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1 Unidade 2 A Mundialização Económica Noção e Evolução Mundialização: conceito essencialmente económico – trocas comerciais à escala mundial, livre circulação de capitais, de tecnologias e de pessoas e localização das atividades produtivas no espaço internacional. Globalização: ocorre quando as transações económicas (bens, serviços e capitais) entre países se estendem ao domínio social e cultural – produtos culturais, padrões de consumo e estilos de vida universalizam-se, atingindo a dimensão global. É, assim, o reflexo no plano social do fenómeno da mundialização económica. A mundialização está necessariamente ligada à evolução dos meios de transporte, bem como às novas tecnologias de informação e comunicação. Este fenómeno remete ao século XVI e à época dos Descobrimentos, em que o desenvolvimento das trocas mercantis e os movimentos migratórios atingiram as várias partes do mundo. O movimento das trocas à escala mundial é incentivado pelas inovações introduzidas pela Revolução Industrial nas atividades produtivas e nas áreas dos transportes. • A 1ª “europeização” do Mundo No centro do comércio está a Europa – é a procura europeia de produtos e matérias- primas que está na origem do comércio entre as regiões do mundo; é a Europa que controla o comércio e o impulsiona, devido aos capitais que reúne (provenientes do tráfego de escravos) e é a Europa que os aplica nas suas manufaturas, transformando as matérias-primas vindas de outras regiões. O século XVI marca a expansão europeia para os novos espaços: a economia europeia expande-se para além do Mediterrâneo, com a navegação nos oceanos Atlântico e Índico. Novas áreas de outros continentes surgem como centros económicos, gerando fluxos de capitais (prata e ouro). A economia-mundo europeia: fruto da expansão, a Europa torna-se o centro da economia mundial, pois é ela que domina o comércio mundial e concentra os capitais. A troca intensa de mercadorias, de capitais e de populações entre África, América e Europa, tem como consequência a integração destas novas regiões na economia-mundo europeia. O comércio que se desenvolve entre estes três continentes origina formas de especialização económica e de interdependências, características da divisão internacional do trabalho. O tráfico de escravos constitui o fator central no desenvolvimento do comércio mundial controlado pela Europa, constituindo um marco do processo de mundialização. 2 • A 1ª Revolução Industrial A Revolução Industrial assentou num conjunto de transformações profundas a nível da produção: aumento da produção industrial, do investimento e da população, utilização de novas fintas de energia (destaque na de vapor), novos meios de produção e de transporte, mecanização, nova organização do trabalho e aumento dos níveis de consumo. Quais os fatores centrais da 1ª Revolução Industrial? ✓ Inovações tecnológicas - A invenção da máquina a vapor, dos teares mecânicos, a modernização dos transportes e a utilização de novas fontes de energia (vapor e carvão) permitiu aumentar os níveis de produção e de consumo. ✓ Fornecimento de capitais - O capital acumulado pela Europa, resultante do comércio de mão de obra escrava e de mercadorias, possibilitou o financiamento de parte importante das inovações técnicas e dos investimentos industriais. ✓ Fornecimento de matérias-primas - A obtenção de matérias-primas nos mercados coloniais favoreceu o desenvolvimento das indústrias europeias. Foi o que aconteceu com o algodão vindo da América, que proporcionou o desenvolvimento da indústria têxtil europeia. ✓ Mão de obra disponível - As inovações e as reformas no sistema de propriedade da terra permitiram aumentar a capacidade de produção e libertar mão de obra para as manufaturas. ✓ Aumento da procura - A procura crescente do mercado interno europeu e dos mercados externos coloniais, em resultado do crescimento demográfico, da melhoria dos rendimentos e do consequente aumento dos níveis de consumo, estimulou a produção industrial e, por arrastamento, a modernização do setor, especialmente do ramo têxtil (algodão), que funcionou como motor de arranque para a industrialização moderna. • 1ª Revolução Industrial, os mercados e a mundialização A Revolução Industrial (séc. XVIII) está associada ao processo de mundialização económica: as