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FACULDADE PIAGET 
CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA 
 
 
 
GILSON DOS SANTOS 
 
 
 
 
GENÉTICA E COMPORTAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Suzano 
2022 
FACULDADE PIAGET 
CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
GILSON DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho Discente Efetivo (TDE) apresentado 
como exigência para a disciplina de Biologia, 
sob a orientação da Profª. Ana Claudia 
Pelizon. 
 
 
 
 
 
 
 
 Suzano 
 2022 
3 
 
1. INTRODUÇÃO 
O presente trabalho tem o objetivo de discutir a influência genética no 
comportamento humano. É de conhecimento que a predisposição genética tem papel 
importante, mas hábitos e ambiente são também influências significativas nos seres 
humanos. 
O caminho escolhido passa pela análise de artigos que tratam da interação 
entre genes e ambiente, a determinação biológica, a questão ética na manipulação do 
genoma e o papel da genética na dependência do álcool. 
Isso nos possibilitará um entendimento maior das complexas interações que 
moldam o comportamento de uma perspectiva científica, abordando aspectos sociais 
e biológicos. 
Segundo Pinheiro (1995), quando grupos humanos são considerados, a 
simples observação nos convence de que as diferenças na constituição física são 
biológicas, mas há também diferenças em muitos traços comportamentais e estes 
costumam confrontar o observador com o seguinte problema, se as diferenças 
comportamentais são determinadas cultural ou geneticamente. 
 
 
 
4 
 
 
2. OBJETIVO 
Ampliar o conhecimento sobre o que o molda/ determina o comportamento 
humano por meio da análise das complexas interações entre aspectos sociais e 
biológicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
3. COMPORTAMENTO HUMANO 
3.1 Ambientalista 
Historicamente, grande parte das discussões sobre origens ou causas do 
comportamento revela a existência de uma questão muito controversa, a questão 
inato-adquirido, também conhecida como nativismo-empirismo, natureza-educação 
ou hereditariedade-ambiente. A premissa básica da abordagem ambientalista é que o 
ambiente é o principal responsável pela formação das características básicas do ser 
humano. Nesse sentido, a forma ambientalista mais extrema é a do filósofo John 
Locke que entende o ser humano como sendo uma tábula rasa ao nascer e o meio 
ambiente escreveria a história do indivíduo por meio das condições e experiências de 
vida. Os psicólogos John Watson e Burrhus Skinner foram os principais adeptos dessa 
posição. Watson como fundador do behaviorismo nos Estados Unidos, que defendia 
uma explicação cultural ou ambiental no desenvolvimento do comportamento humano 
e Skinner, introdutor do conceito de condicionamento operante, conduta sujeita à 
regulação de fatores ambientais (PINHEIRO, 1995). 
Essa explicação ambientalista resultou em 
...um esforço que atingiu seu ápice nos grandes programas sociais e nas 
elevadas esperanças da década de 60, quando a atenção governamental 
recaiu sobre os direitos dos grupos minoritários e daqueles "socialmente 
desprivilegiados". Nos Estados Unidos, vários milhões de dólares foram 
gastos na esperança de que essas pessoas pudessem ser levadas a 
comportar-se como cidadãos responsáveis, previsíveis e produtivos. A 
oportunidade era apresentada sob a forma de maiores facilidades 
educacionais, treinamento profissional etc. Mas muitos dos programas 
sociais não deram resultado ou não mudaram quase nada. Não o suficiente 
para convencer o público, que era quem estava pagando as contas. Novos 
programas vieram e com eles, como bem ressaltou Robert A. Wallace em seu 
livro Sociologia - O fator genético, perguntas que ainda estão no ar: "estamos 
realmente mudando nossa sociedade com nossas atuais tentativas de 
moldagem cultural"? (Wallace, 1985, p.12). (apud PINHEIRO, 1995,p.54). 
 
