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Nota A farmacologia está em constante evolução e, à medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhecimento, são necessárias modificações no tratamento e na farmacoterapia. Os organizadores desta obra consultaram as fontes consideradas confiáveis, em um esforço para oferecer informações completas e, ge ralmente, de acordo com os padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de mudanças na área, os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes: por exemplo, e em particular, os leitores são aconselhados a conferir a bula de qualquer medicamento que pretendam administrar, para se certificar de que a informação contida neste livro está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas contraindicações para o seu uso. Esta recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos novos ou raramente usados. W552f Whalen, Karen. Farmacologia ilustrada [recurso eletrônico] / Karen Whalen, Richard Finkel, Thomas A. Panavelil ; tradução e revisão técnica: Augusto Langeloh. – 6. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-8271-323-5 1. Farmacologia. I. Finkel, Richard. II. Panavelil, Thomas A. III. Título. CDU 615-028.22 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 karen whalen, Pharm.D., BCPS Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida richard finkel, Pharm.D. Department of Pharmaceutical Sciences Nova Southeastern University College of Pharmacy Fort Lauderdale, Florida thomas a. panavelil, Ph.D., MBA Department of Pharmacology Nova Southeastern University College of Medical Sciences Fort Lauderdale, Florida Tradução e revisão técnica desta edição: Augusto Langeloh Professor aposentado de Farmcologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ICBS/UFRGS). Mestre e Doutor em Farmacologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Versão impressa desta obra: 2016 2016 Obra originalmente publicada sob o título Lippincott’s illustrated reviews: pharmacology, 6th Edition ISBN 9781469887562 Copyright © 2015 Lippincott Williams & Wilkins, a Wolters Kluwer business. Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health did not participate in the translation of this title. Published by arrangement with Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health Inc. USA Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima Colaboraram nesta edição Editora: Mirian Raquel Fachinetto Cunha Capa: Márcio Monticelli com imagem da edição original Preparação de originais: Juliana Lopes Bernardino Leitura final: Maria Edith Amorim Pacheco Editoração: Know-how Editorial Revisor da edição original Ashley Castleberry, Pharm.D., M.A.Ed. University of Arkansas for Medical Sciences College of Pharmacy Little Rock, Arkansas Ilustrações e design gráfico originais: Michael Cooper Cooper Graphic www.cooper247.com Claire Hess hess2 Design Loisville, Kentucky Reservados todos os direitos de publicação à ARTMED EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 Unidade São Paulo Rua Doutor Cesário Mota Jr., 63 – Vila Buarque 01221-020 – São Paulo – SP Fone: (11) 3221-9033 SAC 0800 703-3444– www.grupoa.com.br É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Coautores Andrew Hendrickson, Pharm.D. Department of Pharmacy North Florida/South Georgia VA Medical Center Gainesville, Florida Angela K. Birnbaum, Ph.D. Department of Experimental and Clinical Pharmacology University of Minnesota College of Pharmacy Minneapolis, Minnesota Carol Motycka, Pharm.D., BCACP Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Jacksonville, Florida Charles A. Peloquin, Pharm.D. Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida Dawn Sollee, Pharm.D., DABAT Florida/USVI Poison Information Center UF Health – Jacksonville Jacksonville, Florida Elizabeth Sherman, Pharm.D. Department of Pharmacy Practice Nova Southeastern University College of Pharmacy Fort Lauderdale, Florida Eric Dietrich, Pharm.D., BCPS Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida Colleges of Pharmacy and Medicine Gainesville, Florida Eric Egelund, Pharm.D., Ph.D. Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida Jamie Kisgen, Pharm.D., BCPS Department of Pharmacy Sarasota Memorial Health Care System Sarasota, Florida Jason Powell, Pharm.D. Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida Jeannine M. Conway, Pharm.D., BCPS Department of Experimental and Clinical Pharmacology University of Minnesota College of Pharmacy Minneapolis, Minnesota Joanna Peris, Ph.D. Department of Pharmacodynamics University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida Jose A. Rey, Pharm.D., BCPP Department of Pharmaceutical Sciences Nova Southeastern University College of Pharmacy Fort Lauderdale, Florida Joseph Spillane, Pharm.D., DABAT Department of Pharmacy UF Health – Jacksonville Jacksonville, Florida vi Whalen, Finkel & Panavelil Karen Sando, Pharm.D., BCACP Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida Karen Whalen, Pharm.D., BCPS Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida Katherine Vogel Anderson, Pharm.D., BCACP Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida Colleges of Pharmacy and Medicine Gainesville, Florida Kourtney LaPlant, Pharm.D., BCOP Department of Pharmacy North Florida/South Georgia VA Medical Center Gainesville, Florida Kristyn Mulqueen, Pharm.D., BCPS Department of Pharmacy North Florida/South Georgia VA Medical Center Gainesville, Florida Kyle Melin, Pharm.D., BCPS Department of Pharmacy Practice University of Puerto Rico School of Pharmacy San Juan, Puerto Rico Lisa Clayville Martin, Pharm.D. Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Orlando, Florida Nathan R. Unger, Pharm.D. Department of Pharmacy Practice Nova Southeastern University College of Pharmacy Palm Beach Gardens, Florida Nicholas Carris, Pharm.D., BCPS Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida Colleges of Pharmacy and Medicine Gainesville, Florida Paige Louzon, Pharm.D., BCOP Department of Pharmacy North Florida/South Georgia VA Medical Center Gainesville, Florida Patrick Cogan, Pharm.D. Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Gainesville, Florida Rajan Radhakrishnan, B.S. Pharm., M.S., Ph.D. Roseman University of Health Sciences College of Pharmacy South Jordan, Utah Richard Finkel, Pharm.D. Department of Pharmaceutical Sciences Nova Southeastern University College of Pharmacy Fort Lauderdale, Florida Robin Moorman Li, Pharm.D., BCACP Department of Pharmacotherapy and Translational Research University of Florida College of Pharmacy Jacksonville, Florida Shawn Anderson, Pharm.D., BCACP Department of Pharmacy North Florida/South Georgia VA Medical Center Gainesville, Florida Sony Tuteja, Pharm.D., BCPS Department of Medicine Perelman School of Medicine at the University of Pennsylvania Philadelphia, Pennsylvania Thomas A. Panavelil, Ph.D., MBA Department of Pharmacology Nova Southeastern University College of Medical SciencesFort Lauderdale, Florida Thomas B. Whalen, M.D. Diplomate, American Board of Anesthesiology Ambulatory Anesthesia Consultants, PLLC Gainesville, Florida Timothy P. Gauthier, Pharm.D., BCPS (AQ-ID) Department of Pharmacy Practice Nova Southeastern University College of Pharmacy Fort Lauderdale, Florida Venkata Yellepeddi, B.S. Pharm, Ph.D. Roseman University of Health Sciences College of Pharmacy South Jordan, Utah Prefácio Farmacologia ilustrada, 6ª edição, foi totalmente atualizada, reorganizada e ampliada por um grupo de organizadores coordenados por Karen Whalen. Fazem parte deste grupo Richard Finkel, PharmD, organizador também da edição anterior, e Thomas A. Panavelil, Ph.D., MBA, que na edição anterior havia sido um dos revisores dos originais. Embora totalmente revista e contando com seis novos capítulos, esta obra mantém as características que a tornam ideal para o ensino e a aprendiza gem em sala de aula, assim como para aqueles profissionais que buscam uma revisão dos conteúdos da área: utilizando-se de marcadores, o texto é O aumento do As mais de 500 figuras que ilustram o conteúdo são o diferencial de Farmacologia ilustrada. Coloridas e esquemáticas, elas facilitam a assimilação de informações complexas, como é o caso dos mecanismos de ação dos fármacos. A maioria das cefalosporinas SANGUE Receptor de LDL Receptor LDL MEMBRANA PLASMÁTICA 2 DNA + RNAm 3 O baixo colesterol intracelular estimula a síntese de receptores de LDL Colesterol número de recep tores de LDL pro move a absorção da LDL do sangue VLDL VLDL não penetra o líquido cerebrospinal; as de 3ª geração alcançam níveis terapêuticos no líquido cerebrospinal IV Ribossomo Ácido mevalônico O baixo colesterol a secreção de VLDL 4 intracelular diminui IM RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO CoA As estatinas inibem a HMG-CoA redutase, de colesterol no interior da célula 1 levando à diminuição da concentração 2 NADPH + 2H+ Inibidores da HMG-CoA redutase 2 NADP+ Ceftriaxon a Bloqueadores dos adrenoceptores Ativação de adrenoceptores 1 no coração Renina Débito cardíaco Resistência periférica Angiotensina II HMG-CoA Acetato Diminuição da pressão arterial aparece na bile Na urina, aparece principalmente fármaco inalterado Ativação de adrenoceptores 1 nos rins Aldosterona Retenção de sódio e água Cefalosporinas Volume sanguíneo viii Whalen, Finkel & Panavelil organizado de forma bastante didática, trazendo informações sobre princí pios farmacológicos, mecanismos de ação, usos terapêuticos, farmacociné tica e efeitos adversos de fármacos. Além de apresentar capítulos sobre os princípios farmacológicos e sobre as diversas classes terapêuticas, o livro reúne também capítulos organizados a partir de distúrbios específicos, como é o caso das doenças neurodegenerativas. E para complementar e tornar a obra ainda mais útil, esta edição conta com seis novos capítulos, os quais abordam temas como fármacos de abuso, obesidade, anti-histamínicos, fár macos destinados ao tratamento de distúrbios urológicos, anemias e distúr bios nos ossos. Questões para estudo Escolha a resposta correta. 