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PETICAO DENIVALDO

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE XXX 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUZANE CRISTINA ROSA SANTANA, brasileira, solteira, dona de casa, RG nº 
02577321220003-1– SSP/MA, CPF nº 059.416.643-89, residente e domiciliada na 
Rua C, 28, Residencial Sítio Natureza, Bairro Paço Lumiar, São Luis/MA, CEP: 65.130-
000, neste ato representada por sua advogada infrafirmada, constituídas e 
qualificadas em outorga anexa, vêm,respeitosamente, à presença de Vossa Excelência 
propor a presente 
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS 
em face de MATERNIDADE DE ALTA COMPLEXIDADE MARLY SARNEY, 
pessoa jurídica de direito público, inscrita sob o CNPJ nº 06.200.745/0001-80, com 
endereço na Av. Jerônimo de Albuquerque, S/N, Cohab Anil III, São Luís – MA, CEP: 
65.051-210, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. 
 
1 - PRELIMINARMENTE 
1.1- Da Assistência Judiciária Gratuita 
 A Requerente atualmente está desempregada, declarando, sob as penas da Lei, não 
possuir condições de arcar com as despesas processuais da presente Ação. 
 Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, requer a V Exa. a 
concessão do benefício da gratuidade de justiça, nos termos do Art. 5º, LXXIV da 
Constituição Federal e dos Arts. 98 e 99 do CPC/2015. 
2 - DOS FATOS 
 A reclamante Suzane Cristina Rosa Santana relata que no dia 15 de janeiro de 2019 
deu entrada no Hospital e Maternidade São José de Ribamar, por volta de meio dia. 
Ao chegar no local, informou ao médico, Dr. Numa Pompílio que estava perdendo 
líquido amniótico, sendo que o mesmo solicitou Sra. Suzane realizasse uma 
ultrassonografia e que lá no hospital de Ribamar não era possível que fosse feita. 
 Assim, a Sra. Suzane se deslocou até a clínica Ultra Med no Bairro da Cohab e realizou 
a ultrassonografia (em anexo), sendo que a médica responsável pelo atendimento Dra. 
Raissa Brandão de Sá Almeida, ao efetuar o exame, de imediato informou que Suzane 
estava em trabalho de parto, sendo necessário que a mesma fosse de imediato e com 
urgência para a maternidade, pois já havia pouco líquido amniótico. 
 Conforme o indicado, a mesma procedeu e retornou ao hospital e maternidade São 
José de Ribamar, ao chegar lá foi atendida novamente pelo mesmo médico (Dr. Numa 
Pompílio) que já havia feito o atendimento e solicitara o exame. Quando o médico 
olhou o resultado da ultrassom ele confirmou que realmente Suzane já havia perdido 
muito líquido, relatando que o parto não poderia ser realizado lá, por se tratar de uma 
gravidez de alto risco, por conta do peso da paciente e informara que caso ocorresse 
algum tipo de complicação no decorrer do parto, não havia os equipamentos 
necessários. 
 Informou também que o que ele poderia fazer era transferir a paciente para a 
Maternidade Marly Sarney, caso existisse leito disponível. Na ocasião o médico 
realizou uma ligação para a Maternidade Marly Sarney e fora informado que existia 
leito disponível e que a paciente poderia ser transferida. 
 Assim o Dr. Numa Pompílio, realizou a transferência da paciente, conforme 
documento anexo. Suzane Cristina, por volta das 18h45, desloca-se à Maternidade 
Marly assim, de posse do documento de transferência emitido pelo médico Dr. Numa 
Pompílio. Ao chegar na Marly Sarney a mesma foi atendida pelo Dr. Ortegal, sendo 
que no ato não fora realizado nenhum tipo de cadastro dando entrada da paciente 
naquela maternidade. 
 Ao atender a paciente, o Dr. Ortegal olhou a ultrassom, estava ciente que a paciente 
estava perdendo muito líquido amniótico, mas decidiu dar o toque e utilizar desse 
procedimento para avaliar o estado da mesma, sendo que insistiu que a paciente 
possuía líquido amniótico em quantidade suficiente para a respiração da bebê. Aplicou 
o soro, pediu que a mesma esperasse sentada no corredor do local do atendimento. A 
autora ficou esperando por várias e várias horas, quando o mesmo após muita demora, 
apareceu para informa que não havia leito disponível e que a paciente seria transferida 
para a Maternidade Benedito Leite, sendo que a paciente questionou o porquê de tanta 
demora e não ter sido logo informada da não disponibilidade do leito, sendo que o 
médico Numa Pompílio do Hospital e Maternidade de São José de Ribamar confirmou 
via telefone, que existia sim leito disponível na Maternidade Marly Sarney. 
