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TÍTULO III - DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS AULA 02 PROFª Isabel Gonçalves TEORIA GERAL DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS - Qual a ratio fundamenta que para tutela de alguns direitos siga o rito comum e, para outros, incida um procedimento especial? - Os fundamentos são as particularidades objetivas (direito material tem alguma especialidade) e particularidades subjetivas da causa(a parte tem alguma particularidade). - Ex: - A Ação de Alimentos tem um rito especial de legislação extravagante na Lei 5.478/68 que é ultra célere, pois há uma particularidade do direito material a ser tutelado (vida e saúde); - Consignação em pagamento tem um rito especial porque inverte-se a regra lógica de cumprimento das obrigações, pois há um devedor querendo pagar. Há uma particularidade subjetiva. - Por que a execução contra a fazenda pública não pode seguir a regra do 523, para pagar em 15 dias sob pena de multa e penhora? Pois os bens da fazenda pública são impenhoráveis e também deve pagar na ordem preestabelecida (precatórios art 100 CF). Há uma particularidade subjetiva. - Juizado Especial (9.099/95); 10.259/01 (juizado especial Federal) e 12.153/09 (juizado Fazenda Pública) tem o valor da causa como fundamento para tutela diferenciada. Direito Material tutelado (pequeno valor da quantia a pagar). - Assim, o princípio da adequação, derivado do princípio do devido processo legal, é um comando constitucional determinando ao legislador (federa/estadual) criar procedimentos especiais qdo a particularidade do direito material (objetiva) ou subjetiva(parte) exigir tratamento distinto. - Deve-se criar uma Tutela Diferenciada que foge da ordinariedade do procedimento comum. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS - Fungibilidade: é a característica daquilo que pode ser substituído por outro. Quando a coisa é fungível, será substituível. - No direito Civil há os bens fungíveis e infungíveis (art. Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. - No Processo Civil, a parte pode ajuizar a ação pelo rito comum qdo houver procedimento especial? Se sim, os procedimentos especiais seriam fungíveis. - Prevalecia o entendimento que os ritos especiais eram infungíveis, pq os ritos especiais eram criados para favorecer o Estado ( e não parte) - até ano 2000 - Atualmente, regra geral, os procedimentos especiais são fungíveis (parte pode abrir mão do rito especial) - Desapropriação tem rito no DL 3665/41: é fungível. Pode seguir o procedimento comum. Juizados Especiais Cíveis(até 40 sm); - Alguns Ritos São infungíveis, pois: - 1. O uso do rito comum inviabilizar a tutela do próprio direito - Ex: inventário e partilha; Se não seguir o 610 e seguintes não se alcançam os objetivos ( não tem como citar o morto pra ele responder em 15 dias) - Ação de Exigir contas (a lógica do regramento bifásico dessa ação não é possível pelo rito comum) - Procedimento de demarcação e divisão de terras particulares(art. 569): usa-se essa ação quando se tem um bem indivisivo, mas pró-diviso. Bem está em estado de divisão. - 2. Qdo a lei expressamente vedam a fungibilidade : - Juizado Especial Federal (Lei 10.259/01) - Juizado Especial da Fazenda Pública (Lei 12.153/09) - Já o rito da Lei 9.099/95 é fungível. TIPICIDADE, DÉFICT PROCEDIMENTAL E FLEXIBILIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO - Os ritos são previstos em lei (tipicidade procedimental) cognitiva, executiva e tutelas de urgência - Os ritos estabelecem as regras do jogo - Por mais que o legislador criasse ritos, a evolução do direito pode gerar um déficit procedimental (ausência de rito adequados para a tutela de certas situações do direito material). - Exemplo: Uniões Estáveis Homoafetivas. Poliamor onde um sai da relação. Inventário do MC Catra. - Para maioria da Doutrina, seria possível ao Juiz e as Partes adaptarem o procedimento (respeitando um devido processo legal - Princípio da Adaptação). - Princípio da Adaptação permite que o procedimento típico deixaria ser rígido, permitindo uma flexibilização, ante o déficit na tutela de um direito material para o qual não tem um rito específico. - Flexibilizacao Legal - Art. 139, VI, CPC. Permite ao Juiz fazer a flexibilizada legal do procedimento. (ampliar prazos e inverter a ordem de produção de provas). - Flexibilizacao Judicial: - Enunciado 35 ENFAM (Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados) : O juiz, mesmo sem previsão legal expressa, estaria autorizado a fazer o controle de constitucionalidade dos ritos processuais (ativismo judicial). - Inverter da previsão do artigo 534, determinando que o EXECUTADO, e não o EXEQUENTE, apresente os dados pertinentes ao valor atualizado. Execução do professor para ações de padronização ao piso nacional. Lei 11.738/08. Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o EXEQUENTE apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo: - - Flexibilização Voluntária do procedimento - art. 190 CPC - Clausula Geral de Negócio Jurídico Processual - Neoliberalismo Processual - Mitigação do Hiperpublicismo. Convenções Processuais. Processo Continua sendo público, mas as partes, titulares do direito material, também podem modificar o rito. Vontade das partes é fonte da norma processual, nao somente a lei. NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL É Novidade no CPC 2015 os negócios jurídicos processuais ? ✓ Antes do NPCP já existiam dispositivos que permitiam as vontades das partes serem consideradas, numa verdadeiro negócio jurídico processual. ✓ Exemplos: ✓ Foro de Eleição do art. 111 CPC e 163 CPC era uma espécie de negócio processual. ✓ Suspensão do Processo por 6 meses. ✓ Contudo, deveria haver expressar previsão legal (tipicidade) ✓ Assim, não é novidade no CPC 2015 os negócios jurídicos processuais, mas agora pode ser em qualquer tema, e não apenas naqueles expressamente previstos em lei. ✓ A partir do CPC 2015 há uma cláusula geral de foro de eleição que as partes podem convencionar sobre qualquer tema de processo. Classificação do Negócio Jurídico Processual Quanto à previsão legal específica a) Típicos: aqueles expressamente previstos em lei a.1) Bilateral: quando há convergência de vontades de ambos os litigantes em prol da mudança de uma regra processual; - Foro de Eleição - art. 63 CPC - Suspensão do Processo por Vontade das Partes - art. 313, II - Convenção sobre o ônus da Prova - 373, § 3º - Convenção de Arbitragem - art. 3º da Lei 9.307/96 + art. 485, VII, CPC. inversão do ônus da prova. C/E? a.2) Unilaterais: pois são contratos típicos, previstos em lei, bastando apenas a vontade de uma das partes para que o negócio jurídico processual se aperfeiçoe. - Desistência do Recurso (art. 998 CPC). Obs: desistência da ação exige manifestação da parte contrária quando já houve sido citada (art. 485, § 4º) . Atenção para a Objetivação dos Recursos (p. Único art. 998). - Reconhecimento Jurídico do Pedido (Art. 487, III, a, CPC) - Renúncia ao recurso (art. 999): ocorre antes de recorrer, ao contrário da desistência do recurso. a.3.) Plurilaterais: aqueles que para operar efeito dependem da vontade do autor, réu e terceiros. - Sucessão do alienante ou cedente pelo adquirente ou cessionário da coisa litigiosa (art. 109): a alienação de coisa objeto do litígio não altera a legitimidade de partes. Caso os três (autor, réu e adquirente) concordem, pode haver a sucessão processual. Se o autor da ação não concordar, o réu continua a ser parte no processo, mas. passa a ser substituto processual do terceiro. - Calendarização do Processo (art. 191 CPC): - Há polêmica se trata-se de Negócio Jurídico Processual Típico Plurilateral, pois o Juiz, para alguns, não teria sua vontade considerada para celebrar o calendário, devendosomente homologar. Assim, o negócio jurídico típico seria bilateral(Prof. Antônio Passos Cabral - RJ). - Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso. - - b) Atípicos: aqueles sem previsão legal expressa, mas amparadas numa cláusula geral de negócio jurídico. - São, necessariamente, Bilaterais. - Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus O CPC 2015 permite a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos, a exemplo da convenção processual de ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. - Exemplos: partes convencionando divisão de sucumbência; clausula de paz: realização de três audiências de conciliação antes de se ajuizar ação; Quanto ao Momento da Convenção Processual a) pré-processual (antes do processo): - As partes convencionam num contrato que eventual desacordo terá a tentativa de conciliação extra-processual; - Advogados Consultivos ao fazerem contratos, já pode incluir esses negócios jurídicos pré-processuais (é como se fosse uma Cláusula Compromissória da Lei de Arbitragem, submetendo o julgamento a um árbitro) b) Processuais (durante o processo): - Convenção para ampliar o prazo de contestação para 40 dias. Obs: Juiz pode somente ampliar prazo (flexibilização processual - art.139, VI, CPC). - Compromisso Arbitral, firmado entre as partes para que o caso seja julgado por um árbitro da Lei de Arbitragem, ocorre dentro de um processo em curso. Quanto ao conteúdo da Convenção Processual - Além da convenção processual sobre o procedimento, o art. 190 CPC autoriza a convenção sobre situações jurídicas (ônus, poderes, faculdades e deveres processuais). - Art. 190, segunda parte. Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais(situações jurídicas), antes ou durante o processo. - Exemplos: a) convenção sobre um poder: não cabimento de agravo de instrumento. b) Convenção sobre deveres: além de pagar sucumbência também paga multa de 20% - Em resumo, a vontade das partes no CPC 2015 é fonte da norma processual. - As partes têm poder de flexibilizar o procedimento, adaptá-lo a suas realidades, mediante um negócio jurídico processual ou fazer uma convenção sobre situações jurídicas. - Atenção: - com o art. 190 do CPC qualquer procedimento comum, especial, de execução, processos de urgência ou recursos podem virar um procedimento especial. - Até um rito especial pode se tornar mais especial ainda, a depender da vontade das partes em adaptar o procedimento às suas realidades. Limites dos Negócios