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METABOLISMO DO FERRO E ANEMIA FERROPRIVA AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO EPIDEMIOLOGIA E HISTÓRIA - Descrita no século XV como “De morbo virgineo”, Mal d’amour – doença das virgens - Denominada no século XVII como “Clorosis”, “amarelo-esverdeado da pele”. - É a anemia mais frequente no mundo, com população global estimada de 1,9 bilhões com anemia ferropriva (25% da população). - No Brasil – 20% das mulheres e 5% dos homens tem anemia ferropriva. INTRODUÇÃO - Ferro – reações de oxi-redução e transporte de O2 para os tecidos, é um elemento chave na síntese do citocromo, mioglobina, hemoglobina e cofator de outras enzimas - O corpo humano tem 5-6g de ferro, é o elemento mais abundante do corpo humano. - Distribuição do Fe pelo corpo humano · Hemoglobina – transporte de O2 nos tecidos (65%) · Mioglobina – estoque de O2 nos músculos (6%) · Ferritina – estoque de ferro intracelular (13%) · Transferrina – transportador de ferro plasmático (0,1%) · Hemossiderina – estoque de ferro intracelular (12%) · Citocromo P450 – transporte de elétrons METABOLISMO DO FERRO - Cinética do ferro · Estoques de ferro · Ao nascer 75mg/kg · Adulto 50mg/kg · Mulher jovem 35mg/kg (devido ao catamênio) · Clampeamento do cordão – aumentar os estoques de ferro · Necessidade diária de Fe na dieta é mínima de 1-2mg/dia, a gestante e lactante precisa de 3-6mg/dia. · A perda diária também é pequena de 1mg/dia, exceto na menstrual - Balanço do Ferro · A absorção de ferro não depende da quantidade ingerida, o mecanismo do balanço de ferro é seleto – absorve tudo aquilo que precisa · Não temos um mecanismo eficiente de excreção de ferro – sobrecarga de ferro é um problema · Fontes de ferro da dieta · Ferro não heme (grãos e vegetais) · Ferro orgânico heme (proteína e carne vermelha) - Ferro da dieta é uma parte, a maioria parte advém da hemocraterese (25-30mg) - Absorção do ferro não heme · Absorção no duodeno e no intestino delgado proximal · É preciso ser reduzido para ser absorvido de Fe+3 (férrico) Fe+2 (ferroso) por meio da ferro-redutase · O DMT1 é transportador transporta o Fe+2 para o interior do enterócito · Parte deste ferro será estocado na ferritina e parte será transportado pela ferroportina na membrana basolateral do enterócito, oxidado pelo ferro-oxidase e transportado pela transferrina. · Ferro-reductase – reduz o Fe+3 · Ferroportina – garante a passagem do Ferro para o soro · Ferro-oxidase – oxida o Fe+2 - No transporte do ferro heme não há uma enzima ao lado do transportador HCP-1 (biodisponibilidade maior), pois o ferro heme está na sua forma ferrosa. · Há o transportador heme (HCP-1), o ferro heme passa diretamente pelo transportador para a célula epitelial. · Seu transporte é facilitado, e, portanto, o ferro da proteína animal é melhor absorvido e com mais facilidade, e, portanto, melhor biodisponibilidade que o ferro não heme. - Transporte do ferro · Ferroportina – é uma PTN transmembrana exportadora do ferro da célula para o plasma. · Está presente nos enterócitos, macrófagos, hepatócitos e sinciciotrofloblasto · Transferrina – é uma glicoproteína produzida pelo fígado e sistema retículo endotelial com a função de transportar o Fe no soro sob a forma férrica. · Reduz radicais livres do organismo · Meia vida de 7-10 dias · Aumenta na anemia ferropriva - Absorção · Carne de boi (“bife”), carne de porco, peixe, frango, ácido ascórbico, ácidos orgânicos, aminoácidos aumentam a absorção do ferro não heme. · Filatos, polifenóis, cálcio, zinco, chás, café