 A mesma foi transferida para Maternidade Benedito Leite via ambulância, sem 
nenhum tipo de documento formal e escrito de transferência. Ao chegar na 
Maternidade Benedito Leite, o médico que o atendeu realizara o toque, tentou ouvir 
os batimentos cardíacos do bebê por diversas vezes, mas não conseguiu. Na ocasião 
informou que devolvera a paciente para a Maternidade Marly Sarney para realizar 
outra ultrassonografia, assim foi feito. 
 Ao chegar na Maternidade Marly Sarney, ao realizar o exame, constatou-se que o bebê 
já estava sem batimentos e havia falecido. O Dr. Ortegal informou que iria aplicar 
medicamento para retirar o bebê, através de parto normal, sendo que a mesma já 
estava com o bebê morto em sua barriga e seu parto seria cesariana. A paciente entrou 
em desespero, ligou para seu pai e quando este chegou no hospital foi informado que 
sua filha não poderia se submeter ao parto normal, visto da demora e por já estar com 
o bebê morto. Houve a troca de plantão e já no dia seguinte no período matutino, 
outro médico plantonista realizou o parto cesariana com caráter de urgência da 
paciente, realizando a retirada do bebê morto. 
 A Sra. Suzane informou ao médico que desejava olhar o bebê morto, mas não foi 
atendida, sendo que só teve acesso a fotos(imagens) do bebê morto, sendo que teve 
alta um dia após. Em virtude de todo o ocorrido, a reclamante solicita que a Marly 
Sarney seja responsabilizada e assuma por todas as consequências ocasionadas, uma 
vez que a mesma passou por situação de constrangimento, exposição, desleixo e 
negligência médica, tendo o seu sonho de mãe anulado, ao perder sua filha, uma vez 
que solicita danos morais. 
3- DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA 
3.1- DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO MUNICÍPIO 
 Com efeito, a situação de fato que gerou o trágico evento narrado neste processo põe 
em evidência a configuração, no caso, de todos os pressupostos primários que 
determinam o reconhecimento da responsabilidade civil objetiva da 
entidade estatal ora Requerida. 
 Como se sabe, a Teoria do Risco Administrativo, consagrada em sucessivos 
documentos constitucionais brasileiros, desde a Carta Política de 1946, revela-se 
fundamento de ordem doutrinária subjacente à norma de direito positivo que 
instituiu, em nosso sistema jurídico, a Responsabilidade Civil Objetiva do 
Poder Público, pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a 
terceiros, por ação ou por omissão (CF, art. 37, § 6º). 
 Essa concepção teórica - que informa o Princípio Constitucional da 
Responsabilidade Civil Objetiva do Poder Público, tanto no que se refere à 
ação quanto no que concerne à omissão do agente público - faz emergir, da mera 
ocorrência de lesão causada à vítima pelo Estado, o dever de indenizá-la pelo 
dano moral e/ou patrimonial sofrido, independentemente de 
caracterização de culpa dos agentes estatais, não importando que se trate de 
comportamento positivo (ação) ou que se cuide de conduta negativa (omissão) 
daqueles investidos da representação do Estado, consoante enfatiza o magistério da 
doutrina (HELY LOPES MEIRELLES, “Direito Administrativo Brasileiro”, p. 
650, 31ª ed., 2005, Malheiros; SERGIO CAVALIERI FILHO, “Programa de 
Responsabilidade Civil”, p. 248, 5ª ed., 2003, Malheiros; JOSÉ CRETELLA 
JÚNIOR, “Curso de Direito Administrativo”, p. 90, 17ª ed., 2000, Forense; 
YUSSEF SAID CAHALI, “Responsabilidade Civil do Estado”, p. 40, 2ª ed., 1996, 
Malheiros; TOSHIO MUKAI, “Direito Administrativo Sistematizado”, p. 528, 
1999, Saraiva; CELSO RIBEIRO BASTOS, “Curso de Direito Administrativo”, p. 