Jurídicos Processuais - O processo continua sendo, para maioria da doutrina, a) instrumento do Estado, que exerce a jurisdição; b) instrumento do autor exerce o direito de ação; c) instrumento do réu que exerce o direto de defesa. Condições dos Negócios Jurídicos Processuais - Antes de ser um negócio jurídico processual é um negócio jurídico, regrado pelo direito material (direito civil), com as condições do art. 104 do CC. - Assim, como os negócios jurídicos processuais são espécie de negócio jurídico, as mesmas condições do direito material são aplicadas. - Negócio Jurídico Processual objetiva gerar efeitos no processo. O negócio jurídico gera efeitos no direito material. Condições Gerais: - a) Agente Capaz - capacidade genérica das partes - art. 104, I do CC - Enunciado 36 ENFAM - Tem que ser humano - Deve ser o titular do dever, poder, ônus, faculdades, etc. Não pode convencionar que o juiz vai sentenciar em Inglês (pois é dever do Juiz). Também não pode fazer convenção de que um terceiro (assistente) ingresse no processo, pois não é seu direito, mas pode convencionar que não chamará terceiros. - Enunciado 36 - ENFAM - A regra do art. 190 do CPC/2015 não autoriza às partes a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos que afetem poderes e deveres do juiz, tais como os que: a) limitem seus poderes de instrução ou de sanção à litigância ímproba; b) subtraiam do Estado/juiz o controle da legitimidade das partes ou do ingresso de amicus curiae; c) introduzam novas hipóteses de recorribilidade, de rescisória ou de sustentação oral não previstas em lei; d) estipulem o julgamento do conflito com base em lei diversa da nacional vigente; e e) estabeleçam prioridade de julgamento não prevista em lei. - b) Objeto Lícito: - Enunciado 37 - ENFAM. São nulas, por ilicitude do objeto, as convenções processuais que violem as garantias constitucionais do processo, tais como as que: a) autorizem o uso de prova ilícita; b) limitem a publicidade do processo para além das hipóteses expressamente previstas em lei; c) modifiquem o regime de competência absoluta; e d) dispensem o dever de motivação. - Art. 104, inciso II, CC - objeto lícito - Art. 2035, p. únic. , objeto deve ser moral - Fator de ordem pública que impedem algumas convenções. - Como uma convenção processual pode ter objeto ilícito? Usar, analogicamente, o Art. 21, § 2º da Lei de Arbitragem, que diz que não se faz arbitragem sem o conteúdo mínimo das garantias constitucionais. Assim, pode-se fazer negócio jurídico processual, mas não se pode afastar as garantias constitucionais do processo. - Ex: uma convenção que diz não haver necessidade de respeitar o devido processo legal, sem contraditório, sem juiz natural. - c) Forma prevista ou não defesa em lei: - quando não há forma prevista ou não proibida, em regra valeria a forma livre, que poderia ser oral ou escrita. - Assim, um negócio jurídico processual poderia ser de forma livre, oral ou escrita. - Enunciaod 39 - ENFAM: Não é válida convenção pré-processual oral (art. 4º, § 1º, da Lei n. 9.307/1996 e 63, § 1º, do CPC/2015). - Enunciado 39 é interessante pois, no processo, evita-se a discussão se teve ou não convenção pré-processual oral. - Aplica-se uma leitura analógica do art. 63, CPC, que diz que o foro de eleição só vincula as partes se for escrito; e o art. 4, § 1º da Lei Arbitragem, diz que a cláusula compromissória só vincula as partes se for escrita. - As convenções processuais orais durante o processo são reduzidas à termo. - d) Respeito a autonomia da vontade: - Art. 190, p. Único: permite ao juiz controlar a convenção processual nos casos em que houver alguma violação à autonomia da vontade. Condições Específicas a) Partes Plenamente Capazes - 1ª Corrente: Plenamente: Didier. Não significa nada. Assim, o incapaz representado ou assistido pode celebrar convenção processual. - 2ª Corrente - Gajardoni. Plenamente é sinômino de Absolutamente. Assim, o incapaz, nem se for assistido ou representado poderá celebrar negócio jurídico processual. Lei de Arbitragem, art. 2º, não admite arbitragem com absolutamente incapaz. - Enunciado 38 - ENFAM. Somente partes absolutamente capazes podem celebrar convenção pré-processual atípica (arts. 190 e 191 do CPC/2015). b) Direitos que admitam autocomposição: - Não se confunde com direitos patrimoniais disponíveis. - Significa que, mesmo que o direito não seja patrimonial disponível, poderá haver convenção processual, a exemplo: alimentos, que é um direito indisponível, mas permite a convenção processual; ação que envolve reconhecimento de paternidade pode reconhecer que é pai da criança; - Direitos patrimoniais disponíveis é na lei de arbitragem - Fazenda Pública pode fazer convenção processual? - Sim, desde que haja lei prevendo a autocomposição.- MP pode celebrar convenções processuais em Ações Coletivas? SIM. TAC. - Consumidor pode Celebrar convenções processuais? SIM. Contudo, se for uma convenção processual abusiva no contrato de adesão, o Juiz declara a nulidade. - Não cabe convenção processual no âmbito do Direito do Trabalho. Não se aplica o art. 190 CPC. Resolução TST 203/2016, art. 2º, inciso II.