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FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA PROCESSUAL II

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FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA PROCESSUAL
Unidade II
3 DA JURISDIÇÃO
3.1 Poder jurisdicional
A jurisdição é um poder estatal através do qual o Estado vai estabelecer, à luz de um conflito, quem 
está certo, ou seja, quem tem o direito. 
A palavra “jurisdição” tem origem no latim jurisdictio, cujo significado, numa tradução livre, 
é “dizer o direito”. A partir disso definimos jurisdição como sendo o poder que o Estado tem de 
poder dizer o direito.
A jurisdição é uma função típica do Estado – e só a ele afeita. O monopólio da jurisdição é, assim, 
do Estado. Como bem explica Yarshell (2006, p. 136), “jurisdição é função e atividade típica do Estado 
que, invocando para si (ao menos como regra) o poder de pôr fim às controvérsias, reservou-se a 
função de declarar ou atuar coercitivamente a regra jurídica no caso concreto”. É sabido que, na 
organização do Estado moderno, trouxe para si, exclusivamente, a função de solucionar e pacificar os 
conflitos sociais. E fez isso por meio do Poder Jurisdicional, evitando, assim, a autotutela. A partir de 
então, passou ao Estado o monopólio da jurisdição. 
É da lição de Moacyr Amaral Santos (2009a, p. 67): 
É função do Estado, desde o momento em que, proibida a autotutela dos 
interesses individuais em conflito, por comprometedora da paz jurídica, se 
reconheceu que nenhum outro poder se encontra em melhores condições 
de dirimir os litígios do que o Estado, não só pela força de que dispõe, como 
por nele presumir-se interesses em assegurar a ordem jurídica estabelecida.
Através da atividade jurisdicional, aplicando a lei ao caso concreto que lhe é submetido por quem 
a provoca, tem o Estado a função de dizer que tem razão, afirmando quem tem o direito, solucionando 
e pondo fim ao conflito. Atua, destarte, em substituição à atuação das partes na solução do conflito. 
A jurisdição é exercida, em todo o território nacional, através de juízes e pelos tribunais, e possui 
as seguintes características:
• Investidura: o juiz, como regra, é alguém que se submeteu a um concurso público de provas 
e títulos e, aprovado, tomou posse do cargo, sendo, então, investido do poder jurisdicional. 
Só a partir de então estará apto a exercer a função judicante. Sem a investidura ninguém poderá 
exercer a atividade jurisdicional. 
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• Territorialidade: a jurisdição brasileira só poderá ser exercida no Brasil, como estabelece o 
art. 16 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015a). A jurisdição é exercida pelos juízes e pelos 
tribunais em todo o território nacional. Há, assim, uma aderência própria da função jurisdicional 
ao território nacional. Além disso, o magistrado, embora investido do poder jurisdicional, apenas 
poderá exercê-lo respeitando os limites da sua competência. 
• Indelegabilidade: exercendo o monopólio da jurisdição, a função jurisdicional é atribuição 
exclusiva do Poder Judiciário, e será exercida pelos juízes devidamente investidos no cargo, não 
podendo haver delegação dessa atividade a outras pessoas que não sejam juízes. 
• Inafastabilidade: previsto expressamente na CF, art. 5º, XXXV (BRASIL, 1988), a jurisdição não 
poderá ser afastada do cidadão por nada nem ninguém, bem como não poderá haver uma lei que 
impeça o acesso ao Poder Judiciário. 
• Inevitabilidade: por força da jurisdição, as partes se submetem ao estado-juiz e suas decisões, de 
sorte que, no processo, as partes devem sujeitar-se à ela, cuja autoridade impõe-se por si mesma, 
sendo, pois, inevitável. 
• Inércia: os órgãos do Poder Judiciário são, por sua própria natureza, inertes, o que significa 
que nenhum juiz ou tribunal poderá exercer e prestar a atividade jurisdicional, senão quando 
provocado pelo interessado (princípio dispositivo).
3.1.1 Jurisdição contenciosa e voluntária
A jurisdição civil divide-se em contenciosa e voluntária. 
