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Obesidade e Cirurgia Bariátrica APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 3 1. OBESIDADE 6 Diagnóstico da obesidade 7 Prevalência e incidência de obesidade 10 Fisiopatologia da obesidade 11 Tratamento da obesidade 14 Estratégias nutricionais 15 Dietas muito restritivas e efeito sanfona 18 Treinamento físico e emagrecimento 18 2. CIRURGIA BARIÁTRICA 23 Critérios para a cirurgia bariátrica 23 Tipos de cirurgia bariátrica 24 Deficiências nutricionais decorrentes da cirurgia bariátrica 26 Cuidado nutricional antes da cirurgia 27 Cuidado nutricional após a cirurgia 28 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32 OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Ementa da disciplina: A disciplina abordará inúmeros aspectos, de forma detalhada, referente à obesidade, bem como aspectos referentes à cirurgia bariátrica. Objetivo da disciplina: Discutir, com base em evidências científicas, sobre a obesidade e sobre a cirurgia bariátrica. Objetivos específicos: • Apresentar informações detalhadas acerca da obesidade. • Apresentar informações referentes à cirurgia bariátrica. Habilidades e competências a serem alcançadas: Compreender aspectos importantes, de forma aprofundada, acerca da obesidade, bem como aspectos referentes à cirurgia bariátrica. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 4 Bibliografia básica da disciplina: Mahan, L.K.; Escott-Stump, S.; Raymond, J.L. Krause Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª Ed. Elsevier. 2012. Cuppari, L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar da EPM- UNIFESP: Nutrição clínica no adulto. 3ª ed. Manole: São Paulo, 2014. Cozzolino, SMF; Cominetti, C. Livro: Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição, nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. Ed. Manole, 1ª edição, 2013. Cuppari, L. Nutrição nas doenças crônicas não-transmissíveis. Manole, 2009. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 1. OBESIDADE Caracteriza-se como obesidade o acúmulo de gordura corporal que tem implicações à saúde, sendo esta a definição proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O excesso de gordura visceral vincula-se com o desenvolvimento de inúmeros distúrbios, como resistência à insulina (RI), diabetes melito tipo 2 (DM2), dislipidemias, esteatose hepática, hipertensão arterial sistêmica (HAS), isquemia cardíaca, entre outras. As condições mencionadas, cujo risco é aumentado pela obesidade, diminuem a expectativa de vida, aumentando as taxas de morbidade e mortalidade. Não obstante, estas condições têm importante impacto socioeconômico no país. Considerando a relevância da obesidade, cuja prevalência e incidência são crescentes na sociedade atual, é de suma relevância que os profissionais da saúde tenham domínio do estudo acerca da obesidade. Abordar detalhadamente esta condição é, OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 7 justamente, o objetivo desta primeira seção. Diagnóstico da obesidade O diagnóstico do sobrepeso e da obesidade normalmente é realizado por meio de métodos que avaliam, estimam e/ou determinam a composição corporal. Dentre os mais utilizados na prática clínica, destaca-se o índice de massa corpórea (IMC), que é a relação entre peso e estatura, calculado por meio da divisão do peso (em kg) pela estatura ao quadrado (em metros). As classificações a partir do IMC estão apresentadas no Quadro 1. Quadro 1. Classificações a partir do IMC propostas pela OMS. IMC (kg/m2) Classificação < 16,0 Magreza III 16,0 – 16,9 Magreza II 17,0 – 18,4 Magreza I 18,5 – 24,9 Eutrofia 25,0 – 29,9 Sobrepeso 30,0 – 34,9 Obesidade I 35,0 – 39,9 Obesidade II > 40,0 Obesidade III Uma das questões do IMC é que não há diferenciação entre gordura e massa muscular, o que pode levar a uma classificação equivocada. Por exemplo, um indivíduo muito musculoso pode ser classificado como obeso segundo o IMC, quando, na verdade, o “excesso de peso” refere-se à massa muscular e não à gordura. Neste cenário, aliado ao peso, à estatura e ao IMC, sugere- se a avaliação de outras medidas, as quais determinem a composição corporal de forma mais criteriosa, como a aferição de dobras cutâneas por meio de adipômetro, a avaliação de circunferência utilizando fita métrica, a utilização do exame de bioimpedância etc. A partir daí, é possível estimar a composição OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 8 corporal (porcentagem de gordura corporal e de massa muscular) e identificar se a classificação do IMC é real ou não. Para estimar a porcentagem de gordura corporal por meio de dobras cutâneas, pode-se utilizar diversas equações, as quais consideram de 3 a 7 dobras, por exemplo. Dentre as equações mais utilizadas na prática clínica, destacam-se as equações de Jacson, Pollock & Ward, elaboradas entre as décadas de 70 e 80. Salienta-se que a maior parte dos softwares de nutrição, por exemplo, já faz o cálculo da porcentagem de gordura corporal de forma automática, a partir da inclusão das medidas no programa, dispensando a necessidade de o profissional fazer estes cálculos manualmente. Os Quadros 2 e 3 apresentam as classificações de acordo com a porcentagem de gordura corporal. Perceba que as mulheres sempre tendem a ter mais gordura corporal quando em comparação aos homens, principalmente em razão de aspectos hormonais. Quadro 2. Classificação do percentual de gordura para mulheres. Idade (em anos) 18 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 > 60 Excelente < 16 < 17 < 18 < 19 < 20 Bom 16 - 19 17 - 20 18 - 21 19 - 22 20 - 23 Dentro da média 20 - 28 21 - 29 22 - 30 23 - 31 24 - 32 Regular 29 - 31 30 - 32 31 - 33 32 - 34 33 - 35 Alto percentual de gordura > 31 > 32 > 33 > 34 > 35 Fonte: Pollock & Wilmore, 1993. