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AULA 3 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Profª Ivanes da Glória Mattos 2 INTRODUÇÃO Tributação sobre a renda: lucro presumido Caro(a) aluno(a), nesta aula faremos uma imersão no regime tributário do lucro presumido. Como o nome diz, para a tributação nesse regime se presume o lucro; ou seja, o resultado da empresa não é apurado de acordo com o lucro efetivamente apurado (receitas − despesas) por meio da demonstração do resultado do exercício (DRE). Ao contrário, a base de cálculo para o imposto de renda e contribuição social resulta da aplicação de um percentual predeterminado pelo Fisco (percentual de presunção) sobre as receitas totais e, sobre esse valor, calculam-se os valores dos dois tributos, mediante a aplicação do percentual estabelecido para cada um. Antes de optar por qualquer regime de tributação, a empresa deve conhecer e analisar cada um e optar pelo que mais lhe trouxer benefícios, dentro do que a legislação possibilita para apuração do resultado e dos tributos incidentes sobre ele. O lucro presumido é um regime muito utilizado pelas empresas brasileiras, pois oferece ao contribuinte a dispensa de algumas obrigações acessórias, como a dispensa da escrituração contábil e, por consequência, algumas demonstrações financeiras. Porém, a sua escolha nem sempre é a mais vantajosa, por isso a opção por esse regime de tributação deve ser precedida de uma análise mais detalhada e comparativa com os demais regimes, principalmente em relação ao desembolso com os tributos. Para conhecermos mais sobre o regime tributário do lucro presumido, nesta aula serão abordados os seguintes temas: 1. Conceitos gerais do lucro presumido; 2. Empresas que podem optar pelo lucro presumido; 3. Exemplos de cálculo para o IRPJ e CSLL; 4. Principais obrigações acessórias do lucro presumido; 5. Vantagens da opção pelo lucro presumido. 3 Figura 1 – Representação da interação com tributo Créditos: Funtap/Shutterstock. TEMA 1 – CONCEITOS GERAIS DO LUCRO PRESUMIDO 1.1 O que é lucro presumido Lucro presumido é um regime tributário menos complexo que o lucro real para a apuração da base de cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) das pessoas jurídicas que não estiverem obrigadas, no ano-calendário, à apuração do lucro real. Atualmente ele está previsto nos arts. 587-601 do Decreto n. 9.580/2018 – RIR/2018 (Regulamento do Imposto de Renda). No regime de tributação do lucro presumido, o resultado da empresa não é apurado de acordo com o lucro (real) efetivamente apurado (receitas − despesas), demonstrado na DRE. Ao contrário, a base de cálculo para o imposto de renda e contribuição social resulta da aplicação de um percentual predeterminado pelo Fisco (percentual de presunção) sobre as receitas totais e, sobre esse valor, calculam-se os valores dos dois tributos, mediante a aplicação do percentual estabelecido para cada um. Esses percentuais de presunção variam de 1,6% até 32%, de acordo com a atividade da empresa. O cálculo do IRPJ e da CSLL é feito em períodos trimestrais, que se encerram em 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário. A opção pelo lucro presumido é feita com o pagamento da primeira quota (ou quota única) do imposto devido correspondente ao primeiro período de 4 apuração de cada ano-calendário, sendo considerada definitiva para todo ano- calendário. Os percentuais de presunção, considerados como lucro da atividade, para cálculo do IRPJ e da CSLL, variam de acordo com as atividades desenvolvidas pelas empresas, sendo aplicados sobre a receita bruta: Tabela 1 – Lucro presumido: percentuais de presunção para cálculo do IRPJ Revenda de combustíveis e gás natural 1,6% Transporte de carga 8% Atividades imobiliárias 8% Industrialização para terceiros com recebimento do material 8% Demais atividades não especificadas que não sejam prestação de serviço 8% Transporte que não seja de carga e serviços em geral 16% Serviços profissionais que exijam formação técnica ou acadêmica – como advocacia e engenharia 32% Intermediação de negócios 32% Administração de bens móveis ou imóveis, locação ou cessão desses mesmos bens 32% Construção civil e serviços em geral 32% Fonte: Mattos, 2021. No caso de a pessoa jurídica explorar atividades diversificadas, deverá ser aplicado especificamente, para cada uma delas, o respectivo percentual previsto na legislação, devendo as receitas ser apuradas separadamente. Os percentuais de presunção para o cálculo da CSLL são os seguintes: Tabela 2 – Lucro presumido: percentuais de presunção para cálculo da CSLL Indústria e comércio em geral, transporte de carga, atividades imobiliárias, atividade rural, entre outros. 