Jurisdição contenciosa é a espécie de jurisdição que tem por objetivo solucionar lides. Ela pressupõe 
a existência de litígio entre duas ou mais pessoas que se qualifica por uma pretensão resistida e pela 
possibilidade de defesa contra ela. Como aduz Santos (2009a, p. 77):
O objeto da jurisdição contenciosa é a lide, que é o conflito de interesse 
qualificado por uma pretensão. Submetidas ficam à jurisdição ambas as 
partes em lide. Se é uma delas, o autor, que a provoca, será sempre lícito 
à outra, o réu, defender-se, quer para livrar-se dessa sujeição, como, 
principalmente, para contrariar a pretensão daquela. E aí se tem que a 
contestação do réu à pretensão do autor será em todos os casos possível. 
Conclui-se, assim, que a jurisdição contenciosa se caracteriza, ainda, pela 
possibilidade de contraditório. 
É o que ocorre, por exemplo, num caso em que há a colisão de dois automóveis em vias de circulação. 
Acontecendo o acidente, surge o conflito, nascendo para a vítima a pretensão de ser indenizada pelo 
prejuízo experimentado. Não se resolvendo o problema, tem-se a resistência que gera a lide. E, para a 
solução dessa lide, invoca-se a jurisdição, que é, por todas aquelas razões, contenciosa.
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Já a jurisdição voluntária gira em torno de interesses nos quais não há conflito, ou seja, quando a 
intervenção do Poder Judiciário se faz necessária em uma situação em que não há lide. Ela se assemelha, 
mais, a uma atividade administrativa realizada pelo Poder Judiciário. Como se costuma dizer, a jurisdição 
voluntária é a administração pública de interesses privados. Como explica Marcato (2017, p. 310):
Em suma, realiza-se a administração pública de interesses privados pela 
atuação do agente oficial em relação a atos jurídicos que poderiam ser 
praticados, em princípio, pelos próprios interessados, sem necessidade 
da intervenção estatal. E, sempre de acordo com posição doutrinária já 
consolidada, há três espécies de órgãos executores dessa administração 
pública de interesses particulares: os judiciais, por meio de juízes no 
exercício da denominada jurisdição voluntária (como se dá, por exemplo, 
com a separação consensual em juízo, a emancipação judicial, etc.), os do 
foro extrajudicial, que exercem atividade igualmente similar à da jurisdição 
voluntária (v.g, a separação consensual, por escritura pública, perante 
o notário) e os administrativos (arquivamento de contratos pela Junta 
Comercial, entre outros).
Imagine a situação em que uma pessoa falecida não deixa bens suscetíveis de inventário, apenas 
uma pequena quantia depositada no banco, tendo somente dois herdeiros, irmãos, maiores e capazes e 
que estão de acordo com a divisão do dinheiro entre eles. Embora não haja, entre eles, conflito ou lide, 
somente com autorização judicial conseguirão sacar o dinheiro do banco. Necessária, pois, a intervenção 
do Poder Judiciário, por meio da jurisdição voluntária, para conseguirem o objetivo almejado.
3.2 Função jurisdicional e tutela jurisdicional
Compreendido o que é jurisdição, é necessário se fazer a distinção entre função e tutela jurisdicional. 
A jurisdição é de ser compreendida como atividade estatal (função e poder do Estado). 
Na moderna concepção de Estado, com a tripartição dos poderes, ele exerce três funções distintas, 
a legislativa, a administrativa e a jurisdicional, que correspondem, respectivamente, aos três poderes, 
independentes e harmônicos entre si: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. 
Logo, a jurisdição é uma das funções soberanas do Estado, que consiste no poder de atuar 
objetivamente com o direito que o próprio Estado elaborou e, dessa forma, compor os conflitos de 
interesse. Como afirma Santos (2009a, p. 67):
É função do Estado desde o momento em que, proibida a autotutela dos 
interesses individuais em conflito, por comprometedora da paz jurídica, 
se reconheceu que nenhum outro poder se encontra em melhores 
condições de dirimir os litígios do que o Estado, não só pela força de 
que dispõe, como por nele presumir-se interesse em assegurar a ordem 
jurídica estabelecida.