47.1 Um homem de 45 anos, receptor de transplante renal há 3 meses e mantido com prednisona, ciclosporina e MMF, revela aumento dos níveis de creatinina e biópsia renal que indica grave rejeição. Qual dos seguintes tratamen tos seria apropriado? A. Aumento da dosagem de prednisona. B. Hemodiálise. C. Tratamento com globulina de coelhos antitimócitos. D. Tratamento com sirolimo. E. Tratamento com azatioprina. Resposta correta = C. Aparentemente, o paciente está sofrendo re jeição aguda do rim. O tratamento mais eficaz seria a administração de um anticorpo. O aumento da dosagem de prednisona pode ter al gum efeito, mas não é suficiente para impedir a rejeição. O sirolimo é usado profilaticamente, junto à ciclosporina, para prevenir a rejeição renal, mas é menos eficaz quando o processo já está acontecendo. Além disso, a associação de sirolimo à ciclosporina é mais nefrotóxica do que a ciclosporina isolada. A azatioprina não tem vantagens sobre o MMF. As questões de múltipla escolha com respostas comentadas ao final de cada capítulo facilitam a fixação e a revisão dos conteúdos estudados. Ao longo do livro, 380 questões estão disponíveis para você testar e revisar seus conhecimentos. Boa leitura e bons estudos! Sumário UNIDADE I: Princípios da terapia farmacológica Capítulo 1: Farmacocinética 1 Capítulo 2: Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica 25 UNIDADE II: Fármacos que afetam o sistema nervoso autônomo Capítulo 3: O sistema nervoso autônomo 39 Capítulo 4: Agonistas colinérgicos 51 Capítulo 5: Antagonistas colinérgicos 65 Capítulo 6: Agonistas adrenérgicos 77 Capítulo 7: Antagonistas adrenérgicos 95 UNIDADE III: Fármacos que afetam o sistema nervoso central Capítulo 8: Doenças degenerativas 107 Capítulo 9: Ansiolíticos e hipnóticos 121 Capítulo 10: Antidepressivos 135 Capítulo 11: Antipsicóticos 147 Capítulo 12: Antiepilépticos 157 Capítulo 13: Anestésicos 171 Capítulo 14: Opioides 191 Capítulo 15: Fármacos de abuso 205 Capítulo 16: Estimulantes do sistema nervoso central 215 UNIDADE IV: Fármacos que afetam o sistema cardiovascular Capítulo 17: Anti-hipertensivos 225 Capítulo 18: Diuréticos 241 Capítulo 19: Insuficiência cardíaca 255 Capítulo 20: Antiarrítmicos 269 Capítulo 21: Antianginosos 281 Capítulo 22: Anticoagulantes e antiplaquetários 291 Capítulo 23: Anti-hiperlipêmicos 311 x Whalen, Finkel & Panavelil UNIDADE V: Fármacos que afetam o sistema endócrino Capítulo 24: Hipófise e tireoide 325 Capítulo 25: Antidiabéticos 335 Capítulo 26: Estrogênios e androgênios 351 Capítulo 27: Hormônios suprarrenais 365 Capítulo 28: Obesidade 375 UNIDADE VI: Fármacos para outros distúrbios Capítulo 29: Sistema respiratório 381 Capítulo 30: Anti-histamínicos 393 Capítulo 31: Antieméticos e gastrintestinais 401 Capítulo 32: Distúrbios urológicos 415 Capítulo 33: Anemia 423 Capítulo 34: Distúrbios dermatológicos 431 Capítulo 35: Distúrbios nos ossos 441 Capítulo 36: Anti-inflamatórios, antipiréticos e analgésicos 447 UNIDADE VII: Fármacos quimioterápicos Capítulo 37: Princípios do tratamento antimicrobiano 471 Capítulo 38: Antimicrobianos inibidores da parede celular 483 Capítulo 39: Antimicrobianos inibidores da síntese proteica 499 Capítulo 40: Quinolonas, antagonistas do ácido fólico e antissépticos do trato urinário 513 Capítulo 41: Antimicobacterianos 525 Capítulo 42: Antifúngicos 535 Capítulo 43: Antiprotozoários 547 Capítulo 44: Anti-helmínticos 561 Capítulo 45: Antiviróticos 567 Capítulo 46: Anticâncer 587 Capítulo 47: Imunossupressores 619 UNIDADE VIII: Toxicologia Capítulo 48: Toxicologia clínica 631 Abreviaturas 641 Crédito das figuras 643 Índice 645 UNIDADE I Princípios da terapia farmacológica Farmacocinéti ca Venkata Yellepeddi I. RESUMO A farmacocinética estuda o que o organismo faz com o fármaco, ao passo que a farmacodinâmica (ver Cap. 2) descreve o que o fármaco faz no orga nismo. Quatro propriedades farmacocinéticas determinam o início, a intensi dade e a duração da ação do fármaco (Fig. 1.1): 1 Fármaco no local da administração • Absorção: Primeiro, a absorção desde o local de administração per mite a entrada do fármaco (direta ou indiretamente) no plasma. • Distribuição: Segundo, o fármaco pode, então, reversivelmente, sair da circulação sanguínea e distribuir-se nos líquidos intersticial e intracelular. 1 Fármaco no plasma Absorção (entrada) • Biotransformação: Terceiro, o fármaco pode ser biotransformado no fígado ou em outros tecidos. • Eliminação: Finalmente, o fármaco e seus metabólitos são elimina dos do organismo na urina, na bile ou nas fezes. Usando o conhecimento das variáveis farmacocinéticas, os clínicos podem eleger condutas terapêuticas ideais, incluindo via de administração, dosa gem, frequência e duração do tratamento. II. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS A via de administração é determinada primariamente pelas propriedades do fármaco(p. ex., hidro ou lipossolubilidade, ionização) e pelos objetivos tera 2 Distribuição Fármaco nos tecidos 3 Biotransformação Metabólito(s) nos tecidos pêuticos (p. ex., necessidade de um início rápido de ação, necessidade de 4 tratamento por longo tempo, ou restrição de acesso a um local específico). As vias principais de administração de fármacos incluem a enteral, a paren teral e a tópica, entre outras. Excreção (saída) Figura 1.1 Representação esquemática de absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Fármaco e/ou metabólito(s) na urina, bile, lágrima, leite, saliva, suor ou fezes 2 Whalen, Finkel & Panavelil A. Enteral Ótico Ocular Parenteral: IV, IM, SC Inalação Oral A administração enteral, ou administração pela boca, é o modo mais se guro, comum, conveniente e econômico de administrar os fármacos. O fármaco pode ser deglutido, por via oral, ou pode ser colocado sob a língua (sublingual) ou entre a bochecha e a gengiva (bucal), facilitando a absorção direta na circulação sanguínea. 1. Oral: A administração oral oferece várias vantagens. Os fárma Sublingual Bucal Adesivo transdermal Epidural Figura 1.2 Tópica cos orais são facilmente autoadministrados, e a toxicidade e/ou a dosagem excessiva podem ser neutralizadas com antídotos como o carvão ativado. Porém, as vias envolvidas na absorção oral são as mais complicadas, e o baixo pH do estômago inativa alguns fármacos. Uma ampla variedade de preparações orais é disponi bilizada, incluindo preparações revestidas (entéricas) e de libera ção prolongada. a. Preparações revestidas (entéricas): O revestimento entérico é um envoltório químico que protege o fármaco do ácido gástri co, liberando-o, porém, no intestino (menos ácido), onde o en voltório se dissolve e permite a liberação do fármaco. Tais re vestimentos são úteis para certos fármacos (p. ex., omeprazol) que são instáveis em meio ácido. Fármacos que são irritantes ao estômago, como o ácido acetilsalicílico, podem ser formula dos com revestimento que vai se dissolver no intestino delga do, preservando, assim, o estômago. Vias comumente usadas para a administração de fármacos. IV, intravenosa; IM, intramuscular; SC, subcutânea. b. Preparações de liberação prolongada: Medicamentos de li beração prolongada (abreviados como LA, longa ação, ou LL, liberação lenta) têm revestimentos ou ingredientes especiais que controlam a liberação do fármaco, permitindo, assim, uma absorção mais lenta e uma duração de ação mais longa. As formulações LA podem ser administradas com menor frequên cia e podem aumentar a aderência do paciente. Além disso, as formas de LA podem manter as concentrações na faixa tera pêutica por um período longo de tempo, em contraste com as formas de liberação imediata, que podem resultar em picos e vales maiores nas concentrações plasmáticas. As formulações LA são vantajosas para os fármacos que têm meia-vida curta. Por exemplo, a meia-vida da morfina por via oral é de 2 a 4 ho ras, e ela precisa ser administrada seis vezes ao dia para pro porcionar alívio contínuo da dor. Entretanto, são necessárias apenas duas doses ao usar comprimidos LA. Infelizmente, vá rias das formulações LA foram desenvolvidas somente para obter uma vantagem comercial sobre os produtos de liberação convencional, em vez de vantagens clínicas comprovadas. 2. Sublingual e bucal: A colocação do fármaco sob a língua permi te que ele se difunda na rede capilar e, assim, entre diretamente na circulação sistêmica. A administração sublingual tem várias vantagens, incluindo facilidade de administração, absorção rápi da, ultrapassagem do ambiente gastrintestinal (GI) hostil e capa cidade de evitar a biotransformação de primeira passagem (ver discussão adiante). A via bucal (entre a bochecha e a gengiva) é similar à via sublingual. B. Parenteral A via parenteral introduz o fármaco diretamente na circulação sistêmica. Ela é usada para fármacos que são pouco absorvidos no trato GI (TGI) Farmacologia Ilustrada 3 (p. ex., heparina) e para os que são instáveis no TGI (p. ex., insulina). A Essa administração também é usada no tratamento do paciente impos Injeção sibilitado de tomar a medicação oral (paciente inconsciente) ou quando é necessário um início rápido de ação. Além disso, as vias parenterais têm maior biodisponibilidade e não estão sujeitas à biotransformação de primeira passagem ou ao meio GI agressivo. Elas também asseguram o melhor controle sobre a dose real de fármaco administrada ao organismo. Contudo, as vias parenterais são irreversíveis e podem causar dor, medo, lesões teciduais e infecções. As três principais vias de administração pa renteral são a intravascular (intravenosa ou intra-arterial), a intramuscular e a subcutânea (Fig. 1.3). 