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NEUROEDUCAÇÃO-E-FUNDAMENTOS-DA-APRENDIZAGEM-1

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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
1 ACERCA DO APRENDER E SUAS RELAÇÕES: INTERAÇÕES ENTRE 
NEUROLOGIA, PSICOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA ................................... 4 
1.1 Acerca do âmbito da aprendizagem ............................................................... 4 
1.2 Sobre desenvolvimento e aprendizagem ........................................................ 7 
1.3 Sobre a rede subjetiva que envolve o corpo ................................................. 10 
1.4 Sobre a psicopedagogia e a construção de rotas alternativas ..................... 14 
2 TEORIAS DA APRENDIZAGEM .................................................................. 20 
2.1 Psicologia da educação: principais pesquisadores....................................... 20 
2.1.1 Sigmund Freud (1856-1938) ......................................................................... 20 
2.1.2 Jean Piaget (1896-1980) .............................................................................. 21 
2.1.3 Henri Wallon (1879-1962) ............................................................................. 22 
2.1.4 Lev Vygotsky (1896-1934) ............................................................................ 22 
2.2 Teorias da aprendizagem: correntes teóricas ............................................... 23 
2.3 Processo de ensino e aprendizagem ............................................................ 27 
3 APRENDIZAGEM ......................................................................................... 30 
3.1 O conceito multiparadigmático da Aprendizagem humana ........................... 30 
3.2 As teorias cognitivas de aprendizagem ........................................................ 34 
3.3 Aprendizagem social na perspectiva da teoria cognitiva social .................... 38 
4 LABORATÓRIO DE APRENDIZAGEM ........................................................ 41 
4.1 Atendimento educacional especializado e inclusão escolar ......................... 41 
4.2 Estratégias educacionais .............................................................................. 44 
4.3 Atribuições do professor ............................................................................... 46 
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 48 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
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1 ACERCA DO APRENDER E SUAS RELAÇÕES: INTERAÇÕES ENTRE 
NEUROLOGIA, PSICOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA 
1.1 Acerca do âmbito da aprendizagem 
Levando em consideração a aprendizagem como principal aspecto que 
proporciona a união de diversos campos do conhecimento, o texto expõe a 
pensamentos e questões sobre as relações que integram a neurociência, psicologia e 
psicologia educacional. 
 Como se definem, recebem influencias e se constituem essas três 
áreas? 
 Como as intervenções terapêuticas no campo da psicoeducação podem 
produzir alterações sobre a estrutura e a função neural? 
 Como os aspectos neurais determinam os fatores psicológicos que 
caracterizam o comportamento de aprendizagem? 
O ponto essencial da aprendizagem em vários campos tem relação com a 
relevância da aprendizagem na nossa cultura, tendo em vista que compete a todos 
cumprirem essa ação com excelência. A obrigatoriedade da aprendizagem hoje se 
define na escolaridade obrigatória e na aquisição de conhecimentos ordenados, que 
se manifesta primordialmente através de habilidades como leitura, escrita e aritmética. 
No decorrer da História, a ampliação da escolarização efetivou uma maior atenção 
aos processos de aprendizagem, seus elementos constitutivos, seus fatores 
intervenientes, e também as dificuldades que surgem, além de contribuírem para a 
formação do mesmo campo, que hoje é chamado de “dificuldades de aprendizagem”. 
”. (ROTTA; ET AL, 2016). 
A imposição de uma aprendizagem esquematizada para todos os envolvidos 
foi acompanhada por uma compreensão mais ampla da aprendizagem como um 
elemento integrante ao longo da vida. Sendo assim, estudos mais recentes, como os 
de Usher (2013), Kegan (2013) e Mezirow (2013), forneceram modelos explicativos, 
abordagens e conceitos relacionados à aprendizagem na vida adulta e nas carreiras. 
Para Maturana e Varela (2005), sob a premissa de que “viver é conhecer e 
conhecer é viver”, a vida apresenta-se como condição necessária e, ao mesmo tempo, 
 
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suficiente para o aprender. Nessa perspectiva, a aprendizagem é um elemento 
intrínseco à condição humana. Aprendemos a todo o momento, em um processo de 
interação permanente com o meio, manifestando diferentes níveis de complexidade 
referentes ao conhecimento construído. 
Historicamente, os aspectos médicos, em especial os elementos neurológicos, 
exerceram grande influência na busca de causas e do entendimento sobre a 
aprendizagem e suas dificuldades. As primeiras incursões decorrem dos estudos de 
Franz Joseph Gall (1758-1828), por volta de 1800. Esse médico frenologista dedicou-
se a investigar adultos com lesões cerebrais adquiridas que manifestavam alterações 
na fala e na capacidade de expressar ideias e sentimentos, apesar das funções 
intelectuais preservadas (CRUZ, 1999; GARCIA, 1998). 
Passados mais de 100 anos desde as contribuições de Gall, Alexander Luria 
(1902-1977) revoluciona a compreensão sobre os processos neurológicos trazendo à 
cena o conceito de plasticidade cerebral derivado principalmente de seus estudos com 
pacientes lesionados durante a Segunda Guerra Mundial. 
Luria explora o cérebro como um sistema biológico aberto, em constante 
interação com o meio físico e social em que o sujeito está inserido. Destaca-
se aí o conceito de plasticidade cerebral, isto é, a ideia de que as funções 
mentais superiores, tipicamente humanas, são construídas ao longo da 
evolução da espécie, da história social do homem e do desenvolvimento de 
cada sujeito. (OLIVEIRA; REGO, 2010, p. 111). 
Luria parece concentrar em sua própria história acadêmica e profissional a 
possibilidade de articular diferentes campos do saber na busca da compreensão sobre 
o funcionamento humano, mais especificamente ao que se refere às funções humanas 
mais elaboradas e/ou superiores. Luria tratou o cérebro como uma estrutura que 
apresentava áreas para funcionamentos específicos, como apontavam seus 
antecessores, mas introduz a ideia de que o cérebro poderia ser um sistema amplo e 
interligado, que, por meio de uma relação complexa, porém objetiva, seria capaz de 
agir unindo as diferentes áreas simultaneamente. A correlação entre áreas cerebrais, 
que mescla a ideia de especificidade, mas também a ideia de interatividade, permite 
um avanço na compreensão dos conceitos atuais de plasticidade e aprendizagem 
como concebemos atualmente. (ROTTA; ET AL, 2016). 
Uma primeira definição das dificuldades de aprendizagem foi proposta pelo 
psicólogo
Samuel Kirk (1904-1996) com o intuito de deslocar a abordagem organicista 
que pouco colaborava para a compreensão e a intervenção no âmbito educacional. 
 
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Nesse período, as crianças com dificuldades de aprendizagem eram diagnosticadas 
com lesão cerebral ou disfunção cerebral mínima. Kirk propôs o termo dificuldades de 
aprendizagem para designar alterações no desenvolvimento da linguagem, da fala, 
da leitura e das habilidades comunicativas que comprometessem a interação social 
de crianças, excluindo, desse grupo, crianças com deficiências sensoriais e com 
atrasos mentais. Dessa forma, Kirk estabelece os seguintes critérios para a 
identificação de crianças com dificuldades na aprendizagem: 
1º) mostravam uma discrepância entre o seu potencial de aprendizagem e o 
de execução; 
2º) o atraso acadêmico não se devia a outras deficiências sensoriais; 
3º) não tinham aprendido pelos métodos usuais e que necessitavam de 
métodos especiais de instrução. (CRUZ, 1999, p. 30). 
Para Fletcher et al. (2009), a ideia original proposta por Kirk, em 1963, refere 
um grupo de crianças que apresentavam 
[...] habilidades sensoriais intactas, inteligência adequada, ausência de 
dificuldades emocionais que interfiram na aprendizagem e uma oportunidade 
adequada para aprender [...] Assim o baixo desempenho é inesperado. 
(FLETCHER et al., 2009, p. 18). 
Desde a década de 1960 até os dias atuais, o campo tem passado por revisões 
conceituais e classificatórias que envolvem, para alguns autores brasileiros 
(MOOJEM, 2004; MOOJEM; FRANÇA, 2006), a distinção entre dificuldades de 
aprendizagem e transtornos de aprendizagem. Porém, esses são aspectos que 
continuam merecendo a atenção investigativa no sentido de avançarmos quanto às 
formas de nomear e classificar esse vasto campo. (ROTTA; ET AL, 2016). 
Para Sternberg e Grigorenko (2003), as dificuldades de aprendizagem 
representam um processo interacional entre o indivíduo e o ambiente. Nesse sentido, 
os autores rejeitam uma compreensão ancorada exclusivamente em elementos 
intrínsecos, como também relutam em aceitar abordagens centradas unicamente em 
elementos extrínsecos. Para os autores, as “[...] características intrínsecas interagem 
com as extrínsecas e acabam gerando crianças com dificuldades de aprendizagem” 
(STERNBERG; GRIGORENKO, 2003, p. 36). 
Em linhas gerais, Fletcher et al. (2009), ao se referir aos transtornos de 
aprendizagem, indicam que sua manifestação representa fragilidades em habilidades 
 
