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Enzo Amaral Avidago 1 ENZO AMARAL AVIDAGO - 4º PERÍODO / 2020.1 PROF. EDILENE BOLUTARI BAPTISTA [Endereço da empresa] [TÍTULO DO DOCUMENTO] ENZO AMARAL AVIDAGO - 4º PERÍODO / 2020.1 PROF. EDILENE BOLUTARI BAPTISTA Enzo Amaral Avidago 2 1. FLUXO DE TRABALHO E PADRONIZAÇÃO a) SOLICITAÇÃO MÉDICA: a partir da hipótese diagnóstica; b) FASE PRÉ-ANALÍTICA: envolve a fase de coleta da amostra a ser analisada; obedecem alguns critérios como refrigeração, tempo de coleta e a análise (p. ex., doseamento de vitamina C, que oxida muito fácil, precisa-se encapar o tubo com papel alumínio para evitar oxidação); c) FASE ANALÍTICA: fase exclusiva do laboratório, com muitos protocolos e predominantemente automatizada; fase na qual ocorre a verificação de interferências in vitro e fisiológicas; d) FASE PÓS-ANALÍTICA: emissão de laudos/resultados; interpretação pelo próprio laboratório; e) INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS PELO MÉDICO - INDICAÇÃOES PARA SOLICITAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAS → para confirmar um sintoma clínico ou estabelecer um diagnóstico; para descartar um diagnóstico; para monitorar a terapia; para estabelecer prognósticos; para tirar ou detectar doenças. 2. FATORES INTERFERENTES - Exercícios físicos (intenso, como crossfit ou musculação); - Jejum (adulto 08-12 horas e criança 04-06 horas); - Repouso (mínimo de 4 horas); - Dieta (não é indicado começar uma dieta antes do exame); - Ingestão de álcool; - Tabagismo (interfere no hemograma ao alterar o hematócrito, que é a porcentagem de hemácias no volume total de sangue); - Estresse (tendência a diminuição dos valores nos resultados); - Medicamentos → interferências in vivo (fisiológicas): algumas reações naturais do organismo sofrem interferência, como por exemplo, vitamina C e cafeína põem interferir no ácido úrico; e interferências in vitro (analíticas): interferência do medicamento com o método de análise, um medicamento utilizado pode resultar em uma leitura similar à substância que se está dosando. ! Necessário analisar a medicação que o paciente toma para verificar se causa interferência; caso não cause interferência, o paciente deve continuar a medicação normalmente. A coleta de forma geral → horário da coleta (variação circadiana); posição do paciente para coleta (pode ocorrer mobilização de água e proteínas pelo corpo); estase venosa prolongada (torniquete por 1 minuto); exercício de punhos. - CRITÉRIOS PARA AMOSTRAS INACEITÁVEIS → a amostra precisa estar lacrada e identificada; em caso de hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos do sangue; há substâncias que evitam a hemólise e que devem ser utilizadas); o volume da amostra precisar ser compatível com as análises a serem verificadas; sangue coagulado; acondicionamento e conservação inadequados (analisar consistência, aspecto, cor e temperatura). 3. ANTICOAGULANTES Para obtenção de plasma (bioquímica) ou análises com sangue total (hematologia) é utilizada anticoagulantes, tais como: heparina, EDTA, oxalatos (sais de sódio, potássio e amônio), fluoreto de sódio, iodoacetato de sódio, citrato de sódio. • HEPARINA → trata-se de um anticoagulante fisiológico, que inibe a ativação da protrombina em trombina; a falta de trombina impede a conversão de fibrinogênio em fibrina, evitando hemólise da amostra. É o melhor anticoagulante para provas de fragilidade das hemácias. • EDTA → trata-se de um sal de sódio ou potássio que atua por quelação ou complexação sobre os íons cálcio (complexar o cálcio significa recobrir o cálcio, retirando-o do sangue). Uso recomendado em exames hematológicos. ! O cálcio atua em várias etapas do processo de coagulação. • OXALATOS → trata-se de sais de sódio, potássio e amônio (separadamente ou em mistura), atuam por precipitação dos íons cálcio formando oxalato de cálcio • FLUORETO DE SÓDIO → utilizado como conservante de glicose sanguínea, associado ao oxalato ou EDTA; tem propriedade de inibir a ação de várias enzimas séricas, principalmente da glicólise. Não indicado para outros testes: inibe a uréase, reduz a atividade da ACP, aumenta atividade da AMS. • IODOACETATO DE SÓDIO → trata-se de um antiglicolítico substituto do fluoreto de sódio; não possui efeito sob a uréase, podendo ser empregado para testes simultâneos de glicose e ureia. • CITRATO DE SÓDIO → atua cobre o cálcio, convertendo-o em forma não ionizada sem precipitá-lo, formando citrato de cálcio. Em meios laboratoriais controlados, prova a coagulação, logo é utilizado em provas de coagulação. Inibe fosfatase alcalina e a amilase e provoca a saída de água das hemácias. Enzo Amaral Avidago 3 4. COLETA À VÁCUO 5. INTRODUÇÃO Cada teste de laboratório possui uma série de características que determinam a qualidade da informação por ele fornecida. A validade de um teste diagnóstico ou instrumento (questionário, por exemplo) é a expressão do grau de acerto entre o teste ou instrumento e o que ele se propõe a medir; a validade de um teste é aferida pela sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivo e negativo. A quase totalidade dos testes diagnósticos ou instrumentos produz resultados verdadeiros positivos, verdadeiros negativos, falsos positivos e falsos negativos. 6. TIPOS DE INFORMAÇÕES • EXATIDÃO → é a capacidade do método de fornecer resultados próximos do valor verdadeiro; • PRECISÃO → é a capacidade do método de fornecer resultados reprodutíveis entre si, ou seja, todas as tentativas de teste levaram ao mesmo resultado. ! Um teste não exato e não preciso é fácil de detectar. ! O pior cenário é um teste ser preciso e não exato, pois fornece o mesmo resultado, porém este é longe do valor verdadeiro. • SENSIBILIDADE → é a capacidade de um teste reconhecer os verdadeiros positivos em relação aos doentes; quanto maior a sensibilidade, maiores serão os falsos positivos e menores serão os falsos-negativos. • SENSIBILIDADE ANALÍTICA → refere-se ao menor valor que o teste consegue diferenciar de zero. • SENSIBILIDADE DIAGNÓSTICA → é a probabilidade de que um resultado seja anormal ou positivo na presença da doença; existe a doença e se consegue achar o doente. ! Os testes sensíveis são necessários para diagnóstico de doença potencialmente grave e afastar doenças em fase inicial do diagnóstico. • ESPECIFICIDADE → é a capacidade do teste dar resultado negativo verdadeiro para pacientes não-doentes; quanto maior a especificidade, menores serão os falsos positivos e maiores serão os falsos-negativos. • ESPECIFICIDADE ANALÍTICA → refere-se à capacidade do teste em identificar apenas a substância em questão. • ESPECIFICIDADE DIAGNÓSTICA → refere-se à probabilidade do resultado ser normal ou negativo na ausência da doença; o não-doente na ausência da doença. ! Os testes específicos são necessários quando um resultado falso positivo pode ser muito lesivo (por exemplo, em um caso de câncer, em que o tratamento gera muito efeito colateral) e para confirmar um diagnóstico sugerido por outros lados. 7. VARIABILIDADE • VARIAÇÕES PRÉ-ANALÍTICAS → relacionadas à fatores intrínsecos do indivíduo, estilo de vida, uso de medicações, doenças associadas, procedimentos de coleta e preparo da amostra. • VARIAÇÕES ANALÍTICAS → relacionadas à metodologia e procedimentos utilizados pelos laboratórios. Enzo Amaral Avidago 4 8. ERROS Quanto mais organizado é o laboratório, maiores são as possibilidades de eliminar a ocorrência de erros. Portanto, as ações da qualidade assegurada e a otimização da organização do laboratório são somatórias para a redução dos erros nos ensaios. No uso rotineiro de um método analítico podemos identificar, desde a obtenção da amostra até a entrega do laudo, várias fontes de erro que podem ser localizadas e minimizadas através dos procedimentos de controle da qualidade O conhecimento e atenção às possíveis causas de erros auxiliam consideravelmentena redução da sua ocorrência, como também permitem localizar mais fácil e rapidamente as causas de um erro quando ele ocorreu ou está ocorrendo. ERRO ALEATÓRIO (IMPRECISÃO) → trabalho rápido e desorganizado, limite de linearidade não observado, erros de equipamento, falta de manutenção e pipetas não aferidas, vazamento ponteiras, tempos incorretos reação, temperatura, cubetas molhadas por fora, com bolhas, contaminadas com outros reagentes; outros... ERRO SISTEMÁTICO (INEXATIDÃO) → preparação e preservação incorreta de padrões, reagentes, controles, amostras; Efeitos da Matriz; defeito da cubeta; energia parasita, pipetas não aferidas; instabilidade eletrônica; Falta de organização; outros... ERRO GROSSEIRO → coleta, processamento, identificação, conservação da amostra; preparo reagentes, erros de registro, cálculos, transcrição resultados; outros... ERRO TOTAL 9. INTRODUÇÃO A glicose é adquirida por meio da digestão e absorção de carboidratos da dieta; o amido supre a glicose diretamente, enquanto a frutose (da sacarose da dieta) e a galactose (da lactose da dieta) são absorvidas e transformadas em glicose no fígado. Essa glicose pode ter vários caminhos → pode ser metabolizada diretamente por um processo aeróbio, tendo como resultado a formação de CO₂ e H₂O + ATP; pode ser armazenada no fígado ou músculo na forma de glicogênio; a gliconeogênese é a produção de glicose a partir de substâncias não glucídicas como glicerol (a partir do triacilglicerol), aminoácidos e lactato (por meio do ciclo de Cori). 