1. Intravenosa (IV): A injeção IV é a via parenteral mais comum. Ela é útil para fármacos que não são absorvidos por via oral, como o bloqueador neuromuscular rocurônio. A via IV permite um efeito rápido e um grau de controle máximo sobre a quantidade de fárma co administrada. Quando injetada em bólus, toda a dose de fármaco é administrada na circulação sistêmica quase imediatamente. Se intramuscular Injeção subcutânea Epiderme Derme for administrado como infusão IV, o fármaco é infundido em um período de tempo maior, resultando em pico de concentração plas mática mais baixo e em aumento da duração do nível do fármaco circulante. A administração IV é vantajosa para fármacos que po B dem causar irritação quando administrados por outras vias, porque o fármaco se dilui no sangue rapidamente. Porém, diferentemente dos fármacos administrados por via oral, os que são injetados não Músculo 200 Tecido subcutâneo podem ser retirados por meio de estratégias como a ligação a car a m vão ativado. A administração IV pode inadvertidamente causar in s a l fecção por meio de contaminação no local da injeção. Ela também p ) o pode precipitar constituintes do sangue, causar hemólise ou outras L n 100 o m / reações adversas se for introduzida muito rapidamente ou se alcan ã g ç a n ( r çar concentrações elevadas. Por isso, os pacientes devem ser cui t n dadosamente monitorados quanto a reações desfavoráveis, e a e c n velocidade de infusão deve ser cuidadosamente controlada. o 0 C 2. Intramuscular (IM): Fármacos administrados por via IM podem estar em soluções aquosas, que são absorvidas rapidamente, ou 5 mg de midazolam por via intravenosa 5 mg de midazolam intramuscular 0 30 60 90 Tempo (minutos) em preparações especializadas de depósito, que são absorvidas lentamente. As preparações de depósito, com frequência, consis tem em uma suspensão do fármaco em um veículo não aquoso, como o polietilenoglicol. À medida que o veículo se difunde para fora do músculo, o fármaco precipita-se no local da injeção. O fár maco então se dissolve lentamente, fornecendo uma concentração sustentada durante um período de tempo prolongado. Exemplos de fármacos de liberação prolongada são o haloperidol (ver Cap. 11) e o depósito de medroxiprogesterona (ver Cap. 26). 3. Subcutânea (SC): Esta via de administração, como a IM, oferece absorção por difusão simples e é mais lenta do que a via IV. A in jeção SC minimiza os riscos de hemólise ou trombose associados à injeção IV e pode proporcionar efeitos lentos, constantes e pro longados. Esta via não deve ser usada com fármacos que cau sam irritação tissular, porque pode ocorrer dor intensa e necrose. Fármacos administrados comumente por via SC incluem insulina e heparina. C. Outras 1. Inalação oral: As vias inalatórias oral e nasal (ver adiante) asseguram a rápida oferta do fármaco através da ampla superfície Figura 1.3 A. Representação esquemática da injeção subcutânea e intramuscular. B. Concentração de midazolam no plasma após injeção intravenosa e intramuscular. 4 Whalen, Finkel & Panavelil da membrana mucosa do trato respiratório e do epitélio pulmonar. A Pele Cobertura Reservatório de fármaco Membrana libera dora de fármacoAdesivo de contato Os efeitos dos fármacos são quase tão rápidos como os da injeção IV em bólus. Fármacos que são gases (p. ex., alguns anestésicos) e aqueles que podem ser dispersados em aerossol são administra dos por inalação. Esta via é particularmente eficaz e conveniente para pacientes com problemas respiratórios (como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica), pois o fármaco é administra do diretamente no local de ação, minimizando, assim, os efeitos sistêmicos. Exemplos de fármacos administrados por inalação in cluem os broncodilatadores, como o salbutamol, e os corticosteroi des, como a fluticasona. 2. Inalação nasal: Esta via envolve a administração de fármacos di retamente dentro do nariz. Incluem-se os descongestionantes na sais, como a oximetazolina, e o corticosteroide anti-inflamatório furoato de mometasona. A desmopressina é administrada por via VASO SANGUÍNEO Fármaco se difundindo do reservatório para os tecidos subcutâneos B Figura 1.4 A. Representação esquemática de um adesivo transcutâneo. B. Adesivo transcutâneo de nicotina aplicado no braço. intranasal no tratamento do diabetes insípido. 3. Intratecal e intraventricular: A barreira hematencefálica retarda ou impede a entrada dos fármacos no sistema nervoso central (SNC). Quando se desejam efeitos locais e rápidos, é necessário introduzir o fármaco diretamente no líquido cerebrospinal. Por exemplo, a anfotericina B intratecal é usada no tratamento da me ningite criptocócica (ver Cap. 42). 4. Tópica: A aplicação tópica é usada quando se deseja um efeito local do fármaco. Por exemplo, o clotrimazol em pomada é aplicado diretamente na pele para o tratamento de infecções por fungos. 5. Transdérmica: Esta via de administração proporciona efeitos sis têmicos pela aplicação do fármaco na pele, em geral, por meio de um adesivo cutâneo (Fig. 1.4). A velocidade de absorção pode va riar de modo acentuado, dependendo das características físicas da pele no local da aplicação e da lipossolubilidade do fármaco. Essa via é usada com mais frequência para a oferta prolongada de fár macos, como o fármaco antianginoso nitroglicerina, o antiemético escopolamina e os adesivos de nicotina usados para facilitar a in terrupção do hábito de fumar. 6. Retal: Como 50% da drenagem da região retal não passa pela circulação portal, a biotransformação dos fármacos pelo fígado é minimizada com o uso desta via. A vantagem adicional da via retal é evitar a destruição do fármaco no ambiente GI. Ela também é útil se o fármaco provoca êmese, quando administrado por via oral, ou se o paciente já se encontra vomitando ou se está inconsciente. (Nota: a via retal é usada comumente para a administração de an tieméticos.) Com frequência, a absorção retal é errática e incom pleta, e vários fármacos irritam a mucosa retal. A Figura 1.5 resu me as características das vias de administração comuns. III. ABSORÇÃO DE FÁRMACOS Absorção é a transferência de um fármaco do seu local de administração para a corrente sanguínea. A velocidade e a eficiência da absorção depen dem do ambiente onde o fármaco é absorvido, das suas características quí micas e da via de administração (o que influencia sua biodisponibilidade). Excetuando a via IV, as demais podem resultar em absorção parcial e me nor biodisponibilidade. Farmacologia Ilustrada 5 VIA DE ADMINISTRAÇÃ O PADRÃO DE ABSORÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS Oral Intravenosa Subcutânea Intramuscular Transdérmica (adesivo) Retal Inalatória Sublingual • Variável; afetada por vários fatores • A absorção não é necessária • Depende do diluente do fármaco: – soluções aquosas: imediata; – preparações de depósito: liberação lenta e prolongada • Depende dos diluentes do fármaco: – soluções aquosas: imediata; – preparações de depósito: liberação lenta e prolongada • Lenta e prolongada • Errática e variável • Pode ocorrer absorção sis têmica, o que nem sempre é desejado • Depende do fármaco: – poucos fármacos (p. ex., nitroglicerina) têm absorção sistêmica direta e rápida – a maioria dos • Via de administração mais segu ra e mais comum, conveniente e econômica • Pode ter efeitos imediatos • Ideal para dosagens de altos volumes • Adequada para substâncias irritantes e misturas complexas • Valiosa para situações de emergência • Permite a titulação da dosagem • Ideal para fármacos proteicos de alta massa molecular e peptídeos • Adequada para fármacos de liberação lenta • Ideal para algumas suspensões pouco solúveis • Adequada se o volume é moderado • Adequada para veículos oleosos e certas substâncias irritantes • Preferível à via IV se o paciente deve se autoadministrar • Evita o efeito de primeira passagem • Conveniente e indolor • Ideal para fármacos lipofílicos e que tem baixa biodisponibilidade oral • Ideal para fármacos que são elimina dos rapidamente do organismo • Evita parcialmente o efeito de primei ra passagem • Evita a destruição pela acidez gástrica • Ideal se o fármaco causa êmese • Ideal para pacientes com êmese ou comatosos • A absorção é rápida; pode ter efeitos imediatos • Ideal para gases • É eficaz para pacientes com proble mas respiratórios • A dose pode ser titulada • Se o alvo do efeito se localiza nos pulmões: são usadas doses menores comparando com as que se usariam por via oral ou parenteral • Menos efeitos adversos • Absorção limitada de alguns fármacos • Os alimentos podem interferir na absorção • É necessária adesão do paciente • Os fármacos podem ser biotransfor mados antes de serem absorvidos sistemicamente • Imprópria para substâncias oleosas • A injeção em bolus pode resultar em efeitos adversos • A maioria das substâncias deve ser injetada lentamente • São necessárias técnicas de assepsia estritas • Dor e necrose se o fármaco é irritante • Inadequada para fármacos adminis trados em volumes elevados • Afeta certos testes de laboratório (creatinocinase) • Pode ser dolorosa • Pode causar hemorragia intramuscu lar (evitar durante o tratamento com anticoagulante) • Alguns pacientes são alérgicos aos adesivos, o que pode causar irritação • O fármaco deve ser muito lipofílico • Pode causar atraso no acesso ao local de ação farmacológica • Limitado a fármacos que podem ser tomados em doses pequenas diárias • O fármaco pode irritar a mucosa retal • Não é uma via “bem aceita” • Principal via de adictos (o fármaco pode acessar rapidamente o cérebro) • Os pacientes podem ter dificuldade em regular a dose • Alguns pacientes têm dificuldades no uso dos inaladores fármacos tem absorção incompleta e errática sistêmicos • Evita o efeito de primeira passagem • Evita a destruição pela acidez gástrica • Mantém a estabilidade do fár maco, porque a saliva tem pH relativamente neutro • Pode causar efeitos farmacológicos imediatos • Limitada a certos tipos de fármacos • Limitada a fármacos que podem ser tomados em pequenas doses • Pode perder parte do fármaco se deglutido Figura 1.5 Padrão de absorção, vantagens e desvantagens das vias de administração mais comuns. 