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acadêmicas específicas, como reconhecimento de palavras, compreensão leitora, 
fluência leitora, cálculo e/ou resolução de problemas matemáticos e expressão escrita. 
Os referidos autores têm defendido um modelo híbrido de identificação que envolve 
três componentes: 
(1) uma resposta inadequada à instrução apropriada; 
(2) baixo desempenho em leitura, em matemática e/ou em expressão escrita; 
e 
(3) evidências de que outros fatores (p. ex., transtornos sensoriais, retardo 
mental, proficiência limitada na língua de instrução, instrução inadequada) 
não sejam a principal causa do baixo desempenho. (FLETCHER et al., 2009, 
p. 19). 
Apesar da tentativa de conceituação e identificação baseadas em evidências 
científicas, é importante reconhecer nossa responsabilidade como profissionais da 
área, diante da necessidade de avanços no que tange ao desenvolvimento de 
pesquisas e à ampliação do debate, para que possamos qualificar o discurso, a 
compreensão e a intervenção no campo das dificuldades de aprendizagem. 
Na busca de compreender o aprender humano, parece-nos necessária a 
pergunta sobre como os diferentes campos científicos conversam entre si, se 
influenciam e se determinam reciprocamente. Em que medida os elementos 
neurológicos estruturais e funcionais afetam aspectos psicológicos e os processos de 
aprendizagem humana? De que forma os fatores psicológicos provocam alterações 
no sistema neurológico e na aprendizagem? Como a aprendizagem reconfigura a 
estrutura e o funcionamento neurológico, bem como redimensiona os processos 
psicológicos? (ROTTA; ET AL, 2016). 
1.2 Sobre desenvolvimento e aprendizagem 
Ao pensarmos a conexão possível entre neurologia e desenvolvimento, mais 
especificamente desenvolvimento cognitivo, devemos pensar que o próprio 
desenvolvimento neurológico só é possível por meio da conexão do sistema neural 
com o ambiente. A essa conexão damos o nome de aprendizagem. 
Fruto da interação neurobiológica-genética com o ambiente, os processos 
interativos exigem uma modificabilidade constante do sujeito como um todo. De modo 
 
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amplo, podemos imaginar que o que é previsto geneticamente é uma condição de 
futuro desenvolvimento, de uma possibilidade de incremento dentro de um sistema 
primitivamente estabelecido. É possível afirmar que nenhum sistema é capaz de um 
desenvolvimento sem que haja trocas com o ambiente onde está inserido. Mesmo em 
situações em que o desenvolvimento é incompleto ou interrompido, o sistema restante 
ou parcialmente desenvolvido reage ao meio e apresenta características próprias, 
caminhos próprios de expressão. Atualmente é impossível imaginar o campo da 
neurologia como um campo isolado ou alheio às excessivas estimulações a que 
qualquer um é submetido cotidianamente. A ideia segregada corpo-mente dos gregos 
na Antiguidade agora representa as pontas interligadas do sistema interativo e 
relacional do físico e do cognitivo, e a essa relação chamamos aprendizagem. Do 
mesmo modo que o físico precisa de estimulações, conflitos e embates com o meio 
para, a partir de uma necessidade de sobrevivência ou expressão, se desenvolver, o 
processo cognitivo (que incluem os processos mentais e as aprendizagens) necessita 
que o corpo esteja em constante transformação para ganhar amplitude e se expandir. 
(ROTTA; ET AL, 2016). 
O conceito de plasticidade cerebral nos mostra que não é exclusivamente em 
intervenções físicas ou medicamentosas que o corpo vai se adaptar às novas 
exigências do meio. Se essas interposições ao corpo o auxiliarem, será pela interação 
com o meio onde o sujeito está inserido. Medicações devem estar a serviço da 
potencialização da interação do corpo físico com o ambiente e na mediação da 
capacidade de aprender. Segundo Muskat (2006), a plasticidade cerebral é 
multidimensional, um processo dinâmico que estabelece uma relação entre estrutura 
e função: a plasticidade atua no nível neuroquímico, hedológico e comportamental. 
No primeiro, a interação com o meio é capaz de auxiliar, junto com o desenvolvimento 
e o crescimento previstos a cada etapa do sujeito, na modificação de 
neurotransmissores e neuromoduladores. Assim, conforme as exigências do meio, 
novas interações neuroquímicas ocorrem ou deixam de ocorrer, como forma de 
adaptação da estrutura do sistema nervoso com o ambiente. A condição hedológica 
refere-se aos diferentes padrões de sinapse e à rede ativa de sinapses, e o aspecto 
comportamental está ligado à resolução de problemas na interação com o meio. 
(ROTTA; ET AL, 2016). 
 
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Estudos como o de Naninck, Lucassen e Korosi (2015) apontam que a relação 
que se estabelece entre a mãe e a criança no período perinatal afeta o 
desenvolvimento cerebral e comportamental da criança. Esse estudo cita as 
contribuições de Van Hassel et al. (2012) e Bagot et al. (2009 apud NANINCK; 
LUCASSEN; KOROSI, 2015), nas quais há referência à variação do nível de cuidado 
recebido nesse período com as respostas ao estresse e às funções cognitivas tardias. 
Quanto maior a agressão (não cuidado), piores as respostas e o desenvolvimento 
posterior. Acredita-se que essa resposta do meio é capaz de atuar plasticamente no 
desenvolvimento cerebral, diminuindo a capacidade de desenvolvimento satisfatório 
posteriormente. Essa inter-relação está presente em todo o nosso cotidiano. A cada 
ação ou intenção de ação, os sistemas físico e cognitivo, de modo indissociável
e 
entrelaçados, entram em funcionamento simultâneo, utilizando a bagagem já 
adquirida e lançando-se a novos desafios para o novo ato. 
O ambiente que acolhe e desafia é a base de influência do input, assim como 
a sua constância e repetição exercem efeitos nas organizações e estruturas corticais, 
ampliando a potencialidade de crescimento da arborização dentrítica. É sabido que 
há uma maior expansão da neuroplasticidade nos meses iniciais de vida, mas esse 
processo não se interrompe por todo o desenvolvimento maturacional nem mesmo na 
vida adulta. Conceitos como plasticidade cerebral estão ligados ao de reorganização 
funcional quando atrelados ao espaço de aprendizagem. O desafio se apresenta ao 
campo de aprendizagem, na medida em que procuramos quais os caminhos a serem 
percorridos e que atinjam de forma efetiva o desenvolvimento global do sujeito. A 
estimulação permanente não é fruto apenas de processos formais de escolarização 
ou estimulação, sequer de apenas exercícios repetitivos do corpo ou do aprender. É 
um processo contínuo, no qual elementos e comportamentos cotidianos, 
permanentemente apresentados e exigidos, estimulam a complexidade relacional e 
interativa. (ROTTA; ET AL, 2016). 
Os processos que descrevemos ao longo deste estudo representam apenas 
uma parte – uma parte que fez diferença e criou novos significados nas estruturas 
cognitivas – de todo um processo e um olhar interventivo. A grande característica foi 
ter rompido com a linearidade com que esses corpos cognitivos eram desenvolvidos 
e construídos. Em muitas situações, o que se percebe é a descrição de uma nova 
forma de interação, que coloca todo o sistema em crise, na busca de uma nova 
 
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solução. Sabemos que o sistema límbico, constituído pelos órgãos que regulam as 
funções mais primitivas além dos nossos órgãos do sentido, regula as emoções e 
também está relacionado com as aprendizagens. Isso reforça a ideia de que, mesmo 
nas instâncias primárias, o processo de aprendizagem constitui uma fonte de registro, 
possibilitando as trocas com o meio e registrando as impressões do meio sobre o 
sistema. (ROTTA; ET AL, 2016). 
O sistema como um todo está previsto ontogeneticamente, porém muitos são 
os intercursos que podem interferir nesse processo, tanto sobre o aspecto objetivo ou 
físico, como nos múltiplos aspectos subjetivos a que somos apresentados desde antes 
do nosso nascimento. Isso afeta nosso desenvolvimento e, consequentemente, nossa 
forma de absorver o mundo e de colocarmos o nosso desenvolvimento em pleno 
funcionamento. Sob o aspecto mais formal da aprendizagem, a incompletude de um 
processo esperado no desenvolvimento pode ser vista como um problema ou uma 
dificuldade, muitas vezes ganhando contornos ou nomenclaturas próprias as quais 
denominamos como diagnósticos. É uma forma de delimitar e reconhecer as etapas 
de funcionamento que ainda não correspondem, quer pelo tempo quer pela estrutura, 
ao esperado dentro daquela etapa de desenvolvimento. (ROTTA; ET AL, 2016). 
1.3 Sobre a rede subjetiva que envolve o corpo 
A constituição física serve como um balizador do desenvolvimento. Há uma 
previsão generalizada que atravessa cada ser na expectativa de ser cumprida. Sob 
uma visão macroscópica, uma grande parte da população cruza essa linha de forma 
similar, criando a ideia de que há uma expectativa e uma normalidade para cada parte 
do desenvolvimento. Entretanto, os múltiplos processos encadeados para que isso 
ocorra apresentam sempre um desenvolvimento peculiar a cada indivíduo, refletindo 
o modo singular em que cada estrutura se organiza, seus pontos de apoio e suas 
dificuldades. Na massa homogênea, tendemos a imaginar que todos os seres 
adquirem conhecimento de forma similar, porém, na particularidade de cada um, 
criamos nossas redes internas, nossos caminhos sinápticos e maturacionais, criando 
nossas características individuais. (ROTTA; ET AL, 2016). 
Nossa rede neural, que ajuda a sustentar a nossa aquisição de conhecimento, 
é permeada por um mapa constitutivo, por elementos que chamamos de 
 
