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SUMÁRIO 1 DOENÇAS DESENCADEADAS OU AGRAVADAS PELA OBESIDADE NO ADULTO 4 1.1 Síndrome Metabólica............................................................................ 5 1.2 Diagnóstico ........................................................................................... 6 1.3 Tratamento ........................................................................................... 6 2 DIABETES MELITus TIPO 2 ....................................................................... 7 2.1 Doença Cardiovascular ........................................................................ 8 3 Apneia obstrutiva do sono........................................................................... 9 4 DOENÇAS DO TRATO DIGESTÓRIO ..................................................... 11 4.1 Doenças da Visícula Biliar .................................................................. 11 4.2 Pancreatite Aguda .............................................................................. 12 4.3 Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica ou Esteatose Hepática .. 13 4.4 Tratamento para esteatose hepática .................................................. 14 5 NEOPLASIAS ........................................................................................... 15 5.1 Obesidade No Adulto ......................................................................... 17 5.2 Etiologia da obesidade ....................................................................... 18 6 TRATAMENTO DA OBESIDADE ............................................................. 20 6.1 Tratamento Farmacológico ................................................................. 20 6.2 Duração Do Tratamento ..................................................................... 20 6.3 Medicamentos Aprovados No Brasil .................................................. 20 6.4 O Tratamento Dietético Da Obesidade............................................... 21 6.5 Dietas balanceadas ............................................................................ 23 6.6 Dietas de muito baixas calorias .......................................................... 24 6.7 Substituição de refeições ................................................................... 25 6.8 Dieta dash .......................................................................................... 26 6.9 Horários e frequência das refeições ................................................... 26 6.10 Guia alimentar ................................................................................. 27 6.11 Atividades físicas mais recomendadas ........................................... 28 6.12 Caminhada ...................................................................................... 28 6.13 Corrida ............................................................................................ 29 6.14 Natação ........................................................................................... 30 7 OBESIDADE EM PEDIATRIA ................................................................... 31 7.1 Atividade física para crianças e adolescentes .................................... 33 7.2 Genética da obesidade....................................................................... 33 7.3 Diabetes tipo 1 na infância ................................................................. 36 7.4 Hipertensão arterial na infância .......................................................... 38 7.5 Tratamento da obesidade infantil ....................................................... 39 7.6 Tratamento dietético ........................................................................... 40 7.7 Intervenções terciárias de tratamento ................................................ 40 7.8 Tratamento medicamentoso ............................................................... 41 7.9 Sibutramina ........................................................................................ 41 7.10 Orlistate ........................................................................................... 42 7.11 Metformina ...................................................................................... 42 7.12 Octreotida ........................................................................................ 42 7.13 Hormônio de crescimento recombinante (hGH) .............................. 43 7.14 Leptina recombinante ...................................................................... 43 7.15 Cirurgia bariátrica em adolescentes ................................................ 43 BIBLIOGRAFIAS ............................................................................................ 45 1 DOENÇAS DESENCADEADAS OU AGRAVADAS PELA OBESIDADE NO ADULTO Fonte: www.mdsaude.com A obesidade é uma doença cada vez mais comum, cuja prevalência já atinge proporções epidêmicas. Uma grande preocupação médica é o risco elevado de doenças associadas ao sobrepeso e à obesidade, tais como diabetes, doenças cardiovasculares (DCV) e alguns cânceres. É importante o conhecimento das comorbidades mais frequentes para permitir o diagnóstico precoce e o tratamento destas condições, e para identificar os pacientes que podem se beneficiar com a perda de peso. Isso permitirá a identificação precoce e avaliação de risco, de forma que as intervenções adequadas possam ser realizadas para reduzir a mortalidade associada. Vários estudos têm demonstrado que a obesidade está fortemente associada a um risco maior de desfechos, sejam cardiovasculares, câncer ou mortalidade. No estudo National Health and Nutrition Examination Study III (NHANES III), que envolveu mais de 16 mil participantes, a obesidade foi associada a um aumento da prevalência de diabetes tipo 2 (DM2), doença da vesícula biliar, doença arterial coronariana (DAC), hipertensão arterial sistêmica (HAS), osteoartrose (OA) e de dislipidemia. Resultados de outros estudos, entre eles o Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe (SHARE) e o Swedish Obese Study (SOS), apontam para uma forte associação entre obesidade e a prevalência de doenças associadas e queixas de saúde física. A obesidade é causa de incapacidade funcional, de redução da qualidade de vida, redução da expectativa de vida e aumento da mortalidade. Condições crônicas, como doença renal, osteoartrose, câncer, DM2, apneia do sono, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), HAS e, mais importante, DCV, estão diretamente relacionadas com incapacidade funcional e com a obesidade. Além disso, muitas dessas comorbidades também estão diretamente associadas à DCV. Muitos estudos epidemiológicos têm confirmado que a perda de peso leva à melhora dessas doenças, reduzindo os fatores de risco e a mortalidade. 1.1 Síndrome Metabólica A síndrome metabólica caracteriza-se por uma combinação de fatores de risco para doença cardiovascular e diabetes melitus tipo 2. Comumente inclui excesso de gordura abdominal, resistência à insulina e pelo menos um dos seguintes fatores: altos níveis séricos de triglicerídeos, níveis reduzidos de colesterol HDL e hipertensão. Causas, complicações, diagnósticos e tratamentos são similares aos da obesidade. A síndrome metabólica é um problema sério em países desenvolvidos. A síndrome metabólica é muito comum, possivelmente afetando mais de 40% das pessoas com mais de 50 anos de idade nos Estados Unidos. Crianças e adolescentes podem desenvolvê-la, mas nesses grupos a definição não está bem estabelecida. O desenvolvimento da síndrome metabólica depende tanto da distribuição quanto da quantidade de gordura. O excesso de gordura abdominal (obesidade central), em particular quando resulta em alta razão cintura-quadril (refletindo uma razão massa muscular-gordura relativamente baixa), aumenta o risco. A síndrome é menos comum entre as pessoas que acumulam gordura no quadril (“emforma de pera”) e naquelas que apresentam baixa relação cintura-quadril. O excesso de gordura abdominal ocasiona proliferação de ácidos graxos livres na veia porta, aumentando a concentração de gordura no fígado. A gordura também se acumula nas células musculares. Ocorre resistência à insulina, com hiperinsulinemia. O metabolismo da glicose é prejudicado, havendo dislipidemias e hipertensão. Os níveis séricos de ácido úrico são elevados e se desenvolve um estado protrombótico (com níveis aumentados de fibrinogênio e fator ativador de plasminogênio tipo I) e inflamatório. Os pacientes apresentam maior risco para apneia obstrutiva do sono. Outros riscos incluem esteatose não alcoólica, doença renal crônica, síndrome do ovário policístico, baixo nível de testosterona, disfunção erétil ou ambos. 