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 9 Quadro 3. Classificação do percentual de gordura para homens. Idade (em anos) 18 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 > 60 Excelente < 11 < 12 < 14 < 15 < 16 Bom 11 - 13 12 - 14 14 - 16 15 - 17 16 - 18 Dentro da média 14 - 20 15 - 21 17 - 23 18 - 24 19 - 25 Regular 21 - 23 22 - 24 24 - 26 25 - 27 26 - 28 Alto percentual de gordura > 23 > 24 > 26 > 27 > 28 Fonte: Pollock & Wilmore, 1993. Quanto à circunferência, a mais utilizada no contexto do sobrepeso e da obesidade é a circunferência de cintura, a qual indica, indiretamente, o conteúdo de gordura visceral. Salienta-se que mulheres com circunferência de cintura maior que 80 cm e maior que 88 cm apresentam, respectivamente, risco aumentado e muito aumentado para desenvolver doenças cardiovasculares, ao passo que homens com circunferência de cintura acima de 94 cm e acima de 102 cm apresentam, respectivamente, risco aumentado e muito aumentado para desenvolver doenças cardiovasculares. Além desta, utiliza-se a circunferência de quadril, a qual, juntamente com a circunferência de cintura, compõe a relação cintura-quadril (divide-se a medida da cintura pela medida do quadril – ambas em centímetros). Vale ressaltar que, tal como o IMC, a relação cintura-quadril também pode levar a uma classificação errônea. Um exemplo desta situação são indivíduos muito magros, que possuem baixa circunferência de cintura e baixa circunferência de quadril, os quais seriam classificadas erroneamente como tendo um alto risco de desenvolver doenças metabólicas. Assim, a avaliação da circunferência de cintura é mais assertiva, quando comparada à circunferência de quadril e à relação cintura-quadril. Além da avaliação de dobras cutâneas e de circunferências OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA10 corporais, pode-se, ainda, aplicar o exame de bioimpedância, o qual consiste na passagem de uma sutil corrente elétrica (imperceptível ao indivíduo que está sendo avaliado) pelos tecidos corpóreos. Os tecidos com mais água, como a massa muscular, são menos resistentes à corrente, ao passo que os tecidos com menos água, como a gordura corporal, são mais resistentes à corrente. Com base na resistência dos tecidos à corrente, equações preditivas estimam as porcentagens de gordura corporal e de massa muscular. Apesar da avaliação por bioimpedância ser bastante comum na prática clínica, alguns estudos sugerem que os dados apresentados por determinados aparelhos de bioimpedância não são altamente confiáveis, sugerindo que, mesmo com a aplicação deste exame, a avaliação com adipômetro e fita métrica ainda seria importante. Uma opção interessante é sempre aplicar todos os métodos e comparar os seus resultados. Vale destacar que existem diversos outros métodos para estimar a composição corporal, no entanto, os apresentados acima são os mais aplicados na prática clínica, especialmente em razão do menor custo e da maior facilidade de aplicação. Fonte: https://saude.ig.com.br/2019-12- 17/segundo-oms-23-bilhoes-de-pessoas- no-mundo-estao-com-sobrepeso-ou- obesidade.html Finalmente, salienta-se que, para pacientes com sobrepeso/obesidade muito acentuada, a aferição de dobras cutâneas e circunferências pode não ser viável. Não obstante, para o profissional cujo público-alvo são indivíduos com sobrepeso ou obesos, é essencial ter uma balança adequada, que suporte e meça pesos elevados, tendo em vista que a maior parte das balanças mede apenas até 110 kg. Além disso, para maior conforto do indivíduo, é preciso que toda a infraestrutura seja adequada a ele, por exemplo, cadeiras mais resistentes (de metal, por exemplo, ao invés de plástico). Prevalência e incidência de obesidade OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 11 A prevalência e a incidência de sobrepeso e de obesidade são alarmantes. Estima-se que cerca de 54% da população brasileira seja classificada como com sobrepeso ou obesidade. Estes dados se tornam ainda mais alarmantes quando se observa o crescimento desenfreado da obesidade infantil, indicando que mais de 30% das crianças brasileiras apresentam sobrepeso ou são obesas. Evidências científicas indicam que crianças acima do peso tendem a manter este quadro na vida adulta, isto é, muito provavelmente, estas crianças se tornarão adultos com sobrepeso ou obesos. Os dados mundiais não são muito diferentes dos observados em território nacional, demonstrando que o sobrepeso e a obesidade atingem mais de 70% dos mexicanos, cerca de 70% dos estadunidenses, 63% dos chilenos, 63% dos argentinos, 63% dos australianos, 60% dos canadenses, 60% dos alemães, 59% dos costa-riquenhos, 56% dos peruanos e 55% dos colombianos. Fisiopatologia da obesidade Fonte:https://www.zoom.com.br/balanca/ deumzoom/melhor-balanca Antigamente, o tecido adiposo era subestimado, sendo considerado apenas como um órgão de armazenamento energético (triacilgliceróis). No entanto, na atualidade, este tecido é visto como um órgão endócrino, pois secreta moléculas de sinalização denominadas adipocinas ou adipocitocinas, as quais apresentam caráter pró- ou anti-inflamatório. É sabido que o excesso de tecido adiposo, como ocorre nos quadros de sobrepeso e de obesidade, vincula-se ao aumento da síntese de citocinas pró- inflamatórias, sendo o quadro de sobrepeso/obesidade considerado como uma condição inflamatória crônica de baixo grau. Interessantemente, a redução da gordura corporal nestes indivíduos diminui a síntese das adipocinas pró- inflamatórias. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 12 Quando há expansão do tecido adiposo, isto é, quando o indivíduo engorda (como no caso de indivíduos com sobrepeso/obesos), há recrutamento e infiltração de macrófagos no tecido adiposo, culminando na síntese de citocinas inflamatórias (maior ativação da via do fator de transcrição nuclear kappa B – NF- kappaB) e inflamação, o que contribui com a patogênese de várias doenças. Salienta-se que, além desta questão inflamatória, a expansão do tecido adiposo em obesos contribui com o aumento do depósito de gordura em inúmeros órgãos, como coração, rins, medula óssea e pulmão, além dos vasos sanguíneos. As adipocinas pró- inflamatórias mais relevantes secretadas pelo tecido adiposo de pacientes obesos são: leptina, resistina, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), IL-6, IL-18 e fator ativador de plasminogênio 1 (PAI- 1). Ressalta-se que, em obesos, as adipocinas pró-inflamatórias estão presentes em elevadas concentrações, induzindo inflamação e aumentando o risco de distúrbios metabólicos, como RI, DM2, dislipidemias e esteatose hepática. Em contrapartida, a síntese de adipocinas com caráter anti- inflamatório é reduzida em obesos, sendo que as principais adipocinas anti-inflamatórias são: adiponectina, IL-2, IL-10, grelina e secreted frizzled-related protein 5 (SFRP5). Evidências científicas indicam que o TNF- α suprime a fosforilação e a atividade do receptor tirosina quinase (IR) e do substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1) nos músculos e no tecido adiposo, reduzindo a síntese e a translocação do transportador de glicose 4 (GLUT-4) para a membrana, o que compromete a captação de glicose via ação da insulina. De um modo geral, o aumento das concentrações de TNF- α, tanto no tecido adiposo quanto no sangue de obesos, contribui com o desenvolvimento de RI. Destaca-se que a redução da gordura corporal promove diminuição da expressão de TNF- α em obesos. Outra adipocina que está elevada em obesos e que está vinculada à RI é a IL-6, a qual inibe a via de sinalização da ação da insulina por regular a expressão do SOC3 – uma molécula que altera a fosforilação do IR e do IRS-1. Não obstante, A IL-6 parece inibir a expressão do OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 13 GLUT-4 nos tecidos muscular e hepático. Destaca-se que os valores séricos de IL-6 estão associados à medida da circunferência da cintura, bem como ao IMC, tendo em vista que indivíduos com IMC maior tendem a apresentar maior concentração de IL-6 e maior risco de hiperinsulinemia, o que, por sua vez, favorece o desenvolvimento de RI. A resistina, que também está aumentada na obesidade, vincula-se com o desenvolvimento de RI, inflamação e doenças cardiovasculares. Parece que o TNF- α participa da síntese de resistina, sendo que, havendo a redução de TNF- α com o emagrecimento, a resistina, por consequência, também se reduziria. O mecanismo pelo qual a resistina induz RI é similar ao da IL-6, isto é, por meio de regulação da SOC-3. Não obstante, a resistina ainda induz a síntese de inúmeras moléculas pró- inflamatórias, como a IL-6, e bloqueia a ação de moléculas anti- inflamatórias, como a adiponectina. A proteína ligadora do retinol 4 (RBP4) é sintetizada preferencialmente pelo tecido adiposo visceral em obesos e resistentes à insulina, sendo considerada como um marcador da expansão do tecido adiposo intra-abdominal e da inflamação. A RBP4 atua inibindo a fosforilação do IRS-1, contribuindo com a RI, bem como contribui com o desenvolvimento de HAS, dislipidemias e aumento do IMC, configurando a síndrome metabólica. Fonte:https://www.meionorte.com/curiosi dades/cura-da-obesidade-pode-estar- em-comer-argila-afirmam-cientistas- 354909 Além disso, obesos apresentam altas concentrações de leptina (em razão do excesso de tecido adipososintetizando esta adipocina), porém, as suas concentrações elevadas induzem as células-alvo a se tornarem resistentes a sua ação. Sabe-se que a leptina controla mecanismos que inibem a ingestão alimentar (induzindo a saciedade), bem como mecanismos que induzem o OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 14 aumento do gasto energético. Logo, a resistência à leptina presente nos pacientes obesos contribui ainda mais com o aumento da gordura corporal nestes indivíduos, representando um ciclo vicioso. Diferentemente dos fatores acima mencionados, a expressão de adiponectina reduz conforme o tecido adiposo se expande (ou seja, conforme a obesidade se desenvolve). A adiponectina protege o organismo contra inúmeras alterações metabólicas associadas à obesidade, pois melhora a sensibilidade à insulina, atenua a hiperglicemia, induz a oxidação de gordura, inibe a síntese de TNF- α, aumenta a síntese de IL-10 (anti- inflamatória) etc. Tratamento da obesidade Fonte:https://balancacerta.com.br/obesid ade/ O principal objetivo no que se refere ao tratamento da obesidade é a redução da gordura excessiva (emagrecimento). Para tal, a nutrição e o exercício físico desempenham papel de destaque. Não obstante, em determinados casos, pode utilizar-se de medicamentos e cirurgias, como a cirurgia bariátrica. Este último recurso (cirurgia bariátrica) será debatido em detalhes na aula 02. O termo emagrecimento não se refere à diminuição do peso, mas sim diminuição da gordura corporal e/ou aumento do conteúdo de massa muscular. Assim, um indivíduo pode estar mais leve na balança, mas estar mais gordo, caso ele tenha perdido massa muscular e/ou ganhado gordura. De forma oposta, um indivíduo pode estar mais pesado na balança e estar mais magro, por ter perdido gordura corporal e/ou ganhado massa muscular. Para se conseguir o emagrecimento é necessário estar em balanço energético negativo, isto é, o consumo de energias precisa ser inferior ao gasto energético. A obtenção do dado do gasto energético total (GET) de um indivíduo se dá por meio de inúmeras equações preditivas, as OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 15 quais consideram o peso, a estatura, a idade e o nível de atividade física. Logo, é compreensível que o gasto energético seja amplamente variável individualmente. Vale ressaltar que a dieta será baseada no GET, sendo que se o objetivo é emagrecer, a dieta terá valor inferior ao GET, ao passo que se o indivíduo quiser aumentar o seu peso, a dieta deverá fornecer mais calorias que o GET. Sabe-se que um quilo representa um pouco mais de 7 mil kcal, ou seja, para perder um quilo, é necessário deixar de consumir 7 mil kcal, enquanto para ganhar um quilo é preciso consumir 7 mil kcal a mais durante um determinado período de tempo. Exemplificando, se o objetivo é perder dois quilos (14 mil kcal) em um mês, sabe-se que é necessário descontar 466,6 kcal (arredondando 467 kcal) do GET por dia para alcançar este objetivo (14 mil kcal divididas por 30 dias = 466,6 kcal a menos todos os dias). A prática de exercício físico é uma importante aliada no emagrecimento, pois favorece um maior gasto energético, evitando a necessidade da dieta ser extremamente hipocalórica. O exercício físico no contexto da obesidade será debatido nos próximos tópicos. Estratégias nutricionais Fonte:https://pe.unit.br/blog/noticias/nutri cao-e-nova-graduacao-da- facipe/attachment/nutricao-clinica-cover/ Embora exista muita polêmica acerca de dietas “low carb” (com teor de carboidrato inferior às recomendações) e “low fat” (com teor de lipídios inferior às recomendações), as evidências científicas demonstram que a estratégia mais eficaz é a redução calórica da dieta, independentemente da proporção de macronutrientes. Logo, se a dieta for low carb e/ou low fat, mas a ingestão energética for igual ou superior ao gasto energético, não haverá emagrecimento. Neste contexto, recomenda-se que, quando o objetivo for emagrecimento, a dieta forneça menos energia que o gasto energético, e que a proporção de macronutrientes seja àquela OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 16 recomendada pela OMS ou pelas DRIs (Dietary Reference Intakes). Fonte: https://globoesporte.globo.com/eu- atleta/nutricao/noticia/dieta-low-carb- como-funciona-e-o-que-comer-confira- dicas-e-um-cardapio-semanal.ghtml As DRIs recomendam que os carboidratos contemplem de 45 a 65% do valor energético total (VET), enquanto os lipídios componham de 20 a 35% e as proteínas representem de 10 a 35%. Já a OMS recomenda que os carboidratos representem de 55 a 75% do VET, enquanto os lipídios contemplem de 10 a 30% e as proteínas componham de 10 a 15%. Além da redução de energia da dieta e da proporção adequada de macronutrientes, deve-se adotar estratégias alimentares que promovam saciedade, de modo que o indivíduo não sinta fome de forma extrema em vista da redução energética. As fibras alimentares e as proteínas apresentam potencial sacietogênico, sendo componentes importantes das dietas que visam emagrecimento. Sabe-se que uma dieta rica em proteínas vegetais e em fibras, e com baixas concentrações de gordura, açúcar e sal, está associada com a manutenção de um peso corporal saudável. Recomenda-se que a ingestão de açúcares (de adição) seja inferior a 10% do VET. A mesma recomendação é feita para as gorduras saturadas (consumo inferior a 10% do VET). Quanto às fibras, sugere-se que a ingestão seja, no mínimo, de 20 gramas por dia (valor difícil de ser alcançado se a dieta não contemplar vegetais e alimentos integrais). As fibras alimentares não são digeridas ou absorvidas no trato gastrointestinal, mas desempenham funções importantes nesse local, como retardo no esvaziamento gástrico (favorecendo a saciedade), fermentação pela microbiota intestinal (gerando ácidos graxos de cadeia curta, os quais desempenham funções biológicas importantes), retardo