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2 Habilitação para avaliar um imóvel Para realizar a avaliação de um imóvel é preciso ter conhecimentos técnicos, experiência de mercado e habilitação. A ausência de um desses elementos compromete o trabalho e pode ocasionar consequências morais e materiais tanto para o corretor de imóveis, que pode ser responsabilizado por ação ou omissão, quanto para o cliente, que pode ter prejuízos. Conhecimentos técnicos são aqueles elementos que, aplicados corretamente, levam ao resultado esperado. Podemos citar: identificação do solicitante, objetivo do parecer técnico, identificação e caracterização do imóvel, indicação da metodologia utilizada, medidas perimétricas (frente ou testada e profundidade), localização e confrontações (ruas ou imóveis que cercam ou ladeiam o imóvel), contextualização do imóvel na vizinhança etc. Experiência de mercado é a percepção que tem o profissional atuante que observa a dinâmica na realização das negociações, que tipo de imóvel está sendo mais procurado, se existe maior facilidade na obtenção de financiamentos, qual produto está sendo mais procurado, se existem imóveis parados por muito tempo sem despertar o interesse dos clientes e assim por diante. Finalmente, a habilitação diz respeito ao cumprimento das exigências legais para o exercício da operação imobiliária e da profissão propriamente dita. 2.1 Habilitação é diferente de capacitação? Com certeza habilitação é diferente de capacitação. Estar habilitado é estar legalmente inscrito no Creci. Conforme legislação específica do Cofeci, é capacitado para se inscrever no Conselho 24 Avaliação de Imóveis quem apresentar no Creci da região a que pertence os seguintes documentos: a) Diploma de TTI ou Gestão de Negócios Imobiliários (original e cópia) ou Certificado de Conclusão (original); b) Três fotos 3 x 4 coloridas (traje social); c) [...] cópias autenticadas ou cópia simples e originais dos seguintes documentos: I. Cédula de identidade (necessariamente o RG); II. C.P.F; III. Título de eleitor; IV. Certidão de casamento / Averbação / Certidão de nascimento; V. Certificado de reservista; VI. Comprovante de conclusão do ensino médio ou curso superior; VII. Comprovante de residência em nome do requerente. (PARANÁ, 2019) Assim, toda e qualquer pessoa que apresentar esses documentos da forma correta terá sua inscrição realizada e, dessa forma, estará habilitado para desempenhar legalmente a corretagem de imóveis, porém o fato de o profissional ter assegurado o seu direito de realizar as atividades inerentes à profissão não quer dizer que ele efetivamente esteja capacitado para tal exercício. A capacitação para realizar um trabalho é consequência de um período dedicado à absorção de conhecimentos técnicos aliados à percepção de mercado e à experiência profissional. Não basta que a pessoa se inscreva no Creci da sua região para que se torne automaticamente capacitada. A inscrição garante a habilitação para realização dos trabalhos como corretor de imóveis, mas a capacitação é adquirida com o tempo, originária da carreira. Habilitação para avaliar um imóvel 25 Exemplo prático: perito avaliador Imagine uma situação em que um corretor de imóveis recém-formado em um curso de avaliação entendeu que o certificado entregue era sinônimo de capacitação e mandou confeccionar cartões de visita com destaque para o número de inscrição no Creci e do CNAI seguidos pela denominação perito avaliador. Quando o primeiro cliente solicitou uma avaliação para determinação do valor mercadológico de imóvel para fins de dissolução de sociedade conjugal, ele não conseguiu identificar qual era a real necessidade do cliente, realizou um trabalho em desacordo com as normas legais, causou prejuízos ao cliente e ainda teve de responder judicialmente por danos morais e materiais. Pelo exemplo dado, constata-se que a necessidade e importância da capacitação não pairam somente sobre o que deve ser feito e como deve ser feito, mas também sobre as consequências ocasionadas pela formação precária, pelo descomprometimento e pelo desconhecimento da técnica exigida. Alguns corretores se equivocam e, ao se tornar habilitados para exercer a profissão, acreditam estar também capacitados. Realizam a inscrição no Creci de sua região, se inscrevem no CNAI, se autointitulam peritos avaliadores e, quando são requisitados para realizar um PTAM, não atendem às expectativas, às necessidades e, infelizmente, nem aos requisitos básicos exigidos pela legislação. 