Buscar

D. PENAL

Prévia do material em texto

D I R E I T O P E N A L 
 
1) Infrações penais: 
 
1.1) Crimes (ou delitos): 
 
São condutas típicas, antijurídicas e culpáveis. Sanção: Reclusão/detenção e/ou multa. 
 
1.2) Contravenções penais: 
 
São infrações penais de baixo potencial ofensivo. Sanção: Prisão simples ou multa. 
 
2) Norma penal: 
 
2.1) Norma penal incriminadora: 
 
É uma norma penal que define conduta e impõe sanção. É composta por um preceito primário (crime/contrav.penal) e por um preceito secundário (uma sanção). As normas penais incriminadoras não admitem o uso de analogias. 
 
2.2) Norma penal incriminadora em branco: 
 
É uma norma que, na definição do crime, necessita de “apoio” em uma outra norma, ou seja, precisa ser completada para que seu sentido possa ser plenamente alcançado. A norma penal em branco é uma norma penal 
incriminadora, mas define um crime de forma incompleta. 
 
Pode ser citado como exemplo o artigo 269 do Código Penal quando diz ser um crime “deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória”. No entanto, tal artigo não esclarece quais são as 
doenças cujas notificações sejam compulsórias. Para que o artigo 269 do Código Penal seja compreendido em sua inteireza, deve-se recorrer ao Ministério da Saúde para se descobrir quais são as doenças cujas notificações 
sejam, de fato, compulsórias. 
 
As normas penais em branco, que são incompletas na definição do crime, dividem-se em: 
 
2.2.1) Norma penal incriminadora em branco em sentido amplo: 
 
Em uma norma penal incriminadora em branco em sentido amplo, o complemento necessário para a completa definição do crime é encontrado em uma lei. Diz-se, assim, que, por ser fruto de uma decisão do Poder Legislativo, 
o complemento necessário possui uma fonte formal homogênea (justamente por ser um ato do próprio Poder Legislativo). 
 
A título de exemplo, cita-se o artigo 236 do Código Penal: é um crime “contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior”. Entretanto, são nos 
artigos 1.517 e 1.521 do Código Civil de 2002 que o artigo 236 do Código Penal encontra seu complemento. Diz o artigo 1.517 do Código Civil: “o homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de 
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.” Diz o artigo 1.521 (também do Código Civil): “não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou 
civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado 
com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.” 
 
2.2.1) Norma penal incriminadora em branco em sentido estrito: 
 
Em uma norma penal incriminadora em branco em sentido amplo, o complemento necessário para a completa definição do crime não é encontrado em uma lei, mas sim em um ato do Poder Executivo. Por tal razão, diz-se que 
o complemento da norma penal incriminadora em branco em sentido estrito apresenta fonte formal heterogênea. 
 
É exemplo o já citado artigo 269 do Código Penal (é crime “deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória”). A tarefa de sinalizar quais são as doenças de notificação compulsória fica a 
cargo do Ministério da Saúde, ou seja, do Poder Executivo). 
 
Um outro exemplo é o artigo 33 da Lei Nº 11.343 (a Lei de Drogas), que diz que é uma conduta criminosa “importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, 
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. No entanto, tal artigo não 
esclarece o que se entende pelo termo “drogas”. Para isso, é necessário recorrer ao artigo 1º (parágrafo único) desta mesma lei e descobrir que, “para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos 
capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.” Ainda assim, apesar de o parágrafo único do artigo 1º da Lei de Drogas dizer o 
que se entende pelo termo “drogas”, ele ainda necessita de um outro complemento: cabe ao Poder Executivo – em especial, ao Ministério da Saúde – atualizar periodicamente as listas indicativas do rol das drogas. 
 
2.3) Norma penal não incriminadora: 
 
É uma norma penal que não define crime nem impõe uma sanção. As normas penais não incriminadoras são divididas em: 
 
2.3.1) Norma penal não incriminadora permissiva: 
 
É aquela que apresenta uma exclusão da antijuridicidade ou uma exclusão da culpabilidade. É um exemplo de norma penal não incriminadora permissiva de exclusão de antijuridicidade o artigo 25 do Código Penal ao afirmar 
que “entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.” Por outro lado, é um exemplo de norma penal não incriminadora 
permissiva de exclusão da culpabilidade o artigo 27 do Código Penal ao dizer que “os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.” 
 
2.3.2) Norma penal não incriminadora complementar (ou explicativa): 
 
É aquela norma que irá complementar o sentido de uma outra norma. O artigo 327 do Código Penal, por exemplo, explica o que se entende por funcionário público para efeitos penais: “considera-se funcionário público, para os 
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.” 
 
Além disso, pode-se também ser citado como exemplo o artigo 150 do Código Penal: os parágrafos 3º e 4º explicam o caput do artigo. O caput do artigo 150 do Código Penal sinaliza que é crime “entrar ou permanecer, clandestina 
ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”. Logo em seguida, o parágrafo 4º indica que “a expressão ‘casa’ compreende: 
 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.” 
 
Ademais, o parágrafo 5º esclarece que “não se compreendem na expressão ‘casa’: 
 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.” 
 
3) Interpretação da norma penal: 
 
3.1) Quanto ao agente (ao órgão): 
 
→ Interpretação autêntica: é aquela feita pelo próprio legislador. 
→ Interpretação doutrinária: é aquela feita pelos doutrinadores (os grandes estudiosos do Direito). 
→ Interpretação jurisprudencial: é aquela obtida por meio da análise das decisões judiciais. 
 
3.2) Quanto aos meios: 
 
→ Interpretação literal (ou gramatical): é a modalidade interpretativa que se norteia pelo significado das palavras. 
→ Interpretação teleológica: é a modalidade interpretativa que estuda a finalidade da norma. 
→ Interpretação sistemática: é a modalidade interpretativa que busca realizar uma análise geral da lei (e não apenas de uma alínea, de um parágrafo, de um artigo). 
 
3.3) Quanto ao resultado: 
 
→ Caráter declaratório: segue o texto legislativo conforme declarado (conforme escrito). 
→ Caráter restritivo: busca estudar o fato de, para o caso concreto, a lei dizer mais do que deveria. 
→ Caráter extensivo: busca estudar o fato de, para o caso concreto, a lei dizer menos do que deveria. 
 
4) Analogia e interpretação analógica: 
 
A analogia no Direito Penal apenas poderá ser utilizadanas normas penais não incriminadoras – e apenas quando em benefício do réu (analogia in bonan partem). As normas penas incriminadoras não admitem o uso de 
analogias. Apenas poderá ocorrer analogia quando houver um hiato legislativo, ou seja, uma lacuna na lei. 
 
A interpretação analógica, por sua vez, consiste em uma espécie de permissão do legislador. É possível aplicar a interpretação analógica, a título de exemplo, ao artigo 171, o qual afirma se enquadrar em um tipo penal aquele 
que “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. Há uma permissão legislativa quando a lei se abre 
para outros meios tidos como fraudulentos. Um outro exemplo de uma possível interpretação analógica marca presença no inciso I do parágrafo 2º do artigo 121 do Código Penal: “Matar alguém: § 2º Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”. Há, assim, mais uma vez, uma permissão do legislador. 
 
5) Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
 
5.1) Princípio da legalidade (ou princípio da reserva legal): 
 
Nullum crimen, nulla poena sine lege: não há crime sem que, antes de sua prática, haja uma lei descrevendo-o como punível. Sendo assim, alguns questionam a legalidade da norma penal incriminadora em branco em sentido 
estrito, pois o complemento apresenta uma fonte heterogênea, ou seja, não é uma lei. A maioria dos doutrinadores, entretanto, acredita na legitimidade de tais normas, pois o conceito do crime está descrito na norma – ainda que 
não em sua inteireza. Uma minoria, por outro lado, enxerga a norma penal incriminadora em branco em sentido estrito como ilegítima, porquanto, seguindo o princípio da legalidade, apenas a lei pode definir um crime (no todo). 
 
5.2) Princípio da anterioridade: 
 
A pena não poderá ser aplicada sem uma lei anterior que a contenha. Só existe pena com anterior cominação legal. 
 