3.2 Nativista 
O nativismo refere-se à herança biológica de uma pessoa, ou seja, recebida de 
seus pais. A afirmação da existência de ideias inatas surgiu com René Descartes e se 
constituiu no ponto de partida do longo debate inato-adquirido. Essa posição nativista, 
considera que as características básicas do homem já estão formadas no nascimento, 
devido à sua herança biológica. Por este motivo, seus adeptos sempre justificaram a 
presença ou ausência da mesma em um ou em ambos os pais, e mesmo em outros 
6 
 
consanguíneos, afastados ou não. Assim, por exemplo, um indivíduo é inteligente 
porque seu pai também o é; a outra só poderia ser uma ótima aluna de balé, pois sua 
mãe é uma grande bailarina; ainda outro é delinquente porque herdou no sangue etc. 
(PINHEIRO, 1995). 
Essa posição nativista resultou na 
...crença de que o comportamento humano (ou grande parte dele) é inato, no 
sentido de que nós nascemos com determinadas tendências e propensões, 
que não podem ser alteradas por aprendizagem. 
Há dois erros básicos nessa abordagem. O primeiro é que o que passa 
através das células sexuais não são caracteres, traços ou características 
(físicas ou comportamentais), mas sim uma informação genética ou genes, 
para simplificar. Não há genes que tornem alguém um músico ou um cientista. 
Os genes criam as bases para os traços culturais, mas não forçam o 
desenvolvimento de nenhum traço em particular. Caracteres adquiridos não 
são transmitidos por via biológica. (PINHEIRO, 1995,p.55). 
 
 
O segundo erro 
está relacionado ao significado da palavra inato. Qualquer traço, caráter ou 
característica que o indivíduo apresenta ao nascer é, por definição, inato ou 
congênito, mas não necessariamente hereditário (genético), pois há traços 
causados por fatores ambientais. Como exemplo, podemos citar as 
alterações produzidas no feto em decorrência do abuso de álcool pela mãe 
durante a gestação (principalmente durante os 3 primeiros meses); as 
anomalias produzidas pela gestante no início da gravidez, tais como sífilis, 
toxoplasmose e rubéola; entre outros. (PINHEIRO, 1995,p.55). 
 
Há, por outro lado, 
traços congênitos (inatos) que são genéticos; por exemplo, a cor da pele, 
certas doenças hereditárias como a aquiropodia (uma amputação congênita 
quádrupla; Freire-Maia, 1992), a acondroplasia (uma forma de nanismo; 
Fitzsimmons, 1985) etc.; mas há também muitos traços genéticos que não se 
manifestam ao nascer. É o caso da coréia de Huntington, uma degeneração 
progressiva do sistema nervoso central que, em geral, só surge no adulto 
(Ajmar et al., 1991). Outro exemplo é o de displasia ectodérmica pura que só 
afeta os cabelos e os dentes (Freire-Maia e Pinheiro, 1984, p.149) (apud 
PINHEIRO, 1995,p.55). 
 
3.3 Instintivo 
A discussão do inato deu origem a outra: a do instinto, cujo significado todos 
supostamente conheciam, mas que justamente por isso era mal compreendido - cada 
um tinha sua própria definição e quase todos estavam errados. Para vários autores, o 
ato instintivo é inato porque o indivíduo é capaz de executá-lo com eficiência desde a 
primeira vez, mesmo sem ter visto o ato ser executado por outro, ele é também 
inconsciente porque não há um ensaio mental prévio ou um planejamento consciente 
7 
 
