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Vict�ria K. L. Card�so Pericardite Introdução Definição: doença causada pela inflamação do pericárdio → representa 5% das causas não isquêmicas de dor torácica na emergência. ● Principal causa: infecções virais → 85 a 90% dos casos. ○ Também pode ser secundária a afecções sistêmicas e infecções bacterianas. Função do pericárdio: proteger o coração e reduzir o atrito entre o coração e reduzir o atrito entre o coração pulsante e as estruturas adjacentes. Definição pelo tempo: ● Agudo: duração < 4-6 semanas. ● Incessante: duração > 4-6 semanas, sem remissão. ● Recorrente: novos sinais e sintomas inflamatórios, após um período sem sintomas de 4-6 semanas. ● Crônica: duração > 3 meses. Etiologias: ● Pericardite infecciosa: ○ Viral: Coxsackie, Echo, EBV, CMV, HIV e parvovirus B19. ○ Bacteriana: meningo, pneumo, gonococo, tuberculose, clamídia e borreliose. ○ Fúngica: cândida e histoplasma. ○ Parasitária: Toxoplasma, Entamoeba histolytica e Echinococcus. ● Doença pericárdica neoplásica: ○ Tumores primários. ○ Metástases de tumores secundários: pulmão, mama, linfoma, TGI, sarcomas/melanoma e outros. ● Doenças autoimunes: ○ Lúpus. ○ Artrite reumatoide. ○ Espondilite anquilosante. ○ Esclerose sistêmica, dermatomiosite, poliarterite nodosa, febre familiar do Mediterrâneo e síndrome de Reiter. ● Processos autoimunes: ○ Febre reumática. ○ Síndrome pós-pericardiotomia. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Pós-infarto agudo do miocárdio (IAM) (Dressler). ○ Pericardite crônica autorreativa. ○ Toxicidade por drogas. ● Pericardite associada a doenças de órgãos adjacentes: ○ IAM (pericardite epistenocárdica). ○ Miocardite. ○ Dissecção de aorta. ○ Infarto pulmonar. ○ Insuficiência cardíaca (hidropericárdio). ○ Pneumonia. ● Desordens metabólicas: ○ Insuficiência renal. ○ Hipotireoidismo/mixedema. ○ Doença de Addison. ○ Cetoacidose diabética. ○ Pericardite por colesterol. ● Trauma: ○ Trauma penetrante. ○ Ruptura esofágica. ○ Pós-procedimentos invasivos: passagem de marca-passo, estudo eletrofisiológico, biópsia endomiocárdica, intervenções valvares e coronárias percutâneas. ● Outros: ○ Gravidez. ○ Idiopática. Sinais sugestivos de etiologia não viral: ● Anemia. ● Emagrecimento. ● Sudorese noturna. ● Pneumonia bacteriana em tratamento. ● Imunossupressão. ● IAM recente. ● Neoplasia prévia. ● Tuberculose prévia. ● Doenças autoimunes. ● Cirurgia cardíaca. ● Radioterapia. Quadro clínico Principal ponto: o quadro depende da etiologia → lembrando que, na maioria das vezes, a pericardite aguda é por causa viral/idiopática. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Pródromos virais: (comum) febre, mialgia e sintomas de vias aéreas superiores ou do trato gastrointestinal. Etiologia neoplásica, autoimune ou tuberculosa: menos febre e menos toxemia. Dor torácica da pericardite aguda: (muito diferente da dor anginosa) ● Possui característica pleurítica → pode ser suave ou latejante. ● Início súbito e de forte intensidade → piora com inspiração profunda e tosse. ● Irradia para o pescoço e para o trapézio. ● Geralmente a dor tem caráter postural → piora em decúbito dorsal e melhora sentado ou inclinado para frente. Achados no exame físico: ● Temperatura febril. ● Toxemia. ● Taquicardia. ● Aparato pulmonar: pode haver derrame pleural. ● Aparato cardíaco: presença de atrito pericárdico (85% dos casos). ○ Características: som rude, irregular e bem audível em borda esternal esquerda → pode ser intermitente (por isso se realiza o exame físico seriado). ○ O atrito pericárdico pode ser percebido com a inclinação do paciente para frente ou quando este apoia os cotovelos no joelho. ● Manifestações não cardíacas ligadas a uma doença sistêmica: (podem estar presente na avaliação) ○ Perda de peso. ○ Suor noturno. ○ Erupção cutânea. ○ Artrite. Complicações da pericardite aguda: ● Recidivas. ● Tamponamento cardíaco. ● Pericardite constritiva. Diagnóstico Critérios diagnósticos de pericardite aguda: se dá o diagnóstico com > 2 critérios. 