213, 5ª ed., 2001, Saraiva;GUILHERME COUTO DE CASTRO, “A 
Responsabilidade Civil Objetiva no Direito Brasileiro”, p. 61/62, 3ª ed., 2000, 
Forense; MÔNICA NICIDA GARCIA, “Responsabilidade do Agente Público”, p. 
199/200, 2004, Fórum, v.g.), cabendo ressaltar, no ponto, a lição expendida por 
ODETE MEDAUAR (“Direito Administrativo Moderno”, p. 430, item n. 17.3, 9ª 
ed., 2005, RT): 
 Informada pela ‘teoria do risco’, a responsabilidade do Estado apresenta-
se hoje, na maioria dos ordenamentos, como ‘responsabilidade objetiva’. 
Nessa linha, não mais se invoca o dolo ou culpa do agente, o mau funcionamento ou 
falha da Administração. Necessário se torna existir relação de causa e efeito 
entre ação ou omissão administrativa e dano sofrido pela vítima. É o 
chamado nexo causal ou nexo de causalidade. Deixa-se de lado, para fins de 
ressarcimento do dano, o questionamento do dolo ou culpa do agente, o 
questionamento da licitude ou ilicitude da conduta, o questionamento do bom ou mau 
funcionamento da Administração. Demonstrado o nexo de causalidade, o 
Estado deve ressarcir. (grifei) 
 É certo, no entanto, que o Princípio da Responsabilidade Objetiva não se 
reveste de caráter absoluto, eis que admite abrandamento e, até mesmo, exclusão 
da própria responsabilidade civil do Estado nas hipóteses excepcionais (DE TODO 
INOCORRENTES NA ESPÉCIE EM EXAME) configuradoras de situações liberatórias 
- como o caso fortuito e a força maior - ou evidenciadoras de culpa atribuível à própria 
vítima. 
Impõe-se destacar, neste ponto, na linha da jurisprudência prevalecente no 
Supremo Tribunal Federal (RTJ 163/1107-1109, Rel. Min. CELSO DE MELLO; 
AI 299.125/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO; RE 385.943/SP, Rel. Min. CELSO 
DE MELLO, v.g.), que os elementos que compõem a estrutura e delineiam o 
perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem 
(1) a alteridade do dano, (2) a causalidade material entre o “eventus damni” e 
o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (3) a 
oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público, 
que, nessa condição funcional, tenha incidido em conduta comissiva ou omissiva, 
independentemente da licitude, ou não, do seu comportamento funcional e (4) a 
ausência de causa excludente da responsabilidade estatal. 
É por isso que a ausência de qualquer dos pressupostos legitimadores da incidência da 
regra inscrita no art. 37, § 6º, da Carta Política basta para descaracterizar a 
responsabilidade civil objetiva do Estado, especialmente quando ocorre circunstância 
que rompe o nexo de causalidade material entre o comportamento do agente público 
e a consumação do dano pessoal ou patrimonial infligido ao ofendido. 
 Esclareça-se, por oportuno, que todas as considerações já feitas aplicam-se, sem 
qualquer disceptação, em tema de responsabilidade civil objetiva do Poder Público, a 
situações – como a destes autos – em que o “eventus damni” ocorreu em hospitais 
públicos (ou mantidos pelo Poder Público) ou derivou de tratamento médico 
inadequado ministrado por funcionário público ou, então, resultou de conduta 
imputável a servidor público com atuação na área médica. 
 Este entendimento foi pacificado no Supremo Tribunal Federal, conforme se 
depreende abaixo: 
 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER PÚBLICO - 
ELEMENTOS ESTRUTURAIS - PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA 
INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - 
TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO – INFECÇÃO POR 
CITOMEGALOVÍRUS - FATO DANOSO PARA O OFENDIDO (MENOR 
IMPÚBERE) RESULTANTE DA EXPOSIÇÃO DE SUA MÃE, QUANDO 
GESTANTE, A AGENTES INFECCIOSOS, POR EFEITO DO DESEMPENHO, 
POR ELA, DE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM HOSPITAL PÚBLICO, 
A SERVIÇO DA ADMINISTRAÇÃO ESTATAL - PRESTAÇÃO DEFICIENTE, 
PELO DISTRITO FEDERAL, DE ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL - 
PARTO TARDIO – SÍNDROME DE WEST - DANOS MORAIS E MATERIAIS 
– RESSARCIBILIDADE – DOUTRINA – JURISPRUDÊNCIA - RECURSO 
DE AGRAVO IMPROVIDO. 
 - Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade 
civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a 
causalidade material entre o 'eventus damni' e o comportamento positivo (ação) ou 
negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva 
imputável a agente do Poder Público que tenha, nessa específica condição, incidido 
em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do 
comportamento funcional e (d) a ausência de causa excludente da responsabilidade 
estatal. Precedentes. 
 A omissão do Poder Público, quando lesiva aos direitos de qualquer pessoa, induz à 
responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que presentes os pressupostos 
primários que lhe determinam a obrigação de indenizar os prejuízos que os seus 
agentes, nessa condição, hajam causado a terceiros. Doutrina. Precedentes. 
 - A jurisprudência dos Tribunais em geral tem reconhecido a responsabilidade civil 
objetiva do Poder Público nas hipóteses em que o 'eventus damni' ocorra em hospitais 
públicos (ou mantidos pelo Estado), ou derive de tratamento médico inadequado, 
ministrado por funcionário público, ou, então, resulte de conduta positiva (ação) ou 
negativa (omissão) imputável a servidor público com atuação na área médica. 
 - Servidora pública gestante, que, no desempenho de suas atividades laborais, foi 
exposta à contaminação pelo citomegalovírus, em decorrência de suas funções, que 
consistiam, essencialmente, no transporte de material potencialmente infecto-
contagioso (sangue e urina de recém-nascidos). 
 - Filho recém-nascido acometido da 'Síndrome de West', apresentando um quadro 
de paralisia cerebral, cegueira, tetraplegia, epilepsia e malformação encefálica, 
decorrente de infecção por citomegalovírus contraída por sua mãe, durante o 
período de gestação, no exercício de suas atribuições no berçário de hospital público. 
 - Configuração de todos os pressupostos primários determinadores do 
reconhecimento da responsabilidade civil objetiva do Poder Público, o 
que faz emergir o dever de indenização pelo dano pessoal e/ou 
patrimonial sofrido. (RE 495.740-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO) – 
(Grifei) 
 “O Estado responde pela cegueira consequente a infecção adquirida por pessoa 
internada em hospital por ele mantido.” (RF 89/178, Rel. Des. MÁRIO 
GUIMARÃES) – (grifei) 
PROCESSUAL CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL DA 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 
 I – ‘Se o erro ou falha médica ocorrer em hospital ou outro 
estabelecimento público, a responsabilidade será do Estado 
(Administração Pública), com base no art. 37, § 6º, da Constituição 
Federal (...).’ (AC 278427, Rel. Juiz CASTRO AGUIAR – TRF/2ª Região, DJU de 
22/08/2003, p. 255) – (grifei) 
 CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E DANOS 
MORAIS. INVALIDEZ RESULTANTE DE ATO CIRÚRGICO. 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 
1. A Fundação Universidade Federal de Mato Grosso, na qualidade de mantenedora 
do Hospital Universitário Júlio Müller, responde objetivamente pelos danos 
resultantes de ato cirúrgico a que foi submetido o autor naquele 
nosocômio (CF, art. 37, § 6º). (AC 01000520560, Rel. Juiz DANIEL PAES 
RIBEIRO – TRF/1ª Região, DJU de 03/04/2003, p. 142) – (grifei) 
“(...) 2. Sendo objetiva a responsabilidade do Hospital conveniado e do INAMPS, 
estes respondem pelos danos causados ou produzidos diretamente por agentes que 
estavam a seu serviço, independentemente da apuração de culpa ou dolo. O 
constituinte estabeleceu para todos os entes do Estado e seus 
desmembramentos administrativos a obrigação de indenizar o dano 
causado a terceiro por seus servidores, independentemente de prova de 
culpa no cometimento da lesão. Adotou a Constituição a regra do 
princípio objetivo de responsabilidade sem culpa pela atuação lesiva dos 
agentes públicos e seus delegados.” (AC 01000054165, Rel. Juiz MÁRIO 
CESAR RIBEIRO – TRF/1º Região, DJU de 18/06/1999,p. 298) – (grifei) 
 Deste modo, resta evidenciado o dever do Município Réu de indenizar a Requerente 
pelos prejuízos a ela causados pelos gentes públicos que agiram em seu nome, em 
decorrência da sua responsabilidade civil objetiva. 
