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Sanidade Animal Camilla Teotonio Pereira PARVOVIROSE É uam zoonose de doença infecciosa e contagiosa, que na maioria das vezes acomete animais jovens, deixando- os com sinal clínico de êmese e diarreia com sangue. É uma das viroses mais conhecidas e mais contagiosas entre os cães domésticos, sendo também chamada de Enterite Canina Parvoviral. AGENTE ETIOLOGICO Parvovírus se caracteriza pela pequena dimensão, que varia tamanho de 18 a 26 nm de diâmetro, não envelopado e por apresentar capsídeo de simetria ecosaédrica e vírus de manutenção ambiental. Para causar infecção precisa de no mínimo 109 particulas virais por gramas de fezes. Ácido nucleico DNA armazena seu material genético. Protegido pelo capsídeo, composto por uma camada proteica (VP1 e VP2 são proteínas estruturais). Manutenção ambiental elevada estabilidade ambiental com durabilidade entre 6-8 meses a 1 ano. Resistência alta as condições ambientais e desinfetantes devido ao vírus ser não envelopado. Uma série de trocas de aminoácidos nas espículas, particularmente nos resíduos 87 (metionina para leucina), 300 (alanina para glicina) e 305 (ácido aspártico para tirosina), resultou no surgimento de variantes antigênicos do CPV. Tais substituições, que diferenciam o CPV 2 dos novos tipos antigênicos, CPV 2a, 2b e 2c, poderiam ser responsáveis por vantagens replicativas relacionadas com a capacidade do CPV de infectar células de felinos, bem como com a rápida seleção dos novos tipos variantes em cães de todo o mundo. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, os primeiros relatos de gastrenterites hemorrágicas são de 1979, embora somente em 1980 tenha havido a disseminação da doença pela população de cães. A combinação dos achados clínicos e anatomopatológicos, aliada à observação por microscopia eletrônica de partículas virais, semelhantes aos parvovírus, levou à conclusão de que se tratava de uma epizootia de enterite infecciosa, possivelmente relacionada com o parvovírus canino. Entre os integrantes da família Canidae, além dos cães domésticos, a maioria das espécies do gênero Canis são suscetíveis ao CPV, sendo as raças Dobermann, Pinscher e Rottweiler particularmente mais suscetíveis à infecção. Outros membros da família Canidae naturalmente suscetíveis ao CPV são o lobo-guará (Chrysocycon brachyurus), o cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus), o lobinho (Cerdocyon thous) e oraccoon dog (Nyctereutes procyonoides). Adicionalmente, devido ao isolamento do CPV de amostra proveniente de gato com sintomatologia da panleucopenia felina, observou-se a possibilidade da transmissão entre cães e gatos. O CPV-2 se traduz, até hoje, em uma das principais doenças infecciosas de caráter endêmico e de distribuição mundial. A expansão global do parvovírus canino deveu-se, provavelmente, aos altos títulos de vírus nas fezes de cães infectados, além da resistência à inativação no ambiente. Tais fatores facilitaram o transporte da partícula viral em objetos inanimados até mesmo em países com procedimentos rígidos de quarentena para cães. PREVALÊNCIA Fatores predisponentes à moléstia grave são a idade, os fatores genéticos, estresse e infecções simultâneas com parasitas ou bactérias intestinais. Os filhotes com menos de seis meses de idade apresentam uma necessidade maior de hospitalização, quando comparado com animais mais idosos. A parvovirose em cães tem maior incidência durante os meses quentes do ano. FISIOPATOLOGIA Vírus intracelular obrigatório, sua replicação viral ocorre no núcleo da célula do hospedeiro, e sua liberação ocorre por lise celular. Gera corpúsculo de inclusão intranuclear, que é acúmulo de componentes virais visíveis através do microscópios óptico. O parvovírus canino, como os demais parvovírus autônomos, necessita de células na fase S da divisão mitótica para sua replicação. Consequentemente, estas apresentam predileção por tecidos de animais jovens ou recém-nascidos, ou tecidos de animais adultos com intensa proliferação, como é o caso das células do tecido linfoide, com resultante linfopenia, e do epitélio do intestino delgado, causando o quadro gastroentérico. A infecção natural surge por via oral, através de ingestão de água e alimentos contaminados, lamber outros animais e compartilhamento de forro, cobertores e fômites. As fezes contaminadas são a fonte primária de infecção da parvovirose. Após a exposição oral, a replicação inicial do vírus (replicação primária) se