Os níveis plasmáticos de ureia são mantidos por um equilíbrio entre perfusão e função renal, conteúdo proteico da dieta e catabolismo proteico. Embora a ureia seja menos específica para função renal do que a creatinina, é mais sensível a alterações iniciais da função renal, sendo importante marcador nestas condições. Valores aumentados: insuficiência renal aguda ou crônica; insuficiência cardíaca congestiva; desidratação severa; choque; catabolismo proteico aumentado (hemorragia no trato gastrointestinal, IAM, stress, neoplasmas, ingestão excessiva de proteínas); perda muscular; e uso de medicamentos (tetraciclinas com uso de diuréticos). Valores diminuídos: gravidez (segundo trimestre); diminuição do consumo de proteínas; insuficiência hepática severa; acromegalia; desnutrição; e certos medicamentos (hormônios anabolizantes, cloranfenicol, estreptomicina). Referência: Soro: 10 - 53,5 mg/dL. Urina: 7 - 16g/24 horas. 19 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I Creatinina Creatina – conceito O armazenamento de fosfato de “alta energia”, particularmente em músculos cardíacos e esqueléticos, ocorre por transferência do grupo fosfato do ATP para creatina. A quantidade de creatina no corpo está relacionada à massa muscular e certa porcentagem dela sofre turnover a cada dia. Cerca de 1-2% da creatina fosfato preexistente é ciclizada à creatinina que, por sua vez, é excretada na urina. A quantidade de creatinina excretada por um indivíduo é, portanto, constante entre um dia e outro. Quando uma amostra de urina de 24 horas é requisitada, a quantidade de creatinina na amostra pode ser usada para determinar se a amostra realmente representa a produção urinária de um dia inteiro. Depuração da creatinina A creatinina é um produto metabólico da fosforilação da creatina-fosfato no músculo. A sua produção é relativamente constante de hora em hora e diariamente, e os níveis sanguíneos são muito estáveis. A excreção é feita por meio de uma combinação de filtração glomerular (70-80%) e secreção tubular. Na presença de baixas taxas de filtração (<30% do normal), os valores de depuração da creatinina tornam-se cada vez mais imprecisos, uma vez que a fração tubular secretada constitui maior proporção da creatinina urinária total. A depuração da creatinina tem uma vantagem sobre a da ureia em virtude de a taxa de produção de creatinina ser mais constante do que a da ureia. Como o valor sérico faz parte da fórmula de depuração, a ocorrência de menor flutuação no nível sérico permite colheitas de urina a intervalos maiores, além de fornecer resultados mais reproduzíveis. Além disso, verifica-se uma menor alteração da excreção de creatinina do que de ureia. Creatinina sérica A creatinina sérica provém do metabolismo muscular. Os níveis séricos de creatinina dependem da massa muscular corporal: quanto maior a massa muscular mais elevado o nível de creatinina tanto no soro quanto na urina. Os valores de creatinina aumentam após as refeições, observando-se elevações maiores (20-50%) após a ingestão de carne. Existe uma variação diurna, com valores mais baixos em torno das 7 horas e picos 20 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA em torno das 19 horas. Os valores, no final da tarde, são cerca de 20-40% superiores aos valores da manhã. Parte da variação observada pode estar relacionada com as refeições. Os valores de referência para mulheres correspondem a cerca de 90% dos valores para homens. Em condições normais, a relação ureia/creatinina sérica é de aproximadamente 10:1. Em condições padrões, a ocorrência de uma redução de 50% na TFG produz um aumento aproximado de duas vezes no nível de ureia ou de creatinina sérica, verificando-se a situação inversa quando a TFG está elevada. Entretanto, essas relações podem ser alteradas por muitos fatores, incluindo os que aumentam ou diminuem os níveis séricos de ureia ou de creatinina, sem afetar um ao outro. As condições que reduzem a produção de creatinina podem parcialmente mascarar a elevação do nível sérico de creatinina devida à doença renal. O nível sérico de creatinina possui quase o mesmo significado daureia, porém tende a aumentar mais tarde. Desse modo, a observação de elevações significativas da creatinina sugere cronicidade. Metodologia laboratorial A creatinina é mais frequentemente determinada por um método químico (reação de Jaffé) que inclui cerca de 20% de substâncias diferentes da creatinina. A elevação das cetonas e de certos antibióticos do grupo das cefalosporinas (cefalotina, cefalexina) pode produzir elevações falsas da creatinina no soro ou na urina quando se utiliza reação de Jaffé. Certos medicamentos (cimetidina, trimetropim) interferem na secreção tubular da creatinina, aumentando o nível sérico desta e reduzindo sua depuração. Interpretação Avaliação da função renal. A creatinina é produzida nas células a partir do catabolismo da creatina. O processo se dá em grande parte nas células musculares. A creatinina é então liberada ao plasma para ser posteriormente filtrada nos glomérulos e excretada na urina. Pequenas quantidades de creatinina são secretadas no túbulo proximal e quantidades mínimas são reabsorvidas nos túbulos renais distais. O equilíbrio entre a produção de creatinina, a massa muscular do indivíduo e a função renal determina as concentrações plasmáticas da creatinina sérica. Geralmente, a massa muscular e as produções de creatina e creatinina tendem a ser mais estáveis, fazendo desta determinação um bom indicador da função renal. 21 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I Valores aumentados: diminuição da função renal (é necessária a perda da função renal em pelo menos 50% para que ocorra elevação dos níveis de creatinina); obstrução do trato urinário; diminuição do aporte sanguíneo renal; desidratação e choque; intoxicação com metanol; doenças musculares (rabdomiólise, gigantismo, acromegalia). Valores diminuídos: massa muscular diminuída; debilitação; gravidez. Interferentes: consumo de carne torrada em grandes quantidades; exercícios físicos intensos não habituais e uso de medicamentos nefrotóxicos ou que alterem a excreção da creatinina no nível glomerular. Referência: Creatinina Sangue: Homens: 0,7 a 1,3 mg/dL; Mulheres: 0,6 a 1,2 mg/dL. Creatinina Urina 12 e 24 horas: Homens: 1,4 a 2,5 g/24 horas (14-26mg/kg/24horas); Mulheres: 1,1 a 2,0 g/24 horas (11-20mg/kg/24horas). Criança 0 a 1 semana = 0,6 a 1,3 mg/dL; Criança 1 a 6 meses = 0,4 a 0,6 mg/dL; Criança 1 a 18 anos = 0,4 a 0,9 mg/dL. Amilase