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EXCLUDENTES DA ILICITUDE Material produzido pelo Prof. Davi Dunck Instagram de aulas: penal.aulas Telegram (grupo de estudos): penalaulas ILICITUDE (ANTIJURICIDADE) 1. Conceito: Ilicitude é a contrariedade entre o fato típico praticado por alguém e o ordenamento jurídico. 2. Causas de exclusão da ilicitude: São causas que excluem a ilicitude do fato. Assim, exclui-se a infração penal, já que o fato típico não é ilícito (contrário ao direito). - Atenção: As causas excludentes da ilicitude também são chamadas pela doutrina de: “causas de justificação”, “justificativas, descriminantes”, “eximentes”. DOUTRINA – Prevalece o entendimento na doutrina e jurisprudência que as causas excludentes da ilicitude previstas no Código Penal não são taxativas, já que é admissível a incidência de causa supralegal de exclusão da ilicitude, como no caso de consentimento do ofendido (sendo aplicável apenas em relação aos bens jurídicos disponíveis). 3. Estado de necessidade: O estado de necessidade é uma causa excludente da ilicitude que se verifica em uma situação de perigo, no qual existe um conflito entre bens jurídicos, situação pela qual o ordenamento autoriza o sacrifício de um deles para a preservação do outro. 3.1. Espécies de estado de necessidade: - Justificante: o bem sacrificado é de valor igual ou inferior ao bem preservado (exclui a ilicitude). - Exculpante: o bem sacrificado é de valor superior ao bem preservado (a ilicitude é mantida, mas, no caso em concreto, pode afastar a culpabilidade em razão da inexigibilidade de conduta diversa). - Agressivo: o agente sacrifica bem jurídico pertencente a terceiro inocente (ou seja, pessoa que não provocou a situação de perigo). - Defensivo: o agente sacrifica bem jurídico pertencente ao próprio sujeito provocou o perigo. 3.2. Requisitos do estado de necessidade: 1º - Perigo atual: ou seja, presente (deve estar ocorrendo no momento em que o fato é praticado). Pela redação do art. 24 do CP, só existe o estado de necessidade quando o perigo é atual. DOUTRINA – Há entendimento doutrinário de que o perigo iminente (aquele prestes a iniciar) se equivale ao perigo atual, excluindo, deste modo, o crime. De outro lado, há posições, contudo, no sentido de que o perigo iminente não autoriza o estado de necessidade, pois se essa fosse a vontade da lei, o teria incluído expressamente no art. 24, caput, como fez no art. 25 em relação a legítima defesa. 2º - Perigo não provocado voluntariamente pelo agente: Ou seja, se o agente voluntariamente provocou o perigo, não pode ser beneficiado pelo estado de necessidade (ex: o agente provocou o naufrágio de um navio, e, para se salvar mata um terceiro para ficar com o último colete disponível). 3º - Ameaça a direito próprio ou alheio: Ou seja, age em estado de necessidade não somente que salva direito próprio, mas também quem defende direito de terceiro. 4º - Ausência de dever legal de enfrentar o perigo: Segundo o art. 24, §1º, do CP, o agente não pode alegar o estado de necessidade quando tinha o dever legal de enfrentar o perigo (ex: policiais, bombeiros, salvas-vidas). 5º - Inevitabilidade do perigo por outro modo: Ou seja, não havia outra forma de atuar diante da situação de perigo. Caso contrário, se ficar demonstrado que o perigo poderia ter sido evitado por outro modo, não há estado de necessidade. 6º - Proporcionalidade (razoabilidade): Ou seja, deve haver razoabilidade na conduta do agente frente a situação de perigo. Assim, o bem preservado deve ser de igual ou superior valor em relação ao bem jurídico sacrificado (em razão da teoria unitária adotada pelo art. 24 do CP). 7º - Conhecimento da situação justificante: A doutrina acrescenta esse requisito de caráter subjetivo, visto que, o agente só pode atuar em estado de necessidade quando ele tem a consciência da existência do perigo e a vontade de salvar direito próprio ou alheio (ex: médico que realiza um aborto ilícito por dinheiro, e após a prática do aborto fica constatado que a gravidez era de alto riso para a vida da gesta, sendo que o aborto era o único meio para salvar a vida da gestante – não há estado de necessidade). - Atenção: É perfeitamente admissível o “estado de necessidade recíproco”, isto é, quando duas ou mais pessoas estejam, simultaneamente, em estado de necessidade, umas contra as outras (ex: o barco está afundando, e “A” e “B” – que não sabiam nadar – começam a se agredir para disputar único colete de salva-vidas). 