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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE XXX SUZANE CRISTINA ROSA SANTANA, brasileira, solteira, dona de casa, RG nº 02577321220003-1– SSP/MA, CPF nº 059.416.643-89, residente e domiciliada na Rua C, 28, Residencial Sítio Natureza, Bairro Paço Lumiar, São Luis/MA, CEP: 65.130- 000, neste ato representada por sua advogada infrafirmada, constituídas e qualificadas em outorga anexa, vêm,respeitosamente, à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS em face de MATERNIDADE DE ALTA COMPLEXIDADE MARLY SARNEY, pessoa jurídica de direito público, inscrita sob o CNPJ nº 06.200.745/0001-80, com endereço na Av. Jerônimo de Albuquerque, S/N, Cohab Anil III, São Luís – MA, CEP: 65.051-210, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. 1 - PRELIMINARMENTE 1.1- Da Assistência Judiciária Gratuita A Requerente atualmente está desempregada, declarando, sob as penas da Lei, não possuir condições de arcar com as despesas processuais da presente Ação. Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, requer a V Exa. a concessão do benefício da gratuidade de justiça, nos termos do Art. 5º, LXXIV da Constituição Federal e dos Arts. 98 e 99 do CPC/2015. 2 - DOS FATOS A reclamante Suzane Cristina Rosa Santana relata que no dia 15 de janeiro de 2019 deu entrada no Hospital e Maternidade São José de Ribamar, por volta de meio dia. Ao chegar no local, informou ao médico, Dr. Numa Pompílio que estava perdendo líquido amniótico, sendo que o mesmo solicitou Sra. Suzane realizasse uma ultrassonografia e que lá no hospital de Ribamar não era possível que fosse feita. Assim, a Sra. Suzane se deslocou até a clínica Ultra Med no Bairro da Cohab e realizou a ultrassonografia (em anexo), sendo que a médica responsável pelo atendimento Dra. Raissa Brandão de Sá Almeida, ao efetuar o exame, de imediato informou que Suzane estava em trabalho de parto, sendo necessário que a mesma fosse de imediato e com urgência para a maternidade, pois já havia pouco líquido amniótico. Conforme o indicado, a mesma procedeu e retornou ao hospital e maternidade São José de Ribamar, ao chegar lá foi atendida novamente pelo mesmo médico (Dr. Numa Pompílio) que já havia feito o atendimento e solicitara o exame. Quando o médico olhou o resultado da ultrassom ele confirmou que realmente Suzane já havia perdido muito líquido, relatando que o parto não poderia ser realizado lá, por se tratar de uma gravidez de alto risco, por conta do peso da paciente e informara que caso ocorresse algum tipo de complicação no decorrer do parto, não havia os equipamentos necessários. Informou também que o que ele poderia fazer era transferir a paciente para a Maternidade Marly Sarney, caso existisse leito disponível. Na ocasião o médico realizou uma ligação para a Maternidade Marly Sarney e fora informado que existia leito disponível e que a paciente poderia ser transferida. Assim o Dr. Numa Pompílio, realizou a transferência da paciente, conforme documento anexo. Suzane Cristina, por volta das 18h45, desloca-se à Maternidade Marly assim, de posse do documento de transferência emitido pelo médico Dr. Numa Pompílio. Ao chegar na Marly Sarney a mesma foi atendida pelo Dr. Ortegal, sendo que no ato não fora realizado nenhum tipo de cadastro dando entrada da paciente naquela maternidade. Ao atender a paciente, o Dr. Ortegal olhou a ultrassom, estava ciente que a paciente estava perdendo muito líquido amniótico, mas decidiu dar o toque e utilizar desse procedimento para avaliar o estado da mesma, sendo que insistiu que a paciente possuía líquido amniótico em quantidade suficiente para a respiração da bebê. Aplicou o soro, pediu que a mesma esperasse sentada no corredor do local do atendimento. A autora ficou esperando por várias e várias horas, quando o mesmo após muita demora, apareceu para informa que não havia leito disponível e que a paciente seria transferida para a Maternidade Benedito Leite, sendo que a paciente questionou o porquê de tanta demora e não ter sido logo informada da não disponibilidade do leito, sendo que o médico Numa Pompílio do Hospital e Maternidade de São José de Ribamar confirmou via telefone, que existia sim leito disponível na Maternidade Marly Sarney. A mesma foi transferida para Maternidade Benedito Leite via ambulância, sem nenhum tipo de documento formal e escrito de transferência. Ao chegar na Maternidade Benedito Leite, o médico que o atendeu realizara o toque, tentou ouvir os batimentos cardíacos