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Geovana Sanches, TXXIV DOENÇAS CIRÚRGICAS DO FÍGADO E PÂNCREAS CISTOS SIMPLES Os cistos são lesões extremamente comuns, acometendo principalmente os rins, fígado e baço. São as lesões hepáticas mais comuns, acometendo de 1 a 7% da população. Habitualmente, são de origem congênita a apresentam evolução benigna. O diagnóstico é feito pela ultrassonografia, a qual consegue diferenciar as lesões císticas (conteúdo seroso) de nódulos sólidos (formação de imagem mais branca). São nódulos com paredes finas, de conteúdo anecoico e com reforço acústico posterior devido ao conteúdo líquido da lesão. Septos irregulares no interior do cisto ou vascularização arterial periférica são achados que devem alertar para o diagnóstico de cistoadenoma ou cistoadenocarcinoma. Ressonância magnética Os cistos hepáticos só devem ser retirados quando são muito grandes e causam compressões em outros órgãos, levando a uma determinada sintomatologia. Caso contrário, não é necessário nenhum tratamento ou acompanhamento. É necessário diferenciar os cistos simples da doença policística hepática, a qual é uma afecção genética. Diagnostica-se a doença quando o indivíduo apresenta mais de 20 cistos no fígado ou, caso haja história familiar confirmada da doença, quando ele apresenta mais de 10 cistos hepáticos. Não há tratamento para a doença, sendo necessário realizar o acompanhamento. Caso o indivíduo curse com insuficiência hepática, é indicado o transplante de órgão. HEMANGIOMAS Os hemangiomas são as lesões benignas sólidas mais frequentes do fígado, com prevalência variando entre 3 e 20% da população. Há maior acometimento de mulheres (3:1) entre 30 e 50 anos e postulasse que há crescimento relacionado a gravidez e estado hormonal – caso o nódulo cresça durante o uso de anticoncepcional oral, indica-se a suspensão da medicação. Trata-se de malformações vasculares que se desenvolvem durante a vida – é como um acúmulo de sangue. Essas lesões são “incidentais”, pequenas, assintomáticas e não determinam implicações clínicas relevantes, exceto se forem muito grandes, podendo comprimir outros órgãos. Não é necessário tratamento ou acompanhamento após o diagnóstico. O único cuidado a ser tomado é caso o indivíduo sofra um trauma, pois nesses casos o hemangioma pode se romper, criando um quadro agudo. Diagnóstico O melhor exame para diagnóstico de lesões hepáticas é a ressonância nuclear magnética com contraste específico para o fígado (primovist), o que permite a diferenciação de todos os nódulos. Caso não seja possível, é importante que se seja realizado ao menos uma tomografia computadorizada, porém também com contraste específico para o fígado. Trata-se de um nódulo homogêneo e, por repleto de vasos (venosos), cora-se muito intensamente. • USG: homogeneamente hiperecogênicos e bem definidos o Nódulos maiores (> 5 cm) podem ter aspecto heterogêneo com áreas hipoecogênicas devido a trombose ou necrose • USG com doppler: ausência de fluxo arterial no interior do nódulo - ricamente vascularizado Geovana Sanches, TXXIV • USG com contraste - alta acurácia - fase arterial - enchimento periférico globular/ progride de forma centrípeta até o enchimento total da lesão nas fases portal e tardia • TC: fase arterial da TC como lesões hiperdensas - enchimento centrípeto/ permanece homogeneamente hiperdenso nas fases portal e tardia • RNM: acurácia 90% o Principal característica: intenso sinal nas sequências em T2 dando o aspecto “brilhante” • Cintilografia com pool de hemácias: sensibilidade de 85% e especificidade de 100% para lesões > 2 cm o Em geral não é necessário, sendo a RNM suficiente. • Biópsia percutânea: não é recomendada devido ao risco de sangramento HIPERPLASIA NODULAR FOCAL (HNF) A hiperplasia nodular focal é um tumor sólido, com prevalência de 2,5 a 8% na população. Acomete especialmente mulheres (8:1), dentre 30 e 50 anos. Anticoncepcionais e gestação não são fatores etiológicos, mas alguns autores sugerem que a ação hormonal pode favorecer o crescimento