10. INSULINA Trata-se de uma pequena proteína sintetizada nas células β das ilhotas de Langerhans do pâncreas; principal hormônio que afeta os níveis de glicose sanguínea, responsável por retirar a glicose do sangue e armazenar em células. A insulina age através de receptores das membranas, e seus principais tecidos alvos são os hepatócitos (no fígado), os miócitos (no músculo) e os adipócitos (no tecido adiposo). Os efeitos da insulina são oposto a outros hormônios como o glucagon, adrenalina (presente nos miócitos), glicocorticoides e o GH; a concentração de glicose sanguínea é resultado do balanço entre essas diferentes forças endócrinas → o aumento de açúcar no sangue promove a liberação de insulina pelo pâncreas, que estimula a formação de glicogênio (glicose armazenada). A baixa disponibilidade de açúcar no sangue promove a liberação de glucagon pelo pâncreas, que, por sua vez, estimula a quebra de glicogênio. ! A insulina não pode ser administrada por via oral porque é uma proteína e o corpo não consegue distinguir entre uma proteína medicamentosa e uma proteína proveniente da alimentação, logo iria ocorrer a digestão da insulina. 11. DIABETES MELLITUS Trata-se do distúrbio endócrino mais comum encontrado na prática médica; caracterizada por hiperglicemia devido à falta absoluta ou relativa de insulina e/ou resistência à insulina. Possui vários fatores predisponentes de risco para diabetes → idade; histórico familiar; estresse; obesidade; colesterol alto; pressão alta; etnia; gravidez; remédios; inatividade. Enzo Amaral Avidago 5 • DIABETES MELLITUS DEPENDENTE DE INSULINA – DMDI (TIPO 1) → aproximadamente 15% de todos os diabéticos; acomete qualquer idade, porém é mais comum em crianças, jovens e adultos jovens, com pico entre os 9 e os 14 anos de idade, afetando igualmente homens e mulheres. A falta absoluta de insulina é consequência da destruição autoimune das células β pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina, desta forma o indivíduo não responde aos níveis de glicose. Na fase clinicamente manifesta do DM1, o início é, em geral, abrupto, podendo ser a cetoacidose diabética a primeira manifestação da doença em um terço dos casos. Há emagrecimento muito rápido (sobrepeso não exclui o diagnóstico), pois o indivíduo não consegue armazenar glicogênio na célula, apesar de possuir um determinado teor de glicose no sangue. Em consequência o indivíduo utiliza o metabolismo de triacilglicerol como fonte de energia; além dos lipídios pode ocorrer o metabolismo de alanina (proteína) presente nos músculos. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou da ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes, respectivamente. • DIABETES MELLITUS NÃO DEPENDENTE DE INSULINA – DMNDI (TIPO 2) → aproximadamente 85% de todos os diabéticos; acomete qualquer idade, porém é mais comum entre os 40 e 80 anos de idade; há resistência dos tecidos periféricos às ações de insulina; sua concentração pode ser normal ou até mesmo alta. Hábitos dietéticos e inatividade física, que contribuem para a obesidade, destacam-se como os principais fatores de risco. O desenvolvimento e a perpetuação da hiperglicemia ocorrem concomitantemente com hiperglucagonemia, resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina, aumento da produção hepática de glicose, disfunção incretínica, aumento de lipólise e consequente aumento de ácidos graxos livres circulantes, aumento da reabsorção renal de glicose e graus variados de deficiência na síntese e na secreção de insulina pela célula β pancreática. Na maioria das vezes, a doença é assintomática ou oligossintomática por longo período, sendo o diagnóstico realizado por dosagens laboratoriais de rotina ou manifestações das complicações crônicas. Com menor frequência, indivíduos com DM2 apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento inexplicado). Raramente a cetoacidose diabética consiste na manifestação inicial do DM2. Os consagrados fatores de risco para DM2 são → história familiar da doença, avançar da idade, obesidade, sedentarismo, diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional (DMG) e presença de componentes da síndrome metabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia. • DIABETES GESTACIONAL → a gestação consiste em condição diabetogênica, uma vez que a placenta produz hormônios hiperglicemiantes e enzimas placentárias que degradam a insulina, com consequente aumento compensatório na produção de insulina, pelo pâncreas, e na resistência à insulina, podendo evoluir com disfunção das células β. Enzo Amaral Avidago 6 O DMG traz riscos tanto para a mãe quanto para o feto e o neonato, sendo geralmente diagnosticado no segundo ou terceiro trimestres da gestação. Pode ser transitório ou persistir após o parto, caracterizando-se como importante fator de risco independente para desenvolvimento futuro de DM2. Fatores de risco: 12. SINTOMAS - POLIÚRIA: micção excessiva; perda de glicose nos rins junto com água (tentativa de eliminar); - POLIDIPSIA: ao perder mais água, há mais sede (desidratação); - POLIFAGIA: vontade de comer, devido à incapacidade de utilização da glicose e pouca produção de ATP; - CETONEMIA*: corpos cetônicos no sangue; - CETONÚRIA*: corpos cetônicos na urina; - CETOACIDOSE DIABÉTICA*: produção de corpos cetônicos, que tem caráter ácido, alterando pH sanguíneo. * Ocorre em casos graves (glicemia > 400mg/dL) 13. DIAGNÓSTICO E MONITORAMENTO DE DIABETES MELLITUS São usados vários testes bioquímicos em associação com a avaliação clínica tanto para diagnóstico inicial quanto para monitoramento dos pacientes em longo prazo: • ANÁLISE DA URINA → a glicosúria permite uma boa varredura inicial do diabetes mellitus. Normalmente a glicose não aparece na urina até que o volume plasmático atinja cerca de 160mg/dL. - Cetonas na urina/plasma → no tecido adiposo, a redução da insulinemia provoca aumento da atividade da lipase hormônio-sensível. Os corpos cetônicos (acetona, acetoacetato e β- hidroxibutirato) podem acumular-se no plasma do paciente diabético. Os lipídeos armazenados sofrem lipólise formando ácidos graxos + glicerol a partir do triacilglicerol; posteriormente, os ácidos graxos sofrem β-oxidação formando acetil-Coa em grande quantidade. Essa enzima é usadana produção de ATP, juntamente com o ativador oxaloacetato, porém uma quantidade não entrará nessa via e será convertido em colesterol e corpos cetônicos (características ácidas). ! A taxa aumentada de corpos cetônicos no plasma, provoca um hálito e gosto característico na boca. • ANÁLISE DO SANGUE → as amostras devem ser coletadas com fluoreto, inibidor da glicólise. A OMS publicou regras para o diagnóstico do diabetes mellitus com base nos resultados da glicose sanguínea e na resposta a uma carga oral de glicose. a) GLICOSE SANGUÍNEA ALEATÓRIA (GSA): é a chamada glicemia capilar, que é realizada normalmente sem jejum. Em uma emergência, a GSA é a única dosagem requerida. Deve-se esperar uma GSA de menos de 140mg/dL nos indivíduos não diabéticos; GSA acima de 200mg/dL geralmente indica diabetes. b) GLICOSE SANGUÍNEA EM JEJUM (GSJ): é medida após uma noite de jejum (pelo menos de 8 horas). Não se deve passar mais de 12 horas em jejum para realização desse exame, buscando evitar a gliconeogênese (o corpo produz glicose a partir de substâncias não glicosídicas). Não diabéticos geralmente possuem valor inferior a 99 mg/dL; valores entre 100-125mg/dL devem ser interpretados como estado limiar. A GSJ igual ou acima de 126mg/dL em duas ocasiões é diagnostico de diabetes mellitus. c) TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE (TOTG): também conhecido como curva glicêmica. Classicamente, o diagnóstico do diabete é feito com base na resposta do paciente a uma carga oral de glicose. 1) Colhe-se amostra de sangue basal após um jejum durante a noite; Enzo Amaral Avidago 7 2) Paciente ingere 75g de glicose oral em cerca de 300mL de água, para ser bebida dentro de 5 minutos (1,75 g/Kg em crianças, não ultrapassando 75g); 3) Mede-se os níveis de glicose do plasma a cada 30 minutos, durante 2 horas. ! Paciente não deve fumar ou realizar exercícios e deve ter tido uma dieta normal pelo menos 3 dias antes do teste. Existem relativamente poucas indicações para o teste, que incluem → glicose sanguínea em jejum ou pós prandial no limiar; glicosúria persistente – verificar se é de fato glicose elevada ou insuficiência renal; glicosúria em mulheres grávidas – verificar se é DMG ou insuficiência renal; paciente grávida com história familiar de DM e aquelas que previamente tiveram bebês grandes ou perda inexplicada de feto. Interpretação de um TOTG → nos pacientes sem sintomas, o teste deve ser interpretado como diabetes mellitus somente quando há um aumento do nível de glicose de 2 horas e quando a glicose sanguínea for igual ou superior a 200mg/dL em algum ponto durante o teste. Se o paciente tiver glicose de jejum normal, glicose 2 horas na faixa diabética – repetir teste após 6 semanas. 14. DIAGNÓSTICO E MONITORAMENTO DE DIABETES MELLITUS GESTACIONAL No primeiro trimestre da gestação, idealmente na primeira consulta de pré-natal, sugere-se investigar DM preexistente por meio dos exames habituais. Gestantes com diagnóstico de DM no primeiro trimestre da gestação (critérios diagnósticos de DM em não gestantes) devem ser consideradas tendo DM preexistente; elas apresentam maior risco de malformações fetais e outras complicações gestacionais e neonatais. Vale ressaltar que o valor de corte da glicemia em jejum durante a gestação difere do considerado normal para não gestantes, sendo < 92 mg/dL em qualquer fase da gestação. Valores entre 92 e 126 mg/dL são diagnósticos de DMG em qualquer fase da gestação. Sugere-se que toda mulher sem diagnóstico reconhecido de DM francamente manifesto ou DMG seja submetida a TOTG com 75 g de glicose após jejum calórico mínimo de 8 horas, entre 24 e 28 semanas de gestação, com coleta de glicose em jejum, 1 e 2 horas após sobrecarga. 