matérias-primas, os capitais, as técnicas e os produtos circulam no espaço internacional. A circulação no espaço mundial alarga-se ao trabalho: inicialmente com o tráfego dos escravos de África e, mais tarde, com as migrações. O sistema mundial de trocas é dominado pela Grã-Bretanha, pela França e pelos EUA. • A 2ª Revolução Industrial e a intensificação da mundialização A 2ª “europeização” do mundo foi fruto da revolução nos transportes e nas comunicações e com a integração de novos espaços no comércio mundial (Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Rússia, Argentina, entre outros), a Europa reforça o seu domínio nos fluxos de bens, capitais e pessoas que circulam no mundo. 3 Em consequência do desemprego e subemprego resultantes da modernização das indústrias, verificou-se um aumento das migrações de europeus para os EUA, Canada, África, etc. Neste período, verificou-se igualmente a saída de capitais da Europa para novos destinos: investimentos na exploração de matérias-primas, em infraestruturas e em atividades terciárias, como a banca. Os rendimentos destes investimentos regressavam, no entanto, aos países europeus de origem. • A primeira metade do século XX – o recuo da mundialização A primeira metade do seculo XX foi marcada por políticas económicas protecionistas das atividades agrícola e industriais, em resultado da devastação originada pela I e II Guerra Mundial e a Grande Depressão. O comércio internacional, apresentou taxas de crescimento modestas, os movimentos de capitais foram bloqueados e os movimentos de capitais foram bloqueados e o movimento migratório sofreu fortes restrições. A retração do comércio mundial, acompanhada pela crise da economia mundial, interrompeu a intensificação do processo de mundialização registada no período anterior. A aceleração da mundialização económica a partir de 1945 • A 3ª Revolução Industrial As necessidades que existiram a nível de armamento e de comunicações, incentivaram a pesquisa e aparecimento de inovações como a tecnologia nuclear e informática. A bomba atómica e o computador, são exemplos de inovações. A aplicação da informática alargou se das indústrias militares para outros tipos de indústria, como educação, transportes, etc., tendo contribuído para um crescimento da competitividade das empresas. O desenvolvimento das TIC e a sua aplicação na atividade produtiva, nos serviços financeiros e nos meios de comunicação social contribuíram para uma maior circulação e difusão de produtos e processos à escala global, favorecendo o processo de mundialização. A reconstrução das economias no período do pós-guerra conduziu a um processo de liberalização das trocas, ao abandono do protecionismo e à defesa de acordos comerciais, de que o Acordo Geral sobre a Redução das Tarifas Aduaneiras (GATT), Organização Mundial do Comércio (OMC), Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED), são exemplos. 4 Acordo Geral sobre a Redução das Tarifas Aduaneiras (GATT): ✓ O GATT pautava-se inicialmente apenas pela redução recíproca das tarifas alfandegárias. Para tal, seria necessário regulamentar o comércio internacional. Posteriormente, transformou-se num labirinto de regras. ✓ O GATT contribuiu para a remoção de barreiras comerciais a nível mundial, mas nunca teve poder suficiente para impedir que alguns dos seus signatários de desviassem desse caminho, adotando medidas protecionistas. Organização Mundialdo Comércio (OMC): ✓ A OMC constitui, numa economia mundial cada vez mais globalizada, o fórum para a eliminação dos obstáculos ao livre comércio, através de negociações comerciais multilaterais, e para definição e aplicação de regras que permitam aos importadores e exportadores desenvolver a sua atividade num quadro de estabilidade e segurança. ✓ Tendo as seguintes funções: → Gerir os acordos multilaterais de comércio negociados pelos seus membros; → Resolver diferendos comerciais; → Supervisionar as políticas comerciais nacionais; → Cooperar com o BM e o FMI nas políticas económicas mundiais; → Facultar assistência técnica aos países em desenvolvimento. Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD): ✓ Missão: conceder empréstimos para financiar a reconstrução das economias devastadas pela guerra. Esta função foi complementada pelo Plano Marshall, que consistiu numa ajuda direta (donativos e empréstimos) dos EUA aos países destruídos com a guerra; ✓ Atualmente, o BIRD, está integrado no Banco Mundial e tem como finalidade apoiar o financiamento de projetos de desenvolvimento, nos países mais pobres. Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED): ✓ O objetivo é promover a integração dos países em desenvolvimento na economia mundial, através das oportunidades oferecidas pelo comércio internacional; ✓ A CNUCED tem como principal objetivo incrementar o comércio internacional, para acelerar o desenvolvimento económico; ✓ Pretende negociar com os PD a redução de obstáculos, tarifários e não tarifários, no comércio dos produtos oriundos dos PD. A GLOBALIZAÇÃO DO MUNDO ATUAL A mundialização e a globalização O processo de mundialização está muito associado ao desenvolvimento dos meios e vias de comunicação, das novas tecnologias de informação e comunicação, na medida em que 5 todos estes meios vieram contribuir para uma maior facilidade e rapidez de circulação de bens, serviços e capitais pelo mundo. A integração das economias é um outro fator de mundialização, uma vez que a eliminação das barreiras alfandegárias e das fronteiras físicas entre os vários espaços nacionais conduz à sua integração num único espaço: o Mundo. Mundialização das trocas e integração: as sociedades atuais assentam na internacionalização e liberalização das trocas e na integração das economias. Os vários espaços nacionais integram-se num espaço: o mundo. A livre circulação da informação, fruto da evolução das comunicações via eletrónica, possibilitou a difusão à escala global de valores, produtos culturais e modos de vida. O fenómeno da mundialização alarga-se, assim, do domínio económico aos domínios social, político e cultural, atingindo toda a vida social. Mundialização das trocas: ✓ Integração de vários mercados nacionais num só (integração económica, ex.: UE) ✓ Liberalização das trocas (eliminação das barreiras ao livre comércio) ✓ Modernização dos meios de transporte e das vias de comunicação Aumento das trocas comerciais mundiais Nenhum país pode viver isolado dos outros, sendo que necessitam de estabelecer trocas, para obter bens/produtos que não produzem, ou não produzem em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades da população. As trocas estabelecidas pelos países caracterizam-se por interdependência, ou seja, alguns países precisam de importar bens que necessitam, e outros precisam de exportar bens que têm em excesso. Integração económica: reunião de várias economias num espaço económico mais vasto em que não há barreiras à livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos. Investimento direto estrangeiro: aquisição de empresas e abertura de filiais fora dos territórios nacionais. Estes investimentos estão localizados em países: ✓ Que tenham fatores produtivos atrativos, como mão de obra, recursos naturais e infraestruturas; ✓ Que lhes permitam ter um maior lucro, para assim aumentar a produtividade. ✓ Um exemplo deste investimento são as empresas multinacionais e transnacionais. Empresas multinacionais: empresas que operam em dois ou mais países, através da abertura de filiais. A sua atividade é centralizada pela empresa sede localizada no país de origem. Empresas transnacionais: empresas que produzem produtos globais atribuindo a cada filial a produção de uma componente do produto final. 6 Investimentos de carteira: aquisição de títulos, como ações e obrigações, por investidores não residentes, por exemplo, um investidor chinês compra títulos norte-americanos. A facilidade para comprar e vender títulos faz com que este investimento se internacionalize. Atualmente existe muito movimento migratórios que são caracterizados pela saída de populações dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos, tendo como objetivo uma melhor qualidade de vida. Contudo, recentemente tem-se registado a saída de trabalhadores qualificados, de países desenvolvidos, para países onde se registe uma maior taxa de crescimento, onde oferecem remunerações maiores e melhores condições de vida. Existe várias razões para o crescimento do turismo, por exemplo: ✓ Aumento do poder de compra das famílias; ✓ Direito a férias; ✓ Melhoria dos transportes e vias de comunicação; ✓ Preços acessíveis das viagens. O turismo é bastante importante para os países, pois é uma atividade económica geradora de