dá nas tonsilas e/ou nódulos regionais e mesentéricos. Por intermédio da via linfática, as partículas virais alcançam a circulação sanguínea (viremia), resultando em infecção posterior de timo, baço e medula óssea. Tecido linfoide, tem a primeira infecção após a infecção com replicação viral e a destruição celular nos tecidos linfoides (linfonodos e folículos linfoides), acontecem nos centros germinativos dos nódulos e no córtex do timo. O intestino delgado, a replicação viral se dá nas células precursoras das criptas intestinais de rápida divisão, entre 4 e 6 dias pós-inoculação oral. O achatamento intenso/perda de estrutura das vilosidades intestinais promove a perda da regulação osmótica, destruição e necrose das criptas intestinais, infecção bacteriana secundária, que ocasiona quebra da barreira da barreira intestinal. O curso da infecção é rápido, sendo possível isolar partículas virais de tecidos ou fezes 10 a 14 dias depois da infecção. A infecção dos enterócitos provoca liberação de grandes quantidades de partículas virais nas fezes. A medula óssea pode ser gravemente afetada, com acentuada diminuição das células mieloides, eritroides e série de megacariócitos (panleucopenia). Associação da destruição dos tecidos linfoides (linfopenia) + acometimento da MO (panleucopenia), causa imunossupressão no animal. Sistema cardiovascular pode ser acometido, principalmente no período gestacional ou neonatos, que causa comprometimento cardíaco (miocardite fatal) resultando a morte súbita de neonatos de 3 a 8 semanas de vida e rara nos cães adultos, porém pode ocorrer em cães que apresentaram uma doença subclínica. É possível que cães recuperados possam apresentar a forma miocárdica em uma idade mais avançada, devido às lesões iniciais causadas no músculo cardíaco. SNC- cerebelo / sistema reprodutor o FPV pode causar hipoplasia cerebelar e abortamento. Caráter agudo com eliminação viral entre 14 a 17 dias após infecção. A viabilidade ambiental é maior do que no hospedeiro. A toxinas são gram -, LPS e endotoxinas. Período de incubação média 2 a 10 dias após infecção. Pico de replicação viral 7° e 8° dia após infecção. Período de excreção viral começa 3 dias anteriores as manifestações clínicas. Período de convalescença 14 a 17 dias após as manifestações clínicas. Coincide com a resposta imunológica e diminuição da carga viral. Isolamento 3 semanas (cão) e 6 semanas (gato). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS GASTROENTERITE No cão evolução rápida e persistente de fazes pastosas para aquosas/sanguinolentas e fétidas. No gato evolução lenta e pouco persistente 1-2 dias/ 3-5 dias. Desidratação, hipertermia e endotoxemia são fatores complicadores do quadro. Diminuição da absorção de nutrientes - alteração da consistência das fezes – perda de fluidos – diarreia aquosa – hematoquezia – infecção secundária bacteriana. HEMOGRAMA Leucopenia, linfopenia, neutropenia ou panleucopenia. MIOCARDITE Miocardite aguda fatal em filhotes cães, principalmente entre 3 a 8 semanas de idade, embora em alguns casos a idade chegasse até 16 semanas no momento do óbito. Consequente morte por insuficiência cardíaca aguda, caracterizada por arritmia cardíaca, dispneia e edema pulmonar. A suscetibilidadefetal ou neonatal está relacionada, provavelmente, com a divisão ativa das células do miocárdio que ocorre em filhotes com idade inferior a 15 dias. A lesão patológica primária observada caracterizava-se por necrose multifocal do miocárdio e corpúsculos frequentes de inclusão intranucleares, além de infiltrado de células mononucleares. O pulmão apresentava-se com edema difuso, além de edema e peribrônquico e perivascular secundário ao colapso cardíaco. SINAIS NEUROLÓGICOS O FPV pode causar nos neonatos felinos a hipoplasia cerebelar e ocasionar manifestações neurológicas como ataxia, incoordenação, tremores e convulsões. Também pode apresentar abortamentos. HOSPEDEIROS INFECTADOS Os portadores e doentes excretam partículas virais através das fezes, que causa contaminação ambiental. PORTADORES INAPERENTES Portadores assintomáticos no período de incubação ou convalescença. Infecção subclínica ou branca febre, leucopenia e tem excreção em menor quantidade. A única forma de detectar os portadores assintomáticos é realizar testes de diagnóstico do método direto. DOENTES Manifestações moderada/subaguda depressão, febre, diarreia de 1 a 3 dias. Manifestações severa/aguda animais com 6 a 24 semanas de vida, não