12% Prestação de serviços em geral 32% Fonte: Mattos, 2021. 1.2 Previsão legal do lucro presumido 5 A opção pelo lucro presumido pelas empresas está prevista nos arts. 587- 601 do RIR/2018 (Decreto n. 9.580/2018), conforme exposto: Art. 587. A pessoa jurídica cuja receita bruta total no ano-calendário anterior tenha sido igual ou inferior a R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais) ou a R$ 6.500.000,00 (seis milhões e quinhentos mil reais) multiplicado pelo número de meses de atividade do ano-calendário anterior, quando inferior a doze meses, poderá optar pelo regime de tributação com base no lucro presumido. Observa-se que, ao contrário da tributação pelo lucro real, a opção pelo lucro presumido não é obrigatória, mas sim uma possibilidade de escolha desse regime tributário pelas empresas. No mesmo artigo citado, estão previstas algumas características para a tributação pelo lucro presumido: • Somente a pessoa jurídica que não esteja obrigada à tributação pelo lucro real poderá optar pela tributação com base no lucro presumido; • A opção pela tributação com base no lucro presumido será definitiva em relação a todo o ano-calendário; • A receita bruta auferida no ano anterior será considerada de acordo com o regime de competência ou caixa, observado o critério adotado pela pessoa jurídica, caso tenha, naquele ano, optado pela tributação com base no lucro presumido; • A opção pelo lucro presumido será manifestada com o pagamento da primeira ou da quota única do imposto sobre a renda devida correspondente ao primeiro período de apuração de cada ano-calendário. TEMA 2 – EMPRESAS QUE PODEM OPTAR PELO LUCRO PRESUMIDO De acordo com o RIR/2018, estão autorizadas a optar pelo lucro presumido as empresas não obrigadas à apuração dos tributos pelo lucro real e que tenham lucro anual de até R$ 78.000.000,00 ou R$ 6.500.000,00 multiplicados pelo número de meses de atividade no exercício. Além disso, para as empresas optarem pelo lucro presumido, devem desenvolver as atividades previstas em lei, descritas no Decreto n. 9.580/2018 (RIR/2018), a seguir arroladas: • Transporte de carga; • Serviços hospitalares; 6 • Comércio de mercadorias ou produtos; • Transportadores; • Atividade rural; • Profissionais liberais, como advogados, dentistas, administradores, médicos, contadores, engenheiros, economistas, consultores, entre outros; • Construção civil. Por outro lado, a legislação prevê alguns ramos de atividade proibidos de optar pelo lucro presumido; ou seja, devem obrigatoriamente optar pelo lucro real. Estão elencados a seguir: • Aquele cuja receita total, no ano-calendário anterior, tenha excedido o limite de R$ 78.000.000,00 ou R$ 6.500.000,00 multiplicados pelo número de meses do período, quando inferior a 12 meses; • Bancos comerciais, de investimentos ou de desenvolvimento; • Caixas econômicas; • Empresas ou cooperativas de crédito; • Empresas de crédito imobiliário, de financiamento e investimento; • Corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários e câmbio;• Empresas de arrendamento mercantil; • Empresas de seguro e previdência privada aberta; • Que explorem atividades do agronegócio. Além das atividades, o RIR/2018 elenca outras situações que proíbem as pessoas jurídicas de optar pelo lucro presumido: • Quem tiver lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior; • Quem, autorizado pela legislação tributária, queira usufruir de benefícios fiscais relativos à isenção ou redução do imposto de renda; • Quem, no decorrer do ano-calendário, tenha efetuado o recolhimento mensal pelo regime de estimativa. 7 TEMA 3 – EXEMPLOS DE CÁLCULO PARA O IRPJ E CSLL Figura 2 – Representação de cálculo de impostos Créditos: Irina Strelnikova/Shutterstock. 