e/ou redução na absorção de açúcares e gorduras, melhora na constipação OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 17 intestinal, permitindo que as fezes sejam mais macias e que a defecação seja mais regular, entre outros. Os efeitos das fibras mais associados com a manutenção do peso corporal são: (i) os alimentos ricos em fibras são menos calóricos, (ii) os alimentos ricos em fibras exigem maior tempo de mastigação, (iii) há retardo no esvaziamento gástrico e maior sensação de plenitude após o consumo de fibras, (iv) há retardo na absorção de açúcares e gorduras em razão da maior viscosidade promovida pelas fibras, (v) há fermentação das fibras pela microbiota intestinal e (vi) há liberação de hormônios intestinais associados à saciedade. Em virtude de todos os efeitos biológicos listados, o consumo diário de 25 - 29 gramas de fibras está associado à redução do risco de doenças cardiovasculares, DM2, HAS, hipercolesterolemia, câncer colorretal e, finalmente, sobrepeso e obesidade. Além das fibras alimentares, o uso de ingredientes adoçantes de baixo valor calórico ou sem calorias é uma interessante estratégia para auxiliar no emagrecimento de indivíduos com sobrepeso ou obesidade, apesar desta estratégia não ser aprovada unanimemente pelos profissionais da saúde. A utilização destes produtos, ao invés de açúcares convencionais, favorece a diminuição da ingestão calórica. Não obstante, estes adoçantes podem favorecer o controle da glicemia. Outra estratégia vastamente debatida no contexto do emagrecimento são os alimentos com caráter “termogênico”. Evidências indicam que estes até podemauxiliar no emagrecimento, desde que associados a hábitos saudáveis, como dieta adequada (propícia ao emagrecimento) e prática de exercícios físicos. Ressalta-se que o efeito dos termogênicos apresentado nos estudos é bastante sútil, por exemplo, perda de um quilo com uso contínuo. Os alimentos termogênicos mais estudados são café, canela, gengibre, chá verde e pimenta. Finalmente, é interessante salientar que o sobrepeso e a obesidade são condições delicadas que exigem um tratamento complexo e multidisciplinar. Neste aspecto, a associação de estratégias pode ser ainda mais OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 18 efetiva para prevenir e tratar estes quadros. Dietas muito restritivas e efeito sanfona Fonte:https://www.lucianapepino.com.br/ blog/efeito-sanfona-o-que-e-e-como- evitar/ Evidências têm demonstrado que dietas muito restritivas não são eficazes para promover o emagrecimento por diversos motivos: (i) por serem muito restritivas e pouco palatáveis, os indivíduos não conseguem aderir por longos períodos, logo, estes indivíduos emagrecem e depois engordam novamente, o que chamamos de “efeito sanfona”, (ii) as dietas muito restritivas reduzem o GET do organismo, o que dificulta o emagrecimento, (iii) após a prática de dietas muito restritivas, o indivíduo passa a sentir mais fome do que sentia antes, dessa forma, come mais e engorda, (iv) finalmente, as dietas muito restritivas induzem perda elevada de massa magra, o que, por definição, significa engordar. Além disso, quando o indivíduo recupera o peso perdido (“efeito sanfona”), o peso que ele ganha é majoritariamente na forma de gordura. Logo, a cada ciclo do “efeito sanfona” (emagrece e depois engorda novamente), o indivíduo reduz sua concentração de massa magra e aumenta a sua porcentagem de gordura corporal. Salienta-se que este estado – elevada porcentagem de gordura corpórea e baixa porcentagem de massa magra – é propicia para o desenvolvimento de doenças e redução da qualidade de vida. Finalmente, destaca-se novamente que as estratégias mais eficazes para o emagrecimento e para a manutenção do peso corporal (sem que haja “efeito sanfona”) são a alteração na dieta e a prática de exercícios físicos, a qual será abordada adiante. Treinamento físico e emagrecimento Os exercícios físicos de caráter aeróbio são aqueles que promovem maior dispêndio energético e, por isso, são considerados como importantes OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 19 estratégias para o emagrecimento. É possível observar que estes tipos de exercícios promovem maior gasto de equivalentes metabólicos (METs). Perceba que exercícios de caráter aeróbio, como o ciclismo, demandam um maior gasto energético quando comparados com exercícios de caráter anaeróbio, como a musculação (Quadro 4). Quadro 4. Valor em METs dependendo do exercício físico. Exercício físico METs Basquete 6,0 Futsal 7,0 Handebol 8,0 Vôlei 4,0 Natação 7,0 Polo 10,0 Hidroginástica 4,0 Ginástica 4,0 Ballet e Jazz 4,8 Tênis 7,0 Ciclismo 8,0 Remo 7,0 Esquiar 7,0 Musculação 3,0 Yoga 2,5 Alongamento 2,5 Adaptado de Ainsworth et al., 2000. Dessa forma, quando associados a uma dieta hipocalórica, os exercícios aeróbios auxiliam na promoção e na manutenção do emagrecimento. Vale ressaltar que, caso haja a prática de exercício aeróbio, mas a dieta forneça mais energia que o gasto energético, ocorrerá aumento do peso corporal da mesma forma que ocorreria com um indivíduo sedentário, o que demonstra que a prática do exercício físico deve ser OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 20 realizada em associação com a dieta e de forma sábia. Antigamente, pensava-se