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Penal Parte Geral - Teoria do Crime -

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Parte Geral
DIREITO PENAL – TEORIA DO CRIME
Leonardo Bastian Fagundes
98 – 99205-1692 (Whatsapp)
leonardobastianfagundes@gmail.com
1
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO
	EMENTA: Conceito de infração penal. Fontes do Direito Penal. Princípios penais e penais-constitucionais. Aplicação da lei penal no tempo. Aplicação da lei penal no espaço. Crime (delito) x Contravenção penal. Sujeitos e objetos do crime. Fato típico. Fato antijurídico. Culpabilidade. Iter Criminis. Erro (de tipo essencial, de tipo acidental e de proibição). Concurso de pessoas.
Conceito de Direito Penal
É ramo do direito público que regulamenta o ius puniendi do Estado, instituindo as infrações penais, as penas e medidas de segurança, bem como os princípios e regras de aplicação da lei penal.
OBS. Toda lei que interferir de alguma forma no Direito de Punir é considerada norma material, portanto, sujeita as regras do Direito Penal e não do Processo Penal.
3
Legislação Penal Brasileira
Constituição Federal – é ela que traça os parâmetros e garantias máximas que devem ser seguidas por todos, até mesmo o legislador, em âmbito penal.
Tratados Internacionais – Alguns tratados internacionais, quando forem de direitos humanos, aprovados no âmbito interno com quórum de votação de maioria simples, tem status supralegal. Ex. Pacto de São José da Costa Rica.
Código Penal – uma das leis mais importantes do direito penal, traça os princípios gerais.
Leis extravagantes – outras leis especiais sobre matérias específicas, envolvendo matérias penais e processuais penais. (lei de tóxicos, estatuto do desarmamento, etc.)‏
4
Classificação das Infrações
Segundo a lei de introdução ao Código Penal podemos classificar as infrações em:
Crimes ou delitos: infrações penais para as quais as penas cominadas são de reclusão ou detenção, cumuladas ou não com multa.
Contravenções: infrações penais para as quais as penas cominadas são de prisão simples ou multa, cumuladas ou isoladamente.
“Art.1º -  Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente.”
5
Reclusão x Detenção x Prisão Simples
Reclusão: permite o regime inicial de cumprimento de pena fechado, semiaberto ou aberto, permitindo também a regressão de regime.
Detenção: permite o regime inicial de cumprimento apenas o semiaberto e aberto, permitindo também a regressão de regime.
Prisão Simples: regime inicial semiaberto ou aberto, não permite a regressão para o fechado.
6
Regimes
Fechado: Penas acima de 8 anos, ou reincidentes. Cumprido em penitenciárias.
Semiaberto: Penas acima de 4 até 8 anos desde que não seja reincidente.
Aberto: Penas até 4 anos desde que não reincidente.
Fechado: Penitenciárias
Semiaberto: Colônia agrícola ou similiares
Aberto: Albergues
7
 
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
§ 1º – Considera-se:
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
8
 
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
9
Fontes do Direito Penal
Fonte é o lugar de origem da norma, de onde ela provém.
Fontes Materiais: Fonte de produção, quem é o responsável de fazê-la materialmente. 
Em matéria penal, como regra, a União é a responsável por editar normas, não podendo outro ente federativo legislar em matéria penal. Sendo, portanto, a União a fonte material do Direito Penal, através do Congresso Nacional, pois o legislativo de que deve criar o Direito Penal por lei ordinária.
10
Os Estados só podem legislar em matéria penal se forem autorizados pela União por lei complementar e só podem legislar sobre questões específicas.
Essa competência estadual não pode modificar a lei penal federal. Só pode legislar nas lacunas da lei federal e ainda em questões de interesse meramente local.
A CF veda a criação de norma penal por Medida Provisória, mas o STF já afirmou que Medida Provisória só não pode criar norma penal incriminadora, mas pode versar sobre direito penal não incriminador.
 
 
Fontes Formais: fontes formais imediatas e mediatas. Fontes de conhecimento ou cognição.
Fontes Formais Imediatas: A lei. 
Mediatas: princípios gerais do direito e costumes.
Normas penais incriminadoras: descrevem um crime e a pena. São compostas de preceito primário e secundário. Preceito Primário é a conduta proibida e o preceito secundário é a pena imposta.
Normas não incriminadoras: não criam crimes ou penas.
Normas penais permissivas: descrevem a permissividade de uma conduta que teoricamente seria ilícita. Excludentes de ilicitude e culpabilidade, por exemplo. (justificante e exculpantes) Ex. Legítima Defesa, Estado de Necessidade, etc.
Normas penais explicativas: esclarecem o significado de outras normas. Ex. Definição de funcionário público. Definição de Casa para fins penais. Complementares: descrevem princípios gerais de aplicação.
Norma penal em branco – depende de regulamentação legal ou infralegal para caracterizar o tipo penal e ter aplicabilidade. (Ex. tráfico de drogas. A definição de drogas está na portaria n. 344 da Anvisa) 
12
Segundo André Estefam / Victor Eduardo Rios Gonçalves:
No que tange à estrutura típica, os crimes podem ser de tipo aberto e de tipo fechado. Os crimes de tipo aberto são aqueles cuja definição emprega termos amplos, de modo a abarcar diversos comportamentos diferentes. É a técnica utilizada na maioria dos crimes culposos (v.g., art. 121, § 3º, do CP: “se o homicídio é culposo”). Os delitos de tipo fechado, por outro lado, são os que utilizam expressões de alcance restrito, englobando poucos comportamentos na definição legal.
TIPO PENAL ABERTO E FECHADO
Norma Penal em branco
Homogênea: mesma fonte de produção, exemplo: congresso nacional (duas leis);
Heterogênea: fontes diversas, exemplo: lei e portaria do executivo.
Não há violação ao princípio da legalidade, pois há o núcleo essencial da conduta. (posição dominante)
Norma penal em branco é diferente da norma penal imperfeita ou remetida.
Fontes Formais Mediatas
São os costumes e os princípios gerais do direito.
Costume: serve para integração e interpretação da lei de acordo com o que a sociedade considera como aceito e não ofensivo ou não, sendo de fundamental importância até mesmo para a tipicidade da conduta. Ex. (ato obsceno art.233) a definição de um ato obsceno varia de acordo com os costumes sociais, do que vem a ser aceito ou não. 
15
Princípios Gerais do Direito
São regras que informam todo o direito positivo, expressando a consciência universal do que é justo ou não. A função do direito é trazer justiça e paz social, por isso existem vários princípios gerais norteadores do direito, que mesmo que não estejam previstos em lei, devem ser seguidos por todos os aplicadores do direito. Não obstante, há vários princípios que estão expressos em lei, mesmo que não fosse necessária a previsão legal para sua imposição.Um princípio não revoga uma lei, mas é superior a lei, pois indica quando a lei terá aplicabilidade no caso concreto.
16
Interpretação da lei
Histórica – analisa o momento histórico.
Sistemática – analisa o sistema jurídico como um todo.
Teleológica – analisa a finalidade da lei.
Conclusões
Declarativa – a redação gramatical da lei é exatamente o que ela quis dizer. Não precisa ampliar nem reduzir.
Extensiva – amplia a aplicação da lei, pois a redação gramatical disse menos do que deveria. (Há divergência sobre a aplicação in mala partem)
Restritiva – restringe a aplicação da lei, pois a redação gramatical disse mais do que deveria.
Quanto à origem
Doutrinária (pelos doutrinadores) / jurisprudencial (pelos tribunais) ou autêntica (a própria lei interpreta a lei).
17
 
Interpretação analógica – quando a própria lei deixa espaço de interpretação de outros meios similares no próprio tipo penal. Ex. Art 121, I, mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
A interpretação analógica é largamente aceita pela doutrina, sem conflitos.
Analogia – quando não há norma regulamentando o tema e utiliza-se a analogia para solucionar o problema.
É vedado o uso de analogia para incriminar condutas não previstas em lei. 
Analogia só pode ser feita in bonam partem (pro reo), nunca pode ser feita in malam partem.
18
Interpretação extensiva x analogia
 	Analogia - é a aplicação de uma norma jurídica prevista para uma hipótese distinta, porém semelhante. (onde há a mesma razão, deve haver o mesmo direito)‏
	Interpretação extensiva – é a extensão da aplicação da norma a uma hipótese não prevista em seu corpo, mas compreendida no seu espírito, na sua finalidade.
 	Na analogia a norma é utilizada em hipótese não compreendida em seu espírito.
19
Trabalharemos a seguir os princípios do Direito Penal, lembrando que é uma fonte formal mediata.
Relembrando que nem todo princípio é escrito em lei, mas alguns podem vir positivados.
Os princípios não revogam leis. Lei só pode ser revogada por outra lei.
Contudo, quando a redação legal entra em conflito com um princípio, este é sempre superior, pois é o princípio que indica quando a lei será aplicada ao caso concreto.
Portanto, o princípio não revoga a lei, mas lhe é superior e indica quando a lei será aplicada a um caso concreto.
PRINCÍPIOS
 