que oriente a ação para a meta útil. Assim, alguns atos instintivos, bem típicos e 
automáticos, fazem parte do repertório do bebê - ele chora, mesmo sem ter visto 
ninguém chorar. m outras palavras, o comportamento instintivo é fundamentalmente 
genético, isto é, depende mais dos genes que o indivíduo herda, do que das 
experiências por que passa. Mas isto não significa que muitos instintos não possam 
se aperfeiçoar ou mesmo se redirecionar ante circunstâncias novas do ambiente 
(PINHEIRO, 1995,p.55-56). 
Enfim, para os ambientalistas, o comportamento apreendido resulta da 
interação do indivíduo com o meio, para criar experiências que se registram na 
memória e contribuem para o aperfeiçoamento dos desempenhossubsequentes. Por 
resultar de uma interação do indivíduo com o meio sua execução é possibilitada pela 
constituição genética do indivíduo (PINHEIRO, 1995, p.56). 
3.4 O papel da genética 
Os pesquisadores Messas & Vallada Filho (2004), procuraram examinar a 
questão da herdabilidade na dependência do álcool por meio da revisão de estudos 
em famílias, em gêmeos e de adoção, encontraram evidências para afirmar a 
importância dos fatores genéticos na transmissão da vulnerabilidade à dependência 
do álcool. Essa transmissão, segundo eles, pode ser melhor compreendida através 
de um modelo epigenético de desenvolvimento do transtorno, no qual condições 
biológicas hereditárias associam-se a situações ambientais ao longo da vida para a 
produção da dependência. Eles apresentam as condições biológicas intermediárias 
vinculadas ao alto risco para dependência do álcool. Por fim, descrevem os estudos 
moleculares que vêm estabelecendo associações entre polimorfismos e a 
dependência do álcool, com relevo para o sistema dopaminérgico. 
Os autores acima iniciam pela compreensão dos processos de formação dos 
transtornos mentais que vem se mostrando desafiadora desde a fundação do campo 
psiquiátrico. A busca por determinantes somáticos, que pudessem caracterizar em 
termos biológicos tais fenômenos, conferindo legitimidade não somente às categorias 
patológicas, mas consequentemente à própria psiquiatria, esteve presente como 
objetivo em diversos momentos da história da disciplina. 
 
 
8 
 
3.4.1 Hipóteses Biológicas 
Nas últimas décadas, foi observada a ascendência das hipóteses biológicas 
sobre a formação dos transtornos e, a partir dos anos 1970, as investigações 
destinadas a identificar possíveis determinantes orgânicos e a elaboração de uma 
classificação diagnóstica objetiva das patologias mentais passaram a predominar no 
cenário psiquiátrico. Com os avanços proporcionados pelas tecnologias de pesquisa 
médica, especialmente aqueles conquistados no campo das pesquisas genéticas, e o 
surgimento de diversas possibilidades de investigação do cérebro, uma verdadeira 
revolução no que se refere ao entendimento dos transtornos mentais estaria em curso. 
Nesse contexto, as neurociências ocupariam um papel central no campo da saúde 
mental, como fonte de conhecimento válido, científico e objetivo, capaz de revelar os 
nexos causais que conduzem à formação dos transtornos mentais (MESSAS & 
VALLADA FILHO 2004). 
Nesse sentido é importante notar que: 
As pesquisas em neurociências tinham como um de seus principais objetivos 
encontrar a determinação biológica dos mais variados fenômenos, entre os 
quais, os transtornos mentais. Com o desenvolvimento das pesquisas, as 
patologias mentais passam a ser entendidas e investigadas como transtornos 
neurológicos e a herança genética e a fisiologia cerebral são tomadas como 
cerne das doenças. Segue-se a isso um período de intenso investimento em 
investigações sobre a genética dos transtornos mentais, que buscavam 
identificar o gene responsável por cada transtorno e sobre o funcionamento 
cerebral, buscando correlacioná-lo a sinais e sintomas de doenças (MESSAS 
& VALLADA FILHO 2004, p.2). 
 