5.3) Princípio da taxatividade: 
 
O conjunto de normas incriminadoras é taxativo, ou seja, o texto penal não admite ampliações (para se evitar a insegurança jurídica). O artigo 4º da Lei Nº 7.492 (de 1986), por exemplo, viola o princípio da taxatividade ao não 
estabelecer claramente a conduta criminosa. Dirá o artigo 4º da referida lei que é um crime “gerir fraudulentamente instituição financeira” (apenas). 
 
5.4) Princípio da lesividade: 
 
O Direito Penal apenas deve ser aplicado quando a conduta lesiona um bem jurídico, não sendo suficiente que seja imoral ou pecaminosa. 
 
5.5) Princípio da intervenção mínima (ou princípio da subsidiariedade): 
 
Não será qualquer lesão – ou perigo de lesão – ao bem jurídico que deverá ser contemplada e/ou resolvida pelo Direito Penal. O Direito Penal, sendo a ultima ratio, não deve ser acionado para reprimir atos ilícitos insignificantes 
para a sociedade, de caráter estritamente privado e sem valor para a sociedade local. 
 
5.6) Princípio da fragmentariedade: 
 
É consequência dos princípios da legalidade (princípio da reserva legal) e do princípio da intervenção mínima. O Direito Penal não protege todos os bens jurídicos de violações: apenas os mais importantes. E, dentre eles, não 
os tutela de todas as lesões: intervém apenas nos casos de maior gravidade, protegendo um fragmento dos interesses jurídicos. 
 
5.7) Princípio da proporcionalidade (ou princípio da proibição de excesso): 
 
Determina que a pena não pode ser superior ao grau de responsabilidade pela prática do fato: a pena deve ser medida pela culpabilidade do autor. A culpabilidade é a medida da pena. É um princípio indicador de que a severidade 
da sanção deve corresponder à maior ou menor gravidade da infração penal. Quanto mais grave o ilícito, mais severa deve ser a pena. O princípio da proporcionalidade tem o objetivo de coibir excessos desarrazoados, por meio 
da aferição da compatibilidade entre os meios e os fins da atuação administrativa, para evitar restrições desnecessárias ou abusivas. O artigo 273 do Código Penal, a título de exemplo, viola tal princípio ao declarar que a pena 
prevista para todo aquele que falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais é de 10 a 15 anos de reclusão (e multa). A pena mínima prevista para o tipo penal descrito no artigo 273 
é superior à pena mínima do homicídio simples (6 a 20 anos de reclusão). 
 
5.8) Princípio da intranscendência: 
 
Está descrito no inciso XLV do artigo 5º da Constituição Federal: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas 
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. 
 
5.9) Princípio da individualização da pena: 
 
Está descrito no inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal: “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: 
 
a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos.” 
 
α) O legislador impõe uma pena que permita uma individualização para o caso concreto: impõe uma escala penal. Quanto maior for a escala penal, maior será a possibilidade de uma correta individualização da pena. 
β) O juiz deve aplicar a pena de acordo com o fato e com as circunstâncias (individualização da pena no caso concreto). 
γ) A execução da pena também ocorre levando em consideração a realidade do condenado. 
 
5.10) Princípio da humanidade das penas: 
 
Está descrito no inciso XLVII do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil: “não haverá penas: de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; de caráter perpétuo; de trabalhos forçados; 
de banimento; e cruéis.” 
 
5.11) Princípio de respeito ao preso: 
 
Está descrito no inciso XLIX do artigo 5º da Constituição Federal: “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.” 
 
5.12) Princípio da culpabilidade: 
 
Nullum crimen sine culpa: a pena só pode ser imposta a quem, agindo com dolo ou culpa, e merecendo juízo de reprovação, cometeu um fato típico, antijurídico e culpável. 
 
6) Conflito de leis no tempo: 
 
6.1) Princípio da extra-atividade da lei penal mais benéfica: 
 
Extra-atividade é a possibilidade de a lei penal, depois de revogada, continuar a regular fatos ocorridos durante a vigência (ultratividade) ou retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor (retroatividade). 
Segundo o inciso XL da Constituição Federal, “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. 
 
6.2) Leis retroativas e irretroativas: 
 
6.2.1) Leis retroativas: 
 
→ Abolitio criminis (caput do artigo 2º do Código Penal: “ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”). Há, 
.....com a abolitio criminis, a extinção da punibilidade (inciso III do artigo 107 do Código Penal: “extingue-se a punibilidade: pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso”). 
 
→ Novatio legis in mellius (parágrafo único do artigo 2º do CP: “a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”). 
 
6.2.2) Leis irretroativas: 
 
→ Novatio legis incriminadora1. 
 
→ Novatio legis in pejus2. 
 
1 - É a hipótese da lei nova que vem a tornar fato anteriormente não incriminado pelo Direito Penal como fato incriminado, como fato típico. 
2 - O fenômeno jurídico da novatio legis in pejus refere-se à lei nova mais severa do que a anterior. 
 
É por lei proibida a retroatividade em prejuízo do agente. A lei anterior, quando for mais favorável, terá ultratividade e prevalecerá mesmo ao tempo de vigência da leinova, apesar de já estar revogada. O inverso também é 
verdadeiro, isto é, quando a lei posterior foi mais benéfica, retroagirá para alcançar fatos cometidos antes de sua vigência. 
 
6.3) Ultratividade da lei penal mais benéfica: 
 
Ultratividade é um princípio do Direito que guarda relação estreita com os princípios constitucionais da 
reserva legal (princípio da legalidade) e da anterioridade da lei penal, sendo normalmente estudada quando 
se aborda o âmbito temporal de atuação das normas jurídicas, ganhando especial relevância no Direito 
Penal. Diz-se que uma lei é ultrativa quando é aplicada posteriormente ao fim de sua vigência. 
 
 
 
 
 
 
 
6.4) Retroatividade de lei penal mais benéfica: 
 
O princípio da retroatividade penal determina que os efeitos benéficos e favoráveis de uma lei penal 
retroagem ilimitadamente e indiscriminadamente para todos os fatos anteriores à sua entrada em vigência. 
Por se tratar de um efeito benéfico, qualquer pessoa que já tenha, de alguma forma, sendo punida pela 
prática da conduta quando ela ainda era ilícita passa, instantaneamente, com a vigência da lei benéfica, a 
ser tratado como se sua conduta, à época da realização e condenação, já não fosse ilegal, mesmo para 
quem cumpre pena ou já a cumpriu anteriormente. 
 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ato_il%C3%ADcito
https://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_Penal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_Penal
6.5) Lei intermediária: 
 
A posição doutrinária majoritária é que, segundo o mesmo raciocínio, se houver uma lei intermediária entre a do tempo do crime e a do tempo do julgamento que seja mais benéfica ao réu, deverá ser aplicada a norma a ele mais 
conveniente em acordo com o parágrafo único do artigo 2º do CP: “a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.” 
 
 
 
Seguindo a lógica do princípio da aplicabilidade da lei penal mais benéfica, deverá ser aplicada a Lei “B” – que é, ao mesmo tempo, retroativa em relação à Lei “A” e ultrativa em relação à Lei “C”. A extra-atividade da lei penal 
intermediária vem a ser retroativa e ultrativa. 
 
6.6) Combinação de leis: 
 
Afirma a Súmula 501 do STJ ser “cabível a aplicação retroativa da Lei Nº 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei Nº 
6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.” 
 
6.7) Crime permanente: 
 
Ocorre quando a consumação do crime se prolonga no tempo: enquanto a conduta criminosa estiver sendo praticada, há crime. É um exemplo de crime permanente o tipo penal descrito no artigo 159 (extorsão mediante 
sequestro): “Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”. Enquanto houver o sequestro, há crime. O posicionamento majoritário da doutrina é que, se 
uma lei muda durante um crime permanente, será aplicada a última lei (mais benéfica ou não). Segundo a Súmula 711 do STF, “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é 
anterior à cessação da continuidade ou da permanência.” 
 
6.8) Crime habitual: 
 
É um crime que se prolonga no tempo e é composto por vários atos repetidos. É um exemplo de crime permanente o exercício ilegal da medicina, gizado no artigo 282 do Código Penal: “exercer, ainda que a título gratuito, a 
profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites”. 
 