In dubio pro reo – A dúvida sobre a culpa ou inocência deve sempre favorecer o réu. Princípio voltado à fase de sentença. 
In dubio pro societate – A dúvida entre a culpa e inocência deve favorecer a sociedade. Deve-se decidir contra o suposto auto de crime. Princípio voltado às demais fases da persecução criminal.
Ne bis in idem: é vedada a dupla responsabilização penal pelo mesmo fato.
21
Princípio da Intervenção Mínima e insignificância
O Direito Penal deve ser considerado como ultima ratio, ou seja o último recurso do estado para coibir uma conduta não aceita em sociedade. Se houver algum outro modo menos drástico e eficaz de reprimir tal conduta, este deve ser utilizado, deixando ao direito penal apenas os casos mais graves. (princípio da intervenção mínima)‏ O legislador só cria a norma penal quando outros ramos do direito não são capazes de controlar a conduta humana nociva à sociedade. (subsidiariedade)‏
Princípio da insignificância – mesmo que a conduta seja típica (prevista em lei como crime), só será de fato considerada como crime (conceito material) se realmente lesionar ou colocar em risco direito alheio relevante protegido por norma penal. (fragmentariedade)‏. O Direito Penal não pune todos os fatos que ocorrem na sociedade que se amoldem a lei penal. O Direito Penal escolhe apenas os fragmentos mais nocivos para punir. Tal princípio é uma causa de exclusão da tipicidade material. Exclui o fato típico.
22
Princípio da insignificância
LOPRE – Lesividade, Ofensividade, Periculosidade social e Reprovabilidade.
 - mínima lesividade
 - mínima ofesividade
 - ausência de periculosidade social
 - mínima reprovabilidade
(observando sempre a proporcionalidade)
Para o STF devem estar presentes os quatro requisitos acima citados para a aplicação do princípio da insignificância.
Princípio da insignificância na fase do inquérito policial
Segundo o Autor Cleber Masson e outros, é possível a análise dos elementos da tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade pelo Delegado de Polícia na fase inquisitorial. Obviamente que dentro do que compete ao Delegado, visto que Autoridade Policial não profere sentença condenatória ou absolutória, mas pode optar por não lavrar um flagrante ou até mesmo deixar de indiciar se entender que o fato não é criminoso.
Julgados 
Não cabe o princípio para o delito de Moeda Falsa; Tráfico de Drogas; Furto Qualificado; Roubo ou crimes com violência ou ameaça; Crimes contra a administração pública (como regra) e crimes militares (como regra); 
Em delitos tributários, previdenciários e descaminho entende-se que até R$ 20.000,00 é insignificante.
Réu reincidente específico não pode ser beneficiado pela insignificância. Se não for específico, há divergência jurisprudencial.
Cabe o princípio para crimes ambientais, segundo STF
SONEGAÇÃO DE TRIBUTO ESTADUAL
 SONEGAÇÃO FISCAL. ICMS. TRIBUTO DE COMPETÊNCIA ESTADUAL. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA. INAPLICABILIDADE DO PATAMAR DISPOSTO NO ARTIGO 20 DA LEI N. 10.522/02. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL APENAS AOS TRIBUTOS DE COMPETÊNCIA DA UNIÃO.
 		1. Não obstante esta Corte Superior de Justiça tenha entendimento pacificado no sentido de aplicar o princípio da insignificância aos crimes contra a ordem tributária nos quais o valor da exação suprimido ou reduzido não ultrapasse a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), é certo que a referida construção jurisprudencial encontra arrimo no disposto no artigo 20 da Lei n. 10.522/02, que trata do Cadastro Informativo dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais.
 			2. O fato da União, por razões políticas ou administrativas, optar por autorizar o pedido de arquivamento das execuções fiscais que não ultrapassam o referido patamar não permite, por si só, que a mesma liberalidade seja estendida aos demais entes federados, o que somente poderia ocorrer caso estes também legislassem no mesmo sentido, tendo em vista que são dotados de autonomia.
 			3. Dentre os critérios elencados pela jurisprudência dominante para a incidência do princípio da insignificância encontra-se a inexpressividade da lesão jurídica ocasionada pela conduta, parâmetro que pode variar a depender do sujeito passivo do crime.
 			4. Não havendo nos autos nenhuma comprovação de que o Estado de São Paulo tenha editado lei semelhante àquela que, com relação aos tributos de competência da União, deu origem ao entendimento jurisprudencial que se pretende ver aplicado ao caso em tela, afasta-se a alegada atipicidade material da conduta - STJ - HC 180993/SP, 5ª T., rel. Min. Jorge Mussi, DJe 19/12/2011
Mais julgados do STJ
STJ - HABEAS CORPUS HC 165003 SP 2010/0043289-2 (STJ)
Data de publicação: 22/04/2014
Ementa: HABEAS CORPUS. SONEGAÇÃO FISCAL (ART. 1º , II E IV , DA LEI N. 8.137 /1990). WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. CONHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ICMS. TRIBUTO DE COMPETÊNCIA ESTADUAL. INAPLICABILIDADE DO PATAMAR DISPOSTO NO ART. 20 DA LEI N. 10.522 /2002. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL APENAS AOS TRIBUTOS DE COMPETÊNCIA DA UNIÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AUSÊNCIA. 1. O habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo do recurso ordinário previsto nos arts. 105 , II , a , da Constituição Federal e 30 da Lei n. 8.038 /1990. Precedentes. 2. Apesar de se ter solidificado o entendimento no sentido da impossibilidade de utilização do habeas corpus como sucedâneo do recurso cabível, esta Corte Superior de Justiça analisa, com a devida atenção e caso a caso, a existência de coação manifesta à liberdade de locomoção, nãotendo sido aplicado o referido entendimento de forma irrestrita, de modo a prejudicar eventual vítima de coação ilegal ou abuso de poder e convalidar ofensa à liberdade ambulatorial. 3. O Superior Tribunal de Justiça, na ocasião do julgamento do REsp n. 1.112.748/TO, representativo da controvérsia, consolidou o entendimento de que aos crimes referentes a débitos tributários que não excedam dez mil reais deve ser aplicado o princípio da insignificância, tendo em vista o disposto no art. 20 da Lei n. 10.522 /2002. 4. Para a aplicação do referido entendimento aos tributos que não sejam da competência da União, seria necessária a existência de lei estadual no mesmo sentido, até porque à arrecadação da Fazenda Nacional não se equipara a das Fazendas estaduais. Precedentes e doutrina. 5. Inviável a aplicação do referido entendimento ao caso em análise, no qual o paciente foi denunciado por, em tese, suprimir o valor de R$ 819,00 (oitocentos e dezenove reais) de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competênciados estados...
Julgado do STF
	 STF - HC 119849 / PR – PARANÁ
 	EMENTA Habeas corpus. Crime de descaminho (CP, art. 334). Impetração dirigida contra decisão monocrática do Relator da causa no Superior Tribunal de Justiça. Decisão não submetida ao crivo do colegiado. Ausência de interposição de agravo interno. Não exaurimento da instância antecedente. Precedentes. Extinção do writ. Pretensão à aplicação do princípio da insignificância. Incidência. Valor inferior ao estipulado pelo art. 20 da Lei nº 10.522/02, atualizado pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do Ministério da Fazenda. Preenchimento dos requisitos necessários. Ordem concedida de ofício. 1. A jurisprudência contemporânea do Supremo Tribunal não vem admitindo a impetração de habeas corpus que se volte contra decisão monocrática do relator da causa no Superior Tribunal de Justiça que não tenha sido submetida ao crivo do colegiado por intermédio do agravo interno, por falta de exaurimento da instância antecedente (HC nº 118.189/MG, Segunda Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 24/4/14). 2. Extinção da impetração. 3. No crime de descaminho, o Supremo Tribunal Federal tem considerado, para a avaliação da insignificância, o patamar de R$ 20.000,00, previsto no art. 20 da Lei nº 10.522/2002, atualizado pelas Portarias nº 75 e nº 130/2012 do Ministério da Fazenda. Precedentes. 4. Na espécie, como a soma dos tributos não recolhidos perfaz a quantia de R$ 10.865,65, é de se afastar a tipicidade material do delito de descaminho, com base no princípio da insignificância, em relação ao paciente, que preenche os requisitos subjetivos necessários ao reconhecimento da atipicidade de sua conduta. 5. Ordem concedida de ofício.
 
 		Podemos ver então que em tributos Federais como o imposto de importação, imposto de renda, contribuição previdenciária, etc. até 20 mil reais é insignificante.
 	Já pra tributos estaduais ou municipais, ICMS, IPTU, ITCMD, ISS, ITBI deve haver lei do ente federativo prevendo a insignificância.
 	