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Se, na funçãolegislativa, o Estado atua formulando as leis de maneira genérica e abstrata, na função 
jurisdicional ela vai especializar as leis, aplicando-as nos casos concretos. 
Quando se fala em tutela jurisdicional, o que se tem em mente é a proteção que resulta do exercício 
da atividade jurisdicional. Quando o Estado exerce sua função jurisdicional, ele o faz com vista a proteger 
(tutelar) o direito material eventualmente ameaçado ou violado. Apoiado, ainda, na lição de Santos 
(2009a, p. 68), temos que
[...] a jurisdição se exerce em face de um conflito de interesses e por 
provocação de um dos interessados. É função provocada. Quem invoca o 
socorro jurisdicional do Estado manifesta uma pretensão contra ou em 
relação a alguém. Ao órgão jurisdicional assistem o direito e o dever de 
verificar e declarar, compondo assim a lide, se aquela pretensão é protegida 
pelo direito objetivo, bem como, no caso afirmativo, realizar as atividades 
necessárias à sua efetivação prática.
A tutela jurisdicional se perfaz por três espectros: decisão, execução e prevenção.
A decisão pressupõe a existência da lide. O juiz toma conhecimento do conflito ao ser provocado 
pela parte interessada, e sobre ele deverá aplicar a lei correspondente para dizer o direito decorrente: é 
a tutela jurisdicional de conhecimento. 
Quando o direito está reconhecido, mas o devedor não cumpre a obrigação, o Estado é chamado 
a transformar em realidade o que está reconhecido num título executivo: é a tutela jurisdicional 
de execução. 
E há situações que demandam urgência ou que não justificam a espera prolongada de um processo, 
e o Estado deverá dar uma resposta que neutralize ou minimize os efeitos da demora, por meio de 
providências antecipadas ou cautelares: são as tutelas jurisdicionais provisórias. 
 Saiba mais
Para entender mais sobre essa questão, recomendamos o seguinte livro:
YARSHELL, F. L. Tutela jurisdicional. 2. ed. São Paulo: DPJ Editora, 2006. 
3.3 Poderes afeitos à jurisdição
A jurisdição comporta três poderes distintos: decisão, coerção e documentação. 
• decisão: engloba o poder de conhecer, prover, recolher os elementos probantes e decidir a lide. 
Compreende tanto a decisão definitiva, de mérito, quanto as decisões terminativas, processuais.
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• coerção: poder que se manifesta principalmente na execução, mas pode ocorrer no processo de 
conhecimento e nas tutelas provisórias. 
• documentação: que é a representação por escrito dos atos processuais, para ficar registrado para 
a posteridade.
3.4 Limites internacionais da jurisdição
A jurisdição, enquanto poder estatal, está diretamente vinculada à soberania. A soberania é um dos 
pilares do Estado Democrático de Direito, constituindo um dos seus princípios fundamentais, no art. 1º 
da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
O Brasil, como país soberano, exerce seu poder jurisdicional em todo o território nacional, tal como 
escrito no art. 16 do Código de Processo Civil (BRASIL, 1995). Isso ocorre, também com outros países, 
igualmente soberanos. 
Daí se entender, então, que ao mesmo tempo em que o Brasil vai exercer seu poder jurisdicional em 
todo o território nacional, esse poder vai ser exercido apenas no território nacional. 
Esse é o limite da jurisdição, que no plano internacional vai ter duas dimensões: o juiz brasileiro não 
tem jurisdição fora do Brasil, assim como nenhum juiz estrangeiro terá jurisdição no território brasileiro.
A partir disso, a lei vai estabelecer a competência internacional, nos arts. 21 a 25 do Código de 
Processo Civil (BRASIL, 1995), como veremos a seguir.
3.4.1 Competência internacional concorrente
A competência internacional concorrente está disciplinada nos arts. 21 e 22 do CPC (BRASIL, 1995). 