6.9) Lei temporária: 
 
Lei temporária é aquela que contém em seu texto o período de sua vigência. São criadas para regular determinados fatos ou eventos que tenham um período certo de duração. O Código Penal brasileiro traz em seu artigo 3º a 
regulamentação da lei temporária, garantindo sua aplicação aos fatos praticados durante sua validade mesmo após o término de sua vigência, ainda que em detrimento do agente. Esclarece o artigo 3º do Código Penal que “a 
lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.” É exemplo de lei temporária a Lei Nº 12.663 de 
2012, a qual dispõe sobre as medidas relativas à Copa das Confederações FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA 2014 e à Jornada Mundial da Juventude (2013). 
 
6.10) Lei excepcionais: 
 
São leis cuja vigência está vinculada a uma situação excepcional. A lei excepcional é criada para vigorar sob determinadas condições excepcionais (calamidade, guerra, eleição...). Sua vigência se dá apenas no período de tais 
condições, ou seja, fora dos períodos “normais”. A título de exemplo, cita-se a Lei Eleitoral. As leis excepcionais também são abraçadas pelo artigo 3º da legislação penal. 
 
6.11) Conflito de leis no tempo dos complementos temporários e/ou excepcionais das normas penais incriminadoras em branco: 
 
O complemento temporário/excepcional seguirá a lógica das leis excepcional e temporária: o complemento da norma penal incriminadora em branco obedecerá ao artigo 3º do Código Penal. Embora decorrido o período da 
vigência do complemento da norma penal incriminadora em branco ou cessadas as circunstâncias que o determinou, será aplicado tal complemento ao fato praticado durante sua vigência. 
 
7) Tempo do crime: 
 
Segundo o artigo 4º do Código Penal, pela chamada teoria da atividade, considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Para a teoria da atividade, também 
chamada de teoria da ação, considera-se o momento do crime quando o agente realizou a ação/omissão típica, ou seja, considera-se praticado o crime no momento da conduta do agente, não se levando em consideração o 
momento do resultado, se diverso. A segunda corrente, denominada como teoria do resultado, defende que o momento do crime é aquele em que ocorreu o resultado. Deste modo, considera-se praticado o delito no momento 
em que ocorre o resultado, o efeito da conduta ilícita. A última corrente – a teoria da ubiquidade – sustenta que o tempo do crime é tanto o da ação (ou da omissão) quanto o do resultado. 
 
8) Lugar do crime: 
 
O lugar do crime é tanto aquele em que se produziu (ou deveria ter se produzido) o resultado, bem como onde foi praticada a ação ou omissão. Em outras palavras, seguindo as próprias letras do artigo 6º da legislação penal, 
“considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. 
 
8.1) Extraterritorialidade: 
 
8.1.1) Princípios que regem a extraterritorialidade: 
 
8.1.1.1) Princípio da nacionalidade: 
 
8.1.1.1.1) Princípio da nacionalidade ativa: 
 
É aplicado quando o autor do crime é brasileiro. Ficam sujeitos à lei brasileira – embora praticados no estrangeiro – os crimes cometidos por brasileiro (art. 7º, II, b). 
 
8.1.1.1.2) Princípio da nacionalidade passiva: 
 
É aplicado quando a vítima do crime é brasileira. A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, §3º). 
 
8.1.1.2) Princípio da defesa (ou princípio da proteção): 
 
No Código Penal, o artigo 7º, I, busca proteger bens jurídicos de grandiosa importância ao Brasil: “Ficam sujeitos à lei brasileira – embora cometidos no estrangeiro – os crimes: contra a vida ou a liberdade do Presidente da 
República; contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; contra 
a administração pública, por quem está a seu serviço; de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.” 
 
8.1.1.3) Princípio da justiça penal universal: 
 
Ficam sujeitos à lei brasileira– embora cometidos no estrangeiro – os crimes que o Brasil, por tratado ou convenção, obrigou-se a reprimir (art. 7º, II, a). 
 
8.1.1.4) Princípio da bandeira (ou princípio da representação): 
 
Ficam sujeitos à lei brasileira – embora cometidos no estrangeiro – os crimes praticados em aeronaves brasileiras ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não 
sejam julgados (art. 7º, II, c). 
 
8.1.2) Extraterritorialidade incondicionada: 
 
Não há empecilhos para a aplicação da lei brasileira para os casos previstos no inciso I do artigo 7º do Código Penal. O agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro (art. 7º, § 1º). 
 
8.1.3) Extraterritorialidade condicionada: 
 
Para as situações previstas no inciso II do artigo 7º da legislação penal, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: entrar o agente no território nacional; ser o fato punível também no país em que 
foi praticado; estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, 
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Ademais, o parágrafo 3º giza que “a lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas 
as condições previstas no parágrafo anterior: não foi pedida ou foi negada a extradição; houve requisição do Ministro da Justiça (art. 7º, §§ 2º e 3º). 
 
8.2) Duplo cumprimento de pena: 
 
Para se evitar o chamado bis in idem, afirma o artigo 8º que “a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”. Apesar disso, segundo 
o inciso IV do art. 8º da Pacto de São José da Costa Rica (Decreto Nº 678 de 6 de novembro de 1992), “o acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.” 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/código-penal-decreto-lei-2848-40
8.3) Lei de Migração: 
 
8.3.1) Deportação: 
 
A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional. Os procedimentos conducentes à 
deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou decorrentes da lei brasileira. 
 
8.3.2) Expulsão: 
 
A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. No processo de expulsão serão garantidos 
o contraditório e a ampla defesa. Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: 
 
I - Crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998; 
II - Crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. 
 
8.3.3) Extradição: 
 
A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de 
processo penal em curso. A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais designadas para esse fim. A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão competente do Poder 
Executivo em coordenação com as autoridades judiciárias e policiais competentes. 
 
 Artigo 82 da Lei de Migração: Não se concederá a extradição quando: 
. 
 I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; 
 II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente; 
 III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando; 
 IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos; 
 V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; 
 VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente; 
 VII - o fato constituir crime político ou de opinião; 
 VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção; 
 IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei no 9.474, de 22 de julho de 1997, ou de asilo territorial. 
 
 § 1o A previsão constante do inciso VII do caput não impedirá a extradição quando o fato constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal. 
 § 2o Caberá à autoridade judiciária competente a apreciação do caráter da infração. 
 § 3o Para determinação da incidência do disposto no inciso I, será observada, nos casos de aquisição de outra nacionalidade por naturalização, a anterioridade do fato gerador da extradição. 
 § 4o O STF poderá deixar de considerar crime político o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer autoridades, bem como crime contra a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e terrorismo. 
 § 5o Admite-se a extradição de brasileiro naturalizado, nas hipóteses previstas na Constituição Federal. 
 
 Artigo 83 da Lei de Migração: São condições para concessão da extradição: 
 
 I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado; e 
 II - estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade. 
 
De acordo com o artigo 5º, LI, da Constituição Federal, o brasileiro nato não poderá ser extraditado. Já o brasileiro naturalizado pode ser extraditado em duas hipóteses: crime praticado antes da naturalização e crime de tráfico 
de entorpecentes praticado a qualquer tempo. Também segundo a Lei Maior (art. 102, I, g), compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe processar e julgar, originariamente, a 
extradição solicitada por Estado estrangeiro. 
 
Seguindo os dizeres do Decreto-Lei Nº 934 (de 28 de abril de 1938), não será, também, concedida a extradição nos seguintes casos (art. 2º): 
 
 I - Quando não se tratar de infração segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente. 
 II - Quando o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar a infração. 
 III - Quando a lei brasileira impuser, pela infração, pena de prisão inferior a um ano compreendidas a tentativa, coautoria e cumplicidade. 
 IV - Quando o extraditando estiver sendo processado ou já tiver sido condenado ou absolvido no Brasil, pelo mesmo fato que determinar o pedido. 
 V - Quando se tiver verificado a prescrição, segundo a lei do Estado requerente ou a brasileira. 
 VI - Quando o extraditando tiver de responder, no país requerente, perante tribunal ou juízo de exceção. 
 VII - Quando a infração for: puramente militar; contra a religião; crime político ou de opinião. 
 