6 Whalen, Finkel & Panavelil 1 Difusão passiva A. Mecanismos de absorção de fármacos a partir do TGI Dependendo das propriedades químicas, os fármacos podem ser absor Difusão passiva de fármaco hidros solúvel através de um canal ou poro aquoso Difusão passiva de um fármaco lipossolúvel dissolvido na membrana vidos do TGI por difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo ou endocitose (Fig. 1.6). 1. Difusão passiva: A força motora da absorção passiva de um fár maco é o gradiente de concentração através da membrana que D Fármaco Fármaco DD D separa dois compartimentos corporais. Em outros termos, o fárma co se move da região de concentração alta para a de concentração baixa. A difusão passiva não envolve transportador, não é saturável e apresenta baixa especificidade estrutural. A maioria dos fárma D D D cos é absorvida por esse mecanismo. Os fármacos hidrossolúveis D D Espaço extracelular Membrana celular Citosolatravessam as membranas celulares através de canais ou poros aquosos, e os lipossolúveis movem-se facilmente através da maio ria das membranas biológicas, devido à sua solubilidade na bica mada lipídica. D 2. Difusão facilitada: Outros fármacos podem entrar na célula por meio de proteínas transportadoras transmembrana especializadas 2 Difusão facilitada D D que facilitam a passagem de moléculas grandes. Essas proteínas transportadoras sofrem alterações conformacionais, permitindo a Fármaco D D Transportador de fármaco DD D passagem de fármacos ou moléculas endógenas para o interior da célula, movendo-os de áreas de alta concentração para áreas de baixa concentração. Esse processo é denominado difusão facilita da. Ele não requer energia, pode ser saturado e pode ser inibido por compostos que competem pelo transportador. 3. Transporte ativo: Esta forma de entrada de fármacos também en volve transportadores proteicos específicos que atravessam a 3 Transporte ativo D ATP ADP D D membrana. Poucos fármacos cujas estruturas se assemelham às de metabólitos de ocorrência natural são transportados através da membrana celular usando esses transportadores proteicos especí ficos. O transporte ativo dependente de energia é movido pela hi drólise de trifosfato de adenosina. Ele é capaz de mover fármacos contra um gradiente de concentração – ou seja, de uma região com baixa concentração de fármaco para outra com concentração mais Transportador de fármaco D D D D D elevada. Esse processo é saturável. Os sistemas de transporte ati vo são seletivos e podem ser inibidos competitivamente por outras substâncias cotransportadas. 4 Fármaco Endocitose com molécula grande Figura 1.6 Representação esquemática de fármacos atravessando a membrana celular. ATP, trifosfato de adenosina; ADP, difosfato de adenosina. 4. Endocitose e exocitose: Estes tipos de absorção são usados para transportar fármacos excepcionalmente grandes através da membrana celular. A endocitose envolve o engolfamento de molé culas do fármaco pela membrana e seu transporte para o interior da célula pela compressão da vesícula cheia de fármaco. A exoci tose é o inverso da endocitose. Muitas células usam a exocitose para secretar substâncias para fora por um processo similar ao da formação de vesículas. A vitamina B 12 é transportada através da parede intestinal por endocitose, ao passo que certos neurotrans missores (p. ex., norepinefrina) são armazenados em vesículas in tracelulares no terminal nervoso e liberados por exocitose. B. Fatores que influenciam a absorção 1. Efeito do pH na absorção de fármacos: A maioria dos fármacos é ácido fraco ou base fraca. Fármacos ácidos (HA) liberam um pró ton (H+), causando a formação de um ânion (A–): HA H+ + A– Farmacologia Ilustrada 7 As bases fracas (BH+) também podem liberar um H+. Contudo, a A forma protonada dos fármacos básicos, em geral, é carregada, e a perda do próton produz a base (B) não ionizada: BH+ B + H+ Um fármaco atravessa a membrana mais facilmente se estiver não ionizado (Fig. 1.7). Assim, para os ácidos fracos, a forma HA não ionizada consegue permear através das membranas, mas o A– não consegue. Para a base fraca, a forma não ionizada, B, conse gue penetrar através das membranas celulares, mas a BH+ proto nada não consegue. Por isso, a concentração efetiva da forma permeável de cada fármaco no seu local de absorção é determina Ácido fraco Membrana lipídica – H+ A HA H+ HA A – da pelas concentrações relativas entre as formas ionizada e não ionizada. A relação entre as duas formas é, por sua vez, determi nada pelo pH no local de absorção e pela força do ácido ou base fracos, que é representada pela constante de ionização, o pKa Compartimento corporal Compartimento corporal (Fig. 1.8). (Nota: o pKa é uma medida da força da interação de um B composto com um próton. Quanto menor o pKa de um fármaco, mais ácido ele é. Ao contrário, quanto maior o pKa, mais básico ele é.) O equilíbrio de distribuição é alcançado quando a forma per Base fraca Membrana lipídica meável de um fármaco alcança uma concentração igual em todos BH os espaços aquosos do organismo. H+ 2. Fluxo de sangue no local de absorção: Os intestinos recebem B um fluxo de sangue muito maior do que o estômago, de modo que a absorção no intestino é favorecida ante a do estômago. (Nota: o choque reduz drasticamente o fluxo sanguíneo aos tecidos cutâneos, minimizando a absorção de administrações SC.) + + BH H+ B 3. Área ou superfície disponível para absorção: Com uma superfí cie rica em bordas em escova contendo microvilosidades, o intestino tem uma superfície cerca de 1.000 vezes maior que a do estômago; por isso, a absorção de fármacos pelo intestino é mais eficiente. 4. Tempo de contato com a superfície de absorção: Se um fárma Compartimento corporal Figura 1.7 Compartimento corporal co se desloca muito rapidamente ao longo do TGI, como pode ocorrer em uma diarreia intensa, ele não é bem absorvido. Contu do, qualquer retardo no transporte do fármaco do estômago para o intestino reduz a sua velocidade de absorção. (Nota: a presença de A. Difusão da forma não ionizada de um ácido fraco através da membrana lipídica. B. Difusão da forma não ionizada de uma base fraca através da membrana lipídica. Quando o pH é menor do que o pKa, as formas protonadas HA e BH+ predominam Quando pH = pKa, [HA] = [A –] e [BH+] = [B] Quando o pH é maior do que o pKa, as formas desprotonadas A– e B predominam pH < pKa pH > pKa 2 4 3 56789 10 11 pH pKa Figura 1.8 A distribuição de um fármaco entre sua forma ionizada e não ionizada depende do pH do ambiente e do pKa do fármaco. Para exemplificar, o fármaco nesta figura foi imaginado com um pKa de 6,5. 8 Whalen, Finkel & Panavelil alimento no estômago dilui o fármaco e retarda o esvaziamento ADP + Pi ATP Figura 1.9 Fármaco (extracelular) Fármaco (intracelular) gástrico. Portanto, quando um fármaco é ingerido com o alimento, em geral, é absorvido mais lentamente.) 5. Expressão da glicoproteína P: A glicoproteína P é uma proteína transportadora transmembrana responsável pelo transporte de várias moléculas, incluindo fármacos, através da membrana celu lar (Fig. 1.9). Ela é expressa em tecidos por todo o organismo, in cluindo fígado, rins, placenta, intestinos e capilares cerebrais, e está envolvida no transporte de fármacos dos tecidos para o san gue. Ou seja, ela “bombeia” fármacos para fora das células. As sim, nas áreas de expressão elevada, a glicoproteína P diminui a absorção de fármacos. Além de transportar vários fármacos para fora das células, ela também está associada com a resistência a vários fármacos. C. Biodisponibilidade Biodisponibilidade representa a taxa e a extensão com que um fármaco administrado alcança a circulação sistêmica. Por exemplo, se 100 mg de As seis alças da glicoproteína P através da membrana formam um canal central para o bombeamento de fármacos da célula, dependente de ATP. Biodisponibilidade = ASC oral x 100 ASC injetada o c a um fármaco são administrados por via oral, e 70 mg desse fármaco são absorvidos inalteradamente, a sua biodisponibilidade é de 0,7, ou 70%. Conhecer a biodisponibilidade é importante para calcular a dosagem de fármaco para vias de administração não IV. 1. Determinação de biodisponibilidade: A biodisponibilidade é de terminada pela comparação dos níveis plasmáticos do fármaco de pois de uma via de administração particular (p. ex., administração oral) com os níveis plasmáticos obtidos por administração IV. Na administração IV, 100% do fármaco entra na circulação rapidamen te. Quando o fármaco é administrado por via oral, somente parte da dose aparece no plasma. Considerando a concentração plasmáti ca do fármaco em função do tempo, pode-se mensurar a área sob a curva (ASC). A ASC reflete a extensão da absorção do fármaco. A biodisponibilidade de um fármaco administrado por via oral é a relação da ASC após administração oral com a ASC por administração IV (admitindo que as dosagens oral e IV são equivalentes; Fig. 1.10). m r á f o d a c i t á m s a l p o ãç a r t ASC (injetada) Fármaco administrado por via IV Fármaco administrado por via oral 2. Fatores que influenciam a biodisponibilidade: Em contraste com a administração IV, que confere 100% de biodisponibilidade, a administração oral de um fármaco envolve frequentemente bio transformação de primeira passagem. A