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[Digite aqui] i Autores Suzana Portuguez Viñas Roberto Aguilar Machado Santos Silva Santo Ângelo, RS-Brasil 2022 2 Supervisão editorial: Suzana Portuguez Viñas Projeto gráfico: Roberto Aguilar Machado Santos Silva Editoração: Suzana Portuguez Viñas Capa:. Roberto Aguilar Machado Santos Silva 1ª edição 3 Autores Suzana Portuguez Viñas Pedagoga, psicopedagoga, escritora, editora, agente literária suzana_vinas@yahoo.com.br Roberto Aguilar Machado Santos Silva Membro da Academia de Ciências de Nova York (EUA), escritor poeta, historiador Doutor em Medicina Veterinária robertoaguilarmss@gmail.com 4 Dedicatória ara todos os mestres, pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, papais e mamães. Suzana Portuguez Viñas Roberto Aguilar Machado Santos Silva P 5 Alecrim dourado lecrim, alecrim dourado Que nasceu no campo sem ser semeado Alecrim, alecrim dourado Que nasceu no campo sem ser semeado Foi meu amor que me disse assim Que a flor do campo é o alecrim Foi meu amor que me disse assim Que a flor do campo é o alecrim Marcos Patrizzi Luporini A 6 Apresentação er capaz de julgar se as palavras rimam é uma das primeiras formas de consciência fonológica que as crianças desenvolvem. Vocês já ouviram falar em Rimas de Berçário? Pois é, as canções ou rimas que a mamãe canta para os bebês ajudam às crianças a terem consciência fonológica e a alfabetização. Suzana Portuguez Viñas Roberto Aguilar Machado Santos Silva S 7 uma folha qualquer Eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas É fácil fazer um castelo Com o lápis em torno da mão E me dou uma luva E se faço chover Com dois riscos tenho um guarda-chuva Composição: Vinícius de Moraes / Toquinho / Guido Morra / Maurizio Fabrizio. N 8 Sumário Introdução.....................................................................................9 Capítulo 1 - O que são rimas e parlendas?..............................10 Capítulo 2 - Linguagem, língua e fala: qual a diferença?.......17 Capítulo 3 - Rima e leitura: uma revisão crítica......................20 Capítulo 4 - A importância das rimas de berçário na primeira infância........................................................................................30 Capítulo 5 - Percepção de rimas por bebês, em canções infantis e sua relação com o vocabulário................................38 Capítulo 6 - Bases Neurais do processamento fonológico e semântico....................................................................................49 Epílogo.........................................................................................54 Bibliografia consultada..............................................................55 9 Introdução percepção da rima é um importante preditor para a alfabetização futura. A relação entre habilidades musicais e linguísticas tem recebido atenção especial em bebês e crianças em idade escolar. No entanto, muito pouco se sabe sobre os pré-escolares. Assim, habilidades auditivas e motoras seletivas relacionadas à música provavelmente sustentam diferentes aspectos do desenvolvimento da linguagem e podem ser dissociadas em pré- escolares. Descobrimos também que a experiência musical informal em casa contribui para o desenvolvimento da gramática. Um efeito das habilidades musicais tanto na consciência fonológica quanto na gramática da linguagem é mediado pela experiência musical em casa. Esses achados abrem caminho para o desenvolvimento de atividades musicais específicas para pré-escolares para apoiar áreas específicas do desenvolvimento da linguagem. A 10 Capítulo 1 O que são rimas e parlendas? O que é rima? onforme Maria Luciana Kuchenbecker Araújo (Araújo, 2022ab), a associação entre os fonemas das palavras dos textos estruturados em versos, como poemas e músicas, define o que é rima. A rima é um recurso de estilo de linguagem bastante utilizado em textos dos gêneros discursivos estruturados em versos, como poemas e músicas. Esse recurso é utilizado com o objetivo de atribuir aos textos mais sonoridade, ritmo e musicalidade. De maneira geral, a rima é feita entre um verso e outro, designando a repetição de fonemas (sons) idênticos ou semelhantes, geralmente, na sílaba final das palavras. Assim, quando pensamos no que é rima, logo pensamos na associação entre os fonemas das palavras que podem ser consideradas como pares nos textos (Araújo, 2022ab). Conforme Araújo (2022ab), embora as rimas sejam um recurso estilístico de linguagem mais utilizado em textos estruturados em versos, há poemas e músicas que não apresentam rimas, C 11 caracterizando aquilo que chamamos de versos brancos ou versos soltos. Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993. Classificação das rimas Rimas pobres As rimas pobres ocorrem entre palavras de mesma classe gramatical: substantivo com substantivo, verbo com verbo etc. . coração, razão; . beleza, tristeza; . amando, cantando; . bondoso, carinhoso; . amar, pular, cantar. 12 Também são consideradas pobres as rimas das palavras finalizadas em sons corriqueiros, triviais: . Evidentemente, certamente, simplesmente. . amar, pular, cantar. Conforme Araújo (2022ab), as rimas pobres não devem ser desdenhadas ou desmerecidas pela adjetivação pejorativa que carregam no nome. Isso porque há muitas obras literárias construídas a partir desse recurso estilístico. Rimas ricas Conforme Maria Luciana Kuchenbecker Araújo (Araújo, 2022ab), são consideradas ricas as rimas entre palavras pertencentes a classes gramaticais diferentes. De maneira geral, essa diferença de classes causa experiências de leitura distintas da leitura dos textos com rimas pobres, surpreendendo pela novidade. . maravilhosa – babosa (adjetivo - substantivo). . idade – nade (substantivo - verbo). . dela – bela (pronome - adjetivo). . suba – Cuba (verbo - substantivo). . fostes – postes (verbo - substantivo). Leia alguns versos do poema “A um Poeta”, do poeta parnasiano Olavo Bilac, e observe os efeitos causados pelas rimas ricas (Araújo, 2022ab): 13 A um Poeta Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Rimas raras Segundo Maria Luciana Kuchenbecker Araújo (Araújo, 2022ab), a rima rara ocorre entre palavras que permitem poucas possibilidades de aproximação fonética (sonora). . Cisne – tisne. . Estirpe – extirpe. Argila (...) É tanta a glória que nos encaminha Em nosso amor de seleção, profundo, Que ouço ao longe o oráculo de Elêusis. 