emprego, lucros e desenvolvimento das infraestruturas. Para além disto, é também um meio para a aproximação de indivíduos com culturas diferentes. O desenvolvimento tecnológico contribuiu para o surgimento de inovações, como a televisão e a internet, o que veio mudar o processo de transmissão e de acesso à informação, pois permitiram o acesso a uma enorme diversidade de informação e de comunicar. A internet é um exemplo bastante importante da globalização da informação, pois contribui para a criação de uma rede mundial de comunicações. Deu origem a novas áreas de negócios, sendo que algumas destas novas atividades possibilitaram a inserção de novos espaços na economia global: ✓ Criação de novas empresas, localizadas na internet, com origem em várias partes do mundo, vendendo serviços a vários indivíduos pelo espaço mundial. Economia informacional: caracteriza-se pela influência das tecnologias de informação e comunicação nas atividades económicas. A competitividade das empresas depende da sua capacidade de gerar, processar e aplicar a informação baseada no conhecimento. As atividades económicas, os fatores produtivos e os mercados estão organizados à escala global, através de uma rede global de ligações entre os vários agentes económicos. A integração das empresas numa organização em rede (empresas, clientes e fornecedores) à escala global, que responda de forma mais eficiente às necessidades dos vários componentes do sistema, constitui um meio de aumentar a competitividade das empresas. Com o transporte marítimo e aéreo de carga, os produtos podem ser produzidos e consumidos em qualquer parte do mundo. O desenvolvimento dos sistemas de 7 informação e a maior facilidade de circulação dos fluxos financeiros, contribuíram para uma maior globalização da economia e para a criação de um mercado global. O mercado global tem duas características importantes: ➢ Homogeneização dos mercados: os mercados tendem a ser iguais entre si, em termos de necessidades, desejos e expectativas. Os consumidores, por exemplo, procuram automóveis fiáveis e de baixo consumo e os fabricantes produzem milhões de automóveis com características idênticas que satisfaçam as necessidades dos consumidores. ➢ Consumos massificados: em todos os países são consumidos bens e serviços com as mesmas características. Sendo a produção padronizada, ou seja, produtos idênticos e produzidos em várias partes do mundo, e os consumos obedecem também a essa padronização. Num mercado globalizadocada vez mais competitivo, os produtos têm de se diferenciar para ser reconhecidos pelo público, e para isso as empresas utilizam as marcas. Sendo que os produtos e marcas tornam-se mundiais. Marcas: elemento distintivo de uma empresa e de um produto. Contribui para a sua notoriedade e reconhecimento no mercado. Pode ser constituída por um símbolo, um nome ou um logótipo. A transnacionalização da produção A globalização contemporânea é caracterizada pela transnacionalização da produção, que consiste na localização dos processos produtivos em diferentes espaços geográficos, em função dos níveis de rendibilidade oferecidos. O processo de transnacionalização pode ser realizado pela abertura de filiais ou pela subcontratação de empresas locais que se especializam na produção de determinados produtos ou componentes do produto. Transnacionalização da produção: decomposição dos processos produtivos em vários segmentos (conceção, produção, embalagem, etc.) e na sua localização em diferentes espaços geográficos, em função dos níveis de rendibilidade oferecidos. Os investimentos diretos estrangeiros que deram origem às empresas multinacionais caracterizam-se pela 1ª fase da transnacionalização, traduzida à obtenção e controlo das fontes de matérias-primas. Numa outra fase, as empresas multinacionais alargaram os seus interesses às atividades industriais e de serviços, implementando filiais em países atrativos. Atualmente, a transnacionalização tem sido caracterizada pela decomposição dos processos produtivos e a sua implantação em diversos territórios, ou seja, cada empresa especializa-se numa determinada componente do produto. Quais os fatores atrativos do investimento estrangeiro? ✓ Mão de obra barata; 8 ✓ Redução dos custos; ✓ Produtividade acrescida; ✓ Acesso dos mercados; ✓ Infraestruturas de transportes e de comunicação; ✓ Apoio ao