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GABRIEL GALEAZZI 1 ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO CLASSIFICAÇÕES QUANTO AO MECANISMO Obstrução mecânica Há um agente físico causando a obstrução Obstrução funcional Causada por uma alteração na motilidade intestinal, sem um agente físico obstrutivo QUANTO AO GRAU Obstrução total Obstrução parcial ou suboclusão QUANTO À GRAVIDADE Simples Não há isquemia intestinal Estrangulada Há um sofrimento intestinal decorrente do aumento da pressão intraluminal e diminuição da irrigação naquele segmento QUANDO A LOCALIZAÇÃO Obstrução alta Ocorrem no intestino delgado, proximal à válvula ileocecal Obstrução baixa Ocorrem no cólon Válvula ileocecal competente (mais comum) A válvula ileocecal impede que haja retorno do conteúdo do intestino grosso obstruído Há uma obstrução em alça fechada, com maior risco de isquemia e perfuração do cólon Válvula ileocecal incompetente A válvula ileocecal não impede que o conteúdo colônico obstruído retorne em direção ao intestino delgado Há um menor risco de perfuração do cólon proximal, e o paciente apresenta maior distensão abdominal e pode apresentar vômitos fecaloides Obstrução alta x Obstrução baixa Sintomas Alta Baixa Dor Precoce, periumbilical, em cólica Tardia, infraumbilical e contínua Vômitos Precoces e biliosos Tardios e fecaloides Constipação Tardia Precoce Padrão radiológico Distribuição gasosa mais central, pregas coniventes, níveis hidroaéreos, empilhamento de moedas Distribuição gasosa mais periférica, haustrações colônicas, ausência de ar na ampola retal Causa mais comum Brida Neoplasia de cólon esquerdo QUADRO CLÍNICO Dor e distensão abdominal Náuseas e vômitos Vômitos biliosos → Obstrução Alta Vômitos de conteúdo entérico ou fecaloide → Obstrução Baixa Parada de eliminação de fezes e flatos Diarreia paradoxal Causada por um aumento do peristaltismo, que pode ocorrer precocemente Hematoquezia Desidratação Distensão abdominal Alteração nos ruídos hidroaéreos Precocemente → Peristaltismo de luta (RHA com timbre metálico) Posteriormente → Diminuição dos RHA EXAMES COMPLEMENTARES Alterações laboratoriais Leucocitose com desvio à esquerda Indica presença de complicações Aumento do hematócrito Indica hemoconcentração e desidratação Hipocalemia Hiponatremia Alcalose metabólica hipoclorêmica Elevação do lactato sérico Exames de Imagem RX (Rotina de abdome agudo – RX de Tórax PA em pé, RX de Abdome em pé e deitado) Sinais radiológicos de obstrução alta Distribuição mais centralizada no abdome Empilhamento de moedas Níveis hidroaéreos Sinal de Rigler GABRIEL GALEAZZI 2 Sinais radiológicos de obstrução baixa Distribuição mais periférica no ambdome Visualização das haustrações colônicas Distensão colônica Fecaloma Sinal do Grão de Café (Volvo de sigmoide) TC com Contraste (Solicitar se houver dúvida diagnóstica e só se o paciente estiver estável) Sinais de isquemia intestinal Pneumatose intestinal Gás portal Ingurgitamento dos vasos mesentéricos Enema Baritado Sinal da maça mordida Indica neoplasia colorretal Sinal do Bico de Pássado Indica volvo TRATAMENTO Medidas de suporte Jejum Sonda nasogástrica Auxilia na descompressão do trato gastrointestinal Previne broncoaspiração nos pacientes que apresentam vômitos frequentes Hidratação venosa SF09% ou Ringer Lactato Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos Analgesia Antibióticos Em pacientes com indicação de tratamento cirúrgico (profilaxia) ou na presença de complicações Tratamento conservador Indicado em alguns casos de obstrução parcial ou até total, principalmente na obstrução do intestino delgado por aderências intestinais Feito com as medidas de suporte e observação rigorosa Tratamento cirúrgico Indicação Piora clínica ou não obtiver boa resposta nas primeiras 24-48h frente ao tratamento conservador Na presença de qualquer complicação (isquemia, necrose e perfuração) OBSTRUÇÃO INTESTINAL MECÂNICA ALTA