4. Legítima defesa: A legítima defesa é uma causa excludente da ilicitude que se verifica quando alguém, repele injusta agressão (atual ou iminente), a direito seu ou de outrem, usando moderadamente dos meios necessários (25, CP). 4.1. Requisitos da legítima defesa: 1º - Agressão injusta: A agressão deve ser proveniente de um ser humano e de natureza ilícita (contrária ao direito). - Atenção: Se o perigo advir da própria natureza ou de um animal, não há que se falar em legítima defesa, mas sim em estado de necessidade. Entretanto, se o animal tiver sido provocado por alguém para atacar outra pessoa, estará caracterizada a legítima defesa, já que o animal serviu como um “mero instrumento” (pelo agressor) para a prática do crime. 2º - Agressão atual ou iminente: Enquanto a agressão atual é a agressão presente (a que está ocorrendo), a agressão iminente é a agressão que está prestes a ocorrer. 3º - Agressão a direito próprio ou alheio: Age em legítima defesa não somente quem defende bem jurídico próprio, mas também quem defende (protege) bens jurídicos alheios. 4º - Uso moderado dos meios necessários: Os meios necessários são aqueles menos lesivos que o agente tem à sua disposição, sendo que o agente deve utilizar esses meios necessários de forma moderada repelir a injusta agressão, pois caso contrário o agente responderá pelo excesso (doloso ou culposo). - Atenção: Ao contrário do que ocorre no estado de necessidade, se o agente estiver em situação de legítima defesa, a lei não o obriga a fugir da injusta agressão (mesmo que haja essa possibilidade), visto que o direito não poder obrigar ninguém fugir, a ser covarde, medroso. 5º - Conhecimento da situação justificante: A doutrina acrescenta esse requisito de caráter subjetivo, visto que, o agente só pode atuar em legitima quando ele tem a conhecimento da existência da situação justificante e atua com a finalidade de se defender ou defender terceiro – (esse requisito vale para as demais excludentes da ilicitude). 4.2. Legitima defesa especial: O pacote anticrime acrescentou no parágrafo único do art. 25 uma modalidade especial da legítima defesa, que se verifica quando: 1º - “observados os requisitos previstos no caput deste artigo”, ou seja, o agente deve agir em obediência aos requisitos já inerentes a própria legítima defesa; 2º - “se há vítima mantida refém durante a prática de crimes”, ou seja, o agente de segurança pública, não só pode, mas deve repelir agressão ou risco de agressão (atuando dentro dos limites legais). 4.3. Espécies de legítima defesa: - Real: se verifica quando estão presentes todos os requisitos previstos no art. 25 do CP. - Putativa: se verifica quando não existe a situação de legítima defesa, mas ela é imaginada por erro do agente. - Subjetiva (excessiva): se verifica quando o agente acaba se excedendo nos limites da legítima defesa, por erro de tipo escusável (excesso acidental). - Sucessiva: se verifica quando alguém reage contra o excesso da legítima defesa (como o excesso representa uma agressão injusta, a reação do agredido se torna legítima). 4.4. Legítima defesa recíproca: Não é cabível a legítima defesa real contra legítima defesa real (legítima defesa recíproca), pois só existe a legítima defesa quando a agressão é injusta. - Atenção: Se a excludenteda ilicitude não for real, mas sim putativa, é perfeitamente possível a legítima defesa real contra qualquer excludente da ilicitude putativa. Além disso, é perfeitamente possível a legítima defesa putativa recíproca (quando dois ou mais agentes acreditam, erroneamente, que um irá praticar contra o outro uma agressão injusta, quando na verdade a agressão injusta não existe). 5. Estritro cumprimento do dever legal: O estrito cumprimento de dever legal é uma causa excludente da ilicitude que se verifica quando alguém pratica um fato típico, em razão de cumprir uma obrigação imposta por lei, ou seja, um dever legal (ex: policial que prende em flagrante). 