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Medida de Segurança

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Direito Penal 07-04-2021 | Quarta-feira
MEDIDAS DE SEGURANÇA 
Medida de segurança 
Modalidade de resposta criminal, detentiva ou restritiva, de caráter preventivo, decorrente de prática de um ilícito típico e que apresenta como pressuposto a periculosidade do agente. 
Será, em regra, de internação em hospital de custódia ou, quando cabível, de tratamento ambulatorial. 
O princípio para aplicação da medida de segurança é o agente ser inimputável. Isso significa que ele não pode responder juridicamente por suas ações, seja por causa da idade (menoridade, no caso da inimputabilidade etária) ou da consciência psíquica (nos casos de desenvolvimento mental incompleto ou retardado, de maneira que o agente não é capaz de entender a ilicitude do fato que pratica).
Para os semi-imputáveis por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, a pena é reduzida de 1/3 a 2/3 — sentença condenatória (art. 26, parágrafo único, CP).
· Nos casos de crimes cometidos por adolescentes, o processamento é feito pela Justiça da Infância e da Juventude, afastando a competência de juízo criminal para o julgamento do caso. 
· No caso de inimputável psíquico, ele é julgado pela justiça comum. Porém, há o imperativo de absolvição do acusado, pelo art. 386 do Código de Processo Penal — não se considera crime pela ausência da culpabilidade do agente. Ressalta-se o status de absolvição imprópria, já que há a sujeição do agente à medida de segurança. 
Requisitos: 
1. Prática de fato típico e antijurídico; 
2. Periculosidade do agente;
3. Inexistência de causa extintiva da punibilidade. (em casos de legítima defesa ou estado de necessidade não se considera crime, portanto, não há como aplicar pena ou medida de segurança)
DiferençasMEDIDA DE SEGURANÇA
1. Caráter preventivo;
2. Baseia-se na periculosidade;
3. Prazo indeterminado, enquanto existir periculosidade;
4. Aplicada aos inimputáveis e, excepcionalmente, quando necessitarem de especial tratamento curativo.
PENA
1. Caráter retributivo-preventivo;
2. Baseia-se na culpabilidade;
3. São por período determinado; 
4. Aplicada aos imputáveis e semi-imputáveis.
Espécies de medidas de segurança 
 Art. 96. As medidas de segurança são
        I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado;  
        II - sujeição a tratamento ambulatorial.
        Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta. 
A internação pode ser aplicável tanto aos inimputáveis quanto aos semi-imputáveis, ocorrendo em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou em outro estabelecimento adequado. Regra para a aplicação das medidas de segurança, implicando na privação da liberdade do agente (medida detentiva). Aplicável para crimes apenados com reclusão.
· O hospital de custódia e tratamento psiquiátrico refere-se ao antigo manicômio judicial, que, apesar de não existir mais na lei, persiste na prática, uma vez que não houve investimento da construção de novos estabelecimentos. 
O tratamento ambulatorial constitui medida restritiva, uma vez que o agente permanece livre, porém, submetido a recurso terapêutico. É realizado no hospital de custódia e pode ser convertido em internação em qualquer fase de sua execução, se o juiz estiver convencido da necessidade de tal para fins curativos. Aplicável para crimes apenados com detenção. Ou crimes que são apenados com reclusão, mas têm um motivo “bobo” — os tribunais têm relativizado isso, analisando o caso concreto, não seguindo a rigor a lei (entendimento do STJ). 
Prazo de duração 
Possui duração indeterminada, porém segue alguns limites. Sua aplicação é mantida enquanto não for realizada a perícia médica que identifique a cessação da periculosidade, ou até atingir seu prazo máximo. Prazo mínimo de um a três anos.
· A duração da medida é determinada pela verificação de periculosidade — referente ao perigo que o agente apresenta para si e para outrem, não sobre a probabilidade de praticar delitos. É realizada por decisão judicial baseada em perícia médica (realizada a cada ano ou a qualquer tempo, se determinar o juiz da execução).
· Se ao final do prazo mínimo, o indivíduo ainda for considerado de alta periculosidade, a medida é restabelecida. 
· Essa previsão legal pode levar a hipóteses de duração ilimitada da pena, condenando o indivíduo à perda de sua liberdade — o que seria uma violação do art. 5º, XLVII, b da Constituição Federal, que veda a existência de pena de caráter perpétuo. 
· Sendo assim, o STF fixou o prazo máximo de 40 anos para que a medida de segurança seja cumprida (alteração de 30 para 40 anos pelo pacote anticrime)
· Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado — princípios da isonomia e proporcionalidade.