biotransformação, além das características físicas e químicas do fármaco, determina a ve locidade e a extensão com que ele alcança a circulação sistêmica. n e c n o C Fármaco ASC (oral) Tempo a. Biotransformação hepática de primeira passagem: Quando um fármaco é absorvido a partir do TGI, primeiro ele entra na circulação portal antes de entrar na circulação sistêmica (ver Fig. 1.11). Se o fármaco é rapidamente biotransformado no fí gado ou na parede intestinal durante essa passagem inicial, a administrado Figura 1.10 Determinação da biodisponibilidade de um fármaco. ASC, área sob a curva; IV, intravenosa. quantidade de fármaco inalterado que tem acesso à circulação sistêmica diminui. Isso é denominado biotransformação de pri meira passagem. (Nota: a biotransformação de primeira passa gem pelo intestino ou fígado limita a eficácia de vários fármacos quando usados por via oral. P. ex., mais de 90% da nitroglicerina é destruida durante a biotransformação de primeira passagem. Assim, ela é administrada primariamente por via sublingual ou Farmacologia Ilustrada 9 transdérmica.) Fármacos com intensa biotransformação de pri meira passagem devem ser administrados em dosagem sufi ciente para assegurar a quantidade necessária de fármaco ativo no local de ação desejado. b. Solubilidade do fármaco: Fármacos muito hidrofílicos são pouco absorvidos, devido à sua impossibilidade de atravessar membranas celulares ricas em lipídeos. Paradoxalmente, fár macos extremamente lipofílicos são também pouco absorvi dos, pois são totalmente insolúveis nos líquidos aquosos do organismo e, portanto, não têm acesso à superfície das célu las. Para que um fármaco seja bem absorvido, ele deve ser basicamente lipofílico, mas ter alguma solubilidade em solu ções aquosas. Essa é uma das razões pelas quais vários fár macos são ácidos fracos ou bases fracas. c. Instabilidade química: Alguns fármacos, como a benzilpenici lina, são instáveis no pH gástrico. Outros, como a insulina, são destruídos no TGI pelas enzimas digestivas. d. Natureza da formulação do fármaco: A absorção do fármaco pode ser alterada por fatores não relacionados com a sua es trutura química. Por exemplo, o tamanho da partícula, o tipo de sal, o polimorfismo cristalino, o revestimento entérico e a pre sença de excipientes (como os agentes aglutinantes e disper santes) podem influenciar a facilidade da dissolução e, por isso, alterar a velocidade de absorção. D. Bioequivalência Duas formulações de fármacos são bioequivalentes se elas apresentam biodisponibilidades comparáveis e tempos similares para alcançar o pico de concentração plasmática. E. Equivalência terapêutica Duas formulações são terapeuticamente equivalentes se elas são equi valentes farmacêuticos, isto é, se apresentam a mesma dosagem, con têm a mesma substância ativa e são indicadas pela mesma via de admi nistração, com perfis clínicos e de segurança similares. (Nota: a eficácia clínica com frequência depende da concentração sérica máxima e do tempo necessário [após a administração] para alcançar o pico de con centração. Portanto, dois fármacos que são bioequivalentes podem não ser terapeuticamente equivalentes.) IV. DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS Distribuição de fármacos é o processo pelo qual um fármaco reversivelmente abandona o leito vascular e entra no interstício (líquido extracelular) e, então, nas células dos tecidos. Para fármacos administrados por via IV, onde não existe absorção, a fase inicial (isto é, imediatamente após a administração até a rápida queda na concentração) representa a fase de distribuição, na qual o fármaco rapidamente sai da circulação e entra nos tecidos (Fig. 1.12). A passagem do fármaco do plasma ao interstício depende do débito car díaco e do fluxo sanguíneo regional, da permeabilidade capilar, do volume do tecido, do grau de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas e tissula res e da lipofilicidade relativa do fármaco. Os fármacos administrados por via oral são expostos primeiro ao fígado e podem ser extensamente biotransformados antes de alcançar as demais regiões do organismo Os fármacos administra dos por via IV entram diretamente na circula ção sistêmica e têm acesso direto às demais regiões do organismo IV Circulação portal Circulação sistêmica Figura 1.11 A biotransformação de primeira passagem pode ocorrer com fármacos administrados por via oral. IV, intravenosa. 10 Whalen, Finkel & Panavelil A. Fluxo sanguíneo A taxa de fluxo de sangue para os capilares dos tecidos varia ampla a m s a l p o n o ãç a r t n e c n o C 1,5 1,25 1 0,75 0,5 0,25 Fase de eliminação Fase de distribuição 0 1 3 2 4 Tempo Injeção do fármaco em bolus mente. Por exemplo, o fluxo de sangue para os órgãos ricos em vasos (cérebro, fígado e rins) é maior do que para os músculos esqueléticos. O tecido adiposo, a pele e as vísceras têm fluxo sanguíneo ainda menor. A variação no fluxo de sangue explica parcialmente a curta duração da hipnose produzida por um bólus de injeção IV de propofol (ver Cap. 13). O elevado fluxo sanguíneo, junto com a elevada lipossolubilidade do propo fol, permite-lhe distribuição rápida ao SNC e produz anestesia. A subse quente distribuição lenta aos músculos esqueléticos e ao tecido adiposo diminui a concentração plasmática, de modo que a concentração elevada no SNC se reduz, e a consciência é recuperada. B. Permeabilidade capilar A permeabilidade capilar é determinada pela estrutura capilar e pela na tureza química do fármaco. A estrutura capilar varia em termos de fração Figura 1.12 Concentrações do fármaco no soro após uma injeção única do fármaco. Admite-se que o fármaco se distribui e subsequentemente é eliminado. exposta da membrana basal com junções com frestas entre as células endoteliais. No fígado e no baço, uma fração significativa da membrana basal é exposta em razão de os capilares serem descontínuos e gran des, através dos quais podem passar grandes proteínas plasmáticas (Fig. 1.13A). No cérebro, a estrutura capilar é contínua, e não existem frestas (Fig. 1.13B). Para entrar no cérebro, o fármaco precisa passar através das células endoteliais dos capilares do SNC ou ser transporta do ativamente. Por exemplo, um transportador específico leva o fármaco levodopa para o interior do cérebro. Em contraste, fármacos lipossolúveis entram facilmente no SNC, pois se dissolvem na membrana das células endoteliais. Fármacos ionizados ou polares em geral fracassam tentando entrar no SNC, pois não conseguem passar através das células endo teliais, as quais não apresentam junção com frestas (Fig. 1.13C). Essas células intimamente justapostas formam junções estreitadas que consti tuem a barreira hematencefática. C. Ligação de fármacos a proteínas plasmáticas e dos tecidos 1. Ligação a proteínas plasmáticas: A ligação reversível às proteí nas plasmáticas fixa os fármacos de forma não difusível e retarda sua transferência para fora do compartimento vascular. A albumina é a principal proteína ligadora e pode atuar como uma reserva de fármaco (à medida que a concentração do fármaco livre diminui, devido à eliminação, o fármaco ligado se dissocia da proteína). Isso mantém a concentração de fármaco livre como uma fração constante do fármaco total no plasma. 2. Ligação a proteínas dos tecidos: Vários fármacos se acumulam nos tecidos, levando a concentrações mais elevadas no tecido do que no líquido extracelular e no sangue. Os fármacos podem acu mular como resultado da ligação a lipídeos, proteínas ou ácidos nucleicos.Os fármacos também podem ser transportados ativa mente aos tecidos. Os reservatórios nos tecidos podem servir de fonte principal de fármaco e prolongar sua ação ou causar toxicida de local ao fármaco (p. ex., a acroleína, metabólito da ciclofosfami da, pode causar cistite hemorrágica porque se acumula na bexiga.) D. Lipofilicidade A natureza química do fármaco influencia fortemente a sua capacidade de atravessar membranas celulares. Os fármacos lipofílicos se movem mais facilmente através das membranas biológicas. Esses fármacos se dissolvem nas membranas lipídicas e permeiam toda a superfície celular. A O principal fator que influencia a distribuição do fármaco lipofílico é o fluxo de sangue para aquela área. Em contraste, os fármacos hidrofílicos não penetram facilmente nas membranas celulares e devem passar atra Farmacologia Ilustrada 11 Estrutura de capilares no fígado Grandes frestas permitem aos vés de junções com fendas. E. Volume de distribuição O volume de distribuição aparente, Vd, é o volume de líquido necessário para conter todo o fármaco do organismo na mesma concentração pre sente no plasma. O Vd é calculado dividindo-se a dose que alcança a circulação sistêmica pela concentração no plasma no tempo zero (C0): Vd = quantidade de fármaco no organismo C0 fármacos mover-se entre o sangue e o interstício no fígado Fármaco Célula endotelial Junção com fenda Membrana basal Embora o Vd não tenha base física ou fisiológica, pode ser útil para com parar a distribuição de um fármaco com os volumes dos compartimentos B de água no organismo. 