diminuem a absorção do ferro não heme. - Ferro na eritropoiese – formação do endossomo - Reutilização do ferro – armazenagem do Fe no RE por meio da Ferritina. · Ceruloplasmina é uma proteína (alfa-2-globulina) produzida no fígado que transporta 70-90% do Cu plasmático, e que oxida o Fe para ser ligada a transferrina? - Homeostase do ferro · Proteínas reguladores do ferro – trata-se de proteína que controla a síntese do receptor da transferrina e ferritina de acordo com os estoques de ferro celular · Hepcidina – proteína produzida pelo fígado que faz balanço negativo do ferro via ferroportina nos enterócitos e macrófagos. · Ferropenia – estimulo inibitório no gene HAMP – baixa Hepcidina · Inflamação/infecção – estímulo estimulatório no gene HAMP- eleva Hepcidina · Anemia por ferro funcional – Ferro sérico baixo, TIBC normal, ferritina alto. · Excesso de ferro/sobrecarga – estímulo estimulatório no gene HAMP – eleva Hepcidina · Hipoxia tecidual – estímulo inibitório do gene HAMP · Hepcidina baixa, causa abertura da ferroportina – aumenta a absorção de Fe · Hepcidina aumenta, causa fechamento da ferroportina – diminui a absorção de Fe - IRIDA – Iron Refractory Iron Deficiency Anemia · Gene regulatório – Metriptase-2 (via TMPRSS6), ocorre uma mutação no gene da Metriptase-2 e não ocorre a inibição da Hepcidina. · Aquele paciente que é refratário ao tratamento de reposição de Fe MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Palidez, adnamia, síndrome de pica (perversão do apetite, geofagia), perda ponderal, queda de cabelo, palpitações, cefaleia, fissura angular, síndrome de Plummer-Vinson, impotência. - Laboratório – Hipocromia/microcitose (dica é olhar linfócito, caso menor é microcitose) - De maneira geral, como vamos observar os exames laboratoriais? · Vamos avaliar os índices hematimétricos · Na maioria das vezes se apresenta como uma anemia microcítica e hipocrômica · VCM e HCM/CHCM reduzidos, mas não é algo obrigatório · RDW elevado – anisocitose · Variabilidade de tamanho nas fases iniciais, é uma das anemias que mais eleva RDW (>15). Mas não é patognomônico · Outras situações de elevação do RDW são as talassemias, hemolíticas e pouco na megaloblástica. · Paciente mesmo sem anemia (Hb reduzida) pode ter as manifestações da anemia ferropriva - O que vai definir a anemia ferropriva? A cinética do ferro · Ferro sérico reduzido · Não é um bom exame para ser avaliado isoladamente, por isso não deve ser avaliado exclusivamente. · Ferritina sérica reduzida · É a proteínas de depósito de Fe, e reflete o Fe estocado. Se está baixo, é porque o estoque corporal está reduzido. · TIBC (Capacidade total de ligação do Ferro) elevado · Representa o quanto de fero consegue circular no sangue ligado à transferrina. · Aumenta por um mecanismo compensatório para tentar captar e optimizar o máximo possível de Fe sérico. · Saturação de transferrina reduzido · Tem o mesmo significado clínico do TIBC - Índice de Saturação do Ferro = Ferro sérico/Capacidade total do Ferro sérico ou TIBC · Devido à demora em solicitar o TIBC, podemos obter o IST com a Transferrina. · Para isso, dividimos a Transferrina por 0,7, obtemos o TIBC · O IST está abaixo de 25% em paciente com anemia ferropriva. TRATAMENTO - Ferro elementar 3-5 mg/kg de 3 a 9 meses - Via oral · Sais de ferro (sulfato ferro, Ferrocarbonila-Combiron®) · É preciso saber o quanto de ferro elementar tem no sulfato ferroso, e eu precisa de 3-5 mg/kg de 3-9 meses. · Em geral, para paciente adulto oferecemos de 100-200mg de Fe elementar, no