14 Se um dia eu fosse teu e fossesminha, O nosso amor conceberia um mundo E do teu ventre nasceriam deuses... LEONI, Raul de. Ode a um poeta morto. Florianópolis: EDUSC, 2002." Rimas preciosas As rimas preciosas são rimas artificiais que foram construídas a partir da combinação de palavras distintas no que se refere à classe e à aproximação fonética: . Calúnia - resume-a. . Tome-a – sonha. . Pântanos - quebranta-nos. . Ásia – alague-a. . Luxúria - ature-a. Conforme Araújo (2022ab), leia o poema de Augusto dos Anjos, “Monólogo de uma sombra”, e observe os efeitos de sentido causados pela rima preciosa, sobretudo entre a palavra apodrece e a letra [s]: → 15 Monólogo de uma sombra (...) Toma conta do corpo que apodrece... E até os membros da família engulham, Vendo as larvas malignas que se embrulham No cadáver malsão, fazendo um s. (...) ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. O que são Parlendas? Segundo Mariana Rigonatto (2022), parlendas são textos que possuem ritmo e são utilizados para ensinar ou brincar. As parlendas são textos que são recitados com ritmo, o que torna a compreensão e a memorização mais fácil para o leitor, tornando-as mais criativas e atrativas. O significado da palavra parlenda é “falar muito” e possui origem no latim, vindo do verbo parlare que significa “falar”. 16 Qual é a origem das Parlendas? As parlendas surgiram da sabedoria popular e da história das tradições populares do Brasil, e fazem parte do folclore brasileiro. Por isso, são trasmitidas ao longo das gerações. Características das Parlendas: - Presença de rimas - Presença de humor - Texto curto - Pode apresentar uma história incompleta (com início, mas sem meio e fim) - Possui versos e estrofes Exemplos de Parlendas 17 Capítulo 2 Linguagem, língua e fala: qual a diferença? egundo Flávia Neves (2022), professora de português, linguagem, língua e fala são três conceitos indissociáveis no processo comunicativo, porém individualmente diferenciáveis entre si. Linguagem A linguagem é um sistema de signos ou símbolos usados na transmissão de uma mensagem. É a capacidade de comunicação de ideias, pensamentos, opiniões, sentimentos, experiências, desejos, informações,… Existem dois tipos de linguagem: linguagem verbal, recorrendo a palavras como forma de comunicação, e linguagem não verbal, utilizando outros meios comunicativos, como gestos, sons, imagens,… Linguagem verbal • Palavras escritas. • Palavras faladas. S 18 Linguagem não verbal • Gestos. • Sinais. • Sons. • Cores. • Imagens; • Desenhos. • Expressões Faciais. Língua A língua é um conjunto de palavras organizadas por regras gramaticais específicas. É uma convenção que permite que a mensagem transmitida seja sempre compreensível para os indivíduos de um determinado grupo. Assim, tem um caráter social e cultural, sendo usada por uma comunidade específica: • Língua portuguesa; • Língua inglesa; • Língua francesa; • Língua alemã; • Língua chinesa; • Etc… Nota: A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma língua com estrutura gramatical própria e não uma linguagem, sendo 19 reconhecida, também, como língua oficial de sinais do Brasil desde 2002. Fala A fala é a forma pessoal de expressão de cada indivíduo, que possui uma organização própria de pensamentos, ideias, opiniões,… A fala segue as regras gramaticais da língua, mas deixa margem para a criatividade e diferenciação na comunicação em função de quem fala. É influenciada pelo contexto, vivências, personalidade e conhecimentos linguísticos do falante, apresentando diversos níveis, desde o mais informal ou coloquial, até o mais formal ou culto. Níveis da fala • Nível formal ou culto. • Nível informal, coloquial ou popular. • Nível regional. • Nível vulgar. • Nível técnico ou profissional. • Nível literário ou artístico. 20 Capítulo 3 Rima e leitura: uma revisão crítica egundo Bonnie M. Macmillan (2002), da Escola de Psicologia da Universidade de Birmingham (Reino Unido), Há um debate sobre se a consciência precoce da rima das crianças tem implicações importantes para o início da instrução de leitura. Bonnie Macmillan é uma psicóloga educacional que está convencida de que todas as crianças podem aprender a ler através de métodos baseados na ciência. Tendo sempre sentido que aprender a ler é uma experiência intelectualmente estimulante, ela queria muito ensinar seus próprios dois filhos a ler antes de começarem a escola. Mas como? Embora ela tenha conseguido ensiná-los a ler aos 3 e 4 anos, ela se sentiu decepcionada por seus primeiros estudos universitários e experiência de ensino não a terem equipado melhor para a tarefa. Desde então, ela passou mais de 30 anos trabalhando no campo da educação, ensinando crianças pequenas e realizando pesquisas experimentais sobre aprendizado e memória, desenvolvimento cerebral infantil, causas e curas da dislexia e diferenças sexuais na capacidade de leitura. Ela é PhD pela University of British Columbia, Canadá, onde aprendeu a avaliar e conduzir pesquisas científicas. Agora que ela descobriu que ensinar uma criança a ler não é tão difícil ou complicado como ela pensava, ela está ansiosa para ajudar outros pais e professores a experimentar a emoção do sucesso que ensinar uma criança a ler pode trazer. Ela morou, trabalhou e estudou em vários países e agora mora com o marido na zona rural da França. A aparente descoberta de que os pré-leitores são capazes de realizar tarefas de rima com muito mais facilidade do que tarefas S 21 de fonema levou alguns a propor que ensinar as crianças a ler chamando a atenção para unidades de rima dentro das palavras é “um caminho para os fonemas” (Goswami, 1999a). A rima e a analogia foram adotadas como parte integrante da Estratégia Nacional de Alfabetização (DfEE, 1998, Reino Unido), um movimento que parece ter sido influenciado por três grandes reivindicações de pesquisa: 1) a consciência da rima está relacionada à capacidade de leitura, 2) a rima a consciência afeta o desempenho da leitura e 3) a consciência da rima leva ao desenvolvimento da consciência do fonema. Um exame crítico das evidências da pesquisa experimental do ponto de vista metodológico, no entanto, mostra que nenhuma das três alegações é suficientemente apoiada. As implicações instrucionais são discutidas. Livro da Dra. Bonnie Macmillan, psicóloga educacional. 