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PROCESSO SAÚDE-DOENÇA 1.INTRODUÇÃO O homem é um ser dotado de uma grandiosa capacidade de adaptação fisiológica, que permite que viva ou sobreviva em quase todos os ambientes do continente terrestre. O meio onde vive oferece obstáculos naturais e/ou artificiais que se transformam ciclicamente em novas barreiras, à medida que o homem se adapta à condição existente. Esses obstáculos ou barreiras promovem mudanças permanentes ou transitórias na vida do individuo sendo denominados fatores determinantes do processo saúde-doença e oferecem a base para estudos epidemiológicos. Desde os primórdios da civilização humana, a doença, o processo como ela se desenvolve, suas causas e conseqüências, conquistam o pensamento do homem no intuito de controlá-las ou evitá-las. Na atualidade, a saúde é freqüentemente pensada em termos negativos, como a ausência de doença. A Organização Mundial da Saúde, ao definir a saúde como "o completo bem-estar físico, mental e não apenas a ausência de doença", propôs-se justamente a superar essa negatividade através de um conceito integrador que, mais que um conjunto de negativas, pretende designar a inexistência de qualquer condição indesejável. As diversas críticas feitas a essa definição referem-se ao fato de que nela a saúde aparece como algo absoluto e indivisível, como um valor demasiadamente genérico, que faz uso de um termo estático como "estado" para designar algo que é essencialmente mutável e de outro pouco preciso como "bem-estar". 2. O CONCEITO DE SAÚDE E DO PROCESSO SAÚDE–DOENÇA A saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como componente da qualidade de vida. Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem comum”, um bem e um direito social, em que cada um e todos possam ter assegurados o exercício e a prática do direito à saúde, a partir da aplicação e utilização de toda a riqueza disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo, adequados às suas necessidades, abrangendo promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Em outras palavras, considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania, que é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público para o balizamento e orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações. A partir daí, deve-se perguntar: afinal, o que significa esse processo saúde- doença e quais suas relações com a saúde e com o sistema de serviços de saúde? Em síntese, em termos da determinação causal, pode-se dizer que ele representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, que se modifica nos diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. 3.HISTORICIDADE DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Em termos históricos, houve a teoria mística sobre a doença, que os antepassados julgavam como um fenômeno sobrenatural, ou seja, ela estava além da sua compreensão do mundo, superada posteriormente pela teoria de que a doença era um fato decorrente das alterações ambientais no meio físico e concreto que o homem vivia. Em seguida, surge a teoria dos miasmas (gazes), que vai predominar por muito tempo. Até que, com os estudos de Louis Pasteur na França, entre outros, vem a prevalecer a “teoria da unicausalidade”, com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do agente etiológico, ou seja, aquele que causa a doença. Devido a sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma série de outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por uma série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a multicausalidade como determinante da doença e não apenas a presença exclusiva de um agente. Finalmente, uma série de estudos e conhecimentos provindos principalmente da epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a determinação e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivo. O fato é que se passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo, composto por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais. Deve-se ressaltar ainda o recente e acelerado avanço que se observa no campo da Engenharia Genética e da Biologia Molecular, com suas implicações tanto na perspectiva da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse modo, surgiram vários modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do processo saúde-doença, como o modelo epidemiológico baseado nos três componentes – agente, hospedeiro e meio –, considerados como fatores causais, que evoluiu para modelos mais abrangentes, como o do campo de saúde, com o envolvimento do ambiente (não apenas o ambiente físico), estilo de vida, biologia humana e sistema–serviços de saúde, numa permanente inter-relação e interdependência. Alguns autores questionam esse modelo, ressaltando, por exemplo, que o “estilo de vida” implicaria uma opção e conduta pessoal voluntária, o que pode não ser verdadeiro, pois pode estar condicionado a fatores sociais, culturais, entre outros. De qualquer modo, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e complexidade causal: saúde e doença não são estados estagnados, isolados, de