3.1 Percentuais de presunção A primeira parte do cálculo do IRPJ e da CSLL é adotar o percentual de presunção e aplicá-lo sobre a receita bruta dessa forma: Tabela 3 – Como calcular o IRPJ e a CSLL Atividade desenvolvida Construção civil e serviços em geral Receita bruta do trimestre R$ 500.000,00 Percentual de presunção 32% Base de cálculo do IRPJ e da CSLL R$ 160.000,00 Fonte: Mattos, 2021. No exemplo, o percentual de presunção para IRPJ e CSLL é o mesmo, por se tratar de serviços em geral. 8 3.2 Alíquotas do IRPJ e da CSLL Além dos percentuais de presunção de lucro a serem aplicados sobre a receita bruta do trimestre, em que apuramos o lucro presumido, temos que aplicar as alíquotas dos impostos, conforme a Tabela 4: Tabela 4 – Aplicação das alíquotas dos impostos IRPJ 15% a ser aplicado sobre o lucro presumido + 10% a ser aplicado sobre o lucro presumido do valor que ultrapassar R$ 60.000,00 no trimestre CSLL 9% a ser aplicado sobre o lucro presumido Fonte: Mattos, 2021. 3.3 Cálculo do IRPJ e da CSLL Partindo do exemplo anterior, vamos calcular o IRPJ e a CSLL de uma empresa cuja atividade seja a prestação de serviços em geral, com receita bruta de R$ 500.000,00 e base de cálculo do lucro presumido de R$ 160.000,00: 3.3.1 Cálculo do IRPJ Receita trimestral apurada: R$ 500.000,00 Presunção do lucro: 500.000,00 × 32% = 160.000,00 (base de cálculo das alíquotas do IRPJ) Cálculo do IRPJ: 160.000,00 × 15% = R$ 24.000,00 Adicional IRPJ: Lucro presumido R$ (160.000,00 − 60.000,00) × 10% = R$ 10.000,00 Total de IRPJ a ser recolhido = R$ 34.000,00 (R$ 24.000,00 + 10.000,00) 9 3.3.2 Cálculo da CSLL Receita trimestral apurada: R$ 500.000,00 Presunção de lucro: 500.000,00 × 32% = R$ 160.000,00 (base de cálculo da alíquota da CSLL) Apuração da CSLL: Lucro presumido: R$ 160.000,00 × 9% = R$ 14.400,00 CSLL a ser recolhida: R$ 14.400,00 Outro exemplo na Tabela 5: Tabela 5 – Lucro presumido: cálculo do IRPJ e da CSLL Receita bruta de primeiro trimestre de 2020 = R$ 3.000.000,00 Demais resultados (ganhos de capital, rendimentos líquidos de aplicações financeiras e juros sobre o capital próprio, entre outros) R$ 200.000,00 Percentual de presunção (IRPJ) = base de cálculo do lucro presumido 8% Base de cálculo (IRPJ) = (8% × R$ 3.000.000,00 + R$ 200.000,00) (×) 15% R$ 440.000,00 Percentual de presunção (CSLL) = base de cálculo do lucro presumido 12% Base de cálculo (CSLL) = (12% × R$ 3.000.000,00 + R$ 200.000,00) R$ 560.000,00 Número de meses do período = janeiro/2020 a março/2020 3 IRPJ = 15% × base de cálculo do lucro presumido = 15% × R$ 440.000,00 R$ 66.000,00 IRPJ (adicional) = 10% × (base de cálculo do lucro presumido − 3 meses × R$ 20.000,00) R$ 60.000,00 IRPJ (adicional) = 10% × (440.000 − 60.000) = 10% × R$ 380.000,00 R$ 38.000,00 CSLL = 9% × base de cálculo do lucro presumido = 9% × R$ 560.000,00 R$ 50.400,00 10 Total do IRPJ + adicional IRPJ + CSLL R$ 154.400,00 Fonte: Mattos, 2021. TEMA 4 – PRINCIPAIS OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS DO LUCRO PRESUMIDO O recolhimento dos tributos, contribuições e taxas por si só é uma obrigação, chamada de principal, mas esse regime traz outras obrigações, chamadas de obrigações acessórias, ferramentas necessárias que o contribuinte deve utilizar para cumprir com seus deveres administrativos e auxiliar o órgão competente na apuração, fiscalização e arrecadação de tributos. A depender do regime tributário escolhido ou imposto pela legislação fiscal, as empresas devem seguir normas tanto na contabilização e apuração dos impostos como para cumprir obrigações que são, na verdade, informações obrigatórias e determinadas pelas várias áreas do governo, como: a Receita Federal, o Ministério do Trabalho e Previdência Social, a Caixa Econômica Federal (FGTS) etc. Essas declarações podem ter periodicidade mensal, trimestral ou anual e devem ser encaminhadas aos órgãos competentes, com as informações exigidas legalmente dos contribuintes pessoas jurídicas. A regra é que a própria empresa declare as informações, e a ausência de entrega dessas declarações, dentro dos prazos definidos pela legislação, pode gerar o pagamento de juros e multas para as empresas. São exemplos de informações acessórias que a pessoa jurídica deve prestar ao Fisco: a receita efetiva, os impostos apurados, informações sobre a movimentação dos empregados na folha de pagamento e os encargos gerados sobre os salários pagos, as informações sobre o FGTS, entre outros. Além das obrigações acessórias gerais e aplicáveis a todas as pessoas jurídicas, há também algumas dessas obrigações exigidas de acordo com a atividade econômica da empresa, como médicos e corretores imobiliários, entre outros. Vamos conhecer, então, essas obrigações acessórias das empresas tributadas pelo lucro presumido, admitindo que são, praticamente, as mesmas das tributadas pelo lucro real, com exceção do Livro de Apuração do Lucro Real (Lalur). 