15. TOLERÂNCIA DIMINUÍDA À GLICOSE (TDG) Nome dado a um tipo de pré-diabetes, que não deve ser encarada como doença; sinaliza que o paciente se encontra em um estágio intermediário entre a normalidade e o diabetes mellitus e tem um risco aumentado de desenvolver DM. Tais pacientes devem ser acompanhados anualmente e pode ser usado tratamento dietético. O intolerante encontra-se em casos onde a taxa encontra-se entre 100 e 125mg/dL em glicemia de jejum. A intolerância à sobrecarga encontra-se entre 140 e 199mg/dL. 16. ÍNDICES DE CONTROLE DIABÉTICO EM LONGO PRAZO Uma concentração alta de glicose no líquido extracelular leva à sua ligação não-enzimática aos resíduos de lisina de várias proteínas; esse processo é denominado glicação – processo praticamente irreversível; a molécula de glicose permanecerá ligada até que a molécula de proteína seja degradada. • HEMOGLOBINA A1c ou HEMOGLOBINA GLICADA → oferece vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos últimos 3 a 4 meses, isto é, a meia vida da hemoglobina, e ao sofrer menor variabilidade dia a dia e independer do estado de jejum para sua determinação. É aceito como um bom índice de controle diabético e é usado rotineiramente na maioria das clínicas para diabéticos. A coleta realizada é de sangue total com EDTA/heparina sódica/citrato de sódio. O valor de referência → normal de 4 a 6%, sendo desejável menor que 7%. Sofre interferência de algumas situações, como anemias, hemoglobinopatias e uremia, nas quais é preferível diagnosticar o estado de tolerância à glicose com base na dosagem glicêmica direta. Outros fatores, como idade e etnia, também podem interferir no resultado da HbA1c. • FRUTOSAMINA → nome genérico dado a todas as proteínas glicadas, ou seja, produto obtido da ligação não enzimática da glicose com outras proteínas plasmáticas (80% corresponde a albumina). Possui meia vida menor que a hemoglobina (14-20 dias); reflete o controle glicêmico de 1 a 2 semanas anteriores. A dosagem é feita no soro do paciente, necessitando de um jejum de 8 horas. O valor de referência → 1,9 a 2,8 mmol/L. Em diabéticos → controle satisfatório: 3,3 mmol/L; controle moderado: 3,3 a 3,8 mmol/L; controle inadequado: > 3,8 mmol/L. • MICROALBUMINÚRIA → taxa de excreção intermediária entre a normalidade (2,5-25mg/dia) e a macroalbuminúria (> 250mg/dia). O pequeno aumento da excreção urinária de albumina não é detectado com testes simples empregando tiras, e requer confirmação por espécime de urina de 24 horas. A importância no paciente diabético está no fato de que é um sinal precoce e reversível de lesão renal. O valor de referência → urina 24 horas: < 30mg/24h; urina 4,6 ou 12 horas: < 120μg/mi. 17. INTRODUÇÃO Dislipidemias são alterações metabólicas lipídicas decorrentes de distúrbios em qualquer fase do metabolismo lipídico, que ocasionem repercussões nos níveis séricos de lipoproteínas. Essas patologias podem apresentar causas primárias (genéticas) ou secundárias. As causas primárias são mutações genéticas únicas ou múltiplas que promovem a produção excessiva ou a deficiência da eliminação dos triglicerídeos e do LDL, ou baixa produção ou eliminação excessiva do HDL. As causas secundárias envolvem desde o estilo de vida do paciente – ingestão Enzo Amaral Avidago 8 excessiva de gordura saturada, colesterol e ácidos graxos trans, até outros distúrbios, como diabetes mellitus, abuso de álcool, nefropatia, hipotireoidismo, cirrose biliar primaria, insuficiência renal crônica, icterícia obstrutiva e abuso de fármacos (diuréticos, betabloqueadores, corticosteroides e anabolizantes). ! O tratamento de dislipidemias secundarias consiste em controlar a doença base. 18. SÍNDROME METABÓLICA Desde 1988, a Organização Mundial da Saúde descreve a Síndrome Metabólica como o conjunto de HAS, intolerância à glicose, dislipidemia e obesidade. Critérios para caracterizar Síndrome Metabólica → paciente em uso de anti-hipertensivos ou PA > 130/85; triglicerídeos > 150 mg/dL – normalmente triglicerídeos sofre muita variação durante o dia; colesterol HDL < 40mg/dL em homens e < 50mg/dL em mulheres; medida de cintura em homens > 102cm e em mulheres > 88cm; glicose elevada. 19. LIPOPROTEÍNASTrata-se de um agregado molecular responsável pelo transporte de lipídeos em meios líquidos, já que esses não se misturam facilmente com o plasma sanguíneo. A diferença entre cada lipoproteína está na proporção de cada um dos seus constituintes → apolipoproteína, colesterol, triglicerídeos e outros. As apolipoproteínas (Apo) têm diversas funções no metabolismo das lipoproteínas, como a formação intracelular das partículas lipoproteicas; e são responsáveis por se ligarem aos receptores celulares com os quais a lipoproteína interage. A maior parte do colesterol está ligada a lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e o restante, a proteínas de alta densidade (HDL); o colesterol ligado à LDL é o que se deposita nas paredes das artérias, quando em excesso, por isso é denominado “mau colesterol”. Por outro lado, o HDL pode ser considerado o "bom colesterol", pois ele retira o LDL colesterol da parede das artérias e o transporta para ser metabolizado no fígado, "como se limpasse as artérias por dentro", desempenhando assim papel de proteção contra a aterosclerose. LIPOPROTEINA APOLIPOPROTEINAS PRINCIPAIS FUNÇÃO Quilomícrons Ricas em TG, maiores e menos densas B48, A-I, C-II, E Carreador de triglicerídeos da dieta (exógenos) Lipoproteína de densidade muito baixa – VLDL (‘very-low density lipoproteins’) B100, C-II, E Carreador de triglicerídeos endógenos Lipoproteína de densidade baixa – LDL (‘low-density lipoproteins’) Ricas em colesterol B100 Carreador de colesterol Lipoproteína de alta densidade – HDL (‘high-density lipoproteins’) A-I, A-II Função protetora; transporta colesterol dos tecidos extra-hepáticos ao fígado para excreção 20. FORMA DE OBTENÇÃO DO COLESTEROL Pode ser obtido por meio da síntese celular (colesterol endógeno – 70%) e da dieta (colesterol exógeno – 30%). O colesterol endógeno é sintetizado principalmente pelo fígado, em um processo regulado por um sistema compensatório → quanto maior for a ingestão de colesterol vindo dos alimentos, menor é a quantidade sintetizada pelo fígado. Nos seres humanos, o colesterol pode ser sintetizado a partir do acetil-CoA, responsável pela produção do acetato. O fígado, seguido do intestino, são os principais locais da síntese do colesterol, podendo produzi-lo em grandes quantidades. Pode também ser produzido nos testículos, ovários e córtex adrenal. ! A HMG CoA redutase é alvo das estatinas, como a sinvastatina e rosvastatina. Enzo Amaral Avidago 9 A partir do colesterol pode ser produzido ácidos biliares, que são normalmente reabsorvidos no intestino. Desta maneira, os sequestradores de ácido biliar funcionam como uma forma de eliminação do colesterol (impedem essa reabsorção colesterol, forçando o organismo a usá-lo para produzir mais ácidos biliares), porém não muito eficaz, pois pode haver um efeito feedback que promoverá o aumento da produção de colesterol para compensar a alta produção de ácidos biliares. Os lipídeos exógenos são transportados pelos quilomícrons presentes no intestino para os capilares. O colesterol chega ao fígado a partir de quilomícrons remanescentes (sofreu ação da lipoproteína lipase) e daí provoca a inibição da síntese da enzima da HMG-CoA redutase, diminuindo, com isto, a síntese endógena. Antes de deixar os hepatócitos (células do fígado), o colesterol incorpora-se nas lipoproteínas VLDL. O VLDL por sua vez, sofre ação da lipoproteína lipase e gera remanescentes do VLDL, também chamados de IDL, considerada uma partícula intermediária. A partir do IDL ocorre formação do LDL, sendo que uma parte desse LDL é direcionada ao fígado e outra parte é direcionada para os tecidos extra-hepáticas. O HDL é produzido nos tecidos extra-hepáticos, a partir do LDL e é direcionado ao fígado. 21. FORMAÇÃO DA PLACA DE ATEROMA A formação da placa aterosclerótica inicia-se com a agressão ao endotélio vascular por diversos fatores de risco, como dislipidemia, hipertensão arterial ou tabagismo. Como consequência, a disfunção endotelial aumenta a permeabilidade da camada íntima às lipoproteínas plasmáticas, favorecendo a retenção destas no espaço subendotelial. Retidas, as partículas de LDL sofrem oxidação (que tanto sua parte proteica quanto sua parte lipídica começam a serem oxidados por radicais livres), causando a exposição de diversos neoepítopos, tornando- as imunogênicas. Também pode ocorrer, em casos de hiperglicemia, o processo de glicação, onde ocorre a formação da LDL glicada. Nesses dois casos, há a formação de moléculas com características pró-inflamatórias. O depósito de lipoproteínas na parede arterial, processo chave no início da aterogênese, ocorre de maneira proporcional à concentração destas lipoproteínas no plasma. Além do aumento da permeabilidade às lipoproteínas, outra manifestação da disfunção endotelial é o surgimento de moléculas de adesão leucocitária na superfície endotelial, processo estimulado pela presença de LDL oxidada. Posteriormente, haverá acúmulo de células espumosas (macrófagos repletos de lipídeos), com estreitamento do calibre do vaso e fechamento total do vaso ou deslocamento da placa (embolia). 22. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Enzo Amaral Avidago 10 As dislipidemias são investigadas em laboratório a partir da análise do perfil lipídico, um conjunto de testes bioquímicos que inclui as dosagens de colesterol total, triglicerídeos, HDL e LDL. O perfil lipídico é definido pelas determinações do colesterol total (CT), colesterol HDL, triglicerídeos (TG) e, quando possível, do colesterol LDL após jejum de 12 horas. ! A determinação do LDL pode ser definida pela Fórmula de Friedewald (válida se TG menor que 400mg/dL). Outros marcadores laboratoriais do risco cardiovascular → lipoproteína A (Lp-A); homocisteína (HCY); proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-AS); fatores hemostáticos – fibrinogênio. • CLASSIFICAÇÃO LABORATORIAL - HIPERCOLESTEROLEMIA ISOLADA: aumento do LDL-c ≥ 160mg/dL; - HIPERTRIGLICERIDEMIA ISOLADA: aumento dos triglicérides (TG) ≥ 150mg/dL ou ≥ 175mg/dL, se a amostra for obtida sem jejum; - HIPERLIPIDEMIA MISTA: aumento do LDL-c ≥ 160mg/dL e dos TG ≥ 150mg/dL ou ≥ 175mg/dL, se a amostra for obtida sem jejum; - DIMINUIÇÃO ISOLADA DO HDL-COLESTEROL: HDL-c < 40mg/dL ou associada a aumento dos TG ou LDL-c. 23. TRATAMENTO DE DISLIPIDEMIAS - Terapias de mudanças do estilo de vida → terapia nutricional, controle de peso corporal, redução de bebida alcoólica, redução de açucares e de carboidratos e prática de exercícios físicos; - Terapias medicamentosas → a decisão para o início da terapia medicamentosa das dislipidemias depende do risco cardiovascular do paciente e tipo de dislipidemia presente. Há utilização principalmente de estaminas; porém há outros medicamentos alternativos → resina, ezetimiba, fibratos, ácido nicotínico (niacina), ácidos graxos ômega 3. Em pacientes de muito alto ou alto risco cardiovascular, o tratamento da dislipidemia deve incluir medicamentos já em associação com as modificações do estilo de vida; para os pacientes de risco moderado ou baixo, o tratamento será iniciado apenas com as medidas do estilo de vida, com a associação, em uma segunda etapa, de medicamentos, se necessário. 24. CONCEITO DE HOMESTASIA Trata-se de um processo fisiológico para a manutenção da integridade vascular e da fluidez do sangue, após uma lesão no vaso. Desta forma, esse processo permite que haja um equilíbrio entre a formação de trombos e hemorragia. Todo esse processo depende da integração de vários componentes, como por exemplo, vasos, plaquetas, fatores de coagulação, inibidores da coagulação e sistema fibrinolítico. A hemostasia pode ser dividida em: Enzo Amaral Avidago 11 - HEMOSTASIA PRIMÁRIA: ocorre a vasoconstrição, o que torna menor o fluxo sanguíneo; as plaquetas se agregam no local em que há o sangramento , formando um tampão inicial. - HEMOSTASIA SECUNDÁRIA: envolveuma série de reações enzimáticas, que começa com a formação da tromboplastina pela ação dos fatores do plasma, das plaquetas ou do tecido. A tromboplastina, em presença do íon Ca++ e de outros fatores plasmáticos, converte a protrombina do plasma na enzima trombina. A trombina transforma o fibrinogênio em fibrina, e esta, por ser uma proteína insolúvel, precipita-se, formando uma rede de filamentos. O depósito da rede de fibrina na extremidade lesada no vaso retém células sanguíneas, formando-se assim, um tampão denominado trombo, capaz de obstruir o vaso lesado e estancar o sangramento. A protrombina é formada no fígado, e para que sua síntese ocorra, é necessária a presença da vitamina K. 25. HEMOSTASIA PRIMÁRIA Quando ocorre uma lesão celular do endotélio, há modificação da estrutura endotelial e produção de um potente agente vasoconstritor, chamado endotelina-1; essa vasoconstrição irá auxiliar no retardamento da perda sanguínea extravascular e diminuirá o fluxo sanguíneo local. As células teciduais secretarão um fator tecidual, ou fator-3, e também o fator de Von Willebrand. Mediante a lesão, as plaquetas serão ativadas (por via sinalização intracelular) e sofrerão um processo de adesão ao endotélio, através de glicoproteínas de sua superfície, o fator de Von Willebrand, colágeno e fibronectina. Ao serem ativadas, as plaquetas secretam substâncias presentes no seu interior, como tromboxano e serotonina, que irão auxiliam na agregação, fusão e coagulação (tampão hemostático). As plaquetas perdem sua conformação discoide e assume pseudópodes. ! Na Doença de Von Willebrand, o paciente tem ausência do fator com o mesmo nome, e por isso possui problemas relacionados ao sangramento, já que esse fator é essencial para a realização da hemostasia primária. 26. HEMOSTASIA SECUNDÁRIA • CASCATA DE COAGULAÇÃO DE COAGULAÇÃO CLÁSSICA → na via intrínseca, todos os componentes ativadores encontram-se na circulação sanguínea (começa com a interação do fator XII e a superfície lesada do endotélio); já a via extrínseca é desencadeada por um fator que é externo ao sangue, chamado tromboplastina tecidual. https://www.infoescola.com/biologia/vasoconstricao/ https://www.infoescola.com/sangue/tromboplastina/ https://www.infoescola.com/anatomia-humana/figado/ https://www.infoescola.com/bioquimica/vitamina-k/ Enzo Amaral Avidago 12 ! Há presença de Ca2+ tanto na via intrínseca e extrínseca, quanto na via final comum. Esse fato explica, o porquê no momento da coleta do sangue do paciente, há adição de um componente que reaja com o cálcio, para retira-lo e evitar que a amostra sofra coagulação antes de chegar ao laboratório. ! A protrombina é a forma inativa da trombina, produzida no fígado; desta forma, problemas hepáticos podem comprometer a coagulação. A vitamina K age como cofator da transformação de protrombina em trombina, logo uma deficiência de vitamina K também pode comprometer o processo de coagulação. ! A trombina catalisa a proteolise do fibrinogênio em monômeros de fibrina (fibrina solúvel), e com ajuda de outros fatores essa fibrina será transformada em fibrina estável (insolúvel). 27. COAGULOGRAMA Este exame contém testes de triagem para avaliação da hemostasia e é, geralmente, solicitado no período pré-operatório. A avaliação hematológica no período pré-operatório deve incluir → história clínica para antecedentes pessoais e familiares de hemorragia ou trombose (p. ex., sangramentos em cirurgias anteriores ou após extração dentária, passado de trombose venosa); hemograma; coagulograma (TAP, TTPa e contagem de plaquetas). • COAGULOGRAMA I - TEMPO DE SANGRAMENTO (TS): avalia a quantidade de sangue perdido quando se tem uma lesão; usado para avaliar a homeostasia primária, o fim do sangramento, ou seja, a formação do tampão plaquetário. Realiza-se uma perfuração, no dedo ou no lóbulo da orelha do paciente, com um papel de filtro colocado delicadamente sobre o sangramento, a cada 30 segundos, é analisado se ainda há absorção de sangue pelo papel. Valores de referência é de 1 a 3 minutos. - TEMPO DE COAGULAÇÃO (TC): consiste em determinar o tempo necessário para o sangue coagular. O sangue é extraído e levado para banho-maria a 37°C, e é realizado a contagem do tempo que leva para a coagulação completa, iniciando a contagem quando a mostra é extraída. Valores de referência é de 4 a 10 minutos. - PROVA DO LAÇO (PL): utilizado para avaliar pacientes com suspeita dengue, e também determinar a resistência capilar sob as condições de anóxia e pressão aumentada artificialmente por meio do manguito de um esfignomanômetro ou garrote. A positividade do teste é observada quando ocorre o aparecimento superior a 5 petéquias em uma área de 25 cm2 no braço. - RETRAÇÃO DO COÁGULO (RC): cogita o número e a função das plaquetas; deve ser considerada uma retração completa do coagulo. ! Esses testes que compõem o coagulograma I não são comumente realizados, pois causam desconforto no paciente, há falta de padronização, falta de sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade. • TEMPO DE PROTROMBINA (TAP ou TP) → triagem para deficiência de fatores da via extrínseca e comum (fibrinogênio, II, V, VII e X). Esse TAP pode se elevar nas seguintes situações: uso dos anticoagulantes; deficiência da vitamina K (em casos de anorexia, má absorção intestinal, etc…); insuficiência hepática (falência do fígado); doenças da coagulação. - MÉTODO: o sangue é coletado com algum anticoagulante; no laboratório adiciona-se cálcio e tromboplastina e é analisado o tempo para a coagulação da amostra. ! Valores de referência → tempo entre 12 e 13 segundos; atividade enzimática entre 70 e 100%; RNI- Relação Internacional Normalizada (TP paciente / TP normal) entre 0,8 e 1,2. Enzo Amaral Avidago 13 • TEMPO DE TROMBOPLASTINA PARCIAL ATIVADO (TTPa) → triagem para deficiência dos fatores da via intrínseca e comum (XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio). Normalmente prolongado no uso de heparina, na presença de inibidores, nas hepatopatias, durante o uso de AVK (anticoagulantes orais anti-vitamina K) e deficiência de Vitamina K, em paciente com hemofilia e doenças imunes. ! Valores de referência → TTPa normal entre 30 e 45 seg; RNI – relação TTPa paciente / TTPa normal igual ou maior que 1,26 – caso o paciente faça uso de heparina adota-se o controle de heparinização entre 1,5 e 2,5. • TEMPO DE TROMBINA (TT)→ triagem para deficiência quantitativa ou qualitativa do fibrinogênio e presença de inibidores. Avalia o tempo de coagulação do plasma citratado (com citrato), na presença de trombina, testando a conversão de fibrinogênio em fibrina. O tempo de formação do coagulo é inversamente proporcional à concentração de fibrinogênio, ou seja, quanto maior o tempo de coagulação menor a concentração de fibrinogênio no sangue. O resultado normal esperado é de 12 a 16 segundos; RNI até 1,2 é considerado normal. O tempo pode se prolongar quando ocorre alteração do fibrinogênio, uso de heparina e presença de produtos de degradação de fibrina. • DOSAGEM DE FIBRINOGÊNIO → investigação de deficiência quantitativa e qualitativa do fibrinogênio. Em geral, a deficiência do fibrinogênio é adquirida (p, ex., hepatopatias). Valores de referência: 200 a 400 mg/dL. • CONTAGEM DE PLAQUETAS → avaliação do número de plaquetas; rotineiramente realizada no hemograma. O teste é realizado com amostra de sangue em contadores celulares hematológicos automatizados. Indica trombocitopenia ou trombocitose. 28. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Trata-se de uma das causas mais comuns de mortalidade e morbidade em adultos, causado por uma limitação do fluxo coronariano, geralmente por ruptura de uma placa de ateroma, causando trombose. Essa obstrução aguda de uma artéria coronariana resultará em uma isquemia (bloqueio do suprimento de nutrientes e posteriormente em uma necrose miocárdica). O tamanho da lesão é resultado do ponto de obstrução daartéria em questão. - SINTOMAS: dor no meio ou à esquerda do tórax, com aspecto de aperto, pressão ou peso, muitas vezes com irradiação para o braço esquerdo, mandíbula e/ou costas. A angina do infarto apresenta piora gradual e é normalmente acompanhada de suores, falta de ar, palidez, inquietação e por vezes, náuseas e vômitos; ao contrário da angina estável, no infarto, a dor dura vários minutos e não há alívio com repouso. Como pode haver quadros em que a dor pode ser mais branda, confundindo-se com outras patologias ou passando despercebida, no momento da triagem é realizada, juntamente ao exame físico, o eletrocardiograma (ECG) e medição de marcadores bioquímicos (CK-MB; troponina-1 e mioglobina). 