Trata-se de fixar competência entre o juiz brasileiro e o juiz estrangeiro.
O art. 21 reconhece, nas hipóteses previstas nos seus três incisos, que a competência para julgar a 
causa será tanto do juiz brasileiro quanto do estrangeiro. São elas: 
• quando o réu for domiciliado no Brasil, qualquer que seja sua nacionalidade, caso em que 
o que determina a competência da autoridade judiciária brasileira é apenas o fator domicílio, 
conforme a LINDB, art. 12 (BRASIL, 1942), não importando onde o fato ocorreu nem a nacionalidade 
das partes, valendo anotar que o parágrafo único reconhece como sendo domiciliada no Brasil a 
pessoa jurídica que aqui tiver agência, filial ou sucursal; 
• quando a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil, no que independe o local onde a obrigação 
tenha sido contraída, conforme a LINDB, art. 12 (BRASIL, 1942); 
• quando o fundamento da demanda é ato ou fato ocorrido no Brasil, independentemente do 
domicílio ou da nacionalidade das partes, bastando o critério da localidade.
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O art. 22 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015a) contempla outras hipóteses de competência 
internacional concorrente. São quatro hipóteses: 
• ações de alimentos em que o credor tem domicílio no Brasil, em razão do foro privilegiado 
que a jurisdição brasileira concede ao alimentando (art. 53, II); 
• ações de alimentos em que o réu mantiver algum vínculo com o Brasil, como a posse ou 
propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
• ação decorrente de relação de consumo em que o autor (consumidor) é domiciliado no 
Brasil, em razão, também, do foro privilegiado que a lei confere ao consumidor (art. 101, I); 
• ação em que as partes se submetem à jurisdição nacional, como pode ocorrer na eleição de 
foro em contratos.
3.4.1.1 Competência internacional concorrente e litispendência
Litispendência é o fenômeno processual que surge quando se repete uma ação que já está 
em andamento. 
O principal efeito da litispendência é impedir o desenvolvimento da ação repetida, com a sua 
extinção, na forma do art. 485, V, do Código de Processo Civil. 
Porém, quando se trata de competência internacional concorrente, prevista nos arts. 21 e 22 do CPC, 
a existência de ação proposta perante tribunal estrangeiro não irá produzir o efeito da litispendência 
em relação à mesma ação proposta perante a autoridade judiciária brasileira, ou seja, ela não impedirá 
o conhecimento e julgamento da outra ação. 
A exceção fica por conta de hipóteses previstas em sentido contrário em tratados internacionais dos 
quais o Brasil seja signatário. 
A ação pendente ajuizada no Brasil não impede a homologação, pelo STJ, da sentença estrangeira 
proferida no processo repetido. Veja um exemplo:
DECISÃO SANEADORA. Ação declaratória de nulidade de negócio jurídico. 
Justiça brasileira que é a competente para conhecer da presente ação. 
Inteligência dos arts. 12 da LICC e 88 do CPC*. Ausência de litispendência 
internacional, conforme art. 90, do CPC*. Petição inicial apta, pois evidenciado 
o interesse de agir. Suspensão do feito e prescrição/decadência que ainda não 
foram decididas pelo Juízo. Injustificável antecipar-se ao pronunciamento 
do Juízo sobre os temas. Decisão mantida. Recurso desprovido, na parte 
conhecida (SÃO PAULO, 2011). 
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3.4.2 Competência internacional exclusiva
A competência exclusiva do juiz brasileiro está prevista no art. 23 do CPC. Isso significa que, nas 
situações listadas nos seus três incisos, apenas o juiz brasileiro terá competência para julgar, com 
exclusão de qualquer outro. 
Todas as hipóteses são referentes a bens imóveis situados no Brasil.
Nos casos em que há competência exclusiva, o Brasil não reconhecerá a sentença proferida por juiz 
estrangeiro (não sendo, por isso mesmo, possível de ser homologada pelo STJ). 