A consequência disso foi que: 
No âmbito da classificação diagnóstica, a publicação da terceira versão do 
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM 
(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), em 1980, é entendida 
como um marco do processo de transformação da psiquiatria e, 
principalmente, da mudança na fundamentação conceitual que servia de 
alicerce para o conhecimento e a prática psiquiátrica. Ainda que o DSMIII 
tenha sido elaborado com base em uma suposta neutralidade objetiva, 
exatamente em contraposição ao excesso de teoria psicodinâmica que teria 
predominado nas versões anteriores, as descrições objetivas e universais do 
manual representaram mais um passo em direção à prevalência de uma 
compreensão organicista dos transtornos no campo da saúde mental 
(MESSAS & VALLADA FILHO 2004, p.2). 
 
 A tendência de transformação na fundamentação conceitual gerou uma 
preocupação bastante pertinente ao se verificar que: 
9 
 
A defesa das hipóteses biológicas sobre a determinação dos transtornos 
mentais foi acompanhada pelo enfraquecimento dos demais discursos 
dirigidos ao entendimento da patologia mental. Até então, predominavam no 
campo psiquiátrico explicações psicológicas e ambientalistas sobre a 
formação dos transtornos, com pouca ou nenhuma referência aos 
determinantes biológicos. A psicanálise, a psiquiatria social e demais teorias 
psicológicas e sociológicas que vigoraram como referência primordial para a 
explicação da doença mental até os anos 1980 foram intensamente 
questionadas a partir da ascensão das primeiras teorias neurocientíficas 
(MESSAS & VALLADA FILHO 2004, p.2). 
 
Portanto, é importante destacar, ainda mais, que: 
...no contexto de elaboração do conhecimento médico-psiquiátrico da 
segunda metade do século XX, ambas as vertentes de explicação do 
adoecimento mental apresentavam-se como justificativas únicas e 
antagônicas, desfavorecendo qualquer possibilidade de compreensão que 
articulasse de forma complementar os campos biológico e psicossocial. 
Desse modo, o predomínio de um modelo biológico de explicação dos 
transtornos mentais tenderia a influenciar significativamente as possibilidades 
terapêuticas ofertadas na atenção à saúde mental, privilegiando intervenções 
medicamentosas e objetivas, e esvaziando as demais possibilidades de 
cuidado. O alcance da chamada remedicalização da psiquiatria e da 
ascensão do conhecimento neurocientífico não se limitou ao campo da saúde 
mental, mas foi difundido amplamente no imaginário cultural, tonando-se 
referência para explicar os mais variados fenômenos humanos, justificar 
condutas, fundamentar argumentos políticos e servir como suporte para 
narrativas pessoais (MESSAS & VALLADA FILHO 2004, p.2). 
 
3.4.2 Herança genética e ambiente 
Dando sequência ao estudo sobre a relação entre herança genética e ambiente 
que se desenvolve a partir da identificação de que um gene ou de um conjunto de 
genes como fonte originária de um processo mental patológico esteve entre uma das 
principais ambições da psiquiatria biológica. Durante décadas, cogitou-se que o 
desconhecimento acerca da etiologia dos transtornos seria superado com o avanço 
tecnológico e as possibilidades de pesquisa dele decorrentes. A partir do 
desenvolvimento de técnicas avançadas de pesquisa genética, a possibilidade de 
encontrar o eventual gene responsável pelo desenvolvimento de determinado 
transtorno mental tornou-se factível. Com o projeto de mapeamento do genoma 
humano, o que se propunha analisar era a arquitetura genética do corpo humano de 
modo a identificar os nexos causais entre a herança genética e o surgimento de 
doenças, propiciando a construção de intervenções terapêuticas e preventivas mais 
eficazes. Nesse sentido, diversas pesquisas dedicaram-se a buscar o gene 
responsável pelo surgimento da esquizofrenia, do transtorno bipolar, do autismo etc. 
No entanto, tal resultado, que equivaleria a finalmente revelar a fundamentação 
biológica dos transtornos mentais, não foi alcançado. Os resultados apresentados 
10 
 