vacinado, depressão, febre, anorexia, vômito, diarreia e dor abdominal Manifestações hiperaguda morte súbita 12 horas As manifestações moderada e severa tem excreção em grande quantidade. DIAGNÓSTICO MÉTODO DIRETO Utilizado para diagnóstico clínico na rotina clínica. Isolamento viral cultivo celular utilizado em instituições de pesquisas e produção vacinal. Ensaio imunoenzimático – ELISA direto testes rápidos detecta a presença de antígeno (vírus) com a amostra de fezes. Resultado falso + devido a vacinação precoce. PCR detecta e amplifica fragmentos de DNA do parvovírus e sua amostra ideal depende (fecal, sangue, tecidos). Dependendo do tipo de amostra pode dar resultado falso negativo. Resultado falso + devido a vacinação precoce. MÉTODO INDIRETO Ensaio imunoenzimático – ELISA indireto detecta a presença de anticorpos anti-parvovirus no soro. Dá muito resultado falso +, pois animal que recebeu o colostro, vacina ou teve uma infecção passada apresentam anticorpos e difícil afirmar e diferenciar vírus selvagem de vírus vacinal. O ELISA indireto é utilizado como marcador de níveis de imunidade (proteção). NECROPSIA Histopatológico dos tecido após necropsia, com visualiza corpúsculo de inclusão intranuclear nas células cripta intestinal. Linfócito com presença de corpúsculo de inclusão intranuclear TRATAMENTO Objetivo central do tratamento sintomático é o restabelecimento do equilíbrio hidroeletrolítico associado ao combate à infecção bacteriana secundária à destruição do epitélio intestinal. Antibioticoterapia de amplo espectro para evitar translocação da flora bacteriana intestinal (gram -) e septicemia por liberação dos LPS da parede celular. Transfusão sanguínea somente em casos de intenso sangramento intestinal e à perdas de proteínas. Soro hiperimune somente em casos de animais não vacinados, contactantes. Utilizar na fase precoce da doença para impedir os efeitos do parvovírus. Alimentação fornecimento inicial de pequenos volumes de água, e, não existindo vômito, introduz-se gradualmente a dieta, em pequenas porções e várias vezes ao dia de início líquida, passando a pastosa e, por fim, sólida. Algumas opções são rações comerciais de prescrição para doenças gastrintestinais ou, alternativamente, dieta caseira composta de proteínas de alta digestibilidade, com pouca gordura e ausência de fibras. Monitorar contagem leucócitos. GATOS Fluidoterapia solução de RL + suplementar potássio. Antieméticos metoclopramida ou ondansetrona. Antibacterianos ampicilina ou cefalosporina Suplementação vitamina complexo B. Estimulante de apetite cloridrato ciproeptadina (Apevitin BC ®) na dose de 0,1 Ml/Kg em cães e gatos. Somente utilizar quando o animal está na fase de convalescência (recuperação). Interferon felino é antiviral, que serve para controlar a carga viral. Ainda está na fase de estudos com resultados bons e medicação cara. CÃES Fluidoterapia solução de RL + suplementar potássio e glicose. Antieméticos metoclopramida ou ondansetrona. Antibacterianos clorafenicol ou cefalosporina para evitar o choque séptico. Suplementação vitamina complexo B e vitamina C. POPULAÇÃO ABRIGO Risco muito baixo adoção, transferência e dispensa quarentena. Risco moderado transferência dos animais e preferência lar temporário. Alto risco quarentena e monitorar. Risco altíssimo separar animais em pares, quarentena de 14 dias e intenso monitoramento. PROXILAXIA O protocolo vacinal para animais susceptíveis. A imunidade funcional contra o CPV parece ser mediada por anticorpos séricos. Filhotes de cães que adquirem imunidade materna permanecem protegidos contra infecções por CPV por até 13 semanas, e títulos de anticorpos de 1:20, em HI, podem neutralizar vírus vacinais e inviabilizar a imunização ativa; por outro lado, aqueles com títulos menores que 1:80 são suscetíveis à infecção. Vacinas atenuadas, em particular aquelas altamente imunogênicas, obtidas pormenor número de passagens em cultura celular e produzidas em altos títulos, são preferencialmente indicadas para obtenção de soroconversão mais eficiente, além de contornar os problemas da interferência dos anticorpos maternos. Contudo, relatou-se linfopenia transitória em cães vacinados com cepas atenuadas de CPV. Contraindicado vacinação viva atenuada em gestantes e filhotes com menos de 4 semanas de vida. CONTROLE Limpeza ambiental remoção da matéria orgânica. Desinfecção aldeídos (glutaraldeído, formalina), halogênicos à base de hipoclorito de sódio 5%.
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