11 4.1 Sefip/GFIP O Sistema Empresa de Reconhecimento do FGTS e Informações à Previdência Social (Sefip/GFIP) é uma obrigação acessória mensal em que são declaradas as informações trabalhistas relativas ao FGTS e à previdência. É uma obrigação para todas as empresas, inclusive as que não tiverem funcionários registrados. 4.2 Caged O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) informa a movimentação no quadro de colaboradores, com as demissões e admissões dos funcionários registrados pelo regime CLT. Foi criado pela Lei n. 4.923/1965 e é utilizado pelo Programa de Seguro-Desemprego para conferir os dados referentes aos vínculos trabalhistas, além de outros programas sociais. 4.3 ECD A Escrituração Contábil Digital (ECD) é uma obrigação federal do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) criada pelo Decreto n. 6.022/2007 e substituiu as escriturações que antes constavam nos seguintes livros: • Livro Diário e seus auxiliares; • Livro de Balancetes Diários, balanços e fichas de lançamento comprobatórias dos assentamentos transcritos; • Livro Razão e seus auxiliares. 4.4 ECF A Escrituração Contábil Fiscal (ECF) foi criada pelo Decreto n. 6.200/2007 e informa as operações que influenciam a composição da base de cálculo e do valor devido do IRPJ e da CSLL. Ela veio para substituir a Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ). 4.5 EFD A legislação em vigor sobre o EFD ICMS/IPI é o Sistema Nacional de Informações Econômico-Fiscais (Sinief) n. 2/2009 e é de uso obrigatório para os 12 contribuintes do ICMS ou do IPI. Esse documento veio para substituir a escrituração de alguns livros de papel: • Registro de Entradas; • Registro de Saídas; • Registro de Inventário; • Registro de Apuração do IPI; • Registro de Apuração do ICMS; • Controle do Crédito de ICMS do Ativo Permanente (Ciap) e Controle de Produção e Estoque. Com o envio dessa declaração, o contribuinte poderá dispensar a entrega do Sistema Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços (Sintegra), excetuando-se os casos deregime especial. Destaca-se, ainda, que cada estado legisla sobre esse assunto. 4.6 Sintegra O Sintegra foi criado pelo Convênio n. 76/03 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e é uma obrigação exclusiva aos contribuintes sujeitos ao recolhimento de ICMS que utilizam o Processamento Eletrônico de Dados (PED) para emitir documentos fiscais. Anteriormente, todos os contribuintes do ICMS estavam obrigados a enviar esses documentos, mas com o Decreto n. 6.022/2007 foi instituído o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), prevendo que os livros e documentos contábeis e fiscais serão emitidos em forma eletrônica, o que tornou facultativa a entrega da declaração do Sintegra. 4.7 Dirf A Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (Dirf) está regulamentada, atualmente, pela Instrução Normativa RFB n. 1990/2020 e é responsável por informar as retenções de impostos ocorridas nos pagamentos e recebimentos da empresa. 13 4.8 Rais A Relação Anual de Informações Sociais (Rais) mostra as atividades trabalhistas das empresas para que o governo possa identificar os beneficiários do abono salarial PIS/Pasep. Foi criada pelo Decreto n. 76.900/1975 e tem, ainda, a função de fornecer ao Estado os dados para a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades governamentais. 4.9 E-Social Trata-se do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (e-Social), criado pelo Decreto n. 8.373/2014, e tem como objetivos: • viabilizar a garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; • simplificar o cumprimento de obrigações; • aprimorar a qualidade de informações das relações de trabalho, previdenciárias e fiscais. 