Não pode ser considerado como crime um fato que é aceito como correto e normal em sociedade. Tal princípio também exclui a tipicidade material do fato.
Ex. Piercings e tatuagens não caracterizam lesão corporal. A circuncisão realizada por judeus também não é crime.
OBS. Não é aceita a adequação social para a contravenção do jogo do bicho. Também não é aceito o princípio em tela para a venda de CDs Piratas. (STJ – Súmula 502)
OBS. Não se aplica a adequação social para casa de prostituição, contudo o STJ em 2018 entendeu ser atípica a conduta se não houver algum tipo de exploração, violência, ameaça ou menores envolvidos. Vejamos o julgado:
PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL
RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL. CASA DE PROSTITUIÇÃO. TIPICIDADE.EXPLORAÇÃO SEXUAL. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO. VIOLAÇÃO À DIGNIDADE SEXUAL E TOLHIMENTO À LIBERDADE. INEXISTÊNCIA. FATO ATÍPICO.1. Mesmo após as alterações legislativas introduzidas pela Lei nº 12.015/2009, a conduta consistente em manter Casa de Prostituição segue sendo crime tipificado no artigo 229 do Código Penal. Todavia, com a novel legislação, passou-se a exigir a "exploração sexual" como elemento normativo do tipo, de modo que a conduta consistente em manter casa para fins libidinosos, por si só, não mais caracteriza crime, sendo necessário, para a configuração do delito, que haja exploração sexual, assim entendida como a violação à liberdade das pessoas que ali exercem a mercancia carnal.2. Não se tratando de estabelecimento voltado exclusivamente para a prática de mercancia sexual, tampouco havendo notícia de envolvimento de menores de idade, nem comprovação de que o recorrido tirava proveito, auferindo lucros da atividade sexual alheia mediante ameaça, coerção, violência ou qualquer outra forma de violação ou tolhimento à liberdade das pessoas, não há falar em fato típico a ser punido na seara penal.3. Recurso improvido.(STJ. REsp 1683375/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 14/08/2018, DJe 29/08/2018)
JULGADO DO STJ
PRINCÍPIO DA ALTERIDADE: O direito só pode punir um fato que gere lesão ou risco de lesão a bens alheios ao do próprio autor do fato. A autolesão não é punível. Só crime a conduta que atinja bens jurídicos de terceiros.
CULPABILIDADE: Não há responsabilidade penal sem dolo ou culpa. É vedada a responsabilidade penal objetiva em matéria penal.
PROPORCIONALIDADE: A resposta penal deve sempre ser proporcional ao mal causado pelo infrator. É vedado o excesso e também é vedada a proteção deficiente.
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – HUMANIDADE: É vedado o tratamento ou penas degradantes ou cruéis.
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: Direito à quantidade de pena e regime de cumprimento de acordo com características subjetivas e objetivas de cada indivíduo. A pena deve ser individualizada para cada pessoa.
 
REPONSABILIDADE PESSOAL – PESSOALIDADE – INTRANSCENDÊNCIA - PERSONALIDADE: A responsabilidade penal não pode passar da pessoa do autor do fato. Não existe responsabilidade solidária ou subsidiária em direito penal. Só pode ser imputado o fato a quem lhe tenha dado causa de alguma forma, com dolo ou culpa.
PRINCÍPIO DA ISONOMIA: Tratar os iguais de forma igual e desiguais de forma desigual na medida de suas desigualdades. É vedado tratamento diferenciado a duas pessoas em condições iguais, contudo, se houver algum fator diferenciador, pode haver tratamento diverso. Ex. Um reincidente é tratado no direito penal de forma diversa que um primário.
 
 
Legalidade: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Princípio previsto no art. 1º do CP. É subdividido em outros dois: Reserva Legal + anterioridade
Reserva Legal: Crime só pode ser criada por lei em sentido estrito. Lei ordinária federal. Não pode ser criado por portaria, decreto ou até mesmo medida provisória. Ressaltando que o STF permitiu medida provisória em matéria penal desde que seja norma não incriminadora. Se for criada norma penal pro Lei complementar, será considerada como Lei ordinária a parte penal da referida lei, ou seja, pode ser reformada por lei ordinária.
Anterioridade: A lei penal que Cria Crime, Aumenta a Pena ou Prejudica o réu de alguma forma, deve ser sempre anterior ao fato para garantir segurança jurídica. 
Retroatividade da lei mais benéfica (Lex Mitior): A lei benéfica (não cria crimes nem aumenta a pena) pode retroagir para alcançar condutas pretéritas.
Irretroatividade da lei mais grave (Lex Gravior): A lei mais gravosa não pode retroagir. Quando há a Novatio Legis in Pejus a lei não pode retroagir.
Taxatividade: Vedação de descrição genérica e imprecisa da conduta proibida. 
34
 Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
 Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentençacondenatória.  (abolitio criminis) – OBS. Não há abolitio criminis quando o fato continua sendo criminoso, mas previsto em outro artigo.
        Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.  (Novatio Legis in Mellius)
CF - Art.5 º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
 
LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS: Tais leis tem poder Ultra-Ativo, ou seja, é aplicada aos fatos praticados durante sua vigência mesmo após perder sua vigência, não importando se é mais grave. É exceção a retroatividade da Lex Mitior.
Lei Temporária: É aquela que tem duração certa de início e fim. Ex. “Essa lei terá vigência de 20 de janeiro de 2010 a 20 de dezembro de 2010.” Note que lei trouxe data inicial e final de sua vigência.
Lei Excepcional: É lei que tem vigência enquanto durar uma situação fática excepcional, não tendo data exata de fim. Ex. “Essa lei terá vigência enquanto durar a Guerra...”. Note que no caso não se sabe quanto tempo durará a guerra.
CP - Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
 
