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1 Sumário 1. Crimes Contra a Pessoa ......................................................................................................................................... 2 2. Crimes Contra a Honra ...................................................................................................................................... 115 3. Crimes Contra a Liberdade Individual ............................................................................................................... 168 4. Crimes Contra o Patrimônio .............................................................................................................................. 168 5. Crimes Contra a Dignidade Sexual .................................................................................................................... 296 6. Crimes Contra a Paz Pública .............................................................................................................................. 326 7. Crimes Contra a Fé Pública ............................................................................................................................... 336 8. Crimes Contra a Administração Pública ............................................................................................................ 363 9. Crimes Contra o Estado Democrático de Direito ............................................................................................... 414 2 DIREITO PENAL II PARTE ESPECIAL 1. Crimes Contra a Pessoa HOMICÍDIO 1. Conceito de Homicídio O homicídio é crime contra a vida. Nesse sentido, explica o prof. Victor Eduardo Rios Gonçalves1 “o homicídio consiste na eliminação da vida humana extrauterina provocada por outra pessoa. A vítima deixa de existir em decorrência da conduta do agente. Este pode realizar o ato homicida pessoalmente, ou atiçando um animal bravio contra a vítima, ou até mesmo valendo-se de pessoa inimputável, como no caso de convencer uma criança a jogar veneno no copo da vítima”. Segundo o Professor Rogério Sanches, trata-se da injusta morte de uma pessoa praticada por outrem. Conforme proclama Nelson Hungria, homicídio é o tipo central dos crimes contra a vida. É o ponto culminante na orografia dos crimes. É o crime por excelência. O homicídio é a eliminação na vida humana EXTRAUTERINA, posto que se for intrauterina poderemos estar diante do crime de aborto. Homicídio. Aborto. Infanticídio? O homicídio é a eliminação na vida humana EXTRAUTERINA. Em se tratando de eliminação da vida intrauterina, não estaremos diante do delito de homicídio, mas sim de aborto. E, caso a eliminação da vida extrauterina ocorra a partir de iniciado o trabalho de parto, o delito poderá, a depender do caso, ser o de homicídio ou de infanticídio (crime previsto no art. 123 do Código Penal). Em RESUMO: Eliminação da vida intrauterina Crime de Aborto Eliminação da vida extrauterina Crime de Homicídio Eliminação da vida extrauterina a partir de iniciado o parto + própria mãe + próprio filho + estado puerperal. Crime de Infanticídio 1 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 3 Conforme leciona Ulisses Luz, em se tratando de eliminação da vida intrauterina, não estaremos diante do delito de homicídio, mas sim de aborto. E, caso a eliminação da vida extrauterina ocorra a partir de iniciado o trabalho de parto, o delito poderá, a depender do caso, ser o de homicídio ou de infanticídio, previsto no art. 123 do CP. 2. Fundamento Constitucional e Convenção Americana de Direitos Humanos O direito à vida encontra proteção jurídica ao teor da Constituição Federal, bem como, da Convenção Americana de Direitos Humanos. Nessa esteira, nos termos da Constituição Federal: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. Noutra banda, prevê a Convenção Americana de Direitos Humanos: Artigo 4º - Direito à vida 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. 3. Topografia do Homicídio Homicídio Culposo Doloso Simples Privilegiado Qualificado 4 • Art. 121, Caput: homicídio doloso simples • Art. 121, § 1º: Homicídio doloso privilegiado • Art. 121, § 2º: Homicídio doloso qualificado • Art. 121, § 3º: Homicídio culposo • Art. 121, § 4º: Majorantes de pena • Art. 121, § 5º: Perdão judicial • Art. 121, § 6º: Majorante do grupo de extermínio ou milícia armada (Lei nº 12.720/12) • Art. 121, § 7º: Majorante para o feminicídio. 3.1 Observações pontuais Competência do Tribunal do Júri Nos termos do art. 5°, XXXVIII da Constituição Federal, a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida é do Tribunal do Júri. Das espécies acima mencionadas, exclui-se o homicídio culposo, posto que a CF menciona crimes DOLOSOS contra a vida, excluindo a modalidade culposa, consequentemente. Homicídio Preterdoloso O homicídio preterdoloso não está previsto ao teor do art. 121 do Código Penal, trata-se de uma espécie qualificada de lesão corporal, lesão corporal seguida de morte. In casu, o resultado morte ocorre a título de culpa. Configura lesão corporal seguida de morte, prevista ao teor do art. 129, §3º, do Código Penal, e não sendo crime doloso contra a vida, consequentemente NÃO É JULGADO perante o Tribunal do Júri. à Em não se tratando de crime doloso contra a vida, não será julgado perante o Tribunal do Júri. Homicídio versus Genocídio O crime de GENOCÍDIO tutela a diversidade humana e, por isso, tem caráter coletivo ou transindividual, não atraindo, por si só, a competência do Tribunal do Júri. Ocorre que uma das formas de praticar genocídio é por meio da morte de membros do grupo, nessa situação a competência constitucional para o julgamento de crimes contra a vida é do júri, sendo o delito de genocídio atraído pelo Tribunal do Júri. STF já decidiu que no caso de genocídio com morte, o agente responde por homicídio mais genocídio, em concurso formal impróprio. São bens jurídicos próprios/distintos. 5 Lei nº 2889/56 – Genocídio “Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra “a”. Crimes contra a Segurança Nacional x Homicídio Antes da revogação da Lei de Crimes contra a Segurança Nacional, quem matasse dolosamente e com motivação política o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal incidiria no crime definido pelo art. 29 da Lei 7.170/1983 (Crimes contra a Segurança Nacional) e não no crime de homicídio previsto no Código Penal. Atualmente, com a revogação da Lei contra a Segurança Nacional ocasionada pelo advento da Lei n. 14.197/21, não tivemos tipificação semelhante incorporada ao CP. Nesse contexto, o professor Rogério Sanches (2022) explica que há continuidade normativo-típica no art. 121, sendo uma novatio legis in mellius, posto que a pena anterior era entre 15 e 30 anos. 4. Homicídio (art. 121 do Código Penal) Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 4.1 Conduta Trata-se de crime de conduta livre. O homicídio é classificado como crime de conduta livre pelo fato de que não existe no art. 121 do CP um meio específicopara se praticar o crime de homicídio, sendo certo que a depender do modus operandi do agente, este poderá ser qualificado. Assim, contemplamos que certos meios de execução empregados no delito de homicídio, como, por exemplo, com emprego de tortura, poderá torná-lo em homicídio qualificado. Lembre-se! O meio de execução do delito de homicídio é livre, conforme mencionado acima. Contudo o meio de execução empregado poderá caracterizar uma qualificadora, como se dá no emprego de veneno, fogo, 6 explosivo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (CP, art. 121, § 2º, III). E em que momento acontece a morte? Se verifica com a cessação da atividade encefálica: MORTE ENCEFÁLICA. A morte encefálica é o “estado irreversível de cessação de todo o encéfalo e funções neurais, resultante de edema e maciça destruição dos tecidos encefálicos, apesar da atividade cardiopulmonar poder ser mantida por avançados sistemas de suporte vital e mecanismos de ventilação”. Corroborando ao exposto, Victor Eduardo Rios Gonçalves: 2 Sem que tenha havido morte encefálica, não há falar em homicídio consumado, por mais grave que sejam as sequelas sofridas em decorrência do ato agressivo. Assim, se o agente efetuou disparos na cabeça da vítima, que, em razão disso, há anos permanece em vida vegetativa, sem reconhecer familiares e sem apresentar movimentos corporais, porém, com vida encefálica, ela, juridicamente, está viva, de modo que o autor da agressão só pode ser responsabilizado por tentativa de homicídio. Desse modo, temos que para fins de determinação da morte, levaremos em consideração a cessação da atividade encefálica, leia-se, morte encefálica ou corriqueiramente conhecida como morte cerebral. 