4.10 DES A Declaração Eletrônica de Serviços (DES) foi criada pela Lei Complementar n. 116/2003 e é um software que substituiu o Livro Registro de Serviços Prestados e o Livro Registro de Serviços Tomados, que tinham como objetivo facilitar a interação entre o fisco municipal e os declarantes. Assim, cabe ao contribuinte escriturar e transmitir mensalmente às prefeituras o faturamento do mês anterior. 4.11 DCTF As Leis n. 10.833/2003 e n. 12.402/2011 tratam da Declaração de Débitos Tributários Federais (DCTF), que obriga o contribuinte a declarar os débitos e créditos tributários federais, ou seja, declarar os dados a respeito de vários tributos e contribuições devidas ao governo federal. Ali serão declarados o IRRF, IRPJ, CSLL, PIS, Cofins, entre outros. 14 4.12 Outras características do lucro presumido Vamos conhecer agora outras características aplicáveis às pessoas jurídicas tributadas pelo lucro presumido. 4.12.1 Do período de apuração e pagamento dos impostos A apuração do lucro presumido ocorre trimestralmente nos períodos encerrados nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário (Lei n. 9.430/1996, arts. 1° e 25). O imposto de renda devido, apurado trimestralmente, será pago em quota única até o último dia útil do mês subsequente ao do encerramento do período de apuração. À opção da pessoa jurídica, o imposto devido poderá ser pago em até três quotas mensais, iguais e sucessivas, vencíveis no último dia útil dos três meses subsequentes ao de encerramento do período de apuração correspondente. 4.12.2 Tratamento do ICMS O ICMS não poderá ser deduzido para obtenção da receita bruta operacional, visto que ele integra o preço de venda, e o percentual para obtenção do lucro presumido se aplica sobre o valor total da venda de bens (receita bruta). 4.12.3 Alienação de bens do ativo não circulante Nas alienações de bens classificáveis no ativo não circulante, em investimentos imobilizados, intangíveis e de ouro não considerado ativo financeiro, o ganho de capital corresponderá à diferença positiva verificada entre o valor da alienação e o respectivo custo contábil. 4.12.4 Escrituração contábil digital A pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido fica obrigada a adotar a ECD (Decreto n. 6.022/2007) em relação aos fatos contábeis ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2014 se distribuírem, a título de lucro, sem incidência do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), parcelas do lucro ou dividendos superiores ao valor da base de cálculo do imposto, diminuída de todos os impostos e contribuições a que estiver sujeita. 15 Além disso, em relação aos fatos contábeis ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2016, passou a ser também obrigatório o envio da ECD caso a pessoa jurídica optante pelo lucro presumido não se utilize da prerrogativa prevista no parágrafo único do art. 45 da Lei n. 8.981/1995. 4.12.5 Distribuição de lucros Poderá ser distribuído a título de lucros, sem incidência de imposto de renda (dispensada, portanto, a retenção na fonte), ao titular, sócio ou acionista da pessoa jurídica, o valor correspondente ao lucro presumido, diminuído de todos os impostos e contribuições (inclusive adicional do IR, CSLL, Cofins, PIS/Pasep) a que estiver sujeita a pessoa jurídica. A isenção somente abrange os lucros distribuídos, não alcançando valores pagos a outros títulos, como pró-labore, aluguéis e serviços prestados, que se submeterão à tributação conforme a legislação que rege a matéria. 4.12.6 Incentivos fiscais Do imposto de renda da pessoa jurídica apurado com base no lucro presumido não é permitida qualquer dedução a título de incentivo fiscal. 4.12.7 Outros tributos a serem recolhidos As pessoas jurídicas tributadas pelo lucro presumido ficam obrigadas a recolher, além do IRPJ e da CSLL, todos os demais tributos previstos nas legislações específicas, como o PIS, o Cofins, o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), o Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) etc. TEMA 5 – VANTAGENS DA OPÇÃO PELO LUCRO PRESUMIDO • Cálculos dos tributos são feitos de maneira simplificada; • Economia financeira quando o lucro auferido, efetivamente, for superior ao calculado pela aplicação dos percentuais de presunção; • As alíquotas de PIS e Cofins são menores do que as devidas pelo lucro real; 16 • A escrituração contábil é dispensada caso a empresa mantenha o Livro Caixa com toda a movimentação financeira. 