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subjetividade. A subjetividade é fruto do resultado do corpo com o ambiente, dos 
entraves e das soluções encontradas para cada choque de sobrevivência da nossa 
existência no mundo. Parisi (2003) refere que o cérebro e o corpo são uma máquina 
física, enquanto a mente, uma máquina simbólica. O que o autor chama de mente 
refere-se ao que aqui chamamos de subjetividade. Referenda o autor que o grande 
desafio da atualidade é estudar os aspectos biológicos e pós-biológicos dos seres 
humanos em um esquema teórico unitário e com uma mesma metodologia de 
pesquisa. Já se sabe que o comportamento que é determinado pela rede neural 
também é por ela construído. A costura feita entre a genética, a biologia e a 
aprendizagem é que determina nossa mutante constituição, inclusive no campo da 
aprendizagem formal. (ROTTA; ET AL, 2016). 
A relação do corpo é uma relação de sustentação. Ao permitir que conexões 
sejam formadas, permite-se que a estrutura entre em contato e permute com o 
ambiente, formando um registro interno dessas trocas. Esse registro, subjetivo e 
simbólico, é a fonte de todo o nosso processo de conhecimento. Segundo Imbasciati 
(1998, p. 147) “[...] o nosso mundo interno é completamente diferente do externo, no 
entanto é o modo que tem à sua disposição para conhecer o externo”. Desde o início, 
os inputs que resultam das interações com o externo formam as nossas simbolizações 
mais primitivas. Essas simbolizações iniciais servirão para a continuidade do processo 
cognitivo que nos acompanhará por toda a vida. Essas referências simbólicas servirão 
também para a aquisição da linguagem e as representações do pensamento. As 
unidades semânticas que sustentam as relações com o conhecimento estão 
intimamente ligadas às percepções do sujeito sobre o meio, suas respostas 
corpóreas, suas interações emocionais e os registros subjetivos dessa vivência. 
Muitas dessas atividades, pela sua complexidade afetiva e relacional, ocorrem em 
instâncias não plenamente conscientes do sujeito, deixando marcas de agrado ou de 
repelência, mesmo que não haja um motivo explícito que assegure isso. Podemos 
inferir que essa unidade primitiva, sob a qual estarão apoiadas as demais, nasce de 
uma interação com o meio que receberá também uma carga afetiva. No campo das 
emoções, esse afeto estará ligado a toda a cadeia de elementos que estará coligada 
às ações que o sucederem. O simbólico que sustenta o conhecimento nasce do afeto 
e da relação com o mundo. A cada circunstância em que o conhecimento for acionado, 
 
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o afeto também o será, muitas vezes com respostas físicas a esse momento, tanto 
para o lado produtivo quanto para a sua rejeição. (ROTTA; ET AL, 2016). 
O campo simbólico é o espaço presente que converge o físico e o cognitivo por 
meio da sua representação. Consequentemente, é nesse espaço de confluência que 
muitas vezes detectamos as dificuldades de um lado ou de outro, mesmo quando 
aparentemente nada se apresenta. 
As dificuldades dentro de um processo de aquisição de conhecimento é um 
balizador das linhas desenvolvimentistas. Muitas vezes, as dificuldades representam 
a originalidade na forma de aprender ou as estruturações peculiares a cada um. Todas 
as linhas de desenvolvimento foram construídas pelo contraponto da diferença. Ao 
percebermos que algo ou alguém não estabelecia um paralelo com os demais, pontos 
de divergência foram identificados, mapeando a busca da linha da expectativa. A 
diferença marca as múltiplas possibilidades que o humano apresenta diante de uma 
determinada situação. Possibilita que enxerguemos de que forma são construídas as 
obviedades esperadas a cada um. Porém, uma diferença também marca um ser 
humano. Marca um ser que, diante de expectativas, expõe seu modo de construir 
conhecimento e afeto e nem sempre sente que o atingiu
de forma satisfatória. 
(ROTTA; ET AL, 2016). 
Para Imbasciati (1998), a representação do elemento cognitivo é, muitas vezes, 
uma imagem, um elemento preciso sob o qual convergem variações que o completam 
ou o delineiam, formando um significado compartilhado por mais de uma pessoa. No 
afeto, ao contrário, a representação se mostra difusa, pouco apreensível, mas com 
uma força intensa a ponto de fazer uma conexão indissolúvel ou um afastamento 
extremado, de bloquear um sistema inteiro de significados e representações. 
Para Canguilhem (2011), anomalia é uma consequência da variação individual, 
porém, a diversidade não é uma doença. O anormal não é patológico. O pathos, que 
se refere ao patológico, está relacionado com o sentimento de sofrimento e 
impotência. Cabe aqui esclarecer que estamos falando de processos diferentes pelo 
seu tempo, pela forma de desenvolvimento ou mesmo pelos elementos necessários 
para a aquisição de um determinado conhecimento. O sofrimento nem sempre recai 
sobre a variação na forma como se adquire o conhecimento, mas sobre a 
impossibilidade de adquiri-lo na mesma linha dos outros, na mesma etapa de 
desenvolvimento. 
 
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Quando pensamos nessas dificuldades em um padrão formal de aquisição de 
conhecimento, como o processo de escolarização, o elemento visível quase sempre 
é a impossibilidade daquele que aprende. Para uma criança, pelo atrelamento entre 
afeto e representação, é muito frequente confundir que aquilo que ela faz é aquilo que 
ela é. Por perceber-se diferente dos demais, tende a imaginar-se improdutiva ou 
incapaz, tomando a sua singularidade como um invólucro permanente e incapacitante. 
(ROTTA; ET AL, 2016). 
Os processos de aprendizagem estão entre os primeiros contatos explícitos da 
criança com o meio que a cerca. Há uma expectativa de todos para que ela 
desenvolva as mesmas habilidades dos demais no tempo médio previsto. Esses 
processos são o primeiro ponto de conflito interno, colocando toda a estrutura em 
alerta, acionando representações e afetos para que um resultado seja produzido. A 
aprendizagem é, certamente, um processo de autoconhecimento contínuo, que acaba 
por determinar nossas relações com o meio, por toda uma vida. A absorção do 
conhecimento assim como a sua repulsa nos ilustram a luta interna entre ser e ter, 
entre o que é esperado e o que é possível de ser construído. 
Não há como não reconhecer a diferença de um determinado sujeito em 
relação aos seus pares na aquisição do conhecimento ou em qualquer outro elemento 
do desenvolvimento. Contudo, a marca da diferença muitas vezes não serve como 
norteadora, mas como elemento de estigma e de temor sobre todo o futuro do 
aprendente. Muitas crianças apresentam elementos explícitos, físicos e visíveis, como 
uma lesão ou uma síndrome, e podem muitas vezes ser definidas ou reconhecidas a 
partir de tal elemento. Mesmo que isso não seja agradável, é lido como um elemento 
limitador. Por outro lado, crianças que não apresentam nenhum elemento visível ou 
explícito tendem a fusionarem com o problema, imaginando que é ela, a criança, uma 
incapaz para o processo. A criança tende a ser vista – e a assumir esse papel – como 
impossibilitada no processo de aprendizagem. Quando não revertida, essa marca 
pode ser o organizador do futuro e de todo o modo como a criança vai se relacionar 
com a aquisição dos mais variados conhecimentos ao longo de toda a sua vida. 
(ROTTA; ET AL, 2016). 
 
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1.4 Sobre a psicopedagogia e a construção de rotas alternativas 
Situada entre a busca de compreensão e a possibilidade de intervenção sobre 
o aprender humano, a psicopedagogia caracteriza-se por oferecer um espaço de 
ressignificação da aprendizagem. O encontro do sujeito com o campo/espaço 
psicopedagógico ocorre no momento em que suas estruturas, ferramentas e 
estratégias internas mostram-se insuficientes para atender às demandas externas 
(escolares, acadêmicas, profissionais). Sem conseguir superar suas fragilidades 
sozinho, o sujeito e sua história chegam ao espaço psicopedagógico. 
Rotta; et al, (2016), aduz que: um percurso individual e único caracteriza um 
paciente. Nesse sentido, a psicopedagogia deve oferecer um espaço singular de 
reconstrução do processo evolutivo na aquisição do conhecimento. 
O espaço psicopedagógico é, metaforicamente, a exposição do espaço 
simbólico do aprendente. Não é tanto a quantidade de materiais ou sua diversidade 
que determinam o tratamento, mas sim a capacidade de transformação do espaço 
interno, de intervenção, de reconstrução. A psicopedagogia, mesmo quando 
sistematizada por meio de produções ou organizações de escrita ou cálculo, busca 
conectar o sujeito com suas capacidades, com o reconhecimento das potencialidades 
que ele mesmo acredita que tinha perdido ou não possuía. Os materiais pedagógicos 
para a psicopedagogia, assim como os medicamentos para a medicina são 
intermediários e não o fim em si, pois servem de apoio para a expressão das 
representações internas e devem propiciar a mobilidade necessária para a expressão 
do sujeito. Estão mais ligados à criatividade reparadora do que à repetição 
sistemática, tal como nos aponta Corso (2007, p. 86): 
[...] tenho elegido como estratégias terapêuticas propostas que evidenciem a 
atividade criadora do paciente. Tais propostas se aproximam de uma 
atividade mais espontânea e prazerosa. Além disso, configuram uma 
expressão simbólica que resulta de processos simultaneamente intelectuais, 
motores e afetivos – sendo, por isso, estratégias tão integradoras. 
O espaço interno, por ser constituído de elementos subjetivos, como imagens 
e sensações, permeados pelos mais diferentes afetos, tende a ligar-se a elementos 
que possibilitem a expressão dessas referências internas. Em sua maioria, os sujeitos 
que buscam o espaço psicopedagógico, nas mais diversas etapas da vida, 
conectaram esses elementos internos com expressões de incapacidade ou 
 