que apenas os exercícios de caráter aeróbio auxiliassem no emagrecimento, por promoverem maior gasto energético. No entanto, na atualidade, compreende-se a importância dos exercícios de força no processo de emagrecimento. Os principais motivos pelos quais o exercício de força pode emagrecer são: o exercício de força aumenta a massa muscular, o que por si só já caracteriza o emagrecimento (vide definição de emagrecimento). O tecido muscular é um dos mais ativos do organismo, logo, o aumento da massa muscular promove aumento do gasto energético total, favorecendo o emagrecimento. Após a sessão de treinamento de força, há aumento do gasto energético (parcialmente devido ao consumo excessivo de oxigênio pós-exercício - EPOC). Em razão dos benefícios promovidos pelo exercício de força, sugere-se que programas de emagrecimento incluam tanto exercícios aeróbios (a fim de aumentar o gasto energético) quanto exercícios de força (a fim de aumentar a massa muscular e, consequentemente, o gasto energético). Enfatiza-se que a prática de exercícios de força pode melhorar, de um modo geral, o estado de saúde e a qualidade de vida, permitindo a execução de atividades cotidianas que não eram conseguidas antes, como subir uma escada. A prática de exercícios mistos pode, também, ser uma estratégia interessante. Fonte:https://www.secad.com.br/blog/edu cacao-fisica/obesidade-exercicios-fisicos/ Vale salientar que o volume, a intensidade, a duração e a frequência dos treinamentos físicos dependerão da condição física do indivíduo, devendo haver cautela para não sobrecarregar o organismo (possivelmente antes sedentário), de modo a evitar o desenvolvimento de lesões e o aumento do risco de eventos cardiovasculares, por exemplo. É preciso entender que, para um indivíduo pesado, a execução do exercício físico pode ser muito árdua, mesmo sem cargas. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 21 É importante se certificar de que toda a infraestrutura e equipamentos utilizados pelo indivíduo com sobrepeso e obeso sejam capazes de suportar o peso excessivo. Isso é válido, inclusive, para objetos de uso pessoal, como tênis, o qual, se estiver gasto ou não suportar o peso do indivíduo, favorecerá o desenvolvimento de lesões. Finalmente, estudos experimentais com animais demonstraram que ratos exercitados durante 20 a 60 minutos diariamente tiveram menor ingestão calórica (indicando um menor apetite) e perderam peso. Os animais que se exercitaram na intensidade mais alta tiveram maior diminuição no apetite e no ganho de peso, quando comparados aos animais treinados na intensidade mais baixa. Constatou-se, ainda, que esta perda do apetite ocorre principalmente em indivíduos sedentários, quando estes passam a praticar exercício físico. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 23 2. CIRURGIA BARIÁTRICA A cirurgia bariátrica é uma opção de tratamento da obesidade, cujo objetivo final é permitir uma redução robusta da gordura e do peso corporal, a qual, provavelmente, não poderia ser obtida sem a cirurgia. Nesta seção, aspectos referentes à cirurgia bariátrica serão explanados em detalhes. Critérios para a cirurgia bariátrica Os critérios que tornam os pacientes elegíveis para a cirurgia bariátrica são: IMC maior que 35 kg/m2, na presença de comorbidades (Quadro 5) ou IMC acima de 40 kg/m2 mesmo sem comorbidades. Quadro 5. Comorbidades associadas à obesidade que permitem a cirurgia bariátrica. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 24 SISTEMA AFETADO COMORBIDADES Sistema cardiovascular HAS, dislipidemias, infarto do miocárdio, angina, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular encefálico, hipertensão e fibrilação atrial, cardiomiopatia dilatada, cor pulmonale, veias varicosas e doença hemorroidária e hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebri).Sistema respiratório Apneia do sono, síndrome de hipoventilação e asma grave não controlada. Sistema urinário e reprodutor Incontinência urinária de esforço na mulher, infertilidade masculina e feminina, disfunção erétil e síndrome dos ovários policísticos. Sistema osteoarticular Osteoartroses e hérnias discais. Sistema gastrointestinal Refluxo gastroesofageano com indicação cirúrgica, colecistopatia calculosa, pancreatites agudas de repetição e esteatose hepática. Demais comorbidades Diabetes, estigmatização social e depressão. Quanto à idade dos pacientes, estes podem ser operados a partir dos 16 anos, sendo que, para indivíduos com idade inferior a 18 anos, exige-se a inclusão de um pediatra na equipe multidisciplinar, devendo observar-se a consolidação das cartilagens das epífises de crescimento dos punhos. De um modo geral, para indivíduos com idade inferior a 18 anos, se deve certificar de que a cirurgia bariátrica não comprometerá o crescimento e desenvolvimento. Tipos de cirurgia bariátrica Existem inúmeros tipos de cirurgia bariátrica, sendo que as que são indicadas e não consideradas como experimentais (já por apresentarem elevado embasamento científico) são: banda gástrica ajustável, gastrectomia vertical, derivação gastrojejunal em Y de Roux e a OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 25 cirurgia de Scopinaro ou de “switch duodenal”. Fonte: https://oparana.com.br/noticia/pos- bariatrica-quando-a-cirurgia-plastica-e- indicada/ Na banda gástrica ajustável, coloca-se um dispositivo em forma de anel em torno da porção superior do estômago, com o objetivo de diminuir o tamanho deste, limitando a ingestão alimentar. Já a gastrectomia vertical é mais severa, pois consiste na retirada de parte do estômago, o que torna esta cirurgia irreversível. Na derivação gastrojejunal em Y de Roux, o estômago é dividido em dois compartimentos por meio de grampeamento, sendo que a maior porção é excluída do trato gastrointestinal, enquanto o estômago reduzido (que comporta de 30 - 50 ml) é ligado a uma porção do jejuno. Neste cenário, não há digestão suficiente no estômago e o bolo alimentar chega praticamente não digerido no intestino, conferindo maior saciedade. Como resultado desta cirurgia, há redução da síntese de grelina (hormônio que estimula o apetite), bem como aumento da síntese do hormônio GLP-1, o qual é responsável por induzir a sensação de saciedade. A cirurgia de Scopinaro consiste no corte transversal do estômago (retira-se 2/3 distais do estômago). O remanescente do estômago (1/3 proximal remanescente) é costurado ao intestino dividido em forma de “Y”. Como resultado deste procedimento, o alimento ingerido entra em contato com o suco biliar e pancreático (promovendo a digestão) nas porções finais do intestino delgado (que, somadas, têm cerca de 50 a 100 cm). O switch duodenal é bastante similar à cirurgia de Scopinaro, sendo que a diferença entre estas técnicas é apenas a forma de corte do estômago, onde, na primeira (switch duodenal), o estômago é cortado longitudinalmente. Não obstante, o piloro é preservado no switch duodenal. Ambas as técnicas (cirurgia de Scopinaro e switch duodenal), reconhecidamente, induzem significativa redução de gordura e de peso corporal. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 26 Deficiências nutricionais decorrentes da cirurgia bariátrica Como apresentado no tópico anterior, a maior parte dos tipos de cirurgia bariátrica limita a ingestão alimentar de forma significativa, bem como reduz a área de digestão e de absorção de nutrientes. Ambas as situações – redução drástica da ingestão alimentar e redução da digestão/absorção – são propícias para o desenvolvimento de deficiências nutricionais importantes. Somado a estas condições, alguns pacientes submetidos à cirurgia bariátrica desenvolvem intolerâncias alimentares, repercutindo na exclusão de determinados alimentos da dieta. Fonte:https://saudedamente.com.br/vita mina-c-rosto No intuito de identificar e de acompanhar as deficiências nutricionais já instauradas, utilizam-se exames laboratoriais. Além disso, deve-se proceder o exame físico com frequência para identificar sinais/sintomas resultantes de deficiências nutricionais. Salienta-se, entretanto, que no estágio inicial da maioria das deficiências nutricionais não há manifestação de sinais/sintomas, evidenciando a importância dos exames bioquímicos. Fonte:https://brasilescola.uol.com.br/saud e-na-escola/vitaminas.htm As deficiências nutricionais mais comuns em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica são: vitaminas do complexo B (B1, B2, B3, B7, B9, B12), vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), vitamina C, ferro, cálcio, fósforo, magnésio, selênio, cobre, zinco, aminoácidos e proteínas, e outras. No intuito de evitar as deficiências nutricionais, é de suma importância utilizar suplementos alimentares. Ressalta-se que os nutrientes que deverão ser suplementados OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 27 dependem do tipo de cirurgia bariátrica que foi realizada, isto é, qual a porção gastrointestinal foi limitada. Por exemplo: o cálcio é vastamente absorvido no duodeno, logo, cirurgias que limitaram esta porção intestinal repercutirão em menor absorção de cálcio, devendo-se proceder com a suplementação. Em razão das inúmeras deficiências nutricionais comuns aos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, alguns profissionais optam pela suplementação com suplemento vitamínico-mineral (que contempla inúmeros nutrientes). No entanto, nestes, podem ocorrer interações entre nutrientes, prejudicando a absorção de vários deles. Assim, se o paciente apresentar alguma deficiência muito específica, por exemplo, anemia por deficiência de ferro, recomenda-se que este nutriente seja administrado de forma isolada, e não em conjunto com outros nutrientes. Cuidado nutricional antes da cirurgia Após a decisão da cirurgia, é preciso que o indivíduo se consulte com um nutricionista (caso já não o faça) para que este conduza uma avaliação antropométrica completa, a qual será utilizada como parâmetro para verificar as perdas de gordura e de peso após a cirurgia (normalmente, utiliza-se bioimpedância, em razão da dificuldade de utilizar adipômetro e fita métrica nestes pacientes). Fonte:https://www.sallet.com.br/como- deve-ser-a-dieta-antes-da-cirurgia- bariatrica/ Além disso, é essencial que o indivíduo compreenda como será a sua vida pós-cirurgia e já inicie um programa alimentar para perda ponderal de peso, o qual deve objetivar modificar os principais “equívocos alimentares” do paciente. Não obstante, deve-se já pesquisar, por meio de exames bioquímicos, a