1.2 Diagnóstico Circunferência da cintura e pressão arterial; Glicose plasmática em jejum e perfil lipídico; Triagem é importante. História familiar mais medida da cintura e pressão arterial são parte dos cuidados de rotina. Se pacientes com história familiar de diabetes tipo 2, particularmente aqueles com mais de 40 anos, tiverem medida de circunferência maior que o recomendado para raça e sexo, deve-se determinar glicemia de jejum e perfil lipídico. A síndrome metabólica possui muitas definições diferentes, mas na maioria das vezes é diagnosticada na presença de pelo menos três dos seguintes fatores: excesso de gordura abdominal, glicose plasmática em jejum aumentada, hipertensão, alto nível de triglicerídeos e baixo nível de colesterol HDL. 1.3 Tratamento Dieta saudável e atividade física Metformina em alguns casos Tratamento de fatores de risco cardiovascular Idealmente, a abordagem resulta em perda de peso com base em dieta saudável e atividade física regular, incluindo uma combinação de exercícios aeróbicos e treino de resistência, reforçados com terapia comportamental. A metformina, um sensibilizador de insulina, pode ser útil. Perda de peso de cerca de 7% pode ser suficiente para reverter a síndrome; se não, cada característica deve ser controlada para que se alcancem os objetivos recomendados. O tratamento medicamentoso é bastante eficaz. Outros fatores de risco cardiovascular (p. ex., cessação do tabagismo) também devem ser abordados. O aumento da atividade física proporciona benefícios cardiovasculares mesmo que não haja perda de peso. Alimentos que reduzem a gordura abdominal Fonte: 2kxna23d9vnw2aeccke4swn7.wpengine.netdna-cdn.com 2 DIABETES MELITUS TIPO 21 A obesidade tem sido apontada como um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2. Estima-se que entre 80 e 90% dos indivíduos acometidos por esta doença são obesos e o risco está diretamente associado ao aumento do índice de massa corporal. A obesidade, principalmente a visceral, é o mais grave fator de risco cardiovascular e de distúrbio na homeostase glicoseinsulina. Resultando em várias alterações fisiopatológicas como a menor extração de insulina pelo fígado, com aumento da produção hepática de glicose e diminuição da captação de glicose pelo 1 Texto adaptado de Fernanda de Almeida Escobar. tecido muscular. Esses eventos podem resultar em diferentes graus de intolerância à glicose e, nos indivíduos com DM2, irão influenciar o controle glicêmico, refletido por maiores níveis de hemoglobina glicosilada (HbA1c). A frequência das complicações crônicas do DM do tipo 2 varia de acordo com as populações estudadas. Os pacientes com DM do tipo 2 têm uma propensão duas a quatro vezes maior de morrer por doença cardíaca em relação a não diabéticos, e quatro vezes mais chance de ter doença vascular periférica (DVP) e acidente vascular cerebral (AVC). Entre os fatores envolvidos na etiologia das complicações crônicas do DM do tipo 2, destacam-se a hiperglicemia, a hipertensão arterial sistêmica, a dislipidemia e o tabagismo. É provável que esses aumentos na prevalência de diabetes decorram do já estabelecido aumento na prevalência de obesidade no Brasil. O elevado número de obesos na população, atualmente estudada em ambos os sexos, reforça essa hipótese. Além disso, foram observados maior IMC e maior número de obesos dentre os indivíduos com algum grau de anormalidade da homeostase glicêmica (diabetes ou glicemia de jejum alterada). Francischi (2000) relata, em seu trabalho, que, para aumento de 10% no peso corporal, há aumento de 2 mg/dl na glicemia em jejum. Considerando a distribuição da gordura corporal, a circunferência da cintura maior do que 100cm pode isoladamente elevar o risco do desenvolvimento de diabetes em 3,5 vezes, mesmo após um controle do IMC. No desenvolvimento de diabetes, o tecido adiposo atua aumentando a demanda por insulina e, em pacientes obesos, criando resistência a esta, o que ocasiona aumento na glicemia e consequente hiperinsulinemia. Contudo, a sensibilidade do tecido adiposo à insulina pode permanecer alta, o que sugere que a lipogênese possa estar favorecida. Em alguns casos, essa resistência pode ser atribuída à diminuição na concentração de receptores de insulina, ou em falha no mecanismo de trânsito celular. 2.1 Doença Cardiovascular As doenças cardiovasculares (DCVs) são doenças que causam distúrbios no coração e vasos sanguíneos, responsáveis pela maior taxa de morbidade e mortalidade no mundo, sendo que requerem os mais elevados custos de assistência social e econômica. Devido à grande quantidade de dados epidemiológicos é possível determinar os fatores de risco responsáveis pelo desenvolvimento de cardiopatias. Os fatores de risco cardiovascular podem ser classificados em dois grupos, os modificáveis e os não-modificáveis. Os fatores de risco modificáveis englobam o tabagismo, níveis elevados de colesterol, diabetes melitus, sedentarismo, hipertensão arterial, e obesidade. Os fatores de risco não-modificáveis incluem a idade, sexo e histórico familiar. A circunferência da cintura permite avaliar a distribuição central da gordura corporal. Atualmente, esta medida tem recebido importante atenção na avaliação do risco cardiovascular pelo fato de ser forte preditora da quantidade de gordura visceral, a principal responsável pelo aparecimento de alterações metabólicas e de doenças cardiovasculares. 3 APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO Apneia obstrutiva do sono compreende episódios de oclusão parcial ou também completa das vias respiratórias superiores durante o sono e provoca a cessação da respiração (definida como um período de apneia >10 s). Os sintomas envolvem inquietude, ronco, despertares recorrentes, cefaleia matinal e sonolência excessiva diurna. O diagnóstico baseia-se na história do sono e em polissonografia. O tratamento se faz com pressão positiva contínua nas vias respiratórias por via nasal, aparelhos orais e, nos casos refratários, cirurgia. O prognóstico é bom com tratamento, mas muitos casos não são diagnosticados e não são tratados, resultando em hipertensão, insuficiência cardíaca, além de lesão e morte por acidentes automobilísticos e outros acidentes, resultantes da sonolência excessiva. Em pacientes sob risco, o sono desestabiliza as vias respiratórias superiores, acarretando obstrução parcial ou completa da nasofaringe, da orofaringe, ou de ambas. Quando diminui a respiração, mas não a interrompe, a condição é denominada hipopneia obstrutiva do sono. Embora o ronco intenso e perturbador seja relatado por 85% dos pacientes com AOS, a maioria dos indivíduos que roncam não tem AOS. Outros sintomas envolvem sufocação, respiração entrecortada e resfôlego durante o sono, sono agitado e não restaurador, dificuldade para permanecer adormecido. A maioria dos pacientes não está ciente desses sintomas (porque ocorrem durante o sono), mas são informados por cônjuges,colegas de residência, ou companheiros de quarto. Quando acordados, os pacientes podem experimentar sonolência, fadiga e dificuldade de concentração. A frequência das queixas relacionadas com o sono e o grau de sonolência diurna correlaciona-se grosseiramente com o número de despertares noturnos. De acordo com a literatura, a distribuição da gordura corporal desempenha um importante papel neste distúrbio, sendo a obesidade visceral a mais prejudicial. O diagnóstico baseia-se em critérios de sintomas e estudos de sono seguida pelo aumento da circunferência do pescoço, há evidências que este distúrbio está associado também à resistência à insulina. O tratamento deve ser realizado controlando dos fatores de risco, com o uso do CPAP ou aparelhos orais. Possivelmente, cirurgia das vias respiratórias para transgressão anatômica ou doença intratável se fará necessário. O objetivo do tratamento para a AOS é reduzir os episódios de hipóxia e de fragmentação do sono. Adapta-se o tratamento ao paciente e ao grau de comprometimento. A cura é definida como a resolução dos sintomas, com redução do IAH abaixo do limiar, em geral 10/h. O tratamento inicial direciona-se aos fatores de risco subjacentes e então à AOS propriamente dita. Os tratamentos específicos para a AOS incluem a CPAP, os aparelhos orais e a cirurgia das vias respiratórias. Estudos utilizando dietas de muito baixo valor calórico (abaixo de 1000 kcal/dia) demostraram reduções significativas do peso e melhora na gravidade da apneia obstrutiva. 4 DOENÇAS DO TRATO DIGESTÓRIO 4.1 Doenças da Visícula Biliar As doenças da vesícula biliar, ou colecistopatias, são causas comuns de internação, especialmente entre as mulheres. Um estudo inglês que analisou os dados de 1,3 milhões de mulheres com idade média de 56 anos, representando 7,8 milhões pessoas/ano de seguimento, documentou que as mulheres com IMC maior no início do estudo (ajustadas para idade e nível socioeconômico) tinham mais chance de ser internadas e passar mais dias no hospital por doenças da vesícula biliar. Globalmente, 25% dos dias de hospitalização por doenças da vesícula biliar foram atribuídos à obesidade. Em uma avaliação prospectiva do Health Professionals Follow-up Study, a associação entre obesidade abdominal e a incidência de litíase biliar sintomática foi determinada em uma coorte de 30 mil homens sem litíase prévia e que forneceram os dados completos sobre as medidas de cintura e quadril. Homens com IMC ≥28,5 kg/m² apresentaram um risco 2,49 vezes maior de desenvolver cálculos biliares comparados com homens com IMC normal (< 22,2 kg/m²). Fonte: vivabemavida.com.br O estudo sueco Twin Registry Study avaliou os efeitos do excesso de peso e obesidade na litíase biliar sintomática em quase 60 mil participantes. Sobrepeso e obesidade foram ambos associados a um aumento significativo no risco de litíase biliar sintomática (1,86 e 3,38, respectivamente). Pesquisas têm mostrado que pessoas obesas podem produzir altos níveis de colesterol. Isso ocasiona a produção de bile com mais colesterol do que pode dissolver. Quando isso acontece, pode se formar cálculo biliar. Pessoas com obesidade também possuem vesícula biliar maior que não se esvazia completamente. 4.2 Pancreatite Aguda A pancreatite aguda está intimamente associada à obesidade e uma série de estudos tem mostrado que a obesidade aumenta a gravidade e a mortalidade por pancreatite aguda. A obesidade é um fator de risco principal para complicações locais, falência de órgãos e morte por pancreatite aguda. Em uma metanálise de cinco estudos, incluindo um total de 739 pacientes, a obesidade foi identificada como um fator de risco para o desenvolvimento de complicações locais e sistêmicas na pancreatite aguda e foi também associada ao aumento da mortalidade. A obesidade aumenta o risco de pancreatite aguda grave 2,9 vezes. Entre estes pacientes obesos, observa-se um risco 2,3 vezes maior de complicações sistêmicas e 3,8 vezes maior de complicações locais; além da mortalidade ser 2,1 vezes maior. 