São casos de competência exclusiva: 
• ações que versem sobre imóveis situados no Brasil, aí incluídas as ações que envolvem direitos 
reais (Código Civil, art. 1225) e direitos pessoais sobre bens imóveis (Código Civil, arts. 79 a 81) 
(BRASIL, 2002), e as ações relativas a direitos reais sobre bens imóveis, no mesmo sentido na 
LINDB, art. 12, § 1º (BRASIL,1942): “Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das 
ações relativas a imóveis situados no Brasil”.
• ações que envolvem direito sucessório, tais como inventário e partilha e confirmação 
de testamento particular, de bens situados no Brasil, não dependendo da nacionalidade do 
falecido, do seu domicílio ou do local do óbito, conforme o art. 10, § 1º da LINDB (BRASIL, 1942): 
“A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício 
do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais 
favorável a lei pessoal do de cujus”. 
• ações de direito de família, como divórcio, separação judicial e dissolução de união estável, 
que envolvem partilha de bens situados no Brasil, independentemente da nacionalidade ou do 
domicílio do titular. 
Veja um exemplo:
[...] 4. Existindo conflito de leis no espaço, para a determinação da legislação 
aplicável é necessário, antes, estabelecer-se a competência no âmbito 
internacional. É o elemento de conexão estabelecido pelo Estado competente 
que, em regra, indicará a legislação substancial aplicável. 5. O ordenamento 
jurídico pátrio acolheu o domicílio como elemento de conexão principal. 
Assim, nos conflitos de leis no espaço, deve prevalecer, em regra, a lei de 
domicílio da pessoa, nos termos do art. 7º da Lei de Introdução ao Código Civil. 
6. A competência da jurisdição brasileira para conhecer do feito é determinada 
pelo art. 88, I, do Código de Processo Civil, tendo em vista que o réu possui 
domicílio no Brasil – competência internacional cumulativa ou concorrente. 
Também a autora aqui está domiciliada. Por seu lado, os bens objeto de partilha 
estão localizados no país – competência internacional exclusiva (BRASIL, 2007).
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Unidade II
3.4.3 Hipóteses de exclusão da jurisdição brasileira
No art. 25 do CPC (BRASIL, 2015a) encontramos hipóteses em que a jurisdição brasileira é excluída 
em favor da estrangeira, e diz respeito ao foro de eleição em contrato internacional que preveja foro 
exclusivo estrangeiro. 
Mas é preciso que isso seja alegado em contestação, não podendo o juiz conhecer da questão 
de ofício. 
A cláusula de foro de eleição em contratos internacionais segue as mesmas regras do contrato 
nacional, conforme disposto no art. 63 do CPC (BRASIL, 2015a), devendo observar o seguinte:
• deve constar de instrumento escrito; 
• obriga os herdeiros e sucessores dos contratantes, 
• pode ser considerada abusiva pelo juiz, de ofício, antes da citação e 
• o réu deve alegar a abusividade em contestação sob pena de preclusão.
Não se aplica essa regra do referido art. 25 nos casos de competência exclusiva do art. 23.
 Lembrete
Jurisdição é um poder do Estado, exercido, como atividade típica, pelo 
Poder Judiciário, no qual, quando provocado, vai dizer o direito à luz do caso 
concreto que lhe foi submetido. O Estado detém o monopólio da jurisdição.
4 COMPETÊNCIA
Embora a jurisdição seja um poder uno e indivisível, sua atribuição é distribuída e repartida entre os 
vários órgãos do Poder Judiciário, para que possa ser eficazmente exercido. 
A forma pela qual a jurisdição é distribuída denomina-se competência.
Competência é a medida da jurisdição; assim, é o quanto de jurisdição que cada órgão do Poder 
Judiciário tem, ou seja, é o limite de atuação de um dado órgão jurisdicional, conforme definido em lei. 
Tal limite é estabelecido para facilitar a distribuição e o acesso à justiça. Para Wagner Jr. (2008, 
p. 119), “[...] competência pode ser entendida como o critério de distribuir as atribuições relativas ao 
desempenho da jurisdição entre os vários órgãos judiciários”. Cada órgão só exerce a jurisdição na exata 
medida que a lei lhe atribui. 