do bebê por diversas vezes, mas não conseguiu. Na ocasião informou que devolvera a paciente para a Maternidade Marly Sarney para realizar outra ultrassonografia, assim foi feito. Ao chegar na Maternidade Marly Sarney, ao realizar o exame, constatou-se que o bebê já estava sem batimentos e havia falecido. O Dr. Ortegal informou que iria aplicar medicamento para retirar o bebê, através de parto normal, sendo que a mesma já estava com o bebê morto em sua barriga e seu parto seria cesariana. A paciente entrou em desespero, ligou para seu pai e quando este chegou no hospital foi informado que sua filha não poderia se submeter ao parto normal, visto da demora e por já estar com o bebê morto. Houve a troca de plantão e já no dia seguinte no período matutino, outro médico plantonista realizou o parto cesariana com caráter de urgência da paciente, realizando a retirada do bebê morto. A Sra. Suzane informou ao médico que desejava olhar o bebê morto, mas não foi atendida, sendo que só teve acesso a fotos(imagens) do bebê morto, sendo que teve alta um dia após. Em virtude de todo o ocorrido, a reclamante solicita que a Marly Sarney seja responsabilizada e assuma por todas as consequências ocasionadas, uma vez que a mesma passou por situação de constrangimento, exposição, desleixo e negligência médica, tendo o seu sonho de mãe anulado, ao perder sua filha, uma vez que solicita danos morais. 3- DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA 3.1- DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO MUNICÍPIO Com efeito, a situação de fato que gerou o trágico evento narrado neste processo põe em evidência a configuração, no caso, de todos os pressupostos primários que determinam o reconhecimento da responsabilidade civil objetiva da entidade estatal ora Requerida. Como se sabe, a Teoria do Risco Administrativo, consagrada em sucessivos documentos constitucionais brasileiros, desde a Carta Política de 1946, revela-se fundamento de ordem doutrinária subjacente à norma de direito positivo que instituiu, em nosso sistema jurídico, a Responsabilidade Civil Objetiva do Poder Público, pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, por ação ou por omissão (CF, art. 37, § 6º). Essa concepção teórica - que informa o Princípio Constitucional da Responsabilidade Civil Objetiva do Poder Público, tanto no que se refere à ação quanto no que concerne à omissão do agente público - faz emergir, da mera ocorrência de lesão causada à vítima pelo Estado, o dever de indenizá-la pelo dano moral e/ou patrimonial sofrido, independentemente de caracterização de culpa dos agentes estatais, não importando que se trate de comportamento positivo (ação) ou que se cuide de conduta negativa (omissão) daqueles investidos da representação do Estado, consoante enfatiza o magistério da doutrina (HELY LOPES MEIRELLES, “Direito Administrativo Brasileiro”, p. 650, 31ª ed., 2005, Malheiros; SERGIO CAVALIERI FILHO, “Programa de Responsabilidade Civil”, p. 248, 5ª ed., 2003, Malheiros; JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, “Curso de Direito Administrativo”, p. 90, 17ª ed., 2000, Forense; YUSSEF SAID CAHALI, “Responsabilidade Civil do Estado”, p. 40, 2ª ed., 1996, Malheiros; TOSHIO MUKAI, “Direito Administrativo Sistematizado”, p. 528, 1999, Saraiva; CELSO RIBEIRO BASTOS, “Curso de Direito Administrativo”, p. 213, 5ª ed., 2001, Saraiva;GUILHERME COUTO DE CASTRO, “A Responsabilidade Civil Objetiva no Direito Brasileiro”, p. 61/62, 3ª ed., 2000, Forense; MÔNICA NICIDA GARCIA, “Responsabilidade do Agente Público”, p. 199/200, 2004, Fórum, v.g.), cabendo ressaltar, no ponto, a lição expendida por ODETE MEDAUAR (“Direito Administrativo Moderno”, p. 430, item n. 17.3, 9ª ed., 2005, RT): Informada pela ‘teoria do risco’, a responsabilidade do Estado apresenta- se hoje, na maioria dos ordenamentos, como ‘responsabilidade objetiva’. Nessa linha, não mais se invoca o dolo ou culpa do agente, o mau funcionamento ou falha da Administração. Necessário se torna existir relação de causa e efeito entre ação ou omissão administrativa e dano sofrido pela vítima. É o chamado nexo causal ou nexo de causalidade. Deixa-se de lado, para fins de ressarcimento do dano, o questionamento do dolo ou culpa do agente, o questionamento da licitude ou ilicitude da conduta, o questionamento do bom ou mau funcionamento da Administração. Demonstrado o nexo de causalidade, o Estado deve ressarcir. (grifei) É certo, no entanto, que o Princípio da Responsabilidade Objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite abrandamento e, até mesmo, exclusão da própria responsabilidade civil do Estado nas hipóteses excepcionais (DE TODO INOCORRENTES NA ESPÉCIE EM EXAME) configuradoras de situações liberatórias - como o caso fortuito e a força maior - ou evidenciadoras de culpa atribuível à própria vítima. Impõe-se destacar, neste ponto, na linha da jurisprudência prevalecente no Supremo Tribunal Federal (RTJ 163/1107-1109, Rel. Min. CELSO DE MELLO; AI 299.125/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO; RE 385.943/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), que os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (1) a alteridade do dano, (2) a causalidade material entre o “eventus damni” e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (3) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público, que, nessa condição funcional, tenha incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do seu comportamento funcional e (4) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal. É por isso que a ausência de qualquer dos pressupostos legitimadores da incidência da regra inscrita no art. 37, § 6º, da Carta Política basta para descaracterizar a responsabilidade civil objetiva do Estado, especialmente quando ocorre circunstância que rompe o nexo de causalidade material entre o comportamento do agente público e a consumação do dano pessoal ou patrimonial infligido ao ofendido. Esclareça-se, por oportuno, que todas as considerações já feitas aplicam-se, sem qualquer disceptação, em tema de responsabilidade civil objetiva do Poder Público, a situações – como a destes autos – em que o “eventus damni” ocorreu em hospitais públicos (ou mantidos pelo Poder Público) ou derivou de tratamento médico inadequado ministrado por funcionário público ou, então, resultou de conduta imputável a servidor público com atuação na área médica. Este entendimento foi pacificado no Supremo Tribunal Federal, conforme se depreende abaixo: RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER PÚBLICO - ELEMENTOS ESTRUTURAIS - PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO – INFECÇÃO POR CITOMEGALOVÍRUS - FATO DANOSO PARA O OFENDIDO (MENOR IMPÚBERE) RESULTANTE DA EXPOSIÇÃO DE SUA MÃE, QUANDO GESTANTE, A AGENTES INFECCIOSOS, POR EFEITO DO DESEMPENHO, POR ELA, DE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM HOSPITAL PÚBLICO, A SERVIÇO DA ADMINISTRAÇÃO ESTATAL - PRESTAÇÃO DEFICIENTE, PELO DISTRITO FEDERAL, DE ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL - PARTO TARDIO – SÍNDROME DE WEST - DANOS MORAIS E MATERIAIS – RESSARCIBILIDADE – DOUTRINA – JURISPRUDÊNCIA - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o 'eventus damni' e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público que tenha, nessa específica condição, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade estatal. Precedentes. A omissão do Poder Público, quando lesiva aos direitos de qualquer pessoa, induz à responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que presentes os pressupostos primários que lhe determinam a obrigação de indenizar os prejuízos que os seus agentes, nessa condição, hajam causado a terceiros. Doutrina. Precedentes. - A jurisprudência dos Tribunais em geral tem reconhecido a responsabilidade civil objetiva do Poder Público nas hipóteses em que o 'eventus damni' ocorra em hospitais públicos (ou mantidos pelo Estado), ou derive de tratamento médico inadequado, ministrado por funcionário público, ou, então, resulte de conduta positiva (ação) ou negativa (omissão) imputável a servidor público com atuação na área médica. - Servidora pública gestante, que, no desempenho de suas atividades laborais, foi exposta à contaminação pelo citomegalovírus, em decorrência de suas funções, que consistiam, essencialmente, no transporte de material potencialmente infecto- contagioso (sangue e urina de recém-nascidos). - Filho recém-nascido acometido da 'Síndrome de West', apresentando um quadro de paralisia cerebral, cegueira, tetraplegia, epilepsia e malformação encefálica, decorrente de infecção por citomegalovírus contraída por sua mãe, durante o período de gestação, no exercício de suas atribuições no berçário de hospital público. - Configuração de todos os pressupostos primários determinadores do reconhecimento da responsabilidade civil objetiva do Poder Público, o que faz emergir o dever de indenização pelo dano pessoal e/ou patrimonial sofrido. (RE 495.740-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO) – (Grifei) “O Estado responde pela cegueira consequente a infecção adquirida por pessoa internada em hospital por ele mantido.” (RF 89/178, Rel. Des. MÁRIO GUIMARÃES) – (grifei) PROCESSUAL CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. I – ‘Se o erro ou falha médica ocorrer em hospital ou outro estabelecimento público, a responsabilidade será do Estado (Administração Pública), com base no art. 37, § 6º, da Constituição Federal (...).’ (AC 278427, Rel. Juiz CASTRO AGUIAR – TRF/2ª Região, DJU de 22/08/2003, p. 255) – (grifei) CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS. INVALIDEZ RESULTANTE DE ATO CIRÚRGICO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. A Fundação Universidade Federal de Mato Grosso, na qualidade de mantenedora do Hospital Universitário Júlio Müller, responde objetivamente pelos danos resultantes de ato cirúrgico a que foi submetido o autor naquele nosocômio (CF, art. 37, § 6º). (AC 01000520560, Rel. Juiz DANIEL PAES RIBEIRO – TRF/1ª Região, DJU de 03/04/2003, p. 142) – (grifei) “(...) 2. Sendo objetiva a responsabilidade do Hospital conveniado e do INAMPS, estes respondem pelos danos causados ou produzidos diretamente por agentes que estavam a seu serviço, independentemente da apuração de culpa ou dolo. O constituinte estabeleceu para todos os entes do Estado e seus desmembramentos administrativos a obrigação de indenizar o dano causado a terceiro por seus servidores, independentemente de prova de culpa no cometimento da lesão. Adotou a Constituição a regra do princípio objetivo de responsabilidade sem culpa pela atuação lesiva dos agentes públicos e seus delegados.” (AC 01000054165, Rel. Juiz MÁRIO CESAR RIBEIRO – TRF/1º Região, DJU de 18/06/1999,p. 298) – (grifei) Deste modo, resta evidenciado o dever do Município Réu de indenizar a Requerente pelos prejuízos a ela causados pelos gentes públicos que agiram em seu nome, em decorrência da sua responsabilidade civil objetiva. 3.2 – DO DANO MORAL O dano moral é indenizável, nos termos de nossa Constituição Federal: Art. 5º (...): V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; Outrossim, o art. 186 e o art. 927 do código civil de 2002 assim estabelecem: Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. (grifo nosso). Art. 927 – aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. A ideia de responsabilidade civil vem do princípio de que aquele que causar dano a outra pessoa, seja ele moral ou material deverá restabelecer o bem ao estado em que se encontrava antes do seu ato danoso, e, caso o restabelecimento não seja possível, deverá compensar aquele que sofreu o dano. Incontestável é o intenso dano moral acarretado à Requerente, provocado pela morte de seu filho, que teve a vida ceifada antes mesmo de nascer. Esta criança tão almejada e aguardada que não teve a chance de vir ao mundo com vida, de sentir o calor dos braços de sua mãe, deixou para a Requerente os sentimentos de perda, solidão, desespero, desamparo, impotência e saudade, visto que está em sua memória as imaginações de cada fase pela qual passaria. É imperioso, portanto, o ressarcimento pelos danos morais causados, nos termos do art. 927 do CC, cuja incidência decorre da prática de conduta ilícita, a qual se configurou no caso em tela, cuja lesão imaterial consiste na dor e sofrimento da parte Postulante, em razão da perda de sua filha, o que por si só traduz a amargura e a desesperança pela qual a Requerente tem passado. Some-se a isso o fato de que se trata aqui de dano moral puro, que prescinde de qualquer prova a respeito, pois a dor e o sofrimento nesses casos são presumidos. Como cediço, para a caracterização da responsabilidade civil objetiva, o nosso sistema processual exige a tríplice concorrência: da conduta do agente (ação ou omissão) do dano, e do nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente. Passemos a demonstrar a existência de cada um desses elementos no presente caso: Da conduta do agente Restou provado nos autos que o falecimento do nascituro foi ocasionado por negligência e imperícia médica, pois o acervo probatório revela que houve falha no atendimento da gestante, em decorrência do atraso em relação ao início do parto e a insistência de inúmeras transferências da paciente para outras maternidades, o que se culmina com o falecimento do bebê e, mais ainda, à vista da descrição da causa da morte, no caso, por “ASFIXIA AO NASCER”. Do dano Impróprio e até desnecessário discorrer sobre o prejuízo que emana