com base nas primeiras pesquisas genéticas dos transtornos mentais não revelaram 
relações significativas entre os genes e as doenças investigadas. Essas pesquisas 
analisavam o material genético de famílias de portadores de transtorno mental em 
busca do gene determinante da doença. Sem resultados conclusivos, as amostras 
foram continuamente expandidas para reunir centenas de famílias, adotando a mesma 
estratégia de buscar um determinado gene que pudesse ser identificado como causa 
da doença (MESSAS & VALLADA FILHO 2004). 
3.4.3 Cérebro em desenvolvimento 
Os cientistas Messas & Vallada Filho (2004) discorrem sobre o cérebro em 
desenvolvimento, adentrando o campo neurocientífico,entendendo como a noção de 
epigenética está atrelada às noções de neurodesenvolvimento e plasticidade cerebral. 
Diferentemente da caracterização do cérebro como um processador de informações 
isolado, oriunda das ciências cognitivas, o modelo atual aponta para a multiplicidade 
de conexões e a indeterminação subjacente aos processos de desenvolvimento e 
funcionamento cerebral. Nesse contexto, os transtornos mentais são entendidos como 
o estado final de uma série de processos anormais de desenvolvimento do cérebro, 
que tem início anos antes do estabelecimento da patologia propriamente dita. Tais 
processos, presentes em momentos cruciais do desenvolvimento do indivíduo, 
conduziriam a modificações funcionais, como déficits cognitivos, alterações 
comportamentais, dificuldades de aprendizagem, entre outros, que contribuem para o 
aumento da vulnerabilidade à doença e indicam a possibilidade de seu aparecimento 
futuro. 
Então o que se depreende desse contexto é que: 
O entendimento dos transtornos mentais como transtornos do 
neurodesenvolvimento vem sendo valorizado como forma de explicar o cará- 
ter crônico e progressivo das patologias mentais. Uma vez que os transtornos 
psiquiátricos, em sua maioria, se desenvolvem lentamente e, uma 
vez instalados, frequentemente têm um curso duradouro e incapacitante, 
caracterizando-se como doenças crônicas, o conceito de desenvolvimento 
seria especialmente útil para compreendê-los 26. A perspectiva do 
neurodesenvolvimento parece ser fértil por considerar a continuidade dos 
fenômenos patológicos mentais, buscando os meios de conexão entre os 
acontecimentos experimentados na infância e adolescência e a patologia 
adulta, em consonância com os resultados de estudos epidemiológicos e 
11 
 
muitas das intuições de clínicos e pesquisadores da área 23,28,29,35. A tese 
geral no campo considera que a vulnerabilidade aos transtornos psiquiátricos 
surge a partir da exposição a fatores ambientais durante períodos críticos de 
desenvolvimento do cérebro. Os desafios seriam compreender os efeitos 
biológicos que as experiências adversas mais precoces causam no 
organismo, e explicar de que forma tais efeitos acabam por conduzir às 
diferenças de vulnerabilidade à doença em períodos posteriores da vida. 
Desse modo, na perspectiva do neurodesenvolvimento, interessa 
compreender o papel do ambiente nos processos cerebrais que se 
desenvolvem lentamente e causam modificações duradouras nos circuitos 
cerebrais, culminando na formação de transtornos (MESSAS & VALLADA 
FILHO 2004, p.5). 
 