Sujeito Ativo e Passivo
Sujeito Ativo é quem comete o crime. 
Sujeito Passivo é a vítima do crime.
Em regra só pode ser sujeito ativo a pessoa física, porém a constituição federal permitiu que a empresa (pessoa jurídica) fosse autora de crimes contra o meio ambiente. A Pessoa Jurídica pode ser processada por crime ambiental sozinha, sem a necessidade de se processar junto os administradores. Não é mais necessária a dupla imputação. STF: RE 548181 / PR
Victor Eduardo Rios Gonçalves: “Há diversas penas admitidas às pessoas jurídicas, compatíveis com sua condição, previstas no art. 22 da Lei n. 9.605; são elas: suspensão parcial ou total de atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.” 
A pessoa jurídica pode ser vítima de crimes, dependendo da espécie (crimes contra o patrimônio, honra)‏
37
Alteração do Complemento na norma penal em branco
Quando o complemento for um lei – retroage para beneficiar. Ex. Contrair matrimônio conhecendo a existência de impedimento que lhe cause nulidade absoluta (art.237 CP). Mudando as regras de impedimento no Código Civil, acabando o impedimento, essa mudança retroagirá, excluindo o tipo penal e beneficiando o réu.
Quando há a mudança do complemento infralegal, devemos analisar se a intenção da mudança foi mera atualização monetária ou de plano econômico ou se houve intenção de permitir a conduta e gerar abolitio criminis.
Há casos que a mudança do complemento infralegal muda a própria essência do tipo penal. Ex. O Tráfico tem o rol de substâncias proibidas previsto por portaria da ANVISA. Portaria n. 344. Notem que se a ANVISA tirar uma substância do rol dos entorpecentes, tal substância deixará de ser considerada como tráfico.
38
Combinação de leis (lex tertia)‏
Como já vimos, quando uma conduta deixa de ser crime há o abolitio criminis, ou abolição do crime, retroagindo, portanto, a referida lei.
Quando a lei nova é melhor ao réu, temos novatio legis in mellius, que também retroage e alcança o réu. (lex mitior)
Quando lei nova é pior ao réu, temos a novatio legis in pejus. Não retroage. Alcança só fatos futuros. (lex gravior)
Quando um dispositivo legal novo é parcialmente mais benéfico e parcialmente maléfico, se fizermos a combinação das partes benéficas dos dois dispositivos legais, teremos a lex tertia. 
A questão é: É permitida a Lex Tertia no Brasil?
39
Validade da Lex Tertia
De acordo com o princípio da separação dos poderes, só o legislativo pode legislar em matéria penal. Quando o judiciário usa partes de um dispositivo de lei e partes de outro, está na realidade criando um terceiro dispositivo de lei, que não foi feito pelo legislativo, atentando, portanto, contra o princípio da separação dos poderes.
Porém, esse entendimento não é unânime, apesar de majoritário. Há doutrinadores que defendem de forma diversa.
O STF / STJ entendem que não se pode utilizar a lex tertia, adotando a TEORIA DA PONDERAÇÃO UNITÁRIA OU GLOBAL em contradição a TEORIA DA PONDERAÇÃO DIFERENCIADA defendida por alguns doutrinadores.
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Retroatividade e crime permanente ou continuado
 Súmula n. 711 - STF
Conflito aparente de normas
Quando duas ou mais normas, aparentemente podem ser aplicadas ao mesmo caso, através de análise superficial. Todo conflito pode ser solucionado pelas técnicas a seguir.
 1)Verificar a Hierarquia da norma, sua constitucionalidade ou recepção pelo ordenamento jurídico vigente. Verificar também se houve revogação tácita ou não, segundo a LINDB.
OBS. Normas contra a CF/88 anteriores ao ano de 1988 são consideradas não recepcionadas, já as normas posteriores a 1988 que foram contra a CF serão consideradas inconstitucionais.
 2)Princípio da especialidade – lex specialis derrogat generalis. (ex. CP x Lei de Crimes Hediondos ou Lei de Drogas) – aplica-se também na escolha de um ou outro delito dentro da mesma lei. Ex. Homicídio x infanticídio (elemento especial – ser mãe em estado puerperal e matar o próprio filho) - Todo elemento da lei geral encaixa também na lei especial, mas na especial ainda se tem um elemento a mais, especializante.
A lei especial sempre prevalece dentro da sua especificidade, mas a norma geral pode sempre ser usada de maneira subsidiária naquilo em que a lei especial for omissa.
Devemos sempre procurar o tipo penal que mais encaixa ao caso concreto pela especialidade. Não o encontrando, de forma subsidiária procuramos outros delitos mais genéricos em que a conduta possa ser enquadrada.
Conflito de normas
 	Lei penal especial posterior não revoga lei penal especial anterior de matéria diversa. Ex. Lei de drogas e código penal militar.
 	Lei Geral posterior não revoga a especial anterior, salvo se o fizer expressamente.
 	“Se não bastasse, pouco importa a quantidade de sanção penal reservada para as infrações penais. A comparação entre as leis não se faz da mais grave para a menos grave, pois a lei específica pode narrar um ilícito penal mais rigoroso ou mais brando.” (CLEBER MASSON, 2015, DIREITO PENAL ESQUEMATIZADO, VOL I, PG. 183)
Consunção ou Absorção
 Crime meio x Crime Fim
 Crimes mais graves absorvem os crimes menos graves quando são meios lógicos de execução do crime principal.
 Deve ser meio normal de preparação para o crime ou mero exaurimento para se reconhecer a consunção.
 Para haver a consunção deve haver um nexo causal entre os crimes, sendo o crime menos grave um meio lógico de execução do crime visado mais grave e não pode haver lesão a bens jurídicos de outras vítimas. 
OBS. Apesar de a doutrina defender que só pode ser consumido um crime menos grave, o STJ editou súmula (muito criticada) de que se o falso se exaure no estelionato, fica consumido por este. Sumula n. 17 do STJ. Ocorre que a pena de falsificação de documento público é maior que a de estelionato.
Crime progressivo e progressão criminosa
 Crime Progressivo – Quando visando desde o início um resultado mais grave, nos crimes plurissubistentes, o agente passa por outros estágios do delito, que em tese caracterizaria outro menos grave. Ex. lesões corporais necessárias para cometimento do homicídio. Crimes de ação de passagem.
 Obs. Desde o início o crime almejado é o mais grave.
 	Progressão Criminosa – Quando o agente, no mesmo contexto fático, inicialmente visa a um crime menos grave, mas modifica seu dolo durante a conduta, optando por um crime mais grave. Ex. inciando-se com uma injúria, partiu-se para injúria real com vias de fato, passou para lesões corporais, finalmente homicídio.
 	Por política criminal, em ambos os casos aplica-se a consunção e responde só pelocrime fim.
Tempo e lugar do crime
Teoria da ação / Teoria do Resultado / Teoria da Ubiquidade
Tempo do crime (teoria da ação)‏
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
Lugar do crime (teoria da ubiquidade)‏
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
O lugar do crime do CP é relevante para saber sobre a aplicação ou não da lei brasileira, e não do foro competente para julgamento, visto que foro competente é matéria processual penal.
OBS. Memorize L.U.T.A para lembrar que o Lugar do crime é Ubiquidade e Tempo do crime é Atividade.
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Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Terra, ar e águas do mar territorial até 12 milhas náuticas – 22km)
PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE TEMPERADA – ADMITE A LEI ESTRANGEIRA EM CASO DE TRATADOS.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
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§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
O Código Penal adotou do princípio da territorialidade temperada, ou seja, aplica-se a brasileira nos delitos ocorridos em território nacional, porém, admite-se a aplicação de lei estrangeira se houver tratado internacional sobre o assunto. (ex. Convenção de Viena) 
O que é o território nacional?
Todo o espaço em que a República Federativa exerce soberania, e as embarcações e aeronaves do governo ou a serviço deste, onde quer que estejam, e as embarcações e aeronaves privadas desde que em alto-mar (além das 12 milhas náuticas e sem estar em águas de outro país).
É território brasileiro o solo, os rios, o espaço aéreo sobre eles, lagos e mares interiores, baías e a faixa de 12 milhas ao longo da costa (mar territorial).
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DIREITO DE PASSAGEM INOCENTE
 	FERNANDO CAPEZ, 2012, CURSO DE DIREITO PENAL, VOL I, PG. 97:
 “Princípio da passagem inocente: se um fato é cometido a bordo de navio ou avião estrangeiro de propriedade Privada, que esteja apenas de passagem pelo território brasileiro, não será aplicada a nossa lei, se o crime não afetar em nada nossos interesses. Ex.: um passageiro croata arrebenta uma taça de suco na cabeça de um bebê sérvio, a bordo de um avião americano privado sobrevoando o território brasileiro, de passagem, com destino a outro país. Como nós não temos nada que ver com isso, não se aplica a lei brasileira, muito embora o crime tenha sido cometido no Brasil.”
Problema
Um avião da força aérea americana está pousado no aeroporto internacional de Guarulhos-SP. Um oficial americano começa a discutir com outro dentro do avião, e acabam brigando e agredindo-se fisicamente. Um dos oficiais teve a mão quebrada.
Aplica-se a lei brasileira nesse caso?
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HIPOTESES DE NÃO INCIDÊNCIA DA LEI BRASILEIRA
IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS
FERNANDDO CAPEZ, 2012 (PG. 98) : Imunidades diplomáticas: o diplomata é dotado de inviolabilidade pessoal, pois não pode ser preso, nem submetido a qualquer procedimento ou processo, sem autorização de seu país. Embora as sedes diplomáticas não sejam mais consideradas extensão do território do país em que se encontram, são dotadas de inviolabilidade como garantia dos representantes estrangeiros, não podendo ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução (cf. Convenção de Viena). Por essa razão, as autoridades locais e seus agentes ali não podem penetrar sem o consentimento do diplomata, mesmo nas hipóteses legais. Não haverá inviolabilidade, contudo, se o crime for cometido no interior de um desses locais por pessoa estranha à legação.
 As imunidades também se estendem aos chefes de governo estrangeiro e ministros de relações exteriores. (Cleber Masson, 2015, pg.201)
 As imunidades abrangem os diplomatas, os funcionários da missão em serviço e seus familiares. 
 	As imunidade não abrangem empregados funcionários particulares dos diplomatas, como o jardineiro, babá, empregada doméstica, etc.
 	Diplomata tem imunidade total, Cônsul só tem imunidade para atos de ofício.
Extraterritorialidade
Extraterritorialidade é a possibilidade da aplicação da lei brasileira a fatos ocorridos fora do território nacional.
A extraterritorialidade pode ser incondicionada ou condicionada. (só se aplica para CRIMES não aplica-se a CONTRAVENÇÕES)
A extraterritorialidade incondicionada, ou seja, aplica-se a lei brasileira independentemente de qualquer condição, está prevista no art.7, I do CP.
Em qualquer das hipóteses previstas nesse inciso, o agente será julgado pela lei brasileira, ainda que seja absolvido pela lei estrangeira, e em caso de condenação, aplica-se o art.8°, para evitar o bis in idem. 
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Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: ‏
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; (princípio da Defesa / Real ou Proteção)
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Administração Direta e Indireta dos entes federativos) (princípio da Defesa / Real ou Proteção)
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; (princípio da Defesa / Real ou Proteção)
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (Justiça Universal – personalidade ativa ou defesa – há divergência doutrinária)
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 
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A extraterritorialidade condicionada está prevista no art.7°, II do CP, e ficam sujeitos a condição do §2°
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; (princípio da universalidade ou justiça universal)‏
b) praticados por brasileiro; (princípio da nacionalidade ativa)‏
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (Princípio da representação)‏
2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; DECRETO-LEI Nº 394, DE 28 DE ABRIL DE 1938 (Ex. Crime com pena menor que 1 ano não é permitida a extradição. Também não cabe para crimes políticos, de opinião, militares próprios ou contra a religião)
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d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
 § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (princípio da nacionalidade passiva)‏
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
PROBLEMA
Uma brasileira vai para um país onde o aborto é permitido,realiza o aborto lá e volta para o Brasil. Pode ela ser punida aqui? E se o médico que fez o aborto vier ao Brasil?
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Contagem de Prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.
Há distinção entre o prazo penal e o processual penal. Como prevê a lei, inclui-se o dia do começo. Se alguém foi preso às 23:30 horas, após 30 minutos já se foi um dia. 
O prazo prescricional e decadencial são prazos penais e não processuais. Prazos processuais são os para recorrer, oferecer denúncia, etc, prazos que não influenciam no ius puniedi.
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Observações de Nucci
Segundo a lei 810/49, “Art.1° - Considera-se ano o período de 12 meses contado do dia do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte.”
“Art.2°- Considera-se mês o período do tempo contado do dia do início ao dia correspondente do mês seguinte.”
Art. 3° - Quando no mês do vencimento não houver o dia correspondente ao do início do prazo, este findará no primeiro dia subsequente.
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Frações não Computáveis da Pena
 Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.
Se uma pena privativa de liberdade for de 2 anos 3 meses 10 dias de 5 horas, as horas serão desprezadas.
Se uma pena de multa for R$ 1.523,34 (mil quinhentos e vinte e três reais e trinta e quatro centavos, os 34 centavos serão desprezados.
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1. (Defensoria Pública/SP — FCC — 2007) A diferença entre crime e contravenção penal está estabelecida:
a) pelo Código Penal.
b) pela Lei de Contravenções Penais.
c) pela Lei n. 9.099/95 (Juizados Especiais).
d) pela Lei de Introdução ao Código Penal.
e) pela Constituição Federal.
2. (Defensoria Pública/SP — FCC — 2009) Assinale a alternativa correta.
a) Bens jurídicos relevantes são penalmente tutelados independentemente de tipo penal.
b) Os tipos penais são criados pelo legislador, excepcionalmente, entretanto, o juiz pode, usando analogia, criar tipos penais.
c) Nos tipos penais abertos a conduta não é totalmente individualizada.
d) O tipo penal define condutas e personalidades criminosas.
e) A lei penal em branco é inconstitucional por conter delegação de competência.
EXERCÍCIOS 
3. (85º Concurso de Ingresso ao MPSP — 2006) Em relação à responsabilidade penal das pessoas jurídicas, analise as seguintes afirmações e assinale a alternativa correta.
I. Não é admitida no Direito Brasileiro, em face da adoção pela lei dos princípios da pessoalidade e da culpabilidade, e da assertiva societas delinquere non potest.
II. O reconhecimento da responsabilidade penal de pessoa jurídica por crime de poluição implica, pela impossibilidade de bis in idem, na não responsabilização penal pessoal dos diretores da sociedade, pelos mesmos fatos.
III. O Direito Penal Brasileiro admite a responsabilização penal da pessoa jurídica, prevendo a aplicação, exclusivamente, das penas de multa e prestação de serviços à comunidade.
a) Apenas a afirmação I é incorreta.
b) Apenas a afirmação II é incorreta.
c) Todas as afirmações são incorretas.
d) Apenas a afirmação III é correta.
e) Apenas as afirmações II e III são corretas.
 