investimento e economias de escala. Empresas multinacionais VS empresas transnacionais: as empresas multinacionais, organizadas de forma piramidal em, filiais localizadas em vários países que constituem centros de produção controlados hierarquicamente a partir da sede central (estabelecida numa qualquer cidade norte-americana, euro peia ou japonesa), deram lugar a empresas transnacionais que se organizam mundialmente numa estrutura em rede: num país estabelecem os serviços informáticos, num outro subcontratam empresas de marketing, noutro os publicitários, noutro os engenheiros e consultores, etc. Cada uma destas unidades especializa-se numa componente do produto final. Ao contribuírem para o mesmo produto, estas unidades exercem atividades complementares, sendo interdependentes. A sua coordenação, feita à distância, baseia-se mais na confiança do que na autoridade. Globalização financeira A mundialização das trocas e a globalização das atividades económicas exigem uma grande liberdade na circulação dos capitais, enormemente facilitada pelas TIC: elevados valores monetários são movimentados, em tempo real, através do mundo, bastando para o efeito um computador. Os bancos internacionais constituem, deste modo, verdadeiras empresas globais: recebem depósitos de toda a parte, concedem créditos a entidades localizadas em vários países, atuam nas bolsas mundiais, etc. Um mercado financeiro globalizado, onde a concorrência entre as instituições conduz a operações de maior risco para os bancos (taxas de juro de depósitos acima da média do mercado, créditos sem garantias ou a descoberto, dívidas vendidas a outros bancos, etc.) e onde a regulação da atividade por parte das autoridades é difícil, multiplica os fatores de risco do sistema financeiro mundial: a instabilidade num mercado geograficamente localizado transmite-se aos restantes, uma vez que eles se financiam entre si, dando origem ao chamado «efeito dominó». Em suma, a globalização financeira é a interligação dos mercados financeiros nacionais e internacionais que dá origem a um mercado financeiro à escala global. Características da globalização financeira: ✓ Descompartimentação dos mercados: extinção da especialização das atividades entre os bancos e entre atividade bancária e seguradora. ✓ Desregulação da atividade financeira: supressão de entraves à concorrência, por exemplo, com a cedência de créditos sem garantias, o que atrai clientes, mas representa um maior risco para a atividade, ou seja, risco da taxa de juro. 9 ✓ Desintermediação: retirada dos bancos da atividade financeira, através da conversão dos créditos em títulos e a sua venda ao público. Sendo que esta característica leva ao alargamento do mercado de capitais e os bancos apenas exercem a função de garantia nos financiamentos. Estas características contribuem para a maior liberalização dos fluxos de capital e integração dos mercados financeiros à escala mundial, mas aumentam a possibilidade de crises financeiras ocorrerem. A globalização cultural A eliminação das fronteiras físicas e a redução das distâncias entre os países, também elas fruto das novas tecnologias de informação e comunicação, vieram pôr em contacto povos com valores e símbolos culturais diversos. Esta aproximação conduz à aquisição de elementos materiais e espirituais de uma cultura por outra, processo designado por aculturação. Em alguns casos, a aculturação é parcial, pois a nova cultura acaba por se conjugar com a original através de um processo longo de socialização; noutros, o processo de aculturação pode dar origem a sentimentos de perda de identidade, que normalmente desencadeiam processos de rejeição dos novos valores e práticas culturais. Para ultrapassar estes obstáculos será necessário desenvolver um processo de relacionamento baseado no reconhecimento da diversidade cultural e no respeito mútuo – a chamada coabitação cultural. Com a globalização, o globo ficou mais perto de um dos outros, ou seja, a aldeia global, isto quer dizer que houve um processo de aproximação de povos e culturas. Aldeia global: fenómeno derivado do progresso das técnicas nas áreas da informação e da comunicação, que permitiu reduzir as distâncias entre os países e os seus povos. Outro aspeto da globalização está ligado à massificação dos consumos e à adoção de comportamentos globais (milhões de bens idênticos