Amilase é uma enzima da classe das hidrolases que catalisa o desdobramento do amido e do glicogênio ingeridos na dieta. O amido é a forma de armazenamento para a glicose nos vegetais, sendo constituído por uma mistura de amilose (amido não ramificado) e amilopectina (amido ramificado). A estrutura do glicogênio é similar ao da amilopectina, com maior número de ramificações. A α-amilase catalisa a hidrólise das ligações α-1,4 da amilose, amilopectina e glicogênio, liberando maltose e isomaltose. Não hidrolisa as ligações α-1,6. A amilase sérica é secretada, fundamentalmente, pelas glândulas salivares (forma S) e pelas células acinares do pâncreas (forma P). É secretada no trato intestinal por meio do ducto pancreático. As glândulas salivares secretam a amilase que, por sua vez, inicia a hidrólise do amido presente nos alimentos na boca e no esôfago. Essa ação é desativada pelo conteúdo ácido do estômago. No intestino, a ação da amilase pancreática é favorecida pelo meio 22 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA alcalino presente no duodeno. A atividade amilásica é também encontrada no sêmen, testículos, ovários, tubos de Falópio, músculo estriado, pulmões e tecido adiposo. A massa molecular da amilase é entre 40.000 e 50.000 Dalton, sendo facilmente filtrada pelo glomérulo renal. Amilase sérica O exame laboratorial mais comumente utilizado na pancreatite aguda consiste na determinação da a-amilase, que contém vários componentes (isoenzimas), alguns provenientes do pâncreas e outros derivados das glândulas salivares. A depuração do soro requer aproximadamente 2 horas. Uma parte significativa é depurada pelos rins, por meio de filtração glomerular, enquanto o restante é depurado por outras vias. O nível de amilase sérica, na maioria dos pacientes, atinge um pico dentro de 24 horas e se normaliza em 48-72 horas. Se houver destruição contínua das células pancreáticas, o nível de amilase sérica permanece elevado por mais tempo em alguns pacientes, porém retorna à faixa de referência em outros. Certas situações podem conter níveis de amilase sérica falsamente baixos ou normais. A administração de glicose provoca uma redução do nível sérico de amilase, devendo-se aguardar pelo menos 1 hora ou, de preferência, 2 horas após o paciente ter-se alimentado para determinar os níveis séricos da amilase. Na necrose pancreática hemorrágica maciça, pode não haver nenhuma elevação dos níveis séricos de amilase, visto que não há células funcionantes para produzi-la. Todavia, é rara a ocorrência deste grau de destruição pancreática. A lipemia sérica produz uma redução artificial dos valores da amilase sérica quando são utilizadas as metodologias mais atuais. Algumas causas importantes da elevação dos níveis de amilase sérica são: pancreatite aguda primária ou pancreatite crônica recidivante (por exemplo, pancreatite associada a álcool); hiperamilasemia associada à doença do trato biliar (por exemplo, colecistite); hiperamilasemia associada à doença intra-abdominal aguda não biliar (por exemplo, peritonite); amilase não pancreática ou não alfa (por exemplo, doença aguda das glândulas salivares); e outras condições (por exemplo, insuficiência renal). Amilase urinária A determinação da amilase urinária se torna útil, sobretudo, quando os níveis séricos da enzima estão normais ou equivocadamente elevados. Em geral, a excreção urinária de amilase aumenta dentro de 24 horas após amilase sérica e, por via de regra, permanece 23 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I anormal durante um período de sete a 10 dias após a normalização da concentração sérica. É importante que os resultados sejam expressos em unidades por hora. Com frequência, os valores são expressos em unidades/100 mL, contudo, esses valores não são precisos, uma vez que são influenciados por volumes variáveis de urina. A desvantagem da determinação da amilase sérica e urinária reside na sua relação com a função renal. Quando a função renal está diminuída o suficiente para produzir elevação do nitrogênio ureico do sangue, a excreção de amilase também diminui, com consequente elevação leve ou moderada dos níveis de amilase sérica e redução dos níveis urinários. Interpretação Amilase total Diagnóstico de pancreatites, parotidites e macroamilasemia. Valores aumentados: pancreatites agudas (início 3-6 horas, pico 20-30 horas, duração 48-96 horas); obstrução pancreática; trauma pancreático; câncer pancreático; obstrução biliar; IAM; perfuração intestinal; peritonite; gravidez ectópica, cetoacidose diabética, alguns tumores pulmonares ou ovarianos; queimaduras; insuficiência renal, parotidites infecciosas e não infecciosas; obstrução de glândulas salivares; e calculose salivar. Valores diminuídos: pancreatite crônica; cirrose; câncer pancreático em estágio avançado; e toxemia da gravidez. Referência: até 115,0 U/L. Amilase Pancreática Diagnóstico de pancreatites. Valores aumentados: pancreatites agudas; obstrução pancreática; trauma pancreático; câncer pancreático; obstrução biliar; IAM; perfuração intestinal; peritonite; gravidez ectópica; cetoacidose diabética; alguns tumores pulmonares ou ovarianos; queimaduras; e insuficiência renal. Valores diminuídos: pancreatite crônica; cirrose; câncer pancreático em estágio avançado; e toxemia da gravidez. Referência: 17,0 a 115,0 U/L. 24 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA Amilase Urinária Diagnóstico de macroamilasemia e pancreatites agudas e crônicas. Valores aumentados: sempre que houver hiperamilasemia, a amilase urinária estará aumentada, exceto em quadros de insuficiência renal e macroamilasemia.Interferentes: sangue na urina; menstruação; contaminação da urina; e má conservação da amostra. Referência: Homens: 16 a 491 U/L; Mulheres: 21 a 447U/L. Albumina A albumina é a principal proteína de transporte do organismo, contribui para aproximadamente 50% da proteína encontrada no plasma humano e está presente normalmente na concentração de 35 a 45 g/L. É facilmente isolada e tem peso molecular de cerca de 66 kDa, portanto a albumina é uma das menores proteínas do plasma e, dada a sua natureza altamente polar, dissolve-se com facilidade na água. Em pH 7,4, apresenta-se como um ânion com 20 cargas negativas por molécula; isso lhe dá uma enorme capacidade para se ligar de modo não seletivo a muitos ligantes. A presença de grandes quantidades de albumina no organismo (4-5 g/Kg de peso corporal) também ajuda a explicar o papel crucial que essa proteína exerce na pressão osmótica