dessas lesões, uma vez que pacientes em uso desses hormônios tendem a ter lesões maiores e mais vascularizadas. Geralmente são lesões únicas, com diâmetro entre 3 e 5 cm, que não necessitam de tratamento ou acompanhamento após o diagnóstico. Decorre da proliferação hiperplásica dos hepatócitos normais secundária a malformações vasculares preexistentes no fígado. Complicações como necrose ou hemorragia são extremamente raras e não há relatos de transformação maligna. Diagnóstico • Entre 75 e 80% das HNF apresentam uma cicatriz central, sendo a presença desta cicatriz na RNM com contraste hepato- específico define esse diagnóstico • USG: isoecogênica e de difícil diferenciação do parênquima adjacente • USG com contraste: enchimento homogêneo da lesão na fase arterial - centrífuga a partir da cicatriz central/ fases tardias - lesão gradualmente isoecogênica o É muito raro de ser realizado no Brasil • CT: lesão iso ou hipodensa, que na fase arterial constatada de forma homogênea, retornando à sua densidade pré-contraste nas fases venosa e tardia • RNM o Lesão é isointensa em T1 e isointensa ou levemente hiperintensa em T2 o Cicatriz central tipicamente é hipodensa em T1 e intenso sinal nas sequências em T2 o Contraste: gadolíneo - lesão apresenta enchimento homogêneo e precoce, e a cicatriz central contrastada na fase tardia nas imagens em T1 o Sensibilidade 70% e especificidade 98% ADENOMA HEPÁTICO O adenoma hepático também é uma lesão nodular sólida, de forma que deve ser diferenciado da hiperplasia nodular focal, tendo em vista que apresenta risco de transformação maligna (5 a 10% para lesões > 4 cm). Deve-se tomar cuidado também quando há aumento da lesão e níveis elevados de alfafetoproteína. Acomete principalmente mulheres (4:1) e apresenta associação hormonal, sendo que a incidência aumenta com o uso de anticoncepcionais orais. Esses tumores podem regredir com o término da terapia hormonal e aumentar de tamanho durante a gravidez. Normalmente são assintomáticos, mas o quadro clínico inclui dor abdominal aguda nos casos de sangramento dentro do tumor, ruptura ou necrose tumoral. Após o diagnóstico, o acompanhamento deve ser realizado anualmente. Especialmente para adenomas com mais de 5 cm, deve-se ter cuidado, sendo indicada a ressecção cirúrgica. Outra condição de atenção é quando há múltiplos adenomas hepáticos (poliadenomatose ou adenomatose hepática), a qual é definida pela presença de mais de 10 adenomas no fígado. Nessa condição, também há indicação cirúrgica devido a alta chance de transformar-se em câncer. Muitas vezes indica-se o transplante hepático, devido a localização espaçada dos adenomas pelo fígado. Geovana Sanches, TXXIV Diagnóstico • USG: nódulos iso, hiper ou hipoecogênicos • USG com doppler: vasos arteriais periféricos e centrais dispostos de maneira desorganizada • US com contraste: há o enchimento precoce e homogêneo na fase arterial, exceto quando há necrose ou hemorragia central o Cápsula ou pseudocápsula pode estar presente, a qual é visualizada com o contraste o Não apresenta cicatriz central • As fases portal e tardia evidenciam nódulos isoecogênicos em relação ao parênquima normal • RNM com contraste hepático específico o Inespecíficos/ hiperintensos nas sequências em T2 e ocasionalmente em T1 o Intenso realce: gadolínio o Isointensa em relação ao parênquima hepático nas fases venosa e tardia o Sensibilidade de 75% • Biópsia: não deve ser realizada o Risco de sangramento o Material coletado pode ser insuficiente para a análise histológica o Nódulos podem conter pequenos focos de células malignas, não detectados nas amostras • Ressecção cirúrgica: sintomáticas, incerteza diagnóstica, lesões > 5 cm e a presença de complicações• Interrupção do uso de ACO CARCINOMA HEPATOCELULAR (CHC) O carcinoma hepatocelular é proveniente, de 90 a 95% dos casos, de três doenças: A. Cirrose a. Cerca de 80% dos casos de CHC são provenientes da cirrose hepática, seja alcoólica ou não. b. Para nódulos < 1 cm e dúvida diagnóstica: seguimento via ultrassonografia