causa aleatória – não se está com saúde ou doença por acaso. Há uma determinação permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de organização da sociedade. Daí se dizer que há uma “produção social da saúde e/ou da doença”. Em última instância, como diz Breilh, “o processo saúde-doença constitui uma expressão particular do processo geral da vida social”. Outro nível de compreensão que se há de ter em relação ao processo saúde-doença é o conceito do que é ser ou estar doente ou o que é ser ou estar saudável. Sem aprofundar as grandes discussões sobre esse tema, que envolvem entre outras, como base de discussão preliminar e compreensão, as categorias da “representação dos indivíduos” e a “representação dos profissionais” ou mesmo das instituições de saúde, em um sentido mais pragmático pode-se destacar que em toda população há indivíduos sujeitos a fatores de risco para adoecer com maior ou menor freqüência e com maior ou menor gravidade. Além do que, há diferenças de possibilidades entre eles de “produzir condições para sua saúde” e ter acesso aos cuidados no estado da doença. Há, portanto, grupos que exigem ações e serviços de natureza e complexidade variada. Isso significa que o objeto do sistema de saúde deve ser entendido como as condições de saúde das populações e seus determinantes, ou seja, o seu processo de saúde-doença, visando produzir progressivamente melhores estados e níveis de saúde dos indivíduos e das coletividades, atuando articulada e integralmente nas prevenções primária, secundária e terciária, com redução dos riscos de doença, seqüelas e óbito. Desse modo, há que se compreender outra dimensão, que é aquela que coloca o processo de intervenção, por meio de um sistema de cuidados para a saúde para atender as necessidades, demandas, aspirações individuais e coletivas, como um processo técnico, científico e político. É político no sentido de que se refere a valores, interesses, aspirações e relações sociais e envolve a capacidade de identificar e privilegiar as necessidades de saúde individuais e coletivas resultantes daquele complexo processo de determinação e acumular força e poder para nele intervir, incluindo a alocação e garantia de utilização dos recursos necessários para essa intervenção. É técnico e científico no sentido de que esse saber e esse fazer em relação à saúde-doença da população não devem ser empíricos, mas podem e devem ser instrumentalizados pelo conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico, pelo avanço e progresso da ciência. Portanto, o saber e o fazer em relação à saúde da população mediante um sistemade saúde é uma tarefa que implica a concorrência de várias disciplinas do conhecimento humano e a ação das diversas profissões da área de saúde, bem como ação articulada entre os diversos setores, que é requerimento para a produção de saúde. E aquela dimensão política inerente a esse processo social remete para a necessidade de satisfazer outro requerimento, próprio dos processos políticos democráticos, que é a participação social, ou seja, a participação ativa da população na formulação, desenvolvimento e acompanhamento das políticas e dos sistemas de saúde, que hoje, no SUS, está minimamente estabelecida nos conselhos de saúde (nacional, estadual e municipal) e conferências de saúde. 4. DETERMINANTES DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE A saúde é resultante da relação entre fatores biológicos, mentais, sociais e aspectos do ambiente onde os indivíduos vivem. Na sociedade existem comunidades, famílias e indivíduos com maior probabilidade do que outros de apresentarem problemas de saúde, acidentes, morte prematura; em contrapartida há os que apresentam maior probabilidade de usufruir de boas condições de saúde. Quanto mais fatores influentes estiverem presentes, maior a probabilidade de ocorrência de determinado dano. Análises geográficas e ecológicas realizadas por diversos epidemiologistas mostram um estreito vínculo entre piores condições de saúde e concentração de pobreza. É nas áreas de maior concentração de comunidades carentes, que ocorrem os maiores coeficientes de mortalidade infantil e geral, os níveis mais baixos de expectativa de vida e as mais elevadas taxas de violência. A atuação profissional frente a essa complexidade pode ser por meio da produção do conhecimento que possibilita caracterizar cada tipo de evento na natureza e intervir sobre as relações entre as variáveis que constituem as condições de saúde, de forma a alterá-las para melhor. Dora Chor (1999) reconhece que alguns dos principais fatores de risco para doenças são passíveis de alteração por meio de mudanças dos hábitos de vida. Isso toma uma dimensão coletiva, embora os hábitos relacionados à saúde sejam mediados culturalmente, tomando formas bastante pessoais. A autora sugere a presença de profissionais de saúde em locais de trabalho, escolas, moradias, grupos religiosos. Ambientes coletivos podem ser adequados para a elaboração e implantação das ações de saúde, visto que podem ser ajustadas a cada contexto específico. Por este meio, podemos atingir os indivíduos, partindo da compreensão de sua experiência de vida, seu vocabulário, seus temores, esperanças e anseios frente a vida e a morte. 