coloidal. A taxa de síntese de albumina (14-15 g por dia) depende fundamentalmente do estado nutricional, sobretudo do grau de deficiência de aminoácidos. A meia-vida da albumina é de cerca de 20 dias e a degradação parece ocorrer por pinocitose em todos os tecidos. A albumina é a principal proteína do plasma responsável pelo transporte de ácidos graxos hidrofóbicos, bilirrubina e drogas. O transporte dos ácidos graxos de cadeia longa é à base de grande parte da distribuição dos substratos ricos em energia pelo organismo. Ao se ligar aos ácidos graxos, como o ácido esteárico, e consequentemente solubilizá-los e, por fim, transportá-los, a albumina possibilita a passagem dessas moléculas hidrofóbicas pelo plasma, um meio predominantemente hidrofílico. Acredita-se que os sítios de maior afinidade estão nos segmentos globulares dentro de fendas especializadas da molécula da albumina. Além de se ligar aos ácidos graxos, 25 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I a albumina desempenha um papel importante ao se ligar à bilirrubina não conjugada, tornando-a, desse modo, não apenas solúvel em água e transportável do sistema reticuloendotelial até o fígado, mas também temporariamente não tóxica. Quando as concentrações de bilirrubina não conjugada estão excessivamente elevadas, a capacidade de ligação da albumina é suplantada. Nas crianças, essa situação pode contribuir para o surgimento do kernicterus. A albumina não é essencial para a sobrevivência humana; e já foram descritos raros defeitos congênitos envolvendo hipoalbuminemia ou ausência completa de albumina (analbuminemia). Kernicterus: Do alemão kern: núcleos + ikteros: icterícia é uma condição resultante da toxicidade da bilirrubina às células dos gânglios da base e a diversos núcleos do tronco central. Na prática clínica, kernicterus é utilizada intercambiavelmente com o termo encefalopatia bilirrubínica. É importante o reconhecimento dos fatores que aumentam a incidência dessa patologia: hipoglicemia, hipercapnia, acidose, hipotermia, hipóxia, infecção bacteriana, hipoalbuminemia, hemólise aguda e administração de drogas que competem com a bilirrubina na ligação com a albumina (benzoatos, salicilatos, sulfanomidas, ceftriaxona, ibuprofeno, diuréticos). O aumento do nível de albumina sérica é muito raro, exceto na desidratação. A maioria das alterações consiste em reduções, de modo que a ocorrência de pequenas diminuições não é percebida, a não ser que os níveis normais do paciente sejam conhecidos. No período gestacional, os níveis de albumina diminuem progressivamente até o parto e só se normalizam depois de aproximadamente oito semanas pós-parto. Nos lactentes, a albumina atinge níveis adultos em torno de um ano de idade. Posteriormente, os níveis das proteínas séricas permanecem relativamente estáveis, à exceção de uma redução gradual depois dos 70 anos de idade. A desnutrição resulta em níveis diminuídos de albumina, presumivelmente devido à falta de aminoácidos essenciais, mas possivelmente também em consequência da síntese hepática deficiente e devido a causas desconhecidas. A deficiência pode constituir a causa da redução dos níveis de albumina, observada na maioria das formas de hepatopatia clínica, como a cirrose. Em doenças caquéticas ou debilitantes crônicas, como tuberculose ou carcinoma, o nível de albumina quase sempre está diminuído, não sabendo-se ao certo se esta redução se deve a uma síntese deficiente ou a outros fatores. As infecções crônicas parecem exercer o mesmo efeito 26 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA que as doenças caquéticas. Pode ocorrer perda direta de albumina sérica da corrente sanguínea em consequência de hemorragias, queimaduras, exsudatos ou extravasamento no trato gastrintestinal na presença de várias enteropatias perdedoras de proteínas. Na síndrome nefrótica, verifica-se uma acentuada redução dos níveis séricos de albumina devido a uma perda direta na urina. A albumina quase sempre diminui rapidamente em muitas doenças agudas graves ou lesões; a diminuição começa dentro de 10-36 horas e torna-se máxima em cerca de cinco dias. Por fim, existe uma rara causa genética responsável por baixos níveis séricos de albumina, conhecida como “disproteinemia familiar idiopática”, em que a albumina se encontra acentuadamente diminuída. Interpretação Marcador de desordens do metabolismo proteico (nutricional, síntese reduzida, perda aumentada); avaliação de status nutricional; pressão oncótica sanguínea; doença renal com proteinúria; outras doenças crônicas. A determinação de albumina nos líquidos cavitários oferece vantagens sobre a determinação da proteína total no diagnóstico diferencial entre transudatos e exsudatos. Valores aumentados: desidratação (verificar aumento do hematócrito). Valores diminuídos: ingestão inadequada (desnutrição ou diarreias crônicas); absorção entérica diminuída (síndromes mal-absortivas); aumento da demanda corpórea (hipertireoidismo, gravidez); síntese prejudicada (cirrose, alcoolismo), processo inflamatório crônico (analbuminemia hereditária); aumento de catabolismo (neoplasias, infecções, traumas, inflamações); perda (edema, ascites, queimaduras, nefroses, síndrome nefrótica, enteropatias com perda proteica); diluição (hidratação rápida, diabetes psicogênica); deficiência congênita. A hipoalbuminemia está associada a maiores períodos de internação. Referência: Recém- nascidos: 2,8 - 4,2g/dL; Adultos: 3,5 - 5,7g/dL. Proteínas totais e frações As proteínas séricas consistem em albumina e globulinas, quer na forma livre ou atuando como proteínas transportadoras. A palavra “globulina” é um antigo termo químico de fracionamento que se refere à porção não albumínica das 27 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I proteínas séricas; subsequentemente, foi constatado que esta porção inclui um grupo heterólogo de proteínas, como glicoproteínas, lipoproteínas e imunoglobulinas. As moléculas de globulina, em sua maioria, são consideravelmente maiores do que as de albumina, apesar de a quantidade total de albumina ser, em condições normais, duas a três vezes o nível de globulina. A albumina parece ser mais ativa na manutenção da pressão oncótica do soro, onde normalmente é cerca de quatro vezes mais importante do que a globulina, sendo responsável por cerca de 80% da pressão oncótica do plasma. As globulinas exercem funções mais variadas do que a albumina e formam o principal sistema de transporte de várias substâncias, além de constituir o sistema de