de 6 em 6 meses c. Alfafetoproteína não altera significativamente a probabilidade diagnóstica B. Hepatite B ou C crônica C. Esteatose hepática Nos casos de CHC provenientes de hepatite ou esteatose, não se faz necessária a passagem pelo estágio da cirrose. Em geral, a doença se manifesta por um nódulo único. Na ultrassonografia, a lesão não é patognomônica e, lesões menores que 10 mm (ou 1 cm) geram dúvidas inclusive na RNM. Quando maiores do que isso, o diagnóstico firma-se pela ressonância: • Vascularização arterial: washout - fase portal e de equilíbrio o O contraste entra e sai rapidamente da imagem, pois o carcinoma é muito vascularizado. o Específico para o diagnóstico de CHC Caso restem dúvidas no diagnóstico, a biópsia está indicada para confirmação do mesmo. METÁSTASES O fígado é um dos órgãos mais comumente atingidos por metástases, principalmente nos casos de tumores do TGI. Estômago, esôfago, pâncreas, intestino, ovários são os principais órgãos que metastatizam para o fígado. Nesse caso, apresentam-se como múltiplos nódulos. Cerca de 80% das lesões são hipovasculares, com detecção de vasos apenas na periferia da lesão, mas também podem também ser hipervasculares, a depender do local de origem da metástase. ABSCESSO HEPÁTICO Os abcessos hepáticos pode ser piogênicos, amebianos ou micóticos. Piogênico O abcesso piogênico é aquele que contém pus. É subdividido em: 1. Biliar: > 40% dos casos, associado a colangite, obstrução biliar. Relaciona-se a múltiplos abscessos 2. Portal: 20% dos casos, mais frequente no lobo direito. Relaciona-se com antecedente de infecção abdominal 3. Arterial: 10% dos casos. Relacionado a drogas e bacteremia 4. Trauma: intervalo variável de tempo, por vezes longo, entre o trauma e o estabelecimento da lesão 5. Extensão direta: colecistite, abscessos subfrênicos, úlceras perfuradas Geovana Sanches, TXXIV 6. Criptogênica: 15 a 20% dos casos Quadro clínico Sintomas Sinais Febre (79%) Defesa no HD (43%) Dor abdominal (55%) Hepatomeglia (28%) Náusea (37%) Atelectasia (28%) Vômito (30%) Derrame pleural (28%) Emagrecimento (28%) Icterícia (28%) Toracalgia (21%) Defesa no epigástrio (15%) Tosse/dispneia (21%) Ascite (4%) Diarreia (20%) Choque séptico (3%) Distensão abdominal (5%) Diagnóstico à Identificação do patógeno • Aspirado do abcesso: 80 a 97% • Hemoculturas positivas: 50 a 60% • Via Sistema Biliar (E. coli) • Via Circulação Portal (Polimicrobianas) • Via Arterial (Staphylococcus aureus) • Trauma (Staphylococcus aureus) • Criptogênicas (bacteroides) Staphylococcus é o agente mais frequente em crianças. Nestas, os abcessos associam-se a doenças hematológicas, granulomatosas e imunossupressão. à Alterações laboratoriais Em geral, há poucas alterações laboratoriais, exceto quando há maior acometimento hepático. Alguns dos possíveis achados são: • Leucocitose (70 a 90%) • Anemia (50%) • Aumento da fosfatase alcalina (80%) • Hipoalbuminemia (70%) • Aumento das transaminases (60%) • Aumento de bilirrubinas (20 a 50%) à Imagem A imagem demonstra formações nodulares, não enegrecidas na RNM. A porção enegrecida no interior do abcesso demonstra a presença de ar, o que é indicativo de que a bactéria em questão é aeróbia. Diagnóstico diferencial Amebíase Piogênico Idade < 40 > 50 Sexo Homens (10:1) Homens (0,8 :1) Raça > 90% origem hispânica - Dor HD 60 a 65% 30 a 40% Febre 95 a 100% 95 a 100% Arrepios < 30% 75 a 80% Serologia 98 a 100% < 5% mortalidade < 5 % 10 a 15% Tratamento • Antibioticoterapia • Drenagem: a necessidade vai depender do tamanho e da resposta ao antibiótico o Punção percutânea o Drenagem percutânea o Drenagem cirúrgica § Videolaparoscopia → Drenagem percutânea • Contra-indicações o Ascite o Necessidade de laparotomia o Ruptura de abscesso o Localização • Complicações o Hemorragia (principal delas) o Perfuração de víscera oca o Contaminação peritoneal o Perfuração pleural CARACTERIZAÇÃO DA VASCULARIZAÇÃO DOS TUMORES HEPÁTICOS Geovana Sanches, TXXIV COLECISTITE AGUDA A colecistite é a inflamação aguda da vesícula, sendo a 