5. OS DETERMINANTES DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E AS ANOTAÇOES DE ENFERMAGEM Desde a sua concepção, o homem, visto como espécie, sofre ações provindas do meio em que está inserido, estando suscetível a uma grande variedade de agentes do meio, que podem ser de natureza orgânica ou inorgânica, que com ele interagindo provocam disfunções. A suscetibilidade está ligada intrinsecamente à natureza do homem. O homem e o ambiente formam um conjunto eticamente correto, contendo uma determinada afinidade, interdependente, entre seres vivos e o meio ambiente. O meio, segundo a teoria da História Natural das Doenças (Leavell & Clark, 1976), oferece uma grande variedade de estímulos que se complementam, potencializando, limitando ou anulando a ação do outro fator estimulante. Essa interação é chamada de sinergismo multifatorial. Os fatores estimulantes pertencentes ao ambiente agirão sobre o individuo – o suscetível, provocando alterações desde o nível celular chegando a atingir todo o organismo, alterando sua funcionabilidade temporariamente ou permanentemente, podendo levá-lo a deformidades irreversíveis, cura ou morte Esses fatores estimulantes ou determinantes incluem causas necessárias e as suficientes para a instalação de um processo de doença. A exposição a um conjunto de determinantes nem sempre pode promover a alteração orgânica de imediato. Para este estudo o trinômio ambiente- determinante-suscetível provocará o desequilíbrio homeostático tardiamente, quando oportuno. O autor também divide a apresentação dos determinantes do processo saúde-doença como endógenos, o agente que é produzido pelo organismo e exógenos, os determinantes concernentes do ambiente que cerca o indivíduo. Reportando essa teoria e a concepção de saúde-doença das políticas públicas, sugerem que alguns dos fatores determinantes desse processo devem ser identificados nas Consultas de Enfermagem, a saber: 1. Sedentarismo; 2. Tabagismo; 3. Obesidade; 4. Alcoolismo; 5. Estresse; 6. Baixa auto-estima; 7. Uso incorreto de medicamento; 8.Uso inadequado da alimentação; 9. Problemas colaborativos, problemas preexistentes; 10.Relações interpessoais prejudicadas; 11.Renda insuficiente; 12.Educação inadequada; 13.Disposição ineficaz de agenda para tratamento; e 14.Problemas com os cuidadores dos parciais ou totalmente dependentes. O profissional de enfermagem, dentro da equipe multidisciplinar, é quem mais tem contato direto com o paciente. Talvez por cumprir uma jornada de trabalho mais longa, estando disponível para a escuta franca e detalhada da queixas da clientela, não devendo perder a oportunidade de formar vínculos e estabelecer parcerias com o paciente. Ao enfermeiro, como função privativa, compete a consulta de enfermagem que compreende a entrevista, o exame físico, o diagnóstico de enfermagem, a prescrição ou plano de cuidados e a evolução de enfermagem. 6. O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE Atualmente, há uma preocupação com uso de tecnologias, controle dos gastos e qualidade fatores que têm ganhado destaque. Surgiram novos conceitos envolvendo o processo de cuidado como acolhimento, acreditação hospitalar, humanização, e cuidado individualizado e integral dentre outros. São fatores que possuem relação com a subjetividade do sujeito, pois buscam laços entre aqueles que cuidam e os que são cuidados. Nesse sentido, o processo saúde-doença recebe atenção especial, pois [...] é um processo social caracterizado pelas relações dos homens com a natureza (meio ambiente, espaço, território) e com outros homens (através do trabalho e das relações sociais, culturais e políticas) num determinado espaço geográfico e num determinado tempo histórico. Com o avançar das discussões sobre saúde, foi percebido que a garantia do cuidado mais individualizado e, consequentemente, a promoção da saúde, precisava ir além do discurso da “ausência de doença”. Tornou-se necessário um paradigma contextualizado com os “novos” conceitos que envolvem o processo dinâmico de vivenciar a saúde e a doença. A Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá, em 1986, definiu a promoção à saúde: como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo. Para atingir um estado de completo bem-estar, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. Diante das afirmações, percebe-se que o sujeito torna-se mais ativo na construção seu processo de saúde, logo ele passa a ser visto como um elemento central, diferente da medicina dos órgãos que denomina uma pessoa pela patologia, ofuscando sua personalidade e sua capacidade de decisão, ou participação – “um paciente”. Constata-se, no meio científico e acadêmico, a discussão voltada para um paradigma ampliado de saúde, atrelado à qualidade de vida e bem-estar. Três aspectos fundamentais referentes ao construto qualidade de vida foram obtidos através de um grupo de experts de diferentes culturas, com isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentou 3 dimensõesinfluentes: 1) subjetividade; 2)multidimensionalidade, 3) presença de dimensões positivas (p.ex. mobilidade) e negativas (p.ex. dor). A cultura guia como as pessoas vivem o que é geralmente acreditado e valorizado, como se comunicam, quais são seus hábitos, costumes e gostos. O conhecimento cultural existe em todos os âmbitos da existência, incluindo subsistência ou manutenção da ordem, religião, gênero, lazer, e saúde e doença. Outro elemento que recebe destaque no processo saúde-doença é a enfermidade que pode representar apenas um detalhe para alguns. Existem portadores de patologias crônicas que se consideram sadios. Outros “aparentando saúde”, vivenciam um problema de ordem pessoal, tendo tamanha relevância que arruína o seu bem-estar. O paradigma ampliado inclui o bem-estar e a visão de totalidade do ser humano. Enquanto a doença é uma condição de uma determinada parte do corpo, afetada por um evento que o prejudica, a enfermidade está relacionada à totalidade do ser humano. Uma pessoa pode estar enferma mesmo sem apresentar qualquer doença. Como o bem-estar é subjetivo e vai depender da cultura e forma de encarar os problemas da vida, o estado de adoecimento pode ser visto por alguns como uma oportunidade de rever a vida e a forma de viver, um momento de reflexão e pode até representar ganhos qualitativos posteriormente. Para outros, o estado de morbidez pode representar o fim, levar a processos de depressão e arruinar o ritmo considerado normal e saudável da vida agitada. Logo, a doença possui influência do aspecto biológico, espiritual, social, psicológico e do acesso aos recursos essenciais que promovem a manutenção da saúde e bem-estar. Para promover a saúde deve-se conhecer a pessoa a quem é prestado o cuidado, atitudes como ouvir e compreender recebem importância singular, bem como os aspectos variados de sua cultura. O atendimento aos clientes requer uma equipe multidisciplinar e trabalho interdisciplinar, pois como o sujeito representa uma história, uma vivência, e uma forma de encarar a saúde e a doença, requer um grau de acolhimento e atenção maior, nesse caso, conhecimento requerido permeia diversas áreas do saber. Muitos profissionais de saúde recebem conteúdos acadêmicos que contribuem para que esse processo se estabeleça. Entretanto, o modelo curativista - centrado na doença- ainda possui forte peso na formação superior na área da saúde, refletindo sobre o atendimento aos clientes. Cabe a reflexão de que para promover a saúde devem ser consideradas as desigualdades históricas sociais, entre gêneros, raças/cor, com relação à renda, acesso à educação e à saúde. Caso esses fatores sejam esquecidos, a promoção da saúde fica aquém do desejado, estagna no âmbito de repetição de discursos denominados “educação em saúde”, sem adequação à realidade concreta e, ao mesmo tempo dinâmica, que rege o processo saúde-doença. Com isso, entende-se que a valorização do sujeito como um ser humano é essencial para as ações de promoção e proteção à saúde, prevenção das doenças, contribuindo para uma atenção integral às pessoas e suas famílias. 7. SAÚDE E PREVENÇAO É comum, entre os profissionais de saúde e a população em geral, uma concepção limitada do significado do termo saúde, definindo-a como o oposto da doença (ausência de doença). Grande parte da população acredita que saúde e doença são apresentados como fenômenos "dicotômicos" e invariavelmente separados. Na verdade, os indivíduos em geral, não são saudáveis ou doentes. Apresentam diferentes graus nas suas condições de saúde, que podem variar, dependendo de uma grande quantidade de fatores que as determinam em dado momento. As variações dependem, inclusive, do tipo de combinações que esses fatores apresentam em um momento específico, determinando condições de saúde que podem ser boas ou ruins em graus diversos. Não é fácil separar o momento exato em que um indivíduo pode ser considerado saudável ou doente. A VIII Conferência Nacional de Saúde (1988) ampliou significativamente o conceito de saúde preconizado pela OMS, incluindo nele não só as condições de vida (alimentação, habitação, trabalho...) mas, também, direitos ligados ao acesso universal e igualitário à ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde e exigências ligadas a uma política nacional de saúde. Nesse sentido, saúde é o resultado da inter-relação entre variáveis determinantes das condições de saúde. A multideterminação e multifatorialidade propiciam uma noção da complexidade que pode haver nos eventos relacionados com a saúde dos indivíduos. Saúde e doença não aparecem como fenômenos estáticos, separados ou dicotômicos, mas são gradientes resultantes da combinação de inúmeros fatores que podem determinar, dependendo dos tipos de combinações, diferentes graus nas condições de saúde dos organismos. Por esse motivo, o conceitos de prevenção também precisam ser revistos. Alguns parecem limitar a utilização desse termo a atividades de orientação ou a cura precoce de uma doença isolada. Leavell e Clark (1976) apresentam prevenção como uma categoria geral, dividida em três subcategorias: # Prevenção primária: Onde a forma de atuação profissional está voltada para a promoção à saúde e a proteção específica; # Prevenção secundária: Atua no diagnóstico precoce, tratamento adequado da doença e limitação da invalidez; # Prevenção terciária: Atuação baseada na reabilitação do paciente. Prevenir implica agir em relação aos determinantes dos problemas e não apenas em relação aos problemas ou suas conseqüências. É algo feito antes que o problema aconteça e para impedí-lo de acontecer. Rebelatto e Botomé (1981) propuseram sete níveis possíveis de atuação profissional, considerando graus nas condições de saúde. 