15 
 
impossibilidade sobre o aprender. O ambiente, por meio de sucessivas experiências 
dolorosas e frustrantes, reforçou a ideia limitadora sobre o aprender. Nesse sentido, 
por meio da intervenção psicopedagógica, intenciona-se transformar, reconstruir, 
ressignificar. Para Leonhardt (2006, p. 242), tal processo envolve a reconfiguração 
dos “ciclos de inibição” simbólica em “ciclos de progressos”. 
Por meio de estratégias de ação psicopedagógica que retomem caminhos de 
integração entre sentimento, ação, pensamento, linguagem e aprendizagem 
cultural, objetiva-se a reconstrução criativa de uma inserção escolar e 
profissional satisfatória em ritmo, eficiência e adequação às exigências 
transformadoras. 
Todo ato de aprender é fruto de uma frustração. É fruto do reconhecimento da 
nossa insuficiência sobre um determinado ato ou aquisição e, partindo dessa 
consciência dolorosa de ignorância, o corpo físico e subjetivo busca uma nova 
aquisição, um novo modo de enfrentar o que se apresenta. Serve de exemplo a 
passagem física do engatinhar para o andar, para o subir e correr, assim como servem 
de exemplos as nossas aquisições de letras para palavras e para textos, em diferentes 
níveis de compreensão. A cada uma dessas etapas, o que inicia o processo de 
ampliação dos comportamentos anteriores é a frustração ou o impedimento de 
executá-lo. O sujeito precisa reunir o conhecimento existente e se lançar ao 
desconhecido, ao risco de uma atitude diferente para avançar. Nem sempre isso 
ocorre de forma imediata, mas certamente abre a perspectiva de que novos caminhos 
são possíveis nas próximas insistências. (ROTTA; ET AL, 2016). 
A aprendizagem está, em primeira instância, mais ligada à nossa capacidade 
de reconhecer e aceitar as limitações do que necessariamente compreendê-las. 
Muitas das dificuldades não são compreensíveis ao próprio sujeito, cabendo a um 
outro esse papel de decodificador. 
A experiência clínica e educativa nos mostra o
quão onipresente está essa 
perturbação. Sob a forma de um mal-estar subjacente, o embotamento da crença de 
um fazer ilimitado se torna presente. O não aprender vai balizando o não fazer, o não 
se arriscar na vida do sujeito. A dificuldade vai minando a crença do sujeito na sua 
capacidade de evoluir, de ambicionar e de interessar-se pelo risco do novo aprender. 
A perturbação que pode receber a nomenclatura da disfunção que se torna visível, 
como desatenção, dificuldade de memória, hiperatividade, muitas vezes é fruto de 
uma produção subjetiva de impossibilidades que atinge o corpo e só se torna visível 
 
16 
 
por meio dele. Não estamos afirmando que o corpo não adoece primeiro, mas todo 
adoecimento corpóreo também atinge e é atingido por um adoecimento no campo 
simbólico. Quem quer que seja que detecta essa dificuldade deve compreender que 
não há apenas um caminho psíquico-emocional, cognitivo ou corpóreo, senão um 
único sujeito que sofre em vários níveis. (ROTTA; ET AL, 2016). 
Aos profissionais, cabe o trabalho de transcender a essa ideia 
impossibilitadora. Poeticamente, poderíamos dizer que nosso trabalho é traficar a 
transcendência do sujeito. De forma sutil, oferecer doses de pequenos prazeres e 
sucessos que vão minar a antiga estrutura, provocando um alívio nas angústias e 
ansiedades que recobrem e escondem o sujeito. A ideia de traficar é acentuada pela 
ideia de que há uma regra estabelecida, pela própria história do sujeito, sua família e, 
geralmente, sua escolarização, que necessita ser burlada como forma de arregimentar 
o sujeito para uma nova experiência, mesmo contra toda uma imagem familiar e 
histórica que nos é mostrada na chegada ao tratamento. (ROTTA; ET AL, 2016). 
Como um desenho ensinado a ser copiado, o sujeito e sua história repetem em 
níveis diferentes as frustrações e dificuldades ao longo da vida. Esse processo, que 
envolve seu entorno, abarca também as expectativas familiares, os desejos e os 
sonhos daqueles que cuidam ou revelam o descuido e a desatenção sobre aquele que 
sofre. Muitos laços se rompem, muitas expectativas frustradas transformam-se em 
raiva e dor, negligências aparecem para encobrir feridas familiares. O processo do 
aprender é um processo coletivo, transversal e dinâmico que envolve quem executa 
e partilha os resultados dessa execução. A impossibilidade ou incompletude arrasa 
um significativo número de investimentos, dizimando sonhos por todos os lados. Rosa 
e Lacet (2012, p. 362), ao se referirem ao novo formato familiar, relatam os achados 
de outros autores, como Bernardino e Kupfer, sobre as transformações sofridas pela 
família contemporânea: 
[...] apontam para a mudança de um modelo que vigorava até o século 
passado, no qual a criança permanecia no ambiente familiar até sua entrada 
na pré-escola, por volta dos dois, três anos, para sua entrada mais precoce 
no ambiente social. Relatam que nessa passagem a família como lugar de 
segurança e referência para a criança é substituída precocemente por um 
ambiente social e comunitário com suas respectivas leis, em que é 
introduzida por pessoas que não lhe são familiares, numa transmissão, via 
de regra, técnica e anônima. 
 
17 
 
Amarrar pontos da rede que ficaram arrebentados é também uma decorrência 
da reconfiguração a partir do espaço psicopedagógico. Essa amplitude é o que 
sustenta a condição do espaço psicopedagógico, que se mostra terapêutico pela nova 
reconfiguração que possibilita construir as novas relações com o conhecimento. Ao 
redesenhar criativamente a relação com o aprender, esse traço configura um novo 
horizonte para os envolvidos ali representados. 
A exigência primeira acaba sempre sendo a premente necessidade de 
reordenar o sujeito a partir de uma tarefa, implícita ou explícita. O pedido que se 
apresenta em qualquer espaço terapêutico, médico, psicológico ou psicopedagógico, 
e o pedido de ajuste ou supressão de sintomas ou doenças. Tal objetivo tem seu valor 
e sua necessidade, mas deve partir do olhar sobre a criança e a configuração que seu 
universo interno apresenta. Do mesmo modo que uma medicina cuidadosa utiliza o 
medicamento como auxílio e não como fim, a atitude psicopedagógica não está 
centrada na tarefa, mas sim na aprendizagem cultural ou no conhecimento. Nesse 
sentido, a intervenção psicopedagógica está (em certa medida) centrada na inserção 
do sujeito na cultura, na apropriação dos elementos histórica e culturalmente 
construídos que envolvem a linguagem, a escrita, os números, o conhecimento 
científico, entre outros aspectos. (ROTTA; ET AL, 2016). 
A pressão implícita, porém intensa, pelo resultado pode fazer nosso objetivo se 
transformar na eliminação do sintoma como objetivo principal. Entenda-se que o 
sintoma no campo psicopedagógico ou da aprendizagem, tal como nos aponta Paín 
(1985) e Filidoro (1999), foi o modo como aquela estrutura conseguiu reagir a um 
determinado conflito, sendo que, sob esse sintoma, há um sujeito a ser observado. 
O que chamamos de sintoma no processo de aprendizagem é fruto de dois 
elementos opostos, a sofisticação e a imaturidade. Por um lado, na imaturidade, temos 
a ausência de elementos adequados para a resolução de uma determinada situação, 
seja ela física ou cognitiva, demonstrando que naquele sistema alguns elementos 
ainda se mostram incapazes de assumirem determinadas atitudes ou ações. De outro 
lado, na sofisticação, temos a compensação elaborada por outras partes com o intuito 
de buscar um equilíbrio interno do sujeito. A neurologia nos apresenta casos em que, 
na ausência de um funcionamento adequado de uma área específica, outra área pode 
assumir, resguardando o funcionamento, ainda que com o sacrifício ou a ineficiência 
nas suas execuções. Também podemos ver em atitudes de rejeição ao aprender, no 
 
18 
 
qual o sujeito sintomaticamente se afasta do processo, como forma de proteger-se do 
sofrimento advindo dali. (ROTTA; ET AL, 2016). 
As diversas manifestações sobre o aprender, partindo do corpo, recoberto pela 
psicomotricidade e pelas inúmeras funções subjetivas que constituem o aprender, 
podem ser explicitadas nas funções executivas. As funções executivas, produto do 
interstício entre o funcionamento neuronal e a organização da cognição, são 
representativas da integridade das dimensões diversas do sujeito. 
Nesse campo subjetivo, podemos, ilustrativamente, imaginá-lo como um mapa 
com inúmeras possibilidades de rotas e caminhos, mas no qual apenas alguns deles 
estão assinalados. Alguns caminhos levam a lugares paradisíacos ou divertidos, onde 
o caminho é curto ou ao menos com belas paisagens. Por outro lado, há caminhos 
que a nada levam, podendo muitas vezes trazer o sujeito de volta ao seu ponto de 
início, em um círculo fechado e enfadonho. Por vezes, alguns desses caminhos 
difíceis apresentam-se cobertos de densa vegetação ou apontam por um terreno 
pantanoso que a poucos interessa. O mapa ainda apresenta uma série de indicações 
de caminhos a serem trilhados ou terrenos nos quais nenhuma marca se apresenta, 
indicando que ainda há caminhos a serem descobertos. O mapa é uma metáfora das 
funções executivas de qualquer ser humano. Todos temos pântanos e praias, todos 
temos caminhos difíceis ou inacessíveis no campo do conhecimento, porém, nem 
todos sabem ler o mapa ou, principalmente, escolher um caminho que torne a sua 
jornada mais agradável, mesmo quando trilhada sobre zonas lúgubres. (ROTTA; ET 
AL, 2016). 
As funções executivas, segundo Mourão Junior e Melo (2011, p. 309), podem 
ser descritas como a função cortical que 
[...] é requerida sempre que se faz necessário formular planos de ação ou 
quando uma sequência de respostas apropriadas deve ser selecionada e 
esquematizada. Do ponto de vista da neuropsicologia a função executiva 
compreende os fenômenos de flexibilidade cognitiva e de tomada de 
decisões. Atualmente é sabido que os módulos corticais
responsáveis pelas 
funções executivas se localizam nos lobos frontais direito e esquerdo. 
Essas funções corticais e cognitivas não nascem como um mapa pronto, mas 
são construídas pelas experiências e exigências dos campos trilhados. Ela reflete a 
condição física e subjetiva em um mesmo mapa, sendo possível intercambiar entre 
esses dois espaços (condições). 
 