26 Avaliação de Imóveis Para Mendonça (2012, p. 35), “faz-se necessário, portanto, que o corretor de imóveis se capacite cada vez mais, expandindo as suas fronteiras de atuação, notadamente através de cursos especí- ficos e da leitura de livros técnicos sobre o assunto, para atender a esse mercado milionário”. O mercado imobiliário é muito dinâmico, assim, é imprescin- dível que o corretor de imóveis esteja sempre se atualizando e buscando se capacitar cada vez mais por meio de cursos que tenham relação direta com o exercício das operações imobiliárias. Dentre os cursos disponíveis relacionados com a avaliação de imóveis podem ser citados os cursos de avaliação, de vistoria e de fotografia. No curso de avaliação, o corretor de imóveis irá aprofundar seus conhecimentos sobre a avaliação, a resolução Cofeci que trata do parecer técnico, bem como ter acesso a abordagens técnicas e pedagógicas diferenciadas. O curso de vistoria será importante porque proporcionará uma noção dos itens que devem ser observados, anotados e avaliados em um parecer. Finalmente, o curso de fotografia irá oferecer técnicas de captação de imagens, posição da iluminação, proximidade do objeto, entre outros detalhes que possibilitarão ao leitor do trabalho uma ideia do imóvel que mais se aproxime da realidade. O princípio para a realização da avaliação de um imóvel é a habilitação para tal. Após estar devidamente habilitado no Creci, cabe ao corretor de imóveis investir em sua carreira, participando de cursos e treinamentos, lendo, estudando e trocando conhecimento com profissionais mais experientes para, com o tempo, conquistar a capacitação e deixar claro para os clientes que é a pessoa certa para intermediar seus negócios. 2.2 Os profissionais que avaliam um imóvel Algumas profissões estão desaparecendo, outras surgindo e outras ainda se aprimorando. Hoje contamos com especialistas que mantêm o foco bem definido sobre a sua área de domínio técnico. Habilitação para avaliar um imóvel 27 Ao observarmos a profissão de corretor de imóveis, percebemos que algumas empresas se dedicam apenas a uma operação imobiliária e, por esse motivo, tornam-se especialistas. Assim também atuam os profissionais que avaliam um imóvel. Ao corretor de imóveis compete a determinação do valor mercadológico de um bem imóvel. É ele o observador do movimento de compra, venda, locação ou vacância (desocupação) de um imóvel. Quadro 1 – Casos em que a avaliação de imóveis é de competência do corretor Avaliação para fins de locação. Avaliação para fins de dação em garantia bancária (quando um imóvel é oferecido como garantia para um empréstimo, por exemplo). Avaliação para fins de separação do casal. Avaliação para fins de desapropriação. Fonte: Elaborado pela autora. O corretor de imóveis atuante tem uma percepção clara sobre o mercado imobiliário, quais imóveis estão sendo mais procurados, quais estão disponíveis para locação ou venda e até mesmo os que estão parados à espera de negociações, por isso, é ele o detentor das informações necessárias para a realização de uma avaliação mais precisa. Segundo Marcello (2012, p. 19): a atividade de avaliar imóveis é rotina da profissão de corretor de imóveis, uma vez que o valor do imóvel é o primeiro parâmetro estabelecido no início da intermediação da venda, locação, administração ou permuta do imóvel. [...] São de domínio e conhecimento dos corretores de imóveistodas as informações de imóveis comercializados e ofertados no mercado imobiliário. São eles que abastecem a pesquisa das amostragens imprescindíveis para realização das avaliações de imóveis de engenheiros, arquitetos e oficiais de justiça. O cotidiano do corretor possibilita acesso a informações sobre o mercado, visto que todos os movimentos são fontes ricas de informações. Ao visitar um imóvel para venda ou locação, o corretor 28 Avaliação de Imóveis de imóveis analisa o entorno, conversa com vizinhos, pesquisa ofertas de imóveis semelhantes, conversa com colegas e fica sabendo se, naquela localização, a procura está sendo grande ou não para aquele tipo de imóvel. Ao dirigir-se a um tabelionato para reconhecer firma de um documento, solicitar uma escritura pública, uma procuração ou autenticação de documento e observar se o movimento no tabelionato está como em dias normais, mais fraco ou mais movimentado, poderá constatar se muitos negócios estão sendo realizados ou não. Da mesma forma ocorre no Ofício de Registro de Imóveis, no Fórum Estadual ou Federal, na Prefeitura, entre outros locais. Na