3ª causa mias frequente de internação de emergência em cirurgia e 5ª dos portadores de litíase vesicular. O USG é o melhor exame para seu diagnostico. Definição • Colecistite aguda litiásica (95%) • Colecistite aguda alitiásica (5 a 10%) o Ocorre principalmente em indivíduos com sepse, em nutrição parenteral e jejum prolongados, entre outros. Etiopatogenia da Colecistite aguda litiásica 1. Obstrução do cístico por cálculo 2. Impedimento do fluxo biliar 3. Aumento da pressão intraluminar e distensão da vesícula 4. Diminuição da drenagem linfática e congestão venosa 5. Isquemia da parede e infiltração PMN 7 edema a. Pode ser ocasionada também por infecção bacteriana secundária por G- anaeróbios A cultura é positiva em mais de 60% dos casos após 48h do surto. Todavia, não é algo comumente solicitado na prática clínica. Etiopatogenia da Colecistite aguda alitiásica Pode decorrer, por exemplo, da evolução de período pós-traumático ou pós-operatório grave. • Opiáceos à aumento da pressão da via biliar principal à obstrução funcional da vesícula • Febre e desidratação; restrição hídrica; opiáceos; NTP prolongada; suporte ventilatório P+ à aumento da viscosidade da bile à obstrução funcional da vesícula • Choque; IRA; aterosclerose à isquemia da parede à obstrução funcional da vesícula Quadro clínico • Dor • Náusea e vômitos (50%) • Febre o Complicação: empiema, abscesso e colangite • Passado dispéptico Exame físico • Icterícia (15 a 20%) o Coledocolitíase o Peritonite biliar filtrante o Síndrome de Mirizzi o Hepatite transinfecciosa • Abdome o Sinal de Murphy o Vesícula palpável o Plastrão (o plastrão pode se formar em qualquer parte do abdome, como uma defesa de inflamação ou infecção local. Nesses casos, o omento maior tenta bloquear esse local para que não ocorra extravasamento para outros locais do organismo, o que altera a consistência do epítono, fazendo com que este seja palpado como um tumor – consistência firme e endurecida) Exames laboratoriais • Leucometria > 10.000/ mm³ • Hiperbilirrubinemia • Aumento das enzimas canaliculares o Fosfatase alcalina e Gama-GT Complicações (10 a 20%) • Coledocolitíase (10 a 15%) • Colangite (infecção da via biliar principal) • Empiema (coleção de pus) • Perfuração - abscesso pericolecístico • Fístula bíleo-digestiva • Coleperitônio - peritonite biliar • Síndrome de Mirizzi • Pancreatite • Colecistite enfisematosa (Clostridium sp) Diagnóstico por imagem • RX simples de abdome o Exclusão de outros abdomes agudos o Verifica-se cálculo bilirrubinato de cálcio em 10% dos casos • Ultrassonografia: é o melhor exame diagnóstico o Vesícula em porcelana (parede vesicular apresenta cálcio) o Aerobilia (presença de ar dentro da via biliar) o Colecistite enfisematosa • Colecistograma oral e endovenoso (abandonados) Geovana Sanches, TXXIV Tratamento • Tentativa de esfriar o processo inflamatório com tratamento clínico • Tratamento cirúrgico o Remoção do órgão doente e tratamento das complicações o Precoce o ATB (curta duração: G- e anaeróbios) SÍNDROME DE MIRIZZI A síndrome de Mirizzi é uma complicação da colelitíase, quando há compressão ou inflamação de cálculos impactados que leva à obstrução do ducto hepático comum. Ocorre em 0,7 a 1,4% das colecistectomias,com maior prevalência em pacientes do sexo feminino acima dos 40 anos de idade. Classificação • Compressão extrínseca do ducto biliar comum por cálculo biliar no colo vesicular ou ducto cístico • Fístula colecistobiliar com erosão de diâmetro inferior a ⅓ da circunferência do ducto biliar comum • Erosão com diâmetro superior a ⅔ da circunferência do ducto biliar comum • Destruição completa do ducto biliar Quadro clínico • Icterícia • Dor abdominal • Colúria • Vômitos • Perda de peso • Prurido COLEDOCOLITÍASE Incidência Corresponde de 8 a 15% das litíases biliares e necessita de cirurgia mais precoce por via laparoscópica (3 a 6%). Colangiografia operatória As pedras no interior do colédoco podem obstruí-lo e provocar colangite, condição muito mais frequente nas coledocolitíases do que nos