4.3 Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica ou Esteatose Hepática Fonte: static.tuasaude.com A esteato-hepatite não alcoólica é uma síndrome que ocorre em pacientes que não são alcoolistas, mas que apresentam uma lesão hepática que é histologicamente indistinguível da esteato-hepatite alcoólica. Acontece, na maioria das vezes, em pacientes com ao menos um dos seguintes fatores de risco: obesidade, dislipidemia, intolerância à glicose. A fisiopatologia está relacionada com acúmulo de gordura (esteatose), inflamação e fibrose em grau variado. A esteatose é resultado do acúmulo de triglicerídeos no fígado. Possíveis mecanismos causadores da esteatose incluem redução da síntese de lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL, e aumento na síntese hepática de triglicerídeos (possivelmente resultado de redução na oxidação de ácidos graxos ou aumento da deposição hepática de ácidos graxos livres). A inflamação pode resultar de lesão peroxidativa lipídica às membranas celulares. Essas alterações podem estimular as células estreladas hepáticas, levando à fibrose. Quando em estágios avançados, a esteato-hepatite não alcoólica pode provocar cirrose e hipertensão portal. 4.4 Tratamento para esteatose hepática Não existe tratamento específico para esteatose. A fase de esteatose pode ser reversível apenas com alterações dos hábitos de vida. A perda de peso é possivelmente a medida mais importante. Todavia, deve-se limitar a perda de peso ao máximo de 1,5 kg por semana para evitar uma piora do quadro. A prática regular de atividade física também ajuda muito, pois diminui o colesterol e aumenta o efeito da insulina no organismo. Em doentes com obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção. Deve-se controlar o colesterol, o diabetes, e, se possível, trocar medicamentos que possam estar colaborando para a esteatose. A medida mais eficaz para controlar a esteatose hepática é a perda de peso. Estudos mostram que uma redução de apenas 7% no peso corporal pode ser capaz de trazer excelentes resultados. Portanto, uma pessoa obesa ou com sobrepeso, que pesa ao redor de 80 quilos, precisaria perder cerca de 5 quilos para conseguir apresentar regressão do acúmulo de gordura hepática. Em geral, sugere-se a prática de atividade física e um controle do consumo de calorias de forma que o paciente perca entre 0,5 e 1 kg por semana. Perdas muito rápidas de peso, provocadas através de dietas muito rigorosas, podem ter efeito contrário, agravando a esteatose. Não é preciso ter pressa. Um emagrecimento lento, mas definitivo, é a melhor forma de combater a esteatose. A perda de peso, obviamente, só funciona para aqueles indivíduos obesos ou com sobrepeso. Pessoas com índice da massa corporal (IMC) normal, ou seja, entre 20 e 25 kg/m2, não apresentam grande benefícios, pois a causa da sua esteatose não é o excesso de gordura corporal. A suspensão do consumo de álcool é extremamente necessária para evitar que uma esteatose evolua para esteato-hepatite e cirrose hepática. Pessoas com sinais de acúmulo de gordura hepática devem evitar por completo as bebidas alcoólicas. Pacientes com esteatose hepática apresentam maior risco de doenças cardiovasculares, por isso, o controle dos fatores de risco é essencial para diminuir o risco de complicações cardíacas. Perda de peso, pratica de atividade física, controle dos níveis da pressão arterial, parar de fumar e uso de estatinas (medicamentos para controlar o colesterol) são medidas que devem ser instituídas sempre que necessário. O uso de medicação para controlar o colesterol não atua diretamente sobre a esteatose, mas ajuda a diminuir o risco cardiovascular destes pacientes. Se o paciente tem colesterol alto, a presença de esteatose é maisum motivo para o seu controle com medicamentos. Pacientes com esteatose e, principalmente, esteato-hepatite apresentam evolução desfavorável, caso venham a se infectar com qualquer uma das formas de hepatite viral. Portanto, para aqueles que ainda não são imunizados, indica-se a vacinação contra a hepatite A e a hepatite B. A vacinação não tem qualquer efeito sobre a esteatose, ela apenas serve de proteção contra adicionais problemas do fígado. Se o paciente passa a acumular gordura no fígado como efeito colateral de medicamentos, tais como corticoides, estrogênio, tamoxifeno, amiodarona, etc., o tratamento deve, sempre que possível, visar a suspensão destas drogas. Alimentos que desintoxicam o fígado: Fonte: www.mundoboaforma.com.br 5 NEOPLASIAS A associação entre obesidade e câncer é confirmada em vários estudos prospectivos. A associação mais forte é entre um IMC elevado e o risco de câncer. Um grande estudo prospectivo americano, o American Cancer Prevention Study II, que envolveu uma coorte de mais de 900 mil indivíduos sem neoplasias em 1982, seguidos durante uma média de 16 anos, encontrou uma associação significativa entre obesidade e câncer. Entre aqueles com um IMC de 40 kg/m², a mortalidade por todas as causas de câncer foi 52% maior nos homens e 62% maior em mulheres do que entre aqueles com um IMC normal. O IMC também foi significativamente associado à maior taxa de morte por câncer de esôfago, cólon e reto, fígado, vesícula, pâncreas, rim, linfoma não Hodgkin e mieloma múltiplo. No estudo britânico Million Women Study, o aumento do IMC foi associado a um aumento significativo no risco de dez dos 17 tipos mais comuns de neoplasia. Mais de 1,2 milhões de mulheres do Reino Unido, com idade entre 50 a 64 anos, durante 1996 e 2001, foram recrutadas e seguidas por uma média de 7 anos. O aumento do IMC foi associado a um aumento da incidência de câncer em qualquer sítio. Um estudo prospectivo avaliou o efeito do IMC e ganho de peso na incidência de câncer de próstata e de mortalidade entre 287.700 homens no NIH- AARP Diet and Health Study. Durante um seguimento médio de 5 a 6 anos, o risco relativo de mortalidade por câncer de próstata foi de 1,46 e 2,12 para obeso grau 1 e 2, respectivamente. Fonte: www.dicademusculacao.com Em outro estudo com 70 mil homens, o risco de câncer de próstata de alto grau não metastático e metastático foi aumentado com a obesidade (1,2 e 1,5 vezes, respectivamente), e o risco de câncer de alto grau não metastático foi reduzido para 0,58 com perda de peso superior a 5 kg. No Health Professionals Follow-up Study, uma associação significativa entre obesidade e câncer de cólon foi observada em homens. Este estudo prospectivo de 18 anos de duração, com 46.349 homens que estavam livres do câncer no início, encontrou um risco multivariado para câncer de cólon aumentado a partir do IMC de 22,5 kg/m², mas mais elevado (risco de 2,29) a partir do IMC de 30 kg/m². Cerca de 30% dos casos de câncer de cólon foram atribuídos ao sobrepeso e à obesidade. Na Investigação Prospectiva Europeia em Câncer e Nutrição (EPIC), foi avaliada a associação entre o risco de câncer de cólon e reto e carcinoma de células renais e o peso corporal em mais de 368 mil homens e mulheres livres de neoplasia, que foram seguidos por uma média de 6,1 anos. O IMC maior ou igual a 29,4 kg/m² foi significativamente associado ao risco de câncer de cólon em homens, mas não nas mulheres (risco relativo [RR] = 1,55, p = 0,006). O risco relativo para o carcinoma de células renais associado ao aumento do IMC em mulheres foi 2,25 (p = 0,009; IMC > 29 kg/m²), mas nenhum aumento significativo foi observado para os homens. 5.1 Obesidade No Adulto A prevalência da obesidade vem aumentando entre adultos, tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que pelo menos 1 bilhão de pessoas apresente excesso de peso, das quais, 300 milhões são obesos. Projeções baseadas em inquéritos nacionais realizados nas últimas décadas estimam que a obesidade atinja, em 2025, 40% da população nos EUA, 30%, na Inglaterra, e 20%, no Brasil. O ambiente moderno é um potente estímulo para a obesidade. A diminuição dos níveis de atividade física e o aumento da ingestão calórica são fatores determinantes ambientais mais fortes. Há um aumento significativo da prevalência da obesidade em diversas populações do mundo, incluindo o Brasil. Há três componentes primários no sistema neuroendócrino envolvidos com a obesidade: o sistema aferente, que envolve a leptina e outros sinais de saciedade e de apetite de curto prazo; a unidade de processamento do sistema nervoso central; e o sistema eferente, um complexo de apetite, saciedade, efetores autonômicos e termogênicos, que leva ao estoque energético. O balanço energético pode ser alterado por aumento do consumo calórico, pela diminuição do gasto energético ou por ambos. 