29. MARCADORES BIOQUÍMICOS DE LESÃO MIOCÁRDICA As células miocárdicas danificadas por uma lesão perdem a integridade das membranas celulares, com isso as proteínas presentes essas estruturas se difundem no interstício e vão para os linfáticos e capilares. Esses marcadores servem tanto para diagnostico quanto para o prognóstico de pacientes com Síndrome Coronária Aguda (SCA) → mostram a direta associação entre a elevação dos marcadores séricos e o risco de eventos cardíacos em curto e médio prazo. • MIOGLOBINA → trata-se de uma proteína de baixo peso molecular, encontrada nas musculaturas esquelética e cardíaca. A elevação da mioglobina é extremamente precoce quando comparada a outras enzimas cardíacas, devido ao seu baixo peso molecular, que permite um rápido deslocamento para a circulação. Nos pacientes IAM, podemos encontrar níveis de mioglobina elevados já nas primeiras horas após infarto, com pico entre 6 e 12 horas, retomando aos níveis normais em 24 a 48 horas após o infarto. A dosagem de mioglobina é apontada como um marcador de rastreamento no diagnóstico precoce de IAM, por sua rápida elevação após a lesão miocárdica. Pode aumentar também nas lesões da musculatura esquelética, não tendo especificidade para lesões cardíacas. Por sua característica de rápida eliminação renal, resultados alterados obtidos em pacientes com patologias renais devem ser interpretados com cautela, pois podem ser causados pela diminuição da eliminação renal. ! Em um paciente infartado a mioglobina encontra-se alterada; porém a mioglobina alterada não configura necessariamente um infarto. Enzo Amaral Avidago 14 • CREATINOQUINASE (CK) → trata-se de uma enzima citoplasmática e mitocondrial que catalisa a fosforilação reversível da creatina com formação de ATP, para obtenção rápida de energia no músculo. A CK é composta de duas subunidades (M e B) que se combinam em três tipos → MM, MB e BB que são encontradas em maior proporção respectivamente, no músculo esquelético, cardíaco e cérebro. Portanto, a sua elevação não significa necessariamente infarto agudo do miocárdio (IAM); a associação clínica com ECG e outras provas laboratoriais aumenta o seu valor diagnóstico no IAM. A elevação do CK total ocorre 4 a 8 horas após o início da dor peitoral, tendo o seu pico máximo de 12 a 24 horas, retornando ao normal em 3 a 4 dias. Considerando as limitações da CK total, o CK-MB é um marcador mais específico para detecção de lesões no miocárdio, pois 25 a 46% da concentração desta enzima encontram-se no músculo cardíaco e apenas 5% no músculo esquelético. Elevações de CK-MB ocorrem de 2 a 6 horas após as manifestações cardíacas, com pico máximo em torno de 24 horas, retornando ao normal dentro de 48 horas. A precocidade de sua detecção e a maior especificidade faz com que ela seja o marcador de escolha em relação ao CK Total; a CK-MB massa é mais sensível que a CK-MB atividade. ! A CK-MB massa apresenta como principal limitação elevar-se após dano em outros tecidos não cardíacos (falso-positivos), especialmente lesão em músculo liso e esquelético. • TROPONINA → trata-se de três diferentes proteínas, troponina T (TnTc), troponina I (TnIc) e troponina C, presentes nos músculos esquelético e cardíaco (não estão presentes no músculo liso), onde são elementos importantes no processo contrátil. A troponina C é coexpressa nas fibras musculares esqueléticas de contração lenta, por esse motivo não interessante como marcador cardíaco. TnTc ou TnIc fornece informações clínicas praticamente idênticas e a seleção depende do equipamento e dos ensaios disponíveis no laboratório de patologia. Possui maior especificidade para lesão miocárdica (padrão ouro) e apresenta duas principais vantagens em relação à CK-MB → maior especificidade para lesão miocárdica, na medida em que a CK-MB é encontrada em tecidos não cardíacos, e (2) habilidade em detectar pequenas quantidades de lesão miocárdica (microinfartos), não detectável pelos ensaios de CK-MB. Pacientes sadios não apresentaram alterações de troponina, mas também alterações de troponina não representam exclusivamente infarto; pode representar outra lesão do miocárdio. ! TnTc e TnIc → marcadores bioquímicos de escolha para detecção de necrose miocárdica em pacientes com SCA, por terem alta sensibilidade e quase completa especificidade. A troponina I é a mais específica para lesões do músculo cardíaco, eleva-se entre 4 a 6 horas e atinge o pico em torno de 12 horas após a lesão miocárdica, permanecendo elevada no soro por um período de 3 a 10 dias (pode ser usado para detecção de infarto tardio – não fulminante). Esse marcador tem sido apontado como o marcador de injúria miocárdica mais próximo do ideal, demonstrando claramente seu valor prognóstico tanto no infarto como na angina instável. A troponina T apresenta-se alterada nas lesões do músculo cardíaco, aparece no soro, após o início dos sintomas, com curva semelhante à do aparecimento da CK-MB, eleva-se entre 3 a 12 horas e atinge o pico em torno de 24 horas após a lesão miocárdica, com a característica de manter-se elevada por mais tempo, 12 a 14 dias. Pode haver injúrias não miocárdica com elevação da TnTc → rabdomiólise; distrofia muscular (TnTc fetal); polimiosite; insuficiência renal; pacientes em diálise (creatinina < 2mg/dl). As troponinas também são os marcadores de escolha para investigar reinfartos; são realizadas medidas seriadas obtidas no momento dos sintomas e 3 a 6 horas após, considera-se reinfarto quando há um incremento de 20% relativo entre essas medidas. ! Reinfartos → IAM que ocorre dentro de 28 dias do infarto incidente. Após 28 dias, é considerado recorrente. VALORES DE REFERÊNCIA TnTc: 0,0 a 0,04 ng/mL TnIc: 0,0 a 0,1 ng/mL - Para cada aumento de 1 ng/mL da TnIc, o risco de mortalidade aumenta significativamente; - O risco existe mesmo nos pacientes com CK-MB normais. • DESIDROGENASE LÁTICA (LDH) → trata-se de uma enzima intracelular responsável pela catalização da oxidação reversa do lactato em piruvato; amplamente distribuída em todas as células do organismo, concentrando-se mais especialmente no miocárdio, rim, fígado, hemácias e músculos. Não tem sido utilizada necessariamente como protocolo para detecção de infarto. Encontra-se valores elevados em todas as situações em que ocorre grande destruição celular; desta forma, sua dosagem é utilizada para detecção da extensão da lesão. Níveis séricos elevados são encontrados em diferentes condições → anemia megaloblástica e hemolítica; leucemias, linfoma, hemoglobinopatias; infarto agudo do miocárdio, infarto pulmonar; insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência coronariana; choque e hipóxia importantes, doenças musculares; lesões hepáticas, hepatites, icterícias obstrutivas e cirrose. ! Valores de referência → 230 a 460 U/L. 30. EXAME DE URINA TIPO I ou EAS Trata-se do exame rotineiro de urina; um método simples, não-invasivo, capaz de fornecer uma variedade de informações úteis em relação a patologias envolvendo os rins, o trato urinário e, por dados indiretos, algumas patologias sistêmicas. Esse exame é basicamente de triagem, pois trazem muitas informações variadas, que acaba não trazendo especificidade, o que torna difícil o diagnosticosomente com esse tipo de exame. Apesar de simples, diferentes técnicas encontram-se envolvidas na sua realização, em 5 etapas distintas → avaliação da amostra; análise física (densidade, cor, pH, entre outros); análise química (utilização de reagentes); análise microscópica do sedimento (analise de células, cristais, microrganismos, entre outros); avaliação da função renal. Enzo Amaral Avidago 15 A coleta deve ser feita de maneira correta, utilizando-se recipientes apropriados e mantendo a amostra no máximo 2 horas no recipiente de coleta, e caso extrapole esse tempo deve ser feita refrigeração. Deve-se usar preferencialmente a primeira urina da manhã por ser mais concentrada, evitando esforço físico extenuante. Lavar a genitália externa e utilizar o ‘jato médio’, descartando o primeiro jato e o último. No caso das mulheres, deve-se evitar coletar urina durante a menstruação. Nesse exame é analisado → densidade urinária; glicose; proteinúria (qualitativa e quantitativa); pigmentos e sais biliares; hemoglobina e mioglobina. O sedimento urinário pode conter células sanguíneas (p. ex., hemácias, leucócitos e eosinófilos), agente biológicos (p. ex., vírus, bactérias e fungos), cristais (p. ex., oxalato, fosfato, uratos e fármacos) e cilindros (p. ex., hialinos, granulosos, leucocitários, hemáticos, gordurosos e céreos). • COR → depende da hidratação, podendo variar de amarelo claro a amarelo citrina. Há numerosas possibilidades de variação de cor, sendo a mais frequente a cor avermelhada, que pode acontecer na presença de medicamentos, hemácias, hemoglobina, metahemoglobina e mioglobina. Também é frequente a cor âmbar ou amareloacastanhada, pela presença de bilirrubina, levando a urina a se apresentar verde- escura em quadros mais graves. • ASPECTO → o aspecto normal seria uma aparência límpida (transparente). A turvação pode ocorrer pela presença de cristais, lipídeos, soro, muco, linfa, leveduras, matéria fecal, talco, contraste radiológico, hemácias, leucócitos, cilindros, bactérias, etc. • pH → dependente do equilíbrio ácido-básico e da dieta alimentar; normalmente a urina é ácida. Uma dieta pobre em