cânceres da papila duodenal. É uma condição extremamente grave, de tratamento urgente pois leva a sepse muito fácil. COLANGITE AGUDA Define-se como colangite aguda a infecção da árvore biliar, cuja principal causa no mundo ocidental é a coledocolitíase. Trata-se de uma emergência médica, tendo em vista que é potencialmente fatal. Diante do diagnóstico, deve-se realizar imediatamente a CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica), ou seja, drenagem do colédoco por via endoscópica. Caso não seja possível, o procedimento deve ser realizado por videolaparoscopia (corta-se o colédoco e insere-se um dreno). Em último caso, faz-se o procedimento por laparotomia. Etiologia Laboratório O laboratório reflete o grau de inflamação e de obstrução biliar. • Leucocitose com desvio à esquerda • Aumento do PCR • Gama GT, FA, AST e ALT elevadas • TAP alargado: prejuízo na absorção ileal de vitamina K • Cultura da bile: positiva para enterobactérias • Hemoculturas: frequentemente são positivas o E. coli (25 a 50%) o Klebsiella (15 a 20%) o Enterobacter spp (5 a 10%) Geovana Sanches, TXXIV o Menos frequente: germes anaeróbios na bile ou na hemocultura - idosos ou com anatomia alterada cirurgicamente Diagnóstico Clínica • Tríade de Charcot: alta especificidade e baixa sensibilidade o Dor em quadrante superior direito do abdome o Febre com calafrios o Icterícia • Presença de secreção purulenta em alta pressão com estase biliar é conhecida como colangite supurativa (ou “colangite tóxica”) • Pêntade de Reynolds: casos mais graves o Tríade de Charcot o Hipotensão o Depressão do SNC • Demanda descompressão imediata da via biliar Exames de imagem • USG: presença de colecistolitíase, dilatação dos ductos biliares (intra e extra- hepáticos) e alterações periampulares • TC: pode definir dilação de vias biliares, massas abdominais, pancreatite e complicações da colangite (abscesso hepático) • Colangioressonância: sensível para lesões obstrutivas da árvore biliar e defeitos de enchimento hepato-colecodianos. Pode identificar alterações no território periampular e pancreático • Ultrassonografia endoscópica: alta acurácia na identificação de coledocolitíase • CPRE: padrão-ouro para diagnóstico de colangite, é um exame invasivo cuja indicação deve ser racionalizada. Tem vantagem de ser um método simultaneamente diagnóstico e terapêutico. Permite descompressão biliar através de papilotomia, assim como extração de cálculos e implante de endoprótese (“stent)” • CPT: método mais invasivo, pode identificar dilatação e defeitos de enchimento na via biliar, com adequada visualização da via biliar intra-hepática Diretrizes de Tóquio A tabela das Diretrizes de Tóquio combina características clínicas laboratoriais e estudos de imagem na tentativa de estabelecer a probabilidade do diagnóstico de colangite aguda. PANCREATITE AGUDA A pancreatite, apesar de ser uma doença iminentemente clínica, é tratado por cirurgiões. Faz parte da síndrome de abdome agudo. Trata-se de uma doença inflamatória autolimitada, que se resolve com medidas clínicas. Todavia, nos casos em que se desenvolve necrose pancreática e/ou peripancreática e infecção pancreática, torna-se uma condição grave, sendo que nesses casos faz-se necessário o tratamento cirúrgico. Epidemiologia • Incidência: 5,4 a 79,8 casos por 100.000 habitantes • Maior acometimento em pacientes entre 30 e 60 anos • Mortalidade global: 10 a 15% o Fase precoce: síndrome da resposta inflamatória sistêmica, secundária à necrose pancreática o Fase tardia: complicações infecciosas e necrose pancreática • 5° diagnóstico: abdome agudo • 4° causa de internação Causas A depender da causa da pancreatite, a conduta terapêutica será distinta. • Pancreatite aguda biliar: ocasionada pela passagem de cálculo proveniente da vesícula pelo ducto biliar comum. o A conduta consiste na retirada do cálculo da papila, removendo a obstrução. • Pancreatite aguda alcoólica: ocasionada pelo excesso de ingestão de álcool. • Pancreatite relacionada a pacientes obesos: o excesso de colesterol