Execução, suspensão e extinção
A execução da medida de segurança se inicia com o trânsito em julgado da sentença que a determine, expedindo-se carta de guia pela autoridade judiciária competente que apresente os dados exigidos pelo art. 173 da Lei de Execução Penal, destinada à autoridade administrativa, a qual deve proceder à execução. 
· A aplicação da medida sem tal ato constitui contravenção penal com sanção de multa, pelo art. 22 da Lei de Contravenções Penais. 
· Se o réu for detido em prisão provisória antes da execução da medida, tal prazo de detenção deve ser contabilizado no período para a medida. 
· Caso a medida constitua espécie de internação, o exame criminológico deve ser realizado, para que a sanção seja adequadamente individualizada e a medida cumpra com seus resultados preventivos. O exame é facultativo para a aplicação do tratamento ambulatorial. 
A suspenção acontece somente mediante exame médico que conclua a cessação da periculosidade do indivíduo, mediante procedimento disposto no art. 175 da Lei de Execução Penal. 
· Cessada a periculosidade, o juiz determina a desinternação de modo condicional, afastando a aplicação da medida de ordem restritiva. (é sempre condicional)
· Se a pessoa liberada venha a cometer fato que indique a persistência da periculosidade (não precisa ser típico e antijurídico) antes do decurso de um ano, poderá ser novamente internada ou submetida a tratamento ambulatorial — demonstra o caráter provisório da decisão. 
A extinção ocorre com a liberação definitiva do indivíduo se, ao prazo de um ano após a suspenção da sanção, não houver prática de conduta que demonstre persistência da periculosidade. 
Substituição da pena por medida de segurança 
De acordo com o art. 183 da Lei de Execução Penal, a pena pode ser transformada em medida de segurança quando o agente, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental. 
· Substituição pode se dar pelo juiz, de ofício, ou a requerimento do MP, da DP ou autoridade administrativa. 
· Só acontece em hipótese de pena privativa de liberdade.
· Quando é pena restritiva de diretos ou multa, o art. 52 do CP determina a suspensão de sua execução sobrevindo doença mental.
· A enfermidade pode ser temporária ou duradoura:
· Temporária: a pena não é convertida em MS, mas o condenado é transferido para o hospital de custódia e tratamento psiquiátrico durante o tempo necessário para sua cura — disposto no art. 41 do CP.
· Duradoura: procede a substituição da pena por MS, segundo disposto no art. 98 do CP. 
· Duração indefinida, prazo igual ao restante da pena aplicada, prazo máximo de 40 anos.
· A aplicação da MS se dá ante a inadaptação do indivíduo em permanecer no estabelecimento prisional. 
· Caso não haja recuperação do condenado ao fim do período, entende-se que ele pode ser colocado à disposição do juízo cível para aplicação das medidas necessárias.
· Cessando a razão para a conversão em MS, há a reconversão da medida em pena, persistindo até o término do tempo que fora determinado para sua execução.
Cessação de periculosidade
Aferida através de perícia médica, realizadaapós o término do período mínimo fixado, variando de um a três anos — art. 175 do CP — e deve ser repetida a cada ano ou em menor tempo, se determinado pelo juiz da execução.
O condenado ou sujeito a tratamento ambulatorial é livre para contratar médico de sua confiança para acompanhar o tratamento coercitivo. Divergências entre o médico do contratado e o oficial deverão ser resolvidas pelo juiz da execução — art. 43 da Lei de Execução Penal.
Constatada a cessação, ocorre a desinternação ou liberação condicional, período em que o condenado deverá cumprir, obrigatoriamente, as seguintes condições: 
1. Obter ocupação lícita, em prazo razoável se for apto para trabalho;
2. Comunicar, periodicamente, ao Juiz sua ocupação;
3. Não mudar o território da comarca do Juízo da execução, sem sua prévia autorização;
4. Não mudar de residência sem comunicar ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção;
5. Recolher-se à habitação m hora fixada;
6. Não frequentar determinados lugares.
4, 5 e 6 não são obrigatórios para a cessação, mas podem levar à determinação de nova perícia a ser realizada. 
Prescrição 
O cálculo do prazo prescricional da MS se sujeite o inimputável se dá com base no montante máximo da pena em abstrato cominada ao fato (entendimento consolidado do STF e do STJ).
Ao semi-imputável, o qual foi condenado antes da substituição da pena por MS, o cálculo se dá com base no montante da pena originalmente aplicada na decisão judicial. 
Internação provisória ou preventiva 
Medida cautelar prevista para o inimputável ou semi-imputável em caso de crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, quando houver risco de sua reiteração. Deve haver perícia para fins de aferição da sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade, como de referido risco — lei 12.403/2001, que alterou o Código de Processo Penal.

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