da perda abrupta de um nascituro, o que, por óbvio, supera os meros infortúnios do quotidiano suportados pelo homem médio, configurando dano moral in re ipsa. Do nexo de causalidade - Responsabilidade pelo evento danoso Há inegável nexo de causalidade entre a conduta administrativa e o prejuízo causado à Demandante. In casu, restou demonstrado cabalmente que a ausência de atendimento adequado à Autora deu causa à demora na realização do parto, assim como a as inumeras transferências para outras maternidades, o que resultou na morte do nascituro. Devidamente comprovado os requisitos ensejadores da responsabilidade civil objetiva, deve a Requerente ser indenizada pelos danos morais causados pelo Requerido, o qual foi omisso quanto aos seus deveres de vigilância, proteção e segurança. Não é demasiado invocar julgados paradigmáticos que se amoldam perfeitamente à hipótese dos autos. Senão vejamos: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ERRO MÉDICO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 37, § 6º. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA UNIÃO. MORTE DE RECÉM-NASCIDO EM VIRTUDE DE DEMORA NA REALIZAÇÃO DO PARTO. EQUIPE MÉDICA. NEGLIGÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO. 1- Ação ajuizada em face da União Federal, pretendendo a autora o pagamento de danos morais e físicos, por conta do falecimento de seu bebê recém-nato por Insuficiência Respiratória e Asfixia Neonatal, em virtude de negligência por parte da equipe médica que lhe prestou atendimento no Hospital Central do Exército. 2- A responsabilidade civil do Estado, com fundamento no art. 37, § 6o da Constituição Federal de 1988, é objetiva, de acordo com a teoria do risco administrativo, e isto inclusive no que pertine aos danos morais. (Carlos Alberto Bittar, in Reparação Civil por Danos Morais; 3a ed.; Ed. RT; 1999; p. 167), cabendo salientar que tem por fundamento a existência do nexo de causalidade entre o dano e a prestação do serviço público, sem se cogitar a licitude do ato. O lesado não está, no entanto, dispensado de comprovar o nexo de causalidade para que nasça a obrigação do Estado de compor seu patrimônio. 3- Muito embora o Poder Judiciário não deva adentrar na análise de questões técnicas e científicas na aferição da responsabilidade civil decorrente de procedimentos médicos, a situação fática narrada aponta a ocorrência de falta de cautela e cuidado na condução do quadro clínico da demandante a ensejar a reparação pretendida 4- Configurada a ocorrência de erro por da equipe médica do hospital que prestou atendimento à autora, erro este que teve início já nos primeiros comparecimentos dela à referida instituição, relatando fortes dores abdominais, nos dias que antecederam ao parto, tendo o mais grave deles ocorrido no procedimento do parto, propriamente, quando, a despeito das dificuldades verificadas, insistiu-se no parto normal, não decidindo-se pela cesariana, o que se confirma com o falecimento do bebê e, mais ainda, à vista da descrição da causa da morte, no caso, por 'Insuficiência Respiratória e Asfixia Neonatal'. 5- Comprovado, na hipótese, o 'resultado danoso incomum', referido pela Ré, na medida em que os exames trazidos aos autos pela autora, realizados no curso da gravidez, alguns deles em caráter particular, demonstram a normalidade do estado do feto, o que, aliás, restou observado, pela magistrada, na sentença. 6- Relativamente ao valor a ser fixado a título de indenização pelo dano moral, a orientação jurisprudencial tem sido no sentido de que o arbitramento deve ser feito com razoabilidade e moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico do réu, valendo-se o juiz de sua experiência e bom senso para corretamente sopesar as peculiaridades de cada caso, de forma que a condenação cumpra a função punitiva e pedagógica, compensando-se o sofrimento do indivíduo sem, contudo, permitir o seu enriquecimento sem causa. (TRF 2ª REGIÃO; AC: 2001.51.01.023374-1; UF: RJ; Órgão Julgador: QUINTA TURMA ESPECIALIZADA; Relator JUIZ ANTÔNIO CRUZ NETTO); 7- Manutenção do quantum indenizatório fixado na sentença a título de dano moral, eis que arbitrado com razoabilidade e moderação, de acordo com os parâmetros da jurisprudência e das peculiaridades do caso concreto. 8- Apelação dos autores, da União Federal e remessa improvidas. Sentença mantida. (TRF-2 - APELREEX: 200351010088300 RJ 2003.51.01.008830-0, Relator: Desembargador Federal FREDERICO GUEIROS, Data de Julgamento: 18/01/2010, SEXTA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data::26/01/2010 - Página::99/100) ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO MÉDICO. DEMORA NA REALIZAÇÃO DE PARTO. PARALISIA CEREBRAOL. ART. 37, § 6º, DA LEI FUNDAMENTAL. DANO MORAL. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. 1. Conforme prontuário, houve falha na prestação do serviçomédico hospitalar - demora, injustificável na realização do parto na PROMATRE, correspondente a 5horas e 35minutos - não sendo tomadas precauções e medidas que se revelavam necessárias e urgentes, de forma a impedir um trabalho de parto tardio, e, conseqüentemente, sofrimento fetal com sequelas irreversíveis como as ocorridas no Autor, resultando na situação gravíssima de paralisia cerebral. Reforça tal entendimento, o fato de não constar indicação nos autos de que a parturiente, durante a gestação, tenha apresentado qualquer tipo de anormalidade no feto. 2. Inafastável, portanto, pelos elementos constantes dos autos, o nexo causal entre o mau serviço público prestado e os danos sofridos pelo demandante, não tendo sido demonstrado pela ré qualquer excludente, sendo cabível imputar à Administração Pública a responsabilidade civil objetiva pelos prejuízos ocasionados, calcada na teoria do risco administrativo, com esteio no artigo 37, § 6º, da Lei Fundamental. 3. Contudo, no tocante aos danos morais, o valor a ser arbitrado não pode ser fonte de lucro, devendo o magistrado observar os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, revelando-se o valor de R$ 100.000,00 compatível, mormente, com os seguintes parâmetros: a sequela severa e permanente sofrida pela vítima (paralisia cerebral), o poder econômico do ofensor (UNIÃO FEDERAl) e a reprovabilidade da conduta ilícita (demora injustificada no atendimento hospitalar, para a realização do parto). 4. Apelo do autor a que se dá parcial provimento. (TRF-2 - AC: 199651010020279 RJ 1996.51.01.002027-9, Relator: Juiz Federal Convocado THEOPHILO MIGUEL, Data de Julgamento: 28/04/2010, SÉTIMA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: E-DJF2R - Data::04/06/2010 - Página::150/151) RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. FETO MORTO. ASPIRAÇÃO DE MECÔNIO. DEMORA NA REALIZAÇÃO DE PARTO. NEGLIGÊNCIA COMPROVADA. DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. I - A doutrina distingue duas hipóteses de responsabilização médica: a responsabilidade decorrente da prestação do serviço direta e pessoalmente pelo médico como profissional liberal, e a responsabilidade decorrente da prestação dos serviços de forma empresarial, nesta incluídos os hospitais. II - Na hipótese dos autos, trata-se de responsabilidade médica empresarial. É a chamada responsabilidade objetiva, prevista no artigo 14 do CDC , mediante a qual responde objetivamente a ré pelos danos causados aos seus pacientes, independentemente da culpa do lesante, fazendo-se necessária apenas a comprovação do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado. III - In casu, restou demonstrado cabalmente que a ausência de atendimento adequado à autora, no dia do parto, dando causa à demora na realização do procedimento configurou defeito na prestação do serviço. Injustificado o não acompanhamento imediato por médico, tendo em vista as condições da demandante, que estava no final da gravidez, com dores e apresentando contrações. IV - Na fixação da reparação por dano moral, que se deu in re ipsa, incumbe ao julgador, atentando, sobretudo, para as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, e aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, arbitrar quantum que se preste à suficiente recomposição dos prejuízos, sem importar, contudo, enriquecimento sem causa da vítima. Manutenção do montante arbitrado na sentença, em R$ 35.000,00 para cada um dos autores, pois adequado. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70053462867, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em 25/04/2013) Assim sendo, por qualquer ângulo que se analise o fato, caracterizada está a responsabilidade do Requerido pelo ocorrido com o consequente dever de indenizar a Requerente. 