Ademais, em acordo com o parágrafo 3º do artigo 10 de tal Decreto-Lei, “negada a extradição de um indivíduo, não poderá ser de novo solicitada a entrega deste pelo mesmo fato a ele imputado. Segundo o artigo 12 do mesmo 
diploma, a entrega não será efetuada sem que o Estado requerente assuma os compromissos seguintes: 
 
 a) não ser detido o extraditadoem prisão nem julgado por infração diferente da que haja motivado a extradição e cometida antes desta, salvo se livre e expressamente consentir em ser julgado ou, se permanecer em liberdade, 
......no território desse Estado, um mês depois de julgado e absolvido por aquela infração, ou de cumprida a pena de privação de liberdade que lhe tenha sido importa; 
 b) não concorrer o fim ou motivo político, militar ou religioso para agravar a penalidade; 
 c) computar-se o tempo da detenção, no Brasil, do extraditado, no de prisão preventiva, quando este se tenha de levar em conta; 
 d) comutar-se na de prisão a pena de morte ou corporal com que seja punida a infração; 
 e) não ser o extraditado, sem consentimento do Brasil, entregue a terceiro Estado que o reclame, com a mesma ressalva na letra a. 
 
8.3.3.1) Extradição ativa: 
 
Ocorre quando o governo brasileiro requer a extradição de um foragido da justiça brasileira a outro país. 
 
8.3.3.2) Extradição passiva: 
 
Ocorre quando um determinado país solicita a extradição de um indivíduo foragido que se encontra em território brasileiro. 
 
9) Imunidades: 
 
Dirá o artigo 53 da Constituição da República Federativa do Brasil que “os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Os deputados e senadores, assim, gozam 
de imunidade formal (processual) e material (penal). A imunidade formal (processual) se relaciona à inviolabilidade dos deputados e senadores no que tange ao processamento, à prisão, ao foro privilegiado e ao dever de 
testemunhar. Ademais, os vereadores não podem ser responsáveis civilmente por suas opiniões proferidas na tribuna da Câmara Municipal. Este foi o posicionamento que fundamentou o julgado do STF, no AI 631.276, no qual 
se discutia uma possível indenização por danos morais reclamada de um vereador para outro. Ao contrário dos deputados e senadores, os vereadores gozam apenas de imunidades materiais (penais). 
 
10) Prazo penal e prazo processual: 
 
A diferença a saber é que o prazo do Código de Processo Penal (prazo processual) é contado com maior elasticidade e flexibilidade, pela sua própria natureza, que é garantir às partes possibilidade de manifestação e exercício 
do contraditório e da ampla defesa, componentes indispensáveis do devido processo legal. Por isso é que não se inclui o dia do começo no prazo processual, computando-se, no entanto, o dia do vencimento. Na prática, isso 
significa mais tempo para a defesa nos atos processuais. Já o Prazo Penal previsto no Código Penal inclui o dia do começo, porque é mais favorável ao réu com relação à prescrição ou decadência do delito praticado, ou com 
relação à duração da pena. 
 
10.1) Prazo penal: 
 
O prazo penal se inicia no mesmo dia da prisão. 
 
10.2) Prazo processual: 
 
Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. 
 
11) Conflito aparente de normas: 
 
Ocorre quando uma conduta típica aparentemente se enquadra em duas ou mais normas incriminadoras (em mais de um tipo penal). 
 
11.1) Princípio da especialidade: 
 
O princípio da especialidade revela que a norma especial afasta a incidência da norma geral. A norma se diz especial quando contiver os elementos de outra (geral) e acrescentar pormenores. Não há leis ou disposições especiais 
ou gerais em termos absolutos. Resultam da comparação entre elas, da qual se aponta uma relação de espécie e gênero. A norma será preponderante quando especial. São exemplos as comparações entre os artigos 121 
(“matar alguém”) com o 123 (“matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”) – ambos do Código Penal –, o 121, § 3º, também do CP (“matar alguém” culposamente) com o 302 da Lei 
Nº 9.503/1997 (“praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor”) e o 140 (CP) – “injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro” – com o 326 da Lei Nº 4.737/1965 – “injuriar alguém, na propaganda eleitoral, 
ou visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro”). 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9474.htm
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/código-processo-penal-decreto-lei-3689-41
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/código-penal-decreto-lei-2848-40
11.2) Princípio da subsidiariedade: 
 
Será aplicado quando, no ordenamento, dois ou mais delitos autônomos que descrevem o mesmo fato de modo que o operador deverá interpretá-los e concluir que um delito será subsidiário (norma menos abrangente) enquanto 
que o outro será primário (norma mais abrangente). Por conseguinte, a norma primária absorverá a norma subsidiária. Em outras palavras, só se aplicará um tipo penal menos grave se o fato não constituir crime mais grave. 
 
11.2.1) Subsidiariedade expressa: 
 
O próprio ordenamento indica a possibilidade da aplicação do princípio da subsidiariedade. Sinaliza o artigo 307 do Código Penal: “Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou 
alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.” No entanto, diz o artigo 171 do Código Penal: “Obter, para si ou para outrem, 
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.” 
 
11.2.2) Subsidiariedade tácita: 
 
A norma omite a possibilidade de aplicação do princípio da subsidiariedade. É o que ocorre – tendo como exemplo – com os artigos 147 e 157 (ambos do vigente Código Penal). Enuncia o artigo 147: “ameaçar alguém, por 
palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave”. Contudo, o artigo 157 – por seu turno – pronuncia a ação de “subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave 
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”. O artigo 157 narra uma conduta que já engloba a predita pelo artigo 147. Assim, ainda que não esteja expresso 
na letra da lei, deve-se apelar ao princípio da subsidiariedade e aplicar apenas um tipo penal: o mais grave – o qual já contém, por si mesmo, o menos grave. 
 
11.3) Princípio da consunção: 
 
Aplica-se o princípio da consunção quando a norma definidora de um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação ou execução de outro crime. Há uma linha muito tênue acerca do princípio da subsidiariedade 
e o da consunção. A distinção entre ambos está no enfoque dado na incidência do princípio. No primeiro, comparam-se as normas para saber qual é aplicável (se aplica uma lei menos grave se o fato não constituir crime mais 
grave descrito em lei), enquanto que no segundo, comparam-se os fatos, sem se recorrer unicamente às normas, verificando que o acontecimento mais grave absorve todos os demais. Assim, não é – segundo o princípio da 
consunção – uma norma que absorve a outra, mas os fatos que consomem os demais. É um princípio aplicável nos casos em que há uma sucessão de condutas com existência de um nexo de dependência. De acordo com tal 
princípio, o “crime fim” absorve o “crime meio”. 
 
Para ficar mais claro, tem-se como bons exemplos os artigos 150 e 155 (ambos do Código Penal). Indica o artigo 150 ser crime “entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de 
quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”. O 155, por sua vez, prediz ser antijurídico “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. No entanto, para subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel 
que se encontre no interior de uma residência, há de se praticar a conduta descrita pelo artigo 150 (“entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa 
alheia ou emsuas dependências”). Sendo assim, a conduta retratada no artigo 150 será considerada um fato impunível. Por ter ocorrido antes do “crime fim”, tal “crime meio” será um antefato impunível. 
 
Um segundo exemplo de aplicação do princípio da consunção ocorre quando se estuda os artigos 155 e 163. Diz o artigo 163 ser juridicamente condenável “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”. No entanto, se, após a 
conduta descrita no artigo 155 (“subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”), o agente também agir contrariando o artigo 163, será esta última ação um fato impunível. Por ter ocorrido após o “crime fim”, será classificado 
como um pós-fato impunível. 
 