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FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA PROCESSUAL
Ao delimitar a atuação de um determinado órgão jurisdicional, a lei retira dos demais essa 
competência, tornando-os incompetentes. A competência estabelece os limites em que cada um desses 
órgãos poderá atuar, racionalizando e otimizando a atuação estatal, sendo estabelecida pela lei, em face 
dos limites impostos pela Constituição Federal, nos arts. 102, 105, 108, 114, e pelas constituições dos 
Estados (art. 125, § 1º) (BRASIL, 1988). 
Como ensinam Cintra, Grinover e Dinamarco (2010, p. 251), 
[...] a função jurisdicional, que é uma só e atribuída abstratamente a todos 
os órgãos integrantes do Poder Judiciário, passa por um processo gradativo 
de concretização, até chegar-se à determinação do juiz competente para 
determinado processo; através das regras legais que atribuem a cada órgão 
o exercício da jurisdição com referência a dada categoria de causas (regras 
de competência), excluem-se os demais órgãos jurisdicionais para que só 
aquele deva exercê-la ali, em concreto.
Juiz competente é aquele que detém poderes de jurisdição sobre um dado processo. “Diz-se que um 
juiz é competente quando, no âmbito de suas atribuições, tem poderes jurisdicionais sobre determinada 
causa. Assim, a competência limita a jurisdição, é a delimitação da jurisdição” (SANTOS, 2009a, p. 206).
A competência será aferida no momento em que a ação é distribuída, na forma do art. 43 do Código 
de Processo Civil, de sorte que é a situação de fato existente no momento da distribuição do feito que 
vai estabelecer qual será o juízo competente para conhecê-la e julgá-la. 
Isso é conhecido como o fenômeno da perpetuação da jurisdição. 
E é por conta disso que qualquer modificação posterior do estado de fato ou de direito não afetará 
a competência fixada quando da distribuição, que ficará perpetuada, salvo se o órgão jurisdicional 
deixar de existir ou houver alteração no que se refere à competência absoluta.
 Observação
De acordo com a Súmula 58 do STJ (BRASIL, [s.d.]a), “Proposta a 
execução fiscal, a posterior mudança de domicílio do executado não 
desloca a competência já fixada”.
4.1 Classificação da competência
A competência classifica-se em absoluta e relativa.
Dentro dessa classificação, a competência será observada por critério objetivo (em razão da 
matéria, do valor ou da pessoa), territorial (em razão do lugar) ou funcional (em razão da própria 
atividade jurisdicional). 
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Unidade II
As regras de competência são delineadas para facilitar a prestação da jurisdição. A competência 
relativa existe para facilitar a vida do jurisdicionado, ao passo que a competência absoluta é criada 
para conveniência do Estado.
Competência absoluta
A competência definida em razão da matéria, da pessoa ou da função é sempre absoluta, não 
estando sujeita, portanto, à vontade das partes, motivo pelo qual dizer-se que é inderrogável por 
convenção destas: ela não está sujeita à disposição dos litigantes, conforme dispõe o art. 62 do Código 
de Processo Civil (BRASIL, 2015a), nem sujeita-se à prorrogação. 
Trata-se de matéria de ordem pública, que o juiz pode conhecer de ofício, a qualquer tempo e grau 
de jurisdição.
Leia a seguir o enunciado de algumas súmulas do STF, STJ e TST:
Súmula 235 do STF:
“É competente para a ação de acidente do trabalho a justiça cível comum, inclusive em 
segunda instância, ainda que seja parte autarquia seguradora” (BRASIL, 2017b). 
Súmula 501 do STF:
“Compete à justiça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, 
das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a união, suas autarquias, 
empresas públicas ou sociedades de economia mista” (BRASIL, 2017b).
Súmula 504 do STF:
“Compete à justiça federal, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento das 
causas fundadas em contrato de seguro marítimo” (BRASIL, 2017b). 