proteínas, alguns medicamentos e bacteriúrias tende a deixar a urina alcalina. • DENSIDADE → a urina possui a densidade levemente acima da densidade a água, variando entre 1.010 a 1.030 em seu estado normal. Densidades diminuídas podem ser encontradas na administração excessiva de líquidos por via intravenosa, Insuficiência Renal Crônica, uso de drogas, diabetes insipidus. Densidades elevadas podem ser encontradas na desidratação, diarreia, vômitos, febre, diabetes mellitus, glomerulonefrite, proteinúria, síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIHAD), uropatias obstrutivas e no uso de algumas substâncias, como contrastes radiológicos e sacarose. • GLICOSE → a glicose presente na urina reflete os níveis séricos da glicose associados à capacidade de filtração glomerular e de reabsorção tubular. Normalmente, a glicosúria só se manifesta quando os níveis séricos se encontram acima de 160/180 mg/dL; pode ser causada tanto pelo diabetes mellitus como por outras patologias, como doenças renais que afetem a reabsorção tubular e nos quadros de hiperglicemia de outras origens que não a diabética. Quando a glicose encontra alta no sangue, a carga de glicose encontra-se aumentada nos rins → há baixa reabsorção de glicose e por isso é eliminada na urina; há retenção de água no lúmen do túbulo e por isso há aumento do fluxo urinário. • CORPOS CETÔNICOS → a acetona é um subproduto do metabolismo da gordura e dos ácidos graxos que proporciona fonte de energia para as células quando as reservas de glicose estão exauridas ou quando a glicose não pode penetrar nas células devido à falta de insulina. Quando é formada em velocidade maior do que o normal, é excretada na urina. O jejum ou a dieta podem determinar o aparecimento de acetona na urina. • HEMOGLOBINA → ocorre em estados de hemólise intravascular (hemoglobinúria). Pode ocorrer presença de hemácias liberadas no trato urinário por pequenos traumas, exercícios extenuantes ou patologias das vias urinárias, em que as hemácias são lisadas, liberando hemoglobina. A verdadeira hemoglobinúria é rara, sendo mais frequente a hemoglobinúria acompanhada pela presença de hematúria. • BILIRRUBINA → aumentadas nas situações em que ocorre o aumento da bilirrubina sérica conjugada e sua consequente presença na urina. Valores elevados podem ser encontrados em doenças hepáticas e biliares, obstruções intra e extra-hepáticas, neoplasias hepáticas ou do TGI. Os falso-negativos podem ser induzidos pelo uso de ácido ascórbico e exposição da urina à luz intensa por longo tempo. • NITRITO → presença de nitrito na urina indica infecção das vias urinárias, causadas por microrganismos que reduzem o nitrato a nitrito; porém a ausência de nitrito não indica ausência de infecção. A reação positiva indica infecção nas vias urinárias, principalmente por bactérias entéricas. • ESTERASE LEUCOCITÁRIA → trata-se de uma enzima presente em leucócitos, para detecção destes e piócitos. O valor aumentado pode significar infecção bacteriana. A leucocitúria pode ser identificada indiretamente, pela detecção da esterase leucocitária, na análise química da amostra, ou diretamente, pela observação e quantificação dos leucócitos ao exame microscópico do sedimento. A quantidade de 5 leucócitos/campo (400x), em amostras de jato médio de urina, representam o limite superior de normalidade. Na suspeita de infecção deve-se realizar urocultura, exame para o diagnóstico de uma infecção urinária; os cuidados com a coleta da amostra devem ser tomados. Considerada positiva se após 48-72h de incubação houver mais de 104 UFC. • PROTEÍNAS → em indivíduos normais, uma pequena quantidade de proteína é filtrada pelo glomérulo (albumina, alfa-1 e alfa-2 globulinas), sendo sua maior parte reabsorvida por via tubular e eliminada em pequenas quantidades pela urina. São considerados normais valores de até 150 mg/dia (realizada em 24 horas). - PROTEINÚRIA: indicador inicial de patologia renal. Associações a patologias não-renais → hemorragia, estados febris, algumas endocrinopatias, neoplasias, queimaduras extensas, mioglobinúria, hemoglobinúria, mielomas, etc. A proteinúria transitória pode surgir em consequência de estados não-patológicos, como estresse físico (exercícios intensos) ou emocional, desidratação, dieta (proteínas em excesso), exposição ao frio e posição do corpo (proteinúria ortostática). Pode ser realizada pesquisa qualitativa (teste da fita; teste com reagente – ácido sulfossalicílico a 20%) e a pesquisa quantitativa (coleta da urina por 24h refrigerada; valor encontrados em 24h → proteinúria fisiológica – até 150 mg; microalbuminúria – 30-300 mg; proteinúria nefrótica – acima de 3,5 g). 31. AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL A avaliação da função renal é de extrema importância na prática clínica, tanto para o diagnóstico quanto para e prognóstico e monitoramento das doenças renais. Biomarcadores para diagnóstico, prognóstico e acompanhamento do paciente com disfunção renal → ureia; creatinina; depuração endógena da creatinina; cistatina C; lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos (NGAL), proteinúria. • UREIA → principal metabólito nitrogenado; no ciclo da ureia, ocorre desaminação do aminoácido, o grupo amino é convertido em ureia, na tentativa de não acumular amônia. Cerca de 90% deste analito é excretado pelos rins (40% a 70% retornam para o plasma). Outros fatores que alteram → dieta, a taxa de produção hepática, desidratação, trauma, insuficiência cardíaca congestiva, infecção, depleção de sódio e uso de corticosteroides, diuréticos ou tetraciclinas. Em condições normais a proporção entre ureia e creatinina é em torno de 30. Enzo Amaral Avidago 16 • CREATININA → produto residual da creatina e da fosfocreatina. A creatinina é livremente filtrada pelo glomérulo enão é reabsorvida nem metabolizada pelo rim. Fatores que interferem na concentração → massa muscular, idade, sexo e etnia, e é afetada por condições que causam perda muscular. Na redução progressiva da função renal, uma fração da creatinina é secretada pelos túbulos de forma que o cálculo do clearance de creatinina superestima a real taxa de filtração glomerular nas fases mais avançadas da DRC; mais significativa quanto menor for a TFG. A eliminação através do sistema gastrointestinal, contribui também para uma superestimação da TFG. O clearance da creatinina (um exame mais acurado) pode ser estimado através de uma amostra de sangue, utilizando-se uma fórmula que relaciona a concentração sérica da creatinina à idade, ao peso e ao sexo do indivíduo. A sua determinação exata exige a coleta da urina de 24 horas. Na prática estima-se a taxa de filtração glomerular (TFG) calculando-se o clearance (Ccr) ou depuração de creatinina; não avalia o número de néfrons funcionantes, mas sim a capacidade destes de funcionar. 𝐶𝑐𝑟 (𝑚𝐿/𝑚𝑖𝑛) = 𝐶𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 𝑢𝑟𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑎 × 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑢𝑟𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑜 (𝑚𝐿) × 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑎 (𝑚𝑖𝑛. ) 𝐶𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 𝑝𝑙𝑎𝑠𝑚á𝑡𝑖𝑐𝑎 (𝑚𝑔/𝑑𝐿) Como a quantidade de creatinina depende da massa muscular, o clearance deve ser corrigido pela superfície corporal, ou seja, o valor obtido deve ser dividido pela superfície corporal /1,73 m2. Valor normal → 70 a 120 mL/min/1,73 m2. - Clearance de creatinina a partir da creatinina sérica (Crs) utilizando-se fórmulas testadas empiricamente, tal como a de Cockcroft e Gault: 𝐶𝑐𝑟 (𝑚𝐿/𝑚𝑖𝑛) = [140 − 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝑎𝑛𝑜𝑠) × 𝑖 × 𝑝𝑒𝑠𝑜 (𝑘𝑔)] [𝐶𝑟𝑠(𝑚𝑔/𝑑𝐿) × 72] ! A incógnita ‘i’ para sexo masculino deve ser substituída por 1,00 e para sexo feminino deve ser substituído por 0,85. - Referências para Clearance de Creatinina – sexo masculino → 95-105 ml/min.; sexo feminino → 80-95 ml/min. - Referências para Creatinina Urinária – sexo masculino → 20-26 mg/kg/dia; sexo feminino → 14-22 mg/kg/dia CONDIÇÃO CLEARANCE DE CREATININA CREATININA PLASMÁTICA COMENTÁRIO Uso de Cefalosporinas Diminui Aumenta Interfere na transformação do ácido pícrico para creatinina. Uso de Cimetidine e Trimetropim Diminui Aumenta Inibe a secreção tubular de creatinina Dieta hiperproteica Aumenta Aumenta Aumento transitório de geração de creatinina Dieta hipoproteica Diminui Diminui Diminuição de geração decreatinina Exercício Físico Diminui Aumenta Aumento da geração muscular de creatinina Os estágios da Doença Renal Crônica são definidos a partir da TFG, que como já mencionado, pode ser estimado pelo clearance de creatinina. O quadro abaixo descreve os valores de TFG para cada estágio da DRC: • CISTATINA C → proteína inibidora da proteinase da cisteína, sintetizada por todas as células nucleadas a uma taxa de produção constante. Os níveis séricos de cistatina C não são afetados pela massa muscular e alteram-se muito pouco com a idade, nítidas vantagens quando comparada à creatinina. Uso da cistatina C como um marcador endógeno para estimar a TFG → não há variação significativa da faixa de referência; não há necessidade de dosagem de urina. Pequeno tamanho e alto ponto isoelétrico, os quais permitem que esta proteína seja facilmente filtrada através da membrana glomerular, sendo reabsorvida no túbulo proximal em uma proporção significativa e, então, catabolizada de forma quase total neste sítio, não sendo excretada na urina. 