19 
 
Os trabalhos do âmbito psicopedagógico atuam nesse mapa, permitindo que, 
por meio de novas descobertas e do caminhar em novas trilhas, ocorram mudanças, 
inclusive físicas. A ideia de que o ambiente modifica o sujeito tem sua 
representatividade nas funções executivas, uma área que congrega toda a 
subjetividade dos diversos campos do conhecimento, sem pertencer exclusivamente 
a nenhum deles. (ROTTA; ET AL, 2016). 
A intersecção do trabalho de diferentes profissionais assim como a visível 
melhora no campo sintomático podem ser vistas como fruto da combinação de 
estímulos diferentes em um mesmo território, forçando a construção de um novo 
caminho, a partir do mapa trazido pelo sujeito. A alteridade provocada pelas diversas 
áreas de atuações e suas contribuições confluem para uma intersecção de auxílios, 
permitindo que a sua área específica de atuação seja modificada pelos demais, ao 
mesmo tempo em que atua e auxilia no propósito de outros. O sujeito que traz o mapa 
é sempre o principal atuante do processo. A leitura e as novas veredas não são feitas 
de modo passivo, mas sim pela oferta e pela participação permanente sobre seu 
próprio desenvolver, sobre as trilhas que oferta e caminhos que deseja seguir. 
Nenhum trabalho é realmente profissional se não for capaz de incluir um olhar sobre 
aquele que se submete e confia. (ROTTA; ET AL, 2016). 
Uma rota não é um caminho. Uma rota é uma direção, um local de desejo a se 
chegar. O caminho é a trilha que nasce do esforço que se faz para que o objetivo seja 
alcançado, mesmo que se tenha de passar por etapas difíceis, desconhecidas ou 
angustiantes. Muitos profissionais iniciam a jornada sem a clareza de quais os 
caminhos a serem seguidos. Levam apenas a bússola do próprio conhecimento e um 
desejo de trilhar junto até o final. 
A difícil ação terapêutica, em qualquer área do conhecimento, é sempre um 
trabalho laborioso, de ensaios e acertos, de descobertas e singularidades. A ação 
terapêutica é uma ação de conforto, mesmo quando decisões difíceis e apostas 
devem ser tomadas. A ação psicopedagógica, que constrói conhecimentos e novas 
formas de conhecer, faz parte desse fazer, apoiada na sua própria rede de 
conhecimentos e na trama de saberes com quem dialoga para ajudar a quem solicita. 
(ROTTA; ET AL, 2016). 
 
20 
 
2 TEORIAS DA APRENDIZAGEM 
As teorias da aprendizagem compreendem um amplo espectro de abordagens 
e conceitos, elaborados a partir da visão de diversos teóricos e com influência do 
contexto social e histórico nos quais se inserem. Conforme as pesquisas de muitos 
desses teóricos, a aprendizagem pode ser flexível em sua multiplicidade de 
possibilidades, que atravessam o tempo e as transformações sociais. (LOPES, 2019) 
2.1 Psicologia da educação: principais pesquisadores 
Em meio à lógica racionalista do século XIX, a psicologia tomou seus primeiros 
contornos enquanto ciência, inicialmente, desenvolvendo seus estudos com base em 
observações sistemáticas e com a criação de métodos experimentais, ambos com 
isenção de pressupostos, por meio do distanciamento de conhecimentos do senso 
comum, e objetivando a verificação de manifestações puramente externas. 
Até o final do século XIX, a psicologia se relacionou com a educação através 
da filosofia, sendo esta relação geradora de conceitos psicológicos sobre o 
desenvolvimento dos processos educativos viáveis para a formação da base da 
psicologia da educação. A filosofia influenciou diretamente os modos de elaboração 
de intervenções da psicologia em ambiente educativo, particularmente em ambiente 
escolar 
Essas concepções iniciais foram ponto de partida para muitos teóricos 
despertarem seus interesses e desenvolverem de maneira mais aprofundada suas 
teorias. Dentre esses teóricos se destacam Sigmund Freud, Jean Piaget, Henri Wallon 
e Levy Vygotsky, autores cujos estudos contribuíram diretamente para a área da 
educação. (LOPES, 2019). 
2.1.1 Sigmund Freud (1856-1938) 
Reconhecido como pai da teoria psicanalítica, inovou o campo teórico da 
ciência psicológica ao aderir o corpo biológico ao funcionamento da mente. Ou seja, 
a partir de sua visão enquanto fisiologista, Freud buscou conexões entre os 
pensamentos neurológicos e pensamentos filosóficos. Em suas pesquisas, Freud 
 
21 
 
referiu sobre o funcionamento da sexualidade humana, entendendo-a como 
influenciadora dos processos mentais e criando, dessa maneira, as teorias 
psicossexuais. (LOPES, 2019). 
As teorias psicossexuais de Freud foram pioneiras em atribuir o conceito de 
sexualidade ainda nas primeiras fases do desenvolvimento humano e colaboraram de 
maneira significativa para a educação, ao entender o funcionamento psíquico em três 
setores: o inconsciente ou id, relacionado aos desejos, motivações e impulsos 
primitivos, inerente a todos os seres e estruturante dos demais setores; o pré-
consciente ou superego, relacionado à constituição de valores morais e culturais, 
atuando como uma censura; o consciente ou ego, relacionado ao modo de interagir 
com a realidade do contexto, buscando equilíbrio entre a realização dos desejos mais 
primitivos com sua adequada expressão ao ambiente (FREUD, 1997). 
2.1.2 Jean Piaget (1896-1980) 
Também desenvolveu sua visão sobre a educação baseada em estágios do 
desenvolvimento, indo do que chamou de período sensório motor – entre o 
nascimento até os dois anos de idade – ao período operatório abstrato – dos doze 
anos de idade em diante. Piaget referiu especial importância à interação da criança 
com seus pares, com seu professor e com a escola, ambiente responsável por 
proporcionar uma ampliação dos processos de assimilação, mediante a promoção de 
atividades que estimulem e desafiem, motivando a aprendizagem por meio de 
desequilíbrios e reequilíbrios de maneira ininterrupta. Dessa forma, o sujeito, na visão 
de Piaget, é um elemento ativo que busca compreender o contexto em que está 
inserido, construindo problematizações constantes sobre sua noção singular de 
mundo e buscando perceber, também, sua influência nesse contexto. 
Piaget propõe uma ideia de sujeito intelectualmente ativo, que observa, 
questiona, compara, classifica, ordena, constrói e reconstrói hipóteses. Assim, na 
visão piagetiana, a educação deve promover uma composição de sujeitos inventivos, 
criativos e criadores em busca de autonomia e desenvolvimento contínuo e constante. 
Dessa forma, a escola é um ambiente que pode ofertar, para além dos conteúdos, 
uma possibilidade de conceber novas maneiras de aprender. (LOPES, 2019). 
 
22 
 
2.1.3 Henri Wallon (1879-1962) 
Militante em essência, coordenou um projeto, o Langevin-Wallon, que propunha 
uma educação com garantias de direitos e reconhecimento da afetividade no processo 
de aprendizado. Wallon fez referências ao copo orgânico, afetivo e social, com forte 
respeito às emoções na aprendizagem, estruturando suas teorias em quatro bases: o 
movimento, referindo-se à liberdade de expressão corporal como conector para a 
assimilação do conhecimento; a afetividade, com seu conteúdo emocional, por meio 
da percepção e da elaboração das emoções; a inteligência, como processo a ser 
estimulado em consonância ao modo de ser e estar no mundo; e a formação do “Eu”, 
como ser constituído e constituinte no contexto no qual está inserido e no mundo. 
(LOPES, 2019). 
Na visão de Wallon, as emoções são elementos essenciais para o 
desenvolvimento do sujeito, pois são sinalizadoras de desejo, contentamento e 
disponibilidade do ser em busca de ampliação de conhecimentos acerca
do mundo e 
de si. Por isso, ao processo de aprendizagem não poderia estar aderido à reprovação 
escolar, pois a reprovação representava exclusão, negação e expulsão. 
As teorias wallonianas, ou teorias socioafetivas, referem-se a um sincretismo 
dialético, no qual concepções diferentes podem se agregar, promovendo conflitos; são 
justamente esses conflitos fundamentais para o desenvolvimento da aprendizagem e 
do intelecto. Aspectos como esses atribuíram uma noção de humanização da 
educação às teorias de Wallon. (LOPES, 2019). 
2.1.4 Lev Vygotsky (1896-1934) 
Apesar de não ter realizado formação em psicologia e embora tenha tido uma 
vida breve, foi um dos maiores colaboradores para a psicologia do século XX, sendo 
o inspirador dos primeiros estudos da psicologia cultural-histórica. Chegou a produzir 
cerca de duzentas obras, nas quais seu objeto de maior interesse foi o 
desenvolvimento mental dos sujeitos e, por isso, concedia especial importância ao 
conteúdo das propostas pedagógicas. 
Na teoria de Vygotsky, os signos e a linguagem simbólica são instrumentos de 
mediação entre o universo interno do sujeito e a realidade. Para Vygotsky, a 
 
23 
 
aprendizagem se desenvolve desde o nascimento, pois, em seu entendimento, os 
sujeitos só despertam seu desenvolvimento conforme aprendem. A partir dessa teoria, 
o modo como cada sujeito aprende tem relação, também, com a disponibilidade do 
apoio educacional. Assim, em suas obras, Vygotsky relaciona os conceitos e as 
tarefas que a criança consegue assimilar sozinha como zona de desenvolvimento real, 
e os que a criança não realiza sozinha, mas desempenha quando instruída e 
ensinada, como zona de desenvolvimento proximal, defendendo que a prática 
educativa deve atuar como mediadora e facilitadora desses desenvolvimentos. 
(LOPES, 2019). 
ATENÇÃO: 
Para Vygotsky (1988), a linguagem é uma construção social, viável para promover 
mudanças tanto nas funções psicológicas, como na formação do pensamento, da 
memória e da atenção, quanto na aptidão para ater-se aos estímulos do contexto e 
promover transformações nas escolhas. 
2.2 Teorias da aprendizagem: correntes teóricas 
A aprendizagem, como movimento integral e incessante de contínuo 
desenvolvimento, inerente a todos os seres ao logo de sua trajetória de vida, eclode 
globalmente com amplo espectro de influência individual ou coletiva. Aprender é 
reflexo de relações criadas com o contexto, conforme seus aspectos afetivos e 
possibilidades de criação com o social. Dessa maneira, cada sujeito tem, em si, um 
processo único para o desenvolvimento da aprendizagem (ALLPORT, 1973). 
A aprendizagem se desenrola conforme a subjetividade do viver de cada sujeito 
e se manifesta em um tempo determinado por ocorrências especificas de cada existir. 
Os conhecimentos produzidos pelo processo de aprendizagem, bem como os modos 
de assimilação e fixação desses conhecimentos, e ainda qual é a posição do sujeito 
diante desse processo, são alguns dos questionamentos que alguns teóricos 
utilizaram para desenvolver as teorias de aprendizagem. 
As teorias de aprendizagem são provenientes de duas teorias base da ciência 
psicológica: o inatismo, que designa o objeto como fonte do conhecimento, 
estabelecendo para a aquisição e apreensão da aprendizagem os níveis de 
pensamento, ou seja, todas as características básicas para o desenvolvimento da 
 