4.2 Sujeito 4.2.1 Ativo Trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Não se exige qualidade especial do agente. Nesse sentido, explica o prof. Victor Eduardo Rios Gonçalves3 “o homicídio enquadra-se no conceito de crime comum porque pode ser praticado por qualquer pessoa, na medida em que o texto legal não exige qualquer qualidade especial para que alguém seja autor desse crime”. 2 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 3 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 7 4.2.2 Passivo Qualquer pessoa viva pode ser sujeito passivo (vítima) do homicídio. É necessário que seja após o nascimento. O homicídio protege a vida humana extrauterina. Nessa vertente, Rogério Sanches (Código Penal para Concursos, 2019) “tutela-se a vida extrauterina, iniciada com o parto”. É necessário pelo menos o início do parto para que o crime de homicídio seja possível. Antes do início do parto a vida humana intrauterina não é protegida pelo art. 121 do CP, mas pelo crime de aborto, conforme será visto em sequência. Vejamos: ABORTO Homicídio (ou infanticídio) Protege a VIDA INTRAUTERINA VIDA EXTRAUTERINA Quanto ao início do parto, parte da doutrina afirma que ele se dá com a dilatação do colo do útero, enquanto outra parcela da doutrina defende que será com o início das contrações. Por fim, doutrina minoritária exige o início do desprendimento das entranhas maternas. Conforme Rogério Sanches, nas hipóteses em que o nascimento não se produzir espontaneamente, pelas contrações uterinas, como ocorre em se tratando de cesariana, por exemplo, o começo do nascimento é determinado pelo início da operação, ou seja, pela incisão abdominal. De semelhante, nas hipóteses em que as contrações expulsivas são induzidas por alguma técnica médica, o início do nascimento é sinalizado pela execução efetiva da referida técnica ou pela intervenção cirúrgica (cesárea). Nesse sentido, o STJ – 5ª Turma já se manifestou no HC 228.998-MG, “iniciado o trabalho de parto, não há falar mais em aborto, mas em homicídio ou infanticídio, conforme o caso, pois não se mostra necessário que o nascituro tenha respirado para configurar o crime de homicídio, notadamente quando existem nos autos outros elementos para demonstrar a vida do ser nascente” – Informativo 507, STJ. Observação: Cumpre destacarmos ainda algumas terminologias relacionadas ao sujeito passivo no delito de homicídio, quais sejam, feticídio (supressão da vida do feto); parricídio (filho que mata o pai); fratricídio (irmão que mata irmão); uxoricídio (morte da mulher pelo cônjuge); femicídio (morte da mulher, independentemente do motivo e das circunstâncias); feminicídio (homicídio praticado contra a mulher em razão de sua condição do sexo feminino). 8 4.3 Tipo Subjetivo É o dolo, denominado de animus necandi ou animus occidendi. Não se reclama nenhuma finalidade específica. O homicídio poderá ser praticado tanto de forma dolosa (simples, privilegiado e qualificado) quanto culposa (culposo). Obs.: Cabe suspensão condicional do processo unicamente no homicídio culposo, desde que presentes os demais requisitos exigidos pelo do art. 89 da Lei 9.099/1995. Obs.: O homicídio culposo que se dá na direção de veículo automotor encontra-se tipificado no art. 302 do CTB, possuindo regramento próprio. Vejamos: Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 4.4 Consumação Trata-se de crime material, consumando-se com o fim das atividades encefálicas, conforme determinado pela lei de transplante de órgãos. Assim, de acordo com a Lei nº 9.434, que trata sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, a morte acontece com a morte encefálica (art. 3º, da Lei nº 9.434). Trata-se de crime instantâneo, uma vez que o evento morte ocorre em um momento exato. Sendo a morte irreversível, costuma-se dizer que o homicídio é crime instantâneo de efeitos permanentes. Por oportuno, crime instantâneo de efeitos permanentes é aquele crime cujo momento consumativo também ocorre em um determinado e único instante (crime de consumação imediata), porém produz efeitos perpétuos e irreversíveis. É crime não transeunte – aquele que deixa vestígios, desafiando exame de corpo de delito, direto ou indireto, nos termos do art. 158 e ss. do CPP. Conforme prevê o CPP, os crimes que deixam vestígios o exame de corpo de delito é indispensável. Materialidade do Delito A prova da materialidade realiza-se pelo exame necroscópico, que, além de atestar a morte, indica também suas causas. A materialidade do homicídio é demonstrada pelo exame necroscópico, em que o médico legista atesta a ocorrência da morte e suas causas. A autópsia deve ser feita pelo menos seis horas após o óbito (art. 162 do CPP). Se a autópsia não tiver sido realizada antes de o corpo 9 ser enterrado ou se surgirem dúvidas em torno da conclusão do perito, poderá ser determinada a exumação do corpo para a sua realização ou para exames complementares, tudo na forma dos arts. 163 e 164 do CPP. Se não for possível o exame do corpo por ter ele desaparecido, a materialidade do homicídio pode ser demonstrada por prova testemunhal (art. 167 do CPP). É o que ocorre quando o corpo da vítima do homicídio é lançado ao mar e depois não é recuperado, mas testemunhas afirmam ter visto a pessoa morta4. 4.5 Classificação doutrinária Conforme o prof. Jamil Chaim Alves5, o homicídio pode ser classificado como “crime simples (atinge um único bem jurídico); comum (pode ser praticado por qualquer pessoa); material (a consumação exige resultado naturalístico, consistente na morte da vítima); de dano (exige aefetiva lesão do bem jurídico); de forma livre (pode ser praticado por qualquer maneira, não se exigindo uma forma específica de realização da conduta); instantâneo (o resultado se dá em um momento específico, não se prologando no tempo); há também quem o considere instantâneo de efeitos permanentes; unissubjetivo (pode ser praticado por um só agente, mas admite concurso); plurissubsistente, em regra (a conduta envolve a prática de mais de um ato)”. 4.6 Ação Penal e Competência Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Conforme comentado já acima, a competência é do Tribunal do Júri para as modalidades dolosas e do juiz singular para o homicídio culposo. Lembre-se: homicídio culposo não é julgado perante o Tribunal do Júri. No tocante ainda a competência, é importante termos conhecimento sobre uma situação específica trabalhada na jurisprudência. A competência é a do local da consumação do delito. Cumpre ressaltarmos, todavia, que a jurisprudência reconhece uma exceção no caso de homicídio doloso quando a vítima é alvejada em uma cidade e levada para hospital de outro município, normalmente grandes centros onde há melhores condições de atendimento, e acaba falecendo nesta última localidade. Teoricamente, o julgamento deveria se dar no local onde a vítima morreu, contudo, isso dificultaria sobremaneira o julgamento no Plenário do Júri, já que as testemunhas do crime estão no local onde a vítima foi alvejada e não são obrigadas a se deslocar para serem ouvidas no dia do julgamento. Nesses casos, o julgamento é feito no local em que ocorreu a ação delituosa, e não no lugar em que a vítima morreu.6 4 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 5 Manual de direito penal parte geral e especial. Editora Juspodivm. 2020. 6 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 10 4.7 Lesão corporal e/ou Homicídio: Progressão criminosa Na progressão, primeiro o sujeito quer o crime menos grave (e consuma) e depois delibera o maior. O fenômeno da progressão criminosa acontece quando o agente inicia uma agressão exclusivamente com intenção de lesionar a vítima, porém, durante a agressão, muda de ideia e resolve matá-la. Qual a consequência jurídica dessa situação? O agente deve responder por lesão corporal em concurso com o crime de homicídio? O prof. Victor Eduardo Rios Gonçalves explica que nesse caso, ainda que o agente tenha resolvido cometer o homicídio somente depois de já haver provocado a lesão na vítima, considera-se absorvido esse delito, respondendo ele apenas pelo homicídio, já que ambos os atos agressivos ocorreram no mesmo contexto fático. Em resumo, a consequência jurídica é de que o sujeito responderá por um só crime. Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concurso? Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: PC-AP Prova: FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de Polícia. João decide agredir fisicamente Pedro, seu desafeto, provocando-lhe vários ferimentos. Porém, durante a luta corporal, João resolve matar Pedro, realizando um disparo de arma de fogo contra a vítima, sem, contudo, conseguir atingi-lo. A polícia é acionada, separando os contendores. Diante do caso hipotético, João responderá A. apenas por lesões corporais. B. apenas por tentativa de homicídio. C. por rixa e disparo de arma de fogo. D. por lesões corporais consumadas e disparo de arma de fogo. E. por lesões corporais consumadas e homicídio tentado. Gab. B, responderá apenas por tentativa de homicídio. O caso proposto na questão trouxe o que a doutrina denomina de progressão criminosa. A prof. Martina Correia7 explica que na progressão criminosa ocorre mutação no dolo do agente, que inicialmente realiza um crime menos grave e, após, quando já́ alcançada a consumação, decide praticar outro delito de maior gravidade. Ex.: o dolo inicial era de causar lesão corporal, mas o sujeito decide matar a vítima (resultado mais grave). No caso, responderá pelo homicídio (princípio da consunção), ou no caso de tentado, por tentativa de homicídio. 