5.2 Etiologia da obesidade Durante a consulta de um paciente que apresente sobrepeso ou obesidade, é fundamental avaliar as causas que levaram ao excesso de peso, bem como investigar possíveis morbidades associadas. A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, resultando da interação de genes, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais. Há três componentes primários no sistema neuroendócrino envolvidos com a obesidade: o sistema aferente, que envolve a leptina e outros sinais de saciedade e de apetite de curto prazo; a unidade de processamento do sistema nervoso central; e o sistema eferente, um complexo de apetite, saciedade, efetores autonômicos e termogênicos, que leva ao estoque energético. O balanço energético pode ser alterado por aumento do consumo calórico, pela diminuição do gasto energético ou por ambos. A maior taxa de aumento da obesidade ocorre em populações com maior grau de pobreza e menor nível educacional. Pode-se explicar essa associação pela maior palatabilidade e pelo baixo custo de alimentos de grande densidade energética, e também associado à insegurança alimentar. Nas últimas décadas, a população está aumentando o consumo de alimentos com alta densidade calórica, alta palatabilidade, baixo poder sacietógeno e de fácil absorção e digestão. Estas características favorecem o aumento da ingestão alimentar e, portanto, contribuem para o desequilíbrio energético. Mudanças sócio comportamentais da população também estão implicadas no aumento da ingestão alimentar e, portanto, no aparecimento da obesidade. A diminuição do número de refeições realizadas em casa, o aumento compensatório da alimentação em redes de fast-food e o aumento do tamanho das porções “normais” levam ao aumento do conteúdo calórico de cada refeição. O estilo de vida moderno também favorece o ganho de peso por diversos fatores que interferem na ingestão alimentar: a necessidade de se realizar refeições em curto espaço de tempo atrapalha os mecanismos de saciedade, e atividades de lazer podem resultar em alterações comportamentais relacionadas ao hábito alimentar em que o sistema de prazer e recompensa (não homeostático) se sobrepõe ao sistema regulador homeostático. Várias fases da vida, podem influenciar o ganho de peso, como a fase intrauterina, o peso de nascimento, a amamentação, a fase de rebote do peso no período de aumento do peso que ocorre entre os 5 e 7 anos de idade e a fase puberal. Existem indícios de que, a cada parto sucessivo, há aumento de cerca de um quilo acima do peso que normalmente aumenta com o incremento da idade. Ganho de peso excessivo durante a gestação e falta de perda de peso após o parto são importantes preditores de obesidade em longo prazo. Um maior ganho de peso após a menopausa está relacionado à idade e ao estilo de vida. Em relação à terapia de reposiçãohormonal, vários estudos têm demonstrado que, quando comparada ao placebo, não afeta o peso corporal, podendo até reduzir a gordura central. Um estudo sobre tabagismo e ganho de peso demonstrou que, em média, os indivíduos que abandonam o tabagismo ganham de cinco a seis quilogramas. O ganho de peso pode ser atenuado pela terapia com bupropiona. O abandono do tabagismo e a perda de peso podem ser mais efetivamente alcançados se programas visando a esses dois objetivos forem oferecidos concomitantemente. O casamento pode influenciar o ganho de peso, principalmente em mulheres. As razões podem ser redução no gasto energético e aumento na ingesta calórica por alterações nos hábitos sociais. Interromper a prática de esportes e diminuir o gasto energético diário são mecanismos influenciadores de ganho de peso, o que pode estar ligado ao início da vida profissional e falta de tempo. 6 TRATAMENTO DA OBESIDADE2 6.1 Tratamento Farmacológico O tratamento da obesidade é complexo e multidisciplinar. Em linhas gerais, o tratamento farmacológico é adjuvante das terapias dirigidas com foco na modificação dos hábitos de vida relacionados com orientações nutricionais para diminuir o consumo de calorias na alimentação e exercícios para aumentar o gasto calórico. Deve-se estabelecer o grau de obesidade estando indicado o tratamento medicamentoso quando: 1) IMC maior ou igual a 30 kg/m2; ou 2) IMC maior ou igual a 25 ou 27 kg/m² na presença de comorbidades (dependendo do medicamento); 3) Falha em perder peso com o tratamento não farmacológico. A história prévia de falência com tentativa com dieta com restrição calórica é suficiente. 6.2 Duração Do Tratamento Considera-se sucesso no tratamento da obesidade a habilidade de atingir e manter uma perda de peso clinicamente útil, que resulte em efeitos benéficos sobre doenças associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemia. Uma perda de peso de 5% mantida é um critério mínimo de sucesso, pois leva a melhora das doenças associadas. O sucesso em longo prazo depende de constante vigilância na adequação do nível de atividade física e de controle da ingestão de alimento, além de outros fatores, como apoio social, familiar e automonitorização. 6.3 Medicamentos Aprovados No Brasil Existem, atualmente, três medicamentos aprovados para tratamento da obesidade no Brasil: sibutramina, orlistate e liraglutida 3,0 mg. 2 Texto adaptado das Diretrizes Brasileiras de Obesidade, 2016. Sibutramina: A sibutramina bloqueia a recaptação de noradrenalina (NE) e de serotonina (SE) e leva a redução da ingestão alimentar. A sibutramina mostrou-se mais eficaz que o placebo em promover perda de peso, embora não existam evidências para determinar o perfil do risco-benefício da sibutramina além de dois anos de uso. Orlistate: O orlistate é um análogo da lipstatina inibidor de lipases gastrintestinais (GI) que se liga no sítio ativo da enzima através de ligação covalente, fazendo com que cerca de um terço dos triglicérides ingeridos permanecem não digeridos e não sejam absorvidos pelo intestino, sendo eliminados nas fezes. Liraglutida: A liraglutida é um agonista do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) que compartilha 97% de homologia com o GLP-1 nativo, sendo a meia-vida de circulação do GLP-1 aumentada de 1-2 minutos para 13 horas e na dose de 3,0 mg, tem uma ação hipotalâmica em neurônios envolvidos no balanço energético, em centros ligados a prazer e recompensa e uma ação menor na velocidade de esvaziamento gástrico. Fluoxetina e outros inibidores da recaptação de serotonina: Alguns inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina e sertralina), usados para tratar depressão, podem proporcionar efeito de perda de peso no curto prazo, embora não tenham indicação formal no tratamento de obesidade. A fluoxetina demonstrou efeito transitório de perda de peso, presente principalmente nos seis primeiros meses de uso, após o qual ocorre recuperação do peso perdido, não sendo por isso indicada para tratamento em longo prazo da obesidade 6.4 O Tratamento Dietético Da Obesidade Para o sucesso do tratamento dietético, devem-se manter mudanças na alimentação por toda a vida. Dietas muito restritivas, artificiais e rígidas não são sustentáveis, embora possam ser usadas por um período limitado de tempo. Um planejamento alimentar mais flexível, que objetive reeducação, geralmente obtém mais sucesso, devendo considerar, além da quantidade de calorias, as preferências alimentares do paciente, o aspecto financeiro, o estilo de vida e o requerimento energético para a manutenção da saúde. O contato frequente entre o médico, ou o nutricionista e o paciente e o tempo dispendido com o paciente auxiliam muito na perda e na manutenção do peso perdido. Em longo prazo, o método, a velocidade de perda de peso, o ajuste fisiológico e a habilidade de manter as mudanças comportamentais de dieta e atividade física é que determinarão o sucesso de qualquer programa de emagrecimento. Uma dieta planejada individualmente para criar um déficit de 500 a 1.000 kcal deve ser parte integrante de programas de perda de peso objetivando uma diminuição de 0,5 a 1 kg por semana, com metas realistas. Dietas com baixas calorias, com 1.000 a 1.200 kcal por dia, reduzem em média 8% do peso corporal, em três a seis meses, com diminuição de gordura abdominal, com perda média de 4% em três a cinco anos. Dietas de muito baixas calorias (very-low calorie diets, VLCD), com 400 a 800 kcal por dia, produzem perda de peso maior em curto prazo, em comparação às dietas de baixas calorias, mas em longo prazo, no período de um ano, a perda de peso é similar. Estas, devem ser feitas apenas em ambiente médico adequado e sob rígida supervisão. Reduzir a quantidade de gordura da dieta, em uma dieta hipocalórica, é uma maneira prática de diminuir a ingestão calórica e induzir a perda de peso. Dietas que contenham 1.200 a 1.500 kcal por dia para mulheres e 1.500 a 1.800 kcal por dia para homens, independentemente da composição de macronutrientes frequentemente levam à perda de peso. Algumas dietas de emagrecimento são nutricionalmente corretas e consistentes com bons hábitos alimentares. Outras se apresentam como dietas milagrosas, que encorajam práticas irracionais, algumas vezes perigosas, e passam a ser feitas pela população, devido à promoção da mídia, ou porque são praticadas por celebridades. Não há nenhuma evidência científica de longo prazo sobre a efetividade dessas dietas, sem que se estabeleça um balanço energético negativo. Na percepção popular, a velocidade e a quantidade de perda de peso geralmente se confundem com o sucesso da dieta. Deve-se medir esse sucesso pela condição de se atingir e manter perda de peso clinicamente significativa. 