anticorpos, as proteínas da coagulação, o complemento e certas substâncias de função especial, como as proteínas de “reação aguda”. A maior parte da albumina sérica é produzida pelo fígado. Algumas globulinas são sintetizadas pelo fígado e pelo sistema reticuloendotelial, enquanto outras são produzidas por outros tecidos ou mediante mecanismos que ainda não estão bem elucidados. O plasma contém fibrinogênio além das proteínas séricas habituais. Métodos de determinação das proteínas séricas Numerosas técnicas são amplamente utilizadas para o fracionamento das proteínas séricas.A técnica de “precipitação salina” por solubilidade química diferencial permite uma separação grosseira da albumina e da globulina. A albumina é frequentemente determinada por um método químico (biureto) que reage com átomos de nitrogênio ou com um corante (como o verde de bromocresol ou a púrpura de bromocresol) que se liga preferencialmente à albumina. A ultracentrifugação tem sido utilizada para estudar alguns dos subgrupos das globulinas. A nomenclatura das proteínas séricas derivada da eletroforese divide as globulinas séricas em alfa, beta e gama, de acordo com a mobilidade eletroforética. Com base no uso de anticorpos dirigidos contra antígenos sobre a molécula proteica, o imunoensaio quantifica mais as proteínas individuais do que grupo de proteínas e, em geral, fornece resultados confiáveis com excelente sensibilidade e especificidade. A imunoeletroforese ou técnicas semelhantes, como a imunofixação, dão um passo à frente do imunoensaio e separam algumas moléculas globulínicas individuais em componentes estruturais ou em subclasses. A imunoeletroforese também pode detectar proteínas anormais que diferem estruturalmente das proteínas normais ou cujos componentes estruturais são produzidos em diferentes proporções. 28 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA Interpretação Avaliação das hipoproteinemias e das hiperproteinemias. Valores aumentados: hiperimunoglobulinemias; gamopatia policlonal; e gamopatia monoclonal. Valores diminuídos: perda proteica; síndrome nefrótica; doença crônica do fígado; desnutrição; e agamaglobulinemia. Referência: Proteínas totais = Recém nascidos: 4,6 a 7g/dL; Dos 3 anos até idade adulta: 6,0 a 8,3g/dL; Albumina = 3,8 a 5,2 g/dL; Globulinas 2,2 a 4,2g/dL; Relação A/G > 1,0. Transaminases (TGO, TGP) As enzimas Aspartato-aminotransferase - AST (Transaminase Glutâmica Oxalacética - TGO) e Alanina-aminotransferase - ALT (Transaminase Glutâmica Pirúvica - TGP) catalisam a transferência reversível dos grupos amino de um aminoácido para o a-cetoglutarato, formando cetoácido e ácido glutâmico. Essas reações requerem piridoxal fosfato como coenzima: » aspartato + α-cetoglutarato ↔ oxalacetato + ácido glutâmico; » alanina + α-cetoglutarato ↔ piruvato + ácido glutâmico. As reações catalisadas pelas aminotransferases (transaminases) exercem papéis centrais tanto na síntese como na degradação de aminoácidos. Além disso, como essas reações envolvem a interconversão dos aminoácidos a piruvato ou ácidos dicarboxílicos, atuam como uma ponte entre o metabolismo dos aminoácidos e carboidratos. As aminotransferases estão amplamente distribuídas nos tecidos humanos. Aspartato-aminotransferase sérica (AST/TGO) A AST é uma enzima encontrada em vários órgãos e tecidos, incluindo fígado, coração, músculo esquelético e eritrócitos. A elevação da AST de origem hepática é devida a um grau de lesão hepatocelular aguda. Depois do início da lesão hepatocelular aguda 29 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I de qualquer etiologia, a AST é liberada das células lesadas. Os níveis séricos tornam-se elevados em cerca de 8 horas, atingem um pico dentro de 24-36 horas e normalizam- se em três a seis dias se o episódio for de curta duração. Na lesão leve, os níveis séricos podem sofrer elevação apenas transitória e mínima ou, inclusive, podem permanecer dentro dos limites de referência. Existe um grande grupo de doenças comuns que exibem elevação leve ou moderada dos níveis de AST. Essas doenças incluem: hepatite aguda na fase de remissão ou recuperação, hepatite crônica, cirrose ativa ou hepatopatia alcoólica, congestão hepática passiva, disfunção hepática induzida por drogas (incluindo heparina por via intravenosa ou subcutânea), tumor hepático metastático, obstrução extra-hepática prolongada do ducto biliar, mononucleose infecciosa, citomegalovírus e fígado gorduroso. A AST é encontrada em outros tecidos além do fígado e essa falta de especificidade constitui um problema frequente. Interpretação A determinação da atividade sérica dessa enzima pode ser útil em hepatopatias, IAM e miopatias. Diferentemente da TGP, a TGO não é exclusivamente utilizada para a avaliação da integridade dos hepatócitos. Nas hepatites virais agudas, valores 20 ou mais vezes superiores ao normal são quase sempre encontrados na fase aguda. Valores elevados podem ser vistos também na hepatite alcoólica e em necroses hepatocíticas tóxicas ou isquêmicas. Na mononucleose é comum o encontro de valores elevados de TGO, mas a DHL aumenta mais. Em miopatias, a TGO e outras enzimas como a CPK ou DHL estão aumentadas. No IAM, há aumento de TGO, com pico em torno de 24 horas após o infarto e retorno ao normal em 3 a 7 dias. Infartos renais, pulmonares ou de grandes tumores podem causar aumentos de TGO. Em todos esses casos, a DHL também aumenta. Aumentos de TGO podem ainda ser vistos em: mixedema, anemias hemolíticas e choque. Uma vez que a enzima está presente em eritrócitos, a presença de hemólise eleva a atividade no soro. Referência: Feminino = até 32 U/L; Masculino = até 38 U/L. 30 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA Alanina-aminotransferase sérica (ALT/TGP) A ALT é uma enzima encontrada predominantemente no fígado, porém com quantidades moderadas no rim e pequenas quantidades no coração e na musculatura esquelética. Em geral, a maior parte da elevação da ALT deve-se à presença de hepatopatia, embora a ocorrência de graus significativos de lesão tecidual nos outros órgãos mencionados também possa afetar os níveis séricos. Com efeito, a miosite ou a rabdomiólise grave pode, algumas vezes, elevar os níveis de ALT para valores habitualmente associados à hepatite viral aguda. O grau e a frequência de elevação dos níveis de ALT são aproximadamente iguais aos da AST na hepatite viral, na mononucleose infecciosa e na lesão hepatocelular aguda induzida por drogas. A ALT tem sido utilizada principalmente para ajudar