22 Em um artigo, Usha Goswami argumenta que o equilíbrio das evidências da pesquisa apóia a visão de que a rima está causalmente relacionada à leitura (Goswami, 1999a). Usha Claire Goswami (nascida em 21 de fevereiro de 1960) é pesquisadora e professora de Neurociência Cognitiva do Desenvolvimento na Universidade de Cambridge, membro do St. John's College, Cambridge, e diretora do Centro de Neurociência na Educação, Downing Site. Ela obteve seu Ph.D. em psicologia do desenvolvimento pela Universidade de Oxford antes de se tornar professor de psicologia cognitiva do desenvolvimento na University College London. O trabalho de Goswami é principalmente em neurociência educacional, com foco principal no desenvolvimento da leitura e na dislexia do desenvolvimento. Em outros lugares, ela e outros apontaram que um exame crítico da metodologia de pesquisa também é importante ao avaliar as evidências de pesquisa neste campo (Bryant, 1998; Bryant e Goswami, 1986; Goswami e Bryant, 1990; Goswami e East, 2000). Nesse sentido, a presente investigação busca avaliar a pesquisa de rima e leitura a partir deuma perspectiva metodológica, utilizando uma abordagem semelhante à adotada por Troia (1999), que avaliou estudos de treinamento em consciência fonológica. No entanto, a presente avaliação abrange mais de um tópico e difere do trabalho de Troia ao examinar não apenas estudos de treinamento, mas também pesquisas correlacionais. Vinte anos atrás, vários estudos foram fundamentais para despertar o interesse em saber se a sensibilidade precoce à rima 23 pode ou não estar relacionada à habilidade de leitura (Baron, 1977; Bradley e Bryant, 1978, 1983; Calfee et al, 1973; Cunningham, 1976) . Desde então, o interesse acelerou rapidamente. Há agora um corpo crescente de pesquisas experimentais sobre várias vertentes do tema da rima e da leitura, na medida em que os funcionários da educação e os editores estão cada vez mais tomando nota. No entanto, é importante que as conclusões extraídas da pesquisa neste campo sejam confiáveis e precisas, uma vez que têm o potencial de determinar diretamente a qualidade do ensino em sala de aula. Neste país, as implicações extraídas desta pesquisa já afetaram a prática em sala de aula. Agora em vigor, está um programa nacional de instrução de leitura precoce, a Estratégia Nacional de Alfabetização (1998). (em inglês National Literacy Strategy ou DfEE The National Literacy Strategy: framework for teaching. London: Department of Education and Employment), que se concentra no desenvolvimento de habilidades de rima e analogia. Três alegações de pesquisa frequentemente declaradas As três alegações de pesquisa discutidas neste artigo surgem principalmente da primeira das três “conexões causais” propostas por Goswami e Bryant (1990) em seu modelo de conexões causais de desenvolvimento da leitura. A primeira conexão causal proposta é aquela entre consciência de rima e leitura, uma parte do modelo que será discutida com algum detalhe mais adiante. 24 Mas primeiro, como se estabelece a causalidade, a base desse modelo? Schult (1999) estabelece uma série de critérios necessários para estabelecer a validade interna das conexões causais: 1) associação; 2) ordem de tempo; e 3) não espúrio. Dois outros critérios de validade externa que não são necessários, mas que podem fortalecer consideravelmente a confiança são 4) mecanismo e 5) contexto. Em primeiro lugar, uma vez que é necessário estabelecer uma associação entre duas variáveis, a principal questão explorada é: a consciência da rima e a capacidade de leitura estão relacionadas? O estabelecimento de uma associação pode ser realizado por meio de estudos correlacionais onde a rima e a capacidade de leitura são medidas concomitantemente. No entanto, uma forte correlação entre duas variáveis não fornece nenhuma informação sobre a direção da relação, sobre se a capacidade de leitura precoce está associada à consciência posterior da rima ou vice-versa. Assim, a ordem temporal pode ser estabelecida medindo a variação na variável independente (rima) em algum momento antes de medir a variação na variável dependente (leitura). Isso é realizado por meio de estudos correlacionais envolvendo medidas longitudinais, onde análises estatísticas podem estabelecer não apenas se existe uma relação preditiva, mas se ela ainda existe após a remoção da variância devido a outros fatores contribuintes. Os resultados de estudos de rima e leitura, onde o objetivo foi estabelecer associação e ordem temporal, deram origem à seguinte alegação de pesquisa. 25 Afirmação 1: a consciência da rima não está apenas relacionada, mas é preditiva da capacidade de leitura. Alega-se que as evidências da pesquisa de fato estabeleceram que a rima e a leitura estão associadas, e que a consciência da rima, medida primeiro, está relacionada à capacidade de leitura medida posteriormente (Goswami, 1995). Enquanto os dois primeiros critérios, associação e ordem de tempo, são suficientes para estabelecer que existe uma relação, eles não são suficientes para estabelecer que existe uma conexão causal. Assim, ao buscar a questão da causação, uma questão adicional explorada é: a consciência da rima determina a capacidade de leitura? Para responder a esse tipo de pergunta, é necessário demonstrar a não espúria. Isso significa que é necessário descartar a possibilidade de que a relação entre as duas variáveis (neste caso, rima e leitura), se encontrada, não se deva à variação de uma terceira variável (por exemplo, variação de inteligência, idade, fonema consciência ou conhecimento do alfabeto). Nesse caso, diferentemente dos estudos correlacionais, que são métodos não experimentais de coleta de dados, é necessário um experimento verdadeiro envolvendo três características principais (atribuição aleatória, manipulação de variáveis independentes do sujeito e controle de variáveis estranhas não sujeitos). Os resultados de estudos que tentam satisfazer este terceiro critério deram origem a uma segunda alegação. 26 Afirmação 2: a consciência da rima afeta ou determina a capacidade de leitura. Concluiu-se que as evidências da pesquisa apoiam a ideia de que a consciência da rima e o desempenho na leitura estão causalmente conectados (Goswami, 1999a; Maclean et al, 1987). Embora esses três critérios, associação, ordem temporal e não espúrio, sejam considerados suficientes para estabelecer a causalidade, a confiança é consideravelmente reforçada se dois outros critérios relativos à validade externa, mecanismo e contexto, forem atendidos. Em primeiro lugar, ajudaria a confirmar uma conexão causal entre rima e leitura se o mecanismo pelo qual a rima determina a capacidade de leitura pudesse ser explicado. Se as hipóteses que propõem um mecanismo ou um caminho de desenvolvimento (por exemplo, a consciência da rima leva à consciência do fonema, que por sua vez determina a capacidade de leitura) são testadas experimentalmente, é possível aumentar ainda mais a confiança de que a rima realmente determina a capacidade de leitura. Finalmente, experimentos que possam demonstrar sob quais condições (ou contexto) o mecanismo opera podem ajudar ainda mais a eliminar a incerteza. Embora o espaço permita