6.5 Dietas balanceadas Caracterizam-se por serem compostas de 20% a 30% de gorduras, 55% a 60% de carboidratos e 15% a 20% de proteínas. As dietas populares dessa categoria incluem as utilizadas por centros comerciais de perda de peso, como os Vigilantes do Peso, Jenny Craig e Nutri-systems, e as dietas da pirâmide alimentar, MyPlate e do National Cholesterol Education Program. As dietas balanceadas têm uma longa história, baseiam-se tipicamente em princípios científicos e são as que foram mais estudadas. Essas dietas são calculadas para promover um déficit de 500 a 1.000 kcal/dia, com um mínimo de 1.000 a 1.200 kcal/d para as mulheres e 1.200 a 1.400 kcal/d para os homens (exemplo, 1.000 a 1.500 kcal por dia para mulheres e 1.200 a 1.800 kcal por dia para homens). O objetivo das dietas balanceadas é permitir ao consumidor a escolha de maior variedade de alimentos, adequação nutricional, maior aderência, resultando em perda de peso pequena, mas sustentada. Diferentes percentuaisvariando entre 10%, 20%, 30% e 40% das calorias da dieta provenientes de gorduras não influenciaram a perda de peso nem a redução no percentual de massa gorda corpórea de mulheres adultas e obesas submetidas à restrição calórica e exercícios durante 12 semanas. Fonte: www.natue.com.br 6.6 Dietas de muito baixas calorias As dietas de muito baixas calorias, usualmente, proveem 400 a 800 kcal por dia e devem conter 0,8 a 1 g por quilo do peso ideal por dia de proteínas de boa qualidade e quantidades diárias recomendadas de minerais, vitaminas e ácidos graxos essenciais. São utilizadas como única fonte de nutrição durante quatro a 16 semanas e, em geral, são efetivas para pacientes que não obtiveram sucesso com outros tratamentos ou que tenham comorbidades, sendo necessária intensa supervisão. Podem ser pré-preparadas na forma de refeições líquidas vendidas em farmácias ou também elaboradas de comidas normais, que contenham quantidade adequada de proteínas, vitaminas e sais minerais. Essas dietas produzem maior perda de peso na fase inicial, quando comparadas a outras formas de restrição energética, com redução de 9 a 26 kg em quatro a 20 semanas. Mas, apesar dessa grande perda de peso na fase inicial, estudos randomizados mostram, em um a dois anos, as mesmas perdas das dietas convencionais, com nenhuma perda ou redução de até 4 kg. O resultado pode ser melhorado em um a dois anos, se à dieta de muito baixas calorias se adicionar terapêutica com drogas ou modificação comportamental (perda de peso de 11,8 kg, variando de 9,2 a 14,2 kg, ou 11%). As dietas de muito baixas calorias são úteis para induzir rápida perda de peso e motivar o paciente muito obeso, mas devem ser seguidas por outro tratamento para manter a perda de peso. As dietas de muito baixas calorias são contraindicadas em pacientes com doença cardíaca instável, insuficiência cardíaca grave, doença cerebrovascular, insuficiência renal aguda e crônica, doença hepática grave ou em fase terminal, transtorno psiquiátrico que possa interferir com sua compreensão e execução; os efeitos colaterais podem incluir fadiga ou fraqueza, tonturas, constipação, pele seca, perda de cabelo, alterações menstruais e intolerância ao frio, e os efeitos secundários mais graves são desenvolvimento de gota e cálculos biliares. 6.7 Substituição de refeições Fonte: perdendobarriga.com.br Alguns estudos recentes avaliaram o efeito da substituição de refeições com acompanhamento médico regular na perda de peso com refeições preparadas ou suplementos alimentares, como shakes, sopas e barras de cereais. Durante o período de tratamento de um a cinco anos, a média de perda de peso foi de seis quilos, com redução variando de 3 a 9,5 kg, equivalente a 6,2%. Essa perda de peso associou-se à melhora na circunferência abdominal, glicemia, hemoglobina glicosilada, insulinemia, trigliceridemia, colesterolemia, nível da pressão arterial e qualidade de vida. Em outro estudo com acompanhamento médico regular, com quatro anos de duração, seu uso demonstrou resultados positivos no tratamento da obesidade, sugerindo que, associada à dieta hipocalórica, pode auxiliar no controle e manutenção da perda de peso. O Estudo Look Ahead avaliou o de substituição parcial de refeições em 5 mil pessoas com diabetes tipo 2, durante 12 anos uso em 16 centros nos Estados Unidos como intervenção estilo de vida intensivo comparando com recomendações dietéticas usuais. Com 12 meses de intervenção, a intervenção intensiva teve um consumo significativamente menor de gordura e colesterol e maior ingestão de fibras do que os participantes de cuidado usual em educação em diabetes, além de consumir mais porções por dia de frutas, vegetais, leite, iogurte e queijo; e menos porções por dia de gorduras, óleos e doces. Essas mudanças relacionas com uma melhor qualidade de dieta foram mais frequentes nos participantes que consumiam dois ou mais substitutos de refeição por dia do que nos que substituíam menos de uma refeição por dia. O estudo incluiu atividade física regular e contato frequente com os profissionais de saúde e mostrou efeitos benéficos significativos na HbA1c, lipídios e pressão arterial. O estudo mostrou que 39,3% dos 825 participantes que receberam uma intervenção de estilo de vida (que consiste numa redução de energia da dieta e prescrição de atividade física, e uma intervenção cognitivo-comportamental) que perderam pelo menos 10% do seu peso corporal no ano 1 mantiveram pelo menos 10% de perda no fim do ano 8, e 25,8% mantiveram 5% a 10% de perda de peso. 6.8 Dieta dash A dieta DASH (de dietary approach to stop hypertension) é um padrão alimentar que foi desenvolvido para reduzir a hipertensão em indivíduos com pressão moderada a alta, que incentiva o consumo de frutas, legumes, cereais integrais, nozes, legumes, sementes, lácteos com baixo teor de gordura e carnes magras e limita o sal, bebidas com cafeína e alcoólicas. Um limite diário de energia não é um componente da dieta DASH original, mas é comum ocorrer perda de peso. A dieta DASH combinado com a perda de peso significativamente aumenta reduções na pressão arterial superior à alcançada pela perda de peso por si só. 6.9 Horários e frequência das refeições Potencialmente consumir mais calorias no início do dia, em vez de no final do dia, pode ajudar a controlar o peso. O mecanismo de ação pelo qual o momento da alimentação pode ajudar a controlar o peso é por influência no ritmo circadiano. Há apenas um ECR conduzido que examinou o tempo de ingestão de energia e a perda de peso em mulheres com sobrepeso e obesidade com síndrome metabólica por 12 semanas. O grupo que consumiu a maior parte das calorias no início do dia perdeu mais peso (quase 9 kg vs. cerca de 3,5 kg). Apesar disso, os ECR (três, todos de curta duração, de até 16 semanas) que avaliaram a influência consumo de café da manhã na perda de peso, não demonstram maior perda de peso com o consumo de café da manhã. O benefício parece ser o de consumir a maior parte das calorias pela manhã, e não simplesmente tomar ou não tomar café da manhã. Omitir alimentos no período da manhã e comer excessivamente à noite foi chamado de autofagia circadiana. 6.10 Guia alimentar Recentemente, o Ministério da Saúde apresentou o Guia para a elaboração de refeições saudáveis em eventos, orientações e recomendações objetivando tornar coffee breaks, almoços, brunchs, lanches, dentre outros, espaços mais saudáveis e com este material facilitar a transformação de ambientes institucionais em espaços promotores de alimentação mais adequada e saudável, em especial nos espaços urbanos, ambientes de trabalho, ambiente escolar e serviço de saúde, tomadas em conjunto com as demais ações de incentivo à atividade física e práticas corporais e mudanças estruturais nos espaços urbanos e institucionais que promovem mobilidade urbana e acesso a espaços públicos de lazer, ações estratégicas para prevenção e controle das DCNT e seus fatores de risco, e consequentemente, colaborar com a redução do sobrepeso e obesidade. O guia afirma que ter acesso a uma alimentação adequada e saudável não é algo fácil de ser alcançado, pois não se limita à responsabilidade de cada indivíduo fazer escolhas alimentares mais adequadas, e que diversos fatores de natureza física, econômica, política, cultural ou social podem influenciar o padrão de alimentação das pessoas. Prossegue afirmando que os órgãos públicos e demais instituições responsáveis pelo fornecimento da alimentação em eventos podem contribuir para a promoção de ambientes saudáveis, ofertando alimentos que colaborem positivamente para a saúde da população, valorizem a cultura alimentar local e derivem de práticas produtivas ambientalmente sustentáveis. O guia segue sugestões do Guia Alimentar para aPopulação Brasileira de 2014, sugerindo que alimentos in natura sejam preferidos dando prioridade aos de origem vegetal, os processados sejam usados em quantidade pequena como ingredientes usados na preparação ou acompanhamento dos alimentos in natura e os ultraprocessados sejam evitados ou minimamente consumidos. Óleo, açúcar e sal devem ser usados moderadamente, para temperar e preparar os alimentos. Açúcar em demasia, particularmente na forma de bebidas adoçadas consumidas em exagero deve ser evitado, e a substituição por edulcorantes não calóricos pode ser válida para reduzir o consumo de calorias da dieta. 6.11 Atividades físicas mais recomendadas Segundo a Organização Mundial de Saúde, a prática de atividade física regular reduz o risco de mortes prematuras, doenças do coração, acidente vascular cerebral, câncer de cólon e mama e diabetes tipo II. Atua na prevenção ou redução da hipertensão arterial, previne o ganho de peso (diminuindo o risco de obesidade), auxilia na prevenção ou redução da osteoporose, promove bem-estar, reduz o estresse, a ansiedade e a depressão. Especialmente em crianças e jovens, a atividade física interage positivamente com as estratégias para adoção de uma dieta saudável, desestimula o uso do tabaco, do álcool, das drogas, reduz a violência e promove a integração social. Quanto à intensidade, excluindo a caminhada, a atividade física pode ser moderada ou vigorosa, sendo assim definida: • moderada – é aquela que precisa de algum esforço físico, faz o indivíduo respirar um pouco mais forte do que o normal, e o coração bater um pouco mais rápido; • vigorosa – é aquela que precisa de um grande esforço físico, faz o indivíduo respirar muito mais forte do que o normal, e o coração bater muito mais rápido. 