1. Dor torácica sugestiva. 2. Atrito pericárdico. 3. Alterações eletrocardiográficas sugestivas. 4. Novo derrame pericárdico ou aumento do preexistente. Medidas gerais: ● Anamnese e exame físico. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● ECG + radiografia de tórax. ● Hemograma, PCR, VHS, CK-MB e troponina. ● Ecocardiograma, especialmente em alteração de marcadores de necrose ou instabilidade hemodinâmica. ● Ressonância cardíaca → nos casos duvidosos. Exames complementares: ● Eletrocardiograma (ECG): ○ Supradesnivelamento do segmento ST com concavidade para cima. ○ Infradesnivelamento de PR. ○ Maior envolvimento das derivações DI, DII, aVF e V3-V6. ● Estágios eletrocardiográficos da pericardite aguda: ○ Estágio I: ■ Supra de ST difuso com concavidade para cima. ■ Desvio de PR com polaridade oposta à da onda P. ○ Estágio II: ■ Precoce: reversão das alterações do segmento ST e segmento PR desviado. ■ Tardio: achatamento progressivo e inversão de onda T. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Estágio III: inversão de T generalizada. ○ Estágio IV: ECG retorna ao basal/persistência da T invertida. ● Laboratório: ○ Leucocitose. ○ Elevação de PCR e VHS. ○ Alteração de CK-MB e de troponina → pode ser por comprometimento miocárdico. ■ Sugere o diagnóstico de miopericardite. ○ Sorologias virais e cultura para vírus: baixo rendimento diagnóstico e não altera a conduta → não é recomendada de rotina. ○ Provas de atividade reumatológica: FAN e FR. ■ NÃO se realiza de rotina, se faz apenas com suspeita clínica de doença autoimune. ● Radiografia de tórax: é normal na maioria dos pacientes. ○ Se derrame pericárdico = pode haver aumento da área cardíaca em > 200 mL. ■ Também pode ocorrer nos casos de miopericardite com insuficiência cardíaca aguda. ● Ecocardiograma: importante para detectar derrame pericárdico, tamponamento cardíaco ou alterações de contratilidade segmentar. ○ Indicação: todos os casos, especialmente em alteração de CKMB ou troponina ou em sinais de comprometimento hemodinâmico. ○ Pode ser usada também para uma avaliação em tempo real na drenagem pericárdica. ● Biomarcadores: ainda não há nenhum biomarcador específico. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ 30% dos pctes apresentam algum grau de elevação de troponina cardíaca I ou T → envolvimento concomitante do miocárdio subepicárdico. ○ A elevação da troponina não é um marcador prognóstico negativo. ● Tomografia computadorizada com contraste: mais sensível para identificar a calcificação pericárdica e pode permitir a caracterização inicial do líquido pericárdico, melhor que o ecocardiograma. ○ Limitação: incapacidade de fazer avaliação hemodinâmica em tempo real. Exame NÃO invasivo padrão-ouro para o diagnóstico: ressonância magnética cardíaca. ● Há boa sensibilidade para derrame pericárdico e avalia a espessura pericárdica e o comprometimento miocárdico. ● Realce tardio pericárdico por gadolínio: pode sugerir inflamação aguda (importância prognóstica e terapêutica). ● Muito usado no caso de ecocardiograma ambíguo ou se há suspeita de envolvimento miocárdico. Exames para investigação etiológica: ● Hormônios tireoideanos. ● Provas reumatológicas. ○ Lúpus → LES, FAN, auto-Acs. ○ Artrite reumatoide (raro) → FR. ○ Esclerose sistêmica (raro) → anti-SCL70 e anticentrômero. ○ Vasculites sistêmicas → GEPA (glomerulonefrite eosinofílica com poliangiite), síndrome de Churg-Strauss → anca-p. ○ Poliarterite nodosa. ○ Behçet. ● Função renal. ● Hemocultura. ● Se derrame pericárdico volumoso: ○ Análise histológica e imuno-histoquímica. ○ ADA - avaliação para TB. ○ Pesquisa de céls oncóticas. ○ Pesquisa viral. Diagnóstico diferencial: (quadros torácicos) ● Insuficiência coronariana. ● Tromboembolismo pulmonar. ● Takotsubo. ● Miocardite. ● Dissecção de aorta. ● Pneumotórax. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ● Infecções pulmonares. ● Costocondrite. Tratamento Quadro geral: a maioria dos casos viraisagudos ou idiopáticos tem bom prognóstico, com curso autolimitado. ● Tratamento ambulatorial: para a maioria dos pacientes de baixo risco. ● Restrição de atividade: restrição por 3 meses. ○ Recomendações para volta de atividades: normalização de biomarcadores, função ventricular normal e ausência de arritmias em repouso ou induzidas por exercícios. ● Fármacos: (+ acompanhamento ambulatorial) ○ Colchicina (0,5 mg, VO, 2x ao dia) → usar por 3 meses (agudo) ou 6 meses (crônico) + ○ Antiinflamatórios não hormonais (AINH) → usar por 1-2 semanas. ■ Aspirina: 750-1000 mg, VO, 3x ao dia. ■ Ibuprofeno: 600 mg, VO, 3x ao dia. ■ Indometacina: 25-50 mg, VO, 3x ao dia. ○ Terapia específica para causa identificada que não seja infecção viral. ○ Corticosteróide → apenas usar em pacientes com contraindicação de AINH, no início da pericardite aguda, ou em indicações específicas (doença inflamatória sistêmica, gravides e insuficiência renal). ■ Prednisona: 0,2-0,4 mg/kg/dia → 2 semanas (agudo) ou 2-4 semanas (recorrente). ● Se não houver resposta à terapia, internar o paciente para avaliação. Sinais de alto risco de complicações: ● Pulso paradoxal. ● Sinal de Kussmaul. ● Febre alta > 38. ● Curso subagudo. ● Derrame pericárdico de moderado a importante (> 20 mm). ● Tamponamento cardíaco. ● Imunossupressão. ● Uso de anticoagulante oral. ● Trauma torácico recente. ● Pericardite recorrente. ● Miopericardite. ● Falha terapêutica após 7 dias de tratamento. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so Internação: é recomendada para pctes com alto risco de pericardite aguda, devido a um fato de risco preditor de causa específica ou por maior risco de complicações. Tratamento com antiinflamatórios não hormonais: ● Para quem: para quase todos os pacientes. ● Objetivo: alívio dos sintomas → não alteram a história natural da doença. ○ Tem boa segurança, poucos efeitos colaterais e bom efeito no fluxo coronariano. ● Ibuprofeno: 600 mg, VO, 8/8 h (3x ao dia). ○ Manter a dose até não haver mais sintomas e se ter normalização do PCR. ○ Tempo médio: 1 a 2 semanas. ○ Após essa etapa: reduzir 1/3 da dose por semana até a retirada completa → geralmente de 2 a 4 semanas. ● Em pacientes com DAC: se usa ácido acetilsalicílico (AAS). ○ 650-1000 mg, VO, 3x ao dia → 1-2 semanas. ● Para todos os pacientes: proteção gástrica com inibidores da bomba de prótons. Tratamento com colchicina: terapia de primeira linha para pericardite aguda e terapia adjuvante ao AAS. ● Colchicina: 0,5 mg, 2x ao dia, por 3 meses. ○ Utilizar 1 ×/dia em pacientes com menos de 70 kg. ● Efeito colateral comum: diarreia. ● Cuidado: pacientes com insuficiências renal e hepática, discrasias sanguíneas, distúrbios da motilidade gastrointestinal e em uso de drogas metabolizadas pelo citocromo P450. Tratamento com corticóide: ● Importante: causa melhora rápida dos sintomas, mas com aumento das taxas de recidiva → portanto, evita-se o uso precoce. ● Indicação: ○ Pericardite secundária à tuberculose. ○ Doenças autoimunes. ○ Uremia. ○ Pericardite durante a gravidez. ● Considerar: pericardite viral ou idiopática, com falha terapêutica ao uso de antiinflamatórios não hormonais (AINH). ● Prednisona: 0,2-0,5 mg/kg. @p�sitivamed Vict�ria K. L. Card�so ○ Nos casos de TB e de doenças autoimunes: 1-2 mg/kg. ○ Desmame: deve ser lento → 2,5 mg por semana. Tratamento com imunossupressores/imunomoduladores: ● Quando considerar: pericardite incessante ou recorrente com falha documentada às terapias anteriores. ● Exemplares: imunoglobulina, azatioprina, ciclosporina e antagonistas da interleucina-1 (anakinra). Indicações para pericardiocentese ou drenagem cirúrgica: ● Tamponamento cardíaco. ● Derrame pericárdico sintomático de moderado a grande e que não responde à terapia médica. ● Derrame pericárdico com suspeita de etiologia bacteriana ou neoplásica. Pericardiectomia: base do tratamento para constricção permanente. Análises citológicas do líquido pericárdico: é recomendado para a confirmação de uma doença pericárdica neoplásica @p�sitivamed
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