são consumidos por milhões de pessoas no mundo, da mesma forma que milhões de consumidores espalhados pelo mundo viajam para os mesmos destinos, assistem aos mesmos concertos de música e têm comportamentos idênticos, independentemente do país em que vivam). Esta homogeneidade de padrões de consumo origina, por sua vez, a necessidade de diferenciação, a qual, conjugada com as possibilidades de escolhas na esfera dos consumos, do lazer e do trabalho, proporcionadas pelas sociedades livres e «da abundância», permite aos indivíduos adotar comportamentos que, sendo partilhados por outros elementos do grupo social, definem um estilo de vida. O caráter global da informação e da comunicação via internet, a circulação de capitais financeiros pelo mundo através da comunicação eletrónica e a transnacionalização das atividades produtivas reduziram a capacidade de controlo destas atividades por parte dos 10 Estados nacionais, dando azo à necessidade de uma maior intervenção e cooperação a nível internacional. A GLOBALIZAÇÃO E OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO NIP (Novos Países Industrializados): países da Ásia Oriental e do Sudeste Asiático que registaram rápido crescimento económico (no período inicial muito associado ao processo de desenvolvimento do Japão) e crescente participação no comércio mundial. Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Singapura, Tailândia, Malásia, Indonésia, Vietname, Laos e Camboja. Tríade: constituída pelas maiores economias mundiais, inicialmente os EUA, a União Europeia e o Japão. A partir da primeira década do século XXI, a posição do Japão no comérciomundial foi tomada pela China. O início do século XXI foi marado pelo crescimento das economias emergentes, em particular a China. Economias emergentes: economias não desenvolvidas que, fruto das mudanças estruturais e institucionais que atravessaram, desenvolveram processos de industrialização e alcançaram melhorias significativas em relação ao bem-estar, caminhando para a condição de economias desenvolvidas. Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) constituem, atualmente, o principal grupo de economias emergentes. A desigual distribuição dos benefícios da globalização: ✓ Desigualdade do peso das regiões no comércio mundial: Os polos em que o comércio mundial está concentrado representam cerca de 80% das exportações mundiais; uma parte significativa das trocas realizadas por estes polos são processadas dentro da mesma região, como é o caso da Europa Ocidental, ou entre esses mesmos polos, caso dos fluxos comerciais entre os EUA e o Japão (em conjunto com os NPI asiáticos). Os restantes países do mundo representam, na totalidade, menos de um quarto das trocas mundiais. ✓ Desigualdades no PIB per capita: Um dos efeitos da globalização tem sido o crescimento das economias, o aumento do bem-estar e a redução da pobreza em valores absolutos. No entanto, estes benefícios não são igualmente distribuídos por todos os países, havendo grandes diferenças nos valores do PIB per capita e nos níveis de desenvolvimento apresentados pelos países. ✓ Aumento das desigualdades: A pouca riqueza criada nos países menos desenvolvidos é um dos fatores explicativos dos elevados níveis de pobreza, situação agravada pela aplicação de políticas de redistribuição de rendimento pouco equitativas. Nos países desenvolvidos também se tem verificado um aumento das desigualdades sociais, fruto da concorrência acrescida no mercado mundial que tem dado origem ao fecho de algumas empresas e à deslocalização de outras (para 11 países que oferecem melhores condições de rendibilidade), com os consequentes efeitos negativos no emprego e nos níveis de rendimento. A REGIONALIZAÇÃO ECONÓMICA MUNDIAL No fim da II Guerra Mundial registou-se uma liberalização das trocas comerciais no mundo, acentuada pelo movimento de integração regional. Integração económica: reunião de vários mercados nacionais num só mercado de maior dimensão. No processo de integração vão-se eliminando os impedimentos à livre troca e estabelecendo elementos de cooperação entre os países que integram essas regiões. Com a integração e o consequente aumento das trocas, as economias integradas puderam beneficiar de maiores níveis de investimento, de aumentos de produção, de preços mais baixos e de um aumento dos níveis de rendimento e