4.(OAB/Exame unificado - 2014.2) O Presidente da República, diante da nova onda de protestos, decide, por meio de medida provisória, criar um novo tipo penal para coibir os atos de vandalismo. A medida provisória foi convertida em lei, sem impugnações. Com base nos dados fornecidos, assinale a opção correta. 
(A) Não há ofensa ao princípio da reserva legal na criação de tipos penais por meio de medida provisória, quando convertida em lei.
(B) Não há ofensa ao princípio da reserva legal na criação de tipos penais por meio de medida provisória, pois houve avaliação prévia do Congresso Nacional.
(C) Há ofensa ao princípio da reserva legal, pois não é possível a criação de tipos penais por meio de medida provisória.
(D) Há ofensa ao princípio da reserva legal, pois não cabe ao Presidente da República a iniciativa de lei em matéria penal.
5. OAB / Exame Unificado – ADAPTADA - (Lei antidrogas) diz: “Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa."
  	Analisando o dispositivo acima, pode-se perceber que nele não estão inseridas as espécies de drogas não autorizadas ou que se encontram em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
 	Dessa forma, é correto afirmar que se trata de uma norma penal
(A) em branco homogênea.
(B) em branco heterogênea.
(C) incompleta (ou secundariamente remetida).
(D) em branco inversa (ou ao avesso) ou tipo penal remetido.
 
6. (OAB/Exame Unificado-2012.2) Em relação ao princípio da insignificância, assinale a afirmativa correta.
(A) O princípio da insignificância funciona como causa de exclusão da culpabilidade. A conduta do agente, embora típica e ilícita, não é culpável.
(B) A mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica constituem, para o Supremo Tribunal Federal, requisitos de ordem objetiva autorizadores da aplicação do princípio da insignificância.
(C) A jurisprudência predominante dos tribunais superiores é acorde em admitir a aplicação do princípio da insignificância em crimes praticados com emprego de violência ou grave ameaça à pessoa (a exemplo do roubo).
(D) O princípio da insignificância funciona como causa de diminuição de pena.
7. (OAB/Exame Unificado-2011.2) Acerca da aplicação da lei penal no tempo e no espaço, assinale a alternativa correta.
(A) Na ocorrência de sucessão de leis penais no tempo, não será possível a aplicação da lei penal intermediária mesmo se ela configurara lei mais favorável,
(B) As leis penais temporárias e excepcionais são dotadas de ultra-atividade. Por tal motivo, são aplicáveis a qualquer delito, desde que seus resultados tenham ocorrido durante sua vigência.
(C) O ordenamento jurídico-penal brasileiro prevê a combinação de leis sucessivas sempre que a fusão puder beneficiar o réu.
(D) Se um funcionário público a serviço do Brasil, na Itália, praticar, naquele país, crime de corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), ficará sujeito à lei penal brasileira em face do princípio da extraterritorialidade.
 
8. (OAB/Exame Unificado 2014.3) Pedro Paulo, primário de bons antecedentes, foi denunciado pelo crime de descaminho (art. 334, caput, do Código Penal), pelo transporte de mercadorias procedentes do Paraguai e desacompanhadas de documentação comprobatória de sua importação regular, no valor de R$ 3.500,00, conforme atestam o Auto de Infração e o Termo de Apreensão e Guarda Fiscal, bem como o Laudo de Exame Merceológico, elaborado pelo Instituto Nacional de Criminalística. 
Em defesa de Pedro Paulo, segundo entendimento dos Tribunais Superiores, é possível alegar a aplicação do:
A) Princípio da Proporcionalidade
B) Princípio da Culpabilidade
C) Princípio da Adequação Social
D) Princípio da Insignificância ou da Bagatela
 
9 .(OAB/Exame unificado - 2011.2) Jefferson, segurança da mais famosa rede de supermercados do Brasil, percebeu que João escondera em suas vestes três sabonetes, de valor aproximado de R$ 12,00 (doze reais). Ao tentar sair do estabelecimento, entretanto, João é preso em flagrante delito pelo segurança, que chama a polícia. A esse respeito, assinale a alternativa correta.
(A) Embora sua conduta constitua crime, João deverá ser absolvido, uma vez que a prisão em flagrante é nula, por ter sido realizada por um segurança particular.
(B) A conduta de João não constitui crime, uma vez que o fato é materialmenteatípico. 
(C) A conduta de João constitui crime, uma vez que se enquadra no artigo 155 do Código Penal, não estando presente nenhuma das causas de exclusão de ilicitude ou culpabilidade, razão pela qual este deverá ser condenado.
(D) A conduta de João não constitui crime, uma vez que este agiu em estado de necessidade.
10. (OAB/Exame Unificado - 2011.3.B) Acerca dos princípios que limitam e informam o Direito Penal, assinale a afirmativa correta.
(A) O princípio da insignificância diz respeito aos comportamentos aceitos no meio social.
(B) A conduta da mãe que autoriza determinada enfermeira da maternidade a furar a orelha de sua filha recém-nascida não configura crime de lesão corporal por conta do princípio da adequação social.
(C) O princípio da legalidade não se aplica às medidas de segurança, que não possuem natureza de pena, tanto que somente quanto a elas se refere o art. 1º do Código Penal.
(D) O princípio da lesividade impõe que a responsabilidade penal seja exclusivamente subjetiva, ou seja, a conduta penalmente relevante deve ter sido praticada com consciência e vontade ou, ao menos, com a inobservância de um dever objetivo de cuidado.
 
11. (F G V -2010) Com relação aos princípios constitucionais de Direito Penal, examine as seguintes afirmativas:
I - reza o principio da reserva legal que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
II - de acordo com o princípio da irretroatividade, a lei penal não retroagirá, salvo disposição expressa em lei.
III - segundo o princípio da pessoalidade, nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, independentemente do limite do valor do patrimônio transferido.
 