3.4.4 Determinismo biológico 
 
Por fim os pesquisadores tecem considerações sobre o determinismo biológico 
e seu impacto no campo da saúde mental. Afirmam que a produção contemporânea 
do conhecimento biomédico vem promovendo o redirecionamento das principais 
hipóteses investigadas e a alteração dos modelos etiológicos adotados na explicação 
das doenças. As primeiras hipóteses investigadas, baseadas no determinismo 
biológico direto passam, gradativamente, a ser substituídas por hipóteses mais 
complexas sobre a formação das doenças. Essas pesquisas baseadas no modelo 
científico do mecanicismo biológico não trouxeram os resultados empíricos 
esperados. Consequentemente, a esperança de encontrar exclusivamente no código 
genético humano o fundamento etiológico das principais doenças que nos acometem 
vem se dissipando. De modo semelhante, no escopo de investigações 
neurocientíficas recentes, o objetivo de encontrar marcadores biológicos diretos, que 
pudessem ser identificados como causa dos transtornos mentais, não vem sendo 
alcançado com a esperada facilidade. É nesse contexto de decepção, reformulação e 
novos investimentos que a noção de vulnerabilidade começa a aparecer e se destacar 
nas pesquisas em neurociências e psiquiatria. Uma vez que as evidências científicas 
encontradas nas pesquisas do campo não têm sustentado a ambição reducionista, 
mas apontam para uma grande variabilidade de fatores de risco e para diferentes 
graus de vulnerabilidade possíveis, as interpretações encontradas nos artigos 
descrevem uma etiologia complexa, que resiste a tentativas de simplificação e 
previsibilidade. Assim, as noções de epigenética e neurodesenvolvimento são 
12 
 
combinadas em uma descrição dos transtornos mentais que, ainda que localize o 
cerne da experiência patológica no funcionamento biológico, é menos determinista e 
mais probabilística do que esperavam seus idealizadores (MESSAS & VALLADA 
FILHO 2004). 
3.5 Ética e Direito na manipulação do genoma humano 
Na sequência da discussão sobre a influência da herança genética ou dos 
fatores ambientais no comportamento humano, uma outra vertente se impõe na 
discussão que é a questão ética na manipulação do genoma humano e as implicações 
para os indivíduos e para a sociedade em geral. 
O genoma é o conjunto de toda informação de um determinado organismo, 
contido em seu material genético, DNA, ou mesmo RNA no caso de alguns vírus. O 
DNA é uma macromolécula orgânica que possui a informação contida na sequência 
de suas bases (adenina, timina, guanina e citosina); quando necessário, essa 
informação é disponibilizada para a célula na forma de uma molécula de RNA 
mensageiro. Essa molécula de RNA mensageiro será posteriormente lida e traduzida 
na forma de uma proteína, no citoplasma da célula. A biologia molecular tem fornecido 
as ferramentas básicas para os geneticistas se aprofundarem nos mecanismos 
moleculares e principalmente nos que influem na variação das doenças e, com isso, 
a divulgação da sequência do genoma humano abriu uma nova era para a medicina, 
A nova genética está penetrando de forma avassaladora nos mais diversos domínios 
do mundo contemporâneo, gerando uma revolução tecnocultural associada aos genes 
que tem transformado tecnologias, instituições, práticas e ideologias (GOULART et al, 
2010) 
A Constituição de 1988 assegura os direitos fundamentais do cidadão e 
Dispõe, ainda, no § 1º que, para assegurar a efetividade desse direito, 
incumbe ao Poder Público: 
a) inciso II – “preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético 
do país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de 
material genético”; 
b) inciso V – “controlar a produção, a comercialização e o emprego de 
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a 
qualidade de vida e o meio ambiente”. Ademais, convém lembrar que a Carta 
Magna estabelece uma gama de direitos individuais e coletivos que 
resguardam, dentre eles, o direito à vida (artigo 5º, caput), o direito à 
integridade física e moral, a dignidade humana (art. 1º, inciso III) , 
bem como a saúde como direito de todos e dever do Estado (artigo 196)6. 
O genoma humano é propriedade inalienável de toda a pessoa e, por sua 
vez, um componente fundamental de toda a humanidade. Dessa maneira, ele 
13 
 
deve ser respeitado e protegido como característica individual e específica, 
pois todas as pessoas são iguais no que se refere aos seus 
genes, afinal unicidade e diversidade são propriedades de grande valor da 
natureza humana. O Projeto Genoma Humano (PGH) iniciou-se em 1990 
para decifrar o código genético humano e suas alterações e em 2003 
concluiu-se o sequenciamento dos três bilhões de bases do DNA da espécie 
humana. Os objetivos do PGH em saúde envolvem a melhoria e simplificação 
dos métodos de diagnóstico de doenças genéticas, otimização das 
terapêuticas e prevenção de doenças multifatoriais (GOULART et al, 2010, 
p.1710). 
 