mesma linha, Mendonça (2012) propõe uma suposição considerando que um engenheiro precise vender ou alugar um imóvel: “Quem ele deverá consultar sobre o assunto? Com quem ele deverá tratar sobre o valor e contratar para vender ou alugar o imóvel? Certamente, será um corretor de imóveis ou gestor imobiliário, e disso não temos a menor dúvida, pois é o que vemos no nosso dia a dia.” (MENDONÇA, 2012, p. 57). Por outro lado, não é da competência do corretor de imóveis, por lhe faltar habilitação e capacitação, a avaliação técnica sobre a qualidade da obra, o tempo de construção, o estado de manutenção, a fundação (alicerce que dá sustentação ao imóvel), o muro de arrimo (estrutura feita em forma de muro para conter a terra em caso de desnível), o projeto estrutural, entre outros. Nesse caso, o profissional a realizar a avaliação e emitir um laudo é, sem dúvida, um engenheiro civil. Acontece o mesmo na avaliação de imóveis rurais, em que se almeja conhecer a qualidade da terra, a vocação econômica (tipo de exploração rentável) ou o melhor aproveitamento (de que forma pode ser utilizado). O profissional competente e capacitado, nesse caso, é o engenheiro agrônomo. Habilitação para avaliar um imóvel 29 Para a determinação do valor mercadológico de um imóvel, o profissional detentor de maior conhecimento é o corretor de imóveis, já para a avaliação de imóveis rurais que impliquem em análises técnicas, a competência é do agrônomo e para a determinação do custo de edificação de uma obra o recomendado é que seja feita por engenheiro ou arquiteto. Conforme Mendonça (2012, p. 57): imaginemos uma seguradora que, tendo de indenizar os proprietários de um prédio que desabou ou pegou fogo, necessite saber do exato valor desse bem, do custo para lhe repor. Considere-se que, nessa avaliação, o preço de mercado não será objeto de maior interesse por qualquer das partes, mas, sim, o valor de custo da obra necessária para se reconstruir o imóvel, de forma que ele volte a ser como era antes do sinistro. Nesse caso, o valor do terreno pouco importa, uma vez que, obviamente, encontra-se intacto. Nessa hipótese, entendemos que essa avaliação deve ser técnica e, portanto, procedida por engenheiro ou arquiteto. A competência dos profissionais depende dos objetivos do trabalho a ser realizado, se o que se busca é o valor mercadológico, a competência é do corretor de imóveis, se a pretensão disser respeito ao tipo de construção, estrutura, entre outros, o engenheiro é o profissional competente. Entretanto o aprimoramento por parte dos corretores de imóveis ao dominar as técnicas para realização do PTAM possibilitou a consolidação da competência deles e resultou na conquista do respeito à profissão. Está sendo selada uma parceria entre as profissões, tanto corretores de imóveis quanto engenheiros e arquitetos compreenderam qual é a função de cada um e sabem que precisam fazer o seu trabalho bem feito. Por isso, em ocasiões em que ambos são requisitados, realizam de forma técnica essa parceria. Cada profissional domina as atividades para as quais está habilitado a executar, assim acontece com o engenheiro civil, sinistro: acidente, acontecimento, evento. 30 Avaliação de Imóveis o engenheiro agrônomo, o arquiteto e o corretor de imóveis, cabendo a este a tarefa de determinar o valor mercadológico de um imóvel, por ser ele o profissional competente para tal. 2.3 A necessidade de conhecimentos técnicos Sendo assegurado inicialmente por lei o direito do corretor de imóveis de opinar quanto à comercialização imobiliária, o documento por ele emitido apresentava simplesmente uma opinião, sendo semelhante ao modelo da Figura 1, a seguir: Figura 1 – Modelo de laudo de avaliação Laudo de avaliação Fulano de Tal , corretor de imóveis regularmente inscrito no CRECI-XX sob nº 0.000 , DECLARO para os devidos fins de direito e demais que se fizerem necessários que o valor de mercado do imóvel constituído por um terreno comercial com 500 m2, localizado na Rua Zero – Jardim Luz na cidade de Esperança-XX , devidamente matriculado sob nº 000 do Registro de Imóveis da cidade de Esperança-XX é de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). Por ser esta expressão da verdade, firmo o presente dando tudo por bom, firme e valioso. ___________________________________ Esperança, 30 de fevereiro de 1970. Fulano de Tal Fonte: Elaborada pela autora. Habilitação para avaliar um imóvel 31 Esse documento não fornece a base técnica que levou o autor do laudo a concluir que o valor