 Assinale:
(A) se todas as afirmativas estiverem corretas.
(B) se somente a afirmativa III estiver correta.
(c) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(D) se somente a afirmativa I estiver correta.
(E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
 
12. (OAB/Exame unificado – 2012.3.) Determinado estado, membro da Federação, editou lei excepcional em 1o de março de 2011, criminalizando a conduta de utilizar telefone celular no interior de agências bancárias. Com base no fato relatado, assinale a afirmativa correta.
 (A) Não será aplicada ao fato praticado durante sua vigência, cessadas as circunstâncias que a determinaram.
(B) É inconstitucional por força do princípio da culpabilidade.
(C) É inconstitucional porque somente a União pode legislar em matéria de direito penal.
(D) Poderá retroagir para alcançar fatos anteriores é sua vigência por força do brocardo in dubio pro societate.
13. (F G V -2010) Relativamente ao tema da territorialidade e extraterritorialidade, analise as afirmativas a seguir.
I- Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra a administração pública, por quem está a seu serviço.
II- Ficam sujeitos à lei brasileira os crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro ainda que julgados no estrangeiro.
III. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra o patrimônio da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território ou de Município quando não sejam julgados no estrangeiro.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa II estiver correta.
(C) se somente a afirmativa lll estiver correta.
(D) se somente as afirmativas II e lll estiverem corretas.
(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
 
14 .(OAB/Exame unificado - 2008.2) Assinale a opção correta com base nos princípios de direito penal na CF.
(A) O principio básico que orienta a construção do direito penal é o da intranscendência da pena, resumido na fórmula nullum crimen, nulla poena, sine lege.
(B) Segundo a CF, é proibida a retroação de leis penais, ainda que estas sejam mais favoráveis ao acusado.
(C) Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas até os sucessores e contra eles executadas, mesmo que ultrapassem o limite do valor do patrimônio transferido.
(D) O princípio da humanidade veda as penas de morte, salvo em caso de guerra declarada, bem como as de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e as cruéis.
15. (OAB/Exame unificado - 2 0 0 6.2) É cediço que a pena não pode passar da pessoa do condenado. Esse entendimento corresponde ao princípio da:
(A) necessidade concreta da pena.
(B) intranscendência.
(c) suficiência.
(D) proporcionalidade.
 
16. (OAB/Exame unificado -2004.ES) Com relação à aplicação da lei penal, assinale a opção incorreta.
(A) Quanto ao tempo do crime, o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade, pela qual considera-se praticado o crime no momento da ação ou do resultado.
(B) A lei posterior, que de qualquer modo favoreça o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
(C) Ocorre a abolitio criminis quando a lei nova deixa de considerar determinado fato como crime, ocasionando a extinção da punibilidade dos fatos ocorridos anteriormente à edição da lei nova.
(D) Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra a administração pública, por quem estiver a seu serviço.
 
17. (OAB/Exame unificado - 2012.1) John, cidadão inglês, capitão de uma embarcação particular de bandeira americana, é assassinado por José, cidadão brasileiro, dentro do aludido barco, que se encontrava atracado no Porto de Santos, no Estado de São Paulo. Nesse contexto, é correto afirmar que a lei brasileira
(A) não é aplicável, uma vez que a embarcação é americana, devendo José ser processado de acordo com a lei estadunidense.
(B) é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade privada estava atracada em território nacional.
(C) é aplicável, uma vez que o crime, apesar de haver sido cometido em território estrangeiro, foi praticado por brasileiro.
(D) não é aplicável, uma vez que, de acordo com a Convenção de Viena, é competência do Tribunal Penal Internacional processar e julgar os crimes praticados em embarcação estrangeira atracada em território de país diverso.
 
18. (FGV - 2008) Um fato criminoso praticado no interior de uma embarcação privada brasileira que esteja em alto-mar, fora das águas territoriais de qualquer país, está sujeito â aplicação da seguinte lei penal: 
(A) brasileira.
(B) do país de onde a embarcação tiver partido.
(C) do país para onde a embarcação estiver se dirigindo.
(D) do país mais próximo de onde estiver a embarcação.
(E) do país em que primeiro aportar a embarcação.
 
19. (FGV - 2008) A organização não governamental holandesa Expanding minds, dirigida pelo psicólogo holandês Johan Cruiff, possui um barco de bandeira holandesa que navega ao redor do mundo recebendo pessoas que desejam consumir substâncias entorpecentes que alteram a percepção da realidade. O prefeito de um Município decide embarcar para fazer uso recreativo da substância Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha. Na ocasião em que ele fez uso dessa substância, o barco estava em alto-mar, além do limite territorial brasileiro ou de qualquer outro país. Sabendo que a lei brasileira pune criminalmente o consumo de substância entorpecente e que a maconha é considerada pela legislação brasileira uma substância entorpecente, ao passo que a Holanda admite esse consumo para fins recreativos, assinale a alternativa correta a respeito do crime praticado pelo prefeito.
(A) nenhum crime
(B) crime de consumo de substância entorpecente
(C) crime de responsabilidade
(D) improbidade administrativa
(E) crime contra a fé pública
 
Teoria do Crime
 Conceito Analítico de Crime – Prevalece a Teoria Finalista tripartida, sendo o crime um fato típico,ilícito e culpável.
 Teoria Causalista (clássica) x Teoria Finalista
 Teoria Finalista pode ser bipartida ou tripartida, já a teoria Causalista é sempre tripartida.
A diferença entre a teoria Finalista e Causalista é que na Causalista o Dolo e Culpa estão na Culpabilidade, sendo um dolo normativo, com potencial consciência da ilicitude. Já na teoria finalista o dolo é natural, desprovido de consciência da ilicitude. O dolo e culpa na teoria finalista está no fato típico.
OBS. O Código Penal adotou a teoria finalista, havendo divergência na doutrina sobre a teoria bipartida ou tripartida.
O Código Penal Militar adotou a teoria causalista que é sempre tripartida.
Estrutura do Crime na Teoria Finalista
Teoria atualmente adotada e majoritária.
1 - Fato Típico
a) Conduta dolosa ou culposa.
O dolo deixa de ter a consciência da ilicitude, passado a ter somente a consciência da conduta e do resultado, consciência do nexo causal, vontade de realizar a conduta e provocar o resultado. Dolo Natural.
b) resultado (jurídico ou naturalístico)
c) nexo causal (equivalência dos antecedentes, causalidade adequada, imputação objetiva) 
d) Tipicidade (formal + material ou conglobante)
 
2 – Antijuridicidade (Ilicitude)
 O fato típico presume-se antijurídico. As excludentes da ilicitude são causas que excluem o crime. Para haver crime, elas não podem estar presentes. Art. 23 – Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumprimento do Dever Legal e Exercício Regular de Direito.
3 – Culpabilidade
a) imputabilidade
b) exigibilidade de conduta diversa
c) potencial consciência da ilicitude
 
 	OBS. A diferença das duas teorias (Causalista e Finalista) está no deslocamento do dolo e culpa dentro da estrutura do delito, saindo da culpabilidade e migrando para o fato típico.
Conduta
Analisaremos agora os elementos do delito mais detalhadamente, começando pela conduta.
A conduta é a materialização da vontade do agente através de um ou mais atos que podem ser comissivos ou omissivos. Se o crime for cometido por um ato só é chamado de unissubsistente (não permite o fracionamento), se composta de vários atos é plurissubisistente (permite fracionamento)‏
Conduta Comissiva: ação – Presente nos crimes comissivos
Conduta Omissiva: omissão – Presente nos crimes omissivos próprios ou puros e nos comissivos por omissão, também chamados de omissivos impróprios.
Teorias da Conduta
Teoria Causal, Naturalista: é a ação humana que causa um resultado, não se analisa dolo ou culpa.
Teoria Finalista: Hans Welzel – Teoria adotada. É a vontade de praticar a conduta voltada a um fim. Conduta é igual a Vontade + ação. (teoria adotada pelo CP segundo doutrina clássica)
Teoria Social da Ação: é ação humana voluntária dotada de relevância social. 
Teoria Funcionalista Teleológica: Claus Roxin - conduta é comportamento humano voluntário causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (Teoria adotada pela doutrina moderna)
Teoria Funcionalista Sistêmica ou radical – Gunther Jakobs – Direito Penal do Inimigo – comportamento humano que viola o sistema. 
 
Apenas os seres humanos possuem conduta, visto ser esta um fruto da vontade e consciência voltada a um fim. (alguns defendem que a pessoa jurídica também em crimes ambientais)
O caso fortuito e força maior excluem o dolo e a culpa, não havendo, portanto, a conduta. O fato não constitui crime.
A conduta deve abranger os seguintes elementos:
1) O objetivo pretendido pelo agente;
2) Os meios usados na execução;
3) As consequências do delito. 
ATENÇÃO: A falta da voluntariedade exclui a conduta, não havendo crime por falta de tipicidade. Em casos de coação física, quem responde é o coator. 
 Em casos de coação moral irresistível, há a voluntariedade, porém não há culpabilidade por ser inexigível uma conduta diversa, excluindo também o crime. Contudo, não exclui o fato típico, mas sim a culpabilidade.
Hipóteses em que não há voluntariedade
Conforme já dito anteriormente, não há voluntariedade na coação física, visto que não foi o agente que movimentou os músculos de seu corpo para realizar a ação. Foi apenas manipulado à força. Ex. Alguém põe uma arma na mão de uma pessoa à força, e segurando na mão dessa pessoa, mira em outra e puxa o gatilho. Não houve conduta por parte da pessoa coagida, pois não houve voluntariedade. A força muscular que puxou o gatilho em realidade foi a do coator.
Também exclui a voluntariedade o reflexo decorrente de reação automática de um nervo sensitivo. Ex. Espasmos involuntários, convulsões.
O sonambulismo ou hipnose também excluem a voluntariedade, visto que o movimento não é consciente nem voluntário.
Crimes Omissivos Próprios
Os crimes omissivos próprios ou puros são os que a lei penal expressamente dispõe que é ilícita a conduta de se omitir (deixar de fazer algo).
São baseados no dever de solidariedade do ser humano. Os homens têm o dever de ajudarem uns aos outros, e, em razão disso, foram criados os delitos omissivos próprios, como por exemplo, a Omissão de Socorro (art.135 do CP)‏
 Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Crimes Omissivos Impróprios
Os crimes omissivos impróprios são condutas que normalmente são punidas apenas na forma Comissiva, somente sendo punidas pela Omissão, quando a própria Lei impõe a alguém o dever de evitar tal resultado. Nesses casos, quando a pessoa tem o dever de impedir o resultado, e nada faz, responde pelo resultado como se o tivesse ocasionado comissivamente.
Podemos citar como exemplo a mãe que dolosamente deixa de alimentar ou dar remédio a seu filho de pequena idade e este vem a falecer. Nesse caso, ela responderá por Homicídio.
Relevância da Omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
        b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
        c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado
 