uma discussão de contexto, o mecanismo é uma questão relacionada a uma terceira afirmação que foi feita. Afirmação 3: a consciência da rima leva à consciência do fonema. Alega-se que a sensibilidade à rima “leva a” (Bryant et al, 27 1990a; Goswami e Bryant, 1990) ou torna “mais fácil” desenvolver, uma consciência de fonemas (Goswami, 1999a). Em resumo, três afirmações feitas na literatura de pesquisa são: 1. a sensibilidade à rima está relacionada e também é preditiva da capacidade de leitura; 2. existe um nexo de causalidade entre rima e leitura; 3. A consciência da rima leva ao desenvolvimento da consciência dos fonemas. Escopo deste capítulo O objetivo desta investigação, baseada no estudo de Bonnie M. Macmillan (2002), é tentar determinar até que ponto cada uma das três afirmações é apoiada por evidências de pesquisa quantitativa. O que se segue é uma avaliação metodológica dos estudos de rima e leitura, que encontram suporte ou nenhum suporte para cada uma dessas afirmações. Consciência da rima A ‘consciência da rima’ é definida aqui como a capacidade de detectar o som da rima em palavras faladas ou gerar palavras que rimam com uma palavra falada; a consciência da rima ocorre, de acordo com essa definição, apenas na ausência de impressão. Em contraste, o uso do termo 'rima', referir-se-á aqui especificamente para imprimir, ao pedaço de ortografia em uma palavra monossilábica que corresponde à parte rimada ouvida na 28 fala (as letras 'at' compreendem a unidade de rima na palavra ' gato'). Assim, uma “estratégia de analogia de rima” se referirá a umaestratégia de leitura que envolve o uso do conhecimento de como pronunciar um determinado padrão de grafia de unidade de rima dentro de uma palavra para auxiliar na pronúncia de uma nova palavra que contém essa unidade de rima. O termo 'início' se referirá às letras iniciais do som em uma palavra (ou seja, /c/ na palavra 'gato',[ cat em inglês] /st/ na palavra 'parar' [stop em inglês]). O foco principal deste artigo é examinar estudos que estão preocupados com a consciência de rima, mas a evidência causal de estudos de treinamento de consciência de rima, necessária para fundamentar a Afirmação 2, é limitada. Embora a capacidade de ouvir rima em palavras faladas e a capacidade de usar uma estratégia de analogia de rima para ler palavras impressas envolvam habilidades muito diferentes e de acordo com algumas evidências não estão relacionadas (Duncan et al, 1997; 2000), outros citam evidências de suas pesquisas que as duas habilidades podem estar ligadas (Goswami, 1999a). No entanto, apesar do debate contínuo nesta área, as unidades de tempo e a analogia aparecem como elementos na instrução inicial de leitura. Assim, devido à escassez de estudos de treinamento de rima e a influência talvez prematura da rima na prática instrucional, decidiu-se incluir também a avaliação das evidências adicionais do estudo de treinamento de rima. Assim, para revisar até aqui, para estabelecer uma conexão causal entre rima e leitura é necessário demonstrar: associação, 29 ordem temporal e não espúria. A citação de estudos de Goswami em apoio à “disponibilidade precoce da rima e seus vínculos causais com a leitura” (1999). 30 Capítulo 4 A importância das rimas de berçário na primeira infância ma canção de ninar é um poema ou música tradicional para crianças na Grã-Bretanha e em muitos outros países, mas o uso do termo data apenas do final do século 18/início do século 19. O termo rimas de Mãe Ganso (Mother Goose rhymes) é intercambiável com rimas de berçário. A partir de meados do século XVI, as rimas infantis começam a ser gravadas em peças inglesas, e as rimas mais populares datam dos séculos XVII e XVIII. Mary Cooper em 1744. O enteado do editor John Newbery, Thomas Carnan, foi o primeiro a usar o termo Mother Goose para rimas infantis quando publicou uma compilação de rimas inglesas, Mother Goose's Melody, ou Sonnets for the Cradle (Londres, 1780). Canções de ninar As canções infantis mais antigas das quais temos registros são canções de ninar, destinadas a ajudar uma criança a adormecer. Canções de ninar podem ser encontradas em todas as culturas humanas. Acredita-se que o termo inglês lullaby venha de "lu, lu" U 31 ou "la la" sons feitos por mães ou enfermeiras para acalmar crianças, e "by by" ou "bye bye", outro som de embalar ou um termo para boa noite. Até a era moderna, as canções de ninar eram geralmente gravadas apenas incidentalmente em fontes escritas. A canção de ninar das enfermeiras romanas, "Lalla, Lalla, Lalla, aut dormi, aut lacta", é gravada em um scholium (scholium, uma nota marginal ou comentário explicativo feito por um comentarista) e pode ser a mais antiga a sobreviver. Muitos versos ingleses medievais associados ao nascimento de Jesus assumem a forma de uma canção de ninar, incluindo "Lullay, my like, my dere son, my sweting" (“Lullay, meu filho, meu amor”) e podem ser versões de canções de ninar contemporâneas. No entanto, a maioria dos usados hoje datam do século XVII. Por exemplo, uma canção de ninar bem conhecida como "Rock-a-bye, baby on a tree top" (“Durma bebê no topo de uma árvore”), não pode ser encontrada em registros até o final do século 18, quando foi impressa por John Newbery (1765). Um poema francês, semelhante a "Trinta dias tem setembro", numerando os dias do mês, foi registrado no século 13.[7] Do final da Idade Média há registros de pequenas canções infantis rimadas, muitas vezes como marginalia. A partir de meados do século XVI começam a ser gravadas em peças inglesas. "Pat-a- cake, pat-a-cake, padeiro's man" é uma das mais antigas canções de ninar inglesas sobreviventes. A primeira versão registrada da rima aparece na peça de Thomas d'Urfey, The Campaigners, de 1698. A maioria das rimas infantis não foi escrita até o século 18, 32 quando a publicação de livros infantis começou a passar da polêmica e da educação para o entretenimento, mas há evidência de muitas rimas existentes antes disso, incluindo "To market, to market" e "Cock a doodle doo", que datam pelo menos do final do século XVI. As rimas de berçário com origens do século XVII incluem "Jack Sprat" (1639), "The Grand Old Duke of York" (1642), "Lavender's Blue" (1672) e "Rain Rain Go Away" (1687) Cantigas de ninar e educação Tem sido argumentado que as rimas de berçário definidas para ajudar a música no desenvolvimento de uma criança. A pesquisa também apóia a afirmação de que a música e a rima aumentam a capacidade de raciocínio espacial da criança, o que ajuda nas habilidades matemáticas. Em apenas algumas semanas, milhares de educadores da primeira infância em todo o mundo participarão da 14 a 18 de novembro de 2022 Semana Mundial da Rima Infantil (World Nursery Rhyme Week uma iniciativa global lançada em 2013 que promove a importância das canções de ninar no desenvolvimento da primeira infância. Mas por que as canções de ninar são tão importantes na primeira infância e o que os educadores da primeira infância podem fazer para garantir que as canções de ninar tradicionais nunca sejam esquecidas? 