mercadológico do imóvel realmente se aproxima do apresentado. Da mesma forma, um documento carente de embasamento não pode ser considerado um laudo, já que é considerado laudo o documento emitido com bases técnicas por profissional habilitado e capacitado. Por esse motivo, durante muito tempo existiu o embate para se determinar de quem era a competência para avaliar um imóvel: do corretor de imóveis ou de um engenheiro ou arquiteto. Estes últimos contavam com normas brasileiras desde a década de 1950. Segundo Francisco Maia Neto (2000, p. 33, grifo do original): a primeira tentativa de normalização, através da Associação Brasileira de Normas Técnicas, na área da engenharia de avaliações, ocorreu no ano de 1952, quando o anteprojeto de Normas para Avaliação de Imóveis, escrito pelo engenheiro Augusto Luís Duprat, foi examinado pela entidade. Este estudo deu origem ao projeto P-NB-74R, em 1957, e mais tarde, no ano de 1977, à Norma Brasileira para Avaliação de Imóveis Urbanos (NB-502/77), posteriormente designada NBR-5676. Antes mesmo de a profissão de corretor de imóveis ser legalizada, já existiam normativas na área de engenharia de avaliações. Enquanto os engenheiros aplicavam normas técnicas por meio das quais provavam as origens dos dados e informações apresentados, os corretores de imóveis redigiam documentos frágeis, desprovidos de qualquer tipo de embasamento. Considerando esses dados históricos, percebe-se a legitimidade do esforço dos profissionais da área da engenharia de avaliações para que somente a eles fosse dado o direito de realizar laudos de avaliação imobiliária. Maia Neto (2000) exprime a percepção que engenheiros e arquitetos tinham dos corretores de imóveis: profissionais com legitimidade jurídica para o exercício da profissão, mas carentes de técnica. De acordo com o autor: 32 Avaliação de Imóveis com relação ao conceito de preço, admite-se que este seja a expressão monetária de um bem, ou seja, a quantia em dinheiro que uma determinada mercadoria pode ser vendida. Portanto, mesmo que dois imóveis possuam valores de mercado diferentes, eles podem ser vendidos pelo mesmo preço (quantidade de moeda), bastando considerar as taxas de remuneração do capital, caso sejam transacionadas em épocasdiferentes. Na prática, além da importância do engenheiro de avaliações reconhecer esta distinção, com o advento da lei que regulamentou a profissão de corretor de imóveis, a partir da prerrogativa de “opinar quanto à comercialização imobiliária”, alguns profissionais mal-intencionados procuram tirar proveito da situação, e provocar conflito entre esta categoria e a de engenheiros e arquitetos. É comum vermos anúncios nos jornais oferecendo “avaliações grátis”, quando na verdade tratam-se de estimativas de preço, baseadas nas opiniões sobre comercialização imobiliária, uma vez que laudos de avaliação são competência exclusiva de engenheiros, pautadas em normas técnicas e estudos matemático- -estatísticos, cujo objetivo é a determinação do valor. (MAIA NETO, 2000, p. 33, grifo do original) Atualmente, o mercado, a sociedade e os clientes são seletivos na escolha dos produtos e serviços que contratam. Conquista seu lugar o profissional que oferece um serviço com excelência, que domina técnicas, que sabe interagir com o cliente e atende às suas necessi- dades e expectativas. 2.4 A ética na avaliação de imóveis No intuito de fixar a forma pela qual se deve conduzir o exercício profissional do corretor de imóveis, foi aprovada a Resolução- -Cofeci n. 326/1992 (COFECI, 1992), que trata do Código de Ética Profissional dos Corretores de Imóveis. Entre os deveres do corretor de imóveis destacam-se a necessidade de aperfeiçoamento da técnica das transações imobiliárias, a observância de prescrições legais e regulamentares e o exercício Habilitação para avaliar um imóvel 33 da profissão com zelo e integridade. O respeito à profissão será atingido quando esses profissionais buscarem realizar o trabalho em conformidade com a legislação, acrescido de ética, capacitação e qualificação permanentes. A Resolução-Cofeci n. 1.066 (COFECI, 2007) entrou em vigência em 2007 e, desde então, o trabalho do corretor de imóveis no que diz respeito à realização do PTAM deve ser realizado em conformidade com os preceitos legais e técnicos nela estabelecidos, entretanto muitos corretores desconhecem o teor da norma e insistem em emitir “laudos” como o apresentado anteriormente na Figura 1. Esses “laudos” emitidos a título de “opinião de mercado”, além de irem na