mínimo 2-4 comprimidos por dia. · O sulfato ferroso é uma medicação de alta intolerância gastrointestinal (45% dos pacientes acabam abandonando depois de 4 semanas) · O problema é o compliance · Ferripolimaltose (Endofer®, Noripurum®) · É uma medicação que pode ser usado durante a gestação sem interferência significativa · Oferece uma menor intolerância GI, um melhor conforto posológico e melhor compliance. - Alguns pacientes vão ser candidatos de Fe IV · Noripurum EV (Hidróxido de Ferro) · Ferinject (Carboximaltose férrica) · Quais situações? · Paciente refratário ao ferro VO, ou por doença GI, ou por intolerância GI ou por doença disabsortiva ou por sangramentos graves. · SUA com perda intensa de sangue · Gestante no 3º trimestre que precisa de optimizar a sua anemia pelas vias de parto. · É uma droga vasoplégica – por isso infunde em bolsas de forma lenta. - O Fe IM – embora mais prático, não é a melhor opção, e é considerada uma forma proscrita · Noripurum IM é uma droga que exige uma técnica de aplicação diferenciada(em grande musculatura) em Z, além do risco de tatuagem de aplicação permanente por extravasamento. ANEMIA INFLAMATÓRIA OU POR DOENÇA CRÔNICA - É a segunda anemia mais frequente no mundo, perde para a ferropriva - É o diagnóstico diferencial da anemia ferropriva, embora não seja excludente, podendo ter as duas formas (anemia mista). - Condições – qualquer situação inflamatória, em especial condições eminentemente inflamatórias como Doença de Crohn, Retocolite ulcerativa, Diabetes mellitus, IC e Lúpus. - Apresentação no Hemograma · Hb baixa, mas quase nunca abaixo de 8g/dL · Anemia normocítica normocrônica (2/3 das anemias inflamatórias), mas 1/3 pode ser microcítica hipocrômica - Cinética do Ferro · Processo inflamatório (via IL-6) estimula a hepcidina (parahormônio) que inibe a ferroportina impedindo a absorção do Fe para o soro, além do seu aprisionamento do Fe no interior dos enterócitos – queda do Ferro sérico. · Queda do Ferro funcional ou circulante no soro, e não dos seus estoques. · A ferroportina é encontrada no enterócito e no macrófago (RE) · No macrófago, a Hepcidina impede a saída de Fe dessa célula de depósito, o que leva a um aprisionamento do Fe sérico estocado. · Na doença inflamatória – Fe sérico reduzido · Na doença inflamatória – não há aumento da Trasferrina, pois os estoques de ferro estão normais. Às vezes, pode estar até diminuída, pois é uma doença de fase aguda inversa/negativa, ou seja, quando eu tenho um processo inflamatório ela reduz. · A Albumina é a mais conhecida proteína de fase aguda inversa. · Na doença inflamatória – o IST também estará abaixo de 25% · Na doença inflamatória – a Ferritina é uma proteína de fase aguda positiva, aumenta no processo inflamatório. · Resumo · Ferritina alta (difere da ferropriva) · Transferrina normal/baixa · Fe sérico baixo = ferropriva - Exemplo de situação – Fe sérico baixo, IST baixo e Ferritina normal · Anemia mista – aquele paciente que tinha uma anemia ferropriva prévia e que evoluiu para uma anemia inflamatória, por uma pneumonia por exemplo. Isso porque a ferritina subiu a partir de um valor de ferritina baixa (pela ferropriva). - DICA!!!! Ferritina alta, IST baixo e Fe sérico baixo nos leva a pensar em doença inflamatória. Mas quando o meu IST estiver abaixo de 16%, mesmo nessa apresentação, a minha hipótese será uma anemia de doença mista. · Para tirar dúvida é usado o exame de pesquisa de Fe intramedular/mielograma com o corante azul da Prússia.
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