Crime Doloso
Teoria da Vontade – vontade de produzir o resultado através de sua conduta.
Teoria do assentimento – vontade de realizar a conduta, prevendo o resultado e assumindo o risco de sua produção. (o resultado lhe é indiferente)‏
Nosso código penal adotou a teoria da vontade e do assentimento com relação ao dolo.
 
CP- Art. 18 - Diz-se o crime:
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
A primeira espécie é o dolo direto que pode ser de 1º grau ou 2º grau.
A segunda espécie é o chamado dolo indireto, eventual.
A doutrina subdivide o dolo em algumas categorias que serão analisadas a seguir.
Dolo natural – envolve a consciência da conduta, do resultado e do nexo causal entre ambos e a intenção de realizar o resultado. Não inclui a consciência da ilicitude (teoria finalista adotada pelo CP)‏.
 
Dolo Normativo – envolve a consciência da ilicitude do fato, elemento integrante da culpabilidade. (teoria clássica ou causalista)‏
Dolo direto ou determinado – visa resultado certo e determinado. (1 e 2 grau)
Dolo indireto ou indeterminado – Não tem resultado certo visado.
Dolo alternativo – O agente quer um ou outro resultado, qualquer um deles está ótimo para o agente.
Dolo eventual – O agente não tem certeza do resultado, pode ser que ele ocorra, é provável, e, se acontecer, está tudo bem. O agente assume o risco de produzir o resultado, aceita-o e lhe é indiferente. O agente prevê o resultado e não se importa se o resultado ocorrer.
 
Dolo de dano – O agente visa causar dano ao bem jurídicotutelado.
Dolo de perigo - O agente visa apenas colocar em risco o bem jurídico tutelado.
Dolo genérico – Vontade de realizar a conduta sem nenhum fim específico.
Dolo específico – Realiza a conduta com um fim especial. Especial fim de agir.
Dolo geral – Aberratio Causae – Erro Sucessivo – Erro sobre o nexo causal - “Quando o agente, após realizar a conduta, supondo já ter produzido o resultado, pratica o que entende ser um exaurimento e nesse momento atinge a consumação.” (Capez, 2018) – O Dolo geral abrange toda a situação, portanto, mesmo havendo erro sobre o nexo causal que consumou o delito, responderá pelo crime consumado. 
OBS. O Aberratio Causae será tratado mais profundamente mais adiante.
OBS. Alguns autores diferenciam Dolo Geral (Erro Sucessivo), em que o agente pratica mais de uma conduta, e o Aberratio Causae (Erro sobre o nexo causal), em que o agente pratica uma só conduta e realiza o resultado por nexo causal diverso do pretendido. (André Estefam e Cleber Masson)	
Dolo direto de 1° e 2° grau
O dolo direto de 1° grau: É o objetivo direto do agente. Exemplo. João quer matar Pedro. Ele dá 5 tiros em Pedro e lhe ocasiona a morte. (dolo direto de 1° grau)‏
Dolo direto de 2° grau: Ocorre quando o agente deseja cometer crime também com relação a terceiros, como efeito colateral necessário do meio escolhido por ele para a realização do delito principal almejado. Exemplo: João quer matar Pedro. Coloca uma bomba em seu avião. João sabe que matará todas as pessoas do avião, mas para ele lhe é indiferente.
É diferente do dolo eventual, pois no dolo eventual há um risco de o resultado acontecer e o agente o assume. Contudo, no dolo direto de segundo grau, não há um risco, há certeza absoluta de que o resultado ocorrerá também para os terceiros. Deixa de ser eventualidade e passa a ser certeza.
Crime Culposo
CP - Art. 18 - Diz-se o crime:
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
No delito culposo o agente não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo ou o aceita. O agente falta com um dever objetivo de cuidado médio imposto a todos naquela situação, e acaba dando causa a um resultado danoso a outrem, que é tipificado em norma penal como crime.
 
O dever de cuidado tem que ser analisado de acordo com a conduta de um ser humano médio naquela situação. Não o muito zeloso, nem o muito relaxado. Usa-se o senso-comum.
A culpa caracteriza-se pela negligência, imprudência ou imperícia.
Negligência - quando o agente é desleixado e deixa de fazer algo que lhe era imposto, como deixar de fazer uma revisão no carro, deixar de conferir algo que devia, etc. É sempre uma conduta negativa, omissiva.
Imprudência – quando o agente arrisca-se mais do que o bom senso autoriza, colocando em risco desnecessário e ilegal bem jurídico alheio e até mesmo o seu próprio. É sempre uma conduta comissiva, um fazer algo com afoiteza e sem as cautelas necessárias.
Imperícia – É a falta de conhecimento técnico para a atividade profissional desempenhada, embora autorizado a realizá-la. Ex. O médico que faltava muita aula e não adquiriu muitos conhecimentos, e, na hora de fazer uma cirurgia, acaba errando por desconhecimento. 
 
A mera negligência, imprudência ou imperícia não é suficiente para caracterizar o delito. É necessário o resultado danoso, por isso não se admite a tentativa na culpa própria. Todo crime culposo é material, pois há um resultado material gerado.
Culpa consciente – O agente prevê que o resultado é possível, mas espera evitá-lo com sua habilidade e esforço pessoal. Ele não o quer.
Culpa inconsciente – O agente nem sequer prevê o resultado, apesar de ser um resultado que deveria ser previsto por alguém de diligência média e normal.
Culpa própria – culpa propriamente dita. O agente não quer e não assume o risco do resultado.
 
Culpa imprópria – É a culpa por extensão, assimilação ou equiparação. Ocorre quando o agente supõe estar agindo sob a proteção de uma excludente de antijuridicidade (descriminante putativa), e em razão disso, provoca um resultado ilícito, pensando ser lícito. É o erro acerca da situação fática em que incorreu o agente, porém se tivesse sido mais cauteloso não incidiria em erro. Apesar de ser uma ação dolosa, responde o agente por delito culposo. Porém, se o erro era inevitável, se o agente foi cauteloso, e mesmo assim incorreu em erro, não responde por crime algum. (única espécie de culpa que admite tentativa). Ocorre no erro de tipo permissivo inescusável ou vencível. OBS. Veremos tal tópico ao vermos erro de tipo.
 
Dolo eventual x Culpa consciente - 
A diferença entre dolo eventual e culpa consciente está no âmbito subjetivo do agente. Se o agente, após prever o resultado danoso, assume o risco de produzi-lo, sendo-lhe indiferente, responderá por dolo eventual. Porém, se, após prever o resultado, ainda confia em suas habilidades e acha que conseguirá evitar o resultado com seu esforço pessoal ou por sorte, teremos culpa consciente. A diferença, portanto, está em aceitar o resultado caso ele ocorra ou esperar sinceramente que ele não ocorra e tentar de tudo para evitá-lo.
Polêmica: acidente de trânsito + embriaguez = dolo eventual ou culpa consciente?
 
Não existe em direito penal a compensação de culpas! Caso duas pessoas concorram culposamente para o resultado, responderão as duas pelo delito culposo.
Só existe crime culposo se expressamente previsto no tipo penal! Exemplo: O delito de dano não é previsto como crime em modalidade culposa, portanto se alguém causar dano a outrem sem dolo, responderá apenas na esfera cível. 
Se João tenta ferir Pedro com uma pedrada, errando o alvo, acerta o carro de José, quebrando o vidro de seu carro, responderá penalmente pelo Dano? Não, apenas responderá civilmente, porém responderá pela tentativa do delito de lesão corporal.
Crime Preterdoloso
É uma das espécies dos crimes qualificados pelo resultado que veremos logo em seguida.
O crime preterdoloso é aquele em que o agente visa um resultado menos grave dolosamente, porém por culpa, acaba produzindo um resultado mais gravoso.
Dolo no antecedente e culpa no consequente. Dolo + Culpa.
Note-se que o artigo 19 do CP só pune o agente que deu causa a resultado mais gravoso se concorreu para ele ao menos culposamente.
Se responsabilizássemos alguém sem dolo ou culpa, seria responsabilidade objetiva, vedada em nosso direito penal.
OBS. Pode haver sim tentativa em crime preterdoloso se o elemento tentado é o elemento doloso.
 
