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Metabolismo do ferro e Anemia ferropênica METABOLISMO DO FERRO: o ferro é um mineral essencial à vida e abundante na natureza. Ele existe no nosso corpo na forma ferrosa (Fe2+) e na forma férrica (Fe3+). É de grande importância a quantidade de ferro que se tem na medula óssea (heme) e no fígado (citocromo). Heme: formação de hemoglobina e mioglobina, para ligação ao O2. O heme é constituído por uma protoporfirina (4 anéis pirrolicos com espaço central para liga um íon metálico) e Fe2+. Esse heme é formado em uma série de reações na mitocôndria e no citosol, com auxilio do cofator B6 (piridoxina). O heme se liga a globina, sendo que quatro conjuntos destes forma a hemoglobina. + Problemas na formação do heme causam porfirias. Citocromo: o ferro participa da formação do citocromo no fígado, utilizando sua capacidade de dar e receber elétrons. AÇÕES NO ORGANISMOS: + Transporte de O2 - hemoglobina, mioglobina + Geração de energia - cadeia respiratória e fosforilação oxidativa. Ex. citocromo, catalase peroxidase. + Síntese de DNA – fundamental para o funcionamento da ribonucleotideo redutase. Está relacionado a proliferação bacteriana, uma vez que as bactérias precisam de ferro para se proliferarem. + Inativação de radicaislivres - xantina ocidase. + Tóxico em excesso e tóxico quando livre no organismo. Em excesso pode acumular, formando radicais livre e causando lipoperoxidação de membranas (dano celular). CICLO DO FERRO: o organismo deve captar o ferro do ambiente; regular a quantidade de ferro no organismo através da absorção (vias de exceção bem menos desenvolvidas); manter o ferro ligadoa uma proteína. Basicamente o organismo consegue controlar a absorção, não a excreção. Absorção do ferro: temos uma ingestão de ferro diária de cerca de 13-18 mg de ferro. Disto, somente 10% é absorvido, sendo que esse valor pode chegar até 30% na gestação e na ferropenia. Conseguimos absorver aquilo que perdemos. A absorção ocorre principalmente no intestino delgado (duodeno). + Ferro de origem animal e vegetal: a absorção é melhor quando o ferro está na forma de heme (carne animal), pois tem maior biodisponibilidade. O ferro na forma de heme representa 1/3 do ferro absorvido. O ferro vegetal geralmente está na forma férrica, necessitando ser transformado em ferro ferroso para absorção. + Mecanismo: 1. Captação e internalização no enterócito: ferro entra pelo transportado DMT-1, sendo que deve ser na forma de ferro ferroso. O ferro férrico pode ser transformado em ferroso pela ferro redutase. O heme entra na célula pelo HCP1. 2. Transporte intracelular. 3. Saída do enterócito para o plasma: ferro sai pela ferroportina. - Ferroportina: presente em enterócitos, macrófagos e hepatócitos, faz a exportação do ferro celular (único mecanismo de efluxo do ferro). É um receptor para hepcidina. + Fatores alteram a absorção do ferro: - Fatores que favorecem absorção: ácidos (vitamina C, HCl – aumenta atividade da ferro redutase),agentes solubilizantes (amino ácidos), gravidez, aumento da expressão de DMT-1, eritropoese aumentada. - Fatores que prejudicam absorção: álcalis (antiácidos, secreção pancreática), agentes precipitantes (fitatos), inflamação, baixa expressão de DMT-1, eritropoese diminuída. Reciclagem do ferro pelos macrófagos: macrófagos da medula óssea, baço e um pouco fígado, que fazem fagocitose de hemácias "velhas". Produto do catabolismo heme inclui CO, ferro e bilirrubina. A reciclagem é a principal forma de obtenção de ferro (25-30mg/dia). + Quando o ferro sai do macrófago pela ferroportina é transformado em ferro férrico (pela ceruloplasmina) para poder se ligar a transferrina. Transporte do ferro: o ferro circula pelo sangue ligado a transferrina (Tf). + Transferrina: glicoporteina sintetizada no fígado que liga até 2 átomos de ferro (férrico). Cerca de 30% está saturada fisiologicamente (está ligada ao ferro). Transporte do ferro para locais com receptor de transferrina (ex. medula). - Ciclo: a trnasferrina com o ferro se liga ao receptor de transferrina (TfR), sendo esse complexo internalizado pela célula. Os átomos de ferro são separados da transferrina e o complexo de receptor e transferrina volta para membrana da célula. A transferrina se solta do receptor, sendo liberada novamente na circulação. - Receptor 1 transferrina (TfR): liga a transferrina saturada com maior afinidade. Esse receptor pode ser clivado ao retornar para a superfície da célula, gerando uma fração solúvel (sTfR). Essa fração tem correlação direta com a massa de TfR tecidual (80% precursores eritróides na medula). Armazenamento do ferro: + Ferritina: proteína de fase aguda, sendo uma das formas de armazenamento do ferro em diferentes células. Tem uma estrutura em concha que liga até 5000 átomos de ferro (férrico). Impede a formação deagregados tóxicos. Como é uma proteína de fase aguda, o seu valor sérico não reflete somente os níveisde depósito de ferro (pode aumentar em casos de inflamação). Obs: hemossiderina-ferritina parcialmente degradada. Perdas: descamação epitelial intestinal, sangramento (ex. menstruação). HOMEOSTASE DO FERRO: há formas de regulação intracelular e extracelular. Regulação intracelular: envolve a modulação da expressão gênica. Regulação extracelular: não há mecanismo específico de excreção, por isso é necessário algo que ligue a absorção, com a utilização e o depósito de ferro. Isso é feito pela hepcidina. + Hepcidina: hormônio hepático que faz parte da imunidade inata (“defensina”). Ela se liga à ferroportina, impedindo a saída do ferro da célula e a absorção de mais ferro. Um excesso de ferro estimula a produção de hepcidina, entretanto a inflamação (IL-6) também faz isso (ferro importante para proliferação bacteriana). No inverso disso, situações de hipóxia e eritropoese ineficaz inibem a formação de hepcidina. Obs: o aumento de hepcidina está ligado a anemia de doença crônica. Obs: medida da transferrina é mais para avaliação nutricional (causa para perder transferrina). DISTÚRBIOS RELACIONADAS AO FERRO Ausência: anemia por deficiência de ferro (ferropênica). Indisponibilidade: anemia de doença crônica. Excesso (sobrecarga): hemocromatose, hemossiderose. ANEMIA FERROPÊNICA: a anemia é muito prevalente, acometendo 1/3 da população mundial, sendo que cerca da metade desses casos é por deficiência de ferro. ANEMIA: redução do número absoluto de glóbulos vermelhos, podendo-se usar os parâmetros denúmero total eritrócitos, hematócrito e hemoglobina. Teoricamente é considerado anemia grávidas com hemoglobina menor que 11, mulheres com hemoglobina menor que 12 e homens com hemoglobina menor que 13. Investigação de anemias: pela resposta medular/eritropoese e morfologia. + Resposta medular e eritropoese: pode ser hipoproliferativa ou hiperproliferativa. Avaliada pelo reticulócito. - Reticulócito: hemácia jovem, sendo liberado mais cedo da medula óssea se anemia. Mostra a capacidade de aumento de produção medular (tem medula e tem elementos necessários [ferro, B12, ácido fólico]). Não está incluído no hemograma, tem que solicitar o exame separadamente. ° Diminuição de reticulócitos (≤2%, ≤100.000): indica que a produção na medula óssea está deficiente, podendo ser por etiologia carencial, primário da medula, hormonal, infecção. ° Aumento de reticulócitos (>2%, >100.000): indica que a produção na medula óssea está funcionando, mas há uma hemólise ou sangramento agudo. + Morfológica: Índices hematimétricos (VCM e HCM) – macrocítica, microcitíca e normocítica; hipercrômica, hipocrômica e normocrômica; anisocitose. ORIGEM DA ANEMIA FERROPÊNICA: Perda de ferro: sangramento, hemoglobinúria, menstruação (mais comum), SUA, TGI, oculto, extracorpóreo (HD). Requerimento basal aumentado: gestação, infância. Absorção diminuída: má nutrição (dieta inadequada, vegetarianos), má absorção (atrofiagástrica), síndrome disabsortiva (doença celíaca, giardíase). ESTÁGIOS DE DEFICIÊNCIA DE FERRO: 1. Consumo do ferro dos depósitos – redução de ferritina e de ferro medular. 2. Eritropoese deficiente em ferro – redução da saturaçãode transferrina, redução do VCM. 3. Anemia – redução da hemoglobina, hematócrito, HCM e CHCM. QUADRO CLÍNICO: não só pela anemia, a redução de ferritina já causa sintomas. + Queda de cabelo, quelite angular, glossite atrófica. + Sonolência, diminuição função cognitiva, diminuição da atenção, diminuição e motivação,diminuição de performance intelectual, diminuição de DNPM. + Irritabilidade, síndrome das pernas inquietas. + Astenia, dispnéia os esforços. + Pica, coiloníquia, Plummer-Vinson (membrana esofágica). INVESTIGAÇÃO: exames fundamentais são hemograma, reticulócitos e perfil de ferro (ferro sérico, capacidade total de ligação do ferro, índice de saturação da transferrina, ferritina). Lembrando que é uma anemia microcítica e hipocrômica. Medula: não deve ser feito na prática clínica, exceto em casos extrema dúvida diagnóstica. Faz uma coloração para ferro na biopsia. TRATAMENTO: correção da anemia, correção dos depósitos de ferro, diagnóstico e correção da doença de base (sempre buscar a causa de base). Avaliar a necessidade de encaminhamento. + Anemia microcítica e hipocrômica com causa óbvia: iniciar teste terapêutico com suplementaçãode ferro oral. Reavaliação em 3-4 semanas deve mostrar elevação de 1-2 g/dL da hemoglobina. Reticulócitos deve subir em 1 semana + Anemia sem causa obvia, mas com exames laboratoriais (reticulócitos e perfil de ferro): iniciar o tratamento com suplementação de ferro. Suplementação: ferro elementar 100-200mg/dia, até reposição dos estoques de ferro, não até corrigir a anemia. Manter 4-6 meses após normalização da hemoglobina ou ferritina maior que 30- 50. Não há benefício em exceder 200mg/dia. Iniciar com ferro via oral, caso não haja alteração absortiva (DII, cirurgia). + Suplementação de ferro oral: - Sulfato ferroso: Ferronil®, Hematofer®, Sulferrol®. Comprimidos de 40 a 60mg ferro elementar,usando 3-4 comprimidos por dia, em jejum, em 2-3 tomadas. ° Efeitos colaterais: trato gastrointestinal. Diminuir a dose, diminuir intervalo, tomar com comida,associar suco cítrico, começar dose menor. Evitar tomar com café, chá, leite. - Ferro aminoquelado: Neutrofer®. Comprimidos de 30, 60, 100mg ferro elementar. Menos efeitos colaterais TGI do que sulfato ferroso. Tomar antes ou durante as refeições. - Ferro polimaltosado: Noripurum®, Ultrafer®. Cerca 100mg ferro elementar, menos efeitoscolaterais tomar (comprimido mastigável) durante a refeição. + Resposta insatisfatória: confirmar diagnóstico, reduzir sangramento, avaliar aderência, procuraroutras doenças, carências vitamínicas. + Suplementação de ferro parenteral: - Ferro Sacarato: Noripurum®. Eficaz e seguro. Endovenoso (5mL, 100mg - 1 amp e SF 100mL 15’ ou 2 amp e SF 200mL 30’) ou intramuscular (2mL, 100mg). Esse último tem absorção irregular e efeitos colaterais - Carboximaltose férrica: Ferinject®. Ampola de 500mg/1000mg. Seguro; alto custo, pouco disponível; administração de até 1000mg em 15’. EXCESSO DE FERRO: INVESTIGAÇÃO Ferritina: aumento da ferritina não é igual a sobrecarga de ferro, pois pode estar aumentada em outras situações (proteína de fase aguda). Cerca de 90% dos pacientes com ferritina aumenta não tem sobrecarga de ferro associada (6% caucasianos, 19% asiáticos). + Hiperferritinemia reacional: etilismo crônico (esteato-hepatite alcoólica), síndrome metabólica (EH, NASH), processo infeccioso (HBV, HCV, osteomielite, tuberculose), processo inflamatório (PCRaumentada) em doenças autoimunes (LES, AR, SAF, EM). Obs: antes da coleta de ferritina, evitar álcool na semana anterior e evitar exercícios físicos no dia anterior. Transferrina: um método fácil de verificar a sobrecarga de ferro é com a saturação da transferrina.Se ela for maior que 45% é sugestivo de excesso de ferro. Associar com dados da ferritina. RECOMENDAÇÕES: + Dieta saudável e exercício físico- redução ingesta de carne. + Reduzir ingesta de álcool + Incentivar ingesta de chá preto nasrefeições. + Evitar consumo de suplementos de ferro ou vitamina C. MECANISMOS DE SOBRECARGA DE FERRO Absorção aumentada Fe2+: hemocromatose hereditária; anemias com eritropoese ineficaz (talassemias); doença hepática crônica (atransferritinemia, porfiria cutânea tarda);suplementaçãooral excessiva. Sobrecarga de ferro parenteral: transfusional (anemia falciforme, talassemia, SMD); suplemento de ferro injetável. Doença hepática gestacional aloimune Sequestro de ferro focal HEMOCROMATOSE HEREDITÁRIA: doença autossômica recessiva (~1:300), aparece em torno dos 40 anos. Mutações gene HFE são as mais comuns (85%), mas pode ter outros genes H63D, C82Y, S65C. Cursa com aumento da absorção do ferro (2-4mg/d) fazendo com que ele se deposite nos tecidos - fígado (cirrose), pâncreas (DM), coração (ICC), glândulas (hipogonadismo), articulações (artrite), pele (hiperpigmentação). Parece um “diabético bronzeado”. Tratamento: sangria (flebotomia) e quelação (casos especiais)
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