6. Exercício regular de direito: O exercício regular de direito é uma causa excludente da ilicitude que se verifica quando alguém pratica um fato típico, em razão do exercício de um direito (ex: violência esportiva). DOUTRINA – Há doutrina que entende que os ofendículos (cerca elétrica; arame farpado; cacos de vidros sobre os muros) são uma forma de legítima defesa preordenada, pois tal proteção só irá funcionar no momento que ocorrer a injusta agressão. De outro lado, há doutrina que sustenta que os ofendículos são uma espécie de exercício regular de direito, pois qualquer pessoa tem o direto de se proteger sua propriedade. - Há ainda entendimentos de que os ofendículos são uma forma de legítima defesa preordenada na situação em que estiver ocorrendo a injusta agressão. De outro lado, ausente a injusta agressão, os ofendículos caracterizam o exercício regular de direito, pois qualquer pessoa tem o direto de proteger sua propriedade. 7. Excesso: Segundo o parágrafo único do art. 23, o excesso (doloso ou culposo), pode ocorrer em qualquer uma das excludentes da ilicitude estudadas acima, se verificando quando o agente desrespeita os limites legais dolosa ou culposamente. - Atenção: O excesso exculpante é aquele que resulta da profunda alteração de ânimo do agente, ou seja, do medo ou do susto provocado pela situação em que se encontra. Há entendimentos no sentido de que esse excesso pode funcionar como uma causa supralegal de exclusão da culpabilidade em razão da inexigibilidade de conduta diversa. 01. Quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, age em: a) legítima defesa. b) estrito cumprimento de dever legal. c) exercício regular de direito. d) estado de necessidade. e) obediência hierárquica. 02. Quanto ao estado de necessidade, é CORRETO afirmar: a) Há estado de necessidade, quando a pessoa atua diante de um perigo a que deu causa propositalmente. b) Em situação que não extrapole os limites legais do exercício de sua profissão, pode o bombeiro militar deixar de socorrer uma pessoa em perigo alegando estado de necessidade. c) Pode-se reconhecer o estado de necessidade se havia outro modo de evitar o perigo. d) Caracteriza-se o estado de necessidade mesmo diante de situação de perigo que não seja atual ou iminente. e) Um dos pressupostos do estado de necessidade é a demonstração da inevitabilidade do comportamento, ou seja, a demonstração de que não havia outra forma de atuar diante da situação de perigo. 03. Em relação a exclusão da ilicitude é CORRETO afirmar: a) Entende-se em estado de necessidade quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, somente a direito seu. b) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo futuro. c) Pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. d) Não há crime quando o agente pratica o fato em estado de necessidade. 04. Ângelo Asdrúbal, reconhecido mundialmente como notável lutador de boxe, já tendo sido campeão brasileiro e vice-campeão mundial na categoria de pesos médios ligeiros, em uma luta com Custódio na busca pela indicação para disputa do cinturão de campeão, obedecendo rigorosamente às regras do esporte lhe desfere diversos socos, os quais vêm a causar lesões gravíssimas em seu adversário (Custódio), ocasionando a morte. Analisando o caso proposto, pode-se afirmar que Ângelo: a) praticou lesões corporais culposas (culpa inconsciente). b) não será responsabilizado por ter agido em estrito cumprimento do dever legal. c) não será responsabilizado por ter agido em exercício regular de direito. d) praticou lesões corporais dolosas (dolo eventual). e) praticou lesões corporais de natureza grave, em razão dos ferimentos. 05. Determinado policial, ao cumprir um mandado de prisão, teve de usar a força física para conter o acusado. Após a concretização do ato, o policial continuou a ser fisicamente agressivo, mesmo não havendo a necessidade. Nessa situação hipotética, o policial: a) excedeu o estrito cumprimento do dever legal. b) abusou do exercício regular de direito. c) prevaleceu-se de condição excludente de ilicitude. d) agiu sob o estado de necessidade. e) manifestou conduta típica de legítima defesa. 06. Durante o cumprimento de um mandado de prisão a determinado indivíduo, este atirou em um investigador policial, o qual, revidando, atingiu fatalmente o agressor. Nessa situação hipotética, a conduta do investigador configura: a) legítima defesa própria. b) exercício regular de direito. c) estrito cumprimento do dever legal. d) homicídio doloso. e) homicídio culposo.
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