3.2 – DO DANO MORAL 
O dano moral é indenizável, nos termos de nossa Constituição Federal: 
Art. 5º (...): 
V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem; 
Outrossim, o art. 186 e o art. 927 do código civil de 2002 assim estabelecem: 
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito. (grifo nosso). 
Art. 927 – aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 A ideia de responsabilidade civil vem do princípio de que aquele que causar dano a 
outra pessoa, seja ele moral ou material deverá restabelecer o bem ao estado em que 
se encontrava antes do seu ato danoso, e, caso o restabelecimento não seja possível, 
deverá compensar aquele que sofreu o dano. 
 Incontestável é o intenso dano moral acarretado à Requerente, provocado pela morte 
de seu filho, que teve a vida ceifada antes mesmo de nascer. 
 Esta criança tão almejada e aguardada que não teve a chance de vir ao mundo com 
vida, de sentir o calor dos braços de sua mãe, deixou para a Requerente os sentimentos 
de perda, solidão, desespero, desamparo, impotência e saudade, visto que está em sua 
memória as imaginações de cada fase pela qual passaria. 
 É imperioso, portanto, o ressarcimento pelos danos morais causados, nos termos do 
art. 927 do CC, cuja incidência decorre da prática de conduta ilícita, a qual se 
configurou no caso em tela, cuja lesão imaterial consiste na dor e sofrimento da parte 
Postulante, em razão da perda de sua filha, o que por si só traduz a amargura e a 
desesperança pela qual a Requerente tem passado. Some-se a isso o fato de que se trata 
aqui de dano moral puro, que prescinde de qualquer prova a respeito, pois 
a dor e o sofrimento nesses casos são presumidos. 
 Como cediço, para a caracterização da responsabilidade civil objetiva, o nosso sistema 
processual exige a tríplice concorrência: da conduta do agente (ação ou omissão) 
do dano, e do nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente. 
Passemos a demonstrar a existência de cada um desses elementos no presente caso: 
Da conduta do agente 
 Restou provado nos autos que o falecimento do nascituro foi ocasionado por 
negligência e imperícia médica, pois o acervo probatório revela que houve falha no 
atendimento da gestante, em decorrência do atraso em relação ao início do 
parto e a insistência de inúmeras transferências da paciente para outras 
maternidades, o que se culmina com o falecimento do bebê e, mais ainda, à vista da 
descrição da causa da morte, no caso, por “ASFIXIA AO NASCER”. 
 
Do dano 
Impróprio e até desnecessário discorrer sobre o prejuízo que emana da perda abrupta 
de um nascituro, o que, por óbvio, supera os meros infortúnios do quotidiano 
suportados pelo homem médio, configurando dano moral in re ipsa. 
Do nexo de causalidade - Responsabilidade pelo evento danoso 
 Há inegável nexo de causalidade entre a conduta administrativa e o prejuízo causado 
à Demandante. In casu, restou demonstrado cabalmente que a ausência de 
atendimento adequado à Autora deu causa à demora na realização do parto, assim 
como a as inumeras transferências para outras maternidades, o que resultou na morte 
do nascituro. 
 Devidamente comprovado os requisitos ensejadores da responsabilidade civil 
objetiva, deve a Requerente ser indenizada pelos danos morais causados pelo 
Requerido, o qual foi omisso quanto aos seus deveres de vigilância, proteção e 
segurança. 
 Não é demasiado invocar julgados paradigmáticos que se amoldam perfeitamente à 
hipótese dos autos. Senão vejamos: 
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ERRO 
MÉDICO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO. 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 37, § 6º. LEGITIMIDADE PASSIVA AD 
CAUSAM DA UNIÃO. MORTE DE RECÉM-NASCIDO EM VIRTUDE DE 
DEMORA NA REALIZAÇÃO DO PARTO. EQUIPE MÉDICA. 
NEGLIGÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO. 1- Ação ajuizada em face da União 
Federal, pretendendo a autora o pagamento de danos morais e físicos, por conta do 
falecimento de seu bebê recém-nato por Insuficiência Respiratória e 
Asfixia Neonatal, em virtude de negligência por parte da equipe médica 
que lhe prestou atendimento no Hospital Central do Exército. 2- A responsabilidade 
civil do Estado, com fundamento no art. 37, § 6o da Constituição Federal de 1988, é 
objetiva, de acordo com a teoria do risco administrativo, e isto inclusive no que 
pertine aos danos morais. (Carlos Alberto Bittar, in Reparação Civil por Danos 
Morais; 3a ed.; Ed. RT; 1999; p. 167), cabendo salientar que tem por fundamento a 
existência do nexo de causalidade entre o dano e a prestação do serviço público, sem 
se cogitar a licitude do ato. O lesado não está, no entanto, dispensado de comprovar 
o nexo de causalidade para que nasça a obrigação do Estado de compor seu 
patrimônio. 3- Muito embora o Poder Judiciário não deva adentrar na análise de 
questões técnicas e científicas na aferição da responsabilidade civil decorrente de 
procedimentos médicos, a situação fática narrada aponta a ocorrência de 
falta de cautela e cuidado na condução do quadro clínico da demandante 
a ensejar a reparação pretendida 4- Configurada a ocorrência de erro por 
da equipe médica do hospital que prestou atendimento à autora, erro 
este que teve início já nos primeiros comparecimentos dela à referida 
instituição, relatando fortes dores abdominais, nos dias que 
antecederam ao parto, tendo o mais grave deles ocorrido no 
procedimento do parto, propriamente, quando, a despeito das 
dificuldades verificadas, insistiu-se no parto normal, não decidindo-se 
pela cesariana, o que se confirma com o falecimento do bebê e, mais 
ainda, à vista da descrição da causa da morte, no caso, por 'Insuficiência 
Respiratória e Asfixia Neonatal'. 5- Comprovado, na hipótese, o 'resultado 
danoso incomum', referido pela Ré, na medida em que os exames trazidos aos 
autos pela autora, realizados no curso da gravidez, alguns deles em 
caráter particular, demonstram a normalidade do estado do feto, o que, 
aliás, restou observado, pela magistrada, na sentença. 6- Relativamente ao valor a 
ser fixado a título de indenização pelo dano moral, a orientação jurisprudencial tem 
sido no sentido de que o arbitramento deve ser feito com razoabilidade e moderação, 
proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico do réu, valendo-se o juiz 
de sua experiência e bom senso para corretamente sopesar as peculiaridades de cada 
caso, de forma que a condenação cumpra a função punitiva e pedagógica, 
compensando-se o sofrimento do indivíduo sem, contudo, permitir o seu 
enriquecimento sem causa. (TRF 2ª REGIÃO; AC: 2001.51.01.023374-1; UF: RJ; 
Órgão Julgador: QUINTA TURMA ESPECIALIZADA; Relator JUIZ ANTÔNIO 
CRUZ NETTO); 7- Manutenção do quantum indenizatório fixado na sentença a título 
de dano moral, eis que arbitrado com razoabilidade e moderação, de acordo com os 
parâmetros da jurisprudência e das peculiaridades do caso concreto. 8- Apelação 
dos autores, da União Federal e remessa improvidas. Sentença mantida. (TRF-2 - 
APELREEX: 200351010088300 RJ 2003.51.01.008830-0, Relator: 
Desembargador Federal FREDERICO GUEIROS, Data de Julgamento: 
18/01/2010, SEXTA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - 
Data::26/01/2010 - Página::99/100) 
 ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA NA 
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO MÉDICO. DEMORA NA REALIZAÇÃO DE 
PARTO. PARALISIA CEREBRAOL. ART. 37, § 6º, DA LEI FUNDAMENTAL. 