6.12 Caminhada A caminhada melhora o nível do condicionamento físico e ajuda na função cardiovascular e na perda de peso. Fortalece os músculos das pernas e dos glúteos. Também reduz a pressão sanguínea, os níveis de colesterol no sangue e o risco de doenças cardíacas, osteoporose, diabetes e estresse. Segundo a diretora da Confederação Brasileira de Esportes Não Competitivos – Anda Brasil, Ana Beatriz Cordeiro, o ideal é caminhar pelo menos três vezes por semana, respeitando o próprio ritmo. Se não houver regularidade, o indivíduo corre o risco de criar mecanismos compensatórios: querer fazer atividades físicas excessivas para um único dia, causando ainda mais estresse ao corpo. Na caminhada, o organismo libera a endorfina, substância que proporciona sensação de bem-estar, reduzindo as tensões do dia a dia. A substância também auxilia na neutralização dos radicais livres, um dos responsáveis pelo processo de envelhecimento do organismo. No entanto, é importante que a pessoa crie hábitos saudáveis, alimente-se antes e fixe horários para praticá-la. O adepto da caminhada pode alterar a intensidade dos passos, aumentando a velocidade, o percurso (subidas e descidas) ou a distância percorrida. O caminhante também deve monitorar a frequência cardíaca para compreender melhor como o corpo responde às diferentes intensidades de exercícios e, assim, realizar uma atividade segura e eficiente. A caminhada rápida pode queimar até 400 calorias em 1 hora, o que significa que a pessoa pode perder até 0,5 kg por semana somente com este exercício. Quando além da caminhada é associada uma dieta hipocalórica é possível perder até 8 kg por mês. 6.13 Corrida Em relação à composição corporal e aptidão física, a modalidade utiliza mais a gordura como fonte energética e, assim, auxilia na diminuição de peso. Melhora a ansiedade e tensão, a qualidade do sono, a capacidade cardiovascular e pulmonar, os níveis de colesterol, a força dos membros inferiores, a redução da osteoporose e diminuição da pressão sanguínea. A corrida movimenta praticamente todos os músculos do corpo humano, mas os mais exigidos estão localizados nos membros inferiores. As pernas – onde está localizada a musculatura mais importante – garantem a impulsão e sustentação no momento da corrida. Já os músculos do tórax são responsáveis pelo equilíbrio do corpo, enquanto as fibras dos braços ajudam também a dar estabilidade e facilitar o impulso. Antes de iniciar a corrida, faz-se necessário checar a saúde com avaliações médica e física a fim de detectar se existem contraindicações para a prática deste exercício. Um tênis de qualidade é essencial para envolver o pé e protegê-lo do impacto, mas também para aperfeiçoar os resultados do atleta, que poderá correr mais rápido e, consequentemente, em maior tempo, sem ter que se preocupar com eventuais ferimentos. Cada tênis de corrida é desenhado para um tipo específico de corredor. Quando for escolher um calçado, leve em conta a frequência do seu treinamento e o nível de desempenho. Por isso, um tênis deve ser confortável, de modo que não fique muito justo nos dedos. A duração de uma corrida vai depender do nível de aptidão do corredor. Para iniciantes, o ideal é a corrida de resistência, uma vez que ela estimula o avanço gradual, sem que haja esforço físico excessivo. Por exemplo: se o praticante anda por três minutos, os outros dois devem ser correndo. “À medida que o indivíduo for se tornando mais forte, ele será capaz de correr mais depressa e manter o ritmo de corrida por mais tempo, com menor esforço”, ensinou ele. O ideal é correr de duas a três vezes na semana, com duração entre 20 a 60 minutos, o que acaba sendo muito pouco para corredores de nível moderado para cima, pois os efeitos de uma sessão se perdem até que a próxima seja realizada, ao passo que treinar muitas vezes na semana não permite que o organismo se recupere entre uma sessão e outra. Um indivíduo cansado sobre a esteira ou correndo na rua sempre vai render menos. 6.14 Natação A natação é uma ótima maneira de aumentar a força e tônus muscular, especialmente se comparada aos demais exercícios aeróbicos. Quando um atleta está correndo em uma pista, ele se move através do ar, enquanto um nadador enfrenta a resistência oferecida pela água, que conta com densidade cerca de 12% maior que a referente ao ar. Ao contrário das máquinas de exercícios em academias, as quais tendem a isolar os exercícios a uma parte do corpo por vez, a natação desafia todo o corpo simultaneamente através de uma ampla gama de movimentos que ajudam as articulações e ligamentos a se soltarem e se tornarem mais flexíveis. Para obter melhor os benefícios da natação com flexibilidade, recomenda-se ainda fazer alongamentos suaves antes e após os treinos. Esse melhor controle sobre o corpo ainda favorece o aprimoramento avançado de equilíbrio por um maior período de tempo. Atualmente, a natação é reconhecida como um dos exercícios que mais queimam de calorias, o que pode ser uma excelente alternativa para aqueles que desejam manter o peso sob controle. A quantidade de calorias queimadas depende não só da intensidade em que você se exercita, mas também de sua própria fisiologia. De modo geral, é dito que a cada 10 minutos de natação, nadando de peito, pode-se queimar até 60 calorias, enquanto nadando de costas elimina-se até 80 calorias. Pesquisadores da Universidade da Carolina do Sul acompanharam testes e vivência de homens com idade de 20 a 90 anos, durante 30 anos, e puderam descobrir que aqueles que praticavam natação contavam com taxa de mortalidade 50% inferior se comparados às demais pessoas fisicamente ativas ou àqueles que mantinham um estilo de vida sedentário. Vale ressaltar que pesquisas semelhantes foram realizadas com mulheres, e os resultados foram semelhantes. 7 OBESIDADE EM PEDIATRIA3 O estilo de vida, os fatores nutricionais, as escolhas dos alimentos, quantidades e frequência com que são ingeridos mostraram-se determinantes no atual quadro da obesidade infantil.De acordo com estudos, ocorreu estagnação de redução do consumo de leguminosas, verduras, legumes, frutas e sucos naturais e ascensão do consumo excessivo de açúcar refinado e refrigerante. A alimentação inadequada é um fator determinante, uma vez que há a substituição de refeições balanceadas por lanches rápidos, sem valores nutricionais adequados. Afirma ainda que o nível da prática de atividade física menor do que o recomendado para uma boa saúde e a obesidade está diretamente ligado à condição obesa da criança. Em um estudo transversal com crianças de dois a seis anos com prevalência de 34,4% apresentando sobrepeso e obesidade, realizado em São Paulo, o consumo de frutas estava de acordo com a recomendação. Por outro lado, consumiam porções 3 Texto adaptado do Conselho Federal de Enfermagem. menores que as recomendadas de pães e cereais, verduras e legumes. Estes ingeriam 50% acima do sugerido de leites e lácteos. Os meios de comunicação, em especial a televisão, mostram-se ainda como grande vilã no tocante à obesidade infantil. Os comerciais de TV influenciam o comportamento alimentar infantil e o hábito de assistir TV está diretamente relacionado a pedidos, compras e consumo de alimentos anunciados e que esses alimentos veiculados possuem elevados índices de gorduras, óleos, açúcar e sal, o que não está de acordo com as recomendações de uma dieta saudável e balanceada. Os alimentos consumidos com maior frequência em frente à TV são os biscoitos, refrigerantes, salgadinhos, pipoca e pães. Fonte: batatafritapode.files.wordpress.com A disponibilidade da tecnologia, aliada ao aumento da insegurança e a progressiva redução nos espaços livres nos centros urbanos, reduzem as oportunidades de lazer, aumentando a prática de jogar videogames e o uso dos computadores, diminuindo a prática de atividades fisicamente ativas. As crianças passam horas em frente a aparelhos de televisão e videogames, aumentando o sedentarismo e inatividade física. 7.1 Atividade física para crianças e adolescentes Como diz o conhecimento popular, a movimentação adequada é benéfica ao corpo. Os exercícios físicos ajudam, não somente, no aprimoramento do corpo, na circulação, respiração e na musculatura, mas melhora também o humor, a qualidade do sono e a sensação de bem-estar. Um maior nível de atividade física para a criança e adolescente significa melhorar o perfil lipídico e metabólico, reduzindo, assim, a obesidade. Uma criança ativa tem mais probabilidade de se tornar um adulto ativo. Partindo do ponto de vista da saúde pública e medicina preventiva, a promoção de atividade física na infância e adolescência passa por estabelecer uma base sólida para a diminuição do sedentarismo na fase adulta, trazendo assim uma melhor qualidade de vida aos praticantes. Deve-se lembrar de que a atividade deve ser divertida para a criança, a fim de que ela mantenha o interesse por, pelo menos, de 30 a 40 minutos diários. Não é recomendável a prática atividades de alto impacto, pois aumentam o risco de lesões e condições de desconforto, como por exemplo: calor, pouca ventilação, roupa inadequada para prática esportiva. Um bom planejamento de atividades físicas deve ser montado para cuidar da enfermidade. Podem-se introduzir exercícios de movimentação constante, aeróbicos e de resistência como caminhada, sobretudo no início da prática. O ciclismo e a natação também são boas opções por trabalharem e desenvolverem muito bem o sistema cardiorrespiratório, promovendo melhor qualidade de vida para o público alvo. 7.2 Genética da obesidade A obesidade é uma das manifestações descritas em 24 doenças mendelianas, como, por exemplo, a síndrome de Prader-Willi, e em nove tipos de doenças monogênicas não mendelianas. A obesidade comum, no entanto, tem herança poligênica. Nem todos os indivíduos ganham a mesma quantidade de peso quando expostos a dietas