11.3.1) Crime progressivo: 
 
No crime progressivo, existe a figura do “crime meio” e do “crime fim”, pelo qual um dos delitos da série é o 
meio para se atingir um fim. É o caso do agente que tem a intenção de matar alguém e, de posse de uma 
arma de fogo, efetua disparos contra vítima. Assim, o homicídio (ato mais grave) “absorve” o disparo de 
arma de fogo (ato menos grave). Aplica-se, destarte, o princípio da consunção. É importante destacar que, 
no crime progressivo, desde o início deve haver uma única vontade, com pluralidade de atos de modo que 
a violação ao bem jurídico se intensifique ao longo da consumação destes atos. 
11.3.2) Progressão criminosa: 
 
Neste tipo, o agente, inicialmente, deseja praticar um crime e após cometê-lo, pratica outro crime de maior 
gravidade, configurando, assim, a pluralidade de desígnios (pluralidade de vontades). Por exemplo, um 
agente pratica uma determinada lesão corporal contra a vítima de modo a deixá-la desacordada. Não 
satisfeito, pega uma faca e apunhala no peito da vítima causando-lhe a morte. Também se aplica o princípio 
da consunção. 
 
11.4) Princípio da alternatividade: 
 
Quando uma norma penal incriminadora descreve mais de uma conduta reprovável pelo Direito Penal, um agente responderá apenas por um crime – ainda que tenha praticado mais de uma conduta descrita no tipo penal. 
 
12) Tipo penal: 
 
Descreve fato ilícito e impõe sanção. 
 
12.1) Tipo penal simples: 
 
É aquele que descreve apenas uma única conduta antijurídica – como, por exemplo, o próprio artigo 121 do Código Penal: “matar alguém”. 
 
12.2) Tipo penal misto: 
 
É aquele de descreve mais de uma conduta antijurídica. 
 
12.2.1) Tipo penal misto alternativo: 
 
Descreve mais de uma conduta antijurídica. No entanto, o agente responderá por apenas um crime (segundo o princípio da alternatividade). É um exemplo de tipo penal misto alternativo o artigo 42 da Lei Nº 9.605 de 12 de 
fevereiro de 1998: “fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano”. 
 
12.2.2) Tipo penal misto cumulativo: 
 
Descreve mais de uma conduta antijurídica – e o agente responderá (cumulativamente) por todos os atos que se enquadrem naquela norma penal incriminadora. É um exemplo o artigo 242 da legislação penal: “dar parto alheio 
como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil”. Geralmente, um tipo penal misto cumulativo apresenta – entre seus verbos – um 
ponte e vírgula. É um tipo penal que não abraça o princípio da alternatividade. 
 
13) Teoria do crime: 
 
13.1) Conceito analítico de crime: 
 
Um crime é uma conduta típica, antijurídica e culpável. 
 
13.1.1) Conduta: 
 
13.1.1.1) Teoria causalista do crime: 
 
Entende-se “conduta” como sendo o movimento do corpo que produz um resultado. Tal conduta, no que lhe diz respeito, não conseguia responder juridicamente às omissões (crimes omissivos) e às tentavas (quando o resultado 
não foi produzido – apenas tentado). 
 
13.1.1.2) Teoria finalista do crime: 
 
Enxerga a finalidade como essência da conduta. É um conceito ontológico (plano do “ser”) que estudará um comportamento determinado que vise a uma finalidade específica. É a partir da teoria finalista, de base ideológica 
alemã, que o dolo e culpa passaram a ser estudados na conduta – e não mais na culpabilidade. É a teoria majoritária presente no Direito Penal brasileiro (não mais, todavia, na própria Alemanha). 
 
13.1.1.3) Teoria funcionalista do crime: 
 
É a teoria abraçada hoje pelo Direito Penal alemão. Segundo tal teoria, o essencial é sempre a solução do problema: exigências sistemáticas, por serem “menos importantes”, devem recuar para segundo plano”. 
 
13.1.1.3.1) Funcionalismo teleológico racional: 
 
O maior expoente é o Claus Roxin, um dos mais influentes dogmáticos do Direito Penal alemão. O funcionalismo teleológico racional protege os bens jurídicos relevantes, sendo necessária a verificação de todas as garantias 
antes da aplicação da norma. 
 
13.1.1.3.2) Funcionalismo sistêmico: 
 
O maior expoente é Günther Jakobs. O funcionalismo sistêmico do professor Jakobs entende que o crime é a quebra da confiança da sociedade provocada pelo individuo, produzindo – com isso – a disfunção social. O direito 
entra em campo para consertar essa disfunção. Segundo Jakobs, quem não obedece às normas de forma reiterada é inimigo da sociedade (tem-se, assim, um Direito Penal do Inimigo para aquele que viola absoluta e 
reiteradamente as normas), e a pena é a demonstração de vigência da norma. A função do Direito Penal é, portanto, restabelecer as expectativas violadas, reafirmando a validade da norma e assumindo uma prevenção geral 
positiva. Em convergência ao funcionalismo sistêmico, o Direito Penal não pode ser o mesmo para todos. 
 
13.1.2) Conduta típica: 
 
É estudada a partir da análise da conduta (propriamente dita), do resultado, do nexo de causalidade e da tipicidade: 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Conduta
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crime
13.1.2.1) Conduta (propriamente dita): 
 
Seguindo as pegadas da teoria finalista (de base alemã), a conduta é um comportamento humano voluntário e consciente dirigido a uma finalidade. Apesar disso, o caput do artigo 3º da Lei Nº 9.605 (de 12 de fevereiro de 1998) 
indica a possibilidade do cometimento de crimes por pessoas jurídicas: “as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida 
por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.” A lei em questão dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de atividades lesivas ao 
meio ambiente. 
 
13.1.2.2) Comportamento humano voluntário: 
 
Entende ser necessário o movimento mecânico do corpo determinado pelo próprio agente. Inexiste voluntariedade apenas em três casos: quando há coação física irresistível, ato reflexo e estados de inconsciência. Por “estados 
de inconsciência” infere-se apenas as ideias de sonambulismo e hipnotismo. Caso haja na conduta uma das três causas de exclusão da voluntariedade, a conduta não será criminosa e, com isso, não haverá crime. É válido 
destacar que a coação moral irresistível, para o Direito Penal, não afeta a conduta voluntária do agente. 
 
13.1.2.3) Comportamento consciente dirigido a uma finalidade: 
 
Segundo a teoria finalista alemã, toda e qualquer conduta apresenta dois momentos: momento interno e momento externo. Durante o momento interno, o agente decide a finalidade e seleciona os meios necessários para se 
atingir tal finalidade. Durante o momento externo, o agente age de acordo com aquilo que ele mesmo decidiu internamente. 
 
Para ser uma conduta uma conduta de crime, deverá existir dolo ou culpa. Sem dolo nem culpa, não há crime. 
 
13.1.2.3.1) Dolo: 
 
Dolo é a consciência e a vontade de praticar um fato descrito em um tipo penal (em uma norma penal incriminadora). 
 
13.1.2.3.1.1) Dolo natural: 
 
Leva em consideração apenas a maneira da conduta. Não se verifica o conhecimentoou não da licitude por parte do agente. 
 
13.1.2.3.1.2) Dolo normativo: 
 
Verifica o desconhecimento ou não da licitude por parte do agente. É estudado apenas na culpabilidade. 
 
13.1.2.3.1.3) Dolo direto: 
 
O agente tem previsão e vontade de agir. 
 
13.1.2.3.1.3.1) Dolo direto de 1º grau: 
 
No dolo direto de 1º grau, a conduta é orientada para atingir um ou vários resultados, previamente delimitados e pretendidos. O agente sabe o que quer fazer, contra qual bem jurídico quer agir e qual resultado delituoso pretende 
alcançar. No dolo direto de 1º grau, o agente orienta seus atos executórios objetivando desde o primeiro momento alcançar um ou vários resultados que lhe foram previamente pretendidos. 
 
13.1.2.3.1.3.1) Dolo direto de 2º grau: 
 
No dolo direto de 2º grau (ou dolo de consequência necessária), o agente delituoso tem consciência de que, para atingir um resultado previamente pretendido, ele acabará a atingir outros resultados delimitados, mas que não lhe 
era pretendido previamente. O dolo direto de 2º grau não tem existência autônoma: ele é sempre uma consequência do dolo direto de 1º grau. 
 