24 
 
aprendizagem estão presentes no sujeito antes mesmo de seu nascimento, por meio 
de uma transferência hereditária; e o empirismo, que tem como base o aprendizado 
promovido pela experiência com o ambiente, potencializando o modo como o sujeito 
percebe esses estímulos ambientais, dos mais simples aos mais complexos. (LOPES, 
2019). 
As teorias de aprendizagem são modelos que organizam padrões para 
viabilizar a explicação acerca do modo como os sujeitos aprendem e não 
necessariamente como a mente funciona, mas compreendendo um entendimento 
sobre seu desenvolvimento biopsicossocial. Dentre as principais sustentações 
teóricas em teorias da aprendizagem, é possível destacar, a partir das bases da 
ciência psicológica, o racionalismo e o ambientalismo. 
O ambientalismo, também conhecido como empirismo ou associacionismo, 
teve sua sustentação nas teorias de John Locke (1632-1704), filósofo inglês 
reconhecido como criador do liberalismo. Constituiu o conceito de “tábula rasa”, no 
qual refere que todos os sujeitos nascem com sua capacidade de sentir e perceber, 
imprimindo as experiências sensório-motoras a partir dessa base fundamental. Outro 
teórico que é referência para o ambientalismo é David Hume (1711-1776), que discute 
a construção do conhecimento por meio da interação do sujeito com o ambiente, 
percebido através dos cinco sentidos, de modo que, a partir disso, nenhum 
conhecimento se construiria sem passar pelos sentidos. (LOPES, 2019). 
Esses conceitos iniciais do ambientalismo deram origem ao behaviorismo ou 
comportamentalismo, do russo Ivan Pavlov (1848-1958) e do americano John Watson 
(1878-1958), trazendo o conceito de que estímulos do ambiente geram respostas. O 
behaviorismo entrou na educação por Burrhus Skinner (1904-1989), que, a partir de 
seus experimentos, propôs que a aprendizagem está relacionada aos estímulos que 
gerarão respostas, que podem ser determinadas ou encaminhadas por reforço 
positivo ou reforço negativo, promovendo o processo de condicionamento e, por 
consequência, o comportamento complexo, com a combinação de uma série de 
condutas simples. Por exemplo, ao caminhar, inicialmente o bebê aprende a firmar o 
abdômen e as costas, em seguida, aprende a sentar, para, então, arrastar-se ou tentar 
erguer-se e, por fim, caminhar; ou seja, ações simples condicionadas pela repetição 
e pelo reforço positivo do ambiente, como o incentivo dos pais ou cuidador, que ao 
 
25 
 
insistirem em produzir mais comportamentos simples, levam ao caminhar, que se 
constitui como um comportamento complexo. 
Para o behaviorismo, o papel do educador é o de estimulador, como um 
treinador que se disponibiliza de modo a oferecer estímulos que gerem situações que 
promovam assimilação da aprendizagem. As aulas são sucessões de estímulos que 
objetivam transformar uma resposta zero, sem reação, incondicionada, ou seja, com 
reação que não necessita de aprendizagem ou resposta instintiva, em resposta 
condicionada, que é uma reação produzida após percepção de estímulos que levam 
a uma aprendizagem. A avaliação, para o behaviorismo, desenvolve-se em função da 
resposta certa condicionada para o estímulo correspondente. (LOPES, 2019). 
Outro ponto de destaque para o behaviorismo é com relação ao conceito de 
livre arbítrio. Para o behaviorismo, livre arbítrio é um mito, uma ilusão, é inexistente, 
pois todas as respostas são geradas a partir de um estímulo do ambiente, assim como 
o modo de ser individual de cada pessoa; portanto, os sujeitos são modelados 
inteiramente pelo ambiente exterior. 
Dessa maneira, para o behaviorismo, com a alteração do ambiente as 
emoções, os pensamentos e comportamentos são alterados, de modo que o ambiente 
determina a natureza humana. Não é a natureza, mas o ambiente que influi sobre o 
modo de ser dos sujeitos. Da mesma maneira, conceitos como bom e ruim, bonito e 
feito são determinados pelo ambiente; por exemplo, em uma região onde a pimenta é 
o tempero principal das refeições, os sujeitos se acostumam com refeições bastante 
apimentadas, mas, em regiões não acostumadas com este tempero, a pimenta pode 
ser insuportável para o paladar. (LOPES, 2019). 
O racionalismo, ancorado nas ideias do inatismo e do teórico René Descartes 
(1596-1650), com seu discurso do método, não potencializa a importância dos 
sentidos para o desenvolvimento do conhecimento, que só se enfatiza a partir de 
evidências. Assim, as influências do ambiente pouco têm a ver com o modo de 
aprender. 
O racionalismo é uma corrente
filosófica que teve seu início marcado pela 
definição de raciocínio e da aprendizagem, não meramente como uma operação 
sensorial, mas sim como uma operação mental, discursiva e lógica que utiliza uma ou 
mais proposições para extrair conclusões, ou seja, forma conjunturas sobre se uma 
ou outra proposição é verdadeira, falsa ou provável. 
 
26 
 
Do racionalismo, emergiu o nativismo ou apriorismo, teoria que refere o 
conhecimento como fruto da herança genética do sujeito. A partir dessa teoria, surgiu 
o interacionismo ou construtivismo, teoria do conhecimento que visualiza o sujeito 
histórico e cultural em constante interação. O interacionismo, sob a ótica dos estudos 
aprofundados a partir de Jean Piaget, foi reconhecido como interacionismo 
cognitivista. O interacionismo sociointeracionista teve sua conceituação com base nos 
estudos de Vygotsky, ambos com entendimento sobre o sujeito implicado pela busca 
de sentido e significados no mundo. (LOPES, 2019). 
É possível pensar em uma dicotomia entre racionalismo e ambientalismo 
quando observamos que as teorias racionalistas desenvolvem seu foco no pensar e o 
ambientalismo tem foco no sentir. No entanto, percebemos também similaridades: 
tanto para os ambientalistas quanto para os racionalistas, são as experiências com o 
ambiente que geraram aquisição de conhecimento, ou seja, as condições do meio 
influenciam o desenvolvimento. No entanto, a diferença está no modo de compreender 
a devolução do sujeito para o ambiente. Dessa forma, a Figura a seguir mostra uma 
ilustração dessas teorias. (LOPES, 2019). 
 
27 
 
 
(LOPES, 2019). 
2.3 Processo de ensino e aprendizagem 
A aprendizagem é compreendida como processo que tende a oportunizar o 
desenvolvimento intelectual e a ampliação da consciência. Assim, a aprendizagem 
não está vinculada somente à condição física, como idade cronológica, experiência 
ou atributos intelectuais, mas se conecta diretamente com a formulação de estratégias 
mentais que viabilizem a estruturação e o planejamento para aquisição de 
conhecimento. 
A partir dessa perspectiva, as teorias de aprendizagem auxiliam os educadores 
a compreender como o processo de ensino se relaciona com a aprendizagem. Isto é, 
as teorias de aprendizagem promovem sustentação ao método de ensino utilizado, 
 
28 
 
permitindo a visualização do aprendizado a partir da aplicação de estratégias 
educacionais. (LOPES, 2019). 
O processo de ensino se ampara nas teorias de aprendizagem para perceber 
como o sujeito aprende, considerando sua singularidade referente a tempo, forma e 
ritmo. Ainda, o processo de ensino busca perceber aspectos emocionais, como 
motivação e identificação com a aprendizagem. 
Dentre os modelos teóricos sustentados nas teorias da aprendizagem que 
produzem mais significação sobre o processo de ensino e aprendizagem, podemos 
destacar: o comportamentalismo ou behaviorismo; o construtivismo; e o 
socioconstrutivismo. 
O comportamentalismo ou behaviorismo se sustenta no ambientalismo e 
produziu seus estudos para a aprendizagem com base nas pesquisas do psicólogo 
americano Skinner. Seus pressupostos se baseiam no condicionamento dos 
comportamentos, com o objetivo de promover uma modelagem nos sujeitos. Dessa 
maneira, o processo de ensino e aprendizagem para esta abordagem teórica se 
estrutura com a proposta de estímulos e recompensas, mediados pela resposta a 
esses estímulos, para o alcance de um resultado almejado. 
O conceito âncora para essa abordagem teórica é o estímulo-resposta. Assim, 
o ensino se constitui em meio aos conteúdos transmitidos e mediados pelo educador. 
Os educadores, assim como o conteúdo didático, têm papel fundamental, pois são os 
detentores do conhecimento ofertado. Nesse sentido, para essa abordagem, o papel 
do aluno se restringe a absorver o conhecimento, por meio da memorização pela 
repetição. (LOPES, 2019). 
O construtivismo foi constituído a partir das ideias de Piaget, com suas teorias 
sobre os estágios do desenvolvimento e da aprendizagem. Piaget não desenvolveu 
um método de aprendizagem em seus escritos, mas suas teorias geraram 
sustentação para outros teóricos, dentre os quais está Emilia Ferreiro, com pesquisas 
sobre a aquisição da escrita e da leitura em crianças (ZOIA, 2009). 
Essa concepção teórica entende que o sujeito aprende quando em interação 
com o ambiente, sendo essa aprendizagem mediada por sua capacidade de absorver 
e processar as percepções geradas em si mesmo. Ou seja, o ensino se transmite em 
meio aos processamentos sensoriais e cognitivos, indo além da disposição dos 
 