7 WWW.FOCANORESUMO.COM 11 4.8 Observações (você não pode deixar de saber): • O crime de homicídio simples só será HEDIONDO quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Para o Bitencourt, grupo de extermínio é aquele que mata generalizadamente indivíduos pertencentes a determinados grupos. 5. Homicídio Privilegiado Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 5.1 Natureza jurídica do Privilégio – Causa de redução de pena Não obstante a nomenclatura de homicídio privilegiado, trata-se, em verdade, de hipótese de diminuição de pena. Assim, segundo ensina Rogério Sanches privilégio, nesse contexto, o privilégio equivale a causa de diminuição de pena. à NATUREZA JURÍDICA: CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA. à 1/6 – 1/3. Corroborando ao exposto, Victor Eduardo Rios Gonçalves8 “as hipóteses de privilégio têm natureza jurídica de causa de diminuição de pena, pois, quando presentes, fazem com que a pena seja reduzida de um sexto a um terço. A denominação privilégio, embora amplamente consagrada, não consta do texto legal”. Incomunicabilidade do privilégio Candidato, o privilégio comunica-se ao coautor ou ao partícipe? A causa de diminuição da pena não se comunica aos demais coautores ou partícipes, em consonância com a regra prevista no art. 30 do Código Penal, trata-se de circunstância pessoal (e não de elementar do tipo penal). Nesse sentido, leciona Fábio Roque9 (2020): 8 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 9 Direito penal didático – parte especial. Editora Juspodivm. 2020. 12 Importa destacar que a causa de diminuição de pena do art. 121§3º, CP possuem caráter subjetivo, e não constituem elementar do crime de homicídio. Por esta razão, não se comunicam aos coautores ou participes. Deste modo, se tivermos dois agentes praticando o crime, mas apenas um deles agiu impelido por motivo de relevante valor moral, apenas ele fará jus à minorante. Nessa mesma perspectiva, ensina Victor Eduardo Rios Gonçalves10 Todas as figuras de privilégio são de caráter subjetivo, porque ligadas à motivação do agente (relevante valor social ou moral) ou à motivação somada à violenta emoção. Assim, nos termos do art. 30 do Código Penal, não se comunicam a coautores e partícipes do homicídio. Ex.: pai encontra o estuprador da filha e começa a desferir golpes para matá-lo. Nesse momento, um amigo chega ao local e, sem saber que se trata do estuprador, ajuda-o a matar o malfeitor. O pai responde por homicídio privilegiado, o amigo não. É evidente, contudo, que, se a motivação dos agentes for a mesma, será possível o reconhecimento do privilégio para ambos. Ex.: pai e mãe que matam o estuprador da filha. 5.2 Análise das Causas Privilegiadoras a) Motivo de Relevante Valor Social A primeira hipótese que dar ensejo ao reconhecimento de privilégio está ligada à motivação do agente, que supõe que ao matar a vítima, beneficiará a coletividade. Assim, por valor social deve-se interpretar a situação em que o agente mata alguém para atender aos interesses da coletividade. Por exemplo: matar perigoso bandido que ronda a vizinhança/ indivíduo que mata o traidor da pátria. 10 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: SaraivaEducação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). Relevante valor social Relevante valor moral Domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima 13 Corresponde assim, ao interesse de toda comunidade. O agente mata para preservar os interesses da comunidade. Nas lições de Fernando Capez11: Motivo de relevante valor social, como o próprio nome já diz, é aquele que corresponde ao interesse coletivo. Nessa hipótese, o agente é impulsionado pela satisfação de um anseio social. Por exemplo, o agente, por amor à pátria, elimina um traidor. Naquele dado momento, a sociedade almejava a captura deste e a sua eliminação. O agente nada mais fez do que satisfazer a vontade da sociedade, por isso a sua conduta na esfera penal merece uma atenuação da pena. Importante acrescentar que o reconhecimento da figura privilegiada no tocante ao “motivo de relevante valor social” demanda que o motivo seja realmente relevante, ou seja, notável, importante, especialmente digno de apreço. Corroborando ainda, Victor Eduardo Rios Gonçalves12 “relevante valor é algo importante ou de elevada qualidade (patriotismo, lealdade, fidelidade, amor paterno ou materno etc.). Na ótica social, esses valores envolvem interesse de ordem geral ou coletiva (matar o traidor da pátria)”. É imprescindível que o motivo seja relevante. b) Motivo de Relevante Valor Moral O relevante valor moral está relacionado a existência de sentimentos nobres de natureza individual. Entende-se que há valor moral, quando o agente mata para atender interesses particulares, normalmente relacionados a sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão. Exemplo: Eutanásia. A eutanásia consta expressamente na exposição de motivos do código penal como exemplo de motivo de relevante valor moral. A eutanásia se verifica quando o agente tira a vida da vítima para acabar com o grave sofrimento decorrente de alguma enfermidade. Pode se dar por ação, como no caso de sufocação de pessoa com grave cirrose hepática, ou por omissão, ao não providenciar alimento, por exemplo, à pessoa tetraplégica. Alguns mencionam como exemplo de eutanásia omissiva desligar os aparelhos que mantêm viva uma pessoa que se encontra em estado vegetativo. Tal pessoa não consegue respirar sem a ajuda de aparelhos, e, assim, o ato 11 Curso de direito penal, volume 2, parte especial : arts. 121 a 212 / Fernando Capez. - 19. ed. atual. - São Paulo : Saraiva Educação, 2019. 12 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 14 de desligá-los provoca a morte, configurando a eutanásia. Trata-se, entretanto, de uma ação, e não de uma omissão13. Outro exemplo clássico que a doutrina utiliza como situação ensejadora do reconhecimento do privilégio em virtude do relevante valor moral, é a situação do pai que mata o estuprador da filha. Nessa esteira, explica Victor Eduardo Rios Gonçalves14 esse é um dos casos mais citados como exemplo de homicídio privilegiado em que o pai, algum tempo depois do fato, descobre quem foi o autor do crime sexual contra sua filha, e, então, comete homicídio. O entendimento majoritário da doutrina é no sentido de que se trata de relevante valor moral, porque o motivo do pai é defender a honra da filha — sentimento individual relevante (entendimento prevalente). Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concurso? Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: TRT - 15ª Região (SP) Prova: FCC - 2013 - TRT - 15ª Região - Técnico Judiciário – Segurança. O autor de homicídio praticado com a intenção de livrar um doente, que padece de moléstia incurável, dos sofrimentos que o atormentam (eutanásia), perante a legislação brasileira, A. não cometeu infração penal. B. responderá por crime de homicídio privilegiado. C. responderá por homicídio qualificado pelo motivo torpe. D. responderá por homicídio simples. E. responderá por homicídio qualificado pelo motivo fútil. Gab. B. Conforme explicamos, a exposição de motivos do código penal trouxe a eutanásia como exemplo clássico de homicídio privilegiado – praticado por motivo de relevante valor moral. Logo, o caso é de homicídio privilegiado. Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concurso? Ano: 2015 Banca: MPE-SP Órgão: MPE-SP Prova: MPE-SP - 2015 - MPE-SP - Promotor de Justiça. O agente que, para livrar sua esposa, deficiente física em fase terminal em razão de doença incurável, de graves sofrimentos físico e moral, pratica eutanásia com o consentimento da vítima, deve responder, em tese: A. por homicídio qualificado pelo feminicídio, pois o consentimento da ofendida nenhuma consequência gera. B. por homicídio qualificado pelo feminicídio, agravado pelo fato de ter sido praticado contra pessoa deficiente, já que o consentimento da ofendida é irrelevante para efeitos penais. C. por homicídio privilegiado, já que agiu por relevante valor social, que compreende também os interesses coletivos, entre eles os humanitários. D. por homicídio privilegiado, já que agiu por relevante valor moral, que compreende também seus interesses individuais, entre eles a piedade e a paixão. E. por homicídio privilegiado, pois o estado da vítima faz com que pratique o crime sob o domínio da violenta emoção. Gab. D. 13 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 14 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 15 Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concurso? Ano: 2017 Banca: FAPEMS Órgão: PC-MS Prova: FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado de Polícia. Segundo Busato (2014), "o homicídio é uma violação do bem jurídico vida como tal considerado a partir do nascimento". E para Hungria (1959), esse crime constitui "a mais chocante violação do senso moral médio da humanidade civilizada". BUSATO. Paulo César. Direito Penal: parte especial, l.ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 19. HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959, p. 25. O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 121, apresenta três modalidades de tipos penais de ação homicida, em que os elementos que o compõem podem ou não aparecer conjugados. Acerca das modalidades do crime de homicídio, variantes e caracterização, assinale a alternativa correta. A. É caracterizada como homicídio a morte de feto atingido por disparo de arma de fogo, quando ainda no ventre da mãe. B. O infanticídio é modalidade do homicídio qualificado pelo resultado, quando a mãe mata o próprio filho logo após o parto, sob a influência do estado puerperal, cuja pena é agravada. C. O latrocínio, por se tratar de espécie complexa de homicídio qualificado previsto no artigo 121 do Código Penal, não é julgado pelo Tribunal do Júri por envolver questões patrimoniais. D. A eutanásia, ou o homicídio piedoso, é reconhecida como conduta praticada por relevante valor moral, caracterizadora do homicídio privilegiado. E. O homicídio pode ser considerado qualificado /privilegiado quando praticado por relevante valor moral motivado por vingança. Gab. D. Relevante valor social e Relevante valor moral Conforme ensina Fábio Roque, o relevante valor social corresponde aquele que diz respeito à coletividade. Já o relevante valor moral corresponderia aos interesses individuais do homicida. Vamos VISUALIZAR de forma ESQUEMATIZADA: Relevante valor social Relevante valor moral Valor social corresponde a interesses de natureza coletiva. Valor moral corresponde a interesses individuais, pessoais. Ex.: matar o traidor da pátria Ex.: matar o estuprador da filha; matar alguém para encerrar seu sofrimento em virtude de estadoterminal (eutanásia). 16 c) Domínio de Violenta Emoção, causada por injusta provocação da vítima A última privilegiadora relaciona-se com o estado anímico do agente, conhecido por parte da doutrina como homicídio emocional. Da simples leitura do dispositivo legal, retiramos os seus requisitos, quais sejam: • Domínio de violenta emoção; • Reação imediata; • Injusta provocação da vítima. c.1) Domínio de violenta emoção: domínio não se confunde com mera influência de violenta emoção. A influência meramente é causa atenuante (art. 65, CP). Com isso quer dizer que a emoção não deve ser leve e passageira ou momentânea. #JÁCAIU esse assunto em prova de concurso do CESPE/2015 Delegado de Polícia de Alagoas: Considere que José, penalmente imputável, horas após ter sido injustamente provocado por João, agindo sob a influência de violência emoção, tenha desferido uma facada em João, o que resultou em sua morte. Nessa situação, impõe-se em benefício de José, o reconhecimento do homicídio privilegiado. Gab. ERRADO por duas circunstâncias. Primeiro, para que seja considerado o privilégio deve ocorrer LOGO EM SEGUIDA, e não horas depois, como afirma a questão (requisito da reação imediata). No mais, o sujeito estava apenas sob influência e nos termos da legislação é imprescindível que esteja sob o DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO. c.2) Reação imediata (logo em seguida a injusta provocação da vítima): para a configuração do privilégio se exige que o revide seja imediato, ou seja, sem intervalo temporal. A reação será considerada imediata, enquanto perdurar o domínio da violenta emoção. c.3) Injusta provocação da vítima: não significa necessariamente uma agressão, mas qualquer conduta desafiadora, mesmo que atípica. Exemplo1: Pai que mata o estuprador da filha. Exemplo2: Marido surpreende a esposa com outro ou (outra) na cama. 17 Atenuante genérica X Causa de diminuição do homicídio Candidato, qual a diferença entre o privilégio da violenta emoção e a atenuante genérica homônima? A causa de diminuição de pena do homicídio não deve ser confundida com a atenuante genérica prevista ao teor do art. 65, III, C, 2ª parte do Código Penal. Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; Vejamos: Atenuante Genérica (art. 65, III, c, 2ª parte) Causa de Diminuição do Homicídio (art. 121, §1º) Sob a INFLUÊNCIA de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima. Sob o DOMÍNIO de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. A intensidade é menor (influência). A intensidade é maior (domínio) Dispensa o requisito temporal Reação imediata (logo em seguida) Aplica-se a qualquer crime Aplica-se ao homicídio doloso O Supremo Tribunal Federal assim se manifestou acerca do assunto: A causa especial de diminuição de pena do § 1.º do art. 121 não se confunde com a atenuante genérica da alínea “a” do inciso III do art. 65 do Código Penal. A incidência da causa especial de diminuição de pena do motivo de relevante valor moral depende da prova de que o agente atuou no calor dos fatos, impulsionado pela motivação relevante. A atenuante incide, residualmente, naqueles casos em que, comprovado o motivo de relevante valor moral, não se pode afirmar que a conduta do agente seja fruto do instante dos acontecimentos. Corroborando ainda, Victor Eduardo Rios Gonçalves15 Nota-se no próprio texto legal duas diferenças. No privilégio, exige-se que o agente esteja sob o domínio de violenta emoção porque o ato se dá logo em seguida à injusta provocação. Na atenuante (art. 65, III, c), basta que ele esteja sob influência de violenta emoção decorrente de ato injusto, sem a necessidade de que o ato homicida ocorra logo em seguida àquele. Por isso, se o agente matou a vítima em face de perturbadora emoção ao flagrar o 15 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 18 adultério, aplica-se o privilégio. Se ele, todavia, flagra a relação extraconjugal, mas comete o homicídio somente alguns dias depois, mostra-se possível apenas a atenuante genérica. 5.2.1 Observações pontuais: • A emoção deve ser capaz de retirar o autocontrole do agente. O DOMÍNIO de violenta emoção mencionado no §1º não se confunde com a mera influência do estado anímico do agente. • Não pode haver lapso temporal entre a provocação e o homicídio, a reação é imediata. O dolo necessariamente será de ímpeto. • A jurisprudência afirma ser obrigatória a aplicação da causa de diminuição de pena quando incidente uma das privilegiadoras, inobstante o artigo de lei mencione “pode”. Atenção para o caso que a questão exigir tão somente a literalidade da lei. 6. Homicídio Qualificado Com base no tipo fundamental descrito no caput do art. 121 do Código Penal, o legislador a ele agrega circunstâncias que elevam em abstrato a pena do homicídio. O homicídio qualificado encontra previsão ao teor do art. 121, §2º, do Código Penal. A pena passará a ser de reclusão de 12 a 30 anos, contemplamos que a pena do homicídio simples (6 – 20 anos) é sensivelmente majorada. O homicídio qualificado, diferentemente, do simples, em que só será hediondo em uma situação específica, é sempre hediondo. Assim, todo homicídio qualificado é crime hediondo. àHOMICÍDIO QUALIFICADO: SEMPRE HEDIONDO. O homicídio qualificado é crime hediondo, qualquer que seja a qualificadora. É o que consta do art. 1.º, inciso I, in fine, da Lei 8.072/1990. Homicídio qualificado = crime hediondo. Vejamos as circunstâncias que qualificam o homicídio. § 2° - Se o homicídio é cometido: I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II – por motivo fútil; III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 19 IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena – reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº13.142, de 2015). VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019, após a derrubada do Veto pelo Parlamento)16 IX - Contra menor de 14 (quatorze) anos: (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)17 Pena – reclusão, de doze a trinta anos. § 2º - A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Em 2015 as hipóteses de homicídio qualificado foram alteradas pelo advento das leis nº 13.104 e 13.142, respectivamente. Atenção: Diferentemente do homicídio simples, o homicídio qualificado é sempre hediondo, não importando a qualificadora. Nesse sentido, a Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos): Art. 1º - Lei nº 8072/90 - São considerados hediondos os seguintes crimes: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometidopor um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI e VII). Observação O homicídio pode ser qualificado e privilegiado (homicídio híbrido), quando a qualificadora for de natureza objetiva, ou seja, quando diz respeito ao meio através do qual o homicídio é praticado. 