a confirmar a origem hepática de um aumento da AST e, em certas ocasiões, o diagnóstico diferencial da hepatopatia por meio da relação AST/ALT. Interpretação O teste é útil na avaliação de hepatopatias. É um teste sensível de lesão hepatocítica e recomendado para rastreamento de hepatites. Aumentos de TGP podem ocasionalmente ser vistos em doenças extra-hepáticas, como miopatias. Outras enzimas como CPK, DHL, aldolase e TGO podem definir o estado de miopatia. A TGP é menos sensível que a TGO para avaliação de hepatopatia alcoólica. Referência: Feminino = até 31 U/L; Masculino = até 41 U/L. Gama-glutamiltransferase (GGT) A GGT catalisa a transferência de um grupo gama glutamil de um peptídeo para outro peptídeo ou para um aminoácido produzindo aminoácidos gama glutamil e cistenilglicina. Fisiologicamente, está envolvida no transporte de aminoácidos e peptídeos através das membranas celulares, na síntese proteica e na regulação dos níveis de glutationa tecidual. A GGT localiza-se predominantemente nas células hepáticas, em menor grau nos rins e, em quantidades bem menores, no epitélio do trato biliar, no intestino, coração, cérebro, pâncreas e baço. Parece haver certa atividade da GGT nas células endoteliais 31 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I capilares. O nível sérico de GGT apresenta-se elevado no recém-nascido, porém declina para valores como os do adulto em torno de quatro meses de vida. A determinação dos níveis de GGT tem sido recomendada como método de triagem para o alcoolismo. Os níveis de GGT podem tornar-se elevados em várias situações clínicas além da hepatopatia. Cerca de 5-30% dos pacientes com IAM desenvolvem níveis elevados de GGT. Em geral, esse aumento é atribuído à proliferação de capilares e fibroblastos no tecido de granulação. Normalmente, a elevação é observada sete a 14 dias após o infarto. O nível de GGT pode sofrer elevação transitória em consequência de processos reparadores extensos em qualquer parte do corpo. Geralmente, os níveis de GGT não estão aumentados na doença óssea,na infância, na adolescência e na gravidez — três situações não hepáticas que se encontram associadas a níveis elevados de FA. Por isso, a GGT tem sido utilizada para ajudar a diferenciar a origem hepática e não hepática nos casos em que os níveis de ALP estão aumentados. Contudo, devem-se levar em conta as possíveis fontes não hepáticas da GGT. Interpretação Diagnóstico de doenças obstrutivas hepáticas; marcador auxiliar de alcoolismo crônico. No fígado, esta enzima está localizada nos canalículos das células hepáticas e particularmente nas células epiteliais dos ductos biliares. Devido a esta localização característica, a enzima aparece elevada em quase todas as desordens hepatobiliares, sendo um dos testes mais sensíveis no diagnóstico destas condições. Nas células do parênquima hepático, a enzima é localizada tipicamente no retículo endoplasmático liso, estando sujeita à indução microssomal hepática e fazendo dela um marcador sensível a agressões hepáticas induzidas por medicamentos e álcool. Devido aos efeitos do consumo de álcool nos níveis de GGT, aceita-se este como um marcador sensível de alcoolismo crônico (embora não seja um marcador específico), especialmente quando seus aumentos não são acompanhados de aumentos similares de outras enzimas hepáticas. Portanto, sua determinação parece mais efetiva no monitoramento do tratamento de indivíduos diagnosticados. Os níveis de GGT usualmente retornam ao normal após 15-20 dias da cessação da ingestão alcoólica, podendo elevar-se em curto prazo se a ingestão alcoólica é retomada. 32 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA Valores aumentados: doenças hepáticas em geral (hepatites agudas e crônicas, cirrose, metástases); pancreatites; IAM; lúpus eritematoso sistêmico; obesidade patológica; hipertireoidismo; estados pós-operatórios; carcinoma de próstata; e uso de medicamentos hepatotóxicos ou capazes de ativar indução enzimática (barbituratos, fenitoína; antidepressivos tricíclicos). Referência: Feminino = 5,0 a 55,0 U/L; Masculino = 15,0 a 85,0 U/L. Fosfatase Alcalina (FA) A FA é um grupo de enzimas estreitamente relacionadas e com atividade máxima quando o pH é de cerca de 10. A FA é encontrada em numerosos tecidos, sendo suas maiores concentrações observadas no fígado e no epitélio do trato biliar, no osso, na mucosa intestinal e na placenta. O fígado e o osso constituem os dois tecidos mais comumente responsáveis pela elevação da FA. A FA é constituída de várias isoenzimas, e cada uma das principais fontes produtoras de FA contém uma isoenzima diferente. Fosfatase Alcalina de origem hepática A FA no fígado é formada por hepatócitos e por células da mucosa do trato biliar. A FA é excretada na bile através de um mecanismo diferente daquele que controla a excreção de bilirrubina. Embora a FA de origem hepática possa estar aumentada no soro devido a qualquer tipo de hepatopatia ativa, o nível sérico mostra-se especialmente sensível à obstrução do trato biliar, seja ela intra-hepática ou extra-hepática, de grau leve ou intenso, localizada numa pequena área do fígado ou numa região mais extensa. Como regra geral, o grau de elevação da FA reflete a gravidade da obstrução e a quantidade de tecido biliar afetado. As três patologias hepáticas mais frequentemente associadas a uma elevação da FA incluem obstrução extra-hepática (ducto biliar comum) do trato biliar, obstrução intra-hepática do trato biliar devido à lesão aguda dos hepatócitos e lesões hepáticas invasivas (tumor, abscesso, granulomas). A obstrução do ducto biliar comum, o tumor metastático para o fígado e o distúrbio pouco frequente de cirrose biliar primária constituem as etiologias mais frequentes da elevação consistente da FA para mais de três vezes o limite superior de referência. Na 33 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I obstrução extra-hepática do trato biliar (ducto biliar comum) ou na cirrose biliar primária, os níveis de FA apresentam-se elevados em quase 100% dos pacientes, exceto em alguns casos de obstrução incompleta ou intermitente. Em geral, os valores são de mais três vezes o limite superior da faixa de referência e, nos casos mais típicos, ultrapassam cinco vezes o limite superior. A observação de uma elevação de menos de três vezes o valor do limite superior constitui certa evidência contra a presença de obstrução extra-hepática completa. Fosfatase Alcalina de origem óssea Além do fígado, outras fontes produtoras podem