13.1.2.3.1.4) Dolo eventual: 
 
O agente prevê um resultado, não o deseja, mas assume o risco porque, para ele, o resultado é indiferente. Tem-se dolo eventual quando o agente delituoso não deseja o resultado, mas não se preocupa caso ele aconteça. Não 
há vontade prévia do resultado. A sua conduta é realizada por uma assunção exacerbada de risco. O inciso I do artigo 18 do Código Penal equiparou a gravidade dos dolos direto e eventual: “diz-se o crime doloso quando o 
agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. 
 
13.1.2.3.2) Culpa: 
 
Culpa é a inobservância de um dever de cuidado. Por “dever de cuidado” compreende-se o cuidado necessário para o convívio em sociedade – principalmente com relação a acontecimentos previsíveis. O dever de cuidado está, 
portanto, relacionado a uma previsibilidade objetiva (a previsibilidade do “homem médio”). Quem age com culpa, não prevê o previsível – não prevê aquilo que a média das pessoas teria previsto. Há, assim, uma lesão a um bem 
jurídico devido a uma inobservância do dever de cuidado. 
 
α) Imprudência: pressupõe uma ação que foi feita de forma precipitada e sem cautela. O agente toma sua atitude sem a cautela e zelo necessário que se esperava. Significa que o agente sabe fazer a ação da forma correta, 
mas não toma o devido cuidado. 
β) Negligência: implica em o agente deixar de fazer algo que sabidamente deveria ter feito, dando causa ao resultado danoso. Significa agir com descuido, desatenção ou indiferença, sem tomar as devidas precauções. É o ato 
de depreciar, de não dar a algo o seu devido valor. 
γ) Imperícia: consiste em o agente não saber praticar o ato. Ser imperito para uma determinada tarefa é realizá-la sem ter o conhecimento técnico, teórico ou prático necessário para isso. 
 
13.1.2.3.2.1) Culpa inconsciente: 
 
Apesar de o resultado não ser desejado pelo agente, o Direito Penal, apoiado na teoria finalista, reprovará os meios dos quais o autor fez uso para alcançar uma determinada finalidade (negligência, imprudência ou imperícia). 
Ainda que a finalidade venha a ser lícita na culpa inconsciente, há a reprovação dos meios utilizados para se atingir tal resultado. 
 
13.1.2.3.2.2) Culpa consciente: 
 
O agente prevê um resultado, não o deseja, mas levianamente acredita na impossibilidade da concretização do resultado por ele previsto. 
 
13.1.2.4) Crime comissivo: 
 
É o crime praticado por uma ação. O preceito imperativo, isto é, a ordem que emana da norma, é uma omissão (“não faça”). São exemplos de crimes comissivos: homicídio, feminicídio, infanticídio, lesão corporal, calúnia, violação 
de domicílio, violação de correspondência, roubo, furto, extorsão, extorsão mediante sequestro, estelionato, receptação, receptação de animal, impedimento ou perturbação de cerimônia funerária, violação de sepultura, estupro, 
assédio sexual, rufianismo, bigamia, apologia ao crime, associação criminosa, falsificação de papéis públicos, dentre vários outros. 
 
13.1.2.5) Crime omissivo próprio: 
 
É o crime praticado por uma omissão – que está descrita em um tipo penal (o legislador descreve a omissão no próprio texto legal). É um tipo de crime o qual não admite tentativa. O preceito imperativo é uma ação (“faça”). São 
exemplos clássicos os crimes de omissão de socorro (previsto no artigo 135 do Código Penal: “deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida 
ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”) e de omissão de notificação de doença (previsto no já citado artigo 269: “deixar o médico de denunciar à 
autoridade pública doença cuja notificação é compulsória”). 
 
13.1.2.6) Crime omissivo impróprio (ou crime comissivo por omissão): 
 
Só pode ser praticado por determinados grupos de pessoas: os agentes garantidores (os quais têm o dever de agir para evitar um resultado). O agente garantidor, quando se omite, responde por um crime comissivo (a omissão 
do agente garantidor tem como consequência uma equiparação com um crime comissivo). A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir (no momento do fato) para evitar o resultado. São agentes 
garantidores, em acordo com o parágrafo 2º do artigo 13 do Código Penal, quem: 
 
 a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância 
 b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado 
 c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado* 
 
 * - comportamento anterior (incorreto), que pode ser omissivo ou comissivo,que gera um dever de agir com relação ao caso concreto. Ao não agir (podendo agir), durante o fato, há uma omissão por ingerência : uma inobservância de um dever de agir (caso seja 
............possível agir) a partir de uma situação de perigo causada pelo próprio agente. 
 
O agente garantidor apenas responderá pelo crime se a conduta omissiva for dolosa ou culposa, porquanto só há conduta de crime quando se age com dolo ou culpa. 
 
13.1.2.6.1) Culpa na omissão: 
 
O agente poderia e deveria agir, mas não age por uma inobservância a um dever de cuidado. 
 
13.1.2.6.2) Dolo na omissão: 
 
Para existir dolo na omissão, o agente deve desejar se omitir. 
 
13.1.2.6.3) Dolo no resultado: 
 
Existe dolo no resultado quando o agente – ao se omitir – consegue prever um resultado que lhe é desejável: o agente deseja o resultado previsto. Se o agente se omitir dolosamente e o resultado não se concretizar por 
circunstâncias alheias à sua vontade, ele responderá pelo crime a título de tentativa. Diferentemente do crime omissivo próprio, o crime omissivo impróprio (ou crime comissivo por omissão) admite tentativa. 
 
Aprofundamento: 
 
Crime unissubsistente: é aquele que é realizado por ato único, não sendo admitido o fracionamento da conduta. Não admite tentativa. Crime plurissubsistente: é aquele constituído de vários atos – que fazem parte de uma única conduta. Admite tentativa. 
 
13.1.3) Resultado: 
 
Em geral, existem duas teorias que definem resultado: a teoria naturalista e a teoria normativa. 
 
13.1.3.1) Teoria naturalista: 
 
Para a teoria naturalista, o resultado é a modificação no mundo exterior. É o que foi perceptivelmente modificado no mundo real. Tal teoria, contudo, admite que nem todo crime terá resultado. É a teoria majoritariamente adotada. 
 
13.1.3.1.1) Crime material: 
 
No crime material, o tipo penal descreve a conduta (ação ou omissão, dolosa ou culposa) e o resultado (a modificação no mundo exterior). Para o crime material, deve ocorrer o resultado para o crime se consumar. É exemplo 
de crime material o anotado nas linhas do artigo 171: “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício,ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. 
 ↓ 
13.1.3.1.2) Crime formal (ou crime de consumação antecipada): Resultado 
 
No crime material, o tipo penal também descreve a conduta (ação ou omissão, dolosa ou culposa) e o resultado (a modificação no mundo exterior). No entanto, diferentemente do crime material, basta que ocorra a conduta que 
o crime formal estará consumado. Para a consumação do crime, pode ou não haver modificação no mundo exterior. Cita-se como exemplo de crime formal a conduta denunciada pelo artigo 158: “constranger alguém, mediante 
violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa”. Basta, no referido crime, o agente constranger um indivíduo 
com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem para que ocorra a consumação do crime de extorsão, independendo, portanto, do resultado dessa conduta. Em acordo com a Súmula 96 do STJ, “o crime de 
extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida. Para crimes formais, quando há a ocorrência do resultado, diz-se que houve o exaurimento do crime. 
 
13.1.3.1.3) Crime de mera conduta: 
 
No crime de mera conduta, o legislador descreve apenas conduta (não descreve resultado). Não há a descrição de modificação no mundo real, por exemplo, quando se estuda o artigo 150: “entrar ou permanecer, clandestina 
ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”. 
 
13.1.3.2) Teoria normativa: 
 
Para a teoria normativa, o resultado é uma lesão ou um perigo de lesão a um bem jurídico. Todo crime, assim, terá um resultado. 
 
13.1.4) Nexo de causalidade: 
 
É a ligação que existe entre a conduta e o resultado (modificação no mundo exterior). O resultado (nos crimes materiais), de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa 
a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Apenas se estuda o nexo de causalidade nos crimes materiais. O Código Penal diz ilustra que “causa” é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido da maneira como ocorreu: adota-se, portanto, a teoria da conditio sine qua non (ou teoria dos equivalentes causais). 
 