DANO MORAL. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. 1. Conforme 
prontuário, houve falha na prestação do serviçomédico hospitalar - demora, 
injustificável na realização do parto na PROMATRE, correspondente a 5horas 
e 35minutos - não sendo tomadas precauções e medidas que se revelavam 
necessárias e urgentes, de forma a impedir um trabalho de parto tardio, 
e, conseqüentemente, sofrimento fetal com sequelas irreversíveis como 
as ocorridas no Autor, resultando na situação gravíssima de paralisia 
cerebral. Reforça tal entendimento, o fato de não constar indicação nos autos de 
que a parturiente, durante a gestação, tenha apresentado qualquer tipo de 
anormalidade no feto. 2. Inafastável, portanto, pelos elementos constantes dos autos, 
o nexo causal entre o mau serviço público prestado e os danos sofridos pelo 
demandante, não tendo sido demonstrado pela ré qualquer excludente, sendo cabível 
imputar à Administração Pública a responsabilidade civil objetiva pelos prejuízos 
ocasionados, calcada na teoria do risco administrativo, com esteio no artigo 37, § 6º, 
da Lei Fundamental. 3. Contudo, no tocante aos danos morais, o valor a ser 
arbitrado não pode ser fonte de lucro, devendo o magistrado observar os princípios 
da razoabilidade e da proporcionalidade, revelando-se o valor de R$ 100.000,00 
compatível, mormente, com os seguintes parâmetros: a sequela severa e permanente 
sofrida pela vítima (paralisia cerebral), o poder econômico do ofensor (UNIÃO 
FEDERAl) e a reprovabilidade da conduta ilícita (demora injustificada no 
atendimento hospitalar, para a realização do parto). 4. Apelo do autor a que se dá 
parcial provimento. (TRF-2 - AC: 199651010020279 RJ 1996.51.01.002027-9, 
Relator: Juiz Federal Convocado THEOPHILO MIGUEL, Data de 
Julgamento: 28/04/2010, SÉTIMA TURMA ESPECIALIZADA, Data de 
Publicação: E-DJF2R - Data::04/06/2010 - Página::150/151) 
RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. FETO MORTO. 
ASPIRAÇÃO DE MECÔNIO. DEMORA NA REALIZAÇÃO DE PARTO. 
NEGLIGÊNCIA COMPROVADA. DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL. 
QUANTUM INDENIZATÓRIO. I - A doutrina distingue duas hipóteses de 
responsabilização médica: a responsabilidade decorrente da prestação do serviço 
direta e pessoalmente pelo médico como profissional liberal, e a responsabilidade 
decorrente da prestação dos serviços de forma empresarial, nesta incluídos os 
hospitais. II - Na hipótese dos autos, trata-se de responsabilidade médica 
empresarial. É a chamada responsabilidade objetiva, prevista no artigo 14 do CDC , 
mediante a qual responde objetivamente a ré pelos danos causados aos seus 
pacientes, independentemente da culpa do lesante, fazendo-se necessária apenas a 
comprovação do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado. III - In casu, 
restou demonstrado cabalmente que a ausência de atendimento 
adequado à autora, no dia do parto, dando causa à demora na realização 
do procedimento configurou defeito na prestação do serviço. 
Injustificado o não acompanhamento imediato por médico, tendo em 
vista as condições da demandante, que estava no final da gravidez, com 
dores e apresentando contrações. IV - Na fixação da reparação por dano 
moral, que se deu in re ipsa, incumbe ao julgador, atentando, sobretudo, para as 
condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado, e aos princípios da 
proporcionalidade e razoabilidade, arbitrar quantum que se preste à suficiente 
recomposição dos prejuízos, sem importar, contudo, enriquecimento sem causa da 
vítima. Manutenção do montante arbitrado na sentença, em R$ 35.000,00 para 
cada um dos autores, pois adequado. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível 
Nº 70053462867, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em 25/04/2013) 
 Assim sendo, por qualquer ângulo que se analise o fato, caracterizada está a 
responsabilidade do Requerido pelo ocorrido com o consequente dever de indenizar a 
Requerente. 
3.3 – DO QUANTUM INDENIZATÓRIO 
 Certos de que não é possível mensurar o quantum correspondente ao dano 
moral sofrido, necessário é estipular um montante razoável diante da gravidade e 
extensão do dano. 
 No que tange a mensuração de indenização, o Novo Código Civil dispõe: 
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
 Tratando-se de dano moral pela morte de um filho, impossível a restituição à situação 
anterior. Entretanto, a indenização deve ser, ainda assim, proporcional ao dano 
sofrido. 
 Nesse sentido, o Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, ao julgar casos de 
indenização por danos morais, tem ponderado acerca do montante indenizatório com 
base nos seguintes critérios, reafirmados pelo novo Código Civil: a extensão do dano; 
a culpa do agente; as consequências do dano para o autor; a realidade social e 
econômica do autor; a capacidade econômica da parte requerida e o caráter punitivo 
da verba. (Ap. Cíveis 37.348-5/00; 60.361-4/0; 15.289.5-0; Tribunal de Justiça de São 
Paulo). 