Súmula 508 do STF:
“Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em 
que for parte o Banco do Brasil S.A. (BRASIL, 2017b)”
Súmula 511 do STF:
“Compete à justiça federal, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas 
entre autarquias federais e entidades públicas locais, inclusive mandados de segurança, 
ressalvada a açãofiscal, nos termos da Constituição Federal de 1967, art. 119, § 3º” 
(BRASIL, 2017b).
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FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA PROCESSUAL
Súmula 556 do STF:
“É competente a Justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de 
economia mista” (BRASIL, 2017b). 
Súmula 736 do STF:
“Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o 
descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos 
trabalhadores” (BRASIL, 2017b).
Súmula vinculante 22 do STF:
“A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por 
danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado 
contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em 
primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04” (BRASIL, 2017c).
Súmula 34 do STJ:
“Compete a Justiça Estadual processar e julgar causa relativa a mensalidade escolar, 
cobrada por estabelecimento particular de ensino” (BRASIL, [s.d.]a).
Súmula 66 do STJ:
“Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal promovida por conselho de 
fiscalização profissional” (BRASIL, [s.d.]a). 
Súmula 82 do STJ:
“Compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os 
feitos relativos à movimentação do FGTS” (BRASIL, [s.d.]a).
Súmula 97 do STJ:
“Compete à Justiça do trabalho processar e julgar reclamação de servidor público 
relativamente a vantagens trabalhistas anteriores a instituição do regime jurídico único” 
(BRASIL, [s.d.]a).
Súmula 137 do STJ:
“Compete à Justiça comum estadual processar e julgar ação de servidor público 
municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário” (BRASIL, [s.d.]a).
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Unidade II
Súmula 363 do STJ:
“Compete à Justiça Estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por 
profissional liberal contra cliente” (BRASIL, [s.d.]a).
Súmula 368 do STJ:
“Compete à Justiça comum estadual processar e julgar os pedidos de retificação de 
dados cadastrais da Justiça Eleitoral” (BRASIL, [s.d.]a).
Súmula 300 do TST:
“Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ações ajuizadas por empregados em 
face de empregadores relativas ao cadastramento no Programa de Integração Social (PIS)” 
(BRASIL, [s.d.]b).
Súmula 392 do TST:
“Nos termos do art. 114, inciso VI, da Constituição da República, a Justiça do Trabalho 
é competente para processar e julgar ações de indenização por dano moral e material, 
decorrente da relação de trabalho, inclusive as oriundas de acidente de trabalho e doenças a 
ele equiparadas, ainda que propostas pelos dependentes ou sucessores do trabalhador 
falecido” (BRASIL, [s.d.]b).
 Saiba mais
Para entender melhor as súmulas do Superior Tribunal de Justiça em 
matéria de competência, o aluno poderá ler o livro de nossa autoria:
SALES, F. A. de V. B. de. Súmulas do STJ em matéria processual civil 
comentadas em face do novo Código de Processo Civil. São Paulo: Rumo 
Legal, 2017b.
Competência relativa
A competência definida em razão do valor e do território (lugar) é sempre relativa. 
A incompetência em razão do lugar deve ser alegada pelo réu na contestação, de sorte que o juiz 
não pode declará-la de ofício, estando sujeita à preclusão e à prorrogação, conforme o art. 65 
do CPC (BRASIL, 2015a).
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FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA PROCESSUAL
 Observação
Conforme a Súmula 33 do STJ (BRASIL, [s.d.]a), “A incompetência relativa 
não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz”.
 Lembrete
Jurisdição e competência não são sinônimos nem são a mesma coisa. 
Jurisdição é o poder estatal de solucionar os conflitos de interesse aplicando 
a lei ao caso concreto, dizendo o direito. É um poder uno e indivisível. 
Competência é o limite que cada órgão do Poder Judiciário tem para 
exercer a jurisdição.
 Resumo
Jurisdição é o poder do Estado de poder dizer o direito. O Estado 
detém o monopólio da jurisdição, sendo função típica do Poder Judiciário, 
sendo exercida, em todo o território nacional, pelos juízes, escorada nos 
princípios da investidura, territorialidade, indelegabilidade, inafastabilidade, 
inevitabilidade e inércia. 