elevar os níveis séricos de FA, quer de modo isolado, quer concomitantemente, com elevação da FA de origem hepática. Sem dúvida alguma, o osso constitui a fonte extra-hepática mais frequente. Os osteoblastos no osso produzem grandes quantidades de FA, e o aumento acentuado da atividade osteoblástica prejudica a utilidade da determinação da FA como prova de função hepática. O crescimento ósseo normal da infância e da adolescência, a consolidação de fraturas, a doença de Paget do osso, o hiperparatireoidismo, o raquitismo, a osteomalácia e o carcinoma metastático osteoblástico produzem regularmente valores elevados da FA. Todavia, no paciente com icterícia, pode-se admitir que pelo menos parte da elevação da FA se deve à hepatopatia. Quando existe alguma dúvida acerca da origem dos níveis aumentados de ALP, várias alternativas são possíveis. Uma delas consiste no uso de outra enzima que fornece informações semelhantes à FA na hepatopatia, mas que se mostra mais específica para a origem hepática. As enzimas que têm sido amplamente utilizadas para esta finalidade incluem a 5’-nucleotidase (5-NT) e a GGT. Outro método para diferenciar a origem tecidual da FA consiste na separação de isoenzimas de frações ósseas e hepáticas específicas da FA com o uso de calor, técnicas químicas, enzimáticas ou eletroforéticas. Dentre estas técnicas, a eletroforese é a mais difícil, mas provavelmente a de maior confiabilidade e a que fornece mais informações. Interpretação Diagnóstico diferencial de hepatopatias e icterícias obstrutivas; de doenças ósseas; e do metabolismo mineral. A FA alcalina é uma enzima da família das zinco- metaloproteínas e tem como função retirar um fosfato terminal de um éster fosfatado orgânico. Esta enzima funciona otimamente em um ambiente alcalino, possui cinco 34 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA isoenzimas (óssea, hepática, intestinal, placentária e Regan), que aumentam durante os períodos de crescimento, doença hepática e obstrução do ducto biliar. A atividade intestinal ocorre somente em indivíduos de grupo sanguíneo tipo O ou A. Ocorrem aumentos fisiológicos no crescimento e na gravidez. Valores aumentados: crescimento ósseo; cicatrização de fraturas; acromegalia; sarcoma osteogênico; metástases hepáticas ou ósseas; leucemia; mielofibroses; raquitismo ou osteomalácia; hipervitaminose D; doença de Paget; hipertireoidisrno; hiperparatireoidismo; pseudo-hiperparatireoidismo; ingestão crônica de álcool; obstrução biliar; cirrose; síndrome de Gilbert; hepatites; diabetes mellitus; citomegalovirose; câncer gástrico; câncer do cólon; câncer de fígado; câncer do pâncreas; câncer de pulmão; câncer ósseo; câncer de mama; pneumonias virais; abscessos hepáticos; colecistites; colangites; e obstrução biliar extra-hepática. Valores diminuídos: doença de Whipple; hipotireoidismo; doença de Zollinger-Ellison; desnutrição proteica; deficiência de vitamina C; e osteodistrofia renal. Quadro 1. Valores de Referências. Idade Mulher (U/L) Homem (U/L) Recém Nascido 150 – 600 150 – 600 5 meses a 9 anos 250 – 950 250 – 950 10 a 11 anos 250 – 950 250 – 730 12 a 13 anos 200 – 730 275 – 875 14 a 15 anos 170 – 460 170 – 970 16 a 18 anos 75 – 720 125 – 720 > 18 anos 50 – 136 40 – 136 Fonte: Baynes; Dominiczak (2007). Lactato Desidrogenase (LDH) A LDH é uma enzima da classe das oxidorredutases que catalisa a oxidação reversível do lactato a piruvato, em presença da coenzima NAD+ que atua como doadora ou receptora de hidrogênio. L-Lactato + NAD+ ↔ Piruvato + NADH++ H+ A LDH está presente no citoplasma de todas as células do organismo. Sendo rica no miocárdio, fígado, músculo esquelético, rim e eritrócitos. Esta enzima é encontrada 35 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I em menores quantidades nos pulmões, tecido linfoide, fígado e rim. Os níveis teciduais são, aproximadamente, 500 vezes maiores do que os encontrados no soro; e lesões naqueles tecidos provocam elevações plasmáticas significantes desta enzima. Um número considerável de situações clínicas pode elevar os níveis totais de LDH. Por esse motivo, os níveis séricos totais de LDH não têm sido muito úteis como prova de função hepática. Em alguns casos, o fracionamento das isoenzimas por eletroforese da LDH total elevada pode ajudar a revelar a origem da elevação e, então, ser útil para interpretar o padrão das provas de função hepática. A LDH pode ser fracionada em cinco isoenzimas por intermédio de vários métodos. A fração de migração mais lenta na eletroforese (fração 5) é encontrada predominantemente no fígado e no músculo esquelético. Em comparação com a LDH total, a fração 5 é consideravelmente mais sensível à lesão hepatocelular aguda, quase tão sensível quanto o nível de AST, e mais específica. Em geral, o grau de elevação é menor que o observado na AST. Interpretação Identificação de necrose celular. Valores aumentados: proliferação de células neoplásicas; IAM; anemias hemolíticas; anemias megaloblásticas; infarto pulmonar; choque e hipóxia intensos; e doenças hepáticas (hepatite, alcoolismo). Interferentes: hemólise; lipemia. Referência: Recém-nascidos = 240 – 600 U/L; Crianças 2 a 15 anos = 120 – 300 U/L; Adultos = 140,0 - 271,0 U/L. Creatinoquinase (CK) A enzima CK catalisa a fosforilação reversível da creatina pela ATP com a formação de creatina fosfato. O fígado e os eritrócitos são essencialmente desprovidos desta enzima. A CK é encontrada no músculo cardíaco, na musculatura esquelética e no cérebro. A enzima apresenta-se elevada em algum momento em cerca de 90-93% dos pacientes com IAM. No IAM, a CK comporta-se de modo semelhante à AST. Além disso, foram 36 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA também registradas elevações da enzima na miocardite, bem como em alguns pacientes com taquiarritmias, principalmente ventriculares, por motivos desconhecidos. A lesão hepatocelular aguda não exerce nenhum efeito sobre a CK. Os níveis de CK são afetados por um número considerável de condições clínicas associadas à lesão muscular aguda ou ao esforço muscular intenso. Contudo, os níveis de CK estão habitualmente elevados no traumatismo muscular, na miosite, distrofia muscular, após cirurgia, puerpério, após exercício moderadamente intenso e no delirium tremens ou nas convulsões. A elevação da CK pode decorrer de efeitos do álcool sobre o músculo. Os níveis de CK estão quase sempre elevados após injeção intramuscular. O traumatismo muscular faz com que o nível de CK não seja confiável durante alguns dias no