ADERÊNCIAS INTESTINAIS (BRIDAS) Causa mais comum de obstrução intestinal alta Fator de risco Cirurgia abdominal prévia Tratamento Conservador Medidas de suporte O tratamento conservador das bridas está associado a maiores taxas de recorrência Cirúrgico Laparotomia exploradora (ou laparoscopia)) OBSTRUÇÃO INTESTINAL POR BRIDAS COM FEBRE, LEUCOCITOSE E SENSIBILIDADE ABDOMINAL = TRATAMENTO CIRÚRGICO NEOPLASIAS São a segunda causa mais comum de obstrução de intestino delgado Não há consenso sobre a estratégia de tratamento ideal para a obstrução intestinal maligna HÉRNIAS São a terceira causa mais comum de obstrução intestinal É mais comum em pacientes idosos As hérnias encarceradas são a principal causa de complicação (isquemia, necrose, perfuração) GABRIEL GALEAZZI 3 As hérnias femorais são as que apresentam maior risco para o estrangulamento Hérnia agudamente encarcerada → Cirurgia imediatada Se <6-8 horas de evolução, paciente deseja adiar a cirurgia ou apresenta alto risco cirúrgico = Tentativa de Redução manual (Manobra de Taxe) Sucesso: Cirurgia eletiva Sem sucesso: Cirurgia imediata Hérnia encarcerada com sinais de estrangulamento (febre, taquicardia, peritonite, hiperemia da pele sobrejacente, tempo de evolução > 6-8h) → Cirurgia imediata Via inguinotomia ou laparotomia se houver redução inadvertida ou espontânea na indução anestésica Se houver a presença de isquemia ou perfuração: contraindicado o uso de telas sintéticas para correção da hérnia VOLVO GÁSTRICO Etiologia Primário (ou idiopático) Anormalidades dos ligamentos gástricos com falha na fixação gástrica Apresenta-se mais comumente com sintomas crônicos Secundário (mais comum) Ocorre devido a outras anormalidades anatômicas Hérnia paraesofágica (em adultos) e Hérnia diafragmática congênita (em crianças) Apresentação clínica Aguda: rotação > 180° Crônica: obstrução parcial Eixo de rotação Organoaxial Rotação ao longo do eixo longo (vertical) do estômago, da junção gastroesofágica ao piloro É o tipo mais comum Associado a etiologias secundárias Mesenteroaxial Rotação ao longo do eixo curto (transversal), através de uma linha perpendicular que conecta as curvaturas maior e menor do estômago, de modo que o piloro gire acima da junção gastroesofágica Combinada Associação da rotação organoaxial e mesenteroaxial Quadro clínico Tríade de Borchardt Dor em abdome superior ou tórax Vômitos severos Incapacidade de passar SNG Hematêmese Distensão abdominal mais superior RHA no tórax Sinais de peritonite = isquemia e perfuração Exames complementares Laboratório Alcalose metabólica hipoclorêmica e hipocalemia Imagem Bolha grande de ar, esférica, localizada no abdome ou no tórax superior com nível hidroaéreo Tratamento Medidas de suporte Descompressão gástrica: Passagem de SNG (às cegas ou por EDA) Indicação de cirurgia imediata Incapacidade de descomprimir o estômago Perfuração gástrica ou contaminação mediastinal confirmada por TC Sepse grave Paciente instável Tratamento definitivo Distorção e gastropexia (EDA/cirurgia) → Volvo primário Reparo cirúrgico do defeito anatômico → Volvo secundário VOLVO DE INTESTINO MÉDIO Raro no adulto Fator de Risco Aderência por cirurgia abdominal prévia Presença do sinal do redemoinho em TC DOENÇAS INFLAMATÓRIAS Estenose curta (<5cm) → Ressecção com anastomose primária ou dilatação (se acessível à endoscopia) Estenoses longas (>5cm), múltiplas, falha endoscópica = Tratamentocirúrgico Estenosoplastia ou Estricturoplastia: múltiplas estenoses ao longo do intestino ou recorrentes, intestino curto ou iminente, evitar ressecção <10cm Estenosoplastia a Heineke-Mikulicz >10cm Técnica de Finney GABRIEL GALEAZZI 4 Estricturoplastia isoperistáltica latero- lateral INTUSSUSCEPÇÃO OU INVAGINAÇÃO INTESTINAL Mais comum em crianças (pico de incidência aos 2 anos) Fatores de risco Síndrome de Peutz-Jeghers AIDS No adulto, apresenta uma cabeça de invaginação Intestino delgado: Tumores benignos (GIST, adenomas) ou divertículo de Meckel Ileocólicas e colocólicas: Adenocarcinoma Diagnóstico RX: Padrão de obstrução intestinal USG: Imagem em alvo ou do “pseudo-rim” TC (exame de escolha): Imagem em alvo ou em forma de “salsicha” Tratamento Cirúrgico → Ressecção intestinal CORPOS ESTRANHOS ÍLEO BILIAR Caracteriza-se pela impactação de um ou mais cálculos no intestino, decorrente da sua passagem através de uma fístula colecistoduodenal Normalmente, o cálculo impacta-se no íleo terminal, próximo à válvula ileocecal Mais comum em mulheres e idosos Síndrome de Bouveret Impactação de um cálculo biliar dentro do piloro ou duodeno Achados radiográficos Tríade de Riegler Sinais de obstrução intestinal alta Pneumobilia (aerobilia) Cálculo biliar ectópico Tratamento Cirurgia de urgência → Laparotomia BEZOAR São compostos de material ingerido que não são digeridos no trato gastrointestinal e podem obstruir o lúmen São mais comuns no estômago Classificação de acordo com a composição Fitobezoares Compostos de matéria vegetal, dieta rica em fibras e alimentos mal mastigados Tricobezoares São compostos por cabelos Farmacobenzoares São compostos de medicamentos ingeridos Lactobezoar Compostos de leite DIVERTÍCULO DE MECKEL A obstrução intestinal é a principal complicação no adulto Pode causar: Intussuscepção, volvo, torção, hérnia (Littre), inversão, diverticulite Tratamento Laparotomia e ressecção intestinal englobando o divertículo OUTRAS CAUSAS Anomalias congênitas do trato gastrointestinal Parasitas Hematoma intramural traumático Duodeno local mais comum (cinto de segurança) Doença infecciosa do intestino delgado (Tuberculose) Abscesso intra-abdominal Lesão actínica intestinal (vasculite obliterativa) OBSTRUÇÃO INTESTINAL MECÂNICA BAIXA NEOPLASIA COLORRETAL É a causa mais comum de obstrução intestinal baixa As neoplasias de reto e cólon esquerdo tem maior probabilidade de obstruir Isso acontece porque o cólon direito tem maior diâmetro Mais comum entre 60-80 anos Quadro clínico Antecedente de alteração do hábito intestinal, emagrecimento, sangramento retal Dor e distensão abdominal, aguda ou subaguda Parada de eliminação de fezes e flatos Vômitos fecaloides e tardios → Válvula ileocecal incompetente Se a válvula for competente causa obstrução em alça fechada e tem mais risco de perfurar o ceco Pode identificar neoplasia de canal anal e reto distal pelo toque retal Diagnóstico TC (Exame de escolha) Tratamento Neoplasia de cólon direito (ceco, cólon ascendente e flexura hepática) Paciente instável e/ou peritonite fecal GABRIEL GALEAZZI 5 Hemicolectomia direita e ileostomia terminal Paciente estável e cólon em boas condições Hemicolectomia direita e Ileotransversoanastomose Cosiste na ressecção de 4-6cm do íleo terminal até a porção do cólon irrigado pelo ramo direito da artéria cólica média Neoplasia de cólon esquerdo (transverso distal, descendente e sigmoide Paciente instável e/ou peritonite fecal Cirurgia de Hartmann Ressecção do tumor, com fechamento do coto distal e colostomia terminal do coto proximal Paciente estável e cólon em boas condições Transversectomia Hemicolectomia esquerda Ressecção da flexura esplênica até a junção retossigmoide, para tumores de cólon descendente Sigmoidectomia ou Retossigmoidectomia Para tumores de cólon sigmoide Colectomia total Indicada para pacientes com múltiplos tumores primários VOLVO DE SIGMOIDE Segunda causa mais comum de obstrução intestinal baixa Fatores de risco Sigmoide redundante e longo Idosos (70-80a) Sexo masculino Pacientes institucionalizados Doenças neurológicas e psiquiátricas, uso de medicamentos psicotrópicos Constipação crônica Doença de Chagas e Doença de Chron Dismotilidade colônica (jovens e crianças) Diagnóstico RX “Sinal do U invertido” ou “Sinal do grão de café” ou “Sinal do tubo interno dobrado” Sinal de Frimann-Dahl Presença de 3 linhas densas, representando as paredes do sigmoide, que convergem para o local de