16 Novidade legislativa acrescida com a derrubada dos Vetos do Pacote Anticrime. 17 Novidade legislativa acrescida pela Lei Henry Borel. 20 #JáCaiuCESPE (CESPE - 2018 - MPU - Analista do MPU – Direito). Com relação aos crimes em espécie, julgue o item que se segue, considerando o entendimento firmado pelos tribunais superiores e a doutrina majoritária. Situação hipotética: João, penalmente imputável, dominado por violenta emoção após injusta provocação de José, ateou fogo nas vestes do provocador, que veio a falecer em decorrência das graves queimaduras sofridas. Assertiva: Nessa situação, João responderá por homicídio na forma privilegiada-qualificada, sendo possível a concorrência de circunstâncias que, ao mesmo tempo, atenuam e agravam a pena. É admissível a figura do chamado homicídio híbrido (privilegiado-qualificado), desde que a qualificadora seja objetiva, ou seja, relativa aos meios e modos de execução do crime. Assim, admite a compatibilidade entre o privilégio e as qualificadoras, desde que sejam de natureza objetiva. 5.2 Análise das Qualificadoras § Mediante paga ou promessa de recompensa, ou POR OUTRO MOTIVO TORPE. § Por MOTIVO FUTIL. § Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou OUTRO MEIO insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. § À traição, emboscada, dissimulação ou OUTRO RECURSO que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. § Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime. § Feminicídio. § Homicídio funcional. § Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. (Acrescido pelo Pacote Anticrime) § Contra menor de 14 (quatorze) anos. (Acrescido pela Lei Henry Borel) a) Mediante Paga ou Promessa de Recompensa, ou POR OUTRO MOTIVO TORPE (interpretação analógica) O homicídio realizado mediante paga ou promessa de recompensa é denominado de HOMICÍDIO MERCENÁRIO. Trata-se de crime de concurso necessário ou plurissubjetivo, posto que deverá ter, necessariamente, a figura do mandante e do executor. 21 O homicídio, como regra, classifica-se como crime de concurso eventual, pois, normalmente, pode ser cometido por uma só pessoa ou por duas em concurso. A figura qualificada em análise, todavia, constitui exceção, na medida em que pressupõe o envolvimento mínimo de duas pessoas, sendo, por isso, classificada como crime de concurso necessário. A pessoa que contrata é chamada de mandante e a pessoa contratada de executora.17 Denota-se, pois, que o executor pratica o crime movido pela ganância do lucro, é dizer, em troca de alguma recompensa prévia ou expectativa do seu recebimento (matador profissional ou sicário). Trata-se de delito de concurso necessário (ou bilateral), no qual é indispensável a participação de, no mínimo, duas pessoas (mandante e executor: é aquele que paga ou promete futura recompensa; este aceita, praticando o combinado), conforme ensina Rogério Sanches. Na paga o recebimento é prévio. O executor recebe a vantagem e depois pratica o homicídio. Incide a qualificadora se o sujeito recebe somente parte do valor acertado com o mandante. Por outro lado, na promessa de recompensa o pagamento é convencionado para momento posterior à execução do crime. Vejamos: Essa modalidade de homicídio qualificado é conhecida como homicídio mercenário porque uma pessoa contrata outra para executar a vítima mediante pagamento em dinheiro. A paga é prévia em relação ao homicídio, enquanto a promessa de recompensa é para entrega posterior, como no caso em que o contratante é filho da vítima e promete dividir o dinheiro da herança com a pessoa contratada para matar o pai.18 Interpretação Analógica O legislador fez uso da interpretação analógica. O dispositivo encerra uma fórmula casuística (“mediante paga ou promessa de recompensa”) seguida de uma fórmula genérica (“ou por outro motivo torpe”). Deixa nítido que a paga e a promessa de recompensa se encaixam no conceito de motivo torpe, mas que outras circunstâncias de igual natureza, impossíveis de serem definidas taxativamente pela lei em abstrato, são de provável ocorrência prática. Candidato, qual a natureza da paga ou promessa de recompensa? Para parte da doutrina, a recompensa deve ser de natureza econômica, enquanto outra parcela defende que esta pode ser de qualquer natureza, até mesmo sexual. Prevalece o entendimento que deve ser necessariamente de natureza econômica. 17 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 18 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 22 Entende-se como motivo torpe, o motivo vil, ignóbil, repugnante, abjeto (quase sempre espelhando ganância). O legislador contemplou exemplos de torpeza, e encerrou elencando uma abertura, ou por outro motivo torpe, utilizando-se de interpretação analógica (fórmula casuística seguida de uma forma genérica). Desse modo, contemplamos que o inciso trabalha com interpretação analógica (exemplos seguidos de encerramento genérico). Cumpre destacar que não fere o princípio da legalidade, mas novos casos devem guardar similitude com os exemplos dado pelo legislador. A qualificadora da torpeza se aplica ao mandante, ao executor ou a ambos? A jurisprudência majoritária entende que a qualificadora é aplicada tanto ao mandante quanto ao executor, corrente minoritária defende que ela só deveria ser aplicada ao executor. 1ª Corrente: entende que a qualificadora abrange somente o executor, salvo se o mandante também age com torpeza. 2ª Corrente: a qualificadora se aplica ao executor e ao mandante. É a corrente que prevalece, segundo Sanches. Todavia, o STJ decidiu – Info. 575 que havendo essa comunicação (possibilidade), ela não será automática. Nesse sentido, vejamos o teor do Informativo. Incidência da qualificadora do motivo torpe em relação ao mandante de homicídio mercenário. O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" (inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em relação ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe. STJ. 6ª Turma. REsp 1.209.852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/12/2015 (Info 575). O que decidiu o STJ? § "A paga ou a promessa de recompensa" é uma circunstância acidental do delito de homicídio, de caráter pessoal e, portanto, incomunicável automaticamente aos coautores do homicídio. 23 § No entanto, não há proibição de que esta circunstância se comunique entre o mandante e o executor do crime, caso o motivo que levou o mandante a encomendar a morte tenha sido torpe, desprezível ou repugnante. § Em outras palavras, o mandante poderá responder pelo inciso I do § 2º do art. 121 do CP, desde que a sua motivação, ou seja, o que o levou a encomendar a morte da vítima seja algo torpe. Ex: encomendou a morte para ficar com a herança da vítima. § Por outro lado, o mandante, mesmo tendo encomendado a morte, não responderá pela qualificadora caso fique demonstrado que sua motivação não era torpe. Ex: homem que contrata pistoleiro para matar o estuprador de sua filha. Neste caso, o executor responderá por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I) e o mandantepor homicídio simples, podendo até mesmo ser beneficiado com o privilégio do § 1º. • Fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/03/info-575-stj2.pdf Motivo torpe e feminicídio: inexistência de bis in idem. Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA - vai incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o delito. STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625). #JáCaiuDelta (CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia). - Em um clube social, Paula, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua residência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um revólver pertencente à corporação policial de que seu pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta minutos, armado com o revólver, sob a influência de emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez disparos da arma contra a cabeça de Paula, que faleceu no local antes mesmo de ser socorrida. Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item. Na situação considerada, em que Paula foi vitimada por Carlos por motivação torpe, caso haja vínculo familiar entre eles, o reconhecimento das qualificadoras da motivação torpe e de feminicídio não caracterizará bis in idem. CERTO. Conforme entendimento exarado no Informativo 625 do STJ. 24 #Vingança e ciúme são motivos torpes? A verificação deve ser feita com base nas peculiaridades do caso concreto. Assim, a vingança pode ou não ser torpe, dependendo do caso concreto, embora seja um ato reprovável. Já se decidiu quem se vinga da morte do filho, matando o assassino, não age por motivo torpe. (Código Penal para Concursos, Rogério Sanches). Assim, não há uma prévia tipificação, dependendo valoração da causa. b) Por motivo fútil O motivo fútil é o motivo desproporcional, insignificante, caso em que o agente executa o crime por mesquinharia. Por exemplo, homicídio em decorrência de briga de trânsito ou discussão por cobrança de pequeno valor. É assim, aquele motivo pequeno demais para causar um homicídio. Nas lições de Victor Eduardo Rios Gonçalves19, motivo fútil “é o motivo pequeno, insignificante, ou seja, deve ser reconhecido quando houver total falta de proporção entre o ato homicida e sua causa. Já se reconheceu essa qualificadora quando o pai matou o filho porque este chorava, quando o motorista matou o fiscal de trânsito em razão da multa aplicada, quando o patrão matou o empregado por erro na prestação do serviço, ou, ainda, em homicídio contra dono de bar que se recusou a servir mais uma dose de bebida, ou porque ouviu comentário jocoso em relação ao seu time de futebol etc.” Ausência de motivo e não incidência da qualificadora (motivo fútil) Candidato, a ausência de motivo significa motivo fútil, ensejando a qualificadora do motivo fútil? Prevalece o entendimento de que a ausência de motivo não qualifica o homicídio, por constituir-se em analogia in malam partem, vedada pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro. A ausência de motivo não deve ser equiparada ao motivo fútil, pois todo crime tem sua motivação. Na linha da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: Na hipótese em apreço, a incidência da qualificadora prevista no art. 121, § 2º, inciso II, do Código Penal, é manifestamente descabida, porquanto motivo fútil não se confunde com ausência de motivos, de tal sorte que se o crime for praticado sem nenhuma razão, o agente somente poderá ser denunciado por homicídio simples. Vejamos: 19 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 25 Ausência de Motivo equipara-se ao motivo fútil qualificando o homicídio? 1ª Corrente: a ausência de motivos, equipara-se ao motivo fútil. Para referida corrente, seria um contrassenso qualificar um homicídio quando presente o motivo pequeno, e não qualificar quando ausente qualquer motivo. 2ª Corrente: A ausência de motivo, por falta de previsão legal, não se equipara ao motivo fútil. Sob os fundamentos de violação ao princípio da legalidade e proibição de analogia in malam partem. Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concurso? Prova: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - DPE-MG - Defensor Público. Sobre os crimes dolosos contra a vida, analise as afirmativas a seguir. (...) III. De acordo com entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça, responde por homicídio simples aquele que pratica o delito sem motivo, não se admitindo a incidência da qualificadora do motivo fútil pelo simples fato de o delito ter sido praticado com ausência de motivos. A assertiva em comento encontra-se correta, em consonância com a explicação proposta logo acima. Homicídio e motivo fútil Não há motivo fútil se o início da briga entre vítima e autor é fútil, mas ficar provado que o homicídio ocorreu realmente por conta de eventos posteriores que decorreram dessa briga inicial. Caso concreto julgado pelo STF: A vítima iniciou uma discussão com algumas outras pessoas por causa de uma mesa de bilhar. Tal discussão é boba, insignificante e, matar alguém por isso, é homicídio fútil. No entanto, segundo restou demonstrado nos autos, o crime não teria decorrido da discussão sobre a ocupação da mesa de bilhar, mas sim do comportamento agressivo da vítima. Isso porque a vítima, no início do desentendimento, poderia deixar o local, mas preferiu enfrentar os oponentes, ameaçando-os e inclusive, dizendo que chamaria terceiros para resolverem o problema. Logo, a partir daí os agentes mataram a vítima, não mais por causa da mesa de sinuca e sim por conta dos fatos que ocorreram em seguida. Segundo noticiado no Informativo, o STF entendeu que “o evento ‘morte’ decorreu de postura assumida pela vítima, de ameaça e de enfrentamento”. Logo, não houve motivo fútil. Info 716, STF. 26 Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil. Info 524, STJ. Candidato, o dolo eventual e motivo fútil é compatível? A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com dolo eventual? SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte (dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/03/2012. STJ. 6ª Turma. REsp 1601276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017. Motivo fútil em homicídio decorrente da prática de racha Hipótese de inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha" Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2°, II, do CP), na hipótese de homicídio supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido — em razão de choque com outro automóvel também participante do "racha" — tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. STJ. 6ª Turma. HC 307617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583). c) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso oucruel, ou de que possa resultar perigo comum. Veneno nas lições de CAPEZ, pode ser conceituada como “qualquer substância que, introduzida no organismo, seja capaz de colocar em perigo a vida ou a saúde humana através de ação química, bioquímica ou 27 mecânica. O veneno pode ser ministrado à vítima de diversas formas, desde que de maneira insidiosa ou dissimulada, já que o que exaspera a sanção aqui é a insciência da vítima”. Segundo Rogério Sanches, o veneno consiste em qualquer substância biológica ou química, animal, mineral ou vegetal capaz de perturbar ou destruir funções vitais do organismo humano. O açúcar, por exemplo, empregado em face de um diabético, pode ser considerado um veneno. Cumpre observamos que para caracterizar a qualificadora do veneficio, é imprescindível que a vítima desconheça nela está sendo ministrada a substância letal. Dessa forma, prevalece o entendimento que o veneno só qualifica quando a vítima não sabe que está ingerindo-o. Corroborando ao exposto, Victor Eduardo Rios Gonçalves20 O homicídio qualificado pelo emprego de veneno é também conhecido como venefício e sua configuração pressupõe que seja introduzido no organismo da vítima de forma velada, sem que a vítima perceba, como, por exemplo, misturando-o na sua bebida ou comida, colocando-o no interior de cápsula de remédio ordinariamente ingerido por ela etc. São comuns casos em que o agente mistura raticida no café que a vítima irá tomar ou no doce que ela irá comer etc. Se o veneno for inoculado no organismo da vítima com emprego de violência, configura-se a qualificadora do meio cruel (é o que ocorre quando o agente prende a vítima em recinto repleto de cobras altamente venenosas que picam a vítima por várias vezes, causando sua morte). Conforme destacado acima, o homicídio praticado por meio da ingestão de veneno é denominado de VENEFÍCIO. Fogo ou Explosivo trata-se de meio cruel para a prática do homicídio. Conforme as circunstâncias, o fogo poderá caracterizar o meio cruel ou que resulte perigo comum. Asfixia é qualquer método para se impedir a respiração. Consiste na supressão da função respiratória através de estrangulamento, enforcamento, esganadura, afogamento, soterramento ou sufocação da vítima, causando a falta de oxigênio no sangue (anoxemia). A tortura é a imposição de sofrimento desnecessário. Nas lições de Victor Eduardo Rios Gonçalves21, tortura é “o suplício, ou tormento, que faz a vítima sofrer desnecessariamente antes da morte. É o meio cruel 20 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 21 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 28 por excelência. O agente, na execução do delito, utiliza-se de requintes de crueldade como forma de exacerbar o sofrimento da vítima, de fazê-la sentir mais intensa e demoradamente as dores.”. No homicídio qualificado pela tortura existe dolo de torturar e de matar, sendo a tortura utilizada como meio de execução. Enquanto na tortura qualificada pela morte existe preterdolo, ou seja, dolo na tortura e culpa na morte. O homicídio qualificado pela tortura (CP, art. 121, § 2.º, inc. III) caracteriza-se pela morte dolosa. O agente utiliza a tortura (meio cruel) para provocar a morte da vítima, causando-lhe intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental. Depende de dolo (direto ou eventual) no tocante ao resultado morte. Esse crime é de competência do Tribunal do Júri, e apenado com 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão. Já a tortura com resultado morte (Lei 9.455/1997, art. 1.º, § 3.