29 
 
conteúdos, provocando uma ampliação de ideias em meio à estimulação para a 
exploração do mundo em busca por respostas. 
O educador é um observador que busca explorar como os conhecimentos são 
absorvidos para, em seguida, disponibilizar elementos que provoquem o aluno. Assim, 
o aluno tem parte essencial em seu aprendizado, pois, de maneira ativa, constrói seu 
saber; a aprendizagem se desenvolve a partir das vivências e experiências. 
O socioconstrutivismo é uma abordagem teórica desenvolvida a partir dos 
estudos de Vygotsky. A aprendizagem, para esse modelo, acontece em meio a uma 
relação dialética entre o sujeito e o contexto social. Dessa maneira, o ambiente 
modifica o sujeito tanto quanto é modificado por ele. Assim, todo aprendizado é 
mediado pela interação entre sujeito, educador e contexto social (VYGOTSKY, 2000). 
O educador tem o papel de captar o desenvolvimento das estruturas mentais e 
buscar meios de promover qualidade mediante a assimilação da aprendizagem. O 
ensino deve preceder ao que os sujeitos ainda não conseguem desenvolver sozinhos 
ou não percebem como fazer. O foco dessa abordagem está na mediação, na 
interação, na relação. 
O educador atua como facilitador entre o aluno, os conhecimentos prévios 
desse aluno e a aprendizagem que necessita ser desenvolvida. O aluno aprende ao 
observar o meio, assimilando seus conhecimentos e gerenciando novas 
aprendizagens na interação com outros. (LOPES, 2019). 
 
 
EXEMPLO: 
Para desenvolver o método socioconstrutivista, o educador disponibiliza 
problemáticas em que os alunos possam encontrar respostas a partir de 
conhecimentos prévios; quando confrontados por si mesmos sobre a restrição 
desses saberes, os alunos buscarão novas formas de ampliar seus conhecimentos. 
O educador pode auxiliar indicando caminhos para a exploração, por exemplo, com 
pesquisas físicas ou virtuais, entrevistas ou experimentos. A aprendizagem se 
desenvolve de maneira colaborativa, na qual os erros são percebidos como 
constituintes do processo de aprendizado. 
 
30 
 
3 APRENDIZAGEM 
O conceito de aprendizagem possui uma natureza multiparadigmática pois 
existem muitas formas para se interpretar esse conceito. O entendimento acerca dos 
processos de aprendizagem beneficiar o entendimento do ser humano de um modo 
mais aprofundado, por esse motivo, é essencial o estudo desse conceito e desperta o 
interesse de diferentes áreas. (HEUMANN, 2018). 
3.1 O conceito multiparadigmático da Aprendizagem humana 
Através de várias perspectivas teóricas se debate o conceito de aprendizagem. 
Como forma de explicar esse fenômeno surgiram diversas teorias desde o século XIX. 
Parte dessas teorias foram superadas, atualizadas e transformadas em novas 
perspectivas, porém, na atualidade cabe observar muitas coexistem, dando uma 
característica multiparadigmática ao conceito. Portanto, ao abordar sobre o mesmo 
fenômeno, existem diferentes métodos, sob diferentes aspectos (ILLERIS, 2013). 
É destacado por Rotta, Bridi Filho e Bridi (2016) que a aprendizagem é objeto 
de estudo de diferentes ciências, tais como a psicologia, a pedagogia e a neurologia. 
Isso acontece graças à sua relevância para a cultura, tendo em vista que todos os 
seres humanos necessitam aprender formal ou informalmente. Atualmente, é uma 
obrigatoriedade
na nossa sociedade da escolarização e da apropriação do 
conhecimento sistematizado e essa característica tem produzido um olhar mais atento 
a esses processos. 
ATENÇÃO: 
De acordo com Rotta, Bridi Filho e Bridi (2016), a obrigatoriedade da aprendizagem 
para todos os seres humanos amplia a percepção desse conceito. A aprendizagem 
é considerada um fenômeno presente da infância até a velhice. Ou seja, entende-se 
que uma pessoa aprende durante todo o ciclo vital. 
 
Conforme Feldman (2015), Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018) aduzem, 
a aprendizagem pode ser compreendida, de uma forma mais ampla, como uma 
mudança relativamente permanente no comportamento humano em decorrência de 
uma experiência. No mesmo sentido, Illeris (2007) conceitua aprendizagem como um 
 
31 
 
processo que leva a uma mudança permanente na capacidade de um organismo vivo 
qualquer, que não seja decorrente unicamente do amadurecimento biológico ou do 
envelhecimento. 
Insta salientar que de acordo com Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018), a 
aprendizagem acontece no momento em que a experiência torna o sujeito mais bem 
preparado ou adaptado para lidar com o meio em situações futuras. Ou seja, nem toda 
a mudança pode ser considerada aprendizagem, ela precisa resultar em uma melhor 
adaptação ou preparação para lidar com algo ou com alguma situação, isto é, a 
aprendizagem requer uma melhoria. Nesse sentido, a capacidade de aprender é 
essencial para o ser humano, determinando desde o desenvolvimento de habilidades 
básicas, como andar e falar, até habilidades complexas, como se relacionar com 
outras pessoas ou realizar cirurgias cardíacas. 
PARA COMPLEMENTAR: 
A aprendizagem é definida como uma mudança relativamente permanente no 
comportamento do ser humano, fruto de uma experiência. Entretanto, é importante 
destacar que nem sempre é fácil identificar mudanças no comportamento 
decorrentes da aprendizagem. Além disso, há casos em que o comportamento 
muda, porém essa mudança não pode ser considerada como aprendizagem. 
Algumas mudanças são fruto da maturação do organismo, por exemplo, quando um 
indivíduo se torna maior ou mais forte e, por isso, consegue desempenhar melhor 
uma atividade. Ou então fruto de uma situação momentânea, como o que ocorre 
com o comportamento de alguém que está cansado devido à fadiga ou falta de 
interesse. Em ambos os casos, está se falando de mudanças comportamentais, mas 
não de aprendizagem (FELDMAN, 2015). 
 
Desde o nascimento o ser humano já está preparado para aprender. Entretanto, 
os bebês apresentam um processo de aprendizagem mais simples chamado de 
habituação. Consiste na adaptação a um estímulo, como o que ocorre quando um 
bebê vê um brinquedo colorido pela primeira vez. Naquele momento o estímulo 
(brinquedo) chama muito a sua atenção, porém, com o passar do tempo, aquele 
estímulo já não surte o mesmo efeito, ou seja, o bebê se adapta ou se habitua àquela 
informação. Os adultos continuam apresentando o processo de habituação, contudo, 
 
32 
 
a aprendizagem também passa a ocorrer de maneiras mais complexas (FELDMAN, 
2015). 
Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018) destacam três tipos principais de 
aprendizagem: 
Não associativa: 
Quando alguém aprende sobre um estímulo, como uma 
imagem ou um som, e emite uma resposta em decorrência 
daquele estímulo. Um exemplo é o que ocorre quando você 
ouve um som e vai em busca de onde ele está vindo. Fazem 
parte desse tipo a já mencionada habituação e também a 
sensibilização – quando a resposta a um estímulo aumenta 
com o passar do tempo. 
Associativa: 
Quando a pessoa aprende a relacionar/associar um evento 
com outro. Nesse tipo de aprendizagem a pessoa aprende que 
os estímulos do ambiente, as respostas comportamentais que 
ela emite e as consequências dessas respostas estão 
relacionadas. Um exemplo é o que ocorre quando você 
relaciona ter dor dente ao comportamento de ir ao dentista, 
essa relação é considerada uma aprendizagem do tipo 
associativa. 
Por observação: 
Quando alguém adquire ou muda um comportamento a partir 
da observação de como outras pessoas se comportam. Por 
exemplo, quando você assiste a um tutorial de como preparar 
um prato e passa a implementar esse novo repertório de 
comportamento na sua vida. 
 
Complementando esse raciocínio, Illeris (2013), na obra Teorias 
contemporâneas da aprendizagem, destaca três dimensões ou esferas da 
aprendizagem: 
Conteúdo: 
diz respeito ao que é aprendido, engloba conhecimentos, 
habilidades, insigths, significados, valores, postura, modo de agir, 
entre outras coisas que contribuem para a compreensão e para a 
capacidade de quem aprende. 
 
33 
 
Incentivo: 
esfera relacionada à energia necessária para promover a 
aprendizagem. Engloba sentimentos, motivação, emoções. Sua 
função é garantir o equilíbrio mental. 
Interação: 
diz respeito aos impulsos que dão início ao processo de 
aprendizagem, tais como: percepção, ação, experiência, imitação, 
participação, entre outros. 
 
Na imagem, a seguir, você poderá ver de forma esquemática como as 
dimensões se organizam: 
 
Note que o triângulo evidencia o campo de tensão em que a aprendizagem 
ocorre, entre as três dimensões/esferas, ou seja, para que a aprendizagem ocorra é 
necessário que as três dimensões estejam em interação. Sendo assim, de acordo com 
o autor, no processo de aprendizagem as três esferas precisam estar presentes e se 
relacionar (ILLERIS, 2013). 
 
34 
 
Dando continuidade à essa compreensão, Illeris (2013) ainda destaca dois 
processos essenciais na aprendizagem: 
Processo externo: 
remete à interação do indivíduo com o meio no 
qual está inserido. 
Processo psicológico/interno: 
remete à aquisição e à elaboração das 
informações disponíveis no meio. 
 
