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W. Stanley Jevons e o marginalismo História do Pensamento Econômico FEA-USP Até a publicação de “A Teoria da Economia Política”, a ciência econômica seguia com muito afinco as palavras de David Ricardo e J. Stuart Mill. Somente Karl Marx havia feito uma crítica contundente à Economia Política antes de Stanley Jevons escrever sua principal obra. Nosso autor foi um dos pioneiros do que hoje é chamada de Escola Marginalista, contribuindo para sedimentar a teoria econômica neoclássica. Como os neoclássicos enxergam o funcionamento da Economia? Antes de mais nada, deve-se ressaltar a preocupação que tinham com a alocação de recursos escassos num sistema. O economista só existe e é funcional porque há escassez, caso contrário, seu trabalho seria supérfluo. Outra mudança fundamental de visão ocorre no tocante ao tecido social. Não existem classes para esses autores, mas sim indivíduos, os quais, em muitos casos, possuem como objetivo principal a maximização do consumo, levando em conta as restrições orçamentárias, que é o ganho de prazer com o menor sofrimento possível para adquirir um dado bem. Os neoclássicos também foram os primeiros a aproximar o Cálculo Diferencial e Integral da Economia, que passou, desde então, a ser uma ciência social com forte ferramental matemático1. A mais importante “tensão” que se estabeleceu entre os seguidores de Mill e Ricardo e os neoclássicos, porém, está na polêmica teoria do valor2. Se para aqueles, um objeto adquire valor a partir da quantidade de trabalho nele aplicada direta e indiretamente, segundo Jevons e outros marginalistas (como Walras e Menger), o valor de um bem é função de sua utilidade. Percebe-se já de início que é uma concepção muito mais subjetiva em comparação com a primeira. Mas, o que seria a utilidade? É justamente o prazer e o grau de satisfação que é gerado pelo consumo de uma dada mercadoria. Quando estou com sede, um copo d’água possui elevada utilidade, uma vez que é capaz de me satisfazer em larga medida. Por outro lado, quando já me saciei, mas, 2 A discussão aqui se dá no campo burguês. É incoerente, colocar Jevons como “rival” de Marx, já que os pressupostos filosóficos e sociológicos são, na sua base, distintos. 1 Economistas sempre trabalharam com quantidades e, portanto, com números e matemática. Mas somente a partir da teoria neoclássica é que instrumentos como derivadas, integrais, limites, equações diferenciais, etc., começam a fazer parte da análise econômica. por puro impulso, como mais uma barra de chocolate, sua utilidade é pequena, pois não me trouxe considerável prazer. Tendo isso em vista, pode-se dizer que, para os neoclássicos, a Economia deve ser norteada por uma teoria do consumo, que acaba sendo fundamental para discutir a alocação de recursos escassos, podendo maximizar o prazer e minimizar o sofrimento. A base dessa concepção está na correta noção de utilidade. Ela não é, ao contrário do que muitos podem pensar, inerente a um dado bem. Um diamante no fundo do solo de nada serve para os anseios humanos. O mesmo para uma fruta cuja altura é tamanha numa árvore que não podemos alcançar quando estamos com fome. A utilidade, assim, segundo Jevons e outros marginalistas, é estabelecida de acordo com a relação social estabelecida entre o bem e o homem que o consome. A parte mais importante, também a mais delicada, é a diferenciação entre grau final de utilidade e utilidade total. Para melhor explicar essa árida diferenciação, apelarei para um exemplo. Imaginemos um cidadão que está há quatro dias sem se alimentar. Certamente está próximo do desmaio, sem considerar que já deve ter consumido suas reservas. Diante dele está uma mesa com 7 pratos cheios de comida. O primeiro lhe é indispensável, já que sacia sua fome brutal, impedindo-o de desmaiar no instante seguinte. Possui, portanto, utilidade incalculável. Assim também é o segundo. O terceiro prato consumido também gera considerável prazer, mas bem menos que os dois iniciais. Assim, quando consome o sétimo, a utilidade do acréscimo já é baixíssima, próxima de zero. Se quiséssemos representar o que se passou num gráfico de barras, teríamos na abscissa 7 intervalos, cada um deles com a utilidade representada nas ordenadas. Veríamos que os retângulos seriam cada vez menores, indicando que a área está diminuindo, ou seja, a intensidade do prazer adquirido é cada vez menor. Medir a utilidade total implica encontrar um resultado incomensurável, já que a superfície total do gráfico tem valor infinito. O grau final de utilidade, por sua vez, sempre diminui a cada acréscimo de um dado bem3. Esse fator também é chamado de utilidade marginal, pelo fato de estar relacionado ao último acréscimo, ao acréscimo na margem, ao acréscimo marginal. 3 Poderíamos tender o número de intervalos ao infinito. Assim, a utilidade como função das quantidades passa a ter a figura geométrica de uma curva contínua. Os resultados para utilidades marginal e total, no entanto, são os mesmos. Essa ruptura da Escola Marginalista com a teoria clássica culminou numa divisão da própria Ciência Econômica, que se ramificou em História Econômica, Economia Aplicada e Teoria Econômica (Microeconomia e Macroeconomia).
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