e triglicérides causa obstrução do ducto, com hipertensão no mesmo e lesão de células pancreáticas. Geovana Sanches, TXXIV o Ativação das enzimas pancreáticas no interior das células acinares Quadro clínico Sintomas • Dor abdominal e indicadores bioquímicos de lesões pancreáticas (85 a 100%) o Repentina o Epigástrica o Irradiação para flancos e dorso (50%) § Órgão retroperitoneal o Constante pode ser intensa e precipitada por ingestão excessiva de álcool ou alimentos o Melhora com decúbito lateral e a flexão das coxas sobre o abdome • Náuseas e vômitos (54 a 92%) • Às vezes, parada de eliminação de gases e flatos (íleo paralítico) • Indolor (rara) - prognóstico grave o Choque circulatório ou coma Sinais • Icterícia (8 a 20%) • Cianose • Febre (12 a 80%) o Caso haja infecção bacteriana associada • Hipotensão arterial (1 a 60%) • Coleções agudas • Necrose pancreática • Pseudocisto pancreático o Cisto x Pseudocisto: os cistos apresentam cápsula, enquanto os pseudocistos possuem pseudo- cápsulas (estomago e mesogástrio atuam como cápsula desses cistos) • Abscesso pancreático • Plastrão palpável, doloroso no epigástrio (6 a 20%) • Pigmentação esverdeada ou preta o Regiões lombares (sinal de Grey- Turner) o Região umbilical (sinal de Halsted) • Ruídos intestinais diminuídos - distensão abdominal (íleo paralítico) Diagnóstico Sinal radiográfico Incidência (%) “Alça sentinela” 41 Dilatação do cólon transverso 22 Apagamento do psoas 19 Velamento no andar superior do abdômen 19 Aumento da distância entre cólon e estômago 15 Distorção da curvatura maior do estômago 14 Distensão gasosa do duodeno 11 Efusão pleural 4 Calcificação pancreática 3 Um ou mais sinais listados 79 Ultrassonografia Nessa ultrassonografia, não é possível definir o local exato do pâncreas, pois ele está edemaciado. Tomografia computadorizada A TC é o melhor exame para o diagnóstico de pancreatite, tendo em vista que é um quadro agudo. Não é possível delimitar o pâncreas devido ao edema. Ressonância magnética CPRE • Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica • Não está indicada pancreatite biliar leve e na não biliar • Indicada na pancreatite biliar com colestase e colangite Geovana Sanches, TXXIV Classificação de gravidade (Atlanta) Pancreatite aguda leve • Sem falência orgânica • Sem complicações locais ou sistêmicas o Paciente em geral é internado e são adotadas medidas gerais. § Jejum § Hidratação § Pode-se ou não passar uma sonda nasográstica § Protetor gástrico (omeprazol IV) § Antibiótico (para evitar infecção) Pancreatite aguda moderadamente grave • Falência orgânica transitória (resolve em 48h) • Complicações locais ou sistêmicas sem persistência de falência orgânica Pancreatite aguda grave • Falência orgânica persistente (única ou múltipla)Determinantes de gravidade A pior forma clínica é a pancreatite necro- hemorrágica, na qual há hemorragia devido a autólise das células pancreáticas associado a necrose do tecido pancreático. Critérios de Ranson Os critérios de Ranson são um dos mais antigos. São aplicados para verificar a gravidade tanto da pancreatite alcoólica, quanto da pancreatite biliar. • Queda do hematócrito: avaliação da perda sanguínea por hemorragia), • Cálcio sérico: o cálcio se deposita nos órgãos abdominais, com formação dos “pingos de vela” (calcificações em diversos órgãos) • Aumento do N2 urinário: indica falha renal Classificação de gravidade APACHE II Esse critério não foi feito para pancreatite, e sim para pacientes graves em unidade de terapia intensiva. Ele avalia a probabilidade de sobrevivência desses indivíduos. Tratamento • Internação do paciente • Suporte clínico • Jejum • Sonda nasogástrica (SNG) • Protetores gástrico • Analgésicos • Antibióticos Complicações • Precoce: dois a três dias – manifestações cardiovasculares, pulmonares, renais e metabólicas • Intermediária: duas a cinco semanas – manifestações locais (infecção da necrose pancreática e retro-peritoneal, abscesso, pseudocistos), complicações gastrintestinais, biliar e de órgãos sólidos • Tardia: meses a anos – ascite pancreática e complicações vasculares hemorrágicas Geovana Sanches, TXXIV A depender das complicações encontradas, há um tempo de tratamento diferente. CÂNCER DE PÂNCREAS O principal câncer de pâncreas é o Adenocarcinoma ductal do pâncreas (ADP). O prognóstico é muito ruim, sendo a sobrevida é muito baixa - no Brasil, é a 2ª causa de óbitos na população (2,6 / 100.000 habitantes). Adenocarcinoma ductal do pâncreas • 90% das neoplasias do pâncreas • Genes o K-Ras é o mais comum oncogene ativado o Genes supressores tumorais: p53, p16, MADH4 • Quando maior o grau de atipia, maior o número de mutações genéticas encontradas • Modelo de lesões precursoras: IPMN (neoplasias intra-epiteliais pancreáticas) Fatores de risco • Idade avançada o Fator demográfico mais importante (80% entre 60 e 80 anos) • Sexo masculino • Judeus asquenaze e negros (2 vezes maior) • Tabagismo o Principal fator principal (5 vezes maior) • Predisposição genética o Maior fator de risco • Diabetes ou intolerância à glicose (até 80%) • Pancreatite crônica (risco 14 vezes superior à população geral) • Infecção pela Helicobacter pylori • Mutação no gene da fibrose cística Lesões precursoras • Tumores mucinosos o Cistoadenoma mucinoso o Neoplasia intraductal papilar mucinosa • Neoplasia intra-epitelial (NPN) pancreática 3 Diagnóstico Marcadores tumorais Nenhum é útil na avaliação de uma população assintomática, tendo em vista que os marcadores tumorais não pouco específicos. O Ca 19-9 tem valor preditivo positivo de apenas 0,9%, mas é um marcador importante. Exames de imagem Os exames de imagem são ineficazes na forma precoce, quando há nódulos menores de 2cm. • Ultrassonografia (USG) • Tomografia computadorizada (TC) • Ressonância nuclear magnética (RNM) • CPRE: lesão obstrutiva e escovado o Detecta 60% a 90% o Doença benigna e maligna em 75% dos casos • Ecoendoscopia: 96% especialmente em lesões menores que 3 cm o Pode ser realizada após a CPRE, sendo possível verificar a característica do cisto e coletar líquido para biópsia. Taxa de sobrevivência • Estádio-dependente (USA) o 17% em 5 anos se restrita ao parênquima pancreático • Incapacidade de diagnóstico precoce do ADP - apenas na sintomatologia clínica Geovana Sanches, TXXIV Tratamento O tratamento do adenocarcinoma ductal do pâncreas é possível apenas em 9% dos casos, com sobrevida de 23,4% após a ressecção cirúrgica. Na maioria dos pacientes, são realizados cuidados paliativos (cirúrgicos ou encoscóspicos), com radioterapia ou quimioterapia (33% dos casos com sobrevida de 7,2%). A sintomatologia ocorre em cerca de 58% dos pacientes, com sobrevida global de 5,2% em 5 anos. Conduta Quando se identifica uma IPMN no pâncreas, deve-se ter cuidado para a possibilidade de desenvolvimento do adenocarcinoma ductal de pâncreas. O primeiro passo é avaliar se o paciente apresenta algum estigma de alto-risco de malignidade, sendo que, caso qualquer um desses esteja presente e as condições do paciente forem favoráveis, indica-se cirurgia. • Icterícia obstrutiva • Componente sólido dentro do cisto • Ducto pancreático > 1 cm Caso essas características não estejam presentes, segue-se com uma ecoendoscopia, o qual verifica se o cisto é maior do que 3 cm, se a parede do cisto está muito grossa, se o ducto principal está entre 5 e 9mm, se há alterações da parede e se há alterações abruptas do calibre do ducto pancreático principal. Nessas condições, pode-se pensar na intervenção cirúrgica. Segue-se assim o fluxograma através das características apresentadas pelo cisto. TUMORES NEURO ENDÓCRINOS (TNE-P) Os tumores neuroendócrinos podem acometer o pâncreas, mas não são frequentes. Apresentação clínica Classificação Tratamento A opção cirúrgica é o único tratamento potencialmente curativo para TNE-P, tanto para tumores funcionantes como não-funcionantes. A seleção de pacientes para tratamento cirúrgico deve seguir critérios baseados em funcionalidade do tumor, grau, estágio e associação com NEM 1.
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