1 – ATENUAÇÃO: Nesse nível de atuação profissional, o objetivo é atenuar o sofrimento, relacionado a problemas ou danos definitivos produzidos nos organismos. O importante é criar condições para que o organismo viva com a dificuldade existente, tendo o menor sofrimento possível. Significa que não é possível eliminar o problema existente, mas apenas reduzir alguma quantidade do sofrimento relacionado com ele. 2 – COMPENSAÇÃO: Nesse caso, o objetivo é compensar o dano produzido nas condições de saúde, por meio do desenvolvimento de outras capacidades que permitam obter benefícios que "compensam" o dano apresentado pelo organismo. 3 – REABILITAÇÃO: Nele o que importa é reabilitar ou reduzir danos produzidos nas condições de saúde dos organismos, melhorando mais possível o que o organismo pode conseguir realizar. Para o indivíduo com problema, este nível de atuação é satisfatório. 4 – RECUPERAÇÃO: Neste quarto nível de atuação, o objetivo é eliminar ou corrigir danos produzidos na qualidade das condições de saúde dos organismos, para voltar ao nível de saúde do organismo antes do problema aparecer. 5 – PREVENÇÃO: Cujo objetivo é impedir a existência de danos nas características das condições de saúde existentes. Não se trata mais de agir em relação aos problemas, mas sobre a probabilidade de ocorrência desses fatos. É preciso atuar em relação aos fatores que determinam o problema. Significa que o objeto de atuação profissional não é o problema existente e sim a probabilidade de sua ocorrência. 6 – MANUTENÇÃO: O objetivo neste nível não é mais resolver problemas existentes ou prováveis, mas manter as características adequadas nas condições de saúde, preservando e conservando as condições responsáveis pela ocorrência de níveis satisfatórios de saúde. 7 – PROMOÇÃO: O objetivo do exercício profissional neste nível é melhorar as condições de saúde existentes e propor novas tecnologias que garantam melhorias nas condições de saúde. Neste contexto, é de fundamental importância que o profissional enfermeiro reveja o referencial que utilizapara referir a concepção de prevenção, como forma de propor novas ações profissionais que possam contribuir para o desenvolvimento de atividades preventivas. Se prevenção for entendida como uma possibilidade de atuação profissional, aumenta a probabilidade de investigar, propor e desenvolver comportamentos específicos em sua atuação. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A compreensão acerca dos determinantes da saúde das populações, assim como a discussão e a formulação de políticas de saúde têm sido grandemente prejudicadas pela perpetuação de instrumentos de interpretação incompletos, obsoletos ou equivocados. A distância entre esses determinantes e o foco primário da política de saúde na provisão de assistência à saúde decorre em parte da persistência desses modelos como instrumentos teóricos de referência para a conceptualização dos determinantes do processo saúde-doença Atualmente, o processo saúde-doença é considerado como resultante de fatores, bio-psiquico- sociais e essa concepção permeia todas as políticas públicas para a saúde instituídas após a Constituição brasileira de 1988, que define a saúde como resultante de inúmeros fatores, pois reafirma que é num direito de todos os cidadãos e um dever do Estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução dos riscos de adoecer e o acesso universal e igualitário às ações e serviços Os registros de enfermagem dentro do processo saúde-doença servem de base para estudos epidemiológicos, guiando a ação de pesquisadores e educadores nas áreas de prevenção, promoção e recuperação da homeostase individual ou coletiva. A responsabilidade e a competência do profissional Enfermeiro, devem fazer a diferença no que tange a tais registros, uma vez que os pacientes passam mais tempo com a enfermagem que com outros profissionais, no contexto da atenção à saúde. REFERENCIAS FLETCHER, R. H. Epidemiologia Clínica: elementos essenciais. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006 FRANCO, L. J. Fundamentos de Epidemiologia. São Paulo: Manole, 2005 JEKEL, J. F. Epidemiologia, bioestatística e medicina preventiva. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. MEDRONHO, R. A. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2006 ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia & Saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003.
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