Ainda outro aspecto se faz relevante: 
 
Para Pena, a problemática vai convergir na interação de três elementos: os 
pesquisadores que geram o novo conhecimento, a comunidade empresarial 
que transforma este conhecimento em produtos e a população que vai 
absorver e incorporar os novos conhecimentos em sua visão de mundo e 
suas práticas sociais, além de consumir os novos produtos. Nesse sentido,Clotet alerta para a responsabilidade científica, uma vez que os 
cientistas devem imaginar as consequências morais da aplicação comercial 
de testes genéticos. No ser humano, será possível analisar milhares de genes 
ao mesmo tempo e as informações e as tecnologias disponibilizadas têm o 
potencial de modificar a compreensão e os conceitos atuais sobre o 
mecanismo de prevenção. As pessoas poderão saber se tem predisposição 
a determinadas doenças crônicas, como câncer, hipertensão, diabetes ou 
doença de Alzheimer e, desta forma, tratá-las antes do aparecimento dos 
sintomas. Na área da farmacologia, os medicamentos poderão ser 
administrados de acordo com o perfil genético do paciente (GOULART et al, 
2010, p.1711). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
4. CONCLUSÃO 
Portanto, é de conhecimento que a predisposição genética tem papel 
importante, mas hábitos e ambiente são também influências significativas nos seres 
humanos, o que molda/ determina o comportamento humano é um conjunto de 
complexas interações entre aspectos sociais e biológicos. 
Não há uma predominância do ambiente ou da genética, vai depender das 
interações dos diversos fatores que fazem parte da vida do indivíduo. Os 
comportamentalistas entendem que os seres humanos são muito maleáveis ao 
ambiente, diferentemente dos nativistas que demonstram evidências para afirmar a 
importância dos fatores genéticos na transmissão da vulnerabilidade a uma 
dependência, no caso, a do álcool. 
Enfim, os fatores genéticos, sociais e ambientais contribuem numa interação 
complexa para moldar nosso comportamento, sem ser ainda possível determinar o 
que é predominante na adoção desse ou daquele comportamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
REFERÊNCIAS 
GOULART, Maria Carolina Vaz. IANO, Flávia Godoy. SILVA, Paulo Maurício. SALES-
PERES, Silvia Helena de Carvalho. SALES-PERES, Arsênio. Manipulação do genoma 
humano: ética e direito in Ciênc. saúde coletiva 15 (suppl 1), Jun 2010. Disponível em: 
https://www.scielo.br/j/csc/a/Cx48fS9WCxjr7yjCPKynMQC/ Acesso em:17/04/2022 
MESSAS, Guilherme Peres. VALLADA FILHO, Homero Pinto. O papel da genética na 
dependência do álcool in Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):54-58. Disponível em: 
https://www.scielo.br/j/rbp/a/N8jBjjsPG9nR4Z3hNdxX6bQ/?lang=pt. Acesso em: 
20/03/2022 
 
PINHEIRO, Marta. Comportamento humano - interação entre genes e ambiente in 
Educar em Revista, nº10, p.3-57, 1995. Disponível em: 
https://www.scielo.br/j/er/a/NpLFhtgnLmYR6RH9Hd5F74y/?format=html. Acesso em: 
26/02/2022 
 
https://www.scielo.br/j/csc/a/Cx48fS9WCxjr7yjCPKynMQC/
https://www.scielo.br/j/rbp/a/N8jBjjsPG9nR4Z3hNdxX6bQ/?lang=pt
https://www.scielo.br/j/er/a/NpLFhtgnLmYR6RH9Hd5F74y/?format=html