33 Especialistas em alfabetização e desenvolvimento infantil descobriram que, se as crianças sabem de cor oito versos infantis aos quatro anos de idade, geralmente estão entre os melhores leitores aos oito anos. Desenvolvimento de comunicação e linguagem As rimas são fantásticos reforços de vocabulário. Eles geralmente apresentam um padrão rítmico agradável e frases repetitivas simples que bebês e crianças pequenas acham fáceis de lembrar e repetir. Para desenvolver sua consciência fonológica, as crianças precisam ser expostas repetidamente à linguagem falada e as rimas são a maneira perfeita de fazer isso. Desenvolvimento físico 34 A oportunidade de “encenar” uma rima favorita será uma atividade bem-vinda para mentes ativas e corpos inquietos. A participação física em canções de ação incentiva as crianças a desenvolver suas habilidades de controle motor fino e grosso, bem como equilíbrio, coordenação e as habilidades necessárias para seguir instruções simples. Aritmética Contar músicas ajuda a desenvolver uma familiaridade com sons e palavras numéricas de uma maneira divertida e interessante para uma criança pequena. Músicas como “When Goldilocks Went To The House Of The Bears” também introduzem o conceito de escala, tamanho e ordem. A familiaridade com a contagem de músicas fornece a base para habilidades e consciência de numeramento cruciais. Entendendo o mundo As crianças encontram muitas rimas infantis muito relacionadas às suas próprias experiências cotidianas e vão gostar de compartilhar esses momentos com seu cuidador ou profissional, como uma ida ao parque com o papai para alimentar os patos cantando Cinco Patinhos foram Passear (Five Little Ducks) ou compartilhar um livro de imagens com um avô sobre barcos. Os profissionais podem incentivar conversas com as crianças sob 35 seus cuidados, ajudando a fortalecer o vínculo entre o ambiente e o lar. Criatividade O ato de cantar uma rima ou de se envolver fisicamente com ela, incentiva as crianças a se expressarem de forma criativa e a encontrarem sua própria “voz” pessoal. As oportunidadesde dramatização apresentam-se com diferentes personagens e eventos dentro da rima que as crianças podem responder individualmente ou em grupo. Oportunidades de brincadeiras abertas também são possíveis com tintas, argila, areia molhada ou peças soltas. Cinco maneiras fáceis de introduzir rimas em seu ambiente As rimas podem ser cantadas ou cantadas a qualquer hora do dia. Eles são curtos e rápidos, tornando-os fáceis de encaixar na rotina diária. Aqui estão 5 maneiras fáceis de introduzir canções de ninar em seu ambiente 1. Escolha uma rima simples e use-a para acompanhar uma de suas rotinas diárias, como um passeio ao parque infantil ou uma atividade de artesanato. 36 2. Apresente 'Rhyme Of The Week' e faça questão de cantar a rima 2 ou 3 vezes por dia. A maioria das rimas infantis não leva mais de 1 ou 2 minutos para cantar, então essa é uma maneira fácil de criar muitas repetições. 3. Compartilhe livros ilustrados de rimas com seus filhos e incentive-os a falar sobre os personagens e os eventos que se desenrolam dentro da rima. 4. Monte um 'saco de rimas' para as crianças explorarem e preenchê-lo com objetos relacionados à rima, como fantoches, cortadores de biscoito (Cinco pães de groselha), personagens do mundo pequeno, um bule de brinquedo e xícara e pires (Polly Put The Kettle On, I'm A Little Teapot) ou patos de borracha (Five Little Ducks). 5. Crie um Flash Card com letras de várias canções de ninar diferentes e incentive os membros da equipe em seu ambiente a aprender as rimas e procurar maneiras de apresentá-las em vários momentos do dia. A tecnologia moderna significa que as crianças estão agora expostas a mais músicas do que nunca, como músicas pop, músicas temáticas e jingles publicitários. No entanto, as crianças pequenas têm a capacidade de aprender e reter um enorme repertório de canções e melodias, deixando muito espaço e oportunidade para canções de ninar tradicionais. 37 A Semana Mundial da Rima Infantil acontece todos os anos em novembro. Lançado pela Music Bugs em 2013, todos os recursos para download da iniciativa são gratuitos. Desde o seu lançamento, mais de 3 milhões de crianças participaram. Para se registrar e baixar os recursos gratuitos, visite: www.worldnurseryrhymeweek.com 38 Capítulo 5 Percepção de rimas por bebês, em canções infantis e sua relação com o vocabulário e acordo com Laura E. Hahn, Titia Benders, Paula Fikkert e Tineke M. Snijders (2021), do Centro de Estudos da Linguagem (Center for Language Studies, Radboud University Nijmegen, Nijmegen, Holanda), a percepção da rima é um importante preditor para a alfabetização futura. Avaliar as habilidades de rima, no entanto, geralmente exige que as crianças façam julgamentos explícitos de rima em palavras isoladas. Aqui eles exploraram se os bebês já processam rimas implicitamente em contextos de rimas naturais (canções infantis) e se essa resposta se correlaciona com o tamanho do vocabulário posterior. Em um estudo de escuta passiva de ERP, bebês holandeses de 10,5 meses de idade foram expostos a músicas infantis rimadas e não rimadas. Dois tipos de efeitos de rima foram analisados: (1) ERPs eliciados pela primeira rima que ocorre em cada música (sensibilidade à rima) e (2) ERPs elicitados por rimas repetidas após a primeira rima em cada música (repetição de rima). D 39 ERP: um potencial relacionado a eventos (ERP, do inglês Event-Related Potential i) é a resposta cerebral medida que é o resultado direto de um evento sensorial, cognitivo ou motor específico. Mais formalmente, é qualquer resposta eletrofisiológica estereotipada a um estímulo. O estudo do cérebro dessa maneira fornece um meio não invasivo de avaliar o funcionamento do cérebro. Apenas para este último foi encontrada uma tentativa de negatividade para rimas de 0 a 200 ms após o início da palavra rima. Esse efeito de repetição de rima correlacionou-se com o vocabulário produtivo aos 18 meses, mas não com qualquer outra medida de vocabulário (percepção aos 10,5 ou 18 meses). Enquanto aguarda replicação futura, o estudo aponta precursores da consciência fonológica já na infância e com estímulos linguísticos ecologicamente válidos. Ser capaz de julgar se as palavras rimam é uma das primeiras formas de consciência fonológica que as crianças desenvolvem. A consciência de rima reflete a capacidade metalinguística das crianças de separar o fonema inicial de uma sílaba do resto e é geralmente avaliada com uma tarefa de julgamento de rima, na qual as crianças decidem se um conjunto de palavras rima (por exemplo, rei/anel, do inglês king/ring) ou não (por exemplo, rei /pera, do inglês king/pear). Medido a partir dos 4 anos de idade (Bryant e Bradley, 1978; Bradley e Bryant, 1983), a consciência da rima, entre outras medidas de consciência fonológica, serve como um preditor padrão para a alfabetização futura (Wood e Terrell, 1998; Melby-Lervåg et al. ., 2012). 