1. Distribuição no compartimento aquoso do organismo: Logo que o fármaco entra no organismo, ele tem o potencial de distribuir-se em qualquer um dos três compartimentos funcionalmente distintos de água corporal, ou ser sequestrado em um local celular. a. Compartimento plasmático: Se um fármaco tem massa mo lecular muito alta ou liga-se extensamente às proteínas, ele é muito grande para atravessar as fendas dos capilares e, as sim, é efetivamente aprisionado dentro do compartimento Estrutura de um capilar cerebral Processo podal do astrócito Membrana basal Célula endotelial cerebral plasmático (vascular). Como resultado, ele tem um Vd baixo que se aproxima do volume de plasma, ou cerca de 4 L em um indivíduo com 70 kg. A heparina (ver Cap. 22) tem esse tipo de distribuição. b. Líquido extracelular: Se um fármaco apresenta baixa massa molecular, mas é hidrofílico, ele pode passar através das fen das endoteliais dos capilares para o líquido intersticial. Contudo, Nas junções estreitadas, duas células adjacentes fundem de modo que as células são sicamente unidas e formam uma parede contínua que impede vários fármacos de entrar no cérebro Junção estreitada fármacos hidrofílicos não podem se mover através das mem C branas celulares lipídicas para entrar no líquido intracelular. Por isso, esses fármacos se distribuem em um volume que é a soma do volume de plasma com a água intersticial, os quais, juntos, constituem o líquido extracelular (cerca de 20% da mas sa corpórea, ou 14 L em uma pessoa com 70 kg). Os antimicro bianos aminoglicosídeos (ver Cap. 39) mostram esse tipo de distribuição. c. Água corporal total: Se um fármaco apresenta baixa massa molecular e é lipofílico, ele pode se mover para o interstício através das fendas e também passar através das membranas celulares para o líquido intracelular. Esses fármacos se distri buem em um volume de cerca de 60% da massa corporal, ou Permeabilidade de um capilar cerebral Fármaco ionizado Fármacos lipossolúveis Passagem mediada por transportador cerca de 42 L em uma pessoa com 70 kg. O etanol tem este Vd. 2. Volume de distribuição aparente: Um fármaco raramente se as socia de forma exclusiva a um único compartimento de água corpo ral. Ao contrário, a maioria dos fármacos se distribui em vários com partimentos, com frequência ligando-se avidamente a componentes Figura 1.13 Corte transversal de capilares hepáticos e cerebrais. 12 Whalen, Finkel & Panavelil celulares – como lipídeos (abundantes em adipócitos e membranas A ) p Fase de distribuição 4 Fase de eliminação celulares), proteínas (abundantes no plasma e nas células) e ácidos nucleicos (abundantes no núcleo das células). Por essa razão, o volume no qual o fármaco se distribui é denominado volume de dis tribuição aparente (Vd). O Vd é uma variável farmacocinética útil para calcular a dose de carga de um fármaco. 3. Determinação do Vd: Como a depuração do fármaco geralmente é um processo de primeira ordem, pode-se calcular o Vd. A primeira C ( a m s a l p o n o ãç a r t n e c n o C A maioria dos fármacos 1 apresenta diminuição exponencial na concen tração em função do tempo, durante a fase 2 de eliminação 1 ordem considera que uma fração constante do fármaco é elimina da por unidade de tempo. Este processo pode ser analisado de modo mais fácil lançando-se em um gráfico o log da concentração do fármaco no plasma (Cplasma) em relação ao tempo (Fig. 1.14). A concentração do fármaco no plasma pode ser extrapolada para o tempo zero (o momento da injeção IV) no eixo Y, para determinar C0, que é a concentração que teria sido alcançada se a fase de distribuição tivesse ocorrido instantaneamente. Isso permite o cál 01 3 2 4 culo do Vd da seguinte maneira: a m s a l 0 B 4 3 2 1 C0 = Tempo Injeção rápida do fármaco Extrapolação até o tempo “0” fornece o C0, o valor hipotético de concentração do fárma co previsto se a distri buição fosse alcançada instantaneamente Vd = dose C0 Por exemplo, se 10 mg de um fármaco são injetados em um pa ciente, e a concentração plasmática extrapolada para o tempo zero (C0) é igual a 1 mg/L (do gráfico na Fig. 1.14B), então Vd = 10 mg / 1 mg/L = 10 L. 4. Efeito de Vd na meia-vida (t1/2) do fármaco: O Vd tem influência importante na meia-vida do fármaco, pois a sua eliminação depen de da quantidade de fármaco ofertada ao fígado ou aos rins (ou outro órgão onde ocorra a biotransformação) por unidade de tem po. A oferta de fármaco aos órgãos de eliminação depende não só p o n o ãç a r t n e c n o C 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 t1/2 0 1 2 3 4 Tempo do fluxo sanguíneo, como também da fração de fármaco no plas ma. Se o fármaco tem um Vd elevado, a maior parte do fármaco está no espaço extraplasmático e indisponível para os órgãos ex cretores. Portanto, qualquer fator que aumente o Vd pode aumentar a meia-vida e prolongar a duração de ação do fármaco. (Nota: um valor de Vd excepcionalmente elevado indica considerável seques tro do fármaco em algum tecido ou compartimento do organismo.) V. DEPURAÇÃO DE FÁRMACOS POR MEIO DA BIOTRANSFORMAÇÃ O Injeção rápida do fármaco A meia-vida (tempo necessário para reduzir à metade a concentração do fármaco no plasma) é igual a 0,69 Vd/CL Figura 1.14 Concentrações do fármaco no plasma após uma injeção única de um fármaco no tempo zero. A. Os dados de concentração foram lançados em uma escala linear. B. Os dados de concentração foram lançados em uma escala logarítmica. Logo que o fármaco entra no organismo começa o processo de eliminação. As três principais vias de eliminação são biotransformação hepática, elimina ção biliar e eliminação urinária. Juntos, esses processos de eliminação dimi nuem exponencialmente a concentração no plasma. Ou seja, uma fração constante do fármaco presente é eliminada por unidade de tempo (Fig. 1.14A). A maioria dos fármacos é eliminada de acordo com uma cinética de primeira ordem, embora alguns, como o ácido acetilsalicílico em doses altas, sejam eliminados de acordo com cinética de ordem zero ou não linear. A biotrans formação gera produtos com maior polaridade, que facilita a eliminação. A depuração (clearance – CL) estima a quantidade de fármaco depurada do organismo por unidade de tempo. A CL total é uma estimativa composta que reflete todos os mecanismos de eliminação do fármaco e é calculada pela seguinte equação: FarmacologiaIlustrada 13 CL = 0,693 Vd/t1/2 onde t½ é a meia-vida de eliminação, Vd é o volume de distribuição aparen te, e 0,693 é a constante log natural. A meia-vida do fármaco é usada com frequência para medir a CL do fármaco porque, para vários fármacos, Vd é uma constante. A. Cinética da biotransformação 1. Cinética de primeira ordem: A transformação metabólica dos fár macos é catalisada por enzimas, e a maioria das reações obedece à cinética de Michaelis-Menten: v = velocidade de biotransformação do fármaco = Vmáx [C] Poucos fármacos, como ácido acetil salicílico, etanol e fenitoína, têm do sagens muito elevadas. Por isso, a concentração do fármaco no plasma é muito maior do que o K m, e as suas biotransformações são de ordem zero, isto é, constante e independente da dose do fármaco 100 o c a m r á f e o d d e o 50 d ã a Km + [C] ç d a i c m o r l o e f V s n Na maioria das situações clínicas, a concentração do fármaco, [C], a r t é muito menor do que a constante de Michaelis, Km, e a equação se o 0 i b 0 reduz para: Dose dofármaco v = velocidade de biotransformação = Vmáx [C] Km Isto é, a velocidade de biotransformação do fármaco é diretamen te proporcional à concentração do fármaco livre, e é observada uma cinética de primeira ordem (Fig. 1.15). Isso indica que uma fração constante do fármaco é biotransformada por unidade de tempo (isto é, a cada meia-vida, a concentração se reduz em 50%). A cinética de primeira ordem também é referida como ciné tica linear. 2. Cinética de ordem zero: Com poucos fármacos, como o ácido acetilsalicílico, o etanol e a fenitoína, as doses são muito grandes. Por isso, [C] é muito maior do que Km, e a equação de velocidade se torna a seguinte: Vmáx [C] V = velocidade de biotransformação do fármaco = = Vmáx [C] A enzima é saturada pela concentração elevada de fármaco livre, e a velocidade da biotransformação permanece constante no tempo. Isso é denominado cinética de ordem zero (também denominado de cinética não linear). Uma quantidade constante de fármaco é biotransformada por unidade de tempo. A velocidade de elimina ção é constante e independe da concentração do fármaco. B. Reações da biotransformação de fármacos Os rins não conseguem eliminar os fármacos lipofílicos de modo eficien te, pois estes facilmente atravessam as membranas celulares e são reab sorvidos nos túbulos contorcidos distais. Por isso, os fármacos lipossolú veis sao primeiramente biotransformados no fígado em substâncias mais polares (hidrofílicas), usando dois grupos gerais de reações, denomina dos fase I e fase II (Fig. 1.16). Para a maioria dos fármacos, a concen tração no plasma é menor do que o K m e a eliminação é de primeira ordem, isto é, proporcional à dose do fármaco Figura 1.15 Efeitos da dose do fármaco na velocidade da sua biotransformação. 14 Whalen, Finkel & Panavelil Oxidação, Alguns fármacos entram diretamente na Fase II de biotransformação (Lipofílico) Fase I Fase IIProdutos de Fármaco redução e/ou hidrólise (polar) conjugação (hidrossolúvel) Após a Fase I, o fármaco pode ser ativado, permanecer inalterado ou, com mais frequência, inativado Figura 1.16 Biotransformação dos fármacos. O fármaco conjugado geralmente é inativo CYP2E1 4% CYP2C19 8% 1. Fase I: As reações de fase I convertem fármacos lipofílicos em moléculas mais polares, introduzindo ou desmascarando um grupo funcional polar, como –OH ou –NH2. As reações de fase I em geral envolvem redução, oxidação ou hidrólise. A biotransformação de fase I pode aumentar ou diminuir a atividade farmacológica, ou ain da não ter efeito sobre ela. a. Reações de fase I utilizando o sistema P450: As reações de fase I envolvidas com maior frequência na biotransformação de fármacos são catalisadas pelo sistema citocromo P450 (tam bém denominado oxidases microssomais de função mista). O sistema P450 é importante para a biotransformação de vários compostos endógenos (como esteroides, lipídeos) e para a biotransformação de substâncias exógenas (xenobióticos). O citocromo P450, designado como CYP, é uma superfamília de isoenzimas contendo heme presentes na maioria das células, mas principalmente no fígado e no TGI. 1) Nomenclatura: O nome da família é indicado pelo algaris mo arábico que segue a sigla CYP, e a letra maiúscula de signa a subfamília; por exemplo, CYP3A (Fig. 1.17). Um segundo algarismo indica a isoenzima específica, como em CYP3A4. CYP2D6 19% CYP2C8/9 16% CYP1A2 11% CYP2A6 2) Especificidade: Como há vários genes diferentes que co dificam múltiplas enzimas, há várias isoformas P450 dife rentes. Essas enzimas têm a capacidade de modificar um grande número de substratos estruturalmente distintos. Além disso, um fármaco individual pode ser substrato para mais de uma isoenzima. Quatro isoenzimas são responsá veis pela ampla maioria das reações catalisadas pelo P450: CYP3A4/5, CYP2D6, CYP2C8/9 e CYP1A2 (Fig. 1.17). Quantidades consideráveis de CYP3A4 são encon 3% CYP3A4/5 36% CYP2B6 3% Figura 1.17 tradas na mucosa intestinal, respondendo pela biotransfor mação de primeira passagem de fármacos como a clorpro mazina e o clonazepam. 