hipercalóricas. Um estudo realizado com 12 pares de gêmeos monozigóticos submetidos a dieta hipercalórica (acréscimo de 1.000 kcal/dia) mostrou grande variação de ganho de peso entre os indivíduos, porém os membros do par ganharam peso de forma semelhante. Outra forma de estudá-la é comparando pares de gêmeos que foram criados em ambientes distintos, um com seus pais biológicos e outro com pais adotivos. Nessas condições, houve associação positiva entre o índice de massa corporal dos adotados com o índice de seus pais biológicos, e não com o de seus pais adotivos, para qualquer classificação de massa corporal, inclusive a obesidade, sugerindo que a genética é a influência determinante. Em gêmeos mono e dizigóticos estudados aos 7 anos de idade, fatores genéticos desempenharam papel decisivo na origem da obesidade, mais importante do que a nutrição intrauterina e as influências ambientais alimentares. O risco de obesidade quando nenhum dos pais é obeso é de 9%, enquanto, quando um dos genitores é obeso, eleva-se a 50%, atingindo 80% quando ambos são obesos. Os padrões alimentares de gêmeos com mais de 50 anos de idade também se devem em parte à influência genética, que justifica até 40% da variação desses padrões. O efeito do ambiente no ganho de peso de indivíduos geneticamente susceptíveis também já foi bastante estudado. É clássico o estudo com os Índios Pima, oriundos do norte do México e do sul do Arizona (EUA). A partir da primeira metade do século XX, com a incorporação de um estilo de vida ocidentalizado proporcionado pela doação de cestas de alimentos pelo governo (dieta muito rica em gordura e sedentarismo), houve uma crescente epidemia de obesidade e diabetes nessa população, que hoje afeta mais de 80% dos Pima do Arizona. Em contrapartida, os índios etnicamente semelhantes que vivem no México, com a mesma carga genética, porém isolados do “ambiente obesogênico”, têm uma incidência muito menor destas doenças. Exemplos semelhantes existem em relação aos esquimós de etnia inuite e em indígenas Xavantes do Mato Grosso residentes em território muito próximo de centros urbanos. Clinicamente, é possível identificar alguns fatores indicadores de influências genéticas na obesidade, como o início precoce e marcante da obesidade na infância ou adolescência. O risco de desenvolvimento de obesidade é maior na presença de história familiar de obesidade mórbida, com IMC ≥ 40 kg/m2, ou com níveis mais moderados de obesidade, IMC. Existem ainda efeitos genéticos que ocorrem intraútero e que podem persistir por gerações. Algumas influências sobre a obesidade podem ocorrer no útero ou até mesmo duas gerações passadas quando os oócitos são formados na avó. Estes podem ocorrer através da epigenética (por exemplo, a metilação do DNA). Assim, o aumento na obesidade que vemos hoje pode muito bem ser devido, em parte, às mudanças ambientais que afetaram as gerações anteriores. A obesidade, que começou a aumentar, pelo menos, um século atrás, pode perpetuar o seu próprio avanço através de uma retroalimentação positiva fetalmente conduzida. Especificamente, a obesidade materna e o diabetes resultante dessa obesidade durante a gestação podem promover as mesmas condições nas gerações seguintes. Estudos em animais apoiam a teoria e o efeito pode persistir por até três gerações. Nos seres humanos, o peso ao nascer se correlaciona positivamente com o IMC adulto. No entanto, salvo variações extremas, esta associação parece refletir as influências genéticas comuns em peso ao nascer e IMC adulto. No entanto, pode haver efeitos intrauterinos sobre o IMC adulto que não são manifestados em alto peso ao nascer, já que o baixo peso ao nascer e o rápido crescimento (catch-up) que muitas vezes se segue, pode ser um fator de risco para a obesidade adulta. Assim, é possível que os extremos de desequilíbrio de energia no útero (superalimentaçãoe baixo peso de nascimento) possam contribuir para a obesidade. Podemos agora estar vendo os efeitos transgeracionais obesogênicos das mudanças ambientais iniciadas uma ou mais gerações atrás. As mulheres que se submeteram a cirurgia bariátrica anterior têm uma maior taxa de nascimento prematuro ou de recém-nascidos pequenos para a gestacional. É razoável que o obstetra rastreie estas gestações para o desenvolvimento de restrição de crescimento intrauterino. Não é totalmente claro se isso aumenta o risco para o feto ou se tem consequências a longo prazo para a sua saúde na idade adulta, mas alguns estudos sugerem que a cirurgia bariátrica materna aumenta o risco de doenças metabólicas na prole. Ratas com obesidade induzida por dieta submetidas a gastrectomia vertical (ou cirurgia sham) geraram filhotes que nasceram menores e mais leves do que os filhotes de ratas controle. Além disso, quando mantidos em uma dieta rica em gordura, após a puberdade, estes filhos adultos tiveram uma maior propensão para desenvolver intolerância à glicose, hipercolesterolemia, esteatose hepática, e sobrepeso ou obesidade do que os filhotes de ratas que foram submetidos a cirurgia sem controle. Muitos fatores do ambiente materno podem resultar na restrição do crescimento intrauterino, incluindo calorias ou desnutrição de macronutrientes, má absorção, anemia, perda de células produtoras de grelina maternas (um regulador do crescimento e do desenvolvimento intrauterino, agindo sobre os receptores GHS na placenta e nos descendentes), sugerindo assim que a cirurgia bariátrica materna possa aumentar o risco de obesidade, síndrome metabólica e diabetes na geração seguinte. 7.3 Diabetes tipo 1 na infância4 Atualmente o DM1 é responsável por 90% dos casos de diabetes na infância, no entanto apenas 50% dos casos são diagnosticados antes dos 15 anos. Dados epidemiológicos, publicados no “Atlas de Diabetes 2013” da Federação Internacional de Diabetes (International Diabetes Federation – IDF) estimam uma prevalência de cerca de 500 mil crianças menores de 15 anos com DM1 no mundo. Entre os países com maior número de casos novos por ano estão Estados Unidos (13 mil), Índia (10.900) e Brasil (5 mil) (Patterson et al., 2014). A infância e a adolescência são fases em que ocorre intenso desenvolvimento físico e psicológico dos indivíduos, assim como transformações biopsicossociais. A criança e/ou adolescente, além de lidarem com os aspectos próprios desses momentos, ao se defrontarem com uma doença crônica, como DM1, precisam enfrentar as demandas oriundas da doença e do tratamento, e com isso podem desenvolver desordens emocionais, como culpa, raiva, medo, angústia, depressão e apatia. Estas desordens, por sua vez, podem refletir no comportamento das crianças e adolescentes no ambiente escolar e familiar, bem como resultarem em uma maior dificuldade de adesão ao tratamento. Um dos objetivos do tratamento do DM1 é a possibilidade de prevenção das complicações agudas e crônicas, haja vista o seu comprometimento na qualidade de vida de seus portadores. Nesse contexto, a ciência tem evidenciado que a terapia nutricional é fundamental na prevenção, tratamento e gerenciamento do DM1, tendo como objetivo proporcionar o bom estado nutricional, a saúde fisiológica e qualidade de vida do indivíduo, bem como prevenir e tratar complicações no curto e longo prazo e comorbidades associadas. 4 Texto adaptado de Renata Labrocini Bertin e colaboradores. Para De Mello (2006), a condição financeira tem repercussões na qualidade do tratamento. Em uma pesquisa realizada por Peres, Franco e Santos (2006), os aspectos financeiros foram considerados um dos itens que dificultavam o seguimento da dieta por portadores de diabetes. A boa condição financeira foi vista como um facilitador e um estímulo para seguir a alimentação recomendada. Resultados semelhantes foram encontrados por Fragoso et al. (2010) ao observarem que a baixa renda familiar dificultava a oferta de uma dieta correta a adolescentes portadores de DM1. Em estudo realizado por Souza (2005) é possível observar que a renda é um fator determinante no consumo desses produtos, os quais esses são geralmente mais caros do que os tradicionais, e muitos consumidores não têm renda suficiente para adquiri-los esses produtos com frequência. Para alguns participantes, os produtos diet e light tem um alto custo, sendo necessário comparar preços e escolher o mais barato. A diferenciação no sabor dos produtos dietéticos em comparação com os naturais foi destacada como um fator que desestimula os consumidores na compra dos produtos. Fonte: www.reporter-ro.com.br A doença acarreta mudanças significativas na relação que o paciente diabético estabelece com seu próprio corpo e com o mundo que o cerca, e isso se traduz principalmente no aspecto alimentar. Na terapêutica do diabetes é fundamental cumprir a dieta. O ato de comer, porém, é complexo e não remete apenas à ingestão de nutrientes, mas também a uma gama de emoções e sentimentos, além de valores culturais, o que torna árduo o cumprimento das recomendações. A alimentação não deve aprisionar a criança e/ou adolescente, e a família deve estar preparada para os dias de festa, educada para realizar teste de glicemia capilar antes e depois da comemoração e para evitar ou corrigir possíveis hiperglicemias, com uso de insulina de ação rápida. De acordo com os autores, as crianças e os adolescentes não devem ser afastados da sociedade e devem participar de eventos sociais, como festas de aniversário de amigos e colegas, sem colocar em risco sua saúde. Desta maneira, ressalta-se que os profissionais da saúde devem buscar constantemente o conhecimento para que possam assistir o paciente diabético, e especialmente o profissional nutricionista deve criar estratégias que estimulem esta população na busca de uma alimentação adequada e saborosa, proporcionando a manutenção e promoção da saúde, assim como uma melhora na qualidade de vida desses indivíduos. 