presença de deficiências nutricionais, bem como alertar o paciente que estes eventos podem se agravar ou ocorrer após a cirurgia. Os exames laboratoriais também devem contemplar OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 28 parâmetros gerais, como perfil glicídico e lipídico. O nutricionista também deve estar atento à presença de compulsão alimentar, a qual, dependendo do grau, pode até mesmo inviabilizar a cirurgia bariátrica. Ressalta-se a importância do parecer do psicólogo ou psiquiatra acerca desta questão. Para que o indivíduo já comece a se acostumar com o regime que seguirá após a cirurgia, cerca de 3 a 5 dias antes desta, sugere-se iniciar a dieta líquida, a qual deve ser hipocalórica e bastante fracionada ao longo do dia. Cuidado nutricional após a cirurgia Após a cirurgia, a dieta é bastante criteriosa, sendo que no primeiro dia o indivíduo devepermanecer em jejum. No segundo dia, o indivíduo receberá dieta líquida contendo água, chá, água de coco e caldos de legumes, principalmente. Há uma importante limitação quanto à quantidade ofertada em cada refeição, devendo-se ingerir de 180 a 250 ml por refeição, os quais devem fracionados, de modo a se ingerir de 30 a 50 ml a cada 15 minutos. Esta prática é necessária em virtude da redução drástica do tamanho do estômago, sendo que, se ela não for respeitada, é possível que ocorram consequências graves, podendo colocar em risco até mesmo a vida do paciente. Em razão disso, é de suma importância que o paciente eleito para a cirurgia bariátrica não apresente compulsão alimentar. Fonte:http://www.gastromed.com.br/cirur gia-de-obesidade/pos-operatorio- orientacao-nutricional/ Do terceiro ao décimo quinto dia, o indivíduo deve receber dieta líquida, sem sacarose e sem lactose, mantendo a quantidade e o fracionamento por refeição (180 - 250 ml por refeição, fracionados em 30 - 50 ml a cada 15 minutos). Do décimo sexto ao vigésimo nono dia, o indivíduo receberá dieta líquida pastosa, ainda sem sacarose e sem lactose, na mesma quantidade por OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 29 refeição (180 - 250 ml), porém fracionados em apenas 30 ml a cada 15 minutos. Pode-se incluir no cardápio carnes moídas ou desfiadas, arroz "papa" e purê de legumes, por exemplo. Deve-se iniciar a refeição com o prato proteico. Durante todo o período de dieta líquida, o nutricionista precisa orientar o paciente quanto à ingestão de água, a qual deve ocorrer no mesmo esquema que o da ingestão alimentar, isto é, com fracionamento da quantidade, de modo a se ingerir, no máximo, 50 ml a cada 15 minutos. Fonte:https://panelinhafit.com.br/blog/be ber-agua-ajuda-a-emagrecer-e-a- manter-o-peso Finalmente, a partir do trigésimo dia, o indivíduo poderá consumir dieta sólida, sendo que a evolução desta deve ocorrer de acordo com a tolerância do paciente. Sugere-se a inclusão gradativa de alimentos, observando se estes são bem tolerados ou não. A dieta deve ser fracionada em 6 a 7 refeições por dia, com consumo mínimo diário de 70 gramas de proteínas. A ingestão energética deve ser cerca de 5 kcal por kg de peso desejável por dia (300 - 500 kcal por dia). Ressalta-se que a distribuição de macronutrientes deve ser normal, isto é, dentro do recomendado pela OMS e pelas DRIs. É importante compreender que a dieta líquida, bem como o período inicial da dieta sólida não são completos no que se refere à composição nutricional, havendo necessidade de suplementação (não somente de micronutrientes, mas também de macro, como proteínas e ômegas). Não obstante, em razão deste tipo de dieta (especialmente a líquida), o indivíduo pode desenvolver alguns tipos de efeitos colaterais, como constipação intestinal. Nestes casos, pode-se sugerir suplementos como prebióticos, probióticos, simbióticos e outros que podem assessorar na atenuação deste problema. Quanto à transição para a dieta sólida, é importante que o nutricionista faça algumas instruções, como a importância do consumo limitado de sacarose (evitando a síndrome de OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 30 Dumping), a importância da mastigação adequada, bem como de não se consumir alimentos e líquidos de forma concomitante (em virtude da redução do tamanho do estômago, principalmente). Enfatiza-se inúmeros pacientes relatam intolerância a alguns alimentos, como carnes e pães. Considerações finais Grande parte dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica não emagrece de forma suficiente para que alcancem o seu peso ideal. Não obstante, inúmeros pacientes voltam a engordar, readquirindo grande parte do peso perdido. Neste contexto, é importante que os pacientes sejam instruídos acerca de todas estas questões, incluindo dificuldades e perspectivas, antes de aderirem a este tratamento. Ressalta-se o importante papel educativo do nutricionista neste cenário. OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ainsworth B, Haskell W, Whitt M, Irwin M, Swartz A, Strath S, et al. Compendium of physical activities: an update of activity codes and MET intensities. Med Sci Sport Exerc. 2000;32(9):498–504. Alvarenga, M., Figueiredo, M., Timerman, F.; Antonaccio, C. Nutrição comportamental. 2ª Ed. São Paulo: Manole. 2019. 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