13.1.4.1) Fórmula da eliminação hipotética: 
 
Para saber se há nexo de causalidade, a fórmula da eliminação hipotética sugere eliminar (hipoteticamente) determinada ação ou omissão e estudar se o resultado teria ou não ocorrido da maneira como ocorreu. Se o resultado 
não for diferente, a ação ou omissão hipoteticamente eliminada não deu causa ao resultado em questão. 
 
13.1.4.2) Teoria da imputação objetiva (influência da teoria funcionalista): 
 
Para a teoria da imputação objetiva, a conduta criminosa: α) deverá criar ou aumentar um risco 
 β) tal risco deve ser juridicamente proibido* 
 γ) tal risco deve causar o resultado 
 
* - Em regra, os riscos entendidos como “toleráveis” são – geralmente – administrativamente controlados (princípio da confiança). São exemplos de tais riscos a poluição do ar, o trânsito e a fabricação de armas e venenos. 
 
 Nexo de causalidade = Eliminação hipotética (conditio sine qua non) + imputação objetiva (criação de risco juridicamente defeso que causou o resultado) + análise de dolo ou culpa.. 
 
13.1.4.3) Concurso de causas: 
 
Mais de uma causa concorrendo para um mesmo resultado. As causas podem ser pré-existentes, concomitantes ou supervenientes. Além disso, diz-se que uma causa é absolutamente independente quando ela não apresenta 
nenhuma ligação com outra. Ao contrário, quando uma causa existir em função de outra, afirma-se a existência de uma causa relativamente independente. 
 
13.1.4.3.1) Causa pré-existente: 
 
É a causa que ocorre antes de uma outra. Quando absolutamente independente, exclui a responsabilidade do agente pelo resultado. Quando relativamente independente, não exclui a responsabilidade do agente pelo resultado 
(desde que haja dolo ou culpa). 
 
13.1.4.3.2) Causa concomitante: 
 
É a causa que ocorre ao mesmo tempo de uma outra. Quando absolutamente independente, exclui a responsabilidade do agente pelo resultado. Quando relativamente independente, não exclui a responsabilidade do agente pelo 
resultado (desde que haja dolo ou culpa). 
 
13.1.4.3.3) Causa superveniente: 
 
É a causa que ocorre após uma outra. Quando absolutamente independente, exclui a responsabilidade do agente pelo resultado. Contudo, quando relativamente independente, pode ou não excluir a responsabilidade do agente 
pelo resultado. Excluirá quando, por si mesma, a causa superveniente relativamente independente produzir o resultado. Por outro lado, não excluirá a responsabilidade quando tal causa, por si mesma, não produzir o resultado. 
 
13.1.5) Tipicidade (ou adequação típica): 
 
Para que haja conduta típica, deverá haver conduta (propriamente dita), resultado (nos crimes materiais), nexo de causalidade e tipicidade. A conduta deve estar descrita em uma norma penal incriminadora como proibida. Se a 
conduta (propriamente dita), o resultado (nos crimes materiais) e nexo de causalidade estiverem descritos como defesos, a conduta será típica: existirá tipicidade na conduta. Caso contrário, se a conduta não estiver descrita no 
tipo penal, a conduta será atípica (existirá uma atipicidade) e, assim, não haverá crime. A tipicidade é a adequação da conduta ao tipo penal. Como só pode existir um crime se houver dolo ou culpa, apenas existirão, em 
consequência disso, tipos dolosos (que descrevem uma conduta dolosa) ou culposos (que descrevem uma conduta culposa). No tipo penal doloso, o dolo é elemento implícito do tipo. Portanto, quando não há referências 
acerca de dolo ou culpa na descrição da conduta, atribui-se caráter doloso – implícito no tipo. Nos tipos culposos, a culpa deverá vir expressa no tipo penal: só existe tipo culposo se houver expressa previsão da culpa. 
 
13.1.5.1) Tipo penal qualificado pelo resultado (ou crime qualificado pelo resultado): 
 
É um tipo penal em que o legislador, após descrever a conduta proibida (dolosa ou culposa), indica a possibilidade de um resultado ainda mais grave que poderá ocorrer no crime descrito. São formados por duas partes: o 
legislador, em um primeiro momento, descreve o crime (a conduta em si). Depois, o legislador descreve um possível resultado (um possível desdobramento) que pode ou não acontecer a partir do crime doloso ou culposo. É 
exemplo de tal modalidade o crime descrito no artigo 133 do Código Penal (abandono de incapaz): 
 
 “Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: 
 
 Pena - detenção, de seis meses a três anos. 
 
 § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: 
 
 Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
 § 2º - Se resulta a morte: 
 
 Pena - reclusão, de quatro a doze anos.” 
 
Tal como a conduta, o resultado mais grave também poderá ser doloso ou culposo. Poderá existir: α) crime doloso com resultado mais grave doloso \ 
 β) crime doloso com resultado mais grave culposo \ Para saber se o resultado mais grave foi doloso ou culposo, 
 γ) crime culposo com resultado maisgrave doloso / deve-se conhecer a doutrina e a jurisprudência. 
 δ) crime culposo com resultado mais grave culposo / 
 
Quando o legislador descreve um resultado mais grave (como o que está exposto no artigo 133 do Código Penal), criará para o crime uma sanção mais grave – que poderá ocorrer de duas maneiras distintas: criando uma 
qualificadora para o crime ou criando uma causa de aumento de pena para o crime. 
13.1.5.1.1) Qualificadora para o crime: 
 
Quando há qualificadora para o crime, o legislador estipula uma nova escala penal. 
 
 Exemplo: 
 
 “Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
 
 Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
 § 1º - Se resulta: 
 
 I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
 II - perigo de vida; 
 III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
 IV - aceleração de parto: 
 
 Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
 § 2° - Se resulta: 
 
 I - incapacidade permanente para o trabalho; 
 II - enfermidade incurável; 
 III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
 IV - deformidade permanente; 
 V - aborto: 
 
 Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
 § 3° - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
 
 Pena - reclusão, de quatro a doze anos.” 
 
13.1.5.1.2) Causa de aumento de pena para o crime: 
 
Quando há causa de aumento de pena o crime, o legislador dirá uma fração de que a pena será aumentada. 
 
 Exemplo: 
 
 “Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: 
 
 Pena - reclusão, de dez a quinze anos. 
 
 § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.” 
 
13.1.5.1.3) Causa de aumento de pena para o crime prevista em diferente artigo: 
 
A causa de aumento de pena para o crime (nos tipos penais qualificados pelo resultado) poderá vir expressa em um artigo diferente daquele que definiu a conduta proibida. 
 
 Exemplo: 
 
 “Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: 
 
 Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. 
 
 [...] 
 
 § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. 
 + 
 Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão 
.....corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.” 
 
13.1.5.2) Circunstâncias do crime: 
 
Nem toda sanção mais severa será oriunda do resultado mais grave da conduta proibida. Às vezes, o legislador considerará uma circunstância mais reprovável. 
 
 Exemplo: 
 
 “Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: 
 
 Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
 
 Parágrafo único - A pena é duplicada: 
 
 I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
 II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.” 
 
13.1.5.3) Crime praeter doloso: 
 
É o crime doloso com resultado mais grave culposo. É a maioria dos crimes qualificados pelo resultado e que, por isso, ganha um nome especial: tipo praeter doloso. Esse tipo de crime qualificado pelo resultado mais grave 
também é conhecido como tipo praeter dolo (ou tipo praeter intencional). O crime praeter doloso, por conseguinte, apresenta dolo no antecedente (no crime) e culpa no consequente (no resultado). O artigo 133 do Código 
Penal, a título de exemplo, traz consigo um crime que pode se apresentar como praeter doloso: 
 
 “Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: 
 
 Pena - detenção, de seis meses a três anos. 
 
 § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: 
 
 Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
 § 2º - Se resulta a morte: 
 
 Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
Segundo a os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, os resultados previstos nesses dois parágrafos do artigo são culposos. 
 