 No mais, apesar do entendimento uníssono de que os efeitos do dano moral não 
podem ser mensuráveis em dinheiro e que sua reparação desempenha um papel de 
mitigar a dor sofrida, o ressarcimento do dano moral, no presente caso, há de servir 
ao menos em seu caráter pedagógico, como punição da conduta daquele que deu causa 
ao falecimento de um nascituro. 
 Nesse sentido, CARLOS ALBERTO BITTAR entende que o valor a ser fixado deve se 
consubstanciar em “importância compatível com o vulto dos interesses em 
conflito, refletindo-se de modo expressivo no patrimônio do lesante” a fim 
de que este sinta “efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do 
resultado lesivo produzido”. Confira-se: 
 Em consonância com essa diretriz, a indenização por danos morais deve traduzir-
se em montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que não se 
aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se, 
portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em conflito, 
refletindo-se, de modo expressivo, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, 
efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido. 
 Deve, pois, ser quantia economicamente significativa, em razão das potencialidades 
do patrimônio do lesante. Ora, num momento em que crises de valores e de 
perspectivas assolam a humanidade, fazendo recrudescer as diferentes formas de 
violência, esse posicionamento constitui sólida barreira jurídica a atitudes ou a 
formas incondizentes com os padrões éticos médios da sociedade. Com essa técnica é 
que a jurisprudência dos países da “common Law” tem contribuído, decisivamente, 
para a implementação efetiva de um sistema de vida fundado no pleno respeito aos 
direitos da personalidade humana, com sacrifícios pesados aos desvios que se tem 
verificado, tanto para pessoas físicas, como para pessoas jurídicas infratoras. 
 Urge observar, ainda neste aspecto, que a Constituição Federal não estabelece limites 
para a indenização. Restou especificado em seus incisos V e X, do artigo 5º, que a 
indenização deve ser proporcional ao agravo. Dessa forma, ao fixar o valor da 
indenização, o juiz deve sempre levar em consideração as circunstâncias do caso 
concreto, equacionar a dor sentida e o valor a ser pago e chegar a uma quantia justa e 
proporcional, capaz de atender aos objetivos da indenização. 
 Desta forma, restam configurados os danos morais suportados pela Requerente, 
devendo esta ser compensada por meio de fixação de indenização a este título no valor 
de 500.000,00 (quinhentos mil reais) ou, caso Vossa Excelência assim não entenda, 
que seja arbitrado o valor que melhor lhe convier, fora de dúvidas, pois, que tão 
somente a fixação de valor economicamente expressivo, terá o condão de, ao mesmo 
tempo, satisfazer os imensos prejuízos morais ora sob análise e punir as ilegalidades 
externadas nesta peça inicial. 
4. DOS PEDIDOS 
Diante de todo o exposto, requer a Requerente: 
1. A citação do Requerido no endereço inicialmente indicado, para querendo, 
apresentar contestaçãono prazo legal, ciente das consequências da revelia; 
 2. Dispensa de audiência de conciliação e mediação Art. 334, § 4º do CPC/2015;. 
 3. Contestada ou não, que seja a PRESENTE AÇÃO JULGADA PROCEDENTE para: 
 3.1- Reconhecer a responsabilidade civil objetiva do Requerido pelos danos morais 
causados à Requerente, nos termos da Legislação vigente; 
 3.2- Condenar o Requerido ao pagamento de indenização pelos danos morais 
causados à Requerente, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) ou, caso 
Vossa Excelência assim não entenda, que seja arbitrado o valor que melhor lhe 
aprouver; 
 3.3- Conceder os benefícios da gratuidade da justiça em razão de a Requerente ser 
hipossuficiente; 
 3.4- Condenar o Requerido ao pagamento dos honorários advocatícios na base de 20% 
do valor da condenação e demais ônus da sucumbência, atualização monetária das 
quantias fixadas e juros de mora. 
 Requer possa a Requerente provar o alegado por todos os meios de prova em direito 
admitidos. 
 
Dá-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). 
Termos em que, 
Pede e aguarda deferimento! 
Local e data 
 
Advogada 
OAB/MA:

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