º) é crime essencialmente preterdoloso. O sujeito tem o dolo de torturar a vítima, e da tortura resulta culposamente sua morte. Há dolo na conduta antecedente e culpa em relação ao resultado agravador. Essa conclusão decorre da pena cominada ao crime: 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos de reclusão. Com efeito, não seria adequada uma morte dolosa, advinda do emprego de tortura, com pena máxima inferior ao homicídio simples. Além disso, esse crime é da competência do juízo singular. A diferença consiste pois no elemento subjetivo (dolo do agente). Para melhor compreensão, vejamos o quadro ESQUEMATIZADO abaixo: Homicídio Qualificado pela Tortura (Art. 121, § 2º, III, CP) Tortura Qualificada pela Morte (Art. 1º, § 3º, Lei 9.455/97) Crime Doloso Crime Preterdoloso O dolo é de Matar O dolo é de torturar Há dolo de matar e a tortura é o meio de execução escolhido para matar. Há dolo de torturar e a morte é resultado culposo decorrente da tortura. Pena → Reclusão, de 12 a 30 anos. Pena → Reclusão, de 8 a 16 anos. Competência do Tribunal do Júri. Competência do Juízo singular. JáCaiuMP (2017 - MPE-RO - Promotor de Justiça Substituto). O emprego de tortura pode qualificar o crime de homicídio ou caracterizar crime autônomo, dependendo do dolo do agente e das circunstâncias do caso concreto. Homicídio qualificado pela tortura Tortura com resultado morte O agente tem dolo de matar e faz da tortura o meio de execução para obter o resultado desejado. O agente tem dolo de torturar e a morte é um resultado advindo a título de culpa (crime preterdoloso). 29 A qualificadora em estudo, utiliza-se também da técnica da interpretação analógica, é o que podemos atestar da análise da expressão “ou outro meio insidioso...”. Este inciso também emprega a fórmula casuística inicial e, ao final, usa fórmula genérica, permitindo ao seu aplicador encontrar casos outros que denotem insídia, crueldade ou perigo comum advindo da conduta do agente (interpretação analógica). Trabalha com interpretação analógica (exemplos seguidos de encerramentos genéricos). Nas lições de Victor Eduardo Rios Gonçalves22, meio insidioso é um meio velado, uma armadilha, um meio fraudulento para atingir a vítima sem que se perceba que está havendo um crime, como ocorre com as sabotagens em geral (no freio de um veículo, no motor de um avião, na mochila que leva o paraquedas da vítima etc.). Configura, também, meio insidioso trocar o medicamento necessário para manter alguém vivo por comprimidos de farinha. Noutra banda, meio cruel é aquele que causa sofrimento desnecessário à vítima ou revela uma brutalidade incomum, em contraste com o mais elementar sentimento de piedade humana. Cumpre destacarmos que não incide a qualificadora quando o meio cruel é empregado após a morte da vítima, pois a crueldade que caracteriza a qualificadora é somente aquela utilizada para matar. O uso de meio cruel após a morte caracteriza, em regra, o crime de homicídio (simples ou com outra qualificadora, que não a do meio cruel), em concurso com o crime de destruição, total ou parcial, de cadáver (CP, art. 211). A reiteração de golpes, por sua vez, isoladamente considerada não configura a qualificadora do meio cruel. Depende da produção de intenso e desnecessário sofrimento à vítima. Por fim, meio de que possa resultar perigo comum é aquela situação em que o sujeito “além de causar a morte de quem pretendia, o meio escolhido pelo agente tem o potencial de causar situação de risco à vida ou integridade corporal de número elevado e indeterminado de pessoas, como, por exemplo, a provocação de um desabamento23”. d) A traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido 22 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado / coordenador Pedro Lenza). 23 Direito penal esquematizado: parte especial / Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 8. ed. – Sao Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção esquematizado/ coordenador Pedro Lenza). 30 Na presente hipótese, o homicídio será qualificado pelo modo de execução da prática da conduta delitiva. Não é demais ressaltarmos que mais uma vez o legislador empregou a interpretação analógica (exemplos seguidos de encerramentos genéricos). Nessa linha, a traição, emboscada e dissimulação são apenas exemplos de modos que dificultam a defesa do ofendido. a) Traição: é o ataque desleal, por exemplo, atirar na vítima pelas costas. A traição é marcada pela deslealdade. Nessa qualificadora, o agente se vale da confiança que o ofendido nele previamente depositava para o fim de matá-lo em momento em que ele se encontrava desprevenido e sem vigilância. O homicídio qualificado pela traição é doutrinariamente conhecido como homicidium proditorium. b) Emboscada: pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com surpresa. Emboscada, segundo CAPEZ é a tocaia. O sujeito ativo aguarda ocultamente a passagem ou chegada da vítima, que se encontra desprevenida, para o fim de atacá-la. É inerente a esse recurso a premeditação. c) Dissimulação: o agente oculta a sua real intenção. Segundo Fábio Roque (2020) “a dissimulação ocorre quando o agente disfarça sua real intenção criminosa, ao fingir, por exemplo, uma boa intenção de reaproximação”. d) Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (interpretação analógica) É uma fórmula genérica indicativa de meio análogo à traição, à emboscada e à dissimulação. No tocante a presente qualificadora, importante apontarmos que não se aplica esta qualificadora - recurso que torne impossível a defesa do ofendido - quando a vítima é criança ou pessoa enferma, pois o inciso IV diz respeito ao meio praticado para matar e não a característica inerente da vítima. Candidato, a idade da vítima torna o crime qualificado? Registramos que a idade da vítima (tenra ou avançada), por si só, não possibilita a aplicação da presente qualificadora, porquanto constitui uma característica da vítima, e não um recurso procurado pelo agente. A idade é uma característica, condição da vítima. Desse modo, o fato de a vítima ter 80 anos de idade ou 2 anos de idade não induz a aplicação da qualificadora do recurso que impossibilita ou torna dificultosa a defesa do ofendido, pois a idade da vítima não é recurso, mas sim uma condição desta. Então, a idade da vítima, por si só, não possibilita a aplicação da qualificadora, pois constitui característica da vítima, e não recurso utilizado pelo agente. 31 d) Para assegurar a ocultação, vantagem ou impunidade de outro crime Trata-se do homicídio qualificado pela conexão, a qual poderá ser teleológica ou consequencial. Nesse sentido, a doutrina subdivide a conexão em teleológica (homicídio praticado para assegurar a execução de outro crime, futuro) e consequencial (quando o homicídio visa assegurar a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime, passado). Conexão teleológica: o homicídio é praticado para assegurar a execução de outro crime. Nesse sentido, explica Fernando Capez: A conexão teleológica ocorre quando o homicídio é cometido a fim de “assegurar a execução” de outro crime, por exemplo, matar o marido para estuprar a mulher. O que agrava a pena, na realidade, é o especial fim de assegurar a prática de outro crime. Não é necessária a concretização do fim visado pelo agente. Desse modo, a desistência da prática do outro crime, no caso o estupro, não impede a qualificação do crime de homicídio. Se, contudo, por exemplo, o agente pratica o homicídio e o estupro, responderá por ambos os delitos em concurso material. Conexão consequencial: acontece na situação em que primeiro é cometido outro crime e depois o homicídio com a intenção de assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem daquele. Na conexão consequencial: - Assegurar a ocultação; - Assegurar a impunidade; - Assegurar a vantagem de outro crime. Em resumo: - Conexão teleológica: o agente mata para assegurar a execução de outro crime (futuro). Ex.1: A mata segurança para estuprar o artista “B”. Obs.1: o crime de homicídio será qualificado ainda que o crime futuro não aconteça. Obs.2: o crime futuro não precisa necessariamente ser praticado pelo homicida. 