3) Variabilidade genética: As enzimas P450 exibem consi derável variabilidade genética entre indivíduos e grupos raciais. Variações na atividade de P450 podem alterar a eficácia dos fármacos e o risco de efeitos adversos. A Contribuição relativa das isoformas de citocromos P450 (CYP) na biotransformação de fármacos. CYP2D6, em particular, revela polimorfismo genético. Mu tações na CYP2D6 resultam em capacidade muito baixa de biotransformar substratos. Algumas pessoas, por exemplo, não obtêm benefício do analgésico opiáceo codeína, por que não têm a enzima CYP2D6 que o ativa. Polimorfismos similares foram caracterizados para a subfamília CYP2C. Por exemplo, o clopidogrel tem a advertência de que os Farmacologia Ilustrada 15 Isoenzima CYP2C9/10 SUBSTRATOS COMUNS INDUTORES pacientes que são maus biotransformadores pela CYP2C19 têm maior incidência de eventos cardiovasculares (p. ex., choque ou infarto do miocárdio) quando usam esse fárma co. O clopidogrel é um pró-fármaco, e a ativação pela CYP2C19 é necessária para convertê-lo no metabólito ati vo. Embora a CYP3A4 exiba uma variabilidade entre indiví duos maior que 10 vezes, nenhum polimorfismo foi identifi Varfarina Fenitoína Ibuprofeno Tolbutamida Isoenzima CYP2D6 Fenobarbital Rifampicina cado para essa isoenzima P450. SUBSTRATOS COMUNS INDUTORES 4) Indutores: As enzimas dependentes de CYP450 são um alvo importante de interações farmacocinéticas de fármacos. Uma dessas interações é a indução de isoenzimas CYP-específicas. Xenobióticos (substâncias químicas que não são produzidas nem deveriam estar presentes normalmente no organismo, Desipramina Imipramina Haloperidol Propanolol Nenhum* como poluentes ambientais) podem induzir a atividade dessas enzimas. Certos fármacos (p. ex., fenobarbital, rifampicina e carbamazepina) são capazes de aumentar a síntese de uma ou mais isoenzimas CYP. Isso resulta no aumento da biotransfor Isoenzima CYP3A4/5 SUBSTRATOS COMUNS INDUTORES mação de fármacos e pode levar a reduções significativas nas concentrações plasmáticas dos fármacos biotransformados por essas isoenzimas CYP, com concomitante redução do efeito farmacológico. Por exemplo, a rifampicina, um fármaco antitu berculose (ver Cap. 41), diminui de modo significativo a concen tração plasmática dos inibidores de HIV protease, diminuindo, assim, sua capacidade de suprimir a replicação do HIV. A erva- Carbamazepina Ciclosporina Eritromicina Nifedipino Verapamil Figura 1.18 Carbamazepina Dexametasona Fenobarbital Fenitoína Rifampicina -de-são-joão é um fitoterápico amplamente usado e é um indu tor potente da CYP3A4. Várias interações com fármacos são relatadas devido ao uso simultâneo da erva-de-são-joão. A Fi gura 1.18 lista alguns dos mais importantes indutores para iso enzimas CYP representativas. As consequências do aumento da biotransformaçãode fármacos incluem 1) menor concentra ção do fármaco no plasma; 2) menor atividade do fármaco, se o metabólito é inativo; 3) aumento da atividade, se o metabólito é ativo; e 4) redução do efeito terapêutico do fármaco. 5) Inibidores: A inibição da atividade das isoenzimas CYP é uma fonte importante de interações de fármacos que leva a efeitos adversos graves. A forma mais comum de inibição é pela competição pela mesma isoenzima. Alguns fármacos, contudo, são capazes de inibir reações das quais nem são substratos (p. ex., cetoconazol), provocando interações. Nu merosos fármacos são capazes de inibir uma ou mais vias de biotransformação CYP-dependente da varfarina. Por exem plo, o omeprazol é um inibidor importante de três das isoenzi mas CYP responsáveis pela biotransformação da varfarina. Se os dois fármacos são tomados juntos, a concentração plasmática de varfarina aumenta, levando ao aumento do efeito anticoagulante e do risco de sangramentos. (Nota: os inibidores CYP mais importantes são eritromicina, cetocona zol e ritonavir, pois inibem várias isoenzimas CYP.) Substân cias naturais também podem inibir a biotransformação de fár macos inibindo a CYP3A4. Por exemplo, o suco de toranja (grapefruit) inibe a CYP3A4 e leva a concentrações mais altas e/ou maior potencial de efeitos tóxicos de fármacos, tais como Algumas isoenzimas citocromo P450 representativas. CYP, citocromo P. *Diferentemente da maioria das outras enzimas CYP450, a CYP2D6 não é muito suscetível à indução enzimática. 16 Whalen, Finkel & Panavelil nifedipina, claritromicina e sinvastatina, que são biotransforma dos por esse sistema. b. Reações de fase I que não envolvem o sistema P450: Essas reações incluem a oxidação de aminas (p. ex., oxidação de ca tecolaminas ou histamina), a desidrogenação do álcool (p. ex., oxidação do etanol), as esterases (p. ex., biotransformação do ácido acetilsalicílico no fígado) e a hidrólise (p. ex., procaína). 2. Fase II: Esta fase consiste em reações de conjugação. Se o meta bólito resultante da fase I é suficientemente polar, ele pode ser ex cretado pelos rins. Contudo, vários metabólitos de fase I continuam muito lipofílicos para serem excretados. Uma reação subsequente de conjugação com um substrato endógeno – como ácido glicurôni co, ácido sulfúrico, ácido acético ou aminoácido – produz um com posto polar em geral mais hidrossolúvel e terapeuticamente inativo. Uma exceção notável é o glicuronídeo-6-morfina, que é mais poten te do que a morfina. A glicuronidação é a reação de conjugação mais comum e mais importante. (Nota: os fármacos que possuem um grupo –OH, –NH2 ou –COOH podem entrar diretamente na fase II e ser conjugados sem uma reação de fase I prévia.) O fármaco conjugado altamente polar é então excretado pelos rins ou pela bile. 1 O fármaco livre entra no ltrado glomerular VI. DEPURAÇÃO DE FÁRMACOS PELOS RINS Os fármacos devem ser suficientemente polares para serem eliminados do organismo. A saída do fármaco do organismo ocorre por numerosas vias, sendo a eliminação na urina por meio dos rins a mais importante. Pacientes com disfunção renal podem ser incapazes de excretar os fármacos, ficando 2 3 Cápsula de Bowman Secreção ativa do fármaco Reabsorção passiva de fármacos não ionizados e lipossolúveis, que foram concentrados no interior do lúmen em concentração maior do que a do espaço perivascular Túbulo proximal Alça de Henle Túbulo distal Túbulo coletor sujeitos ao risco de acumulá-los e apresentar efeitos adversos. A. Eliminação renal dos fármacos A eliminação de fármacos pelos rins na urina envolve os processos de filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. 1. Filtração glomerular: Os fármacos chegam aos rins pelas artérias renais, que se dividem para formar o plexo capilar glomerular. O fármaco livre (não ligado à albumina) difunde-se através das fendas capilares para o espaço de Bowman como parte do filtrado glome rular (Fig. 1.19). A velocidade de filtração glomerular (VFG) em geral é de 125 mL/min, mas pode diminuir significativamente na doença renal. A lipossolubilidade e o pH não influenciam a passagem dos fármacos para o filtrado glomerular. Contudo, variações na VFG e a ligação dos fármacos às proteínas afetam esse processo. 2. Secreção tubular proximal: Os fármacos que não foram transfe ridos para o filtrado glomerular saem dos glomérulos através das arteríolas eferentes, que se dividem formando um plexo capilar ao redor do lúmen no túbulo proximal. A secreção ocorre primaria mente nos túbulos proximais por dois mecanismos de transporte ativo que exigem energia: um para ânions (p. ex., formas despro Na urina: fármaco ionizado insolúvel em lipídeos Figura 1.19 tonadas de ácidos fracos) e outro para cátions (p. ex., formas pro tonadas de bases fracas). Cada um desses sistemas de transpor te apresenta baixa especificidade e pode transportar vários compostos. Assim, pode ocorrer competição entre fármacos pe los transportadores em cada um dos sistemas. (Nota: prematuros Eliminação de fármacos pelos rins. e recém-nascidos não têm esse mecanismo secretor tubular Farmacologia Ilustrada 17 completamente desenvolvido e, assim, podem reter certos fárma cos no filtrado glomerular.) 3. Reabsorção tubular distal: Enquanto o fármaco se desloca em direção ao túbulo contorcido distal, sua concentração aumenta e excede à do espaço perivascular. O fármaco, se for neutro, pode difundir-se para fora do lúmen, retornando à circulação sistêmica. A manipulação do pH da urina, para aumentar a fração ionizada do fármaco no lúmen, pode ser feita para minimizar a retrodifusão e, assim, aumentar a depuração de um fármaco indesejável. Como Fármaco Fármaco Túbulo regra geral, ácidos fracos podem ser eliminados alcalinizando a urina, ao passo que a eliminação de bases fracas pode ser aumen tada por acidificação da urina. Esse processo é denominado prisão iônica. Por exemplo, um paciente apresentando dose excessiva de fenobarbital (um ácido fraco) pode receber bicarbonato, que alcali niza a urina e mantém o fármaco ionizado, diminuindo, assim, a sua reabsorção. 