pós-operatório. Embora a CK esteja presente tanto no tecido cerebral quanto no músculo, os registros diferem, de certo modo, quanto ao efeito da doença do SNC sobre os níveis séricos da enzima. Como o músculo esquelético constitui a principal fonte da CK do organismo, os indivíduos com massa muscular relativamente pequena tendem a apresentar níveis normais de CK inferiores ao indivíduo médio. Os principais inconvenientes da CK total incluem: » período relativamente curto durante o qual a enzima se encontra elevada após o início do infarto; » problema de elevações falso-positivas em consequência de lesão do músculo esquelético (sobretudo por injeções intramusculares). Interpretação Marcador de lise celular para músculos cardíaco e esquelético. A CK é uma enzima geralmente associada à regeneração do ATP em sistemas contráteis ou de transporte. Sua função predominante ocorre nas células musculares, onde está envolvida no estoque de creatina fosfato (altamente energético). Cada ciclo de contração muscular resulta em uso de creatina fosfato, com produção de ATP. Isso resulta em níveis relativamente constantes de ATP muscular. A CK é amplamente distribuída nos tecidos, com maiores atividades encontradas na musculatura esquelética, cardíaca e tecido cerebral. Outras fontes nas quais a CK está presente incluem bexiga, placenta, trato gastrointestinal, tireoide, útero, rins, pulmões, próstata, baço, fígado e pâncreas. 37 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I Valores aumentados: IAM; mixedema; distrofia muscular; stress muscular; polimiosite; dermatomiosite; miocardite; epilepsia; rabdomiólise; AVC; injeções intramusculares; exercício extenuante; parto; após incisões cirúrgicas; hipertermia maligna; uso de cocaína; e choque elétrico. Valores diminuídos: hipertireoidismo; neoplasia metastática; terapia com esteroides; doença hepática alcoólica; velhice e má nutrição (por massa muscular reduzida); artrite reumatoide; gravidez; uso de medicamentos (fenotiazina, prednisona, etanol); e exposição a toxinas. Referência: Adultos: 30 a 223U/L. Creatinoquinase – MB (CKMB) A Creatinoquinase-MB é uma isoenzima da creatina fosfoquinase (CPK) que corresponde à enzima liberada pelo músculo cardíaco. Essa enzima eleva-se quando ocorre isquemia em uma determinada região do músculo cardíaco. O miocárdio contém expressivas quantidades de CK-MB. Em outros tecidos, a CK-MB é encontrada em pequenos teores. No miocárdio, esta fração pode ser liberada para o soro em quantidades significantes. A elevação da atividade plasmática da CK-MB (igual ou maior que 6% da CK total) é o indicador mais específico de lesão miocárdica (98-100% dos casos), particularmente, de infarto agudo do miocárdio. A CK-MB começa a elevar-se em 4-8 horas a partir da dor precordial, atingindo o máximo em 12-24 horas, retornando ao normal, nos casos não complicados, em 48-72 horas. Pacientes que atingem o pico máximo rapidamente (8-12 horas) têm melhor prognóstico do que aqueles que demoram a alcançar o pico (24 horas). Atividade aumentada de CK-MB é também encontrada em outras desordens cardíacas. Portanto, aumentos desta fração não são inteiramente específicos para o IAM, mas provavelmente refletem algum grau de lesão isquêmica cardíaca. A especificidade para o infarto pode ser aumentada se os resultados forem interpretados em associação às isoenzimas da lactato desidrogenase (LDH) e se as medidas forem realizadas, sequencialmente, por períodos superiores a 48 horas para detectar os aumentos e as reduções típicas das enzimas encontradas nestes distúrbios. Angina pectoris, choque cardiogênico, taquicardia, miocardite e insuficiência cardíaco-congestiva, geralmente, não elevam a CK total nem a CK-MB. 38 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA Em outras situações como injeções intramusculares, traumatismos, cirurgias não cardíacas e cateterismos cardíacos, a CK-MB permanece normal. Interpretação Diagnósticos de miocardiopatias em especial o IAM; monitoramento terapêutico. A CK é uma enzima primariamente muscular e cerebral que existe em três frações diméricas: CK-MM, CK-BB e CK-MB. A isoenzima MB, com massa molecular de cerca de 87 kD, participa com cerca de 5-50% da atividade total de CK no miocárdio. É um dos marcadores de miocárdio mais importantes, com papel bem estabelecido na confirmação de IAM e no monitoramento de terapia trombolítica. Embora antigamente se utilizasse a medição da atividade da CK-MB após a inibição das demais isoenzimas, atualmente se determina a CK-MB massa, por ensaio imunométrico. O uso de padrões seriados de CK-MB é mais informativo do que uma única tomada. O uso de valores absolutos na interpretação pode ser fator de confusão para aqueles que utilizavam percentual de CK-MB em relação à CK total. Atualmente, utiliza-se um índex relativo de CK. Valores superiores a 3,0 devem ser mais bem avaliados. Valores aumentados: após lesão muscular e outras patologias cardíacas, além dos casos de macro CK. Fontes Potenciais de Variabilidade:» Presença de fibrina; » Pipetagem de bolhas; » Presença de hemólise; » Presença de lipemia; » Armazenamento incorreto das amostras; » Manutenção incorreta dos aparelhos (automatização). Referência: Soro: 0 a 10 U/L. Colesterol total e frações As lipoproteínas são moléculas constituídas de lipídios e proteínas em proporções variáveis. Os lipídios, em geral, são insolúveis em água e na maioria dos líquidos biológicos, dependendo, para o seu transporte, de proteínas incorporadas na molécula 39 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I ou de ligação a proteínas plasmáticas. A fração proteica das lipoproteínas é constituída predominantemente por apolipoproteínas. As apolipoproteínas desempenham papel funcional no metabolismo das lipoproteínas. Metabolismo das Lipoproteínas Os triglicerídeos (TG) circulam no sangue proveniente de fontes exógenas (alimentos) e endógenas (do fígado). Os alimentos fornecem gordura neutra, que consiste primariamente em triglicerídeos e que é hidrolisada pela lipase pancreática, com consequente formação de ácidos graxos livres (AGL) e monoglicerídeos. Os ácidos graxos livres e monoglicerídeos penetram nas células da mucosa do intestino delgado. As frações lipídicas são recombinadas em TG no interior das células da mucosa e são incorporadas em quilomícrons. Os AGL são utilizados para a produção de energia no músculo cardíaco e esquelético. O colesterol corporal provém de fontes dietéticas exógenas, bem como da síntese endógena pelo fígado