32. ORIGEM Proveniente do metabolismo das purinas, adenosina e guanina, encontradas nos ácidos nucleicos tissulares e dieta. No organismo pode ser encontrado no plasma e fluidos corporais (pH 7,4 – sal sódico monovalente) e na urina (pH 5,5 a 6,5 – ácido úrico livre). A eliminação na urina depende do pH urinário, ou seja, tratando-se de um componente ácido, por isso é mais facilmente eliminado em meio alcalinizado. Aproximadamente 1/3 (200mg/dia) é eliminado pelo TGI, e 2/3 (400mg/dia) é eliminado pelos rins (filtração glomerular → reabsorção tubular → secreção tubular ativa → reabsorção pós-secretora). Enzo Amaral Avidago 17 ! A xantina oxidase atua no processo de transformação da hipoxantina em xantina; e também atua no processo de transformação da xantina em ácido úrico. • FUNÇÃO → essa substância além de cumprir papel como produto de excreção do metabolismo das purinas, possui atividade antioxidante, atua promovendo a proteção da integridade das membranas celulares em geral, particularmente dos eritrócitos – neutraliza radicais de oxigênio e outros oxidantes; e forma complexos estáveis com os íons férricos, impedindo a oxidação de ácido ascórbico. 33. AVALIAÇÃO LABORATORIAL A amostra coletada pode ser proveniente de soro, urina (24 horas) ou líquido sinovial; em jejum de 8 horas. VALORES DE REFERÊNCIA Soro Homens: 2,5 a 7,0 mg/dL Mulheres: 1,5 a 6,0 mg/dL Urina 250 a 750 mg/24h Líquido Sinovial Microscopia de cristais em agulha livres ou fagocitados - INTERFERÊNCIA METODOLÓFICA ‘IN VITRO’: algumas substâncias promovem o aumento da concentração de ácido úrico, como por exemplo, ácido ascórbico, levodopa, metildopa, cafeína e teofilina. - INTERFERÊNCIA BIOLÓGICA: algumas substâncias promovem redução da excreção ácido úrico (por competição), como por exemplo, aspirina e outros anti-inflamatórios, contrastes empregados em radiologia, vitamina C, varfarina, diuréticos, cetoacidose. 34. HIPORURICEMIA e HIPERURICEMIA • HIPORURICEMIA → trata-se de uma deficiência de enzimas envolvidas na síntese da purina; ou perda exagerada do ácido úrico → redução na reabsorção tubular de urato – síndrome de Fanconi, doença de Wilson; aumento da secreção tubular de urato – deficiência de hormônio antidiurético, probenicida, drogas uricosúricas (alopurinol e outros), altas doses de salicilatos, doenças hepáticas graves. • HIPERURICEMIA → pode ocorrer por aumento de formação do ácido úrico, diminuição da excreção do ácido úrico e outros fatores. - AUMENTO DA FORMÇÃO DE AU: dieta rica em purinas (p. ex., churrasco – carne vermelha + álcool); alterações enzimáticas específicas – diminuição das enzimas que atuam na reutilização das purinas (p. ex., Síndrome de Lesch-Nyhan – distúrbio congênito); aumento de enzimas que atuam na formação do ácido úrico ; aumento do metabolismo das nucleoproteínas – drogas que agem como quimioterápicos em doenças neoplásicas (p. ex., metotrexano, prednisona), doenças hematopoiéticas e neoplásicas, psoríase extensa (30 a 50% dos casos) e sarcoidose (30 a 50% dos casos). - EXCREÇÃO DIMINUÍDA DE AU: doença renal crônica, insuficiência renal aguda, redução do fluxo renal; função renal alterada – inibição da secreção tubular ou maior reabsorção → drogas (p. ex., diuréticos tiazídicos, furosemida, mercuriais, salicilatos em pequenas doses); alterações do pH – cetoacidose, acidose láctica, toxemia da gravidez; intoxicação pelo chumbo – lesão renal; hipercalcemia. - OUTROS FATORES: raça, sexo, idade (principalmente homens depois dos 40 anos); fatores genéticos; peso corporal; classe social; álcool (aumento da produção de ácido lático); associação a outras patologias. • HIPERURICEMIA SECUNDÁRIA → obesidade; diabetes mellitus; hiperlipidemia – 75 a 85% dos hiperuricêmicos; doenças renais primárias avançadas; hiperparatiroidismo primário; doenças proliferativas hematopoieticas (leucemia, linfoma, policitemia); hipertensão – 20-30% dos hipertensos têm hiperuricemia; doença cardiovascular; hemoglobinopatias; doenças hereditárias (p. ex., S. Lesch-Nyhan, Down). 35. PATOLOGIAS O acumulo do ácido úrico na forma de cristais pode ocorrer no corpo todo (exceto no Sistema Nervoso Central), porém há uma predileção pelo líquido sinovial das articulações do membros inferiores; além da questão da gravidade esse acumulo maior em nessas regiões ocorre pois são locais com temperaturas inferiores as demais regiões do corpo, o quefacilita a precipitação. De acordo com o local de acumulo pode causar → osteosites; problemas no miocárdio (coração); nefropatia (rins); miosites (músculos); urolitíase (10 a 25% dos cálculos renais); gota/artrite gotosa (20 a 30% dos hiperuricêmicos). • GOTA → trata-se de uma doença caracterizada pela elevação de ácido úrico no sangue, o que leva a um depósito de cristais de monourato de sódio nas articulações. É esse depósito que gera os surtos de artrite aguda secundária, que tanto incomodam seus portadores. Pode ser Enzo Amaral Avidago 18 primária (hereditária – pequena %); secundária à outras patologias, medidas terapêuticas e manifestações tardias de erros metabólicos; idiopática. - FASES DA ARTRITE GOTOSA: 1) Hiperuricemia assintomática – 20 a 30 anos; 2) Gota aguda – 3 a 10 dias: ataques recorrentes artrite gotosa aguda, intercalados com períodos assintomáticos – intercríticos. No líquido sinovial – cristais urato monossódico monohidratado intraleucocitário; 3) Artrite gotosa crônica – gota tofácea, ocorre depósito de uratos em torno das articulações (tofos). - OCORRÊNCIA: maior ocorrência no sexo masculino, acima dos 40 anos; raro em mulheres e crianças (5% são mulheres após menopausa); 10 a 20% dos pacientes com gota desenvolvem urolitíase; menos de 5% dos pacientes com gota desenvolvem lentamente uma disfunção renal progressiva e fatal. A gota não é uma doença grave, mas está muito associada a outras doenças potencialmente graves como a hipertensão arterial, a dislipidemia (elevação dos níveis de colesterol e triglicérides), o diabete e a obesidade. - TRATAMENTO: Na hiperuricemia – administração da dieta (redução das purinas); aumento da ingestão de líquidos (3 L/dia); alcalinização da urina – bicarbonato de sódio; antinflamatórios – exceto salicilatos. Na crise aguda – nunca iniciar com alopurinol; colchicina – bloqueia fagocitose dos cristais de urato – inibem tubulina (0,5 ou 1mg de hora em hora); AINE; alopurinol – iniciar somente após desaparecimento da inflamação – inibe xantina oxidase e promove redução na produção de AU; probenicida ou outros uricosúricos – redução da reabsorção dos uratos no túbulo renal. 36. OBJETIVO DOS EXAMES As disfunções hepáticas mais comuns envolvem: disfunção das células hepáticas em si (p. ex., cirrose ou hepatite); obstrução do fluxo da bile secretada pelo fígado através das vias biliares (p.ex., cálculos biliares ou câncer) causando dor (cólica biliar) ou inflamação da vesícula biliar (colecistite) → os cálculos também podem migrar da vesícula biliar para o ducto biliar, onde eles podem causar icterícia ao bloquearem o fluxo normal da bile até o intestino. Os testes com o objetivo de avaliar e manejar pacientes com disfunção hepática: detectar a presença de doença/disfunção hepática; fazer diagnóstico diferencial das doenças; avaliar a extensão/gravidade do dano hepático; monitorar a evolução de doenças hepáticas e a resposta ao tratamento. Muitos testes de bioquímica e desempenho excretório hepáticos são chamados de teste de função hep ática. Entretanto, muitos desses testes não examinam exatamente a função hepática, mas sim a liberação sanguínea de enzimas (p. ex., de aminotransferases na presença de dano e necrose hepatocelular ou de fosfatase alcalina na presença de colestase). Apenas alguns exames laboratoriais de fato dão indícios sobre a função hepática ao avaliar a excreção hepatobiliar (p. ex., bilirrubina) ou a capacidade de síntese do fígado (p. ex., tempo de protrombina – TP; albumina). 37. BILIRRUBINA Enzo Amaral Avidago 19 Trata-se do pigmento presente na bile, produzido da decomposição das proteínas heme; conjuga-se com albumina ou com ácido glicurônico no fígado. Apresenta duas formas plasmáticas → indireta (não-conjugada, lipossolúvel, ligada à albumina no plasma; não excretada pela urina) e direta (conjugada, hidrossolúvel, associada ao ácido glicurônico). O grupo Heme, depois de retirado o Fe3+ para produção de novas hemácias, é utilizado para a formação de biliverdina (de coloração esverdeada); essa substância sofrerá redução e formará bilirrubina indireta, associada a albumina no sangue. Direcionada ao fígado, a bilirrubina passa por uma reação enzimática e se associar ao ácido glicurônico, formando a bilirrubina direta (mais solúvel em meio aquoso); essa nova composição irá para a bile e será secretada no intestino delgado. No colón do intestino grosso, a bilirrubina direta sofrerá ação de bactérias, sendo reduzidas por enzimas da flora bacteriana e transformada em estercobilinogênio. Essa substância é muito solúvel em água e por isso cerca de 50% é reabsorvido pelo sangue e eliminado na urina; os outro 50% é eliminado nas fezes. A fração excretada na urina, após ser reabsorvida é direcionada aos rins, e depois eliminada na forma de urobilinogênio. • VALORES DE REFRÊNCIA - BILIRRUBINA DIRETA: 0,1 a 0,3 mg/100 mL sangue; - BILIRRUBINA INDIRETA: 0,2 a 0,8 mg/100 mL sangue; - BILIRRUBINA TOTAL: 0,3 a 1,2 mg/100 mL sangue; - ICTERÍCIA FISIOLÓGICA DO RECÉM-NASCIDO: até 8 mg/100 mL, desaparece na 1ª semana; ! Baixa lenta das hiperbilirrubinemias na convalescência → ligação covalente à albumina em hiperbilirrubinemias prolongadas; com meia vida de 15 dias. A hiperbilirrubinemia indireta apenas raramente indica lesão hepática; reflete um aumento na produção de bilirrubina (p. ex., na hemólise) ou deficiência na captação ou conjugação hepática (p. ex., na síndrome de Gilbert) . Já a hiperbilirrubinemia direta quase sempre resulta da diminuição na formação de bile ou de sua excreção (colestase). O fator limitante no metabolismo da bilirrubina não é a conjugação, mas o transporte para os canalículos biliares. Assim, elevação da fração conjugada pode ser observada em qualquer tipo de hepatopatia. Na maioria delas, tanto a bilirrubina direta quanto a indireta se elevam. - CAUSAS DE HIPERBILIRRUBINEMIA: hemólise (destruição de hemácias com liberação de hemoglobina – grupo heme e globina; maior a velocidade de formação que a capacidade de conjugação); hepatites (viral, tóxica, traumática); destruição do hepatócito (dificuldade de conjugação – aumento da bilirrubina indireta; dificuldade de excreção da bilirrubina – aumento da bilirrubina direta). A bilirrubinúria reflete a presença de bilirrubina conjugada na urina; a bilirrubina se derrama na urina porque os níveis sanguíneos estão marcadamente elevados, indicando doença grave. A bilirrubina não conjugada, sendo insolúvel em água e ligada à albumina , não pode ser excretada pela urina. 