5.1 Desvantagens da opção pelo lucro presumido • O valor do recolhimento de mais IRPJ e CSLL quando a presunção do lucro for superior ao lucro real auferido; • Impossibilidade da dedução de despesas operacionais da base de cálculo do IRPJ e da CSLL; • Impossibilidade de utilizar créditos fiscais da base do PIS e Cofins; • Se houver menor lucratividade durante o ano, não poderão ser feitos ajustes dentro do exercício; • É necessário apurar o balanço para a distribuição de lucros para os sócios, acima da presunção adotada para o IRPJ. 5.2 Características do lucro arbitrado Os dispositivos legais aplicáveis ao lucro arbitrado estão previstos nos arts. 602-612 do RIR/2018 (Decreto n. 9.580/2018) e são aplicados quando as pessoas jurídicas não fornecerem meios seguros para determinar o imposto calculado com base no lucro real ou presumido. Assim, o Fisco Federal tem o direito de arbitrar o valor da receita da empresa para fins de cálculo do IRPJ e da CSLL. Ocorrida qualquer das hipóteses previstas na legislação fiscal e que ensejam o arbitramento de lucro, o cálculo do lucro arbitrado e do consequente imposto devido poderá ser realizado: • pela autoridade fiscal; • pelo próprio contribuinte, quando conhecida sua receita bruta. 5.3 Hipóteses de arbitramento do lucro As hipóteses de arbitramento do lucro estão previstas no art. 603 do RIR/2018, quais sejam: • Se o contribuinte, obrigado à tributação com base no lucro real, nãomantiver escrituração na forma das leis comerciais e fiscais ou deixar de elaborar as demonstrações financeiras exigidas pela legislação fiscal; 17 • Se a escrituração que obrigar o contribuinte a revelar evidentes indícios de fraudes contiver vícios, erros ou deficiências que a tornem imprestável para identificar a efetiva movimentação financeira (inclusive bancária) ou para determinar o lucro real; • Se o contribuinte, não obrigado à tributação com base no lucro real, deixar de apresentar à autoridade tributária os livros e documentos da escrituração comercial e fiscal, ou o Livro Caixa, nos quais deverá estar escriturada toda a movimentação financeira, inclusive bancária; • Se o contribuinte optar indevidamente pela tributação com base no lucro presumido; • Se o comissário ou representante da pessoa jurídica estrangeira deixarem de cumprir o disposto no parágrafo 1º do art. 76 da Lei n. 3.470/1958; • Se o contribuinte não mantiver, em boa ordem e segundo as normas contábeis recomendadas, Livro Razão ou fichas utilizadas para resumir e totalizar, por conta ou subconta, os lançamentos efetuados no Diário; • Se o contribuinte não escriturar ou deixar de apresentar à autoridade tributária as informações necessárias para gerar o Fcont por meio do Programa Validador e Assinador da Entrada de Dados para o Fcont, de que trata a Instrução Normativa RFB n. 967/2009 no caso de pessoas jurídicas sujeitas ao RTT; • Se o contribuinte não escriturar ou deixar de apresentar à autoridade tributária a ECF. 5.4 Critérios para apuração do lucro arbitrado De acordo com os arts. 605 e 606 do RIR/2018, os percentuais a serem aplicados sobre a receita bruta, quando conhecida, são os aplicáveis para o cálculo da estimativa mensal e do lucro presumido, pelo regime de competência, acrescidos de 20%. Para as instituições financeiras, o percentual será de 45%, conforme a Tabela 6: 18 Tabela 6 – Percentual para instituições financeiras Atividade % Atividades em geral 9,6% Revenda de combustíveis 1,92% Serviços de transporte (exceto transporte de carga) 19,2% Serviços de transporte de carga; Atividades imobiliárias relativas a loteamento de terrenos, incorporação imobiliária, construção de prédios destinados à venda, bem como venda de imóveis construídos ou adquiridos para revenda; Atividade de construção por empreitada, com emprego de todo o material indispensável à sua execução, sendo incorporado à obra. 9,6% Prestação de qualquer outra espécie de serviço não mencionada no parágrafo 4º do art. 227 da IN-RFB 1.700/2017. 