32 - Conexão consequencial: o agente mata para assegurar a ocultação ou impunidade ou vantagem de outro crime que já aconteceu. Ex.2: “A” mata testemunha de crime passado em que figura como suspeito. Cumpre destacarmos que o crime passado não exige identidade de sujeito ativo com o homicídio. Candidato, se o agente pratica o homicídio para assegurar a ocultação, vantagem ou impunidade de CONTRAVENÇÃO PENAL, o homicídio será qualificado? Nesse ponto, importante salientar que não incide a qualificadora da conexão quando, por exemplo, o crime é praticado para ocultar, assegurar a impunidade ou a vantagem de uma contravenção penal. Pois o legislador se restringiu à expressão “outro crime”, sendo, assim, impossível aplicação da analogia in malam partem. Não se aplica esta qualificadora quando a outra infração for contravenção penal. Assim, matar para assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de contravenção penal não qualifica o homicídio pelo inciso V (mas pode caracterizar os demais incisos). #JáCaiuDelta (UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia). (2018 - UEG - PC-GO - Delegado de Policia). De acordo com o Código Penal, há homicídio qualificado quando for cometido: a) por grupo de extermínio. b) para assegurar a impunidade de outro crime. c) estando o ofendido sob a imediata proteção da autoridade. d) contra pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos. e) por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança. Gab. B. Trata-se da hipótese de conexão consequencial. A conexão consequencial, acontece quando24 o homicídio visa a assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime, passado. Exemplos: 1) para assegurar a ocultação de uma fraude financeira cometida na empresa em que trabalha, o agente mata um funcionário que havia descoberto a conduta criminosa; 2) para garantir a impunidade do crime de estupro, o agente mata a vítima, que o havia reconhecido; 3) buscando assegurar a vantagem obtida num roubo cometido em conluio, o agente mata seu comparsa. 24 https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/08/06/quais-sao-os-tipos-de-conexao-que-qualificam-o-homicidio/ 33 e) Feminicídio O feminicídio foi incluído no art. 121, § 2.º, inciso VI, do Código Penal pela Lei 13.104/2015. Cuida-se de figura qualificada do homicídio doloso, de competência do Tribunal do Júri e expressamente rotulado como crime hediondo, a teor da regra contida no art. 1.º, inciso I, da Lei 8.072/1990. Nessa esteira, a Lei nº 13.104 de 2015 inseriu o inciso VI para incluir no art. 121 o feminicídio, entendido como a morte de mulher em razão da condição de sexo feminino, leia-se, violência de gênero quanto ao sexo. A presente lei e respectiva circunstância qualificadora entrou em vigor em 10 de Março de 2015. Dessa forma, em se tratando de uma lei que agrava a situação do réu, consagra uma nova hipótese qualificadora, não pode ser aplicada a conduta praticada antes da referida data. Trata-se de homicídio cometido por razões de gênero do sexo feminino (preconceito, descriminação, desprezo pela condição de mulher). O feminicídio não pode ser confundido com o femicídio. E qual a diferença entre eles? Feminicídio X Femicídio Feminicídio Femicídio Praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Praticar homicídio contra mulher (matar mulher). Nesse sentido, o art. 121, § 2º, VI, do CP, trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razõesde gênero). Não basta a vítima ser mulher. E o que são “razões da condição de sexo feminino”? O § 2.º-A do art. 121 do Código Penal contém uma norma penal explicativa, assim redigida: § 2.º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Sujeito passivo Para a invocação do crime de feminicídio, há três correntes discutindo o termo mulher. Nesse sentido, para uma primeira corrente, mulher para fins de aplicação da qualificadora deve ser empregado em seu conceito jurídico, ou seja, aquela definida no registro civil (é a corrente que prevalece). 34 Segundo Rogério Sanches (Código Penal para Concursos, Rogério Sanches, 2019) a mulher que trata a qualificadora é aquela assim reconhecida juridicamente. No caso de transexual, que formalmente obtém o direito de ser identificado civilmente como mulher, não há como negar a incidência da lei penal porque, para todos os efeitos, está pessoa será considerada mulher. Candidato, pode figurar como vítima do feminicídio pessoa transexual? No tocante a presente discussão, temos duas correntes opostas dissertando sobre a questão. Para uma primeira corrente, conservadora, entende que a transexual, geneticamente não é mulher. Apenas, no caso de cirurgia, passa a ter órgão genital de conformidade feminina. Portanto, fica descartada, para a hipótese a incidência da qualificadora. Considera-se aqui apenas o aspecto biológico: a mulher é assim identificada pela constituição genética e suas implicações físicas evidentes. Assim, deve ser observado o conceito biológico de mulher, sob o argumento de que a lei penal demanda aplicação restritiva. Não se inclui, portanto, os transexuais mesmo que a mudança de registro tenha sido efetuada. A segunda corrente, mais moderna, leciona ser possível a transexual figurar como vítima de feminicídio, desde que transmute suas características sexuais por cirurgia e de modo irreversível, retificando ainda, seu registro civil. 25 A Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é aplicável às mulheres trans em situação de violência doméstica Uma mulher trans é uma pessoa que nasceu com o sexo físico masculino, mas que se identifica como uma pessoa do gênero feminino. O conceito de sexo está relacionado aos aspectos biológicos que servem como base para a classificação de indivíduos entre machos, fêmeas e intersexuais. Utilizamos a palavra gênero quando queremos tratar do conjunto de características socialmente atribuídas aos diferentes sexos. Muitas vezes, uma pessoa pode se identificar com um conjunto de características não alinhado ao seu sexo designado. Ou seja, é possível nascer do sexo masculino, mas se identificar com características tradicionalmente associadas ao que culturalmente se atribuiu ao sexo feminino e vice-versa, ou então, não se identificar com gênero algum. STJ. 6ª Turma. REsp 1977124/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/4/2022 (Info 732). Razões de condição de sexo feminino 25 Código Penal Comentado para Concursos, Rogério Sanches Cunha, 2019. 35 O mero homicídio da mulher é denominado de femicídio. Haverá feminicídio quando estiverem presentes as razões do sexo feminino como causa do delito. § 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Para parte da doutrina a violência doméstica deve ter sempre uma motivação de gênero, ou seja, é necessário o dolo de explorar situação de vulnerabilidade da vítima mulher. a) Violência doméstica A violência doméstica e familiar contra a mulher, indiscutivelmente uma violação dos direitos humanos, encontrasse definida no art. 5.º da Lei 11.340/2006: Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015) I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. b) Menosprezo ou discriminação à condição de mulher Aqui não se exige a violência doméstica ou familiar. As “razões de condição do sexo feminino” se contentam com o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A pessoa que mata a mulher nela enxerga um ser inferior, com menos direitos. Exemplo: o aluno de uma prestigiada universidade mata a colega de sala que está prestes a concluir o curso com as melhores notas da turma, por não aceitar ser superado por uma mulher. Por fim, cumpre ressaltarmos que o crime de feminicídio poderá ser praticado, inclusive, por outra mulher. Nesse sentido, expõe Rogério Sanches “a incidência da qualificadora reclama situação de violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticado por homem ou por mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade”. #JáCaiuDefensoriaPública (CESPE - 2018 - DPE-PE - Defensor Público) 36 Ocorre o feminicídio quando o homicídio é praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, como quando o crime envolve a violência doméstica e familiar ou o menosprezo ou a discriminação à condição de mulher. Causas de Aumento de Pena As causas de aumento da pena aplicáveis exclusivamente ao feminicídio estão previstas no art. 121, §7º, do Código Penal. Nesse ponto, merece atenção especial para as alterações mais recentes nas majorantes do feminicídio. No ano de 2018, a Lei 13.771 alterou três incisos que dispõem majorantes do feminicídio, quais sejam, o inciso II, III e IV. Ocorre que, o inciso II sofreu uma nova alteração, no ano de 2022, com o advento da Lei Henry Borel (Lei nº 14.344/2022). O legislador excluiu a parte “contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos” para afastar o possível bis in idem, tento em vista que, a própria Lei nº 14.344/2022 prevê novas causas de aumento de pena para situações que envolvem pessoas menores de 14 anos, conforme veremos adiante. § 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022) III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018); IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018) A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (UM TERÇO) ATÉ A METADE se o crime for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; A pena será aumentada no feminicídio quando praticado contra gestante ou nos três meses posteriores ao parte. Cumpre destacar que, o agente deve conhecer desta condição, sob pena de caracterizar responsabilidade objetiva, vedada pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro. Segundo leciona Rogério Sanches, aplica-se a majorante desde o momento em que gerado o feto até três meses após o nascimento. O
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