Para Illeris (2013), esses processos ocorrem em toda forma de aprendizagem, 
contudo, algumas teorias se dedicam mais à compreensão e explicação de um ou de 
outro processo. Por exemplo, teorias cognitivistas costumam se dedicar mais aos 
processos internos, enfatizando os aspectos mentais. Já as teorias de aprendizagem 
social tendem a destacar mais os processos externos, de interação do indivíduo com 
o meio. Destaca-se, nesse sentido, que ambas as teorias contribuem para o 
desenvolvimento da compreensão do conceito através de uma abordagem 
diversificada, demonstrando a característica multiparadigmática da aprendizagem. 
3.2 As teorias cognitivas de aprendizagem 
Conforme discutido até aqui, há diversas abordagens ou formas de se estudar 
a aprendizagem, o que evidencia a característica multiparadigmática desse conceito. 
Entre as diversas possibilidades, destacam-se neste capítulo as teorias ou 
abordagens cognitivas de aprendizagem. Essas teorias partem do entendimento de 
que o ato de aprender está relacionado aos processos de pensamento ou cognição, 
ou seja, essas teorias enfatizam os processos mentais (invisíveis) que ocorrem 
quando alguém aprende (FELDMAN, 2015). 
PARA COMPLEMENTAR: 
As abordagens cognitivas da aprendizagem surgem como um contraponto às 
abordagens behavioristas. Nas behavioristas, entende-se que a aprendizagem 
ocorre a partir da interação entre: 
 Estímulo (situação presente ou antecessora); 
 Resposta (ação do indivíduo); 
 Consequência (alteração no ambiente consequente àquela resposta). 
 
35 
 
De acordo com essas abordagens, a aprendizagem de um novo 
comportamento ocorre em função das consequências que determinada ação têm no 
meio, limitando-se ao que é possível ser observado. 
Dessa forma, a aprendizagem é fruto da associação entre estímulo-resposta-
consequência, sendo que, quando uma resposta provoca uma consequência 
favorável (um reforço), há maiores chances de que aquela resposta comportamental 
ocorra novamente no futuro. Já quando uma resposta provoca uma consequência 
desfavorável (como uma punição), há menores chances de que aquele 
comportamento
ocorra novamente no futuro. De acordo com as abordagens 
behavioristas de aprendizagem, é a partir dessa relação que a pessoa aprende, ou 
condiciona seus comportamentos para ações futuras. 
Nas abordagens cognitivistas da aprendizagem, diferentemente, há um viés 
mentalista, ou seja, há um enfoque nos processos mentais que não são observáveis 
(tais como a expectativa de uma consequência decorrente de uma resposta 
comportamental). 
Vale destacar ainda que as teorias cognitivas não negam a relação entre 
estímulo-resposta-consequência, mas ampliam essa visão, incluindo aspectos 
visíveis ao processo de aprendizagem (FELDMAN, 2015). 
 
De acordo com os estudiosos dessa abordagem, um exemplo desse tipo de 
aprendizagem, que enfatiza os processos mentais não visíveis, é a chamada 
aprendizagem latente (ou encoberta). Entende-se que um novo comportamento pode 
ser aprendido, mas não demonstrado, até que haja uma oportunidade ou incentivo 
para que ele seja expresso. Ou seja, a aprendizagem pode ocorrer de uma forma não 
visível, sem que haja a relação estímulo-resposta-consequência, como descreviam os 
behavioristas. Sendo assim, entende-se que é possível aprender um conteúdo novo, 
mas não emitir uma resposta expressa, isto é, é possível que haja aprendizado sem 
que novos comportamentos sejam exibidos, apenas a partir da mudança mental. 
Assim, existe diferença entre a aquisição de um comportamento — o saber fazer — e 
o desempenho de tal comportamento — a ação em si (FELDMAN, 2015; GAZZANIGA; 
HEATHERTON; HALPERN, 2018). 
A aprendizagem latente pressupõe a existência de conteúdos latentes ou não 
aparentes, que foram chamados de mapas cognitivos. Esses mapas são 
 
36 
 
representações mentais ou abstratas da realidade que permitem a obtenção, o 
armazenamento e o processamento de informações do ambiente em nível neural ou 
mental. Assim, a compreensão de mapas mentais permite pressupor que há uma 
elaboração interna anterior à emissão de um comportamento. Isto é, de acordo com a 
compreensão de mapas cognitivos, entende-se que a aprendizagem pode ocorrer 
através dos fenômenos mentais, a partir do armazenamento de informações do 
ambiente (mapa cognitivo), que abarca até mesmo informações que não foram 
utilizadas pelo sujeito até aquele momento (FURTADO, 2018; TOLMAN; HONZIK, 
1930). 
EXEMPLO: 
A aprendizagem latente ocorre quando uma pessoa aprende um comportamento 
sem necessariamente realizá-lo. Tendo esse entendimento como base, imagine que 
um adolescente, que sempre andou de carro com seus pais, vai aprender a dirigir. 
Já no seu primeiro contato com a direção do veículo, não é necessário falar para ele 
que girar o volante faz com que o carro vire para a direita ou para a esquerda. Mesmo 
sem nunca ter emitido um comportamento como esse, quando o adolescente vai 
dirigir, já tem esse conhecimento armazenado simplesmente por ter observado 
outras pessoas fazerem. 
 
Complementando essa compreensão, Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018) 
destacam um outro tipo de aprendizagem que funciona de maneira semelhante à 
aprendizagem latente, a aprendizagem por insight. Na aprendizagem por insight o 
processo também ocorre de maneira encoberta, sem necessidade de expressão de 
um comportamento, e é identificado quando alguém está refletindo sobre um 
problema, fica um tempo indeterminado debruçado na questão e, de repente, chega 
à resposta (ou tem um insight). Note que, da mesma forma como ocorre na 
aprendizagem latente, na aprendizagem por insight não é possível que outra pessoa 
visualize o processo de aprendizagem, ele ocorre de maneira interna. 
Com essa compreensão, retoma-se o conceito ampliado de aprendizagem, 
entendida como uma mudança, derivada da experiência, relativamente permanente 
no comportamento ou nas capacidades de um indivíduo, resultando em uma melhor 
adaptação ou preparação, por parte desse indivíduo, para lidar com algo ou alguma 
situação. A partir desse entendimento, destaca-se que a aprendizagem, de acordo 
 
37 
 
com o que propõem as abordagens cognitivas, pode ocorrer internamente, em nível 
neural ou mental, não necessariamente podendo ser observada por outras pessoas 
(GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018; ILLERIS, 2007). 
 
ATENÇÃO: 
As abordagens cognitivas da aprendizagem enfatizam os aspectos não visíveis do 
processo de aprendizagem. De acordo com essa concepção, a aprendizagem pode 
ocorrer apenas em nível neural ou mental, sem, necessariamente, expressar uma 
mudança comportamental. Nas abordagens cognitivas, a mudança resultante da 
aprendizagem pode ser apenas interna, cognitiva, e, quando houver a necessidade 
ou a vontade do sujeito, poderá ser expressa como um comportamento novo, visto 
que, quando há aprendizagem, há uma nova informação armazenada (GAZZANIGA; 
HEATHERTON; HALPERN, 2018). 
 
Nessa perspectiva, enfatizou-se a concepção de aprendizagem latente e de 
aprendizagem por insight e, seguindo a mesma linha de raciocínio, destaca-se a 
aprendizagem observacional. A aprendizagem observacional pode ser entendida 
como um aspecto ou uma forma de desenvolvimento da aprendizagem em uma 
abordagem cognitiva, como fica claro no exemplo anterior (quando o adolescente 
pega o volante para dirigir pela primeira vez e sabe alguns movimentos que precisam 
ser feitos devido à observação que fez anteriormente). Assim, destaca-se que a 
aprendizagem latente, comumente tem como estratégia a observação (GAZZANIGA; 
HEATHERTON; HALPERN, 2018). 
A aprendizagem observacional foi foco de estudos do psicólogo Albert Bandura, 
que afirmou que uma grande parcela da aprendizagem humana se dá através da 
observação de outras pessoas se comportando, ou seja, a partir da relação de quem 
aprende com outra pessoa (um modelo). Desse modo, a aprendizagem ganha uma 
conotação social, sendo vista como um fenômeno social e a perspectiva de 
aprendizagem observacional ganha uma conotação sociocognitiva. Devido à sua 
importância, na sequência você estudará sobre a aprendizagem com essa conotação 
social, sob a ótica da teoria conhecida como teoria cognitiva social de Bandura 
(GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018). 
 
38 
 
3.3 Aprendizagem social na perspectiva da teoria cognitiva social 
Como visto até aqui, de maneira ampliada, pode-se entender que a 
aprendizagem é um processo de mudança no comportamento ou na capacidade de 
um sujeito, resultante da experiência, e tem como produto uma melhoria na sua 
adaptação ou na sua capacidade para lidar com uma situação ou com algo no futuro 
(GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018; ILLERIS, 2007). Tendo esse 
entendimento como pano de fundo, nesse trecho do capítulo você estudará a forma 
ou estratégia de aprendizagem descrita por Albert Bandura, conhecida como 
aprendizagem social, baseada na teoria cognitiva social, também chamada de teoria 
sociocognitiva (GAZZANIGA; HEATHERTON; HALPERN, 2018). 
Albert Bandura, nascido em 1925, é um importante psicólogo canadense que 
desenvolveu sua carreira na Califórnia (Estados Unidos), como professor e diretor do 
departamento de psicologia da universidade de Stanford e presidente da APA 
(American Psychological Association — Associação Americana de Psicologia). 
Bandura foi autor de diversas obras, tendo como um de seus principais legados o 
desenvolvimento da teoria da aprendizagem social (GHEDIN, 2012). 
Na teoria da aprendizagem social, Bandura (1977) também enfoca os aspectos 
mentais envolvidos na aprendizagem, assim como ocorre nas abordagens cognitivas. 
Entretanto, o autor enfatiza também os aspectos sociais envolvidos no processo, 
descrevendo o desenvolvimento da aprendizagem a partir da observação de outras 
pessoas (que servem como modelos), por isso sua teoria também ficou conhecida 
como teoria da aprendizagem observacional (FURTADO, 2018; GHEDIN, 2012). 
ATENÇÃO: 
Na teoria da aprendizagem social, Bandura (1977) também enfoca os aspectos 
mentais envolvidos

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