40 As rimas já desempenham um papel no desenvolvimento do léxico de crianças muito mais novas. Muitas palavras frequentes na entrada de crianças rimam (por exemplo, hit, bit, pit) (De Cara e Goswami, 2002), presumivelmente resultando nas primeiras palavras em léxicos infantis para também rimar, em vez de compartilhar fonemas no início da palavra (por exemplo, pin/bin vs pin/pit, respectivamente) (Zamuner, 2009). Tem sido sugerido que a necessidade de diferenciar e reconhecer tais palavras de som semelhante faz com que as representações lexicais inicialmente holísticas das crianças sejam reestruturadas em especificações de nível segmentar (Metsala e Walley, 1998; Fikkert e Levelt, 2008). Consequentemente, um léxico crescente pode levar a um aumento na consciência fonológica (Metsala e Walley, 1998; Carroll et al., 2003) e essa relação é provavelmente recíproca: o desenvolvimento da sensibilidade fonológica dos bebês também permite um maior crescimento no número de representações lexicais (Curtin e Zamuner, 2014). De fato, existe uma associação bem estabelecida entre a consciência fonológica pré-escolar e o tamanho do vocabulário (por exemplo, Lonigan et al., 2000; Stadler et al., 2007), onde a consciência fonológica é avaliada principalmente com tarefas de julgamento de rima explícita e tem tem sido atribuída à necessidade de diferenciar palavras com sobreposição em léxicos crescentes (Metsala e Walley, 1998; De Cara e Goswami, 2002, 2003). Apesar das evidências sobre o papel das palavras que rimam nos léxicos dos bebês, estudos anteriores foram ambíguos sobre a capacidade dos bebês de reconhecer rimas. Isso se deve 41 principalmente a diferenças nos procedimentos e estímulos do teste: enquanto os bebês respondem a uma mudança de um padrão de rima de uma única palavra para outro no procedimento de virada de cabeça condicionada (Hayes et al., 2000, 2009), crianças de 9 meses podem apresentar apenas diferenciação espontânea entre músicas infantis rimadas e não rimadas (Hahn et al., 2018), mas não entre listas de palavras rimadas e não rimadas (Jusczyk et al., 1999). A evidência provisória em favor da detecção de rima infantil em Hayes et al. (2000, 2009) e Hahn et al. (2018), sugere que a detecção de rima dos bebês pode ser sutil. Um paradigma implícito, como o EEG de escuta passiva, pode, portanto, ser mais sensível às habilidades de rima emergentes dos bebês (Kooijman et al., 2008). Cérebros de bebês sintonizados com conversas de bebês e canções de ninar Segundo Pallab Ghosh (2016), pesquisadores de Cambridge acreditam que os bebês aprendem melhor quando suas ondas cerebrais estão sincronizadas com as de seus pais. O estudo também mostrou que os bebês estão sintonizados coma conversa do bebê e as canções de ninar. A pesquisa indica que os bebês precisam se sentir seguros, protegidos e amados para que as conexões cerebrais sejam 42 formadas adequadamente para permitir que aprendam de maneira eficaz. As descobertas estão surgindo de um projeto de escaneamento do cérebro de bebês na Universidade de Cambridge. Para um recém-nascido, o mundo é um turbilhão de imagens e sons, uma sobrecarga de informações. Mas então o mundo gradualmente entra em foco. Os bebês logo aprendem a reconhecer rostos e vozes e, nos próximos meses, aprendem a se mover, entender a linguagem e dar sentido ao que está ao seu redor. Este é um momento crucial em todas as nossas vidas, quando importantes conexões estão sendo formadas no cérebro. Para saber exatamente como isso acontece, pesquisadores de um laboratório de bebês em Cambridge estão escaneando os cérebros de bebês e suas mães enquanto os dois estão interagindo em atividades de aprendizado. 43 As primeiras indicações são de que, quando as ondas cerebrais de mães e bebês estão fora de sincronia, os bebês aprendem menos. Mas quando os dois conjuntos de ondas cerebrais estão em sintonia, eles parecem aprender de forma mais eficaz. A Dra. Victoria Leong, que está liderando a pesquisa, descobriu que os bebês aprendem bem quando suas mães falam com eles em uma voz suave e cantante, que ela chama de "manhês". A pesquisa da Dra. Leong mostra que as canções de ninar são uma maneira particularmente boa para as mães em seu estudo entrarem em sincronia com seus bebês. "Embora pareça estranho para nós, os bebês realmente adoram ouvir manhês ainda mais do que a fala dos adultos. Prende melhor sua atenção e a fala soa mais clara para eles. Então, sabemos que quanto mais manhês o bebê ouvir, melhor será o desenvolvimento da linguagem." ela disse. "Manhês" é uma forma de comunicação que se caracteriza pelo investimento afetivo e costura os laços entre a mãe e o bebê, ao mesmo tempo em que vai se direcionando no sentido de facilitar sua separação. Leong diz que o mesmo é, sem dúvida, verdade se os bebês ouvirem conversas de bebês e rimas de ninar de pais, avós e outros cuidadores, mas seus experimentos até agora se concentraram na interação entre mães e seus bebês. 44 "O cérebro do bebê está pronto para responder ao manhês, e é por isso que é um veículo tão eficaz para ensinar os bebês sobre novas informações", diz ela. A equipe do Dra. Leong também descobriu que os bebês respondem melhor quando há contato visual prolongado. Mães que cantavam canções de ninar olhando diretamente para seus bebês mantinham sua atenção significativamente melhor do que aquelas que olhavam para longe, mesmo ocasionalmente. Os bebês aprendem fazendo e fortalecendo conexões entre diferentes partes de seus cérebros Então, os pais ocupados e multitarefas devem se preocupar se ocasionalmente olharem para seus telefones enquanto cuidam de seus bebês? "Não, de jeito nenhum", diz a Dra. Leong. "Em geral, a maioria dos pais faz um trabalho maravilhoso com a paternidade. O desenvolvimento do cérebro só é afetado em casos extremos de negligência ou falta de atenção." As descobertas da Dra. Leong, de que os bebês respondem bem a boas interações e conversas cara a cara, estão bem estabelecidas em estudos comportamentais. Mas o que é novo é que sua equipe está tentando aprender o que acontece dentro do cérebro quando os bebês estão recebendo atenção de qualidade. "Meu trabalho é entender os fundamentos neurológicos desses efeitos", disse ela. "Como é que o cérebro do bebê trata as interações sociais com sua mãe e como isso está ajudando no aprendizado?" 