contramão das diretrizes legais, são facilmente elaborados e os honorários cobrados são proporcionalmente baixos. O cliente, quando necessita de uma avaliação imobiliária, faz a cotação dos honorários e, sem ter conhecimento da lei e da qualidade do trabalho, acaba contratando o profissional que oferece um valor mais baixo. A diferença dos honorários cobrados para a emissão de um “laudo” e de um PTAM atingem facilmente a proporção de 1 para 10. Ou seja, o custo para a realização de um PTAM seria 10 vezes superior ao cobrado para a emissão de um laudo. Além de estar infringindo o Código de Ética, o profissional que realiza esse tipo de trabalho e adota essa conduta está ferindo diretamente a Resolução-Cofeci n. 1.066/2007 (COFECI, 2007) e os artigos 722 a 729 do Código Civil, que tratam dos direitos e deveres do corretor de imóveis. Para Mendonça (2012) a ética, que deve nortear a conduta do corretor de imóveis, é crucial para o sucesso na carreira. Podemos destacar como pontos importantes o exercício da profissão com zelo, a discrição, a lealdade e a integridade, observando as prescrições legais e regulamentares, colocar-se a par da legislação vigente e procurar difundi-la a fim de que seja prestigiado e definido o legítimo exercício da profissão. Sobre a ética, o autor explana que: 34 Avaliação de Imóveis o corretor avaliador deve manter a postura ética e profissional em qualquer situação, observando rigorosamente o que estabelece o Código de Ética Profissional dos Corretores de Imóveis (Resolução-Cofeci n. 326/92) e os Procedimentos de Excelência contidos na NBR 14653-1 (que dispõe sobre os procedimentos gerais para realização de avaliação de bens). (MENDONÇA, 2012, p. 45) Ocorre algumas vezes que, para obtenção de ganhos rápidos e imediatos, o profissional age com falta de ética, fazendo proposta de honorários inferiores ao de outro corretor somente para conquistar o cliente e, quando começa a realizar a avaliação, percebe que o colega cobrou mais caro porque o trabalho era realmente difícil e demandava tempo. Ele acaba entregando o trabalho, mas deixa de dar a atenção necessária, passando a correr sério risco de ser responsabilizado pela má conduta. Algumas vezes parece insistente e desnecessária a abordagem de assunto tão batido como a ética, mas, enquanto o mercado estiver sendo ocupado por pessoas desqualificadas, é obrigação de qualquer professor continuar alertando os alunos. A norma NBR n. 14.653-1, citada por Mendonça (2012), é muito utilizada por engenheiros e arquitetos e desconhecida pela maioria dos corretores de imóveis. Para entender a ética na avaliação de imóveis, é interessante conhecer a definição de normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): norma é o documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido, que fornece regras, diretrizes ou características mínimas para atividades ou para seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto. A norma é, por princípio, de uso voluntário, mas quase sempre é usada por representar o consenso sobre o estado da arte de determinado assunto, obtido entre especialistas das partes interessadas. (ABNT, 2019) Habilitação para avaliar um imóvel 35 As regras e diretrizes mínimas estabelecidas pelas normas técnicas proporcionam a padronização e ordenação das atividades de forma a otimizar os resultados. No caso da avaliação, elas são importantes em dois momentos: na determinação do valor mercadológico propriamente dito e na transposição das informações obtidas em forma de documento. O PTAM deve ser redigido de forma clara, seguindo as determinações da ABNT para a realização de trabalhos acadêmicos, além disso, deve ser autoexplicativo. Observe que a aplicação da norma não é obrigatória, mas de uso voluntário; entretanto obrigatória é a leitura do seu conteúdo, a compreensão do teor nela disposto e o entendimento da impor- tância que tem no desenvolvimento do trabalho de corretagem, quando da realização de um PTAM. Considerações finais Em momentos de economia instável e de retração na realização de transações imobiliárias, muitos abandonam o exercício da profissão de corretor de imóveis por perderem a esperança de ter nele o seu sustento garantido. Uma opção para esses profissionais é a realização de avaliação de imóveis por meio do PTAM. Nas operações imobiliárias, há momentos em que a locação comercial está em alta; em outras situações, o mercado está propício para a compra de imóveis residenciais em condomínios fechados ou para a venda de terrenos