38,4% Prestação de serviços hospitalares e de auxílio diagnóstico e terapia, patologia clínica, imagenologia, anatomia patológica e citopatologia, medicina nuclear e análises e patologias clínicas, exames por métodos gráficos, procedimentos endoscópicos, radioterapia, quimioterapia, diálise e oxigenoterapia hiperbárica, desde que a prestadora desses serviços seja organizada sob a forma de sociedade empresária e atenda às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 9,6% Intermediação de negócios; Prestação de serviços relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentados. 38,4% Administração, locação ou cessão de bens e direitos de qualquer natureza; Construção por administração ou por empreitada unicamente de mão de obra ou com emprego parcial de material; Construção, recuperação, reforma, ampliação ou melhoramento de infraestrutura no caso de contratos de concessão de serviços públicos, independentemente do emprego parcial ou total de material. 38,4% Prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração de contas a pagar e a receber, compra de direitos 38,4% 19 creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring); coleta e transporte de resíduos até aterros sanitários ou lugar de descarte; Nas atividades desenvolvidas por bancos comerciais, de investimento, de desenvolvimento, agências de fomento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de previdência privada aberta. 45% Fonte: Mattos, 2021. O lucro arbitrado das pessoas jurídicas que não conhecerem a receita bruta será determinado por procedimento de ofício, com a seleção de uma base e da sua multiplicação pelo respectivo coeficiente, ambos previstos em lei – RIR/2018, art. 608, parágrafo 1º; e IN-RFB n. 1.700/2017, art. 232, conforme a Tabela 7: Tabela 7 – Lucro arbitrado de pessoas jurídicas que não conhecerem a receita bruta Bases alternativas Coeficiente Lucro real referente ao último período em que a pessoa jurídica manteve escrituração de acordo com as leis comerciais e fiscais. 1,5 Soma dos valores do ativo circulante e do ativo não circulante realizável a longo prazo; Investimentos, imobilizado e intangível, existentes no último balanço patrimonial conhecido. 0,12 Valor do capital, inclusive correção monetária contabilizada como reserva de capital, constante do último balanço patrimonial conhecido ou registrado nos atos de constituição ou alteração da sociedade. 0,21 Valor do patrimônio líquido constante do último balanço patrimonial conhecido. 0,15 Valor das compras de mercadorias efetuadas no trimestre. 0,4 20 Soma, em cada trimestre, dos valores da folha de pagamento dos empregados e das compras de matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem. 0,4 Soma dos valores devidos no trimestre a empregados. 0,8 Valor do aluguel devido no trimestre. 0,9 Fonte: Mattos, 2021. 5.5 Alíquotas de IRPJ e CSLL As pessoas jurídicas, independentemente da forma de constituição e da natureza da atividade exercida, devem pagar o imposto de renda à alíquota de 15%, incidente sobre a base de cálculo apurada na forma do lucro arbitrado. O adicional do imposto de renda devido pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro arbitrado será calculado mediante a aplicação do percentual de 10% sobre a parcela do lucro que exceder o valor de R$ 60.000,00 em cada trimestre. Já o critério para a apuração da CSLL no lucro arbitrado é o mesmo, inclusive com a alíquota de 9%, estabelecida para o lucro presumido, observando os coeficientes e percentuais estabelecidos nas tabelas. 21 REFERÊNCIAS CREPALDI, S. Planejamento tributário: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. BRASIL. Lei n. 4.923, de 23 de dezembro de 1965. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 dez. 1965. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4923.htm>. Acesso em: 21 out. 2021. _____. Lei n. 8.981, de 20 de janeiro de 1995. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 jan. 1995. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8981.htm>. Acesso em: 21 out. 2021. _____. Lei n. 9.430, de 27 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9430.htm>. Acesso em: 21 out. 2021. _____. Decreto n. 9.580, de 22 de novembro de 2018. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 nov. 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9580.htm>. Acesso em: 21 out. 2021. FABRETTI, L. C. Direito tributário para os cursos de administração e ciências contábeis. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2014.