7.4 Hipertensão arterial na infância A ocorrência da Hipertensão Arterial primária vem aumentando entre crianças e, em 10 anos, passou de 1% para 4,5%. Estudos nacionais mostram que a prevalência de PA alterada em crianças varia de 3,6 a 15,8%. Nas últimas décadas a atenção para esse tema na pediatria tem aumentado e, atualmente, a verificação da PA se tornou parte do protocolo de exame físico a partir do terceiro ano de vida, sendo crescente o número de estudos na área que vem aprimorando as normas para sua avaliação. O excesso de peso, avaliado comumente pelo Índice de Massa Corpórea (IMC), é um importante preditor da PA elevada em crianças. O risco de PA elevada pode aumentar mais que o dobro a cada unidade aumentada de z-score de IMC. Assim, a classificação adequada do estado nutricional em crianças é um instrumento de alerta para o risco de hipertensão. Sobrepeso e obesidade na infância são distúrbios epidêmicos mundiais e sabidamente associados a risco cardiovascular e metabólico. Dessa forma, a classificação nutricional em crianças constitui importante recurso de triagem, tanto na prática clínica quanto em pesquisas epidemiológicas, para a identificação de indivíduos sob risco de uma série de comorbidades, tais como a hipertensão arterial sistêmica. 7.5 Tratamento da obesidade infantil As estratégias de tratamento da obesidade e do sobrepeso infantil são pouco documentadas, comparando-se com os trabalhos existentes sobre adultos. Apesar de não haver tratamento considerado padrão, pela inconclusividade derivada de problemas metodológicos frequentemente encontrados nos trabalhos disponíveis, as recomendações atuais para o manejo clínico do excesso de peso em crianças e adolescentes baseiam-se no controle deganho ponderal e das comorbidades eventualmente encontradas. O tratamento convencional fundamenta-se na redução da ingestão calórica, aumento do gasto energético, modificação comportamental e envolvimento familiar no processo de mudança. O tratamento se dá em longo prazo e sugerem-se visitas frequentes. Em crianças e adolescentes com Z-IMC acima de +2 sugere-se que a perda de peso deva ser gradual (por exemplo, 0,5 kg por mês), mas em crianças e adolescentes com Z-IMC acima de +3, a perda de peso pode ser maior, mas não deve exceder 1 kg por semana. Se não houver melhora no status do IMC em 3 a 6 meses, deve-se planejar um balanço energético negativo através de uma dieta ainda mais estruturada e atividade física, com maior envolvimento de toda a família para melhorar o ambiente da casa, visitas clínicas frequentes semanais nas primeiras 8 a 12 semanas com equipe multidisciplinar (de preferência incluindo além do endocrinologista, um psicólogo, um nutricionista e um fisiologista do exercício ou educador físico). Fonte:www.claudiamadeirapereira.com 7.6 Tratamento dietético O tratamento dietético deve focar-se na adequação da ingestão calórica e no suprimento das necessidades nutricionais para a idade. A proporção calórica dos macronutrientes deve seguir a recomendação das diretrizes nacionais e internacionais de alimentação saudável. Do total de calorias da dieta, 15% devem provir de proteínas, 50% a 55%, dos carboidratos e 30%, das gorduras. O National Cholesterol Education Program norte-americano propõe que, para o tratamento de dislipidemias em adultos, a dieta alcance 35% do valor calórico total sob a forma de gorduras, sendo menos de 7% de ácido graxo saturado, mais de 10% de poli-insaturado e mais de 20% de monoinsaturado. 7.7 Intervenções terciárias de tratamento Podem-se utilizar outras estratégias, tais como dietas de maior restrição calórica, tratamento medicamentoso ou cirurgia bariátrica, no tratamento da obesidade em adolescentes, quando esta se apresentar em graus mais graves e se associar a comorbidades importantes. O tratamento clínico é baseado em modificações do estilo de vida e pode incluir o uso de medicamentos. Uma intervenção terciária de tratamento deve ser usada apenas de forma limitada na população pediátrica, para adolescentes severamente obesos incapazes de diminuir a adiposidade e reduzir seus riscos de morbidade, suficientemente maduros para entender os possíveis riscos associados. Essa intervenção pode considerar um protocolo de substituição de refeições com dieta de muito baixas calorias, medicação antiobesidade e, em último caso, cirurgia bariátrica. Os riscos e benefícios dessas condutas devem ser cuidadosamente avaliados, caso a caso, até que se obtenha maior nível de evidência. Só se deve considerar tais alternativas no tratamento de crianças e adolescentes que não responderam ao tratamento convencional e apresentam graves comorbidades associadas ao excesso de peso. 7.8 Tratamento medicamentoso Os medicamentos utilizados no controle da obesidade foram desenvolvidos para serem utilizados em conjunto com modificações de estilo de vida (hábitos alimentares e prática de atividade física) e não isoladamente. Da mesma forma que em pacientes adultos, alguns ECR, duplo-cegos e controlados em longo prazo, também já foram realizados em crianças e adolescentes com sibutramina, orlistate e metformina, por até um ano de duração. 7.9 Sibutramina Uma metanálise avaliou as publicações de intervenção comportamental e medicamentosa em crianças e adolescentes com objetivo de perda de peso, foram incluídos apenas trabalhos randomizados e publicados até 2006. Foram incluídos seis estudos totalizando 550 crianças e adolescentes de 11 a 18 anos com sibutramina levando a uma redução de 2,4 kg/m2 na média do IMC. Em crianças e adolescentes o resultado é exposto de acordo como mudança de IMC ao invés de mudança no peso em quilos, porque nesta fase do desenvolvimento, o IMC varia não apenas de acordo com a mudança no peso, mas também de acordo com o aumento na estatura. 7.10 Orlistate O tratamento com orlistate é aprovado a partir dos 12 anos com obesidade não responsiva a mudança de estilo de vida, e as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) devem sempre ser suplementadas em dose habituais de reposição, durante todo o tratamento com orlistate. Durante o tratamento, devem ser monitorados ativamente em todas as consultas os seguintes efeitos colaterais: presença de alteração intestinal com esteatorreia, escape fecal, dor abdominal (uma vez que se o paciente estiver aderente à dieta este efeito colateral não estará presente), hipovitaminose D (periodicamente através da dosagem da vitamina D3 sérica ou colecalciferol sérico). Orlistate é contraindicado aos pacientes que tenham distúrbios de absorção intestinal (doença celíaca, doença de Crohn), intolerância alimentar ou outros tipos de doença inflamatória intestinal. 7.11 Metformina Em crianças e adolescentes a metformina também sido proposta no tratamento da obesidade infantil. Uma revisão sistemática de ECR duplo-cegos de duração superior a 6 meses em crianças e adolescentes não diabéticos de 6 a 19 anos onde a metformina foi utilizada em doses de 1.000 a 2.000 mg/dia para redução do peso e da resistência à insulina concluiu que o uso da metformina levou redução média de IMC de 1,15 kg/m2 em relação ao placebo, redução da insulinemia de jejum média de 5 UI/ml (em 78% dos participantes) e diminuição do HOMA-IR em 1,3. 7.12 Octreotida É um análogo da somatostatina que se liga principalmente ao receptor tipo 5. É utilizado principalmente no tratamento combinado de tumores hipersecretores de GH (acromegalia e gigantismo). Os pacientes com obesidade de causa hipotalâmica parecem apresentar algum benefício. Nestes pacientes, uma característica é a pequena resposta ao tratamento com medicamentos tradicionais de combate à obesidade como sibutramina. 7.13 Hormônio de crescimento recombinante (hGH) O hGH é utilizado principalmente no tratamento da baixa estatura e déficit hormonal. Os casos descritos onde o hGH pode ser utilizado como tratamento adjuvante no controle da obesidade, como nos pacientes com síndrome de Prader- Willi. Estudos realizados nestes pacientes concluem que apesar da mudança de IMC não ser significativa, ocorre redução de massa gordurosa e melhora do crescimento nos pacientes que utilizam terapia com GH por pelo menos quatro anos de tratamento com a dose de GH de 0,033 mg/kg (0,1 UI/kg) em aplicações subcutâneas diárias. 7.14 Leptina recombinante Leptina é um hormônio produzido pelos adipócitos que em situações fisiológicas atua em receptores no centro de saciedade induzindo diminuição do consumo alimentar. Pode ser de utilidade na presença de deficiência de sua produção. O tratamento com leptina recombinante só é efetivo nos raros casos de deficiência da leptina, descritos normalmente em famílias de origem paquistanesa. Nos casos de obesidade poligênica (maior parte) o tratamento com leptina recombinante não exerce efeito sobre o peso. 7.15 Cirurgia bariátrica em adolescentes Fonte: s.glbimg.com A Sociedade Americana de Cirurgia Pediátrica sugere que o adolescente elegível para cirurgia bariátrica deve ter comprometimento da saúde pela magnitude da obesidade, ter falhado após seis meses de tratamento conservador, e ainda, ter plena capacidade de decisão e garantia do envolvimento familiar. No Brasil, recentemente, o limite inferior de indicação em relação à faixa etária em nosso país foi reduzido de 18 para 16 anos desde que o Z-IMC seja igual ou superior a +4, a placa de crescimento epifisária esteja fechada, e haja uma concordância entre o responsável legal e a equipe multidisciplinar. Abaixo de 16 anos de idade, a cirurgia só pode
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