A jurisdição divide-se em contenciosa e voluntária, sendo aquela 
caracterizada pela existência de lide, e esta, pela inexistência. 
Competência é o limite da jurisdição, ou seja, a quantidade de jurisdição 
que cada órgão do Poder Judiciário tem. A competência define o que cada 
um dos vários órgãos da jurisdição pode julgar, classificando-a em absoluta 
e relativa.
A competência absoluta, definida em razão da matéria, da função ou 
da pessoa, é inderrogável pela vontade das partes, não estando sujeita à 
preclusão, podendo ser conhecida em qualquer momento ou fase processual. 
A competência relativa, definida em razão do lugar e do valor, pode ser 
modificada pela vontade das partes e está sujeita à preclusão e prorrogação, 
devendo ser alegada eventual incompetência pelo réu na contestação. 
52
Unidade II
 Exercícios
Questão 1. André e Lucas colidiram com seus veículos em uma via expressa e se acusam mutuamente 
de culpa. O fato foi presenciado por um juiz de direito que passava pelo local e parou para verificar se 
era preciso prestar algum tipo de socorro. As partes então pediram ao juiz que formalizasse um processo 
judicial para que elas pudessem solucionar o problema, identificando o culpado pelo acidente e que 
teria o dever de indenizar a outra parte. O juiz então alegou que:
A) isso não era possível porque desrespeitaria o princípio da inércia, que significa que nenhum juiz ou 
tribunal pode iniciar uma demanda judicial, a contrário, só pode agir se for provocado para isso.
B) não poderia dar início ao processo porque se tratava de caso de jurisdição voluntária e não 
caberia ação judicial.
C) ingressaria com a demanda judicial e convocaria as partes para se conciliarem, porque esses casos 
são solucionados mais efetivamente por mediação ou conciliação.
D) atuava em vara criminal e por isso não poderia mover a ação judicial para reparação de danos materiais.
E) ingressaria com a demanda judicial e condenaria André, que na opinião dele era o causador do 
acidente e deveria responder por todos os danos decorrentes.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das alternativas
A) Alternativa correta.
Justificativa: os órgãos do Poder Judiciário são, por sua própria natureza, inertes, o que significa que 
nenhum juiz ou tribunal poderá exercer e prestar a atividade jurisdicional, senão quando provocado 
pelo interessado. Dessa forma, não cabe a nenhum juiz dar início a uma ação judicial, mesmo que tenha 
elementos concretos de que o fato ocorreu. O magistrado só pode ingressar com uma ação judicial 
quando se tratar do exercício de um direito e, nesse caso, a demanda será julgada por outro magistrado 
e não por ele mesmo.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: há um conflito entre as partes e, por isso, se trata de jurisdição contenciosa e 
não voluntária.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: o magistrado não pode dar início ao processo, deve aguardar que as partes o façam.
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FORMAÇÃO PARA A PRÁTICA PROCESSUAL
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: mesmo que atuasse em instância civil não poderia mover a ação em respeito ao 
princípio da inércia. 
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: o magistrado não pode dar início à demanda judicial em respeito ao princípio da 
inércia, salvo quando ele próprio é parte, e nesse caso a demanda será obrigatoriamente julgada por 
outro magistrado.
Questão 2. Competência jurisdicional é uma medida de jurisdição. 
I – É o quanto de jurisdição cada órgão do Poder Judiciário tem e é definida no momento da 
distribuição do feito.
E
II – Ao delimitar a atuação de um determinado órgão jurisdicional, a lei retira dos demais essa 
competência, tornando-os incompetentes.
Assinale a alternativa correta:
A) A afirmativa I está correta, somente.
B) A afirmativa II está correta, somente.
C) A afirmativa I está correta e complementaa afirmativa II.
D) A afirmativa II está correta e complemente a afirmativa I. 
E) As afirmativas I e II estão corretas.
Resposta correta: alternativa E.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: a afirmativa I está correta e independe da afirmativa II.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a afirmativa II está correta e independe da afirmativa I.

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