obstrução no cólon Enema constrastado (Clister opaco) Sinal do “bico de pássaco” Tratamento Paciente estável e sem peritonite Colonoscopia ou retossigmoidoscopia descompressiva Paciente instável e peritonite Laparotomia e Hartmann VOLVO DE CECO Mais comum em mulheres, faixa etária mais jovem que volvo de sigmoide Tipos de volvo de ceco Volvo cecal axial Torção axial no sentido horário ou torção ao longo de seu eixo longo Volvo cecal em laço Torção do ceco e de uma porção do íleo terminal Báscula cecal Envolve a dobra para cima do ceco em vez de uma torção axial Diagnóstico RX Ceco em forma de “vírgula” TC “Sinal do giro” ou “Sinal do redemoinho” Tratamento Paciente estável, sem sinal de peritonite e cólon em boas condições Hemicolectomia direita Ileotiflectomia (apenas se ceco móvel) Paciente instável e/ou peritonite fecal Hemicolectomia direita ou ileotiflectomia com ileostomia terminal ou fístula mucosa GABRIEL GALEAZZI 6 FECALOMA Presença de fezes endurecidas que impactam no trato gastrointestinal Mais frequente em pacientes idosos, acamados, institucionalizados, portadores de constipação crônica, de megacólon e doença de Hirschsprung Sinais clínicos Sinal de Gersuny Crepitação ao descomprimir o abdome após a palpação profunda de uma massa abdominal Fenômeno de Soiling Diarreia paradoxal, com passagem de fezes líquidas ao redor do fecaloma Tratamento “Quebra” digital e clister glicerinado Pode ser necessária anestesia locorregional e sedação Tratamento cirúrgico indicado na falha da quebra ou complicações OUTRAS CAUSAS Doença de Hirschsprung (Megacólon congênito) Diverticulite aguda Intussuscepção Hérnias Doenças inflamatória intestinal (RCU; Crohn) OBSTRUÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL Não há obstrução mecânica, mas sim um distúrbio de motilidade intestinal ÍLEO ADINÂMICO OU PARALÍTICO Obstrução intestinal funcional, por anormalidades na motilidade intestinal, ausência de obstrução mecânica Principal causa Pós-operatório de cirurgia abdominal Fatores de risco Uso de fármacos (opiáceos, anti-histamínicos, anticolinérgicos, antidepressivos tricíclicos) Uremia Cetoacidose diabética Sepse extra-abdominal Hemorragia e inflamação intra-abdominal e retroperitoneal Hipocalemia Hipomagnesemia Clínica Náuseas e vômitos Ausência de eliminação de fezes e flatos Distensão abdominal RHA diminuídos ou ausentes Intolerância alimentar RX Distensão gasosa universal das alças intestinais Presença de ar no cólon Ampola retal Tratamento Analgesia (retirar opioides) Hidratação Correção eletrolítica Repouso intestinal SNG se vômitos persistentes, avaliar NPT PSEUDO-OBSTRUÇÃO INTESTINAL OU SÍNDROME DE OGILVIE Distensão aguda do cólon, com sinais e sintomas de obstrução colônica, na ausência de uma causa física de obstrução intestinal Fisiopatologia Desconhecida Hiperatividadesimpática que se sobrepõe ao sistema parassimpático (uso da neostigmina e bloqueio epidural) Fatores de risco Medicamentos (Opióides, anticolinérgicos, agonistas alfa-2-adrenérgicos, antipsicóticos, bloqueadores de canais de cálcio, citotóxicos, dopaminérgicos) Trauma e cirurgia ortopédica Procedimento obstétrico e ginecológico Cirurgia ou doença cardiotorácica Doenças neurológicas Doenças retroperitoneais Desequilíbrio metabólico Infecção Doenças reumatológicas Diagnóstico Paciente enfermo com distensão abdominal súbita, geralmente sem dor Timpanismo à percussão, principalmente à direita RHA presentes Laboratório Leucocitose e anormalidades metabólicas (hipocalemia, hipocalcemia e hipomagnesemia) RX Cólon dilatado, geralmente do ceco à flexão esplênica com haustrações normais Clister opaco com contraste hidrossolúvel (exame de escolha) Tratamento Ceco < 12cm Medidas de suporte Ceco > 12cm e falha no tratamento conservador Neostigmina → Descompressão endoscópica (se falha do anterior) → Colostomia em alça ou cecostomia (se falha dos anteriores)
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