CP - Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.
Um exemplo clássico é a lesão corporal seguida de morte. O agente visa lesionar a vítima, mas por uma falta no dever de cuidado acabou por matá-la.
A análise sobre o fato de o agente ter faltado com o dever de cuidado e concorrido culposamente para o resultado, ou não, será feita pelo magistrado no caso concreto, podendo haver divergência de opiniões a cerca do mesmo fato.
Crimes qualificados pelo resultado
Veremos agora outros delitos qualificados pelo resultado que não se enquadram nos preterdolosos.
Dolo no antecedente e dolo no resultado gravoso: roubo qualificado pela morte, 157, §3º, latrocínio. Note-se que a intenção principal é roubar, a morte ocorreu dolosamente, porém com a finalidade de roubo.
 
Culpa no antecedente e dolo no consequente (resultado): lesão corporal culposa, com aumento de pena por deixar de prestar socorro à vítima.
Culpa no antecedente e culpa no consequente: Incêndio culposo qualificado pela morte (também culposa).
OBS. Cuidado! Alguns autores falam que não cabe tentativa em crime preterdoloso. Está errado.
Não há tentativa de lesão corporal seguida de morte, porém há outros crimes preterdolosos no CP em que é possível a tentativa, como por exemplo, aborto com resultado morte da gestante.
Resultado
Alguns conceituam o resultadocomo sendo a modificação do mundo exterior provocada pela conduta do homem. Para esses autores, adeptos da teoria naturalística, há crimes sem resultado, como por exemplo, os de mera conduta, em que não há a modificação do mundo exterior.
Para outros, adeptos da teoria normativa ou jurídica, o resultado é o efeito produzido na órbita jurídica, não havendo crime sem resultado. Tem que haver lesão ou perigo de lesão, caso contrário não há crime.
Há primeira corrente é a adotada pela maioria, mas devemos entender que há os resultados materiais ou naturalístico, que é a modificação real do mundo exterior, e o resultado formal, ou seja, aquele atribuído pela lei, visto ter achado o legislador que tal conduta é reprovável e causa prejuízo à sociedade.
Nexo Causal
Nexo Causal é a relação existente entre a conduta do agente e o resultado material dela.
Há crimes em que o resultado é formal (jurídico), ou seja, ficto e presumido pela lei ou não é necessário para a consumação do crime, visto ter o crime se consumado antes. Consumação antecipada
Nos crimes em que não há resultado naturalístico não é necessário o nexo causal para a configuração do crime, visto não ter resultado real (naturalístico). Quando o agente realiza a conduta já está caracterizado o delito, não necessitando do nexo de causalidade.
Esses delitos mencionado acima são chamados de crimes de mera conduta que estudaremos mais adiante. (O resultado Formal, Normativo ou Jurídico já consuma o delito)
Teoria da Equivalência dos Antecedentes (nexo causal)‏
Também chamada de Conditio sine qua non (condição sem a qual o resultado não ocorreria).
Está prevista no artigo 13 do CP: “ O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
É considerado causa tudo o que contribuiu para o resultado, e que se fosse retirado, o resultado não ocorreria. 
É feita a técnica da Eliminação Hipotética de Thyrén.
Temos que analisar porém, se, na cadeia de atos que contribuíram para o delito, todos foram realizados com dolo ou culpa para não chegarmos a uma regressão infinita. Lembrando que não há responsabilidade penal sem dolo ou culpa.
Teoria da Causalidade Adequada e Imputação Objetiva
Causalidade Adequada: Para gerar o nexo de causalidade é necessário a conduta idônea a gerar o resultado. (Adotada nas concausas superveniente relativamente independente que produz resultado por si só, art.13, §1ºCP que estudaremos posteriormente)
Imputação Objetiva: Claus Roxin - exige a criação de um risco ou perigo juridicamente intolerável, não permitido ou o aumento de um risco permitido, tornando-o inaceitável.
O risco criado deve ser juridicamente relevante e depender da vontade do agente e não da sorte ou do acaso. O resultado deve estar dentro do âmbito do risco gerado. A realização do risco deve se dar no resultado.
O nosso código penal adotou a teoria da equivalência dos antecedentes como regra, mas as outras teorias também são usadas. São complementares e aceitas pela doutrina e jurisprudência. 
A teoria da imputação objetiva não em previsão legal expressa.
Superveniência Causal
Código Penal, Art.13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Causa relativamente independente que por si só produziu o resultado deve ser entendida com uma concausa.
As concausas podem ser Absolutamente Independentes, dentre essas as preexistentes, concomitantes e supervenientes
As concausas podem ser também Relativamente Independentes, preexistentes, concomitantes ou supervenientes.
Veremos a seguir.
Causas Absolutamente Independentes
Não possuem nenhum nexo causal com a conduta do agente. Produziram o resultado de modo isolado. Sempre excluem o nexo causal.
Absolutamente Independentes – Origem absolutamente diversa da conduta do agente. Ele não concorreu. Respondendo só pelo o que realmente fez.
Preexistentes – A dá um tiro em B, porém B já tinha tomado veneno e morre em razão do veneno e não do tiro. A responde por tentativa de homicídio, visto que sua conduta não matou B.
 
Concomitantes - Se A e B querem matar C, porém sem um saber da intenção do outro, e os dois efetuaram disparos contra a vítima. No exame de balística ficou provado que o tiro que matou a vítima foi o disparado por A, só ele responderá por homicídio, B responderá por tentativa, visto que a causa da morte é totalmente independente de sua conduta.
Supervenientes – A envenena B e sai. C entra na casa e dá 3 tiros em B, matando-o, antes do veneno fazer efeito. A causa da morte é superveniente a conduta de A e absolutamente independente.
OBS. Relembrando que as causas absolutamente independente SEMPRE exclui o nexo causal.
Causas relativamente independentes
Se originam da conduta do agente. Produzem o resultado juntamente com a ação do agente. Contribuem para o resultado. Em regra não rompem o nexo causal, salvo as supervenientes que produzem o resultado por si só.
Preexistentes - Causa anterior. Exemplo: alguém dá uma facada na mão de alguém que sabe ser hemofílico. Uma facada na mão por si só não o mataria, mas em razão da hemofilia, veio a óbito. O agente responde pelo crime. A causa anterior sabida adere a conduta do infrator.
Outro exemplo – alguém que atropela uma idosa, e que em razão de sua debilidade (osteoporose) acaba vindo a falecer, não pode alegar que ela morreu porque era velha, e que se tivesse sido um jovem, não morreria. Nesses casos sempre haverá o nexo causal.
 
Concomitantes – Ocorrem ao mesmo tempo. Exemplo: no momento em que A dispara o tiro contra B, este está tendo um infarto e morre. A perícia conclui que o tiro agravou a situação do infarto. Notem que se a perícia concluir que o infarto matou por si só, que a pessoa já estava infartando, haverá causa absolutamente independente. Só há causa relativamente independente se a lesão do disparo agravar a situação do infarto e contribuir para a morte.
Superveniente – Ocorre após. Há uma soma de esforços para o resultado. A conduta posterior se originou da do agente, e somando-se, ocorreu o crime. Exemplo: A leva um tiro e é levado ao hospital. O médico lhe passa antibióticos para tomar, porém ele não toma, vindo a falecer em razão da infecção oriunda do ferimento pérfuro-contuso do projétil. O agente responde por homicídio.
Pergunta: no caso de alguém levar uma facada e estar sendo levada ao hospital, e no caminho sofrer um acidente de carro e morrer? O agente responde pelo homicídio?
 
Para solucionarmos o problema temos que analisar se a causa superveniente relativamente independente está dentro do desdobramento natural do delito, se causou o resultado por si só ou não.
Uma infecção hospitalar está dentro do desdobramento natural de uma lesão de tiro ou faca, porém um acidente de trânsito não. Nem mesmo é previsível que toda pessoa indo ao hospital de ambulância morrerá em uma batida. Diferente será o caso de a ambulância não estar bem equipada, e a vítima morrer no caminho por falta de aparelhos no veículo.
Devemos sempre analisar o exame cadavérico para tirar a prova. Imaginemos uma lesão de faca no abdômen em que a causa da morte no laudo pericial é indicada como traumatismo craniano em razão de lesão contusa. Ora, quem leva facada na barriga morre com traumatismo craniano? Obviamente que não. Portanto, o resultado não foi produzido pelo agente.
 Exemplificando Melhor!
Podemos facilmente analisar nos dois casos a diferença, olhando o exame cadavérico.
Alguém que levou uma facada, foi para o hospital, não tinha médico para atender, morreu de hemorragia, no seu laudo cadavérico vai constar morte por choque hipovolêmico em razão de hemorragia causada por lesão pérfuro-cortante na região abdominal. Quem leva facada normalmente pode morrer dessa causa? Sim. Quem deu a facada? Fulano

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