38. SÍNDORME ASSOCIADA A BILIRRUBINA • SÍNDROME DE GILBERT → essa síndrome ocorre entre 5 a 7% da população; trata-se de uma mutação na atividade da enzima UDP- glucuronil-transferase, responsável pela transformação da bilirrubina indireta em direta, podendo ocorrer redução em graus variados, mas geralmente em torno de 25% do normal. Situações onde há redução mais acentuada da atividade da enzima → adolescência em meninos (fatores hormonais); após exercícios físicos; durante a menstruação; episódios de infecções; jejum prolongado. A bilirrubina indireta no sangue pode aumentar o suficiente para deixar pele e olhos amarelados (icterícia). Em exame de sangue a bilirrubina indireta pode encontrar-se acima de 2,5mg/dL (normal é entre 0,2 e 0,8mg/dL). • SÍNDROME DE CRIGLER NAJJAR → deficiência genética da enzima que transforma bilirrubina indireta em direta. Existem 2 tipos → na Síndrome de Crigler Najjar tipo I, ocorre a deficiência completa, uma rara doença em que o acúmulo da bilirrubina indireta é tanto que esta penetra no cérebro causando uma patologia cerebral chamada kernicterus, que costuma ser fatal, na infância; na Síndrome de Crigler Najjar tipo II, a enzima está muito diminuída, mas o suficiente para transformar parte da bilirrubina. • SÍNDROME DE DUBIN-JOHNSON → doença que causa um aumento de bilirrubina sem elevação das enzimas do fígado (ALT,AST); normalmente é diagnosticada na infância. Muito rara, causado por mutações no gene ABCC2, que regula uma bomba para transporte de substâncias para fora do fígado, rins, intestino, placenta ou para que possam ser excretados do corpo. Ocorre aumento da bilirrubina direta dentro do hepatócito, fazendo com que esta difunda-se retrogradamente para o sangue. 39. DOSAGEM DE ENZIMAS HEPÁTICAS NO SORO Avaliação do grau de disfunção hepatocelular no decurso de hepatopatias. Sua concentração sérica correlaciona-se com o grau de lesão, já que estas enzimas são intracelulares, e entram no soro a partir de células mortas; é possível analisar a gravidade e a cronicidade de uma determinada doença. Sua repetição seriada é importante para avaliação de evolução e prognóstico. São três os grupos de importância: • ENZIMAS CELULARES → indicadoras de lesão hepatocítica, p. ex., glutamato-desidrogenase (GLDH); lactato-desidrogenase (LDH) e isoenzimas; glutamato-oxalacetato-transaminase (GOT/TGO) ou aspartatotransferase (AST); glutamato-piruvato-trasnaminase (GPT/TGP) ou alaninatransferase (ALT). - AMINOTRANSFERASES (ou TRANSAMINASES): catalizam reversivelmente a transferência redutora do grupo amino, do aspartato ou da alanina, em alfa-cetoglutarato. Liberadas no sangue em grandes quantidades quando há dano à membrana do hepatócito, resultando em aumento da permeabilidade. Assim, a elevação absoluta das aminotransferases tem grande significado diagnóstico, e não prognóstico, nas hepatopatias agudas. Importante ressaltar, que esses valores só são importantes na ausência de isquemia ou necrose aguda de outros tecidos, especialmente no miocárdio. - AST ou TGO: no fígado (80% mitocondrial), músculos e coração; ! AST > ALT → lesão de maior gravidade; mais profunda - ALT ou TGP: no fígado (citoplasmática) e rins. ! ALT > AST → lesão mais extensa e menos profunda. ! PADRÃO ALCOÓLICO → normalmente a TGP (ALT) é maior ou igual à TGO (AST). Uma razão (AST/ALT) maior que 2:1 é sugestiva e maior que 3:1 é altamente sugestiva de hepatopatia alcoólica. A AST na doença alcoólica é maior que 300 U/L, e a AST é normal. - LACTATO-DESIDROGENASE (LDH): trata-se de uma enzima glicolítica (cataliza a reação reversível do lactato em piruvato). Pequenas elevações podem estar relacionadas com congestão hepática por ICC, infarto miocárdico, infarto pulmonar etc. Já grandes elevações podem estar relacionadas com a fase hepatítica da hepatite fulminante aguda (atrofia amarela aguda), com queda a níveis normais alguns dias Enzo Amaral Avidago 20 antes do óbito, por destruição celular. A icterícia obstrutiva pura raramente produz elevação da fração LDH; a normalidade dessa fração com icterícia clínica fala fortemente a favor de icterícia obstrutiva não-inflamatória. • ENZIMAS LIGADAS À MEMBRANA → indicadoras de colestase, p. ex., fosfatase alcalina (AP); leucina-aminopeptidase (LAP); 5’- nucleotidase; γ-glutamil-transferase (γGT ou GGT); - FOSFATASE ALCALINA (AP ou FAL): aumento no nível desta enzima sugere colestase. Os resultados não são específicos, uma vez que consiste em várias isoenzimas diferentes encontradas em praticamente todos os tecidos, especialmente fígado, osso, placenta, intestino delgado, em ordem decrescente. Encontra-se presente nos canalículos biliares; aumenta na formação óssea (marcador tumoral de câncer ósseo). Os níveis podem permanecer elevados por vários dias após a resolução da obstrução, uma vez que a meia-vida da fosfatase alcalina é de cerca de 7 dias. - γ-GLUTAMIL-TRANSFERASE (γGT): também chamada de γ-glutamil-transpeptidase (γGTP), encontra-se em maior concentração no tecido renal, mas seu significado clínico remete especialmente as doenças do fígado e vias biliares, com grande sensibilidade (mais de 90% dos casos de hepatobiliares haverá alteração); principalmente na colestase. Seus níveis não aumentam em doenças ósseas, ou durante a infância ou gestação. Dosagens seriadas são imprescindíveis no acompanhamento de hepatites colestáticas e alcoólica, para definir a evolução no sentido de cura ou cirrose. No soro normal: 6 a 28 UI/L no homem; 4 a 18 UI/L na mulher. • ENZIMAS ESPECÍFICAS DO PLASMA → indicadoras da capacidade de síntese do fígado, p. ex., albumina; fatores de coagulação. ! De uma forma geral a capacidade de síntese do fígado é preservada, a não ser que ocorra uma lesão em escala maior (alta gravidade e/ou crônica). - ALBUMINA: possui síntese exclusivamente pelos hepatócitos, tem a meia-vida longa, de 15 a 20 dias, com 4% degradada a cada dia; por isso é marcador ruim para disfunção hepática aguda. A hipoalbuminemia é mais comum em hepatopatias crônicas como a cirrose, inflamação crônica, doença hepática alcoólica e usualmente reflete dano hepático grave e síntese baixa da proteína. Exceções são os pacientes com ascite, que podem ter a síntese normal ou elevada, mas o volume de distribuição é grande. A hipoalbuminemia não é específica para doenças hepáticas → desnutrição proteica de qualquer causa; enteropatias perdedoras de proteínas; glomerulopatias com albuminúria; síndrome nefrótica; em queimaduras ou dermatites esfoliativas; infecções crônicas associadas com aumentos de interleucina-1 e/ou fator de necrose tumoral, que inibem a síntese de albumina. - FATORES DE COAGULAÇÃO: todos os fatores de coagulação são produzidos exclusivamente pelos hepatócitos, exceto o fator VIII. As meia- vidas variam de 6 horas para o fator VII a 5 dias para o fibrinogênio. Pelo seu turnover rápido, sua medida é a melhor forma isolada de avaliação da função hepática, ajudando tanto no diagnóstico quanto no prognóstico de doenças parenquimatosas hepáticas. O prolongamento do Tempo de Protrombina (TAP) pode surgir na hepatite grave ou na cirrose, bem como em obstrução biliar crônica. O diagnóstico diferencial, está no fato de que esse prolongamento também pode ser devido à deficiência de vitamina K; assim, administra- se vitamina K (10 mg/dia) e repete-se a prova em 24 a 48 horas. Se persiste o prolongamento, fica forte a hipótese de dano hepatocelular; se o prolongamento é de mais de 5 segundos acima do controle, este é um sinal de mal prognóstico. 40. CÉLULAS DO SANGUE Células básicas presentes no sangue: - HEMÁCIAS: são células que têm uma pigmentação vermelha em sua composição chamada de hemoglobina. Representam a maior parte da composição celular do sangue tendo como principal função transportar o oxigênio e o gás carbônico na corrente sanguínea. A etapa do exame que analisa os glóbulos vermelhos é a eritrograma. - LEUCÓCITOS: são as células responsáveis pela defesa do organismo contra infecções causadas por vírus ou bactérias, alergias, resfriados, tornando-se parte importante do sistema imunológico. Existem tipos de glóbulos brancos: os neutrófilos, eosinófilos, basófilos, os linfócitos e os monócitos. Para esse exame o procedimento realizado é o leucograma; - PLAQUETAS: são fragmentos de células produzidas na medula óssea que participam do processo de coagulação do sangue e que ajudam a evitar hemorragias e outras complicações. 41. ANEMIAS A história, o exame físico e a avaliação laboratorial frequentemente esclarecem o diagnóstico ou fornecem dados necessários para se escolher com critério os próximos exames laboratoriais. Deve ser iniciada por procedimentos simples → hemograma completo e contagem de reticulócitos. O hemograma completo é um exame focado na avaliação de fatores da série vermelha e da série branca, ao contrario do que a maioria da população acredita, não envolve a checagem de glicose, colesterol e triglicérides. Tem como objetivo classificar as anemias com base no tamanho das hemácias (VGM); e pesquisar a presença de alterações morfológicas das hemácias, leucócitos e plaquetas; analise de doenças autoimunes e leucemias. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol%C3%B3gicos/dermatite/dermatite-esfoliativa Enzo Amaral Avidago 21 - ANEMIA
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