13.1.5.4) A adequação da conduta ao tipo penal: 
 
A adequação típica ocorrerá por qualquer uma destas duas vias: subordinação imediata ou subordinação mediata. 
 
13.1.5.4.1) Tipicidade (ou adequação típica) por subordinação imediata: 
 
Há uma imediata adequação entre a conduta praticada pelo agente e o tipo penal. É o que ocorre na maioria dos casos. 
 
13.1.5.4.2) Tipicidade (ou adequação típica) por subordinação mediata: 
 
A conduta praticada pelo agente, em um primeiro momento de análise, não se encaixa em nenhum tipo penal. Para que exista uma correta adequação típica, há a necessidade de uma norma de extensão (uma norma ampliativa). 
Essa norma de extensão é encontrada, por exemplo, no inciso II do artigo 14 do Código Penal: 
 
 “Art. 14 - Diz-se crime: 
 
 I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
 II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.” 
 
A saber, a tentativa de homicídio será sinalizada pelo art. 121, caput, c/c art. 14, II (ambos do Código Penal). O caput do artigo 29 do Código Penal também é compreendida como uma norma de extensão: 
 
 “Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
 
 § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. 
 § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.” 
 
O (já citado) parágrafo segundo do artigo 13 do Código Penal também se apresenta como uma norma extensiva ao denunciar o dever de agir do agente garantidor: 
 
 “Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
 
 [...] 
 
 § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
 
 a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
 b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
 c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.” 
 
13.1.5.5) Elementos do tipo penal: 
 
13.1.5.5.1) Elemento objetivo: 
 
É apenas a mera descrição da conduta proibida. Exemplo: Art. 121 do CP: “matar alguém”. Se o tipo penal apresentar somente elementos objetivos, chama-se tipo normal. 
 
13.1.5.5.2) Elemento normativo: ?↑ . 
Nem todos os tipos penais apresentam. São elementos que exigem um certo juízo de valor: torna o tipo penal menos preciso. (Exemplo: Art. 155 do CP: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”) 
 ↓ 
13.1.5.5.3) Elemento subjetivo: Elemento normativo 
 
Em todos os tipos penais é, em regra, o dolo ou é a culpa. O tipo culposo é um tipo aberto: apesar de não ser elemento normativo, também dependerá de uma interpretação. De mais a mais, o legislador – por vezes – descreve 
na conduta uma especial finalidade de agir: tal finalidade, assim como o dolo e a culpa, é um elemento subjetivo do tipo penal. 
 
 Exemplo 1: 
 
 Art. 148 - “Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: 
 
 Pena - reclusão, de um a três anos. 
 
 § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: 
 
 I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 anos; 
 II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; 
 III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. 
 IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; 
 V - se o crime é praticado com fins libidinosos.” 
 
 Exemplo 2: 
 
 Art. 155 - “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: 
 
 Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
 § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. 
 § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. 
 § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.” 
 
Excluindo-se, para efeitos de análise, a presença do dolo ou da culpa como elemento subjetivo, se o tipo penal apresentar somente elementos objetivos, chama-se tipo normal. Excluindo-se, para efeitos de análise, a presença 
do dolo ou da culpa como elemento subjetivo, se o tipo penal apresentar também elementos normativos e/ou elementos subjetivos, chama-se tipo anormal. 
 
13.1.5.6) Aspectos da tipicidade (ou aspectos da adequação típica): 
 
A tipicidade (ou adequação típica) é resultante da soma das tipicidades formal e conglobante. 
 
13.1.5.6.1) Tipicidade (ou adequação típica) formal: 
 
Verifica-se a adequação formal da conduta a alguma norma penal incriminadora (a algum tipo penal): a conduta, para haver um crime, deverá estar descrita nos tipos objetivo e subjetivo. 
 
13.1.5.6.1.1) Tipo objetivo: 
 
É a parte que envolve o nexo de causalidade (imputação objetiva) e o resultado. 
 
13.1.5.6.1.2) Tipo subjetivo: 
 
É a parte que envolve o estudo acerca do dolo e da culpa. 
 
13.1.5.6.2) Tipicidade (ou adequação típica) conglobante: 
 
Desdobrar-se-á em dois aspectos: aspecto da antinormatividade e aspecto material. 
 
13.1.5.6.2.1) Tipicidade (ou adequação típica) conglobante no aspecto da antinormatividade: 
 
É uma análise das normas feita pelo professor Eugenio Raúl Zaffaroni. Parte do pressuposto que o ordenamento jurídico é uno – e, por isso, não deve apresentar tipos penais contraditórios. 
 
 Exemplo: 
 
 Art. 150 - “Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências.” 
 X 
 Art. 150, § 3º - “Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências: 
 
 I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; 
 II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.” 
 
Quando uma conduta proíbe e uma outra permite, tal conduta não poderá ser típica. Haverá, assim, nos casos previstos no parágrafo terceiro do artigo 150 do Código Penal, uma atipicidade conglobante no aspecto da 
antinormatividade. No Brasil, tais hipóteses serão consideradas pelas análises da antijuridicidade. A aplicabilidade da tipicidade (ou adequação típica) conglobante no aspecto da antinormatividade é extremamente reduzida. 
 
13.1.5.6.2.2) Tipicidade (ou adequação típica) conglobante no aspecto material: 
 
Diz respeito à lesão ao bem jurídico. Para ser uma conduta proibida, deverá uma existir lesão – ou um perigo de lesão – suficiente para que se justifique a verdadeira existência da tipicidade. Será necessária a lesão – ou o perigo 
de lesão – que tenha motivado o legislador a criar a respectiva norma penal incriminadora. As lesões – ou os perigos de lesão –, quando insignificantes, não justificariam a existência de um crime: trata-se da atipicidade (ou 
adequação típica) conglobante no aspecto material. A extensão da lesão (ou perigo de lesão) ao bem jurídico seria insuficiente para a justificação da existência de um crime. 
 
13.2) O crime e o ato infracional: 
 
O ato infracional se trata da conduta descrita como crime ou contravenção penal cometida por criança ou adolescente. A imputabilidade penal tem início aos 18 anos de idade. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão 
as medidas de proteção previstas no artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990). Ao adolescente infrator aplicam-se as medidas socioeducativas previstas no artigo 112 do ECA. 
 
13.3) Teoria do erro: 
 
Erro, em Direito Penal, é a falsa noção da realidade. O indivíduo pensa que a realidade é de uma maneira quando, em verdade, é de outra: há uma errônea percepção do fato. A doutrina entende que erro é diferente de ignorância: 
enquanto a ignorância é o completo desconhecimento, o erro é compreendido como sendo uma má percepção/interpretação de um dado acontecimento (um “engano”). Dentro da lógica do Direito Penal, o erro pode se apresentar 
de duas formas: erro de tipo e erro de proibição. 
 
13.3.1) Erro de tipo essencial / incriminador (que incide sobre a conduta típica): 
 
No erro de tipo, a falsa noção da realidade recai sobre dados do tipo: o que a pessoa percebe mal é algum dado relativo ao tipo penal. É, pois, um erro de tipo chamado de essencial, também conhecido como erro de tipo 
incriminador. É incriminador porque recai sobra a norma incriminadora: em especial, recai sobre elementos do tipo, sobre agravantes, sobre causas de aumento de pena ou sobre qualificadoras para o crime. Em linhas gerais, no 
erro de tipo essencial (incriminador): a pessoa não quer cometer um crime específico, erra (percebe mal a realidade) e comete. Contudo, essa lógica não se aplica a todas as situações. O erro de tipo essencial (incriminador), 
sendo vencível ou invencível, exclui o dolo (já que o “dolo” é a consciência e a vontade de praticar uma ação descrita em um tipo penal). Não haveria a consciência do dolo sobre os elementos do tipo, sobre agravantes, sobre 
causas de aumento de pena ou sobre qualificadoras para o crime. 
 
 “Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.” 
13.3.1.1) Erro de tipo vencível / evitável / inescusável (que incide sobre a conduta típica): 
 
A pessoa recai sobre elementos do tipo, sobre agravantes, sobre causas de aumento de pena ou sobre qualificadoras para o crime justamente pelo fato de inobservar um dever de cuidado necessário para um bom convívio

Continue navegando