3.3 – DO QUANTUM INDENIZATÓRIO Certos de que não é possível mensurar o quantum correspondente ao dano moral sofrido, necessário é estipular um montante razoável diante da gravidade e extensão do dano. No que tange a mensuração de indenização, o Novo Código Civil dispõe: Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Tratando-se de dano moral pela morte de um filho, impossível a restituição à situação anterior. Entretanto, a indenização deve ser, ainda assim, proporcional ao dano sofrido. Nesse sentido, o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, ao julgar casos de indenização por danos morais, tem ponderado acerca do montante indenizatório com base nos seguintes critérios, reafirmados pelo novo Código Civil: a extensão do dano; a culpa do agente; as consequências do dano para o autor; a realidade social e econômica do autor; a capacidade econômica da parte requerida e o caráter punitivo da verba. (Ap. Cíveis 37.348-5/00; 60.361-4/0; 15.289.5-0; Tribunal de Justiça de São Paulo). No mais, apesar do entendimento uníssono de que os efeitos do dano moral não podem ser mensuráveis em dinheiro e que sua reparação desempenha um papel de mitigar a dor sofrida, o ressarcimento do dano moral, no presente caso, há de servir ao menos em seu caráter pedagógico, como punição da conduta daquele que deu causa ao falecimento de um nascituro. Nesse sentido, CARLOS ALBERTO BITTAR entende que o valor a ser fixado deve se consubstanciar em “importância compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se de modo expressivo no patrimônio do lesante” a fim de que este sinta “efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido”. Confira-se: Em consonância com essa diretriz, a indenização por danos morais deve traduzir- se em montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que não se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de modo expressivo, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do lesante. Ora, num momento em que crises de valores e de perspectivas assolam a humanidade, fazendo recrudescer as diferentes formas de violência, esse posicionamento constitui sólida barreira jurídica a atitudes ou a formas incondizentes com os padrões éticos médios da sociedade. Com essa técnica é que a jurisprudência dos países da “common Law” tem contribuído, decisivamente, para a implementação efetiva de um sistema de vida fundado no pleno respeito aos direitos da personalidade humana, com sacrifícios pesados aos desvios que se tem verificado, tanto para pessoas físicas, como para pessoas jurídicas infratoras. Urge observar, ainda neste aspecto, que a Constituição Federal não estabelece limites para a indenização. Restou especificado em seus incisos V e X, do artigo 5º, que a indenização deve ser proporcional ao agravo. Dessa forma, ao fixar o valor da indenização, o juiz deve sempre levar em consideração as circunstâncias do caso concreto, equacionar a dor sentida e o valor a ser pago e chegar a uma quantia justa e proporcional, capaz de atender aos objetivos da indenização. Desta forma, restam configurados os danos morais suportados pela Requerente, devendo esta ser compensada por meio de fixação de indenização a este título no valor de 500.000,00 (quinhentos mil reais) ou, caso Vossa Excelência assim não entenda, que seja arbitrado o valor que melhor lhe convier, fora de dúvidas, pois, que tão somente a fixação de valor economicamente expressivo, terá o condão de, ao mesmo tempo, satisfazer os imensos prejuízos morais ora sob análise e punir as ilegalidades externadas nesta peça inicial. 4. DOS PEDIDOS Diante de todo o exposto, requer a Requerente: 1. A citação do Requerido no endereço inicialmente indicado, para querendo, apresentar contestaçãono prazo legal, ciente das consequências da revelia; 2. Dispensa de audiência de conciliação e mediação Art. 334, § 4º do CPC/2015;. 3. Contestada ou não, que seja a PRESENTE AÇÃO JULGADA PROCEDENTE para: 3.1- Reconhecer a responsabilidade civil objetiva do Requerido pelos danos morais causados à Requerente, nos termos da Legislação vigente; 3.2- Condenar o Requerido ao pagamento de indenização pelos danos morais causados à Requerente, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) ou, caso Vossa Excelência assim não entenda, que seja arbitrado o valor que melhor lhe aprouver; 3.3- Conceder os benefícios da gratuidade da justiça em razão de a Requerente ser hipossuficiente; 3.4- Condenar o Requerido ao pagamento dos honorários advocatícios na base de 20% do valor da condenação e demais ônus da sucumbência, atualização monetária das quantias fixadas e juros de mora. Requer possa a Requerente provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos. Dá-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). Termos em que, Pede e aguarda deferimento! Local e data Advogada OAB/MA:
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