4. Papel da biotransformação de fármacos: A maioria dos fármacos é lipossolúvel e, sem modificação química, se difundiria para fora do lúmen tubular renal quando a sua concentração no filtrado se tor nasse maior do que a do espaço perivascular. Para minimizar essa reabsorção, os fármacos são modificados basicamente no fígado em substâncias mais polares por meio das reações de fase I e fase II (descritas anteriormente). Os conjugados polares ou ionizados são incapazes de difundir para fora do lumen renal (Fig. 1.20). VII. DEPURAÇÃO POR OUTRAS VIAS A depuração de fármacos pode ocorrer também por intestinos, bile, pulmões, leite, entre outros. Os fármacos que não são absorvidos após administração oral ou fármacos que são secretados diretamente para os intestinos ou na bile são eliminados com as fezes. Os pulmões estão envolvidos primariamente na eliminação dos gases anestésicos (p. ex., isoflurano). A eliminação de fárma cos no leite pode expor a criança lactente aos medicamentos e/ou seus meta Reabsorção passiva de fármaco não ioni zado, lipossolúvel Figura 1.20 proximal Alça de Henle Túbulo distal Fármaco Biotransforma ção de Fase I e II Metabólito ionizado ou polar bólitos ingeridos pela mãe, e é uma fonte potencial de efeitos indesejados na criança. A excreção da maioria dos fármacos no suor, na saliva, nas lágrimas, nos pelos e na pele ocorre em pequena extensão. A depuração corporal total e a meia-vida do fármaco são variáveis importantes da sua depuração, sendo usadas para otimizar o tratamento medicamentoso e minimizar a toxicidade. A. Depuração corporal total A depuração corporal total (sistêmica), CL total , é a soma de todas as depura ções dos órgãos biotransformadores e eliminadores. Os rins, frequentemen te, são os principais órgãos de eliminação. O fígado também contribui na depuração dos fármacospor meio da biotransformação e/ou excreção na bile. A depuração total é calculada usando-se a seguinte equação: CLtotal = CLhepática + CLrenal + CLpulmonar + CLoutras em que CLhepática + CLrenal geralmente são as mais importantes. B. Situações clínicas que alteram a meia-vida do fármaco Quando o paciente apresenta uma anormalidade que altera a meia-vida do fármaco, são necessários ajustes na dosagem. Pacientes que podem apresentar aumento da meia-vida de fármacos são aqueles que têm 1) Efeito da biotransformação de fármacos na reabsorção no túbulo distal. 18 Whalen, Finkel & Panavelil diminuição do fluxo de sangue renal ou hepático (p. ex., choque cardiogê nico, insuficiência cardíaca ou hemorragia); 2) diminuição na capacidade de extrair o fármaco do plasma (p. ex., doença renal); e 3) diminuição da biotransformação (p. ex., quando outros fármacos concomitantes inibem a biotransformação, ou na insuficiência hepática, como na cirrose). Nes ses pacientes, pode ser necessário diminuir a dosagem ou aumentar o tempo entre as dosificações. Em contraste, a meia-vida de um fármaco pode ser reduzida aumentando o fluxo sanguíneo hepático, diminuindo a ligação às proteínas ou aumentando a biotransformação. Isso pode exigir dosagens maiores ou dosificações mais frequentes. VIII. ESQUEMAS E OTIMIZAÇÃO DAS DOSAGENS Para iniciar o tratamento medicamentoso, o clínico deve selecionar a via de administração, a dosagem e o intervalo das dosificações apropriado. A esco lha do regime terapêutico depende de vários fatores do paciente e do fárma co, incluindo quão rápido este deve alcançar os níveis terapêuticos. O regi me então é refinado ou otimizado para maximizar as vantagens e minimizar os efeitos adversos. A. Regimes de infusão contínua O tratamento pode consistir em uma dose simples do fármaco, por exem plo, uma dose única de um fármaco indutor do sono, como o zolpidem. Mais comumente, os fármacos são administrados continuamente seja como infusão IV ou em doses fixas orais e em intervalos constantes (p. ex., um comprimido cada 4 h). A administração contínua ou repetida resulta em acúmulo do fármaco até alcançar um estado de equilíbrio. A concentração de equilíbrio é alcançada quando a velocidade de elimina ção é igual à de administração, de modo que a concentração no plasma e nos tecidos fique relativamente constante. Nota: a maior velocidade de infusão não altera o tempo necessário para alcançar o estado de equilíbrio; somente a concentração de equilíbrio, Css, se altera Região de equilíbrio CSS Alta velocidade o 1. Concentração plasmática do fármaco após infusão IV: Com a administração IV contínua, a velocidade de entrada do fármaco no organismo é constante. A maioria dos fármacos exibe eliminação de primeira ordem, isto é, uma fração constante do fármaco é elimi nada por unidade de tempo. Portanto, a velocidade de eliminação do fármaco aumenta proporcionalmente com o aumento da con centração no plasma. Ao iniciar a infusão IV contínua, a concentra ção do fármaco no plasma aumenta até alcançar um estado de equilíbrio (a velocidade de eliminação se iguala à de administra ção). Nesse momento, a concentração plasmática do fármaco per manece constante. ãç a r t n e c n o C a c it á m s a lp o c a m r á f o d 0 de infusão (2 vezes Ro mg/min) Baixa velocidade de infusão (Ro mg/min) a. Influência da velocidade de infusão do fármaco na concen tração do estado de equilíbrio: A concentração plasmática no estado de equilíbrio (Css ) é diretamente proporcional à velo cidade de infusão. Por exemplo, se a velocidade de infusão é duplicada, o Css duplica (Fig. 1.21). Além disso, a Css é inversa mente proporcional à depuração do fármaco. Assim, qualquer Início da infusão Figura 1.21 Tempo fator que diminui a depuração, como doença hepática ou renal, aumenta a Css de um fármaco infundido (admitindo que a Vd permaneça constante). Fatores que aumentam a depuração, Efeito da velocidade de infusão na concentração de equilíbrio do fármaco no plasma. Ro, velocidade de infusão do fármaco; Css,concentração de equilíbrio do fármaco. como o aumento da biotransformação, diminuem a Css. b. Tempo necessário para alcançar a concentração de equilí brio do fármaco: A concentração de um fármaco aumenta des de zero, no início da infusão, até alcançar o nível de equilíbrio Css (Fig. 1.21). A constante de velocidade para alcançar o Início da infusão do fármaco Concentração de equilíbrio Farmacologia Ilustrada 19 Interrupção da infusão do fármaco; inicia a depuração do fármaco = C ss = 100 90 75 a o m d s a o l t1/2 A depuração do fármaco é exponencial com a constante de tempo igual a de durante a infusão. Por exemplo, a concentração do fármaco cai a 50% do valor de equilíbrio em t½ ã ç a r t n e c n o C Cinquenta porcento da concentração de equilíbrio são alcan p o n o c a m r áf 50 2t1/2 3,3t1/2 0 0 0 Tempo t1/2 Noventa porcento da concentração 2t1/2 çados na t½ Figura 1.22 3,3t1/2 de equilíbrio são alcançados em 3,3 t½ Velocidade para alcançar a concentração de equilíbrio de um fármaco no plasma após infusão intravenosa. estado de equilíbrio é a constante de velocidade para a elimina ção corporal total do fármaco. Assim, 50% da Css do fármaco, observada após o tempo decorrido entre a infusão (t), é igual a t½, em que t½ é o tempo necessário para que a concentração do fármaco se altere em 50%. Após outra meia-vida, a concen 3 tração do fármaco alcança 75% da Css (Fig. 1.22). A concentra ção do fármaco é de 87,5% da Css após 3 meias-vidas, e 90% a em 3,3 meias-vidas. Assim, o fármaco alcança o estado de m 2 s a equilíbrio em cerca de 4-5 meias-vidas. l p o n O único determinante da velocidade que faz com que o fármaco o c alcance o estado de equilíbrio é o t½, e essa velocidade é influen a 1 m ciada somente pelos fatores que afetam a meia-vida. A velocida r á f de para alcançar o estado de equilíbrio não é afetada pela veloci e Injeção de duas unidades do fármaco uma vez ao dia Injeção de uma unidade do fármaco duas vezes ao dia A B C d dade de infusão. Quando a infusão é interrompida, a concentração o 0 ã ç plasmática do fármaco diminui até zerar com a mesma trajetória a r t temporal observada para alcançar o equilíbrio (Fig. 1.22). n e c n o B. Regimes de doses fixas/intervalo de tempo fixo C A administração de um fármaco por doses fixas, em vez de infusão contí nua, com frequência é mais conveniente. Contudo, doses fixas de medica ções IV ou orais administradas em intervalos fixos resultam em flutuações tempo-dependentes nos níveis de fármaco circulante, diferindo do aumen Infusão contínua de duas unidades de fármaco ao dia 0 1 2 3 Dias Injeção rápida do fármaco to contínuo da concentração do fármaco observada na infusão contínua. 1. Injeções IV múltiplas: Quando um fármaco é administrado repeti damente a intervalos regulares, a concentração plasmática aumen ta até alcançar um estado de equilíbrio (Fig. 1.23). Como a maioria dos fármacos é administrada em intervalos mais curtos do que cin co meias-vidas e é eliminada exponencialmente com o tempo, al gum fármaco da primeira dose permanece no organismo no mo mento em que a segunda dose é administrada, algum fármaco da Figura 1.23 Concentração plasmática prevista para um fármaco administrado por infusão. A. Duas injeções diárias. B. Ou uma injeção diária. C. O modelo considera a rápida homogeneização em um compartimento corporal simples e uma meia-vida de 12 horas. 20 Whalen, Finkel & Panavelil segunda dose permanece no momento da terceira dose, e assim por diante. Portanto, o fármaco acumula até que, dentro do interva lo de dosagens, a velocidade de eliminação do fármaco se iguala à velocidade de administração – isto é, até que seja alcançado o es tado de equilíbrio. a. Efeitos da frequência de dosagem: Com administração repe tida em intervalos regulares, a concentração do fármaco no plas ma oscila ao
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