de consumo. Mas os benefícios da integração estenderam-se, igualmente, às economias fora das regiões integradas, em termos de obtenção de produtos mais baratos e da possibilidade de exportação, devido ao aumento da procura, induzido pelo aumento de rendimento. A integração possibilitou, deste modo, uma maior inserção das economias no comércio mundial, constituindo uma das múltiplas dimensões do fenómeno da globalização. Regionalização: constituição de espaços económicos regionais, através de acordos de integração económica. Integração e soberania comum: um grau elevado de integração implica a criação de instituições comuns a todos os países da organização e a progressiva transferência de parte das soberanias nacionais para tais instituições. O comércio foi uma das primeiras áreas em que os países da UE concordaram em abdicar da sua soberania, transferindo para a Comissão Europeia a responsabilidade pelas questões comerciais, incluindo a negociação, em seu nome, de acordos comerciais internacionais. A integração económica pode assumir as seguintes formas: ✓ Sistema de preferências aduaneiras: consiste na concessão mútua de vantagens aduaneiras aos países-membros; ✓ Zona de comércio livre: trata-se de um acordo entre os países-membros onde há livre circulação de bens e cada país estabelece a sua pauta aduaneira no que respeita ao comércio com países terceiros.; ✓ União aduaneira: trata-se de um acordo entre os países-membros onde há livre circulação de bens e cada país estabelece a sua pauta aduaneira no que respeita ao comércio com países terceiros; ✓ Mercado comum: a livre circulação de mercadorias estende-se aos serviços, às pessoas e aos capitais; 12 ✓ União económica: ao mercado comum (as quatro liberdades de circulação) passam a ser acrescidas as políticas económicas e sociais comuns a todos os países- membros; ✓ União política: as políticas comuns vão substituindo as políticas nacionais dos países-membros, verificando-se a progressiva transferência dos poderes soberanos dos Estados para entidades supranacionais que exercem uma soberania comum. Efeitos do processo de integração regional: ✓ Crescimento das economias integradas: mercado de maior dimensão, aumento das trocas, crescimento do investimento e da produção, preços mais baixos devido às economias de escala e aumento do rendimento e dos níveis de consumo. ✓ Crescimento das economias fora das regiões integradas: obtenção de produtos mais baratos, em resultado da baixa de preços inerente às economias de escala e crescimento das exportações devido à maior procura por parte das regiões integradas. Protecionismo – instrumentos: ✓ Barreiras alfandegárias: obstáculos às importações para limitar a sua entrada no país, protegendo a produção nacional. → Barreiras tarifárias: aplicação de impostos aduaneiros sobre os produtos importados, provocando o aumento do seu preço no mercado interno e diminuindo a sua competitividade. → Barreiras não tarifárias: ▪ Contingentação: fixação de limites máximos à quantidade de produtos importados; ▪ Normas técnicas: imposição de normas de qualidade para os produtos estrangeiros (p.e. regulamentos sanitários, de segurança ou requisitos sobre testes, padrões e dimensões do produto e no estabelecimento de regras burocráticas para os produtos poderem entrar no país e que o país exportador tem de respeitar); ▪ Dumping (é proibido): os produtos são vendidos no exterior a preços inferiores aos praticados no mercado nacional. ✓ Incentivos às exportações: → Subsídios à exportação: subvenções concedidas às exportações (de forma direta ou indireta, p.e., linhas de crédito bonificado específico para as empresas exportadoras, reduzindo os custos de produção) como forma de as tornar mais competitivas, mais baratas, no mercado internacional. → Desvalorização da moeda: garante preços mais baixos para os produtos exportados, tornando-se assim, mais competitivos. Integração informal: países de uma região menos desenvolvida estabelecem entre si relações comerciais, de forma a incentivarem o crescimento da sua produção e a tornarem-se mais competitivos nos mercados externos. 13 Tanto a integração formal como a informal, tem proporcionado aos países um crescimento mais rápido das suas economias e uma maior inserção na economia mundial através da liberalização e crescimento das trocas dentro e fora das regiões.