45 Os bebês aprendem fazendo conexões físicas em seus cérebros quando aprendem algo novo. O cérebro humano leva anos para se desenvolver porque temos muito a aprender. Os bebês exploram diferentes maneiras de entender o mundo principalmente por meio de brincadeiras, até que de repente fazem um avanço e é então que uma conexão é formada e fortalecida em seu cérebro. Mas, de acordo com a Dra Kirstie Whitaker, pesquisadora do cérebro no departamento de psiquiatria da Universidade de Cambridge, às vezes isso pode acontecer muito rapidamente. "Se os bebês experimentam estresse no início da vida, seus cérebros se desenvolvem um pouco rápido demais e, em vez de descobrir as melhores conexões que devem fazer, eles optam por aquelas que são boas o suficiente. “E, portanto, uma das razões pelas quais eu recomendaria um ambiente de apoio e carinho é permitir que as crianças explorem e permaneçam nesse desenvolvimento cerebral particularmente curioso e flexível pelo maior tempo possível”. E então, a pesquisa está sugerindo que o amor ajuda a formar as conexões físicas necessárias para o desenvolvimento do cérebro? "Os comportamentos que o amor produz são bons para aprender", diz a Dra. Leong. "Atrair um ao outro em uma conversa, dar atenção um ao outro e estar juntos no momento são bons para o aprendizado." Os resultados de Hahn et al. (2018) sugerem que os bebês são capazes de reconhecer rimas recorrentes em seu contexto linguístico natural. Os cuidadores rimam e cantam para seus 46 bebês diariamente (Ilari, 2005) e tem sido sugerido que o jogo musical e de linguagem em casa contribui para o crescimento do vocabulário (Franco et al., 2021) e alfabetização emergente (Politimou et al., 2019; Krijnen et al., 2020). Especificamente, a experiência das crianças com rimas infantis foi associada a várias habilidades fonológicas em vários estudos (Bryant e Bradley, 1978; Bradley e Bryant, 1983; Dunst et al., 2011) e o canto do cuidador durante a infância influencia positivamente o tamanho do vocabulário posterior (Franco e outros, 2021). Potencialmente, a forma acústica das músicas cria um impulso perceptivo para bebês, devido às rimas nas músicas serem colocadas em uma posição final de frase saliente e em um contexto rítmico previsível (Kotz e Schwartze, 2010). No presente estudo, empregamos um paradigma de EEG de escuta passiva para responder às seguintes questões de pesquisa: (1) Os bebês processam músicas rimadas de maneira diferente das músicas não rimadas? e (2) A capacidade de detectar rimas recorrentes em músicas está relacionada ao vocabulário posterior? A literatura de ERP sobre processamento de rima contém uma gama de efeitos, incluindo o clássico efeito de rima N450, uma negatividade para não-rima em eletrodos posteriores eliciados durante tarefas de julgamento de rima explícita (Rugg, 1984a,b). Não há consenso se crianças pré-alfabetizadas já apresentam esse efeito (Wagensveld et al., 2013; Andersson et al., 2018), mas um estudo que observou o N450 nessa tenra idade constatou que ele se correlacionou com a consciência fonológica (Andersson et al. ., 2018). Uma negatividade anterior para pseudopalavras 47 rimadas foi relatada para crianças de 4 anos na ausência de uma tarefa de rima (Andersson et al., 2018), sugerindo que a negatividade anterior reflete o processamento automático de rima implícito. Observe, no entanto, que pré-escolares que executam julgamentos de rima também apresentaram uma negatividade anterior precoce, que diminuiu em amplitude com o aumento do conhecimento das letras (Wagensveld et al., 2013). No presente estudo, espera-se uma negatividade precoce para as rimas, provavelmente nos locais dos eletrodos anteriores, pois os bebês não estarão executando uma tarefa e ainda têm consciência fonológica limitada. A tradição de pesquisa infantil (EEG) ainda não avaliou as habilidades de rima dos bebês, mas lançou as bases fornecendo evidências da capacidade dos bebês de detectar fonemas e palavras repetidos na fala e associando essa detecção ao tamanho do vocabulário.Especificamente, o efeito de familiaridade da palavra ERP geralmente ocorre entre 200 e 500 ms após o início da palavra como uma negatividade anterior esquerda para a palavra familiar, que se torna mais negativa a cada repetição. O efeito ocorre em resposta a várias repetições (por exemplo, Kooijman et al., 2005), mas também após uma única repetição da mesma palavra na fala contínua, e é influenciado por características do estímulo e dificuldade da tarefa (Snijders et al., 2020). Por exemplo, Snijders et al. (2020) observaram um efeito positivo de familiaridade de palavras para palavras que ocorrem em músicas infantis. O efeito de familiaridade de palavras foi estabelecido como um reflexo da 48 capacidade dos bebês de reconhecer palavras repetidas na fala. Diferenças individuais na polaridade do efeito de familiaridade de palavras do ERP estão associadas ao tamanho do vocabulário: bebês com efeitos de familiaridade de palavras mais negativos tendem a ter vocabulários maiores . De acordo com Laura E. Hahn e colaboradores (2011), a consciência fonológica explícita durante os anos pré-escolares é um importante preditor para a alfabetização. Potencialmente, a percepção de rimas dos bebês durante o jogo informal de linguagem contribui para o surgimento de habilidades e vocabulário de consciência fonológica. Estudos anteriores eram ambíguos em relação às habilidades de rima dos bebês, presumivelmente devido a paradigmas comportamentais que ocultam as habilidades de processamento sutis dos bebês. O estudo atual empregou um paradigma de EEG de escuta passiva com bebês holandeses de 10,5 meses de idade para explorar se os bebês diferenciam pseudopalavras rimadas de não rimadas em músicas infantis na ausência de uma tarefa comportamental explícita. A evidência atual de consciência fonológica na infância pode, assim, refletir a origem de um preditor chave de desempenho em leitura. 