a partir do acetato. A maior parte é produzida pelo fígado, que excreta parte do colesterol como componente da bile. Parte do colesterol é utilizado pela célula, enquanto certa quantidade pode abandonar a célula em condições apropriadas. Colesterol Total Sérico O colesterol sérico total inclui todo colesterol presente nas várias lipoproteínas. O colesterol constitui o principal componente das LDL (Lipoproteínas de Baixa Densidade), enquanto representa um componente menor das VLDL (Lipoproteínas de Densidade Muito Baixa) e HDL (Lipoproteínas de Alta Densidade). Como as LDL têm sido regularmente associadas a um risco de aterosclerose, e devido à dificuldade de determiná-las, o colesterol total do soro tem sido utilizado durante muitos anos como seu substituto. Existe consenso sobre a existência de uma forte correlação entre níveis acentuadamente elevados de colesterol sérico e tendência aumentada à aterosclerose. No corpo, cerca de 70% do colesterol está imobilizado em pools teciduais na pele, tecido adiposo e células musculares, entre outros, e o restante forma um contingente móvel circulante no sangue, entre fígado e tecidos. Na circulação sanguínea, normalmente cerca de dois terços do colesterol está esterificado, ligado a lipoproteínas (HDL, LDL, VLDL), e um terço na forma livre. Os níveis séricos desejáveis de colesterol 40 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA situam-se abaixo de 200 mg/dL. Níveis entre 200 e 239 mg/dL, são considerados intermediários, e níveis acima de 240 mg/dL em mais de uma ocasião são considerados hipercolesterolêmicos. Pacientes cujas dosagens de colesterol resultam superiores a 200 mg/dL devem receber assistência no sentido de tentar reduzir seus níveis, reduzindo o risco de doença cardíaca coronariana futura. Interpretação Avaliação de risco de desenvolvimento de doença cardíaca coronariana; diagnóstico e monitoramento de tratamento de estados hiperlipidêmicos primários ou secundários; e avaliação da função hepática. O colesterol é uma espécie de álcool encontrado quase exclusivamente em animais. Quase todas as células e tecidos contêm alguma quantidade de colesterol, que é utilizado na fabricação e no reparo de membranas celulares, síntese de moléculas vitais como hormônios e vitaminas. No organismo, pode ocorrer a partir de ingestão ou metabolismo interno por transformação de outras moléculas. A regulação dos estoques corpóreos depende de mecanismos metabólicos e da ingestão. Contudo, é digno de nota que os níveis de colesterol, apesar de representarem fator de risco independente para o desenvolvimento de doença cardíaca coronariana, não são o único fator de risco descrito para a doença: sexo, idade, tabagismo, história familiar, níveis baixos de colesterol HDL, obesidade e diabetes mellitus são outros possíveis fatores de riscos associados. Indivíduos com idade mais avançada devem ser avaliados com critérios mais flexíveis. Valores aumentados: hipercolesterolemia idiopática; hiperlipoproteinemias; estados obstrutivos biliares; doença de von Gierke; hipotireoidismo (fator importante, especialmente em mulheres de meia idade em diante); nefrose; doença pancreática; gravidez; uso de medicamentos (esteroides, hormônios, diuréticos); e jejum muito prolongado que induza cetose. Valores diminuídos: dano hepático; hipertireoidismo; desnutrição; doenças mieloproliferativas; anemias crônicas; terapia com cortisona; hipobetalipoproteinemia; abetalipoproteinemia; doença de Tangier; processos inflamatórios crônicos; e medicamentos (alopurinol, tetraciclina, eritromicina, sinvastatina e similares). Interferentes: o uso de certos medicamentos e drogas, bem como a ingestão de bebidas alcoólicas, podem estar associados ao encontro de valores alterados de colesterol total sérico. De modo ideal, a avaliação do colesterol total sérico deve ser realizada após 41 BIOQUÍMICA CLÍNICA | UNIDADE I pelo menos uma semana com dieta habitual mantida, sem o uso de bebidas alcoólicas ou exercícios. Referência: 2-19 anos: desejável = < 170,0 mg/dL; >19 anos: Desejável = < 190,0 mg/dL; Intervalo de referência: 136-290mg/dL. HDL Avaliação de risco cardíaco; diagnóstico e monitoramento de estados dislipidêmicos. Os HDL são as menores lipoproteínas encontradas no organismo humano. São sintetizados pelo fígado e intestino, sendo compostos por uma associação entre componentes lipídicos, fosfolipídicos e proteínas. As principais apoproteínas (fração proteica do HDL colesterol) são Apo-Al e Apo-All, além de Apo-C e Apo-E. O HDL carrega cerca de 20-35% do colesterol plasmático total, sendo o responsável pelo transporte reverso do colesterol (dos tecidos ao fígado). Conhecido como “bom colesterol”, é desejável que seus níveis sejam os mais elevados possíveis. Níveis reduzidos de HDL estão relacionados a um maior risco de desenvolvimento de doença cardíaca coronariana, como fator de risco independente, pois se associam fisiologicamente a uma menor deposição de lipídeos em placa ateromatosa. Assim, valores de 55 mg/dL para homens e 45 mg/dL para mulheres são considerados ponto de corte para risco cardíaco. Abaixo deste ponto há um risco estatístico crescente inversamente proporcional aos níveis e acima, da mesma forma, há uma condição “protetiva” para doença cardíaca. Valores aumentados: manutenção periódica de exercícios físicos; uso moderado de álcool (em especial vinho e substâncias contendo antioxidantes); tratamento de insulina; terapia de reposição hormonal em mulheres; dislipidemias; e uso de certos medicamentos (sinvastatina e similares). Valores diminuídos: stress; obesidade; sedentarismo; história familiar; tabagismo; diabetes mellitus, hipo e hipertireoidismo; doença hepática; nefrose; uremia; doenças crônicas e mieloproliferativas; dislipidemias; doença de Tangier homozigota; deficiência familiar de HDL e apolipoproteínas associadas; e uso de certos medicamentos (esteroides, diuréticos tiazídicos, bloqueadores beta- adrenérgicos, neomicina, fenotiazinas). Referência: 10 a 19 anos = Maior ou igual a 35,0 mg/dL; 42 UNIDADE I | BIOQUÍMICA CLÍNICA 2 a 19 anos = Maior ou igual a 40,0 mg/dL; > 19 anos = Maior ou igual a 40,0 mg/dL. LDL Avaliação de dislipidemias; avaliação de risco para doença coronariana. As LDL são sintetizadas no fígado, sendo responsáveis pelo transporte do colesterol a partir do fígado para os tecidos periféricos. Valores aumentados: risco de doença cardíaca coronariana; hipercolesterolemia familiar; hiperlipidemia
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