industriais ou está favorável para incorporações e assim sucessivamente. Quando a maior parte dessas operações estão em baixa, é sinal de retração da economia de forma geral. O comércio apresenta-se enfraquecido, o desemprego está em alta, a indústria diminui o ritmo de trabalho e um cenário de recessão se estabelece. Nesse momento, os 36 Avaliação de Imóveis imóveis respondem pelos débitos não pagos, por dívidas adquiridas, por acordos realizados e carecem de ser propriamente avaliados. Percebe que sempre haverá uma operação imobiliária em alta? Para esses momentos o corretor de imóveis deve estar atualizado e, além de habilitado, capacitado. A capacitação no desempenho da atividade de avaliação de imóveis por parte dos corretores transpassa os limites do conhecimento da legislação aplicável e de cumprimento e atenção às normas técnicas. É preciso que o profissional busque qualificação, estude, aprimore seus conhecimentos, leia mais, frequente cursos de atualização e reciclagem, fique atento às notícias relacionadas e participe de eventos dacategoria, como congressos, mesas redondas e palestras. Cabe também ao profissional atualizado compreender a necessidade de qualificação de forma que possa diferenciar o trabalho realizado na avaliação de imóveis e dimensionar o alcance de sua própria atuação e da atuação de outros profissionais, além de entender a necessidade de trabalho em parceria nessa tão importante operação imobiliária. Ampliando seus conhecimentos • ABUNAHMAN, Sérgio Antonio. Curso básico de engenharia legal e de avaliações. 3. ed. São Paulo: Pini, 2006. Vale a pena termos conhecimento da visão de engenheiros sobre a avaliação de imóveis. A obra Curso básico de engenharia legal e de avaliações é muito didática e realizada com muita clareza, foi concebida com base em mais de duas décadas de profundo trabalho do autor, em sua vasta experiência profissional e em inúmeros cursos ministrados em todo o Brasil. Habilitação para avaliar um imóvel 37 • MAIA NETO, Francisco. Roteiro prático de avaliações e perícias judiciais. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. Francisco Maia Neto é um profissional consagrado e respeitado tanto por engenheiros e arquitetos quanto por corretores de imóveis e é autor de várias obras direcionadas a avaliações e perícias judiciais. A obra Roteiro prático de avaliações e perícias judiciais teve o tempero da manifestação de muitos colegas do autor que contribuíram com sugestões e críticas construtivas que possibilitaram o suprimento de algumas deficiências apontadas e o levaram a receber prêmios nacionais pelos trabalhos publicados. Atividades 1. Após os estudos realizados neste capítulo, pudemos compreender que as palavras habilitação e capacitação têm significados e aplicações diferentes. Partindo do princípio de que a habilitação propriamente dita não significa capacitação, explique com suas palavras a diferença entre elas. 2. Qual deve ser a conduta do corretor de imóveis ao ser requisitado para proceder a avaliação de um imóvel rural que implique em análise da terra e vocação agrícola? Justifique a resposta. 3. Existem situações em que o objetivo da avaliação de imóveis exige que ela seja feita por engenheiros e/ou arquitetos e outras em que é feita por um corretor de imóveis. Cite dois exemplos de cada situação. 38 Avaliação de Imóveis Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Normalização: definição. Rio de Janeiro/São Paulo: ABNT, 2019. Disponível em: http:// www.abnt.org.br/normalizacao/o-que-e/o-que-e. Acesso em: 23 jun. 2019. CONSELHO FEDERAL DE CORRETORES DE IMÓVEIS. Resolução- Cofeci n. 326/92. Brasília: Cofeci, 1992. Disponível em: http://www.cofeci. gov.br/arquivos/legislacao/nova/resolucao_0326_92_novo.pdf. Acesso em: 13 jun. 2019. CONSELHO FEDERAL DE CORRETORES DE IMÓVEIS. Resolução- Cofeci n. 1.066/2007. Salvador: Cofeci, 2007. Disponível em: http://www. cofeci.gov.br/arquivos/legislacao/2007/resolucao1066_2007.pdf. Acesso em: 23 jun. 2019. MAIA NETO, Francisco. Roteiro prático de avaliações e perícias judiciais. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. MARCELLO, João Diniz. Avaliação mercadológica de imóveis. Porto Alegre: Grafiset, 2012. MENDONÇA, Frederico. Avaliação de imóveis: teoria e prática. Recife: Editora do Autor, 2012. PARANÁ. Conselho Regional de Corretores de Imóveis. Inscrição Pessoa Física. Paraná: Creci, 2019. Disponível em: http://www.crecipr.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=119&Itemid=145. Acesso em: 13 jun. 2019.