49 Capítulo 6 Bases Neurais do processamento fonológico e semântico e acordo com Avantika Mathur, Douglas Schultz e Yingying Wang (2020), do Laboratório de Neuroimagem para a Linguagem, Alfabetização e Aprendizagem do Departamento de Educação Especial e Distúrbios da Comunicação, Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA) (Neuroimaging for Language, Literacy and Learning Lab, Department of Special Education and Communication Disorders, University of Nebraska-Lincoln), durante o período inicial do desenvolvimento da leitura, as crianças ganham conhecimento fonológico (mapeamento letra-som) e semântico (armazenamento e recuperação do significado das palavras). Sua capacidade de leitura muda rapidamente, acompanhada pela plasticidade cerebral induzida pelo aprendizado à medida que aprendem a ler. Na sociedade de hoje, aprender a ler quando criança é o primeiro passo para o desenvolvimento de altas habilidades de alfabetização. Ensinar uma criança a ler começa no nascimento com o reforço das habilidades de pré-alfabetização, e a maioria das crianças aprende oficialmente a ler entre as idades de 5 e 7 anos. Duas abordagens comuns para ensinar a ler são os D 50 métodos de leitura por sondagem e leitura de palavras à vista. A abordagem de sondagem pede às crianças que leiam em voz alta e pronunciem cada letra ou grupo de letras para reconhecer as palavras pelos seus sons, o que ajuda as crianças a construir o conhecimento letra-som. Enquanto isso, a abordagem de palavras à vista exige que as crianças memorizem palavras à vista ou vocabulário comum, o que permite que as crianças construam seu dicionário lexical interno. Assim, a leitura de palavras pode ser realizada por meio de processamento grafo-fonológico e processamento léxico-semântico. As bases neurais desses dois processos foram estudadas principalmente em crianças mais velhas e adultos, mas não em crianças pequenas (5-7 anos de idade). Compreender as bases neurais da leitura precoce é fundamental não apenas para fornecer evidências sobre modelos teóricos de desenvolvimento da leitura, mas também para construir uma linha de base de controle a ser usada para examinar como as crianças com dificuldades de leitura diferem. Os dois modelos teóricos dominantes de leitura são o Modelo Rota Dupla em Cascata (DRC, do inglês Dual-Route Cascade) (Coltheart et al., 2001) e o modelo conexionista de processamento distribuído paralelo (PDP) (Harm e Seidenberg, 2004). Modelo Rota Dupla em Cascata (DRC, do inglês Dual-Route Cascade) 51 O modelo DRC sugere duas rotas distintas para a leitura de palavras, incluindo a rota grafofonológica transformando palavras visuais em suas representações sonoras (rota indireta) e a rota léxico-semântica transformando palavras visuais em seus significados (rota direta). De acordo com o modelo DRC, leitores adultos habilidosos identificam palavras familiares e palavras com pronúncias irregulares, como “pint” por processamento léxico- semântico (através da rota direta) e pronunciam palavras e pseudopalavras recém-encontradas por mapeamento grafema- fonema baseado em regras (via indireta). Modelo Conexionista De Processamento Distribuído Paralelo (PDP, do inglês Parallel-Distributed- Processing) Em contraste, o modelo PDP postula um único mecanismo que gera a pronúncia de todas as palavras. O modelo PDP sugere que as pronúncias das palavras são aprendidas por meio de treinamento repetido com um corpus de entradas escritas e faladas. Diferentes vias neurais foram identificadas para apoiar o modelo de leitura DRC (Friederici e Gierhan, 2013; Hickok e Poeppel, 2007; Price, 2012). Uma metanálise sistemática do modelo DRC de leitura no cérebro de adultos propôs uma rota dorsal para o processamento grafo- 52 fonológico e uma rota ventral para o processamento léxico- semântico (Jobard et al., 2003). A rota dorsal consiste no giro temporal superior esquerdo (STG, do inglês Superior Temporal Gyru), no lobo parietal inferior dorsal esquerdo (IPL, do inglês Inferior Parietal Lobe, cobrindo o giro supramarginal e giro angular) e a parte opercular esquerda do giro frontal inferior (opIFG, do inglês opercular part of the Inferior Frontal Gyrus). A via ventral consiste no giro fusiforme esquerdo (FG, do inglês Fusiform Gyrus), na área temporal inferior basal esquerda, na parte posterior esquerda do giro temporal médio (MTG, do inglês Middle Temporal Gyrus) e na parte orbital esquerda do IFG (orIFG). Além disso, a parte triangular do IFG esquerdo (trIFG) foi sugerida para ser recrutada em ambas as rotas. De acordo com o modelo PDP, as palavras são pronunciadas usando as mesmas redes neurais depois que um conjunto de pesos de conexão ótimos foi aprendido (Harm e Seidenberg, 2004). 53 O modelo PDP produz saídas que estimulam o comportamento de aprendizagem das crianças. Em contraste, o modelo DRC sugere que os jovens leitores confiam mais na rota grafo-fonológica indireta para traduzir letras em sons correspondentes e menos na rota léxico-semântica direta para derivar uma representação significativa de uma determinada palavra. Com a prática ao longo do tempo, os jovens leitores desenvolvem um dicionário léxico interno maior armazenando palavras que podem ser reconhecidas à vista através do processamento lexical sem o processamento semântico. No entanto, este estudo não foi projetado para diferenciar esses dois modelos. Em vez disso, Avantika Mathur, Douglas Schultz e Yingying Wang (2020), levantam a hipótese de que ambos os modelos preveriam uma falta de especialização neural das duas rotas de leitura (direta versus indireta) para crianças de 5 a 7 anos de idade. O estudo utilizou uma abordagem multivariada para compreender as bases neurais do processamento fonológico e semântico na primeira infância (5-7anos de idade), o que não havia sido relatado anteriormente. Nossos resultados sugerem que a lateralização esquerda para a rota grafofonológica indireta já foi moldada em crianças pequenas com boa habilidade de leitura. Além disso, a rota léxico-semântica também conta com as regiões do hemisfério esquerdo e o recrutamento adicional das regiões parietais bilaterais. Nossos resultados constataram que a especialização do opIFG esquerdo para o processamento fonológico se alinhava com pesquisas anteriores em adultos e crianças em idade escolar. 54 Epílogo capacidade de extrair formas de palavras da fala contínua é um pré-requisito para a construção de um vocabulário e surge no primeiro ano de vida. A percepção da rima é um importante preditor para a alfabetização futura. Esse efeito de repetição de rima correlacionou-se com vocabulário produtivo aos 18 meses de idade. A 55 Bibliografia consultada A ANDERSSON, A.; SANDERS, L. D.; COCH, D.; KARNS, C. M.; NEVILLE, H. J. Anterior and posterior erp rhyming effects in 3- to 5-year-old children. Dev. Cogn. Neurosci., v. 30, p. 178190, 2018. ARAÚJO, M. L. K. O que é rima? 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